setembro 05, 2023

PESSOA HASSÍDICA - Newton Agrella


Recentemente li um texto cujo título era:  "O Maçom deve ser uma pessoa hassídica".

Confesso que me senti um pouco desconfortável  com o conteúdo do mesmo. 

É inequívoco que o adjetivo "hassídico" é de concepção puramente religiosa.

O termo está intimamente relacionado ao Judaísmo. 

A Etimologia desta palavra tem origem no Hebraico "hassid", cujo significado é  "devoto"; "fervoroso", "temente a Deus".

Algo que me parece um tanto paradoxal  quando o texto conclama tratar-se de uma "condição precípua" ou um postulado de que o  Maçom seja esta pessoa.

Afinal de contas, a Maçonaria não é religião, seita nem tampouco é dona de qualquer propriedade reveladora, transformadora ou divinal.

Maçonaria é Filosofia e suas propriedades são dialéticas.

A Sublime Ordem não sugere nem fomenta qualquer caráter de "temor a Deus", ou seja lá qual for a ideia de subserviência ou mansuetude.

Sua essência reside na busca pelo aprimoramento da Consciência.

O texto, ainda que bem intencionado, resvala num viés um tanto messiânico e foge dos princípios dialéticos da Ordem, impingindo ao Maçom um atributo que colide com a atitude especulativa, investigativa e de propósito intelectual que é o que se espera de um livre pensador.

Ser bom e ser sensível ao bem são predisposições da alma e do caráter que se esperam de qualquer ser humano, sem que seja uma prerrogativa exclusiva do maçom.

De qualquer forma, o autor do referido texto ocupou-se de dar uma interpretação bem subjetiva ao termo, procurando de algum modo estabelecer um vínculo consistente ao conceptismo maçônico.

Enfim, não se busca aqui arrogar-se qualquer tipo de razão, mas apenas pontuar aspectos que podem nos conduzir a possíveis  inconsistências conceituais.



setembro 04, 2023

DISCRETA SIM, SECRETA NÃO -




A Maçonaria foi e continua a ser encarada por muitos como sendo uma sociedade secreta. Dentro da realidade atual entretanto, a instituição não poderá ser considerada senão como sendo uma sociedade discreta.

Há realmente, uma grande diferença entre estes dois conceitos. Como secreta dever-se-ia entender que se encobre na Maçonaria algo que não pode ser revelado, quando por discreta, entende-se que se trata de ação reservada e que interessa exclusivamente àqueles que dela participam.

Na realidade, a Maçonaria não é possuidora nem detentora de nenhum segredo misterioso como têm pretendido alguns.

No vocabulário maçônico moderno, a palavra segredo, deve considerar-se como discrição. Assim o ensina a instrução de Grande Mestre, quando diz que o segredo dos Mestres é guardado num cofre de papel coral, rodeado de marfim – a boca.

Já se foi aquele tempo em que a Maçonaria deveria encobrir toda a sua atividade sob o mais rigoroso sigilo e de tal forma, que esta reserva devia constituir ato secreto e até mesmo misterioso.

Era a instituição perseguida pelos poderosos, por aqueles que escravizavam os povos que não viam com bons olhos a liberdade de consciência – tiranos de todas as épocas, sanguinários e exploradores da humanidade.

Nos dias em que vivemos é quase dispensada a ação liberatória da Maçonaria e ela pode trabalhar livremente, dedicando-se mais à evolução intelectual e à assistência filantrópica.

Conserva porém, como princípio e tradição a sua maneira própria de agir, o uso da iniciação ritualística, a simbologia universal das suas práticas espiritualistas e o seu carácter de organização restrita aos seus membros.

Mantendo como uma das suas qualidades, o respeito e acatamento das leis, dos governos legalmente constituídos, nada tem que ocultar, a não ser as suas fórmulas ritualísticas, os seus sinais, toques e palavras, como meio de reconhecimento recíproco dos seus filiados, espalhados por todos os recantos do mundo.

A Maçonaria Não se reveste mais de um secretismo absoluto, até porque os seus rituais são impressos e muitas das suas práticas são públicas. Tendo divulgação habitual, são conhecidas e estão ao alcance de muitos estudiosos.

Nesta condição, nada tem a Maçonaria de sociedade secreta.

Exigindo reserva de seus seguidores quanto aos seus trabalhos, cultiva e difunde entre os Maçons, a virtude da discrição, segue uma tradição milenária e se põe, sempre, em posição, de em qualquer emergência, para se defender de opressores e manter as liberdades nacionais e humanas, volver ao passado e prosseguir na sua luta em defesa da liberdade, da igualdade e da fraternidade.


setembro 03, 2023

O Altar dos Juramentos no Rito Escocês




O Rito Escocês Antigo e Aceito original não possui Altar dos Juramentos, conforme explicação da Comissão de Liturgia e Ritualística do Supremo Conselho Jurisdição Sul dos Estados Unidos da América, o principal responsável pela PUREZA DO RITO no mundo. Portanto, no simbolismo, o Rito Escocês não tem Altar dos Juramentos especificamente para as três Grandes Luzes.

Conforme todos os rituais desde 1834 até o início de 1890, não encontramos um Altar especificamente para as três Grandes Luzes, mas na década de 90 do século XIX já encontramos como bem expressa o ritual de Apr.'. do ano de 1898 na página 4, que diz: "Na frente da Mesa do Ven.'., no Or.'., fora do Dossel, fica o Altar dos Juramentos".

Em instrução ministrada no dia 19 de abril de 1898, na Loja "Silêncio", Nº 81, do oriente do Rio de Janeiro e da jurisdição do Grande Oriente do Brasil, o Irm.'. GILBERTO GUILHERME DE FARIAS, membro efetivo do Supremo Conselho do Rito Escocês, disse: "O Altar dos Juramentos é uma continuação, uma extensão, do Altar do Ven.'. M.'.. E, continua, "... seria de todo conveniente que entre ambos não existisse espaço...", portanto, não é permitida a passagem entre o Altar do Ven.'. M.'. e o Altar dos Juramentos.

Também o livro de atas do ano de 1845 da Loja "Educação e Moral", Nº 8, do oriente do Rio de Janeiro e da jurisdição do Grande Oriente do Brasil, nos diz: "O Ven.'. M.'. AGENOR FERREIRA DA SILVA, no seu Altar e de modo impecável abriu o L.'. da L.'., leu a passagem e no fim da sessão fechou com a mesma impecabilidade de como abriu".

O pesquisador é obrigado a fazer uma análise para bem entender o que expressam certas passagens do ritual. Vemos na página 30 do ritual de 1857, o primeiro a ser impresso pelo GOB, o seguinte: "Ven.'. - Ir.'. Mest.'. de CCerim.'., conduzi o nosso novo amigo ao Trono". Quando chega ali, põe um joelho no chão (em terra), o Ven.'. lhe assenta a ponta da Espada na cabeça e realiza a sagração. Um outro ritual de 1897 diz que para se chegar ao altar dos Juramentos era necessário subir os três degraus onde fica o Ven.'. M.'..

Na verdade, o Irm.'. não pesquisador fica confundido, porque o ritual diz Mesa do Venerável, Trono e Altar dos Juramentos. Os IIrm.'. consideravam como Trono a Mesa do Ven.'., assim como ambos como Altar dos Juramentos. Mas isto tudo, em certos momentos, pois encontramos, também, eles chamando a Cadeira do Ven.'. de Trono.

O Altar dos Juramentos foi criado numa justificativa de que a Mesa do Ven.'. ficava por demais atravancada de materiais. E aqui aproveito para dar mais um esclarecimento: o Livro era aberto e fechado sem a feitura do pálio, este que é originário do Rito de York. O verdadeiro Rito Escocês não tem pálio.

