maio 06, 2025

O UNIVERSO GEOCENTRICO - Jorge Antônio Vieira Gonçalves





O Universo Geocêntrico, entre Epiciclos, Deferentes e o Enigma do Movimento Retrógrado


Boa parte da história, com mais de dois mil anos, consiste em sucessivas tentativas de entender os movimentos peculiares dos planetas. Os gregos chamaram esses astros de estrelas errantes, ou planetas, e lhes atribuíram nomes de seus deuses, Hermes, Afrodite, Ares, Zeus e Cronos. Mas você os conhece pelos nomes que os romanos rebatizariam, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

Durante muito tempo, acreditou-se que o Universo fosse pequeno, limitado por esferas cristalinas, com a Terra parada no centro. Esse modelo, conhecido e amplamente utilizado, é o chamado sistema geocêntrico. A concepção de um cosmos centrado na Terra parecia tão natural, tão coerente com o que os olhos viam e com a ideia de um mundo feito sob medida para a humanidade.

Mas vamos entender esse modelo em detalhes. Nem todo professor tem paciência, de explicá-lo com clareza. Então, vamos voltar aos tempos de infância e relembrar os parques de diversão, com rodas gigantes e algodão doce, para explicar alguns conceitos que levamos mais de dois mil anos para serem compreendidos plenamente.

Imagine, com o mesmo fascínio de outrora, uma imensa roda gigante, mas não daquelas comuns que conhecemos nos parques, em que as cadeiras apenas oscilam levemente acompanhando o movimento da estrutura. No nosso modelo imaginário, cada assento foi projetado para girar completamente em torno de seu próprio eixo, de tal maneira que a cabeça do ocupante descreva um círculo completo de trezentos e sessenta graus.

Anote, esse primeiro movimento circular menor, descrito pela cabeça do passageiro, corresponde ao que os astrônomos antigos denominaram *epiciclo*, enquanto o giro completo da roda gigante representa o *deferente*, ou seja, o círculo principal sobre o qual o epiciclo se move.

Respire, não se canse ainda. Vamos ligar os motores e fazer essa roda gigante imaginária funcionar. A estrutura maior começa a girar, os assentos acompanham com seu próprio movimento rotatório, e a cabeça do passageiro passa a traçar um percurso mais complexo, semelhante a uma espiral suavemente ondulante, como se descrevesse uma dança em dois ritmos diferentes.

À primeira vista, essa analogia pode parecer simples, até óbvia. Contudo, foram necessários milênios para que a humanidade começasse a compreender com maior clareza o comportamento dos planetas, que pareciam desafiar as leis da regularidade celeste. Foi com a sobreposição desses movimentos circulares que *Ptolomeu* conseguiu explicar, ou ao menos representar matematicamente, o chamado *movimento retrógrado*.

Tenho certeza de que, se você buscar agora no titio Google sobre astrologia, encontrará frases como: “Vênus é o planeta do amor e dos relacionamentos, além da estética e do dinheiro, em 2025 teremos Vênus retrógrado.” Acabamos de utilizar a astronomia para explicar um conceito muito utilizado nos horóscopos, mas pouco compreendido.

Deixando a astrologia de lado, o que realmente ocorre é que certos planetas, da perspectiva terrestre, como Vênus, em determinados momentos, parecem inverter sua trajetória por alguns dias antes de retomarem seu curso regular. Esse planeta pode parecer avançar, depois retroceder, e em seguida continuar sua órbita habitual.

Embora hoje saibamos que esse modelo não está correto, é impossível não admirar a sofisticação das mentes brilhantes que, com olhos nus voltados ao céu e pés firmes no chão, buscaram decifrar os enigmas celestes.


*REVISÃO BIBLIOGRÁFICA*

• Rooney, Anne, A História da Astronomia: Dos planetas e estrelas aos pulsares e buracos negros, São Paulo, M. Books do Brasil Editora Ltda., 2018.

• Ridpath, Ian, Eyewitness Companion: Astronomy, São Paulo, Jorge Zahar Editor Ltda., 2007.

maio 05, 2025

DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA ! - Newton Agrella


Dia  5 de maio

DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA !

Eis uma data que invariavelmente passa desapercebida, mas que deveria ser comemorada de forma solene e  respeitosa, pois a Língua é um dos mais legítimos, senão o mais legítimo símbolo de nossa identidade.

"...A pátria não é a raça , não é o meio, não  é o conjunto dos aparelhos econômicos e  políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo !

Olavo Bilac...."

Cabe uma ilustração interessante:

A expressão *"Última flor do Lácio"* é utilizada para se referir  ao nosso idioma.pelo fato da língua portuguesa ser considerada como a última das filhas do Latim.

*Lácio*  advém do Latim:  "Latium" ) uma região histórica da Itália Central na qual a cidade de Roma foi fundada e cresceu até tornar-se capital do Império.

É por essa razão inclusive que há o clube de futebol *LAZIO*, na Itália.

Portanto a derivação linguística desencadeou:

LATIUM  

LATIM

LAZIO

LÁCIO 

A língua portuguesa possui cerca de 370.000 palavras.

Cerca de 280 milhões de pessoas falam o Português, sendo a 5a. língua mais falada no planeta.



*NEWTON AGRELLA*

OS EFEITOS BENÉFICOS DO TRABALHO - Sidnei Godinho





A máxima popular apregoa que o Trabalho Dignifica o Homem.

De onde vem tal conceito e como foi introduzido na sociedade e na Família?

Se concebermos a idéia de que o Jardim do Éden foi o primeiro arquétipo social existente, havemos de recordar que DEUS proveu Adão e Eva de tudo o que precisavam e somente lhes exigiu o Respeito inconteste as suas ordens.

Contudo, dado a ganância existente na natureza e personificada na Cobra, eles cederam aos seus primitivos instintos e “Pecaram” contra o Todo Poderoso, sendo expulsos do Paraíso e recebendo a punição de TRABALHAR para que de seu suor produzissem seu sustento.

É importante observar que quando a sagrada escritura implanta o termo Trabalho ele é tido como obrigatório para prover o alimento, isto é, sem ele o ser humano padece de fome.

Há ainda a análise biopsicossocial do labutar, a qual se dá pela sensação de prazer causada pelo sentimento de poder converter o próprio esforço em recompensa chamada salário.

Este misto de reações químicas que se dão internamente é o resultante de um complexo emaranhado neural que, em dado momento, substitui a Epinefrina por Dopamina e produz o relax muscular, trazendo o torpor do bem estar, após o esforço realizado.

Tal condição física conduz um reflexo psíquico onde a mente passa então a condicionar o Bem estar a uma condição pré-existente de Trabalhar.

É uma interligação sensorial que estimula o cérebro a não apenas determinar a produção hormonal, mas também o faz reter na memória que o link para tal satisfação é a resultante do Trabalho realizado.

Estando a parte física e a psíquica estabelecidas e bem definidas em sua ligação com o Trabalho, resta inseri-lo no contexto social, onde seu papel delimita o progresso coletivo através do empenho individual dos cidadãos.

É o Trabalho que une as pessoas em prol de um bem comum, qual seja, o esforço pessoal para o desenvolvimento grupal, remunerado conforme a capacidade individual.

Neste contexto, células são formadas mediante as classes operárias e se dividem por constantes intelectuais, força bruta, aptidões específicas e etc..

Enfim, é onde se dá a formação de uma sociedade evolutiva, com o substrato das classes produtivas estabelecidos pela razão do trabalho que desenvolvem.

Assim se dá na sacrossanta Ordem Maçônica, onde somente homens Livres e de Bons Costumes, que possuem vínculo empregatício e sustentam suas famílias, podem ser postos como neófitos para serem iniciados nos esotéricos mistérios.

Fecha-se assim o ciclo racional do entendimento do Trabalho com seus efeitos benéficos, qual seja, a instituição divina para integrar o Homem na sociedade e fazê-lo sentir o prazer de produzir por suas próprias mãos e de seu suor sustentar sua família, interagindo com seus pares.

Torna-se então compreensível a máxima dita anteriormente de que, Realmente, O TRABALHO DIGNIFICA O HOMEM.






Sidnei Godinho M.'.M.'.

maio 04, 2025

O MENINO E O.BOMBEIRO - Joab Nascimento



04/05 - Dia internacional do bombeiro.


I

Nesse mundo que vivemos,

Sempre o ódio imperando,

O egoísmo predomina,

Homens vivem se matando,

Sem ao menos refletir,

Ao próximo, quer destruir,

A ninguém tá ajudando.

II

Vou contar uma história,

Verdadeira, emocionante,

De'um menino de 6 anos,

Num estado degradante,

Portador de leucemia,

Todo dia, ele morria,

Lentamente, todo instante.

