abril 26, 2025

ORADOR - Sérgio Quirino



Talvez a joia de cargo mais incompreendida seja a do Orador.

Como a maioria de nós adota o pensamento simplista de associar orador com oratória e oratória com "falar bonito", a joia deveria ser, então, um púlpito em vez de um livro.

Contudo, não é um simples livro. Ele está aberto, e, de forma erronea, alguns Irmãos acham que ele está sobre algo fulgurante. Na verdade, a joia é um livro fulgurante. Em alguns Ritos, esse objeto recebe o nome de "Livro Rutilante".

Portanto, é o livro em que há luz. Dessa forma, o Mestre Maçom, aquele que o carrega no peito, deve tornar claro esclarecendo dúvidas e dissipando erros.

O ORADOR MAÇÔNICO NÃO É AQUELE QUE MUITO FALA, MAS SIM O QUE MUITO LÊ, POIS É O GUARDIÃO DAS LEIS!

Se fosse para falar sempre, muito e a toda hora, não seria Orador, e sim Falador. É tão lógico que, ao ocupar este cargo, o Mestre Maçom deve abrir mão dos seus pontos pessoais e manifestar-se estritamente dentro dos princípios das Leis, Regras e Procedimentos Maçônicos. Alguns Ritos prescrevem que ele não participa das votações nas sessões.

Ele é o "Ministério Público" da Loja, incumbindo-se da defesa da ordem juridica e ritualistica, do regime fraterno e dos interesses coletivos e individuais. Ele é o quarto na hierarquia da Loja e, sozinho, pode abrir um processo contra qualquer Obreiro, Oficial, Dignidade e, mesmo, as Luzes.

Sua autoridade é reafirmada não pela eloquência de frases, mas pelo conteúdo das palavras. Observemos alguns detalhes do respeito que a ele devemos ter. Quem abre e fecha o Livro da Lei é um Past-Venerável. Porém, na impossibilidade, é o Orador, o qual, muitas vezes, não é um Mestre Instalado.

Havendo emendas ao Balaústre, o VM deve pedir opinião ao Orador antes de submetê-las à votação. As Leis do Grão-Mestre (decretos) chegam aos Irmãos pela voz do Orador. O VM pode trabalhar a Ordem do Dia segundo sua planificação, porém quem faz as conclusões é o Orador, que pode e deve dar sustentação ou alertas legais sobre assuntos polêmicos.

E, por fim, cabe a ele solicitar que se proceda a iniciação de um candidato.

De fato, espera-se que o Orador não use seu conhecimento para discursos pomposos e vaidosos. Sua manifestação deve ser uma exposição metódica e imparcial a respeito do assunto tratado. Cabe a ele apresentar em linguagem compreensiva a todos, subsídios para a organização de ideias e fluidez de raciocínio dos Irmãos.

O filósofo grego Aristóteles ensinava que há quatro tipos de discursos, entre os quais apenas um tem valor maçónico. O Discurso Poético é aquele em que a certeza ou a veracidade pouco importam. Sendo assim, a razão é abandonada. No Discurso Retórico, não há o menor comprometimento na busca da verdade, visto que o orador quer apenas garantir que sua tese esteja certa,

No Discurso Dialético, tenta-se o possível esclarecimento, mediante teses e antíteses, em um misto que pode esclarecer ou confundir conforme as afirmações antagônicas.

Na Maçonaria, o pragmático é o Discurso Lógico, cujo único propósito é alcançar a resposta/resultado correto e indubitável.

Permitam-me uma alegoria: recordemos que o Trono de Salomão está colocado sobre o degrau da Verdade. Esse degrau é construído pelas tábuas da lei, e quem faz a manutenção é o Orador.



abril 25, 2025

MAÇONARIA OPERATIVA–A ORIGEM DA ARTE REAL - Lucas Galdeano



A Maçonaria Operativa, ou dos Construtores foi um período em que a Ordem Maçónica estava diretamente ligada à arte da construção e que teve o seu apogeu no século XIII. 

Também conhecida por Maçonaria de Ofício, resplandeceu na Idade Média, sob a influência espiritual da Igreja.

A Europa vivenciou, no período, efervescente procura por construções de catedrais, igrejas, abadias, mosteiros, conventos, palácios, basílicas, torres, casas nobres, mercados e paços municipais. 

Pode-se afirmar que o continente possuía grande abundância de monumentos e construções arquitetadas e executadas por Maçons Operativos. 

As principais obras da época incluem, de entre outras, a famosa Notre Dame de Paris, as Catedrais de Reims, de Estrasburgo, de São Pedro em Roma, de Sevilha, de Toledo, a Abadia de Westminster, o convento de Monte Cassino e o Mosteiro da Batalha.

Os primeiros documentos de grande importância para a Maçonaria – não por coincidência – surgiram nessa época. 