Como acabamos de ver, a abertura e fechamento do Livro eram cerimônias simples. A maior justificativa para que o Altar se fixasse definitivamente no ocidente do Templo foi a justificativa de que ele representa a Mesa dos Holocaustos do Santuário Hebraico, onde os maçons depositam as INDOMINADAS PAIXÕES E SACRIFICAM OS APETITES MUNDANOS. Com a criação das Grandes Lojas em 1927, o Irm.'. Mário Behring retirou o Altar do Or.'. e colocou no Oc.'., numa imitação do Rito de York Americano. Mas o Grande Oriente do Brasil continuou usando o Altar dos Juramentos no Or.'., para, em 1981, também trazê-lo para o Oc.'..

O único rito praticado no Brasil que já nasceu usando o Altar dos Juramentos foi o Rito Brasileiro, já que fundado em 1914 e, se espelhando no Rito Escocês, criou o Altar, que até os dias de hoje, continua no Or.'. como é o caso do Rito Adonhiramita.


ARTE REAL NA INDEPENDÊNCIA - Adilson Zotovici




Sete de Setembro é chegado !

Por homenagem e referência

Cada membro então lembrado

Da passagem de excelência


À porfia terem lutado

Com destemor e prudência

Como guia haverem jurado

Onde Amor à Pátria a essência


Cada livre pedreiro instado

Inda que grande resistência

Em cadência canteiro arrojado


Luta cabal, com persistência

A um Brasil emancipado

Arte Real na Independência !



setembro 02, 2023

AFRONTAR OU IGNORAR? EIS A QUESTÃO - Sidnei Godinho


Na Psicologia a TDA, (Transtorno do Déficit de Atenção) normalmente tem sua origem na infância, quando algumas crianças, por qualquer motivo que seja, sentem-se excluídas do núcleo familiar e começam  então a cometer erros propositais, como forma de chamar a atenção para si.

Quase sempre se dá no primeiro filho que ao receber um irmão mais novo, vê transferida aquela atenção a ele dispensada.

O que também pode ser interpretado como um paradoxo do contraditório, quando suas vontades são afrontadas ou simplesmente ignoradas por um pensar diferente e em prol de outrem. 

Como em toda boa teoria, há uma dialética dual no tratamento.

Há quem diga que é primaz volver a atenção integral para aquela criança e a encher de mimo até que ela se sinta novamente reintegrada e segura, como parte da família. (ao menos em sua consciência)

E há também os teóricos do oposto que pregam o Ignorar por completo suas ações de modo a permitir que ela aprenda com o tempo que a consequência de seus atos é o  isolamento e que somente ela mesma pode se tirar deste buraco. (radical mas as vezes necessário)

Ambas as teorias têm como finalidade tratar a Criança / PACIENTE e reintegrá-la(o) no núcleo familiar / social. 

Há momentos em que a primeira é aplicada.

E há momentos em  que a segunda é *NECESSÁRIA*.

Ao se analisar os momentos críticos por que se passam algumas Lojas, na transição evolutiva do tempo, pode-se fazer perfeita analogia com os transtornos que acometem muitas famílias. 

Quando a rejeição inicial terminar e as ideias contrapostas se esgotarem, vença quem vencer, ficará o grande aprendizado de que Política, Religião, Futebol e Novidades não se impõem a ninguém.

*Enquanto as pessoas se ofenderem por outros pensarem diferente e terem maior atenção, não chegaremos a lugar algum...*

O que mais surpreende é que normalmente ambos os lados em uma discussão são extremos opostos em ideologia, mas  agem da mesma forma ao se ater em desqualificar aquele que discorda do seu pensar, ao invés de tão somente qualificar o seu raciocínio para uma compreensão do lado oposto. 

Não se aplica a Dialética para um entendimento comum, mas sim, demonstra-se uma vaidade extrema em querer submeter o contraditório à sua vontade, em querer chamar a atenção para si e querer se manter como único em referência passada. 

É o princípio da perda de atenção pela chegada do novo irmão na família e a necessidade de se auto afirmar dizendo sempre não aos pais. (ou não aos seus novos irmãos) 

Infelizmente, em momentos onde a Razão parece ter sido subjugada pela Emoção, a Ignorância dos agentes conduz para o segundo tratamento, qual seja, simplesmente:

*IGNORAR*

Paz e Sabedoria para lidar com aqueles com Déficit de Atenção... 

Enfim, assim caminha a Humanidade...



setembro 01, 2023

INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO MAÇÔNICA - Charles Boller

Especula-se que: 

O universo é resultado de projeto inteligente com finalidade definida; 

— Não é o resultado de ocasionais ocorrências aleatórias; 

— Que a vida tem propósito significativo; 

— Que é lógico pensar na vida com intenção de preencher finalidade determinada, planejada.

Na contramão disso, o homem percebe que muitas de suas atividades são dispersivas e alienantes no uso da vida. 

Para a maioria a vida não tem sentido, principalmente na forma correta de usufruir o que realmente a natureza intenciona no viver bem.

Na atividade do homem não se concebe que se faça o que é certo em um aspecto da vida, enquanto comete erros em outros. 

Como fará em sua caminhada para não perder a visão de sua vida em sentido lato? 

Como deve agir para usufruí-la como um conjunto indivisível?

O homem que se iniciou nos mistérios da Maçonaria descobre na vida a existência de maravilhas a serem exploradas, questionadas e aplicadas para usufruir de sua existência da maneira mais equilibrada possível, com o propósito do Criador. 

Pela educação maçônica, o homem deixa de ser um morto-vivo de comprometida visão da vida.

A Maçonaria e seus mistérios oferecem ferramentas e instruções que removem barreiras e possibilita o usufruto da vida em sua plenitude.

O senso do mistério alimenta emoções residentes na psique e que são trabalhados nas atividades maçônicas.

A ciência em forma de arte traduz a emoção fundamental para o progresso pessoal.

São mistérios que não inspiram medos, o maçom faz o bem porque isso é parte de sua nova vida e não porque tem medo de algum castigo ou almeje hipotético prêmio depois de morto.

Se aplicada passo-a passo, de forma simples, a essência da vida é aprendida e, se for da vontade do adepto, liberta-o da escravidão, do servilismo ao sistema desumano de vida, que o espreme e suga toda a sua força ativa até sobrar apenas bagaço. 

Ao sujeitar a ambição ao controle racional, liberta-se do pior tipo de servilismo, pior até que a própria fome e pobreza. 

Ao inspirar coragem e decisão no adepto, a filosofia da Maçonaria conduz àquele que passa a confiar em si mesmo e conduz seus próprios passos ao prazer de conquistar a vitória sobre si mesmo. 

Ao sentir que é capaz de conduzir a si mesmo torna-se apto a conduzir aos que ainda não despertaram.

As noções filosóficas da Maçonaria auxiliam na absorção do conhecimento que livra do obscurantismo e da alienação ao trabalho. 

São aplicadas apenas umas poucas horas semanais em treinamento e convivência que eliminam anos de frustrantes tentativas de acertos e erros até obter a visão necessária para dar sentido à vida. 

Não se trata de entendimento intelectual, político ou crença, mas de um sentido misterioso, ainda inexplicável, de intuição individual que dá sentido à vida. 

Cada adepto usa da Maçonaria para dar o seu próprio sentido para a vida sem ficar batendo cabeça em tentativas inúteis e fantasiosas.

O sucesso pessoal não é devido exclusivamente à força ou ao conhecimento, mas diz respeito à vontade férrea, de coragem para agir. 

O entendimento de como caminhar por conta própria advém do conhecimento esotérico que conduz ao sucesso pessoal, familiar, social e profissional. 

A convivência maçônica inspira o conhecimento intuitivo e o fortalecimento do caráter que conduzem o maçom, que inicia a si mesmo, a uma consciência superior. 

Não um super-homem, mas um homem renascido de sua própria decisão de fazer de si mesmo uma criatura em permanente evolução.

Ao trabalhar em si mesmo, na pedra, o adepto participa na construção de um templo social onde ele é incentivado a ocupar cada vez mais cargos, públicos ou privados, de modo a conduzir a sociedade por bons pastos. 