III

A sua mãe, já devastada,

Sofrendo, com filho amado,

Lembrou-se duma pergunta,

Que lhe fez, ano passado,

O que o filho queria ser,

Ele veio lhe responder,

Tinha tudo planejado.

IV

Eu quero ser um bombeiro,

Falou, sem titubear,

São respostas costumeiras,

Do jovem, ao respostar,

Engenheiro, astronauta, 

Piloto ou internauta,

A criança vive a pensar.

V

Ainda quando criança,

Nós guardamos muitos sonhos,

Respondemos as perguntas,

Com desejos tão bisonhos,

Com o seu futuro incerto,

A insegurança por perto,

São pensamentos medonhos.

VI

Esse desejo do seu filho,

A sua mãe foi recordando, 

Algo forte em sua mente,

Nesse instante foi criando,

Numa ligação normal,

Para o bombeiro local,

Ela foi logo explicando.

VII

Ao comandante falou:

Eu sou mãe d'uma criança,

Doente de leucemia,

Que'ainda tem esperança,

De servir como bombeiro,

Ajudar o tempo inteiro,

Ao próximo, com segurança.

VIII

Eu só quero lhe pedir, 

Se'é possível autorizar,

Deixar ele entrar no carro,

Do bombeiro, e passear,

Contornando o quarteirão,

Para a sua satisfação, 

E seu sonho realizar.

IX

O comandante escutou,

Aquele singelo pedido, 

Nós podemos fazer mais,

Respondeu, bem comovido,

Sexta-feira, traga ele,

Que nós vamos cuidar dele,

Por mim, será promovido.

X

Na manhã da sexta-feira,

No quartel, ele chegou,

Farda, bota e capacete,

Um soldado lhe entregou,

Muito ligeiro vestiu,

Num instante ele sorriu,

Bem feliz ele ficou.

XI

Almoçou no refeitório,

Com seus amigos bombeiros,

Todos soldados do fogo,

Eram os seus companheiros,

Atendeu 3 ocorrências,

Trabalhos de excelências,

Desses heróis brasileiros.

XII

Andou no carro da pipa,

No carro do comandante,

Foi junto com paramédico,

Ele trabalhou bastante,

Nesse dia a felicidade,

Deu sobrevida, verdade,

Foi um dia muito importante.

XIII

Até que um certo dia,

Os médicos comunicaram,

Seus sinais vitais já fracos,

Preocupados já ficaram,

Toda família reunida,

Pronta para despedida,

E de mãos dadas rezaram.

XIV

Até que sua mãe lembrou,

De ligar para o bombeiro,

Se alguém poderia ir,

Visitar o filho guerreiro,

O comandante atendeu,

Em resposta, prometeu:

Chegaremos bem ligeiro.

XV

Nós podemos fazer mais,

Só deixe a janela aberta,

Comunique ao hospital,

Que a nossa visita é certa,

Não se trata de ocorrência,

Vamos prestar continência,

Ao nosso soldado em alerta.

XVI

Com as sirenes ligadas,

Vários carros lá chegaram,

Por uma escada magirus,

16 bombeiros entraram,

Lhe prestaram continência,

E com toda reverência,

Lhe saudaram e abraçaram.

XVII

O menino maravilhado,

Ao comandante indagou:

Eu sou mesmo um bombeiro?

O comandante respostou:

Sim! Tu és um dos melhores,

De todos, um dos maiores,

Por isso que aqui estou.

XVIII

O menino deu um sorriso,

Fechou os olhos e dormiu,

Para os braços do criador,

Pra vida eterna, partiu,

Seu espírito conformado,

Com o sonho realizado,

Ser bombeiro, conseguiu!

XIX

E agora eu me pergunto, 

Pergunto a você também,

Você agora está disposto,

Fazer mais prum outro alguém,

Além do que lhe é pedido,

Que outro seja atendido,

Os anjos dizem, amém!

XX

Nós não vivemos sozinhos,

Temos alguém ao redor,

Todos precisam do outro,

Sempre dê o seu melhor,

No trabalho, vizinhança,

Aos outros, faça bonança,

Nunca deseje o pior.

XXI

Volta e meia, nós estamos,

Por alguém, solicitados,

Os amigos ou estranhos,

Que estejam necessitados,

Você está sempre disposto,

Pra amenizar o desgosto,

Dos irmãos aperreados?

XXII

Fazer mais, do que é pedido,

Praticando a caridade,

É de um valor imenso,

Pra qualquer sociedade,

A pior morte sentida,

É o que morre em nós em vida,

Sem a prática da bondade.

XXIII

Pior que querer fazer,

É poder e não querer,

Vamos fazer mais um pouco,

Quem faz mais, tende a crescer,

Vamos pensar no porvir,

Quem não serve pra servir,

Já não serve para viver.



ENSINAMENTOS JUDAICO CRISTÃOS NA MACONARIA

Por ocasião da reunião festiva de comemoração do 4o ano da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras, o confrade Denizart Silveira de Oliveira Filho proferiu extraordinária palestra sobre o tema "Ensinamentos JUDAICO CRISTÃOS na maçonaria. A palestra começa aos 20 minutos.



 

ESPERANÇA e PROPRIEDADE - Adilson Zotovici


Assim caminha a humanidade

No incabível modernismo

O irredutível egocentrismo 

O niilismo em verdade 


É reinante o incivismo 

A vida é banalidade 

E fluída obscuridade

É flagrante o ostracismo 


Mas há esperança e propriedade

Na Arte Real sem sofismo

Basta olhar com acuidade 


Vê-se o pulcro racionalismo

Na Sublime fraternidade 

Qual o fulcro do Iluminismo !


maio 03, 2025

SIGNIFICADO DA ESCADA DE JACÓ - Izautonio da Silva Machado Junior


O texto anterior estava truncado. Repostamos o texto completo.



1. INTRODUÇÃO

 A Escada de Jacó é sem dúvida

 um dos temas mais estudados pelos maçons no grau de Aprendiz. Inexistente em alguns ritos, este símbolo é citado nas instruções maçônicas do Craft americano, nos rituais do Craft inglês e escocês e na versão do Rito Escocês Antigo e Aceito adotado pelas Grandes Lojas do Brasil.

 Dada a importância do assunto, diante da gama de textos com variadas formas de abordar a Escada de Jacó e pela observação das concepções correntes entre os maçons, constata-se a necessidade de um estudo que vise aproximar seu significado original.

Este trabalho tem por escopo apresentar o significado da Escada de Jacó, sem a pretensão de esgotar o assunto. Entendemos que a exata compreensão de um símbolo deve partir da sua concepção original, para só então o intérprete, no exercício da liberdade intelectual, se aventurar em exercícios especulativos.

Organizamos este trabalho em tópicos que abordam a origem do símbolo na maçonaria, as instruções maçônicas, a fundamentação bíblica, a filosofia por detrás das Virtudes Teologais, a simbologia da escada, entre outros que visam clarificar o significado.

A Escada de Jacó é um símbolo de profundas lições. Que as próximas linhas sirvam de seta para apontar o seu valor e instigar os maçons a subir os seus degraus conscientemente.


2. SURGIMENTO DO SÍMBOLO NA MAÇONARIA


No Manuscrito Dumfries nº 04 (1710), que leva o nome de uma antiga Loja do Condado de Dumfries na Escócia, encontramos na parte “Dever do Aprendiz” duas perguntas e respostas que citam a Escada de Jacó:


P: - Quantos degraus tem a Escada de Jacó?

R: - Três.

P: - Quem são esses três?

R: - O Pai, o Filho e o Espírito Santo


 Esta embrionária citação da Escada de Jacó como símbolo maçônico se releva influenciada pelo cristianismo trinitário, tão comum entre os maçons daquela época e lugar, ao citar a Santíssima Trindade como os três degraus da escada.

 Fazendo uma viagem no tempo, parece não haver mais indícios da existência do símbolo nos antigos catecismos. Nada encontramos a seu respeito na exposição Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard (1730). O símbolo também é ausente na maçonaria continental europeia, e não é mencionado na obra inglesa O Espírito da Maçonaria (1775) de William Hutchinson, que foi um texto importante da época e que descreveu inclusive a cobertura da Loja.