A Constituição de York, o Manuscrito Régius, o Manuscrito de Cooke, os Estatutos e Regulamentos da Confraria dos Talhadores de Pedra de Estrasburgo, o Regulamento de 1663 ou Leis de Santo Albano, o Manuscrito Hallywell, o Manuscrito de Schaw, o Manuscrito de Kilwinning, constituindo-se documentos que viriam compor a Maçonaria Moderna e que ficaram conhecidos como as “Old Charges”, denominação inglesa das Constituições Antigas. 

As Old Charges ou Antigas Obrigações ou Antigos Deveres são escritos que se referem às Lojas e aos Regulamentos Gerais. 

Tais manuscritos ilustram os deveres, os segredos, os usos e os costumes dos Maçons Operativos e constituem-se como base da jurisprudência para a Maçonaria Moderna.

Credita-se o surgimento das Old Charges ao século XIV, à Inglaterra, porém é da Escócia que provêm as publicações dos primeiros documentos, a partir de 1600. 

O número dos manuscritos, conhecidos e reconhecidos como autênticos, ultrapassa os 130.

A importância histórica das Old Charges reside no facto de terem sido fundamentais para o florescimento de uma Maçonaria organizada, principalmente em Inglaterra. 

Tal evento histórico ocorreu antes da fundação de um Sistema Obediencial e concorreu de modo marcante para a estruturação da Maçonaria Especulativa.

Alguns estudiosos apontam a Carta de Bolonha como o documento mais antigo de entre as Old Charges, entretanto, a esmagadora maioria dos pesquisadores afirma ser o Manuscrito Régius, também conhecido como Manuscrito Halliwell, grafado em inglês arcaico, com letras góticas sobre pele de carneiro, verdadeiramente o mais antigo. 

O Halliwell compõe-se de 64 páginas, com 794 versos. 

A sua produção data da década de 1390, e teria sido cópia de um documento anterior. 

O autor é desconhecido, mas o seu local de origem é Worcester/Inglaterra, fundada em 407 DC, segundo o historiador maçónico Wilhem Begemann. 

Durante muito tempo o Manuscrito Régius foi considerado um poema sobre obrigações morais. 

Em 1840, todavia, estudos realizados por James Orchard Halliwell Phillips – antiquário inglês não maçom – comprovaram tratar-se verdadeiramente de um documento relativo à Maçonaria Operativa.

O trajeto percorrido pelo manuscrito, até ser descoberto como documento maçónico, é um tanto incerto. 

Especula-se que ele teria sido propriedade de vários antiquários e colecionadores. 

Adquirido pelo Rei Carlos II, integrou o acervo da Biblioteca Real. 

Em 1757, foi doado pelo Rei George II ao Museu Britânico e hoje encontra-se na Biblioteca Britânica, fazendo parte da Colecção Real de Manuscritos – Royal Manuscript Collection.

O estudo das Antigas Obrigações propicia ao Maçon o conhecimento das suas origens e uma melhor visão de conjunto da instituição, revelando o que até então parecia obscuro sobre questões relacionadas com a Ordem Maçónica. 

Os Antigos Deveres compreendem a regulamentação da conduta moral dos maçons; os juramentos e compromissos; o amparo para casos de doença ou desemprego; os recursos à instância superior; a dedicação exigida para a obra a ser edificada; as bases do Conselho de Família; a transformação das Lojas em grupos familiares maçónicos como instrumento racional de solução de problemas. 

As Old Charges também tratam da implantação de uma saudável organização familiar como elemento básico para a aquisição de um bom e futuro obreiro; da prática do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade; do socorro aos maçons nos seus problemas, inclusive com a Justiça; da polémica questão sobre o “Livro da Lei”, não aceite naquela época como um “Livro Sagrado”, mas tão somente como o “Livro da Corporação”, ou seja, o Regimento da Oficina. 

Tais documentos antigos expressam grande religiosidade. 

Temia-se naquele tempo o inferno e é por essa razão que a Maçonaria teve vários padroeiros, como Severo, Severiano, Carpóforo, Vitorino (os Quatro Coroados), São Thomaz, São Luís, São Braz, Santa Bárbara e São João, que permanece em alguns Ritos Maçónicos até os dias de hoje. 

É importante salientar que ainda não havia citações sobre as Antigas Civilizações, como a egípcia e a grega. 

Essa influência mística só viria a incorporar-se na Maçonaria, no Renascimento.

No decorrer do tempo, a arquite
tura sofreu transformações e as corporações de ofício perderam o monopólio do poder sobre artistas e construtores. 

No século XVII, quando os segredos da arte de construir grandes obras chegaram ao domínio público, ocorreu a desestruturação da Maçonaria Operativa. 

O seu declínio, contudo, teve início no final do século XIII, quando a procura por construção de catedrais e outras obras de porte teve um arrefecimento considerável.