Não se trata de conduzir gado de corte por fértil campo de engorda e deste ao matadouro da exploração, mas de propiciar oportunidades razoáveis de vida sem eliminar as diferenças e os desníveis que são característica de civilizações saudáveis. 

É a sabedoria salomônica aplicada no dia-a-dia do cidadão. 

O homem sábio é muito mais forte que o bruto, pois o conhecimento aplicado com sabedoria é muito mais forte. 

O conhecimento provê a base sólida da construção pessoal que se afasta da alienação do sistema de coisas humano pela aplicação do pensamento sábio.

Maçonaria é arte. 

É uma ciência que permite construir o intelecto cuja compreensão possibilita o despertar, o abraçar da iluminação que vem da racionalidade conduzida por balanceada espiritualidade - diferente de religiosidade. 

A luz que o maçom busca é o aperfeiçoamento pessoal em seu dia-a-dia. 

A Maçonaria faz deste entendimento o ponto essencial a ser alcançado. 

É mero coadjuvante o esforço das atividades maçônicas restantes ao objeto central que é a evolução do homem. 

O estado de iluminação inspirado pela Maçonaria destrói a mascara da ilusão do sistema de coisas humano que manipula separações e quebra de relações que conduzem a alienação da vida para objetivos fúteis e inúteis. 

No instante em que o maçom abre os olhos e vê a luz do que é certo e errado torna-se sensato. 

Desaparece a ilusão e ele deixa de experimentar o que está errado na tentativa de acertar, torna-se mais objetivo e acerta no primeiro ensaio muito mais vezes. 

Some o ilusionismo com seus truques que submetem o homem a um servilismo voluntário em virtude da perda de noção da realidade.

Surge nova consciência quando a iluminação esclarece a diferença entre religiosidade e espiritualidade. 

Fica claro o entendimento de que a crença em verdades absolutas ditadas pelos sistemas religiosos não torna seus adeptos pessoas espiritualizadas. 

Também não é espiritualizado o maçom que não iniciou a si mesmo, que insiste em aprisionar-se na execução de rituais sem penetrar em seus significados. 

A intenção da educação maçônica é criar a identidade própria do indivíduo afastado de influência ditatorial externa e aproxima-lo da dimensão espiritual que já reside dentro dele. 

Esta dimensão existe em todos. 

Basta que acorde. 

Não está contida no pensamento, mas numa dimensão diferente e inspirada na intuição. 

Por isso a filosofia maçônica incentiva à diversidade de pensamentos. 

Procura-se provocar no homem a obtenção de matéria prima para construir pontes evolutivas que progridem aos saltos sobre os precipícios da ignorância. 

Não se admitem limitações ao pensamento como é objetivo dos sistemas alienantes de crenças. 

O fato de a espiritualidade surgir em larga escala fora do sistema de crenças é novo para a sociedade em geral, mas é usado faz séculos pelos maçons que iniciaram a si mesmos nos mistérios da arte da Maçonaria.

A iluminação, o andar com as próprias pernas inspirado pela Maçonaria desperta a compaixão que se traduz num homem dotado de menos cobiça; torna-o mais alegre porque a sabedoria o afasta do sofrimento; alimenta a igualdade onde se produzem mais amigos unidos pelo poderoso laço do amor; inspira a ternura que remove a discriminação que produz tantos inimigos. 

Afasta ignorância, falsas imaginações, desejos viciantes e estultícia, todas nascidas na própria mente, manifestadas pelas ilusões e manipuladas pelo ego.

A mudança estimulada pela educação maçônica repele os desejos da mente e afastam os sofrimentos, lutas inúteis alimentadas pela cobiça, estultícia e ira. 

Maçom que se iniciou é homem armado com espada - a sua língua, a sua oratória —, e escudo, - o conhecimento de seu cérebro. 

Pela iluminação, - kant, Aufklärung - anda com os próprios pés. 

Está sempre pronto para o bom combate com mente treinada para alcançar o objetivo de construir uma sociedade humana dentro dos desígnios estabelecidos pelo Grande Arquiteto do Universo.

*Bibliografia:*

1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;

2. SILVA, Georges da, Budismo, Psicologia do Autoconhecimento, 222 páginas, Editora Pensamento Limitada, São Paulo;

3. TOLLE, Eckhart, Um Mundo Novo, o Despertar de uma Nova Consciência, tradução: Henrique Monteiro, ISBN 978-85-7542-313-4, primeira edição, Editora Sextante Limitada, 266 páginas, Rio de Janeiro, 2005.




agosto 31, 2023

LANDMARKS - CLASSIFICAÇÃO DE PIKE




A palavra inglesa "landmark", literalmente, significa marco de limite, marco miliário; figuradamente, significa ponto de referência. No idioma vernáculo, podem ser usados os termos limite, ou lindeiro.

Limite, do latim: lime, itis, designa a linha de demarcação existente entre terrenos, ou territórios contíguos; o marco, a baliza, a raia, ou fronteira natural, que separa um país de outro; o ponto máximo, que não se deve, ou não se pode ultrapassar.

Lindeiro, com a mesma origem etimológica, designa o que é relativo a linde, ou seja, limite, raia, marco, baliza.   Também se usa a forma landmarque.    

O vocábulo "landmark" surge, pela primeira vez, na compilação dos Regulamentos Gerais de 1721,incluídos na Constituição de Anderson, onde o 39º e último dos regulamentos diz:

"Cada Grande Loja anual tem o inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento, ou redigir um novo, em benefício da Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis  os antigos landmarks....

". A Assembléia Geral de 25 de novembro de 1723, da Premier Grand Lodge, todavia, resolvia substituir o termo "landmark" por "rule", que significa REGRA e que já iria constar nas edições seguintes do Livro das Constituições.

Desta maneira, pode-se concluir que a Regras, ou Landmarks, não eram aquelas expressas nos Regulamentos Gerais, mas, sim, normas não escritas.    

Considerando, então, que existiam esses limites, que regulam a atividade e o comportamento ético dos obreiros, consuetudinários, ou já expressos na Constituição de Anderson, surgiram, a partir da metade do século XIX, diversas classificações de landmarques, com maior ou menor número deles.

E a maior parte não resiste a uma análise crítica profunda, pois a maior parte dos conceitos nelas alinhavados não representais reais antigos limites, ou antigos e universais costumes da Ordem, os quais, paulatinamente, foram sendo estabelecidos, como regras básicas da atuação maçônica.    

Na realidade, para que uma regra seja considerada um verdadeiro limite, ela deve ser imemorial, espontânea e universalmente aceita, o que, na verdade, não ocorre com a quase totalidade das classificações conhecidas (mais de 60).

O conceito de imemorial, significa que uma regra, para ser um lindeiro, deve ter uma antiguidade suficiente para que não se possa estabelecer, no tempo, a sua origem. O de espontânea, significa que um verdadeiro landmarque não tem autor conhecido, mas foi gerado pelo uso da comunidade.

O conceito de universal aceitação, significa que uma norma só aceita em algumas comunidades não é um legítimo limite, mas, sim, uma regra particular de conduta.  

As cinco principais classificações são as de Findel, Pike, Mackey, Pound e Berthelon. A de Pike é, de longe, a mais sensata de todas.    

Classificação de Pike    

Albert Pike (1809-1891) foi um célebre maçom norte-americano, nascido em Boston. Poeta, advogado e militar --- que chegou ao generalato --- foi Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos.

Sua obra principal é "Morals and Dogma", de 1871, onde estida os Altos Graus, um a um.

Sua classificação de landmarques foi resultado de um amplo estudo e de uma arrasadora e erudita crítica contra o emaranhado de falsos limites, apresentados pelos autores da época, incluído, aí, o seu discípulo Albert Gallatin Mackey. Para Pike, os landmarques são apenas cinco:    

1º - A necessidade dos maçons  reunirem-se em Lojas ;    

2º - O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes ;    

3º - A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura ;    

4º - A cobertura dos trabalhos da Loja ;    

5º - A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçônico.    