Somente voltamos a encontrar o símbolo da Escada de Jacó no terceiro quarto do século XVIII, em desenhos do simbolismo maçônico. Albert Mackey sugere que ele teria sido introduzido por Thomas Dunckerley, que revisou o ritual e construiu um novo código de palestras para a Grande Loja da Inglaterra, tese que faz sentido na medida em que o símbolo passa a aparecer nos registros escritos logo em seguida. Fato é que a Escada de Jacó pode ser encontrada como parte da simbologia maçônica a partir do ano de 1776. Esta informação é corroborada pelas instruções da Grande Loja de Nova York e por Assis Carvalho

William Preston, na década de 1780 descreve uma escada “consistindo em muitos, mas fortalecido por três etapas principais”. Nas palestras de Thomas Smith Webb do final do século XVIII, constava a apresentação da “escada teológica que Jacó em sua sabedoria viu ascender da terra ao céu”. Anote-se, todavia, que diferentemente do Manuscrito Dumfries nº 04, a simbologia maçônica do final daquele século passa a relacionar os degraus da escada não mais com a Santíssima Trindade, e sim com a Virtudes Teologais da Fé, da Esperança e da Caridade, que também são de natureza cristã, conforme será melhor explicado adiante.

Concluímos que a Escada de Jacó não é daqueles símbolos típicos do período operativo, donde provieram outros símbolos comuns do Ofício, como é o caso das ferramentas de trabalho. Se trata de um símbolo extraído da tradição religiosa cristã, e que foi incorporado à maçonaria com o escopo de servir de plataforma para lições de cunho moral. 


3. A ESCADA DE JACÓ NO CRAFT AMERICANO


A instrução da Escada de Jacó é abordada no Grau de Aprendiz. Na versão da Grande Loja de Nova York, o texto da instrução tem o seguinte conteúdo:

A cobertura de uma Loja é nada menos do que a abóbada com nuvens ou um céu adornado de estrelas, onde todos os bons Maçons esperam finalmente chegar, com a ajuda daquela escada que Jacó viu, em sua visão, estendida da terra até o céu, cujos degraus principais são a Fé, a Esperança e a Caridade. Fé em Deus, Esperança na imortalidade e Caridade para com toda a humanidade. A maior destas Virtudes, chamadas teologais, é a Caridade, pois a Fé pode ser perdida de vista e a Esperança termina na realização. Porém, a Caridade estende-se além do túmulo, através dos reinos ilimitados da eternidade.

 Interessante anotar que outros textos, quando mencionam a Esperança, ao invés de usarem a frase “a esperança termina em realização” como na instrução acima, usam a frase “a esperança termina em frustração”. Este é o caso dos rituais das Grandes Lojas de Nevada, Michigan, Prince Hall da Califórnia e do Monitor de Jeremy Cross (1826). Por outro lado, encontramos outros textos que também usam a palavra “realização” da mesma forma que na Grande Loja de Nova York, conforme constatamos nos rituais das Grandes Lojas de Illinois, Flórida, no Monitor de Charles Moore (1868) e no Manual da Loja de Albert Mackey (1862).

Embora o resultado seja o mesmo - a Esperança pode se esvaecer tanto pela realização como pela frustração - mencionamos essa peculiaridade apenas por curiosidade.


4. A ESCADA DE JACÓ NO TEXTO BÍBLICO


O símbolo da Escada de Jacó foi extraído do Livro de Gênesis da Bíblia:

Jacó partiu de Berseba e rumou para Harã. Chegando a determinado lugar, parou para pernoitar, porquanto o sol já se havia posto no horizonte. Tomando uma das pedras dali, usou-a como travesseiro e deitou-se. E teve um sonho no qual viu uma escada apoiada na terra; seu topo alcançava os céus, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. (...) Então sentiu medo e exclamou: “Quão temível é este lugar! Certamente não é outro, senão bêt El, a casa de Deus; eis que encontrei a porta dos céus!” (Gênesis, 28, 10-12 e 17, Bíblia King James Atualizada)

Em síntese, a visão da escada em um sonho ocorreu durante sua viagem à terra da mesopotâmia, quando em seu trajeto vagando pelo deserto, passou a noite nas proximidades do antigo santuário cananeu de Luz. Para melhor contextualizar esta passagem bíblica, vejamos um pouco da história que a envolve.

Rebeca, a amada esposa de Isaac, sabendo por inspiração Divina que uma bênção especial foi colocada na alma de seu marido, estava desejosa de obtê-la para o seu filho favorito, Jacó, embora sabendo que por direito ela pertencia ao seu primogênito, Esaú. Jacó, que mais tarde obteria a bênção de seu pai de modo fraudulento, foi obrigado a fugir da ira de seu irmão que, num momento de raiva e desapontamento, o ameaçara de morte. E, enquanto se dirigia a Padãaram, na terra da Mesopotâmia, (conforme determinado por seus pais, viu-se obrigado a ir) fatigado, pernoitou no meio do deserto e, deitando-se, tomou a terra com seu leito, uma pedra por travesseiro e a Abóbada Celeste como uma coberta. Então, em uma visão, viu uma Escada cujo topo atingia os Céus e pela qual os Anjos do Senhor subiam e desciam. Foi então que o Todo-Poderoso fez um solene trato com Jacó, de que se ele observasse as Suas leis e guardasse os Seus mandamentos, Ele não só o levaria de volta à casa de seu pai, em paz e prosperidade, como faria de sua descendência um povo grande e poderoso. Isso foi amplamente cumprido, pois, após um lapso de vinte anos, e Jacó retornou à sua terra de origem, foi gentilmente recebido pelo seu irmão Esaú. O seu filho José tornou-se posteriormente, por ordem do Faraó, o segundo homem do Egito. Os filhos de Israel, altamente favorecidos pelo Senhor, constituíram-se ao longo do tempo em uma das maiores e mais poderosas Nações da face da terra. (MENDES, 2011, p. 199)

De nota que, embora o símbolo da Escada de Jacó na Maçonaria faça uma relação entre os degraus e as Virtudes Teologais da Fé, da Esperança e da Caridade, esta associação simplesmente não existe na Bíblia. Na verdade, as Virtudes Teologais provêm de outra passagem: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, e a caridade, estas três; mas a maior destas é a caridade” (1 Coríntios 13:13, Bíblia Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida).

A conexão entre um texto do Antigo Testamento - Livro de Gênesis - com um texto do Novo Testamento - Coríntios - nos leva à conclusão de que a simbologia adotada na maçonaria é de natureza cristã.


5. O SIGNIFICADO DA PALAVRA CARIDADE


A Fé, a Esperança e a Caridade têm sido frequentemente referidas como as Virtudes Teologais para distingui-las das antigas Virtudes Cardeais do Cristianismo, que são a Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança. 

Uma questão interessante se refere ao fato de que algumas versões da Bíblia traduzem o vocábulo original como “Caridade”, enquanto outras usam a palavra “Amor”. Isso ocorre porque a língua original dos Coríntios é o grego koiné, onde as três virtudes são escritas como Pistis, Elpis e Agápē. 

Para compreender a razão desta diferença de traduções, é necessário esclarecer que a palavra Amor é polissêmica, e a antiga filosofia grega dava a ela diferentes significados, como Afeição Fraterna (storge), Amizade (philia), Atração Erótica (eros), e Caridade (agápē). É a este último sentido que a Bíblia se refere.

O significado da Caridade no sentido de agápē não se restringe simplesmente a ações de assistência caritativa, como soa parecer o seu uso em nosso idioma. Em essência, agápē significa uma bondade amorosa ilimitada para com toda a humanidade. Ao substituir a palavra Caridade por Amor, algumas traduções bíblicas pretenderam aproximar a palavra adotada de seu sentido original, que se relaciona à teologia do Amor Cristão.

É relevante a compreensão do verdadeiro sentido da palavra Caridade nas instruções maçônicas, pois se trata de algo que está muito além de simplesmente praticar atos de bondade. A prática da Caridade é viver plenamente a experiência do amor; as práticas caritativas são apenas uma consequência disso, e não um objetivo central que se esgota por si mesmo.

Considerando ser esta a acepção da palavra Caridade que se pretendeu adotar nas instruções maçônicas, podemos ler os antigos escritos de William Preston, Thomas Smith Webb e seus contemporâneos sob um novo olhar mais profundo de significados. Vejamos por exemplo o que William Preston falou a respeito:

A caridade é a principal virtude social e a característica distintiva dos Maçons. Esta virtude inclui um grau supremo de amor ao grande Criador e Governante do universo e um afeto ilimitado pelos seres de sua criação, de todos os tipos e de toda denominação. (PRESTON, 2017, p. 43)

Assim é que, ao rever a instrução maçônica, se clarifica o entendimento do que seja “Caridade para com toda a humanidade” e a “Caridade se estende além do túmulo, através dos reinos ilimitados da eternidade”. Por ser algo inerente à alma, o Ser a transporta após a morte, para o além-túmulo qou vida eterna.