COISAS SIMPLES - Newton Agrella


Não precisa ser culto, esperto ou inteligente..

Basta olhar pros lados e ver que estamos cercados de gente.

Gente de todo tipo, cor e credo.

Gente que enxerga as coisas com os olhos d'alma e outras com um fosco olho de vidro.

Há gente de toda espécie.

Os que gostam de achar, e os que acham que gostam.

Há os que fazem ares de sabedoria, mas lá no fundo não entendem nada.

Encontramos os que ficam quietos e preferem ser testemunhas do silêncio.

Em contrapartida, há os que fazem muito barulho, porém não comparecem.

Sim, há de tudo um pouco e um pouco de tudo no universo humano.

Se de algum modo uns  preferem descascar a laranja da direita pra esquerda, outros entendem que se descascá-la no sentido contrário, seu sabor será mais intenso.

Fato é, que ninguém agrada a todos o tempo todo.

E ainda bem.  Senão  a vida não faria o menor sentido.

O valor da nossa existência é produto de nossas experiências.


Todos temos um raio de alcance e as nossas frontreiras.


Nossa capacidade de compreensão é variável  e se ancora no interior de cada um.


Não se mede o que se expressa pelo número de palavras, mas pelo conteúdo que a mensagem encerra.



abril 24, 2025

ARLS XI DE AGOSTO - Itanhaém

 



    Na noite de ontem visitei novamente a ARLS XI de Agosto de Itanhaém, do Rito de Emulação, uma Loja que aprecio muito porque é fortemente dedicada aos estudos.
    O jovem Venerável Mestre, Anderson Moreira de Matos me honrou com o convite para exercer o cargo de capelão. Foram apresentados três ótimos trabalhos no grau de companheiro, que mostraram o alto nível cultural dos irmãos do quadro, com comentários enriquecedores dos demais irmãos. 
    Esta Loja costuma presentear os irmãos aprendizes com meus livros, o que me enche de orgulho.
    Apesar o rigor ritualístico a sessão transcorreu com leveza e bom humor, e mesmo tendo terminado quase as 23 horas, ninguém sentiu a passagem do tempo  graças a qualidade das apresentações.
    A noite foi encerrada com um esplendido ágape e a confraternização dos irmãos.

AS ORAÇÕES NA ORDEM DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS - Klaus Dante

 


As Orações na Ordem dos Cavaleiros Templários e seus Impactos.

A Ordem dos Cavaleiros Templários, fundada no início do século XII, foi uma das instituições mais poderosas e enigmáticas da Idade Média. 

Com sua missão de proteger os peregrinos na Terra Santa, suas atividades militares e financeiras e sua forte ligação com a Igreja, os cavaleiros desenvolveram um conjunto de práticas espirituais que refletiam seu duplo compromisso com a fé cristã e a vida de guerreiro. 

As orações, dentro desse contexto, não eram apenas uma expressão de devoção religiosa, mas também uma ferramenta de coesão interna e disciplina moral.

Este texto busca analisar o papel das orações na vida dos cavaleiros, considerando as fontes históricas disponíveis e os impactos que essas práticas tiveram na Ordem e no imaginário medieval.

A Prática de Oração na Ordem Templária

✝️. A Regra e a Espiritualidade

A Ordem dos Cavaleiros do Templo seguiu uma adaptação da Regra de São Bento, estabelecendo um regime de oração rigoroso para seus membros. 

A Regra templária, escrita por volta de 1129, determinava que os cavaleiros rezassem ao longo do dia, dividindo o tempo entre o combate e a devoção.

 A estrutura das orações e a sua frequência eram estabelecidas para reforçar a vida espiritual dos membros, assegurando que a fé estivesse no centro de suas ações.

✝️. A Oração Litúrgica: Missa e Salmos

A liturgia diária era composta por orações comuns do cristianismo medieval, como a Missa e os Salmos. 

Para os cavaleiros, a oração tinha um caráter comunitário, com celebrações em suas fortificações e templos.

 O uso de salmos, como o Salmo 91 ("Quem habita no abrigo do Altíssimo..."), frequentemente recorria como proteção espiritual, refletindo a constante tensão entre o papel de guerreiros e a necessidade de consagração divina.

A prática das orações no contexto da Regra também estava relacionada ao conceito de "milícia cristã", onde o cavaleiro era visto como defensor da fé. 

A oração não só preparava para a batalha espiritual, mas também reforçava a ideia de que o combate estava sob a bênção divina.

✝️. A Oração do Cavaleiro e o Simbolismo Cristão

Dentre as orações mais associadas à Ordem, a Oração do Cavaleiro reflete uma visão espiritualizada da guerra. 

O cavaleiro rezava por força e coragem, pedindo a Deus para ser uma espada contra o mal.