Pouco há a comentar sobre um trabalho como esse, bastando dizer o seguinte: todas as regras relacionadas são verdadeiros landmarques; e é a única classificação conhecida em que isso ocorre. Mesmo que alguns autores contestem uma ou outra dessas regras, nenhum deles pode deixar de reconhecer essa verdade. Subsidiariamente, é forçoso que se note que, nesta classificação, não consta a iniciação exclusiva de homens, que sejam livres e não mutilados.    

Pela sua erudição maçônica, pela síntese absoluta que faz em sua relação de limites, e por relacionar somente verdadeiros landmarques, Pike, com sua compilação, é que deveria merecer a maior credibilidade dos maçons.

Lamentavelmente, não é isso que acontece nos países latinos, onde a classificação de Mackey reina soberana, sendo, quase sempre a única conhecida e tomada como lei incontestável, embora seja uma das mais falhas e mais mentalmente castradoras de todas as compilações existentes, tendo vinte, das vinte e cinco regras, que não são verdadeiros landmarques e não tendo prestígio nem dos EUA, país natal de Mackey, onde só quatro das cinquenta e duas Grandes Lojas a aceitam.

agosto 30, 2023

COMONITÓRIO MAÇÔNICO- Sérgio Quirino



Espero não estar ferindo qualquer suscetibilidade religiosa, pois estou me apropriando de um termo ligado, há mais de 15 séculos, à Fé Cristã.

Em verdade, a palavra “comonitório” vem do latim Commonitorium esignifica “notas”, “apontamentos”, simples frases que remetem a algo maior. A consolidação da palavra no Cristianismo ocorreu através de São Vicente de Lerins.

Há poucos dados biográficos acerca desse padre gaulês do século V. Sua notoriedade foi conquistada por sua obra “Comonitório: regras para conhecer a fé verdadeira”, que, além de fortalecer a fé, propunha-se ao combate dos hereges, além de manifestações bem perspicazes sobre alguns papas.

Seu pequeno livro destaca-se pela forma sucinta e objetiva por meio da qual defende, exorta e, sobretudo, esclarece as instruções da Igreja Católica.

Mas o que isso tem a ver com a Ordem Maçônica?

Simplesmente Tradição! São Vicente de Lerins teve a sensibilidade de perceber que estavam “agregando” estória, símbolos, liturgias, ritos, usos e costumes regionais às homilias. Em vez de produzir grandes Tratados de Perfeição Sacerdotal, elaborou um pequeno livro que provocava no leitor a reflexão sobre como começou e em que ponto estava.

Assim também o maçom, no salutar hábito da especulação consciente, percebe naturalmente os desvios e a necessidade de se realinhar, resultando no fortalecimento dos Sãos Princípios.

O COMONITÓRIO MAÇÔNICO FAZ-SE NECESSÁRIO PARA DESMISTIFICAR

E DESPERSONIFICAR, PRINCIPALMENTE, A DESVINCULAÇÃO RELIGIOSA.

Observamos que, dos Velhos Mestres aos Jovens Aprendizes, todos têm algo para “completar” ou “melhorar” a Maçonaria e que, muitas vezes, até não agem com má intenção. O Obreiro chega com a “bagagem” de outra instituição ou linha de pensamento e, a princípio, começa a procurar intercessões de valores e propósitos.

Em alguns casos, vai mais além e começa a “encontrar o oculto” nas entrelinhas e traçar uma colcha de retalhos numerológicos, astrológicos, místicos, religiosos e reptilianos. O perigo que isso ilude afasta os Obreiros e nos demoniza.

Devemos, portanto, nos ater à essência da Ordem, ir à sua gênese à procura do que motivou sua criação. Observar o que as Lojas, as Potências nacionais e internacionais têm em comum. Estudar se o que hoje praticamos está em consonância com o que foi praticado nos séculos passados.

Disse São Vicente: “quod semper, quod ubique, quod ab ómnibus”, que se traduz: “só e tudo quanto foi crido sempre, por todos e em todas as partes”. Ou seja, devemos nos ater à tradição. O resto é invencionice.

Um bom exemplo de Comonitório Maçônico encontra-se em nossa definição:

O Maçom pratica o Bem, levando sua solicitude aos infelizes, sejam quem forem, mas na medida de suas forças. Devemos, com sinceridade, combater o egoísmo e a imoralidade.

 Assim, é pelo mundo há séculos; assim serão séculos por todo o mundo!

Neste ­17o ano de compartilhamento de instruções maçônicas e provocações para o enlevo moral e ético dos Irmãos, permanecemos no nosso propósito maior de disponibilizar uma curta reflexão a ser discutida em Loja. O Ritual não pode ser delapidado. A Ritualística deve ser seguida integralmente. O Quarto-de-hora-de-estudo é fundamental em uma sessão Justa e Perfeita.



agosto 29, 2023

O RITUAL É DISCIPLINA E ORDEM - Laurindo Roberto Gutierrez


“Me consola é saber que maçom não morre, vai para o oriente eterno”

A sessão maçônica é sempre uma ocasião especial, e deve ser regida pelo cumprimento inflexível do ritual, que é simplesmente a maneira como as coisas devem ser feitas. O ritual é um procedimento padrão para impor a ordem, disciplina e respeito aos trabalhos. Até nas atividades diárias existe uma ritualística que precisa ser obedecida por todos para que haja ordem. Numa reunião empresarial deve haver uma norma ritualizada que disciplina a sequência dos trabalhos, para discussão de cada item agendado, sem isso haveria falta de ordem na condução dos assuntos, gerando uma preciosa perda de tempo. Assim haveria um mal resultado, e o que se discutiu, seria até questionável.

E o Ritual, na Loja, como tem sido tratado? Muito mal às vezes. Fico desconsolado, quando vejo um Venerável, sem que o irmão tenha direito, o autorize a baixar o sinal de ordem ao falar. Aliás, esta “gentileza” as vezes é só aos irmãos postados no Oriente, nem sempre aos do Ocidente, criando assim duas classes de irmãos no templo, os que obedecem o ritual, e os que pela “bondade” do venerável não obedecem). 

Desinformados e maçonicamente incultos, ou por desconhecerem a ritualística, alguns Veneráveis, não sabem o significado esotérico que é “Estar de Pé e à Ordem”, esquecendo-se que isso é uma exigência do ritual. Poucos são os casos em que se tolera dispensar o maçom do Sinal de Ordem, entre eles; para altas dignidades maçônicas, para irmãos em idade provecta e para irmãos que estejam com algum problema de saúde. Pasmem irmãos, até aos aprendizes tem sido dispensado a obrigatoriedade de falar de pé e a ordem.

Não veem, esses Veneráveis, que nessa posição (de pé e à ordem), em relação aos demais que estão sentados, o irmão pode mais facilmente ser visto e ouvido, e pelo sinal que faz, mostra o grau em que a Loja está trabalhando. Mais ainda, assim postado, a palavra mal pronunciada, a ideia mal explicada soam mais altas e claras, sendo necessário todo o cuidado ao enunciá-las. E não é só isso, estar de pé e à ordem, nos faz lembrar que o sinal gutural é o compromisso de honra de guardar segredo, que juramos no dia de nossa iniciação.

O ritual serve para organizar e ordenar os trabalhos em Loja, garantindo a todos igualmente a participação, a seu tempo. 

Outro ponto importante, é que o irmão não pode fazer apartes, caso a palavra já tenha passado ritualisticamente pela sua coluna, e somente na sessão seguinte, ele poderá tratar do assunto. As normas contidas no ritual, são sábias, pois passada uma semana, ambas as partes terão meditado e a solução surgirá de maneira conciliadora e racional. 

A Maçonaria usa o ritual de forma a expor seus ensinamentos filosóficos, seguindo passo a passo, esse conjunto de normas que é muito rico e antigo, remontando aos primórdios da secular criação da Ordem. Não pode, nossa geração, deturpar esse conjunto de regras, criado por Elias Ashmole, há quase quatro séculos, que nos tem guiado por todo esse tempo.

