julho 20, 2025

FIM DO CICLO — FAMÍLIA -- Amilton Pessina


Se na tua linhagem o álcool foi praga… deixa que morra em ti. Que essa água amarga não siga correndo pelas veias das próximas gerações.

Se tua família tem histórico de abandono, de estudos interrompidos, de portas que nunca se abriram… seja você o portal.

Estuda, vai além, honra tua ancestralidade mostrando que a árvore também pode dar fruto forte, maduro e brilhante.

Se teus pais viveram um amor que não floresceu, cheio de dor e desencontro… seja você o altar de um amor verdadeiro.

Constrói tua união com base no respeito, na presença, na cura.

Se teu pai levantou a mão, seja você aquele que levanta a alma. Se tua mãe chorou calada, seja você a voz que canta alto a libertação.

Se tua raiz foi plantada na escassez… faz brotar abundância! Traz fartura não só pra tua mesa, mas pra tua alma e pra tua tribo.

Se teu sobrenome vem carregado de vergonha, de silêncio, de histórias não contadas… honra teus antepassados sendo luz, sendo diferente, sendo inteiro.

Você não é obrigado a carregar a dor que te deram como herança.

Você pode amar tua família e, ao mesmo tempo, encerrar os ciclos que machucam.

Não escolhemos de onde viemos, mas escolhemos com coragem pra onde vamos.

E isso, meu bem, muda tudo.

Você é a semente nova.

Você é o elo que cura.

Você é o fim do ciclo… e o início de um novo tempo.

ARLS TRÍPLICE ALIANÇA 341 - Noite dos caldos




Na noite de ontem, sábado, a minha querida Loja Tríplice Aliança 341 de Mongaguá, realizou uma deliciosa noite de caldos que aproveitou o friozinho de inverno para reagrupar os irmãos e suas famílias neste mês de férias de trabalhos maçônicos da GLESP. 
Alguns dos irmãos ainda estão em viagem, mas os que permaneceram na cidade vieram para confraternizar e se deliciar com os deliciosos caldos e sobremesas que foram oferecidos.
O Venerável Mestre Alexandre Lucena e sua.esposa, a cunhada Silvana, mais uma vez fizeram um magnífico trabalho de decoração do salão de festas da Loja.




julho 19, 2025

NAO É BEM ASSIM...- Jorge Gonçalves


A frase “A ausência de evidência não é evidência de ausência” é amplamente atribuída a Carl Sagan, especialmente por sua utilização no livro O Mundo Assombrado por Demônios (1995). No entanto, como diria um sábio: *não é bem assim*.

A formulação ou essência da frase já era discutida em 1895, no ensaio The Carrowmena Evidences, de Dugald Bell. Antes disso, em 1887, William Wright já havia desenvolvido o conceito em um sermão religioso, "argumentando que a falta de evidência da existência de Deus não provava Sua inexistência".

Em tempos de redes sociais, é cada vez mais comum que aforismos e frases de efeito sejam atribuídos de forma equivocada a autores famosos. Este é um exemplo clássico. Carl Sagan não criou a frase, mas a popularizou. No capítulo “O Dragão na Minha Garagem”, Sagan utiliza a expressão como ferramenta de crítica ao pensamento dogmático.

Atribuir corretamente uma frase ao seu autor original exige rigor histórico, metodologia de pesquisa e atenção aos detalhes. Afinal, como já diria o sábio:

.. "não é bem assim".


A ORIGEM DA PALAVRA "LOJA" - José Castellani


A verdade é sempre mais simples do que parece, ou do que a imaginam as mentes fantasiosas. É voz corrente entre muitos maçons, influenciados por obras pouco fidedignas, que a palavra LOJA, para designar uma corporação maçônica, seria originária da palavra sânscrita “loka”, que significa mundo. Sânscrito foi o nome dado ao idioma falado pelos invasores indo-europeus do Punjab, por volta do Século XIV antes de Cristo; tendo afinidades com o antigo persa, o grego e o latim, jamais foi uma língua popular, sendo restrita aos sacerdotes brâmanes e aos eruditos. Foi nesse idioma que foi escrita a literatura indicana mais remota, de inspiração filosófica e religiosa, constituindo os “Vedas”, coleção de hinos sagrados.