 O impacto dessa oração era duplo: ao mesmo tempo que promovia um compromisso com a fé, ela consolidava a visão dos membros da Ordem como defensores da cristandade, cujos combates na Terra Santa eram justificados por uma missão divina.

A Ordem dos Cavaleiros não se destacou apenas como uma instituição religiosa, mas também como uma potência política e militar. 

A oração era um instrumento de disciplinamento interno, mas também de propaganda, o comportamento devocional reforçava a identidade do grupo e sua coesão, além de destacar a importância do compromisso com Deus em suas ações militares.

As orações também serviam como um elo entre os membros da Ordem e a Igreja Católica. 

Em um contexto de disputas entre o clero e as ordens militares, a constante reafirmação de fé e devoção ajudava a legitimar a presença na Terra Santa e suas atividades econômicas e financeiras na Europa.

 Além disso, as práticas devocionais vinculavam a guerra a uma causa sagrada, justificando o uso da força com o respaldo divino.

A prática de oração dentro da Ordem também teve um impacto significativo na cultura medieval. 

A figura do cavaleiro devoto, que ora antes de entrar em batalha, tornou-se um arquétipo central no imaginário medieval. 

Ao longo dos séculos, essa imagem foi romantizada, e a ideia do cavaleiro cristão, guiado por uma fé inabalável, serviu de inspiração para outras ordens militares, bem como para a literatura de cavalaria que floresceu na Europa.

A oração e a devoção também tiveram um impacto na percepção popular da Ordem. 

Para a população, as práticas espirituais, especialmente aquelas realizadas em momentos cruciais, como antes das batalhas, reforçavam a ideia de que os cavaleiros eram agentes divinos, enviados para defender a cristandade. 

Essa aura mística ajudou a consolidar a popularidade do grupo, mesmo quando se envolvia em controvérsias, como no processo de dissolução em 1312.

O declínio da Ordem, após a repressão conduzida por Filipe IV de França e o Papa Clemente V, também marcou o fim de muitas de suas práticas internas, incluindo as orações regulares.

 Contudo, o legado espiritual da instituição permaneceu, e as orações associadas a seus membros passaram a ser vistas como parte de uma tradição perdida, perpetuada por escritos posteriores, especialmente durante o Renascimento e o Iluminismo, quando o misticismo templário foi resgatado por algumas correntes esotéricas.

Por meio de práticas litúrgicas regulares, as orações não apenas consolidavam o vínculo entre os cavaleiros e a Igreja, mas também serviam como uma ferramenta de coesão interna e de justificativa espiritual para suas ações. 

O impacto dessas práticas pode ser observado na perpetuação de sua imagem como defensores da fé e na inspiração que exerceram sobre a cultura medieval e moderna.

Embora a instituição tenha sido desmantelada no início do século XIV, o simbolismo de suas orações e devoção continua vivo, refletindo a importância da espiritualidade na vida de uma das ordens mais fascinantes da história medieval.



abril 23, 2025

AO REMÉDIO URGENTE - Adilson Zotovici

 










Ao remédio agora, urgente !

Os sinais estão denotados

O assédio é evidente

De dentro e fora arraigados


A Sublime Ordem doente

Os tesouros são profanados

A garimpagem incoerente

Com desdouros recomendados


Vê-se brotar a má semente

Novas plantas, por todos lados,

De aprendiz a presidente 

Que condiz  aos  mancomunados


Atônito, o artesão prudente,

Com ferramentais preparados

Tenta em vão, mas renitente

Aparar maus rebos notados


Comum na Ordem, frequente

Políticas de aficionados

Que em militância fremente

Em constância em indicados


O “quem indicou” é patente

Vez que os apadrinhados

Que a alguém conveniente

No vaivém não são barrados


Por  grande apuro, recorrente

Livres pedreiros...iniciados,

_Antídotos_ ao “ovo da serpente”!

A um bom futuro agraciados


Herdados de antigamente

Apliquemos os _estudos Sagrados_

Pela Arte Real conducente

Com o fanal do bem, _coroados_ !


Adilson Zotovici

AMVBL

PORTA DA VIDA - Newton Agrella



Vez ou outra somos instados a bater à porta de nossa própria vida.

Entrar com cuidado, tomar um longo fôlego e no silêncio do nosso íntimo começarmos a nos questionar.

Fazemos uma espécie de inventário e então avaliamos aquilo que realmente deve ser mantido e tudo aquilo que não serve pra nada, mas que involuntariamente, deixamos acumular.

É o momento de se fazer uma profilaxia.

Hora de remover todos os dejetos, oxigenar a mente, eliminar pensamentos negativos e se renovar.

Antes de fechá-la, após o término da faxina, cumpre-nos ainda, deixá-la aberta por mais um breve período para que o ambiente se restaure e torne-se anfitrião de novas idéias.