6. A ESCADA MESOPOTÂMICA


A exegese bíblica informa que a visão de Jacó remete a uma escadaria no estilo das típicas que ladeavam os zigurates mesopotâmicos, como as da Torre de Babel, que permitiria que muitos anjos a utilizassem simultaneamente. Jacó seria de origem sumeriana e teria vivido na Idade do Bronze. A interpretação de que ele viu uma escadaria de zigurate se funda em sua própria cultura da época, sendo objeto de comentários em bíblias consagradas. Vejamos a seguir um texto que corrobora esta interpretação:

“A escada ou escadaria que Jacó vê em seu sonho é a passagem entre o céu e a terra. A palavra comparável em acadiano é usada na mitologia mesopotâmica para descrever o que o mensageiro dos deuses usa quando quer passar de um reino a outro. É esta escadaria mitológica que os babilônios procuraram representar na arquitetura dos zigurates, que foram construídas para fornecer um caminho para a divindade descer ao templo e à cidade”. (Gênesis 28:13-15, The IVP Bible Background Commentary).

É nítido que o estilo da Escada de Jacó não poderia ser diferente, pois uma escada com apenas duas hastes e degraus não permitiria que anjos subissem e descessem sobre ela ao mesmo tempo. Na época a que faz alusão o texto bíblico, as construções seguiam o estilo acima indicado, de modo que outra não poderia ter sido a visão de Jacó. Vejamos a imagem do Zigurate de Ur, situado no Iraque, construído no séc. XXI a.C. e restaurado no ano 6 a.C.:

O fato de ter se popularizado a imagem de uma escada com duas hastes e degraus pode ser considerada simplesmente a escolha de uma forma bidimensional de desenho para expressar o símbolo, graficamente mais simples e ao mesmo tempo capaz de transmitir a mesma ideia, que é a de ser uma plataforma de subida e descida, um caminho, uma ponte da Terra ao Céu.


7. A SIMBOLOGIA DA ESCADA DE JACÓ


De um modo geral, a imagem de uma escada como símbolo de progresso e ascensão iniciática pode ser considerada universal. Significados simbólicos de uma escada podem ser localizados em religiões antigas, como o Mitraísmo, e em correntes esotéricas, como o Hermetismo e a Cabalá, por exemplo.

Do ponto de vista maçônico, o simbolismo da escada pode ser resumido em uma mensagem simples e ao mesmo tempo poderosa: a ascensão ao Céu por intermédio da aplicação prática da virtude em nossas vidas.

A Escada de Jacó é por vezes citada por autores maçônicos como Escada Mística (MACKEY, 2017, p. 78) ou Escada da Consciência (MACNULTY, 2012, p. 160) e representa o caminho pelo qual os maçons aspiram chegar ao Céu. Ela traduz a ideia de uma ascensão iniciática; de uma viagem de evolução que conduz à Divindade; de uma peregrinação da Terra ao Paraíso, de uma ponte por onde descem as Virtudes.

Sendo a Loja a representação do mundo, a Escada figura como um elemento de ligação com o Céu, representada pela Abóbada de sua Cobertura.

Na instrução maçônica, a escada é composta de vários degraus, sendo os principais a Fé, a Esperança e a Caridade, sem citar os demais. Albert Mackey, no entanto, acrescenta às três Virtudes Teologais as quatro Virtudes Cardeais para chegar a sete degraus e fazer um paralelo com o simbolismo do número Sete em várias culturas da antiguidade:

Em alguns do Antigos Mistérios, os sete degraus representavam os sete planetas, e então o Sol estava no ponto mais elevado; em outros, representava os sete metais, e então, o Ouro estava no ponto mais elevado; nos mistérios Bramínicos, eles representavam os sete mundos que constituíam o universo indiano, e então o mundo da Verdade era o mais elevado. (...) Ora, como caridade é amor e o Sol representa o Amor Divino, e também como o símbolo astronômico do Sol é o ouro, e como a verdade é um sinônimo de Deus, é evidente que o topo de todas essas escadas, seja o Sol, ou o Ouro, ou a Verdade, ou a Caridade, transmite a mesma exata lição de simbolismo, ou seja, que o Maçom, vivendo e trabalhando no mundo como sua Loja, deve elevar-se acima dele, àquela eminência que o transpõe, onde somente lá ele poderá encontrar a DIVINA VERDADE. (MACKEY, 2017, p. 79)

Sem dúvida o número sete possui um amplo respaldo quando se faz uma conexão com as Antigas Tradições. Todavia, a instrução se limitou a citar apenas os três degraus principais. “Se sete virtudes fossem simbolizadas, penso que as quatro adicionais seriam as Virtudes Cardeais, mas apesar de ter examinado um grande número de Painéis antigos, não me recordo de ter visto qualquer uma delas ser simbolizada além das outras três” (CARR, 2012, p. 145).

Nesse ponto, embora a escada não seja oficialmente de sete degraus, o número sete surge em vários painéis de outro modo no topo da escada, seja através da imagem de uma estrela de sete pontas, seja de uma constelação com sete estrelas. Outras vezes encontramos a estrela de sete pontas e ao mesmo tempo as sete estrelas ao redor da lua. Estas sete estrelas simbolizam a princípio o número de maçons necessários para abrir uma loja. No entanto as interpretações astrológicas as identificam como a Constelação de Plêiades, conhecida como As Sete Irmãs, e a partir daí se abre um novo campo de interpretações

Voltando aos degraus, pode haver duas razões pelas quais geralmente as escadas são simbolizadas nas antigas tradições com números ímpares de degraus, sejam três, sete ou qualquer outro (HARWOOD, 2014, p. 129). Para o arquiteto e escritor romano Vitrúvio, a maioria dos antigos Templos possuíam números de degraus ímpares pois era considerado um bom presságio se chegar ao topo pisando com o mesmo pé com o qual se pisou o primeiro degrau. Outra razão estaria fundada no sistema pitagórico, em que os números ímpares eram considerados mais perfeitos do que os números pares, e ascender em uma escada com número ímpar poderia simbolizar o alcance do estado de perfeição almejado pelo maçom.

A razão pela qual a Escada de Jacó se apoia sobre o Livro Sagrado é que este simboliza o Código Moral que os maçons devem seguir. Esta concepção de que o Livro Sagrado é um símbolo denota o caráter universal da maçonaria, que não é uma religião e abraça em seu seio maçons de todas as crenças. No entanto, nos sistemas maçônicos teístas, a compreensão das Sagradas Escrituras assume contornos mais religiosos, para considerar seu conteúdo uma Revelação Divina. Nesses termos, se considera que as Escrituras Sagradas contêm uma substância de ensinamentos nos quais os maçons devem se apoiar para evoluir espiritualmente. O sistema inglês segue esta linha:

Porque pelas doutrinas contidas naquele Livro Sagrado, somos levados a crer nas disposições da Providência Divina; a qual reforça a nossa Fé e nos habilita a subir ao primeiro degrau. Essa Fé, naturalmente cria em nós a Esperança de alcançar as abençoadas promessas nele contidas; esperança que no habilita a subir ao segundo degrau. Mas o terceiro e último, sendo a Caridade, compreende o todo; e o Maçom que possui essa virtude no seu mais amplo sentido, pode com justiça considerar ter alcançado o ápice de sua arte; falando figurativamente, uma mansão etérea, velada aos olhos dos mortais pelo firmamento estrelado, emblematicamente representado em nossas Lojas por s...e es...s, numa alusão a igual número de Maçons regulares; sem os quais nenhuma Loja é perfeita e nenhum candidato pode ser legalmente iniciado na Ordem. (MENDES, 2011, p. 200)

Como todo símbolo, a escada pode comportar várias interpretações, e esta característica faz da simbologia um estudo enriquecedor. Para exemplificar isto, propomos um exercício de interpretação para associar as Virtudes à escada, partindo da premissa de que elas estão em uma sequência, e considerando que cada degrau dela represente um nível. A Fé estaria situada na base da escada, em um nível abaixo, próximo do mundo físico, e serve de força propulsora para se alcançar níveis mais altos de espiritualidade. A Esperança estaria localizada no meio da escada, em um nível intermediário, relacionando-se como o mundo da psiquê, e serve de força propulsora para seguir a jornada em direção ao Céu. A Caridade, estaria situada na parte mais alta da escada, relacionando-se com o mundo espiritual, e representa um estado de consciência mais iluminado que conduz a chegada no topo, onde brilha o reino da Divindade.


8. AS VIRTUDES TEOLOGAIS


Conforme a lição maçônica, a Escada de Jacó possui tantos degraus quantos sejam as virtudes morais, porém os três principais são a Fé, a Esperança e a Caridade, sendo a maior delas a Caridade, “(...) pois a Fé pode ser perdida de vista e a Esperança termina na realização. Porém, a Caridade estende-se além do túmulo, através dos reinos ilimitados da eternidade”. 