A verdade, todavia, é bem outra, mesmo porque “loka” significa, na realidade, espaço, lugar, tempo (como o “lócus” latino); a palavra LOJA tem sua origem nas GUILDAS medievais.

Entre as corporações de artesãos medievais (hoje chamadas de Maçonaria “Operativa”), destacavam-se as GUILDAS, características dos germânicos e anglo-saxões e que começaram a florescer no Século XII.

Anteriormente a essa data, elas eram entidades simplesmente religiosas e não formavam corpos profissionais. A elas se deve o uso da palavra LOJA.

Na antiga língua germânica, a palavra LEUBJA (pronúncia: lóibja) significava LAR, CASA, ABRIGO, e acabou dando origem a palavra de sentidos diferentes, em outros idiomas: LOGE, em francês, LODGE, em inglês, LOGGIA, em italiano, etc. Em italiano, a palavra LOGGIA passou a designar a entrada de edifício, ou galeria, usada para exposições artísticas e para a venda de mercadorias artesanais.

As GUILDAS DE MERCADORIAS passaram a adotar a palavra LOJA para designar os seus locais de depósitos, ou de vendas, ou seja, onde os produtos manufaturados eram armazenados e negociados. As GUILDAS ARTESANAIS, por outro lado, passaram a chamar de LOJA os seus locais de trabalho, ou seja, as OFICINAS dos Mestres artesãos.

Assim, das guildas de mercadorias originou-se o nome das casas comerciais, que são as lojas onde são vendidos os produtos fabricados, enquanto que das guildas artesanais originou-se a palavra que designa as corporações maçônicas e seus locais de trabalho, as LOJAS MAÇÔNICAS. Ambas as palavras, embora não tenham, atualmente, nada em comum, possuem a mesma origem, sendo interessante destacar que o primeiro documento maçônico (da Maçonaria de ofício) em que aparece a palavra LOJA data do ano de 1292 e era uma guilda.

Se aceitássemos que a origem da palavra LOJA está no sânscrito “loka” e se admitíssemos que ela significa “mundo”, estão as lojas comerciais também teriam o mesmo significado, o que seria um absurdo. Acrescente-se que o que representa o mundo, é o Templo maçônico, e não a LOJA, pois o termo é mais destinado a designar uma corporação maçônica, quando os seus membros reúnem-se num templo: ao final de uma sessão maçônica, a Loja é considerada fechada, pois os seus membros se dispersarão, mas o templo continua aberto, inclusive para outras lojas.

Vale repetir: a Verdade, geralmente, é bem mais simples do que pretendem os maçons imaginosos e cheios de fantasias, que acabam influenciando os demais, divulgando e perpetuando histórias fantásticas e inverídicas.


(Cadernos de Estudos Maçônicos – Consultório Maçônico de José Castellani, Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. (2a edição).

julho 18, 2025

ÁGAPE - Marcelo Bezerra


Por mais antigo que seja o período da história pesquisado, verificamos que o ato de tomar as refeições sempre foi uma atividade social, no sentido de ser realizada coletivamente. Nos sítios arqueológicos mais antigos sempre são encontrados sinais de restos de fogueiras e alimentos (conchas e ossos) em quantidade suficiente para demonstrar esta ação do grupo.

Os sambaquis encontrados em vários lugares do Brasil são exemplos disto. Aliás, antes mesmo do domínio do fogo, sabe-se que a atividade extrativista era coletiva. Até mesmo, observando os nossos primos mais distantes, os gorilas e chimpanzés, notamos que também eles fazem suas refeições coletivas, sendo, segundo alguns estudiosos, fator de agregação do grupo.

Em recente documentário no Canal Discovery, apareceu concretamente a situação em que um novo membro é aceito na comunidade de Gorilas a partir do momento em que é permitido, pelos demais, participar das atividades de alimentação.

Ao longo da história da humanidade as refeições coletivas sempre apareceram de diferentes formas e com diferentes nomes. Assim vamos encontrar os jantares, banquetes, piqueniques, saraus, festas, convescotes, ágapes.

Nos momentos mais importantes da história tanto do ponto de vista político, como econômico e social, grandes e importantes decisões foram tomadas antes, durante ou depois de refeições.