Rever conceitos, reinventar-se humanamente, aquiescer as diferenças e combater preconceitos arraigados, certamente podem contribuir nesse processo.

Lembrando que a vida não é feita pra ser guardada a sete chaves, mas para ser vivida com a parcimônia da sabedoria, do equilíbrio, e do discernimento.

Porém, que uma fresta sempre se mantenha aberta, afinal sem ela, não há como compartilhar para percorrer o caminho rumo a mútua evolução.



abril 22, 2025

LIVRE E DE BONS COSTUMES - Derildo Costa



Ao longo de minha vida estudantil, alguns conceitos intrigaram-me. 

Um deles foi no estudo de sistemas onde um dos conceitos fundamentais diz que “todo sistema é subsistema de outro sistema”. 

Também em filosofia já tinha estudado que todo o todo é parte de um todo. 

Estes conceitos só ganharam entendimento pleno quando alcancei o pleno entendimento de infinitude.

Ainda para ancorar este introito, busco na lembrança um conselho amplamente repetido por minha mãe que com a simplicidade de analfabeta mas com a inteligência de filósofo, me dizia

... "Meu filho, liberdade é uma coisa que quanto menos você usa mais você ganha e quando mais você usa mais perda daquela que lhe tinham dado"...

Agora, maduro, alço estes conceitos (que na essência é um único) para outras áreas do saber, mormente no âmbito do social, assim entendido a pessoa humana envolvida com outras pessoas, não como opção, mas como condição necessária à sua sobrevivência e à perpetuação da espécie.

O homem nasce tão livre quanto nu. Mas a sua liberdade vai sendo “moldada” pelos usos, pelos costumes, pelo ordenamento jurídico. 

Assim, aquele direito natural vai-se transformando em direito permitido ou até mesmo direito concedido. 

E porquê esta metamorfose no direito inerente ao ser humano? 

Não há dúvida que isto decorre do uso que da liberdade se faz.

Liberdade é elemento da essência humana, tanto assim que é o tema preponderante no estudo e desenvolvimento da filosofia tendo sido o tema central de alguns dos filósofos. 

Embora Sócrates e Platão e outros tantos tenham dedicado boa atenção aos conceitos de liberdade e tenham deixado as suas marcas na luta pela preservação do direito a ela, Aristóteles talvez tenha sido o que mais se dedicou a essa luta.

Convivendo numa sociedade onde a escravidão era normal e base do desenvolvimento económico, e mais ainda, numa sociedade onde o devedor se entregava ao credor como escravo para quitação da dívida, voltou-se contra tais práticas por tê-las como violação à essência humana.

Como a grande maioria dos demais filósofos, Aristóteles entendia que a harmonia e a paz dependiam o pleno exercício da liberdade. 

Para ele o homem é um animal privilegiado porque sabe quando está a praticar o bem e quando está a praticar o mal e tem o livre arbítrio de exercer acção no sentido da sua vontade. 

Como entendia ele que o primordial objetivo do homem é ser feliz e que a harmonia e a paz são caminhos seguros para a felicidade, o homem livre tende a ser bom não no sentido de agradar aos outros mas, principalmente, no sentido de conquistar a sua felicidade.

O conceito de Aristóteles é o fundamento básico para o Direito Natural que, por sua vez, é a base do direito positivo. 

Ora, se tudo isto é verdade, então porque a existência de um enorme e complexo conjunto de leis, normas, princípios a reger a nossa conduta. 

Haverá esta liberdade onde se transita num labirinto determinado pelo ordenamento jurídico? 

Até que ponto podemos dizer-nos livres se estamos sempre subordinados a um poder coercitivo?

A ideia de valores tão distinta entre as pessoas e as não menos distintas reacções diante das decepções é-nos mostrada no livro de Génesis na parábola dos irmãos filhos de Adão. 

Quando Abel fez a sua oferta estabeleceu um juízo segundo o qual o acto de dar, para produzir o real efeito do bem, há de ser o de se dar o melhor, diferente do conceito de Caim para quem, em dando algo útil para o receptor, a sua ação teria de estar coroada de êxito vez que a sua doação seria de bom proveito para quem a recebeu. 

Como na avaliação divina o conceito mais adequado do ato de dar era o de Abel, Caim buscou, de maneira torpe, eliminar a hipótese de comparação eliminando o seu concorrente.

É da natureza humana estabelecer conceitos de valores que invadem o espaço do outro impondo-se a necessidade de o outro criar mecanismos de proteção àquilo que entende como seu mas que o outro insiste em querer ter como seu ou, pelo menos, uma copropriedade. 

Os mecanismos de controle nada mais são do que a declaração de desconfiança do outro.

Para Aristóteles, a invasão do espaço alheio é perfeitamente perceptível e é o livre arbítrio de encaminha para frear ou avançar. 