Se a Bíblia, é o Livro da Lei, nosso código de moral, ética e religiosidade, O Ritual, é o manual que nos ensina a maneira correta de falar, caminhar, se portar, ouvir e falar em Loja. É um conjunto perfeito que deve ser obedecido “ipsis literis”, como está.

A Ordem Maçônica se mantém justa e perfeita no caminho reto e plano, pavimentado com pedras ritualisticamente desbastadas e polidas, como exige o ritual. Se executado corretamente, nem notamos seu desenvolvimento na sessão, pois o ritual é vida, é o coração que pulsa enviando sangue para todo o corpo maçônico, reunidos em Loja na mais perfeita e harmoniosa egrégora.

agosto 28, 2023

CONSTANTE VIGILÂNCIA - Roberto Ribeiro Reis


As colunas da Força e Beleza são capitaneadas por dois Obreiros atentos, os irmãos vigilantes, de cujas mãos ecoam o som pujante e disciplinador do malhete, essencial para a ordem e beleza de nossos trabalhos.

Inicialmente, há de se ater à etimologia da palavra vigilante. “Vigilância”: em Latim, significa VIGILANTIA, de VIGILARE, “tomar conta, estar acordado”. Por sua vez, esta palavra se originou de uma raiz Indo-europeia WEG-, “vigor”.

Logo, é preciso que os irmãos vigilantes tomem   conta das colunas, e que  estejam acordados durante os trabalhos, com o vigor   necessário, a fim de que os  trabalhos sejam, posteriormente, reputados como justos e perfeitos. 

Via de regra, isso é o que deve ocorrer em uma Oficina da Arte Real. Contudo, é preciso fazer uma análise esotérica acerca do tema vigilância. Nos profundos recônditos   de nossa alma, temos sido   constantes vigilantes?   

Estamos acordados, tomando conta de nosso patrimônio íntimo, com o zelo e dedicação necessários para o florescimento do jardim de nossa consciência?

O maior líder do qual a   humanidade tem   conhecimento vaticinava,   com ênfase: “conhece-te   a   ti mesmo”. Será que   temos observado esse   imperativo existencial, colocando-nos, diária e   exaustivamente, em   estado de contemplação   de nós mesmos?

Não raro, buscamos a resolução de nossos problemas em algum ambiente externo e material, menoscabando a importância que há de sermos construtores de nosso edifício mental e  espiritual.

Muitas das vezes, nossa vida parece desmoronar, especialmente quando as dificuldades se nos aproximam, e não temos equilíbrio emocional para lidar com elas.

Parecemos fazer ouvidos moucos à determinação e força que nos são ensinadas pelo simbolismo do malho; consequentemente, não temos tido êxito em cinzelar (aparar, mitigar, atenuar) as arestas (problemas e contendas do cotidiano). 

Tem-nos faltado a vigília e a oração, ferramentas indispensáveis ao nosso equilíbrio emocional e racional. 

Tudo o que fizermos em nossa vida deve ser dirigido à Glória do Grande Arquiteto do Universo. Não   olvidemos o fato de que o   Reino de Deus foi   estabelecido com estabilidade e força,  representando as duas  colunas pelas quais são  responsáveis os irmãos vigilantes. 

Logo, a cada cataclismo   que nos for  apresentado   em nossa marcha   evolutiva, que tenhamos a estabilidade e a força, primeiramente para enfrentarmos nossos fantasmas interiores,  para -somente depois- lutarmos   contra nossos inimigos   projetados pelo mundo material.

Roguemos Sabedoria ao Supremo Artífice dos Mundos! 




agosto 27, 2023

DEVAGAR... - Adilson Zotovici



Segue irmão  livre pedreiro

Pelos encantos, os teus intentos

À cada canto alvissareiro

Após a Luz, tantos eventos


Não faz da Ordem teu cativeiro

Na revelação dos teus talentos

Inda que te instigue o roteiro

À obtenção de bons proventos


Semanais no inicio os momentos

Logo, todas noites, ano inteiro...

E demais compromissos...aos ventos


Que consequente,  por derradeiro ,

Não tenhas junto aos paramentos

Escova de dente, travesseiro...



O TEMPO E OS CALENDÁRIOS - Angelo Spoladore



“Não tem sido fácil para o Homem encarar o tempo”. Alguns, “na tentativa de elucidar aspectos do abismo do tempo” acabaram caindo no abismo da ignorância. (Claude C. Albritton, The Abyss of time)

Algumas vezes nos deparamos com números incrivelmente grandes, outras com espaços enormes. Não é raro ouvirmos alguma coisa sobre o átomo ou outra partícula qualquer infimamente pequena Será que de fato entendemos o que essas dimensões significam? De uma maneira em geral, quando nos deparamos com dimensões com que não estamos acostumados, temos dificuldade em expandir a nossa concepção de realidade e entender o significado do que vemos ou ouvimos.

Talvez tal fato seja mais marcante quando temos de criar uma concepção de tempo que vá além daquela que nossa mente nos coloca como passado, presente e futuro. Devido a nossa vida relativamente curta, estamos acostumados a pensar em 10 ou 20 anos. Um século (100 anos) costuma ser uma referência de um longo período de tempo. Todavia, considerando a história da Terra, 100 anos representam apenas um breve instante.

Entretanto, temos de nos lembrar de que a nossa história, e quando digo isso me refiro a história do nosso planeta e da raça humana, vai muito mais além do que os livros nos contam. Para chegarmos até aqui, muita coisa se passou ficando posteriormente esquecida ou perdida no abismo do tempo.

Devemos nos lembrar então que existem períodos de tempo muito maiores. Assim, devemos pensar em de milhões e bilhões de anos.

Mas, como podemos quantificar o tempo? Como medir esses longos períodos temporais? Existem métodos ou sistemas adequados para a contagem do tempo? O que é o tempo? O tempo existe ou é apenas mais uma das invenções humanas? O nosso sistema de contagem de tempo, ou em outras palavras, o nosso calendário, está correto? Teria ocorrido realmente o nascimento de Jesus na data de 25 de dezembro?

O tempo é entendido e medido por mudanças.

Estamos todos sujeitos ao crescimento e às mudanças físicas e biológicas. Dessa forma é que percebemos o tempo. O tempo é medido por mudanças, e as mudanças ocorrem em muitas escalas. Existem muitas formas de marcar o tempo como por exemplo o pêndulo, relógio de areia, movimento da Lua ao redor da Terra e da Terra ao redor do Sol. Tratam-se de fenômenos físicos cíclicos ou periódicos, ou seja, se repetem em períodos determinados e sempre iguais. Podemos utilizar como marcadores de tempo até mesmo os intervalos biológicos cíclicos, em outras palavras, períodos entre fenômenos biológicos tais como o sono, a fome, a menstruação, dentre outros.

A Terra é seu próprio marcador de tempo. Nela vemos mudanças nos dias, estações, anos, etc. Determinar a idade da Terra é basicamente determinar o tempo que a ela está girando ao redor do sol, o que para nós seria então o início do tempo.

O relógio (marcador cronológico) é um mecanismo usado para a contagem do tempo. Normalmente estamos acostumados a relógios mecânicos construídos para medir horas, minutos; todavia, existe uma grande quantidade de relógios naturais que fornecem bons parâmetros para se medir o tempo. Com eles podemos medir pequenos ou grandes intervalos de tempo. Vibrações dos átomos, por exemplo, fornecem intervalos pequenos com incrível precisão. Já as órbitas dos planetas e outros corpos do espaço sideral servem para marcar períodos de tempo maiores.

Por calendário (do latim calendae que significando primeiro dia do ano no calendário romano que por sinal era o dia em que as contas eram pagas) entende-se que seja o sistema de divisão do tempo em que se aplica um conjunto de regras baseadas na astronomia e em convenções próprias, capazes de fixar a duração do ano civil e de suas diferentes datas.