Qualquer que seja o livro, o filme ou documentário e até mesmo em notícias de jornais, verificamos a procedência desta afirmação. A refeição conjunta ajuda a quebrar os espíritos e a selar compromissos. Alguém se lembra de algum encontro entre estadistas em que não apareça um almoço ou jantar na reportagem? Uma outra curiosidade, algum dos senhores parou para contar quantas cenas de refeições aparecem no filme “O Poderoso Chefão”? Para manter a coesão de uma “famiglia” se deve, realmente, precisar de muitas e muitas refeições coletivas.

Fazendo um giro de 180º lembremos o primeiro milagre de Cristo, aquele que o iniciou na sua vida pública: foi o milagre do Vinho, nas bodas de Canaã. Logo em seguida aparece a multiplicação dos peixes e pães. Mais do que o milagre, eu quero reforçar a existência da refeição coletiva após a pregação do sermão da montanha. Por fim, suas últimas instruções aos apóstolos, só poderiam ter tomado lugar na “Última Ceia”.

Os maçons operativos costumavam realizar suas refeições nos próprios canteiros de obras, nos intervalos e após os trabalhos. Costume este que percebemos em qualquer construção aqui em nossas cidades. Esta, entretanto, não era uma característica apenas dos pedreiros. Em todas as profissões, do tropeiro ao pastor, do madeireiro ao construtor, dos monges aos soldados as refeições coletivas existiam e existem e contribuem para agregar a coletividade.

Mas voltemos à maçonaria. Comer e beber juntos sempre foi importante para a maçonaria. Em todas as Lojas de todos os países, as decorações dos pratos, copos e outros utensílios utilizados nas refeições com símbolos maçônicos e brasões de Lojas demonstram a importância deste convívio para os Maçons.

Chama a atenção a palavra convívio, que no sentido etimológico tem o mesmo significado de banquete, esta última, palavra de origem francesa, devido a utilização de pequenos bancos — banquets, banquetas — nas refeições..

Bem, comecemos a alinhavar os pensamentos. Convívio vem de viver juntos, com fraternidade. Significa, também, a refeição realizada em ambiente fraternal. Por outro lado “banquete”, na sua origem, não possuía o significado pomposo que tem nos nossos dias. Poderíamos, então, até usar a expressão de “convívio ritualístico” para designar as refeições ritualísticas.

O “Banquete Ritualístico” é uma das mais antigas e sólidas tradições maçônicas. A Constituição de Anderson contém inúmeras referências e descrições sobre estas refeições. Como muito das obrigações consuetudinárias vem desse documento, vamos transcrever uma das passagens, a que está na página 54 do documento original. Não é nenhuma das que tratam dos importantes banquetes anuais para a escolha do grão-mestre, mas uma passagem singela cujo objetivo é ensinar bom comportamento aos Irmãos, e onde a refeição aparece como algo normal e cotidiano nas reuniões maçônicas:

“Conduta depois que a Loja terminou e antes que os Irmãos saiam.”

“Podeis diverti-vos com brincadeiras inocentes, tratando-vos uns aos outros segundo vossa maneira, mas evitando todo excesso, não forçando um Irmão a comer ou beber além da sua inclinação, e não o impedindo de sair quando seus negócios o chamarem, nem fazendo ou dizendo algo de ofensivo, ou que possa impedir uma conversação fácil e livre; pois isso destruirá nossa harmonia, e fará malograr nossas louváveis finalidades.”


Como podemos ver, após a sessão vem sempre uma refeição, que precede aos Irmãos abandonarem o local de reunião. Não é por acaso que as quatro primeiras Lojas que formaram a Grande Loja da Inglaterra operavam nas Tabernas “The Goose and the Gridiron”( O Ganso e a grelha), “The apple tree”( A Macieira), “The Crown”( A Coroa) e “The Rummer and Grapes”( O Copo e as Uvas).


No “Emulation Working”, mais conhecido entre nós como “Rito de York”, cada encontro é seguido por um Banquete obrigatório ou repasto fraternal. Já no R.'.E.'.A.',A.'. existe o ritual para os Banquetes Ritualísticos da Ordem, que é inspirado nas tradições das Lojas militares pré - revolucionárias da França. Nesta tradição tudo que está à mesa é comparado com assuntos e utensílios relacionados à artilharia. Assim, água é pólvora fraca, vinho é pólvora forte, copos são canhões e sal é areia.