O respeito espontâneo a esse limite veio a ser chamado de Ética.

O exercício da ética não é pois algo que precise ser imposto ou normatizado nos tantos códigos de ética que por aí existem. 

A permanente avaliação do limite da nossa liberdade é que inspira confiança das outras pessoas em nós e quanto mais as pessoas confiam em nós mais se despojam dos elementos de controles que usavam para se proteger das nossas eventuais invasões. 

Despojar-se de mecanismos de segurança e de controle com base na confiança nos nossos a
tos é o maior respeito à nossa liberdade.

Não é uma concessão, é respeito. 

Respeito adquirido pelo exercício da nossa liberdade.

Como pessoa, somos livres para, dentro dos meandros estabelecidos pelo sistema em que nos inserimos, tomar o sentido que desejamos dentro deste labirinto. 

E mais, os nossos atos, quaisquer que sejam, acabam por ensejar algumas pessoas a copiá-los com vistas a obterem resultados semelhantes aos por nós alcançados, o que repetido sucessivamente denomina-se costume. 

O bom costume torna-se lei. 

A lei submete-nos. 

Somos assim, subsistema desse sistema. 

Somos um todo parte desse todo.

Ser livre é, pois, exercer a plenitude da sua vontade desde que a sua vontade seja voltada para o bem de todos que reflexivamente volta para o seu próprio bem. 

Buscar o bem de todos é um bom costume.


abril 21, 2025

BRASÍLIA 65 ANOS - Michael Winetzki



Brasília era uma cidade adolescente, de apenas 16 aninhos, quando estive aqui pela primeira vez. Eu fiquei deslumbrado pela audácia da arquitetura e aterrorizado pela amplitude dos espaços, acostumado que estava aos altos e baixos de Petrópolis, onde eu havia estudado e de Santa Tereza no Rio onde residia, cujos horizontes terminavam sempre na próxima fralda de morro.


Mudei-me depois para Campo Grande e no Mato Grosso do Sul o horizonte também se estendia ao infinito e acabei me acostumando com esses amplos espaços.


Voltei a Brasília algumas vezes a trabalho, muito rapidamente, e a cada retorno  ela, sorrateiramente, se infiltrava em meu coração. Os espaços verdes e organizados, a extraordinária beleza de seus edifícios, a placidez do Lago Paranoá, o indescritível azul do céu, o multicolorido pôr-do-sol, o alto astral da cidade iam me cativando pouco a pouco.


Quando fui nomeado diretor do SIPRI de MS (orgão do MRE de promoção de comércio internacional) acabei por ficar duas vezes por algumas semanas no Instituto Israel Pinheiro, uma das mais lindas propriedades de Brasília (e do Brasil também) e acabei por me apaixonar completamente pela cidade. Prometi a mim mesmo, sentado a beira do lago: - um dia eu virei morar aqui.


Poucos anos depois tive a chance de instalar em Brasília o escritório brasileiro da Card Guard Scientific Survival e o meu recôndito desejo se realizou. Em cerca de vinte e quatro anos em Brasília e no seu entorno, em Valparaíso, desfrutei de tudo que esta maravilhosa cidade tem a oferecer. A cidade parece fria e distante a primeira vista, mas como os amores de romance tem que ser conquistada aos poucos, e a medida que se revelam os seus segredos nosso amor por ela aumenta.


Ela também me presenteou com a minha amada mais amada, a Alice Ribeiro, esposa, companheira, parceira de momentos bons e difíceis, luz de minha vida.


Envelhecemos juntos a cidade e eu. Tenho 10 anos a mais do que Brasilia, e tanto em mim quanto nela aparecem coisas indesejadas. Eu adquiri diabetes e hipertensão e ela um triste desgoverno, violência urbana, buracos nas ruas, saúde pública em crise. Mas apesar das marcas do tempo continua linda, poderosa, cheia de promessas, aguardando apenas um governo que a ame mais do que a seu próprio bolso para coloca-la outra vez em ordem. Tenho confiança que a cidade irá receber o respeito e o cuidado que ela merece.


Esse é o presente que eu lhe desejo nos seus 65 anos. Parabéns Brasília. Eu a amo.

TIRADENTES - Adilson Zotovici


Vê do céu herói louvado

Mesmo face à violência

O teu sonho realizado

Por um grupo de excelência


Muito tempo já passado

Embora com tua ausência

Vivo e forte é o teu legado

De liberdade em essência !


Não fiques acabrunhado

Pois, há ainda imprudência

Mas teu povo é arrojado


És mártir da Inconfidência

Brasileiro eternizado...

Esteio da Independência !



A AUTORIDADE DO MESTRE



A Autoridade do Mestre (Vale para todos os graus da Maçonaria)

Alguns se enganam no sentido do que seja essa Autoridade do Mestre. 