Em outras palavras, os calendários seriam formas, esquemas ou sistemas feitos pelo homem, obedecendo determinadas regras, utilizados para a contagem do tempo, tentando organizar e medir da melhor maneira possível o tempo conhecido.

Resumidamente, o calendário pode ser definido como sendo um sistema de divisão e contagem do tempo através da aplicação de uma série de normas e regras normalmente baseadas na astronomia.

O homem sempre tentou medir o tempo para saber a sua própria idade e também para saber a idade da Terra, sendo que várias formulas e metodologias para a medição e quantificação do tempo já foram propostas. Para tal, utilizou-se dos relógios naturais, ou marcadores cronológicos periódicos existentes na natureza. Uma vez quantificado, o tempo passou-se então para a tarefa de organização dos chamados calendários.

Falemos um pouco sobre a nossa noção de tempo e de como ela se desenvolveu.

Inicialmente a civilização ocidental pensava que a Terra seria tão velha quanto os seres humanos, possuindo aproximadamente 6000 anos. Em outras palavras, Tudo teria sido criado, inclusive o tempo, a aproximadamente 6000 anos.

O fato de que a Terra e o tempo eram mais antigos do que se pensava foi “descoberto” em Edimburgo, mais ou menos em 1770, por estudiosos liderado por James Hutton. Esses homens, estudando as rochas da região costeira da Escócia, perceberam que cada pedra, sem importar a idade, era formada por fragmentos de outras pedras mais velhas.

Esta foi talvez a descoberta mais importante do século XVIII, pois mudou o pensamento e a forma de encarar a Terra, os planetas, o Sol e outras estrelas, e, como consequência, a forma de olharmos para nós mesmos.

Da interpretação de que as rochas são produtos e registros de eventos ocorridos na história da Terra gerou-se a ideia de que as leis da natureza não mudam com o tempo. 

Hutton viu ainda evidências de que a Terra teria tido uma evolução uniforme e por processos lentos e graduais que atuavam durante um longo período de tempo. Da mesma forma que uma P⸫ B⸫ através do desgaste lento e gradual, é trabalhada até se transformar em P⸫P⸫, a Terra evolui e rios pequenos podem erodir por completo toda uma cordilheira de montanhas, se lhe for dado tempo suficiente. 

As obras importantes que se seguiram, como por exemplo o celebre trabalho de Sir Charles Darwin que tratou da evolução das espécies, utilizaram estes conceitos. 

As ideias de Hutton foram muito criticadas e demoraram para serem aceitas. Até o final do século XVIII a história da Terra bem o tempo eram contados baseando-se na Bíblia. Acreditava-se que a Terra e tudo o que nela existe, tal como ela é hoje, teria sido criada em apenas 6 dias por obra direta e pela vontade de um Deus Criador. A criação em tão pouco tempo, mesmo considerando um Criador, envolveria forças de tremenda violência, ultrapassando qualquer coisa experimentada pela natureza. Esta teoria ficou conhecida como teoria do catastrofismo sendo proposta oficialmente pelo Barão George Cuvier (1769-1832) - naturalista francês.

Com relação à idade da Terra, várias foram as tentativas de quantificação bem como saber há quando tempo existe a raça humana.

Uma tentativa de quantificação importante posto que ainda é considerada em calendários de alguns Ritos até os nossos dias, é aquela feita em 1654, por um arcebispo irlandês que calculou, tendo por bases dados bíblicos, que a Terra teria sido criada 4004 anos antes de Cristo, no dia 26 de outubro, as nove horas da manhã. Um outro cálculo foi feito pelo pastor anglicano James Usher chegou a uma idade para a criação da Terra de 4000 anos antes de Cristo.

Atualmente, além dos calendários para a contagem e organização do tempo, utilizamos dois conceitos diferentes de tempo e duas metodologias distintas a quantificação do tempo: a datação relativa (que nada mais é senão a simples determinação de uma ordem cronológica de uma sequência de eventos) e a datação absoluta (estabelece idades em termos quantitativos, ou seja, anos, séculos, milhões ou bilhões de anos, através dos métodos C14, U/Pb, K/Ar, dentre outros).

Estabeleceu-se assim a idade da Terra a qual teria se formado a aproximadamente 5,0 bilhões de anos. As rochas mais antigas datam de 4,5 bilhões de anos e que a vida humana surgiu a apenas a aproximadamente 2 milhões de anos.

Para termos uma ideia do esses números significam, se a idade da Terra fosse igual a um ano, o homem teria surgido no dia 31 de dezembro às 23 horas e 55 minutos. Portando, os registros históricos que possuímos representam uma gota de água em um oceano, e mesmo neste pequeno intervalo, demorou-se para chegar um uma forma razoavelmente adequada de quantificação e organização cronológica.

Conforme verificamos anteriormente, a ideia do tempo tal qual conhecemos hoje, tem suas origens relacionadas à estudos das rochas e da Terra em si.

Com relação aos calendários, várias são as tentativas de elaboração de sistemas baseando-se em fenômenos astronômicos especialmente àqueles envolvendo a posição e movimento do Sol e da Lua.

De acordo com o fenômeno adotado, podemos ter o calendário lunar, o solar e o lunissolar. Um calendário solar é um calendário organizado com vista especificamente à revolução da Terra em torno do Sol. Já o calendário lunar é organizado com base específica na revolução lunar enquanto que o calendário lunissolar leva em conta simultaneamente as revoluções da Lua em torno da Terra e desta em torno do Sol.

Os primeiros calendários tentavam marcar o início e o fim do inverno e verão. Estes períodos eram importantes posto que representam respectivamente épocas de escassez e abundância de alimentos. O homem logo percebeu que em determinadas épocas do ano o Sol estaria mais próximo ou mais afastado da Terra. Assim foram definidos os chamados equinócios (21 de março e 23 de setembro - datas do ano em que o dia e a noite são exatamente iguais em duração correspondendo ao cruzamento entre a elíptica - movimento aparente do Sol - e a projeção do equador in “A Voz de Kronus/set. 96) e solstício (22 ou 23 de junho e 22 ou 23 de dezembro - datas do ano em que são desiguais ao extremo a duração do dia e da noite são desiguais em decorrência da máxima distância entre a elíptica e o equador celeste in “A Voz de Kronus/set. 96). Uma forma simples e eficiente bastante utilizada pelos povos antigos para saber da aproximação da nova estação era elaborar construções “alinhadas” com o local no horizonte onde o Sol nasceria nas datas dos equinócios de inverno e verão. Com o passar dos tempos o sistema de contagem de tempo ficou mais sofisticado.

Vejamos alguns exemplos de diferentes calendários utilizados ao longo de nossa história (extraídos de trabalhos dos IIrm⸫ Hércule Spoladore, Mário A. Cardoso, José Castellani e ainda do Dicionário Aurélio):

Calendário civil - Aquele em que se considera o ano como formado de um número inteiro de dias e meses, segundo as regras próprias de cada povo ou nação.

Calendário egípcio - Calendário usado no antigo Egito, formado por anos de 365 dias grupados em 12 meses de 30 dias e cinco dias epagômenos que o completavam. O início deste calendário ocorre quando o Sol entre no signo Zodiacal de Leo, quando Siriús entra em conjugação com o Sol coincidindo com a canícula a 20 à 22 de julho às 11 horas. Esta data coincide com as cheias do Rio Nilo. O primeiro mês é chamado de Thot. Alguns autores apontam este como o primeiro calendário solar. As estações eram divididas em: inundações ou cheias (Akket), semeaduras (Pen) e colheitas (Shemu).

Calendário Babilônico - Calendário lunar com 354 dias divididos 12 meses de 29 ou 30 dias sendo que o início era assinalado pela lua nova. Devido ao fato do calendário ser lunar, ao final de 3 anos existiria uma defasagem de aproximadamente um mês em relação ao calendário solar. Para solucionar este problema, ao final de cada 3 anos foi acrescentado um mês complementar.