Interessante explicação sobre o significado dessa instrução encontramos em textos da Grande Loja de Nova York, da qual elaboramos a seguinte síntese: a Fé é uma forte crença em algo para o qual não há provas, portanto, por natureza, ela requer falta de provas. Se o objeto de Fé for provado, ela deixa de existir por falta de motivo que a sustente. A Esperança é o desejo acompanhado por uma expectativa ou crença de que será realizado, portanto, por natureza, ela requer um desejo não realizado. Se o objeto de esperança for realizado, ela deixa de existir por falta de motivo. A Caridade, ao contrário da Fé e da Esperança, não possui condicionantes que possam causar a sua perda: a capacidade humana para a bondade amorosa é infinita.

Enquanto nos rituais norte-americanos a locução é “Fé em Deus, Esperança na imortalidade e Caridade para com toda a humanidade”, nos rituais ingleses é “Fé no Grande Arquiteto do Universo, Esperança na Salvação e, Caridade para com todos os homens”. É de nota que as instruções em exame são econômicas nos rituais norte-americanos, ao passo que os rituais ingleses apresentam definições para cada uma das virtudes.

As definições das Virtudes da Fé, Esperança e Caridade são trabalhadas em obras teológicas e acadêmicas. Entretanto, nos valemos de textos maçônicos para este fim:


TRECHO DA PRIMEIRA PRELEÇÃO DO GRAU DE APRENDIZ DA EMULATION LODGE OF IMPROVEMENT, DA INGLATERRA:


P. Eu lhe solicito definir a FÉ.


R. É um fundamento da Justiça, um laço da amizade e o principal sustentáculo da sociedade civil. Nós vivemos e caminhamos pela Fé. Por ela temos o contínuo reconhecimento de um Ser Supremo. Pela Fé temos acesso ao trono da graça, somos justificados, aceitos e, finalmente recebidos. Uma Fé verdadeira e sincera é a evidência das coisas que não podemos ver, mas a substância das que almejamos. Assim, bem mantida e respondida em nossa profissão Maçônica, ela nos levará àquelas mansões abençoadas, onde alcançaremos a felicidade eterna com Deus, o Grande Arquiteto do Universo.


P. A ESPERANÇA.


R. É uma âncora da alma, segura e firme, na qual penetra envolta em um véu. Deixemos então que uma firme confiança no Onipotente anime as nossas expectativas e nos ensine a manter os nossos desejos dentro dos limites de Suas abençoadas promessas. Então, seremos coroados de êxito. Se acreditamos que algo seja impossível, a nossa descrença fatalmente levará a isso, mas, aquele que perseverar em causa justas vencerá todas as dificuldades.


P. A CARIDADE.


R. Admirável por si só, é o mais brilhante ornamento com que podemos adornar nossa Arte Maçônica. É o melhor teste e a mais segura prova de sinceridade de nossa religião. É o melhor teste e a mais segura prova de sinceridade de nossa religião. A Benevolência, praticada com a Caridade Celestial, honra a nação que a tem por berço, prática e a preza. Feliz é o homem que tem semeadas em seu peito as sementes da benevolência; ele não inveja o seu vizinho, não crê nas falsidades lançadas contra si, perdoa as injúrias dos homens e se esforça em apagá-las de sua memória. Então Irmão, lembremo-nos que somos Maçons livres e aceitos; sempre prontos a ouvir a quem clama por nossa assistência; e não deixemos de estender a nossa mão liberal àquele que tem necessidade. Que a recompensa dos nossos trabalhos seja a satisfação do fundo do nosso coração, ao que se seguirá o resultado do amor e da Caridade. 

(MENDES, 2011, p. 199)

O ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito das Grandes Lojas Brasileiras também adotam a Escada de Jacó, símbolo não original deste rito, que foi nele enxertado em 1928, por meio do “Ritual de Behring”, onde encontramos a alocução: “Fé no Grande Arquiteto do Universo, Esperança no Aperfeiçoamento Moral e Caridade para com o Gênero Humano”.


9. O TAPETE DO MESTRE E AS TÁBUAS DE DELINEAR


O Craft americano de modo geral não adota Tábuas de Delinear em seus rituais, mas é comum se servir de Tapetes do Mestre, que são conjuntos de plataformas visuais referentes aos graus simbólicos. O Tapete de cada grau possui as imagens simbólicas correspondentes, sendo usado nas lojas como suporte visual para compreensão das instruções maçônicas. 

Por sua vez, o sistema inglês usa Tábuas de Delinear, das quais surgiram muitas variações ao longo do tempo. Nos desenhos mais antigos do século XVIII, encontramos as letras F, H e C nos degraus, significando Faith (Fé), Hope (Esperança) e Charity (Caridade).

No início do século XIX as Tábuas passaram a ter figuras femininas, com a Fé representada por uma mulher segurando a Bíblia, a Esperança por uma mulher segurando uma Âncora e a Caridade por uma mulher com crianças abrigadas em suas saias. 

Na segunda metade do século XIX, as figuras femininas passaram a ser omitidas, passando a Fé a ser simbolizada por uma Cruz ou a Bíblia, a Esperança por uma Âncora e a Caridade por um Cálice com uma mão se estendendo em direção a ele. Estudiosos presumem que o Cálice seja uma referência ao Santo Graal sendo elevado ao Céu pela Mão de Deus.

É ainda possível encontrarmos Tábuas com a imagem de um Coração para representar a Caridade. Outras vezes, vemos anjos na Escada, em alusão ao sonho de Jacó. Também é comum o desenho de uma Chave pendurada na Escada, que nos rituais mais antigos como o Registro da Casa de Edimburgo (1696), simboliza “uma linguagem bem elaborada”, estando a chave guardada em uma “Caixa de Ossos” (isto é, a boca), significando que ela guarda segredos.

Por derradeiro, às vezes as virtudes são relacionadas com os Pilares de sustentação da Loja: Sabedoria, Força e Beleza. Pilar da Sabedoria: é sábio quem tem Fé no Grande Arquiteto do Universo. Pilar da Força: a Esperança é uma Âncora que traduz firmeza e segurança. Pilar da Beleza: a Caridade é um belo ornamento no coração dos homens de sentimentos puros.


10. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Existe uma equivocada concepção de que os degraus da escada de Jacó aludem aos graus maçônicos, o que pelo exposto, não tem fundamento. Quando se diz que após a Iniciação o maçom põe o pé no primeiro degrau da Escada de Jacó, está se fazendo uma alusão às virtudes maçônicas, que são os degraus da escada. 

As lições maçônicas não existem apenas para fins de ginástica mental, são ensinamentos para serem praticados na vida, além do plano puramente abstrato das ideias. A Ordem nos incita a praticar as virtudes, sendo que Caridade possui um belo e profundo significado que se relaciona com o Amor (agápē). 

A Escada de Jacó representa nada menos que um caminho de evolução. O objetivo dos maçons não deveria ser outro que não a busca da Luz. Desde a passagem simbólica das Trevas para a Luz na Iniciação, o maçom inicia uma grande viagem. A Ordem aponta o caminho... ao maçom cabe a busca da iluminação, por seus próprios esforços de transformação pessoal.

Tais concepções não colidem com o fato de que a maçonaria não é uma religião. Simplesmente não é, e suas lições não conflitam com as convicções religiosas de quem quer que seja. Fundadas as premissas de que o maçom deve crer em um Ser Supremo e de que a maçonaria é uma escola de evolução pessoal, o símbolo da Escada de Jacó é perfeitamente aplicável aos estudos da Ordem.

O objetivo deste trabalho foi o de trazer luz ao significado da Escada de Jacó, abordando um pouco de sua história, simbologia e filosofia. Se apenas uma única informação tiver sido útil, consideramos a missão cumprida.


11. REFERÊNCIAS


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BÍBLIA. Português. King James Atualizada. 2ª ed. São Paulo: Abba Press, 2013.

BÍBLIA. Português. Almeida Revista e Corrigida. 1ª ed. São Paulo: King Cross Publicações, 2014.

CAVALCANTE, Sérgio. Livro de Textos maçônicos – Rituais, Procedimentos, Protocolos, etc. João Pessoa: edição do Autor, 2019. 

CAVALCANTE, Sérgio. O Sistema Maçônico Norte-Americano – Grau de Aprendiz. João Pessoa: edição do Autor, 2019. 

CAVALCANTE, Sérgio. Rituais Simbólicos da Maçonaria Prince Hall. João Pessoa: edição do Autor, 2019. 