A autoridade, vem do conceito de ser autorizado a dizer e ensinar, seja por alguém ou por algo maior, logo, tem-se autoridade como algo inerente ao que se está autorizado a ensinar e isso é percebido por quem escuta, não por autoafirmação, mas pela essência de quem assim o faz.

Então, aqueles que se *auto intitulam* (qualquer que seja o título) passam a dar suas “aulas” e “explicações” vestidos com o paramento *apenas material* do Mestre Infalível, e para tanto usam do teatro (das coisas que desconhece e finge conhecer) e principalmente das finalidades do sistema que pertence, vestindo-se  APENAS com seu *conhecimento Profano* ... É ele, o professor, quem detém todo o Conhecimento, e se reafirma: “Sou eu quem sei!”, “Eu Sou Formado em...”, “Eu sou Iniciado no...”, “Eu... eu...eu...”.

Nas últimas publicações temos aberto os livros e os mestres para mostrar que o pensamento que aqui compartilhamos não é nosso, mas Universal por parte dos Adeptos que *Caridosamente* entregam a Verdade.

Na REAL INICIAÇÃO não há entre eles quem se exalte, apenas quem se diminua.

Vejamos o que nos dizem as Tradições sobre isso?

Rabi Israel Salanter – "Se pensas que já sabes o suficiente, tua jornada terminou; se reconheces que sempre há mais a aprender, tua jornada apenas começou."

Rabi Nachman de Breslov – "O maior perigo do orgulho não é se considerar grande, mas acreditar que já não há mais o que aprender."

Rabi Simcha Bunim de Peshischa – "O mestre deve sempre carregar dois papéis: um que diz ‘O mundo foi criado para mim’ e outro que diz ‘Sou pó e cinza’. Somente assim ele se mantém no equilíbrio da humildade e da responsabilidade."

Moisés Cordovero, "Tomer Devorah" – "O sábio verdadeiro é aquele que se envergonha de sua sabedoria, pois sabe que ela é apenas um reflexo da sabedoria do Alto."

Mishlei (Provérbios) 11:2 – "Vem a soberba, virá também a afronta; mas com os humildes está a sabedoria."

Pirkei Avot 4:1 – "Quem é sábio? Aquele que aprende de todos."

Zohar I, 99b – "Aquele que deseja a sabedoria deve primeiro se tornar nada, pois somente o vaso vazio pode ser preenchido pela Luz."

Livro do Bahir 10 – "Aquele que deseja encontrar a Luz deve primeiro reconhecer a escuridão dentro de si."

Tanya, Capítulo 30 – "O verdadeiro caminho do justo é considerar-se menor que todos, pois somente assim ele pode sempre crescer em retidão."

Bahya Ibn Paquda, "Deveres do Coração" – "O arrogante se julga um rei, mas está preso ao próprio ego; o humilde se vê como um servo, e por isso é verdadeiramente livre."

Bahya Ibn Paquda, "Deveres do Coração" – "O orgulho endurece o coração e o fecha para a verdade, mas a humildade o torna flexível e apto a receber a luz do entendimento."

Corpus Hermeticum, Livro I – "A ignorância é o maior dos males, mas aquele que busca com humildade será guiado pela Luz do Nous."

Hermes Trismegisto – "Aquele que se reconhece pequeno perante o Todo, esse está próximo da verdade. Mas aquele que acredita dominar o Todo, esse se perdeu no labirinto da própria mente."

Asclépio 6 – "O mestre verdadeiro não se exalta, pois ele sabe que é apenas um canal para a Verdade."

Rumi (Sufismo) – "Seja como o solo, para que as sementes da sabedoria cresçam em você."

Lao-Tsé (Tao Te Ching, Capítulo 22) – "Aquele que se curva será endireitado. Aquele que se esvazia será preenchido."

Eliphas Lévi – "Aquele que se proclama iniciado, mas não possui a humildade de um discípulo, nunca passou pelo verdadeiro portal do conhecimento."

Papus (Gérard Encausse) – "O orgulho é o véu que cobre os olhos dos ignorantes. O humilde, ao contrário, pode levantar esse véu e ver a luz."

Franz Bardon – "Aquele que deseja dominar as forças ocultas deve primeiro dominar a si mesmo, e isso começa na humildade."

Rudolf Steiner – "Aquele que busca a iniciação deve, antes de tudo, desenvolver em si mesmo um coração puro e uma mente aberta."

G.I. Gurdjieff – "O homem que acredita já ter encontrado a verdade está mais longe dela do que aquele que ainda busca."

H.P. Blavatsky – "O maior inimigo do discípulo é o orgulho espiritual, pois ele o faz acreditar que já transcendeu a ignorância."

Ramana Maharshi – "O verdadeiro conhecimento não pertence ao ego. Ele é um estado de ser, acessível apenas ao que se entrega."