Calendário grego - Calendário usado na Grécia antiga, originário de Atenas, com um ano do tipo lunissolar. Era formado de 12 meses de 29 e 30 dias, alternados, começando próximo do solstíscio do verão. É mais curto cerca de 11 dias que o ano solar. Esta diferença se acumulava de modo que em cada oito anos havia um excesso de 87 dias, que eram compensados com o aparecimento de três anos de 13 meses, os denominados anos embolísmicos de 383 dias.

Calendário romano - Calendário utilizado na antiga Roma antes da criação do calendário juliano, e que não obedecia a regras fixas, sendo o ano dividido em 10 meses de 20 ou de 55 dias, variando de acordo com os trabalhos da agricultura e as ideias políticas e religiosas dominantes.

Calendário juliano - Chama-se de calendário juliano ao resultante da reforma do calendário romano. Foi introduzida por Júlio César no ano de 45 a.C. mediante conselhos do astrônomo Sosígenes. Tal mudança foi realizada pois o antigo calendário romana era muito confuso. No calendário juliano em cada quatro anos existiria um ano bissexto, de 366 dias. Este calendário apresentava séria discrepância entre o ano civil e o ano trópico.

Calendário Hindu - Calendário com 12 meses de 30 dias cada e seis estações (primavera, verão, chuvas, outono inverno e orvalho). Devido a defasagem em relação ao calendário solar, a cada cinco anos era acrescentado um mês suplementar.

Calendário gregoriano - O chamado calendário gregoriano é resultante da reforma do calendário juliano e foi introduzido pelo Papa Gregório XIII (1502-1585). Neste calendário em cada quatro anos existe um ano bissexto, com exceção dos anos seculares, em que o número formado pelos algarismos das centenas e dos milhares não é divisível por 4. Para efeito de acerto para implantação, foi estabelecido na ocasião que o dia 04/10/1562 passaria a ser 15/10/1562.

Calendário eclesiástico ou litúrgico - O baseado nas festas das igrejas cristãs, todavia seu objetivo principal era a determinação da Páscoa. Este calendário, cujo cálculo é muito complexo, foi muito utilizado na idade média sendo elaborado no Concílio de Nicéia em 325 d.C. e é utilizado até os nossos dias pela Igreja Católica.

Calendário muçulmano - Calendário lunar constituído de 12 meses de 30 e 29 dias, que principiam sempre na lua nova. O ano civil muçulmano tem 354 ou 355 dias, e o início do ano retrograda de 10 a 11 dias em relação ao ano do calendário gregoriano. Ele é considerado a partir da Hégira no ano de 622 da nossa era, quando o Profeta Maomé partiu de Medina. Esta se celebra no primeiro dia do terceiro mês e o Ramadã é comemorado no nono mês.

Calendário maia - O calendário maia consiste em três sistemas simultâneos de contagem de dias: um, de interesse civil, com um período de 365 dias; outro, religioso, de 260 dias; e um terceiro de longo curso.

Calendário republicano ou francês - Calendário instituído na França pela Convenção, na Revolução Francesa, a 24/10/1793, pelo qual o ano tinha 12 meses de 30 dias cada um, acrescidos de cinco dias complementares, dedicados às festas republicanas, e começava no equinócio do outono do hemisfério norte (22 de setembro). Os meses tinham nomes um tanto que curiosos. Eis, por ordem, os nomes dos meses: vendemiário, brumário, frimário, nivoso, pluvioso, ventoso, germinal, floreal, prairial, messidor, termidor e frutidor. Convencionou-se que o ano I da República teria começo em 22 de setembro de 1792. Era um calendário anti-clerical.

Calendário israelita ou hebraico - Calendário hebraico é lunar e solar ao mesmo tempo. É constituído de 12 ou 13 meses de 29 e 30 dias, que principiam sempre na lua nova. Tal fato ocorre pois os 12 meses lunares (com 354 dias) não englobam o ano solar (365 dias), ocorrendo assim uma diferença de 11 dias, criando assim, de tempo em tempo um mês a mais. Os meses com 29 e 30 dias ocorrem pois o período de cada lunação é de 29 dias, 12 horas e 40 minutos. Como cada dia e cada mês começa e termina a meia noite, haverá uma diferença que após um período criará um mês com 30 dias.

Este calendário leva em consideração o ano agrícola, religioso e o civil (ou econômico). Se considerarmos o ano agrícola e o religioso, o ano hebraico se inicia no mês de Nissam (correspondente a março/abril). Considerando o ano econômico ou civil, o ano tem início em Tishiri (setembro / outubro).

O ano civil israelita tem 354 dias, e para fazê-lo coincidir com o ano solar se introduzem sete anos embolísmicos de 13 meses em cada grupo de 19 anos. Para se calcular o ano no calendário hebraico basta somar ao ano da E\ V\ o número 3760.

Este calendário é, aparentemente, complexo e de difícil compreensão, sendo utilizado normalmente através de tabelas.

Calendário maçônico gregoriano - O ano tem início em 21 de março sendo dividido em 12 meses com 30 ou 31 dias. O 12° mês possui apenas 28 dias. Tanto os meses como os dias não recebem denominações especiais. Trata-se na verdade de uma mistura entre os calendários gregoriano e hebraico. Para se saber o ano, acrescenta-se o número 4000 ao ano da E⸫ V⸫

Calendário perpétuo - Calendário formado de tal maneira que as datas do ano são fixas em relação aos dias da semana. Este tipo de calendário já foi proposto várias vezes, sob diversas formas, todavia, ainda não foi adotado, em razão das dificuldades que viriam com uma reforma a nível mundial que teria de ser realizada para a implantação do mesmo.

A Maçonaria criou novos calendários ou modificou os já existentes gerando dessa forma calendários particulares que podem variar de acordo com o Rito ou com a Potência. Vejamos alguns exemplos.

O Rito de Menfis se utiliza do calendário egípcio de mesma forma que a maioria dos Ritos orientais.

Já o Rito do Real Arco utiliza um calendário próprio pelo qual é acrescentado a ano da E⸫V⸫ o número 530. De acordo com este calendário, o ano zero seria o ano da fundação do segundo Templo de Jerusalém (ou Templo de Zorobabel).

O Rito da Estrita Observância considera o início de seu calendário no ano 1314 ou o ano da destruição da Ordem do Templo. Neste caso ano invés de acrescentar um determinado número no ano a E⸫V⸫, é subtraído o número 1314 da mesma.

O Rito de Misrain soma ao ano da era vulgar o número 4004 pois o calendário deste Rito considera a datação citada anteriormente pela qual a Terra teria sido criada no ano 4004 a.C. 

O Rito Adonhiramita se utiliza de um calendário muito próximo do calendário hebraico desde 1815.

O Rito Escocês Antigo e Aceito utiliza nos Graus Superiores o calendário hebraico devido ao fato deste Rito ter sido fundado por Irmãos de origem judaica. Este mesmo Rito utiliza no Brasil um calendário baseado no hebraico com início em 21 de março (Missan) acrescentando-se ao ano da E⸫V⸫ o número 4000.

O calendário do Rito Moderno atribui aos meses igual número de dias que o calendário gregoriano, acrescentando o número 4000 ao ano da E⸫V⸫ Antigamente, este calendário tinha seu início no dia 21 de março. Todavia em 1774, o Grande Or⸫ da França mudou o início do ano para 1° de março alegando que a antiga data (21 de março) causava muita confusão.

O Rito de York utiliza um calendário próprio e simples sendo que apenas é acrescentado o número 4000 ao ano da E⸫V⸫ 

Rito Brasileiro usa o calendário maçônico gregoriano

Da mesma forma que o calendário pode variar, variam também as expressões que acompanham o ano. Assim, o Rito do Real Arco acrescenta a expressão A⸫Inv⸫ (Anno Invencio) enquanto que o Rito de York utiliza A⸫L⸫ (Anno Lucis). Para os Ritos Moderno e Brasileiro é utilizada a expressão V⸫ L⸫ (Verdadeira Luz ou Vera Lucis). Para os Ritos que utilizam o calendário hebraico a expressão é A⸫M⸫ (Anno Mundi).