CARLOS CAMPOS, Francisco; Antonio Fernandes Teixeira. Tratado das origens e códigos da Franco-Maçonaria. São Paulo: editora Yod, 2018.

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CARVALHO, Francisco de Assis. Símbolos maçônicos e suas origens. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 2009.

CROSS, Jeremy Ladd. A verdadeira carta maçônica ou monitor de hieróglifos maçônicos. Tradução de Sérgio Roberto Cavalcante. João Pessoa: edição do tradutor, 2020.

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CRUZ. Almir Sant’Anna. Simbologia Maçônica dos Painéis: Lojas de Aprendiz, Companheiro e Mestre. 3ª edição. São Paulo: A Gazeta Maçônica, 2015.

DYER, Colin F. W. O simbolismo da Maçonaria. Tradução de Sérgio Cernea. São Paulo: Madras, 2010.

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GLOMARON, Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia. Ritual do Rito de York. Porto Velho: edição do Autor, 2015.

GRAND LODGE OF ANTIENT FREE AND ACCEPTED MASONS OF SCOTLAND. The Standard Ritual. Edinburgh: Edição do Autor, 2017.

GRANDE LOJA SYMBÓLICA DO RIO DE JANEIRO. Ritual do Gráo de Aprendiz – Maçon. Rio de Janeiro: Typographia Delta, 1928.

HARWOOD, Jeremy. Maçonaria: desvendando os mistérios milenares da fraternidade: rituais, códigos, sinais e símbolos maçônicos explicados com mais de 200 fotografias e ilustrações. São Paulo: Madras, 2014.

JUK, Pedro. Exegese simbólica para o Aprendiz Maçom. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 2007.

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MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

MENDES, Fábio. Ritual de Emulação. O grau de Aprendiz Maçom. Sorocaba: Edição do Autor, 2011.

MOORE, Charles Whitlock. A nova tábua de traçar maçônica, adaptada para os trabalhos e palestras como praticadas nas lojas, capítulos, conselhos e acampamentos de cavaleiros templários nos Estados Unidos da América. Tradução de Sérgio Roberto Cavalcante. João Pessoa: edição do tradutor, 2020.

MOURA, Luís Felipe. Ordo Ab Chao, o Templo e a Escada de Jacó. Disponível em: http://www.oprumodehiram.com.br/palestra-ordo-ab-chao-o-templo-e-a-escada-de-jaco/. Acesso em 12 de agosto de 2020.

PFEIFFER, Charles F.; Howard F. Vos; John Rea. Dicionário Bíblico Wycliffe. Tradução Degmar Ribas Júnior. 12ª reimpressão. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 

PRESTON, William. Esclarecimentos sobre Maçonaria. Tradução de Hugo Roberto Lima Ramírez. 1ª ed. Rio de Janeiro: Arcanum, 2017.

SUPREMO GRANDE CONSELHO DE MAÇONS DO REAL ARCO DO BRASIL. Ritual de Aprendiz Maçom. Rio de Janeiro: edição do Autor, 2013.

WEBB, Thomas Smith. O Monitor dos Franco-Maçons. Tradução de Edgar da Costa Freitas Neto. 1ª ed. Salvad

or: Curtipiu Publicações, 2017.

DA PREOCUPAÇÃO - Heitor Rodrigues Freire




A preocupação, como sabemos, é uma forma de raciocínio muito comum a todos os seres humanos. Outro dia, me vi numa posição de supor uma situação na qual as possibilidades aventadas eram todas negativas. Aí parei para pensar: Por quê? Será que seria assim mesmo? Ou eu poderia supor de maneira diferente e mudar toda a perspectiva?

Se a preocupação é inevitável, é melhor usar o tempo para supor algo agradável e positivo, mantendo o pé no chão da realidade. Aprendi que a atitude mental pode ser positiva ou negativa. E que a positiva é melhor. Então é melhor supor que tudo de bom pode acontecer.

A preocupação é um conjunto de pensamentos, imagens e emoções de natureza negativa que se instalam na nossa mente de forma repetitiva e incontrolável, e resultam de uma análise de risco feita para evitar ou resolver ameaças potenciais antecipadas e medir suas consequências.

A preocupação está diretamente ligada ao medo, que na maioria das vezes é a suposição de fatores que podem (ou não) vir a acontecer. Assim, quando estamos preocupados, nos sentimos angustiados, agitados, inquietos e assustados, devido a um risco previsível ou iminente, que nem sempre acontece.

Meher Baba (1894-1969), um guru persa, afirmou que a preocupação é causada por desejos e pode ser superada através do desapego:

“A preocupação é o produto da imaginação febril trabalhando sob o estímulo dos desejos (...). É uma resultante necessária do apego ao passado ou ao futuro antecipado, e sempre persiste de uma forma ou de outra, até que a mente esteja completamente separada de tudo.”

Também São Paulo abordou o tema em duas de suas epístolas. Na Carta aos Filipenses, (4,6) escreveu: "Não se inquietem com nada", e na Segunda Carta a Timóteo (1,7), ele  encoraja:

“Pois Deus não nos deu um espírito de medo, mas sim um espírito de força, de amor e de sabedoria.”

De acordo com os estoicos, aprendemos que o melhor indicador da filosofia de um pensador não era o que ele dizia, mas como se comportava: “A filosofia não promete assegurar nada externo ao homem, caso contrário estaria admitindo algo que está além do seu próprio tema. Pois assim como o material do carpinteiro é a madeira, e o da estatuária, o bronze, o tema da arte de viver é a própria vida de cada pessoa.”

Sêneca, (4a.C. – 65), filósofo estoico e um dos mais célebres advogados, oradores, escritores e pensadores do Império Romano, ensinou a separar o que você pode controlar daquilo que você não pode, e recomendou nos concentrarmos apenas nesse primeiro item, naquilo que efetivamente está sob nosso controle, desaconselhando a preocupação.

Albert Ellis (1913-2007), psicólogo americano e criador da terapia racional emotiva comportamental, se inspirou nas ideias terapêuticas dos estoicos: “Não são os acontecimentos que nos perturbam, mas nossos julgamentos sobre os acontecimentos.” 

De tudo isso, podemos concluir que a preocupação é uma ação inconsequente e negativa, e que o melhor a fazer é nos ocuparmos com nossas tarefas, a fim de contribuir positivamente para a melhor perspectiva em nossas vidas, baseada na fé, na esperança e no amor, como São Paulo nos ensinou na Primeira Carta aos Coríntios.


OS ANTIGOS E OS MODERNOS E AS DUAS GRANDES LOJAS RIVAIS - Pedro Juk




Em 23.11.2022 o Respeitável Irmão Georges Bucher Keramidas, Loja Lealdade e Civismo, 888, Rito Moderno, GLESP, Oriente de Santos, Estado de São Paulo, apresenta o que segue:

*Em seu trabalho A ORIGEM DA MAÇONARIA o Ir∴ recomenda "Conhecer a história relacionada aos 'Antigos' de 1751 e os 'Modernos' de 1717 é imprescindível para se avaliar o conhecimento sobre a Sublime Instituição. Tenho dificuldade em entender esses nomes Antigos/Modernos e as datas aparentemente invertidas.*

CONSIDERAÇÕES

A denominação “Antigos e Modernos” faz parte da história da Maçonaria anglo-saxônica e tem a ver com a fundação, a 24 de junho de 1717, por quatro Lojas de Londres e Westminster, da Primeira Grande Loja.

Dentre outros, essa Primeira Grande Loja inauguraria então a Moderna Maçonaria, cuja característica principal fora a de inaugurar o primeiro sistema obediencial no mundo. Por conta da Primeira Grande Loja é que viria aparecer a figura de um Grão-Mestre como dirigente de todas as Lojas. Foi o primeiro Grão-Mestre o Irmão Anthony Sayer, um Companheiro Maçom. Não havia ainda o grau especulativo de Mestre Maçom. Este somente apareceria em 1725, sendo oficializado pela Primeira Grande Loja em 1738.

No entanto, com o nascimento da Primeira Grande Loja, nem todas as Lojas londrinas viam com bons olhos essa novidade. Sobretudo pelo conjugado aparecimento da figura de um Grão-Mestre como dirigente de todas as Lojas.

Entenda-se que esse novo sistema obediencial acabaria atingindo em cheio os costumes tradicionais dos maçons livres nas Lojas livres.

Assim, paulatinamente as rivalidades iam aumentado, fazendo com que os opositores da Primeira Grande Loja, nascida em 1717, acabassem fundando mais tarde outra Grande Loja para fazer oposição à primeira.

Composta principalmente por maçons irlandeses, em 1751 apareceria então outra Grande Loja que se autodenominaria como “dos Antigos”, alegando para tal, ser ela uma conservadora dos “antigos costumes”.