O Banquete Ritualístico é por vezes chamado de Ágape. No Dicionário Aurélio lê-se:


Ágape


1. Refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum.


2. P. ext. Banquete, almoço ou outra refeição de confraternização por motivos políticos, sociais, comerciais, etc.


3. Ét. V. caridade (1).


Ágapa


1. Var. de ágape [q. v.]: "nas ágapas dos cristãos primitivos cantavam-se os salmos ao som do órgão!!!" (Alexandre Herculano , Lendas e Narrativas, II, p. 207).


Procurando a palavra caridade tem-se:


Caridade


[Do lat. caritate.]


S. f.


1. Ét. No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus; ágape, amor - caridade.


No Dicionário Ilustrado de Maçonaria a definição para ágape é: “Banquete de Confraternização” que os primeiros cristãos adotaram para comemorar a última ceia de Jesus Cristo com seus discípulos. Em certa época tal refeição era realizada diariamente e à noite. No ano de 397, a Igreja aboliu as ágapes sob a alegação de que os mesmos haviam se transformado em verdadeiros festins que fugiam aos princípios religiosos”.


Já na excelente coleção de Nicola Aslan, “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia” encontramos: Ágape – Do grego agapê, amor. Nome que na Igreja primitiva era dado à refeição que os cristãos faziam em comum, em comemoração da ceia de Jesus Cristo com seus discípulos e na qual se davam mutuamente, o ósculo da Paz e da Fraternidade.


No início, em Jerusalém, as ágapes se realizavam todas as noites, mas posteriormente, foram reservados para os domingos. A eles assistiam homens de todas as classes e cada um contribuía de acordo com seus meios, pagando os ricos a parte dos pobres.


Paulo assinala e condena os abusos que cedo se introduziram nos ágapes, tendo sido os festins noturnos apaixonadamente atacados pelos pagãos, que os apresentavam como servindo de pretexto a infames libertinagens.


O concílio de Cártago, em 397, aboliu tais banquetes em comum”. Continua Aslan: “Em maçonaria, este nome é muitas vezes utilizado para indicar o banquete ou refeição ritualística que, obrigatoriamente, se segue aos trabalhos da Loja. Simboliza a recreação em comum, merecida depois do trabalho, e é presidida pelo Venerável. No Brasil, o banquete é obrigatório apenas nas festas da Ordem, e particularmente depois de uma iniciação”.


A palavra ágape, em português, é admitida em ambos os gêneros, masculino e feminino. Em grego significa de ternura. “A palavra ternura contém noções de afeição, amor e devoção. O equivalente Latino de ágape é caridade.


Dar o significado de “amor” para ágape, pode levar uma subjetividade de conteúdo. A oposição, em Grego, de ágape é Eros, que é o amor possessivo, enquanto ágape é o amor gentil, da bondade, da fraternidade.


O sentido de Eros é próprio para o inflamado amor dos amantes. Com o transcorrer do tempo, o seu significado envolveu até paixão sexual se tornou uma metáfora do significado místico e do fervor espiritual. (...) Já Ágape é adequada para o amor fraterno, de irmãos, para um amor pacífico e ao próximo. Ágape é então dividir a alimento, do corpo, do coração e do espírito. E precisa ser realizado com prazer se é para ser compensador”.


Finalmente, vale lembrar que historicamente o Grau de Mestre surgiu bem depois dos dois graus básicos originados da Maçonaria Operativa, que são o de Aprendiz e Companheiro. Este último, Companheiro, corresponde ao termo Inglês Fellow-Craft, da antiga maçonaria operativa escocesa. No trabalho do Irmão L. Cousseau, publicado na revista Le Chaine d’Union, de julho de 1961, sob o título “O Maravilhoso Ensino Maçônico”, ao analisar o grau de Companheiro, ele define: “Insiste sobre a primazia do amor altruísta” e o associa à forma de como o Companheiro se coloca à Ordem. A origem de seu nome, do Latim, vem de Compane, que como a palavra sugere em seu sentido etimológico, são aqueles que dividem o pão. Os que sabem dividir o pão, lembrando o que foi dito no parágrafo anterior, sabem que o prazer e a felicidade são objetivos legítimos.