Apesar dos Ritos adotarem oficialmente um determinado calendário, nem sempre essa determinação é seguida. 

Conforme relatos de diversos IIrm⸫ dentre eles os IIrm\ Hércule Spoladore e José Castellani, quando da fundação do então Grande Oriente Brasiliano foi adotado o calendário utilizado pelo Rito Adonhiramita posto que este Rito era o adotado pela Potência.

Sabe-se também que o Supremo Conselho de Montezuma utilizava o calendário do Rito Moderno. Quando posteriormente este Supremo Conselho, em 1855, uniu-se ao Grande Oriente do Brasil, possa ter influenciado a adoção, por parte do GOB, do calendário do Rito Moderno. Todavia, segundo o Ir⸫Hércule Spoladore e o Irm⸫ Kurt Prober, o calendário do Rito Moderno nem sempre era obedecido existindo alternância entre a utilização dos calendários dos Ritos Francês e Adonhiramita e até mesmo o gregoriano de acordo com o Grão-Mestre no poder conforme segue abaixo. 

De acordo com diversos documentos analisados pelo Irm⸫ Kurt Prober e também pelo Irm⸫ Gomes e posteriormente citados pelo Irm⸫ Hércule Spoladore, oficialmente, o calendário do Rito moderno foi utilizado pelo GOB entre os anos de 1856 e 1870 quando então passou-se a usar o calendário gregoriano. No período correspondente aos anos de 1871 à 1876 foi utilizado o calendário Adonhiramita e a partir de 1876 até 1889 foi utilizado novamente o calendário gregoriano.

Entre novembro de 1889 a março de 1890 foi utilizado o calendário do Rito Moderno quando então voltou-se a seguir o calendário gregoriano.

Foi somente a partir de fevereiro de 1892 que o Grande Oriente do Brasil passou a utilizar o calendário do Rito Moderno sendo que este é o calendário oficial até os nossos dias.

Ainda de acordo com os IIrm⸫ citados anteriormente, o Supremo Conselho do Brasil, aproximadamente em 1898, passou a utilizar o calendário hebraico para os graus 31 à 33. Posteriormente, depois do cisma de 1927, o Supremo Conselho adotou este calendário para todos os graus filosóficos.

As Grandes Lojas Brasileiras utilizam até os nossos dias, o calendário do Rito Moderno ou Francês.

Tantas mudanças e tantos calendários assim podem causar problemas principalmente quando pessoas pouco avisadas tentam manuseá-los e interpretá-los.

No Brasil é célebre a confusão causada pela má interpretação e pelo desconhecimento histórico e sobre calendários por parte de certos pesquisadores. A confusão diz respeito a data de fundação do Grande Oriente do Brasil, da iniciação e a posse como Grão Mestre de D. Pedro I e na data da famosa 14ª Sessão quando é tido que o Ir⸫ Gonçalves Ledo teria proclamado a Independência do Brasil.

Uma das decorrências dessas confusões, além de discussões apaixonadas, foi a instituição em 1957 do 20 de agosto como sendo o “Dia do Maçom”, data esta, comemorada e por uns e criticada por outros posto que nesta data não houve sessão no Grande Oriente do Brasil. Dessa forma, o 20/08 não teria significado maçônico sendo apenas fruto de interpretações errôneas de IIr⸫ pouco avisados.

Este assunto já foi muito bem discutido pelos IIrm⸫ Hércule Spoladore, José Castellani Manoel Gomes e João Alberto de Carvalho. Todavia, devido ao pouco interesse por cultura maçônico da maioria dos Obreiros da nossa Real Ordem, muitos ignoram os verdadeiros fatos, assumindo o 20 de agosto como verdadeiro ou o que é pior, não sabe ao menos o porque que esta data foi estipulada como sendo o Dia do Maçom.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, M.A. (1996) - A Maçonaria no Computador. 

CARVALHO, J.A. (1986) - Dia 20 de agosto de 1822: equívoco histórico. Bol. n° 7 do Grande Oriente de Minas Gerais.

CASTELLANI, J. (1986) - Dia 20 de agosto de 1822 : Não houve sessão na maçonaria. Bol. n° 7 do Grande Oriente de Minas Gerais.

Dicionário Aurélio Eletrônico

GOMES, M.(1986) - 20 de agosto ou 9 de setembro. Bol. n° 7 do Grande Oriente de Minas Gerais.

Periódico: A VOZ DE KRONUS, n° 06 / set. 96.

PROBER, K. Coletânia Bigorna, n° 1 e 2.

SPOLADORE, H. (1991) - Calendários e Maçonaria. 3° Encontro de Membros Correspondentes da Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil.

agosto 26, 2023

MAÇONARIA E A QUESTÃO DO RACIONALISMO - João Rodrigues


A partir do século XVII uma cultura orientada para o científico e para o lógico invadiu as consciências de tal modo, que nada mais podia ser sustentado no terreno do pensamento e da experiência social, se não fosse passível de ser reduzida à uma fórmula matemática ou à uma proposta epistemológica que a mente humana pudesse entender e explicar racionalmente. 

Tudo tinha que ser explicado com estrita clareza, ordem, concisão e exatidão.

Esta cultura pelo exato, pelo matematicamente provável, pelo passível de repetição em laboratórios, expulsou dos meios intelectuais a antiga tradição esotérica dos “Filhos de Hermes” e dos “Obreiros do Bom Deus”, que escondiam nos símbolos da sua atividade profissional os tesouros da sua ciência. 

Numa sociedade fundada sob a certeza das suas fórmulas, na organização das suas estruturas, na demonstração inequívoca de resultados, no amor pela evidência racional, não havia lugar para uma metafísica apoiada em símbolos que somente iniciados podiam desvendar, e mesmo assim, sem certeza da obtenção de qualquer resultado concreto.

A chamada “alta ciência” que se hospedava na pratica da alquimia e da maçonaria operativa teve de se adaptar as exigências do racionalismo. 

Daí o nascimento da moderna Arte Real, com a introdução daqueles elementos que Ambelain chamou de caminho político da Maçonaria, onde se aliavam, segundo as suas próprias palavras: “as melhores noções de progresso e evolução, mas também, infelizmente, ideias novas, desconhecidas dos antigos franco maçons, como o ateísmo, o materialismo, o laxismo, que conduzem ao materialismo desagregador e que tenderiam, pouco a pouco, a minar certos valores que fazem a dignidade do homem”.

Ambelain, como outros críticos da maçonaria moderna, achava que influência psíquica dos ritos maçónicos tinha sido envilecida na sua passagem operativa para o plano puramente especulativo, pois a espiritualidade que havia na prática operativa foi substituída por uma ritualística vazia de sentido e extremamente pobre em conteúdo emocional. 

A Maçonaria antiga, que incorporava na sua prática uma noção de sacralidade, cederia o passo à nova organização, que nada mais era do que um clube de elite, que refletia as tendências culturais de uma época extremamente conturbada, onde a desconstrução do antigo era a moda.

Não obstante o seu sentimento saudosista, Ambelain, como outros autores da mesma escola, reconhecia que a Maçonaria secularizada, como todas as instituições oriundas da cultura medieval, precisava se adaptar às exigências do ambiente da época, que elegera o racionalismo como nova religião oficial. 

Não fosse essa concessão ao espírito da época ela também não teria sobrevivido como tradição, e acabaria no mesmo escaninho em que foram postas outras grandes tradições desenvolvidas pelo espirito humano, como a alquimia e a aritmosofia, que sobrevivem apenas como curiosidades históricas.

Pois na nova estrutura cultural que então se instalara com o advento da Reforma Religiosa e do seu filho filosófico, o Iluminismo, também o esotérico precisava de uma epistemologia que o fizesse palatável às novas classes intelectuais. 

A Maçonaria que emergiu desse caldo cultural é a que conhecemos hoje: Um iluminismo romântico, temperado com elementos de esoterismo.