Vale mencionar que entre 1717 e 1751 apareceriam também na Grã-Bretanha outras duas Grandes Lojas, a da Irlanda e da Escócia. Do mesmo modo, ambas também não eram muito simpáticas aos ditos “modernismos” da Primeira Grande Loja.

Na realidade, a Primeira Grande Loja surgiu em meio a uma enxurrada de revelações (exposures) que eram textos reveladores dos costumes maçônicos e eram constantemente publicados nos jornais londrinos da época.

Essas exposures, que tinham o desiderato de revelar ao público profano em geral como os maçons da época trabalhavam nas suas Lojas, logo acabariam sendo economicamente muito rentáveis para os detratores que, com isso, se esforçavam cada vez mais em suprir a curiosidade de um público ávido em descobrir os tão propalados “segredos” da Maçonaria.

No século XVIII, mais precisamente em 1730 na Inglaterra, a mais importante dessas exposures foi a de autoria de Samuel Prichard intitulada Masonry Dissected (Maçonaria Dissecada). Essa “revelação” acabou se transformando em um conjunto de textos encadernados para venda, e foi tal o seu sucesso que teve várias edições publicadas em um curto espaço de tempo.

É bom que se diga que no curso da história, as duas Grandes Lojas rivais acabariam também recebendo revelações publicadas. Associada à Grande Loja dos Modernos, encontramos a exposure denominada Jachin and Boaz e à Grande Loja dos Antigos, a denominada The Three Distinct Knocks. A bem da verdade essas duas revelações tiveram importante papel na construção de muitos rituais a partir do século XVIII e XIX, inclusive na França onde os modernos atuaram na vertente moderna da Maçonaria Francesa (Rito Moderno), e os antigos, mais especificamente à vertente escocesista, ancestral do REAA e os seus primitivos rituais do simbolismo.

Graças às revelações ao público, a Premier Grand Lodge acabaria alterando substancialmente a forma litúrgica dos trabalhos maçônicos, suprimindo com isso passagens ritualísticas, invertendo colunas e palavras, omitindo orações, etc. - tudo isso com o escopo de se despistar a curiosidade de um público sedento por desvendar “mistérios”.

De fato, essas alterações produzidas pela Primeira Grande Loja desagradaram profundamente o conservadorismo de uma enorme parcela de Maçons ingleses e irlandeses. Esse fato acabou resultando em uma grande animosidade contra os membros da Grande Loja de 1717, acusados então de alterarem a velha forma de trabalho.

Assim, capitaneados pelo Irmão irlandês Lawrence Dermott, cinco Lojas se reuniam para fundar no Soho, ao sul de Londres, no mês de julho de 1751, uma outra Grande Loja rival que então se autointitulava como “dos Antigos”, justificando para tal ser ela guardiã dos costumes antigos e a herdeira tradicional de uma lendária reunião que teria ocorrido em 926 na cidade medieval de York na Inglaterra.

Esta reunião, então convocada por Edwin, sobrinho do Rei Athelstan, teria ocorrido para aperfeiçoar os estatutos da confraria de pedreiros, consolidando assim a forma tradicional de trabalho das corporações de ofício da Inglaterra de então.

Sobre essa reunião, conforme revelam alguns autores como Gould, Harry Carr e Bernard Jones, fora convocada não para organizar regras de trabalho, mas para avaliar e se proteger dos prejuízos sofridos pelas corporações de ofício devido às constantes invasões dos povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

Foi desse modo que os maçons autodenominados “antigos” deram a alcunha de "modernos" aos componentes da Primeira Grande Loja. Esse apelido sarcástico se consolidou sobre dois pontos principais: 1º) pela substancial alteração na forma de trabalho ocorrida para se preservar das exposures; 2º) pela aristocratização da Maçonaria ocorrida pela aproximação da Grande Loja com a nobreza da Coroa Britânica, o que de fato ocorreria já em 1721 quando o Duque de Montagu fora então eleito Grão-Mestre.

Assim se explica o porquê dessa inversão onde nesse contexto os Modernos aparecerem antes dos Antigos no contexto histórico. A verdade é que as alcunhas das duas Grandes Lojas rivais não se relacionam propriamente com a cronologia do tempo, mas como títulos de identificação.

Por essa conjuntura, a Grande Loja dos “Antigos” seguiria por um longo tempo fazendo ferrenha oposição à Grande Loja dos “Modernos”. De fato, essas escaramuças durariam até novembro de 1813 quando através do Ato de União elas se fundiram criando a até hoje conhecida Grande Loja Unida da Inglaterra.

Eis uma pequena síntese da história da Maçonaria dos Modernos e dos Antigos na Inglaterra. Tão importante ela foi que até hoje continua influenciando as duas principais vertentes da Maçonaria que existem na Terra, a anglo-saxônica e a latina.



maio 02, 2025

O SIGNIFICADO DA ESCADA DE JACÓ - Izautonio da Silva Machado Junior




INTRODUÇÃO 

A Escada de Jacó é um símbolo de profundas lições. Que as próximas linhas sirvam de seta para apontar o seu valor e instigar os maçons a subir os seus degraus A Escada de Jacó é sem dúvida um dos temas mais estudados pelos maçons no grau de Aprendiz. Inexistente em alguns ritos, este símbolo é citado nas instruções maçônicas do Craft americano, nos rituais do Craft inglês e escocês e na versão do Rito Escocês Antigo e Aceito adotado pelas Grandes Lojas do Brasil. 

Dada a importância do assunto, diante da gama de textos com variadas formas de abordar a Escada de Jacó e pela observação das concepções correntes entre os maçons, constata-se a necessidade de um estudo que vise aproximar seu significado original.

Este trabalho tem por escopo apresentar o significado da Escada de Jacó, sem a pretensão de esgotar o assunto. Entendemos que a exata compreensão de um símbolo deve partir da sua concepção original, para só então o intérprete, no exercício da liberdade intelectual, se aventurar em exercícios especulativos.

Organizamos este trabalho em tópicos que abordam a origem do símbolo na maçonaria, as instruções maçônicas, a fundamentação bíblica, a filosofia por detrás das Virtudes Teologais, a simbologia da escada, entre outros que visam clarificar o significado. 

A Escada de Jacó é um símbolo de profundas lições. Que as próximas linhas sirvam de seta para apontar o seu valor e instigar os maçons a subir os seus degraus conscientemente.

SURGIMENTO DO SÍMBOLO NA MAÇONARIA

No Manuscrito Dumfries nº 04 (1710), que leva o nome de uma antiga Loja do Condado de Dumfries na Escócia, encontramos na parte “Dever do Aprendiz” duas perguntas e respostas que citam a Escada de Jacó: 

P: - Quantos degraus tem a Escada de Jacó? 

R: - Três.

P: - Quem são esses três?

R: - O Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Esta embrionária citação da Escada de Jacó como símbolo maçônico se releva influenciada pelo cristianismo trinitário, tão comum entre os maçons daquela época e lugar, ao citar a Santíssima Trindade como os três degraus da escada. 

Fazendo uma viagem no tempo, parece não haver mais indícios da existência do símbolo nos antigos catecismos. Nada encontramos a seu respeito na exposição Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard (1730). O símbolo também é ausente na maçonaria continental europeia, e não é mencionado na obra inglesa O Espírito da Maçonaria (1775) de William Hutchinson, que foi um texto importante da época e que descreveu inclusive a cobertura da Loja.

Somente voltamos a encontrar o símbolo da Escada de Jacó no terceiro quarto do século XVIII, em desenhos do simbolismo maçônico. Albert Mackey sugere que ele teria sido introduzido por Thomas Dunckerley, que revisou o ritual e construiu um novo código de palestras para a Grande Loja da Inglaterra, tese que faz sentido na medida em que o símbolo passa a aparecer nos registros escritos logo em seguida. Fato é que a Escada de Jacó pode ser encontrada como parte da simbologia maçônica a partir do ano de 1776. Esta informação é corroborada pelas instruções da Grande Loja de Nova York² e por Assis Carvalho³.

William Preston, na década de 1780 descreve uma escada “consistindo em muitos, mas fortalecido por três etapas principais”. Nas palestras de Thomas Smith Webb do final do século XVIII, constava a apresentação da “escada teológica que Jacó em sua sabedoria viu ascender da terra ao céu”. Anote-se, todavia, que diferentemente do Manuscrito Dumfries nº 04, a simbologia maçônica do final daquele século passa a relacionar os degraus da escada não mais com a Santíssima Trindade, e sim com a Virtudes Teologais da Fé, da Esperança e da Caridade, que também são de natureza cristã, conforme será melhor explicado adiante. 