Tem sido um discurso corrente, que algumas Lojas Maçônicas estão passando por momentos de desânimo, com quadros se afastando, rareando as novas iniciações e com baixa participação de IIrr.'. nos Trabalhos realizados .


A crise econômica, aumentando o risco de desemprego e de falência, tem exigido que os Irmãos se dediquem cada vez mais aos trabalhos profanos, o que talvez justifique em parte esta situação. Entretanto, devemos ter o senso crítico para diagnosticar se temos descuidado também do congraçamento entre Irmãos, que constrói relacionamentos e evita o aparecimento da discórdia.


Precisamos dar mais atenção a esta parte de nosso ritual consuetudinário, realizando a ágape após a sessão obrigatoriamente e não deixando de realizar os banquetes ritualísticos da Ordem e de Iniciação.



Bibliografia


José Castellani — Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico


Joaquim da Silva Pires — Rituais Maçônicos Brasileiros


Daniel Béresniak — Symbols of Freemasonry


Nicola Aslan - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia


Sebastião Dodel dos Santos — Dicionário Ilustrado de Maçonaria


James Anderson — Constituições dos Franco — Maçons ou Constituições de Anderson de 1723

julho 17, 2025

O "EU" EM MIM - André Pondé


A frase pode ser compreendida à luz da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung como uma expressão do processo de individuação, no qual o ego (o "eu" consciente) transcende sua identificação com desejos e ilusões pessoais para se alinhar com um princípio maior, o Self, arquétipo da totalidade psíquica. Nessa jornada, o indivíduo supera a ilusão de separatividade e integra aspectos inconscientes, alcançando uma síntese harmoniosa entre consciência e inconsciente. 

A "Verdade" aqui simboliza a realidade profunda do Self, que emerge quando o ego deixa de ser o centro dominante e passa a servir a um propósito mais amplo, conectado ao coletivo e ao transcendente. Esse estado representa uma maturidade ética, pois o sujeito age não mais movido por impulsos egocêntricos, mas por uma sabedoria interior que reconhece sua interdependência com o todo.  

Do ponto de vista do desenvolvimento ético humano, essa transformação reflete a passagem de uma moralidade baseada em convenções sociais para uma ética autêntica, guiada pela consciência ampliada. 

Quando o "eu" desaparece, não há mais a luta pelo poder ou pelo reconhecimento pessoal, mas sim uma entrega à verdade interior, que Jung associava aos arquétipos universais. Essa experiência é paradoxalmente libertadora, pois, ao dissolver as fronteiras rígidas do ego, o indivíduo encontra um sentido mais profundo de pertencimento ao cosmos. 

A felicidade mencionada na frase não é efêmera, mas sim a alegria de quem vive em consonância com sua essência e com o fluxo da vida, transcendendo dualidades e ilusões. Assim, a Psicologia Analítica vê nesse processo a realização máxima da potencialidade humana, onde ética, autoconhecimento e transcendência se fundem.

julho 16, 2025

NÃO VOS AFOBEIS... - Heitor Rodrigues Freire



As incertezas da vida moderna estão a exigir das pessoas uma atividade cada vez mais opressiva, gerando perplexidade e determinando uma ação apressada, sem muita reflexão. Vivemos os tempos da ambiguidade, do paradoxo. Vivemos fugindo do passado, procurando alcançar um futuro imprevisível, perdendo o verdadeiro momento em que a vida transcorre, o presente. E, assim, não vivemos nem aqui nem lá.

Carlos Drummond de Andrade, com sua sensibilidade de grande poeta, escreveu:

*“Não serei o poeta de um mundo caduco*.

*Também não cantarei o mundo futuro.*

*Estou preso à vida e olho meus companheiros.*

*Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.*

*Entre eles, considero a enorme realidade.*

*O presente é tão grande, não nos afastemos.*

*Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.*

*Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,*

*não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,*

*não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,*

*não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.*

*O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”*. 

Drummond sintetizou, assim, uma fórmula, uma lição clara e verdadeira de viver a vida: o tempo presente. A afobação que caracteriza estes tempos provoca grande frustração e angústia. No Livro dos Provérbios, há uma orientação muito precisa no capítulo 19, v.2: “Não adianta agir sem refletir, pois quem apressa o passo acaba tropeçando”. Não vos afobeis porque a morte é certa, proclama um dito popular. 