Sri Aurobindo – "Quanto mais alto um homem se eleva no espírito, mais pequeno ele se vê perante o Infinito."

Julius Evola – "O primeiro degrau da iniciação é a renúncia ao 'eu sei'. O segundo é a aceitação do silêncio. O terceiro é tornar-se um servo do Alto."

Hermes Trismegisto, "Tábua de Esmeralda" – "Se és grande, sê pequeno; se és forte, sê fraco; se és sábio, sê tolo, pois apenas assim poderás conhecer os mistérios."

Krishnamurti – "A humildade é o começo da sabedoria. O fim da sabedoria é perceber que nada se pode possuir."

Ísis Sem Véu (Blavatsky) – "O orgulho espiritual é o último grande obstáculo antes da iluminação."

Dessa maneira, a única autoridade legítima é aquela que se revela pelo conteúdo que transmite e não pelo tom que se emprega, e qualquer ensinamento deve ser respaldado pela origem do conhecimento, mostrando de onde ele provém.

Autor não identificado

abril 20, 2025

PÁSCOA E A MAÇONARIA - Erivelto Souza


 







Não vejo uma correlação direta, histórica ou doutrinária clássica entre a Páscoa e a Maçonaria, como há com temas como o Templo de Salomão, a lenda do 3º grau, ou os ofícios de pedreiros medievais. 

No entanto, algumas associações simbólicas ou analogias podem ser feitas, desde que se tratam de interpretações subjetivas, contextuais ou simbólicas, e não de vínculos históricos efetivos ou doutrinários autênticos.

Contudo, dito isso, a celebração da Páscoa, em suas origens, marca a passagem de um estado de servidão para um estado de liberdade. Seja na tradição hebraica, como a libertação do povo do Egito, ou na tradição cristã, como a superação da morte pela ressurreição, o sentido fundamental é o de transição: uma travessia que transforma. 

É justamente nessa ideia de passagem que temos, com o devido cuidado simbólico, uma reflexão relevante também dentro do campo maçônico.

Na jornada iniciática, o indivíduo é constantemente convidado a atravessar seus próprios desertos interiores, abandonando os grilhões da ignorância e das paixões desordenadas, para conquistar um estado de maior compreensão, moralidade e domínio de si mesmo. Essa trajetória não é diferente, em essência, daquela que celebram os povos ao relembrar a Páscoa - "a libertação que vem por meio do esforço, da consciência e da coragem diante das adversidades".

A ressurreição, por sua vez, enquanto símbolo, representa o triunfo da luz sobre as trevas. Não se trata, entendo eu, nesse contexto, de uma ressurreição literal, mas de uma renovação do ser, uma elevação espiritual pela superação das limitações que nos aprisionam. 

Na vida de qualquer homem comprometido com a construção de seu templo interior, há momentos em que é preciso morrer simbolicamente para renascer com mais clareza, mais propósito e mais retidão, daí o próprio V:.I:.T:.R:.I:.O:.L:.

A Páscoa também coincide com os ciclos da natureza, particularmente no hemisfério norte, onde marca o início da primavera. Após o rigor do inverno, a terra floresce, os frutos retornam, e a vida renova-se (principal motivo do zodíaco nas colunas - as estações). 

Essa imagem natural dialoga com o espírito da construção iniciática. Mesmo o mais frio período de estagnação pode ser sucedido por uma fase de crescimento e luz, desde que o trabalhador da pedra esteja disposto a continuar sua jornada com firmeza e vigilância.

É nesse sentido, acredito, que podemos (e devemos) refletir sobre a Páscoa como uma metáfora da caminhada maçônica. Cada etapa vencida é uma travessia; cada renovação de propósitos, uma ressurreição; cada superação, um novo florescimento. 

Não há, então, uma relação direta entre a instituição maçônica e as festividades religiosas da Páscoa. Contudo, na linguagem dos símbolos - que transcende credos e épocas - é possível enxergar pontes filosóficas que enriquecem a compreensão da própria vida.

Assim, mais do que tentar forçar conexões históricas inexistentes, cabe ao maçom saber buscar o que é comum no que é essencial: o desejo legítimo de evolução, a coragem para mudar, e a esperança que se renova toda vez que, mesmo em meio à escuridão, escolhemos caminhar em direção à luz!



FELIZ PASCOA - Adilson Zotovici


Sigamos a nossa viagem

Indo em busca da perfeição

Por toda senda e paragem

Fé, Esperança na direção


Entender essa  abordagem

Com o universo em  oração

Quiçá de DEUS uma mensagem

A todos povos, não só ao Cristão


Resignação e coragem

Qual do Calvário à Ressurreição

De CRISTO a nós... aprendizagem


Em cada crença uma razão

Páscoa... elevação, PASSAGEM

Fecundidade, RENOVAÇÃO !