Concluímos que a Escada de Jacó não é daqueles símbolos típicos do período operativo, donde provieram outros símbolos comuns do Ofício, como é o caso das ferramentas de trabalho. Se trata de um símbolo extraído da tradição religiosa cristã, e que foi incorporado à maçonaria com o escopo de servir de plataforma para lições de cunho moral.

A ESCADA DE JACÓ NO CRAFT AMERICANO

A instrução da Escada de Jacó é abordada no Grau de Aprendiz. Na versão da Grande Loja de Nova York, o texto da instrução tem o seguinte conteúdo:

CITAÇÃO A cobertura de uma Loja é nada menos do que a abóbada com nuvens ou um céu adornado de estrelas, onde todos os bons Maçons esperam finalmente chegar, com a ajuda daquela escada que Jacó viu, em sua visão, estendida da terra até o céu, cujos degraus principais são a Fé, a Esperança e a Caridade. Fé em Deus, Esperança na imortalidade e Caridade para com toda a humanidade. A maior destas Virtudes, chamadas teologais, é a Caridade, pois a Fé pode ser perdida de vista e a Esperança termina na realização. Porém, a Caridade estende-se além do túmulo, através dos reinos ilimitados da eternidade. 

NOTAS ²Textos de instrução denominados Meanings (significados), que explicam os rituais. ³Na obra “Símbolos Maçônicos e suas origens”.

Este é o caso dos rituais das Grandes Lojas de Nevada, Michigan, Prince Hall da Califórnia e do Monitor de Jeremy Cross (1826). Por outro lado, encontramos outros textos que também usam a palavra “realização” da mesma forma que na Grande Loja de Nova York, conforme constatamos nos rituais das Grandes Lojas de Illinois, Flórida, no Monitor de Charles Moore (1868) e no Manual da Loja de Albert Mackey (1862).

Embora o resultado seja o mesmo - a Esperança pode se esvaecer tanto pela realização como pela frustração - mencionamos essa peculiaridade apenas por curiosidade.

A ESCADA DE JACÓ NO TEXTO BÍBLICO

O símbolo da Escada de Jacó foi extraído do Livro de Gênesis da Bíblia:

CITAÇÃO Jacó partiu de Berseba e rumou para Harã. Chegando a determinado lugar, parou para pernoitar, porquanto o sol já se havia posto no horizonte. Tomando uma das pedras dali, usou-a como travesseiro e deitou-se. E teve um sonho no qual viu uma escada apoiada na terra; seu topo alcançava os céus, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. (...) Então sentiu medo e exclamou: “Quão temível é este lugar! Certamente não é outro, senão bêt El, a casa de Deus; eis que encontrei a porta dos céus!” (Gênesis, 28, 10-12 e 17, Bíblia King James Atualizada)

Em síntese, a visão da escada em um sonho ocorreu durante sua viagem à terra da mesopotâmia, quando em seu trajeto vagando pelo deserto, passou a noite nas proximidades do antigo santuário cananeu de Luz. Para melhor contextualizar esta passagem bíblica, vejamos um pouco da história que a envolve .

CITAÇÃO Rebeca, a amada esposa de Isaac, sabendo por inspiração Divina que uma bênção especial foi colocada na alma de seu marido, estava desejosa de obtê-la para o seu filho favorito, Jacó, embora sabendo que por direito ela pertencia ao seu primogênito, Esaú. Jacó, que mais tarde obteria a bênção de seu pai de modo fraudulento, foi obrigado a fugir da ira de seu irmão que, num momento de raiva e desapontamento, o ameaçara de morte. E, enquanto se dirigia a Padãaram, na terra da Mesopotâmia, (conforme determinado por seus pais, viu-se obrigado a ir) fatigado, pernoitou no meio do deserto e, deitando-se, tomou a terra com seu leito, uma pedra por travesseiro e a Abóbada Celeste como uma coberta. Então, em uma visão, viu uma Escada cujo topo atingia os Céus e pela qual os Anjos do Senhor subiam e desciam. Foi então que o Todo-Poderoso fez um solene trato com Jacó, de que se ele observasse as Suas leis e guardasse os Seus mandamentos, Ele não só o levaria de volta à casa de seu pai, em paz e prosperidade, como faria de sua descendência um povo grande e poderoso. Isso foi amplamente cumprido, pois, após um lapso de vinte anos, e Jacó retornou à sua terra de origem, foi gentilmente recebido pelo seu irmão Esaú. O seu filho José tornou-se posteriormente, por ordem do Faraó, o segundo homem do Egito. Os filhos de Israel, altamente favorecidos pelo Senhor, constituíram-se ao longo do tempo em uma das maiores e mais poderosas Nações da face da terra. (MENDES, 2011, p. 199)

NOTAS 4 Trecho da Primeira Preleção do Grau de Aprendiz da Emulation Lodge of Improvement, da Inglaterra.

De nota que, embora o símbolo da Escada de Jacó na Maçonaria faça uma relação entre os degraus e as Virtudes Teologais da Fé, da Esperança e da Caridade, esta associação simplesmente não existe na Bíblia. Na verdade, as Virtudes Teologais provêm de outra passagem: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, e a caridade, estas três; mas a maior destas é a caridade” (1 Coríntios 13:13, Bíblia Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida).A conexão entre um texto do Antigo Testamento - Livro de Gênesis - com um texto do Novo Testamento - Coríntios - nos leva à conclusão de que a simbologia adotada na maçonaria é de natureza cristã.

O SIGNIFICADO DA PALAVRA CARIDADE

A Fé, a Esperança e a Caridade têm sido frequentemente referidas como as Virtudes Teologais para distingui-las das antigas Virtudes Cardeais do Cristianismo, que são a Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança .

Fonte: REVISTA TRIPONTO Nº 2

A CORDA COM 7 NÓS E A CORDA DE 81 NÓS - Almir Sant’Anna Cruz


Uma Corda com 7 Nós ou laços, emoldura o Painel do Rito Escocês Antigo e Aceito de origem francesa e diversos autores nacionais apresentaram inúmeras explicações sobre o seu simbolismo, entre os quais a de que representaria a Corda de 81 Nós; que os 7 nós alude às 7 Artes e Ciências Liberais que o Maçom deve estudar e ainda a de que simbolizaria os segredos que envolvem nossos mistérios, posto que o número 7 está associado à Perfeição. São apenas divagações sem o menor sentido.

Considerando-se que o Painel tem origem francesa, é em autores franceses que devemos pesquisar o seu real significado. 

Pois esses autores (Boucher, Papus, Plantageneta, Ragon, Villaume,  Wirth, entre outros) são unânimes em afirmar que a Corda de 7 Nós ou “laços de amor” e terminada com uma borla em cada extremidade, substitui a Orla Denteada presente no Painel de origem inglesa e representa a união fraternal que liga todos os Maçons do mundo, sem distinções de qualquer natureza, por uma cadeia indissolúvel, é uma reprodução material da Cadeia de União.

Na ornamentação dos Templos Maçônicos está presente um grande cordão que corre pela frisa, formando de distância em distância 81 nós emblemáticos, e terminando por duas borlas pendentes em cada lado da porta de entrada. É a Corda de 81 Nós. 

Como já estudamos, uma Corda com 7 Nós emoldura o Painel de origem francesa do Grau de Aprendiz e podemos aqui adiantar que nos Painéis do Grau de Companheiro a Corda se apresenta com 9 ou 3 Nós. 

Essa Corda de 7 Nós, como vimos, substitui a Orla Denteada e simboliza a Cadeia de União, o profundo sentimento de indissolúvel união fraterna com que estão ligados todos os Maçons, não importando suas aparentes diferenças.

E a Corda de 81 Nós? 

Para alguns autores nacionais ela possui o mesmo simbolismo da Corda de 7 Nós.

Para outros, ela representa os 81 meses de interstício que a Constituição de 1762 do Rito Escocês Antigo e Aceito fixou como tempo mínimo necessário para que o Maçom escalonasse todos os Graus de sua hierarquia, na época ainda com 25 Graus (os atuais 33 só foram fixados na Constituição de 1786, atribuída falsamente a Frederico II, rei da Prússia). Constava no final do artigo segundo: “Todos esses Graus reunidos, nos quais um Irmão só poderá ser iniciado em um número misterioso de meses para alcançar cada Grau sucessivamente, compõem o número 81 meses ...”

Porém na literatura maçônica estrangeira a Corda de 81 Nós não é mencionada por nenhum autor, nos levando a concluir que é uma invenção exclusivamente brasileira, uma “adaptação” da Corda de 7 Nós.


Excertos do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber* Interessados no livro contatar o irmão Almir no WhatsApp (21) 99568-1350