Pitágoras, no verso 16 de seus Versos de Ouro, proclama: “Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá para todos”. Mas a morte em si, longe de ser uma ruptura, um fim, representa apenas uma ponte que liga esta terra maravilhosa ao mundo espiritual, onde receberemos de acordo com o nosso merecimento. Esse é o nosso verdadeiro futuro. Queiramos ou não. Saibamos ou não. O que realmente devemos fazer é nos preparar para esse momento, e essa preparação passa necessariamente pelo que diz a poesia de Drummond: viver o momento presente, porque nele, e somente nele, podemos atuar de forma consciente e criteriosa, agindo com sabedoria.

Socorrendo-nos mais uma vez no poeta maior, transcrevo mais uma contribuição dele:

“A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, *esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”. 

O noticiário está repleto de crimes que se repetem constantemente, assustando a população que, acuada, não sabe como reagir ou se prevenir. A orientação dada pelas autoridades policiais é a de que em situação de assalto, não se deve reagir, buscando ao menos preservar a vida. Vão se os anéis, ficam os dedos. O difícil é praticar esse ensinamento.

Juvenal Arduini, em seu livro Destinação antropológica (Edições Paulinas, 1989), escreveu: “A vida é a resposta maior aos inquietantes desafios de nosso tempo. As decisões que irão plasmar o futuro do mundo hão de acolher, projetar e cultivar a vida humana, como núcleo primacial. Só haverá antropologia, e, consequentemente, só haverá ética, a partir do momento em que se tenha a sabedoria de decifrar ‘a marca do homem’ na vida, ainda que seja miúda, ainda que seja vida severina”. 

É isso aí.


julho 15, 2025

CEGOS GUIANDO CEGOS - Jorge Gonçalves


 *Em Mateus 15, versículo 14, Jesus utiliza uma parábola interessante " 

Deixai-os, são cegos guiando cegos. Se um cego conduzir outro, ambos acabarão caindo em um buraco_ ."

Já Nietzsche escreveu:

 " _As convicções são as inimigas mais perigosas da verdade, até mesmo que as mentiras_ ."

São frases que retratam uma relação profunda e bem atual. Embora expressem ideias diferentes em seus contextos, ambas apontam para o mesmo perigo: *o risco de pessoas desinformadas ou cegas em suas convicções seguirem os conselhos de outras igualmente ignorantes.* 



AS PUTAS DA CIDADE SEM ROMANTIZAÇÕES - Leonardo Bueno Teixeira



Obviamente este não é um texto maçônico. É uma metáfora, muito bem redigida, de uma realidade que estamos vivendo, e por esta razão eu publiquei. Se os leitores se sentirem constrangidos, podem deixar de ler depois da primeira linha. Michael 
.......,...........................

Toda cidade tem suas putas.

Não me refiro aqui apenas às mulheres que trocam o corpo por dinheiro, mas àquelas figuras marginais, silenciadas e, ao mesmo tempo, imprescindíveis para o equilíbrio oculto da hipocrisia social.

As putas são, talvez, o espelho mais cruel e mais sincero da moral pública.

Elas caminham pelas bordas da cidade, mas sustentam o centro.

Estão na calçada, mas sustentam os quartos escuros dos homens que pregam virtude em voz alta.

Estão nos becos, mas conhecem as avenidas da alma humana melhor do que qualquer teólogo ou filósofo de gabinete.

A história nunca foi gentil com elas.

Na Grécia antiga, havia distinção: as hetairas eram cortesãs cultas, companheiras de homens ilustres,respeitadas na alcova, ignoradas em público.

Na Idade Média, eram tratadas como pecadoras por uma Igreja que mantinha seus próprios prostíbulos secretos.

No século XIX, o bordel virou instituição, e a sociedade vitoriana empurrou o desejo para trás de portas trancadas, enquanto vestia de luto a alma.

Hoje, em tempos de redes sociais e pornografia gratuita, ainda apontamos o dedo. Mudou a vitrine, mas não a hipocrisia.

A cidade precisa das putas. Não pelas razões óbvias,mas porque elas cumprem o papel que a moral recusa: o de lembrar que o desejo não obedece à lei. Que o corpo não é pecado. E que a nudez, por mais vendida que seja, ainda escandaliza menos do que a falsidade dos que a compram.

Não nos quartos,mas nas esquinas da existência. Mulheres que sabiam mais de política do que muitos vereadores, mais de saúde mental do que certos analistas. Mulheres que sabiam ouvir. Que sabiam calar. Que sabiam cobrar,não só em dinheiro, mas em respeito.

E o mais irônico? Eram mais humanas do que muitos líderes religiosos  que prega compaixão no púlpito enquanto devora corpos e almas em segredo.

Mais leais do que políticos com mandato.

Mais autênticas do que algumas mulheres da “Alta Sociedade” que mantém a relação por causa de nome e sobrenome.

Não romantizo a prostituição,seria tolice e covardia.

Mas também não aceito o cinismo de uma sociedade que consome sexo como produto, mas finge horror diante de quem o vende com sinceridade.

As putas sabem demais.

Sabem dos bastidores.

Sabem dos rostos que a cidade finge não ter.

Elas escutam os desabafos mais íntimos dos homens que ninguém imagina frágeis.

E carregam nas pernas não apenas cansaço, mas também um tipo de liberdade que apavora os moralistas: a liberdade de não mentir sobre o próprio desejo.

O que é uma puta, afinal?

Uma mulher que cobra pelo que outras oferecem de graça?

Uma empresária do prazer?

Uma sobrevivente?

Uma mulher como qualquer outra, mas sem o escudo da hipocrisia?

Talvez todas essas coisas.

Ou talvez nenhuma.

Mas uma coisa é certa: o nome que a cidade lhes dá — “puta” — diz mais sobre quem julga do que sobre quem vive.

A cidade as quer invisíveis de dia e indispensáveis à noite.

Quer que elas existam, mas não tenham rosto.

Quer consumi-las, mas não reconhecê-las.

Quer a função, mas não a dignidade.

E é justamente por isso que escrever sobre elas incomoda. Porque obriga a cidade a se ver no espelho.

Não sei o nome da primeira prostituta que existiu, mas sei que ela antecede qualquer Estado, qualquer religião, qualquer casamento.

Ela já estava ali, na fundação do mundo, oferecendo o que o mundo sempre quis e nunca teve coragem de assumir que precisava: um espaço onde o desejo não é pecado,é mercadoria.

É cruel? Talvez.

É injusto? Com certeza.

Mas é real.

E a realidade, quando despida da moral, ainda nos escandaliza.

Se há alguma esperança, talvez esteja em um dia podermos olhar para essas mulheres sem escárnio, sem piedade, sem santidade. Apenas com humanidade.

Até lá, elas continuarão nas esquinas.

Vestidas de brilho barato.

Calçando sandálias de resistência.

E caminhando com a altivez silenciosa de quem conhece todos os segredos da cidade mas jamais os contará.

julho 14, 2025

MAÇONARIA SEM MISTÉRIO - Pedro Juk


As datas solsticiais e os cultos solares da antiguidade são temas importantes para o estudo e a compreensão da "Arte Maçônica". Como atualmente vivemos um período solsticial de inverno no hemisfério norte (berço de origem da Maçonaria) é oportuno lembrar um dos dois personagens que, por influência da Igreja, são tidos como protetores da Ordem. 

Pela própria história das confrarias de construtores medievais, o solstício de inverno no hemisfério boreal se associa a pratica profissional dos cortadores e entalhadores da pedra calcária. Esses, então construtores de mosteiros, abadias, igrejas e catedrais eram protegidos pela Igreja-Estado. Assim, no período em que os rigores do inverno não permitiam o trabalho na sua plenitude, ansiosamente os operários esperavam pelo final das agruras da estação gélida em que a Terra fica "viúva" do Sol (noites longas e dias curtos). 

Como que a existir um elo entre essa alegoria solsticial e os Ofícios Francos, João, o Evangelista já era lembrado desde então como aquele que “divulgou a Luz”. Por óbvio, tudo em alusão Àquele que veio para trazer de volta a Luz ao mundo. O "Natalis Invicti Solis", desde o mitraísmo persa, parece misteriosamente concordar com o nascimento de Jesus - nesse caso Ele conhecido como a “Luz do Mundo”. 

Não obstante às convenções alegóricas dos cultos solares da antiguidade (base da grande maioria das religiões), as confrarias medievais de construtores - precursoras da Maçonaria - como que a cumprir os ditames da Natureza, também dividiam o seu tempo (semestral) se utilizando das datas solsticiais próprias do hemisfério norte do nosso Planeta - o de início do verão em junho e o de início do inverno em dezembro. 

A despeito das questões relativas ao andamento profissional da própria confraria e as estações propícias para o trabalho, havia também a influência da Igreja expansionista na época que associava esses Santos Protetores aos ditames dos seus domínios. 

Por conta disso a Igreja se utilizou das datas solsticiais de inverno e de verão, o que fez com que João, o Batista (o que previu a Luz) e João, o Evangelista (o que pregou a Luz) se consolidassem como patronos das Guildas de Construtores, e por extensão à Franco-Maçonaria, que viviam sobre o seu protetorado. 

Sob o aspecto filosófico e doutrinário, essa alegoria busca demonstrar figuradamente que essa Luz se reporta a “Jesus”, Ele tido pelo Cristianismo como a “Luz do Mundo”. 

É devido a isso que a data do Seu nascimento fora adequada e fixada pela igreja justamente num solstício de inverno do hemisfério Norte. 

Na realidade esse teatro natural representa que no inverno os dias são curtos e as noites longas, o que, em primeira análise, simboliza um tempo em que as trevas acabam prevalecendo sobre a Luz – Jesus, nesse caso, veio para dissipar as trevas.

Como o período é o de solstício hibernal ao Norte, a Maçonaria, cujo berço de nascimento é desse mesmo hemisfério, tem por tradição comemorar no dia 27 de dezembro a data de um dos seus Patronos, João o Evangelista, ou aquele que "espalhou a Luz". Destaque-se nesse caso que a Maçonaria, além das influências da Igreja (uma das suas protetoras da época) é reconhecidamente tida como um instrumento de Luz porque combate as trevas da ignorância. 

Sob essa conduta, a Moderna Maçonaria professa seu objetivo construindo uma Obra de Luz, Luz essa que tem por desiderato iluminar (esclarecer) o Homem preparando-o para lutar contra os flagelos da humanidade, aqui muito bem representados pelas trevas da superstição e da ignorância. 

Nesse sentido, João, o Evangelista, por ter tido a missão de disseminar a Luz (Evangelho), tem na Ordem Maçônica um caráter não religioso, mas simbólico, representativo e patronal de um personagem ligado ao esclarecimento

Foi assim que esse "pregador", no momento em que ao Norte a Terra fica viúva da Luz, acabou se consolidando na Maçonaria como um patrono insigne do “esclarecimento”. Ratifico: nessa alegoria não está em jogo nenhuma demonstração dogmática de fé religiosa ou religiosidade, mas sim a de demonstrar um ícone importante que traz na sua companhia a nobre missão de levar a mensagem da Luz. 

Dentre outros, a Luz nos traz a Esperança para que tenhamos um ano novo iluminado pelo bem e pela solidariedade. Enfim, assim como o Sol simbolicamente inicia sua jornada de retorno a partir do Sul para o Norte, que também tenhamos notícias alvissareiras para novo ano que se aproxima. Que de fato o ano de 2019 seja mesmo uma “boa nova”.

julho 13, 2025

HOMENAGEM A ALDINO BRASIL - Jorge Gonçalves



Aldino Brasil, Jorge Gonçalves e Raimundo Brandão.


Em um dia, vejo você na primeira fileira enquanto faço uma apresentação. Sinto um frio na barriga, pois ali está um dos mais respeitados maçons do Brasil. No dia seguinte, recebemos a notícia devastadora: a partida de sua mãe. Todo ser humano que já caminhou sobre esta Terra sabe que a dor de perder uma mãe é das mais insuportáveis.

E hoje, 13 de julho, é o seu aniversário. Que palavras caberiam nesse momento? Qual seria a frase certa a dizer? Sei que qualquer palavra não passa de migalhas diante das circunstâncias. Mas não posso deixar de expressar meu carinho e admiração.

Você, meu inestimável irmão Aldino, é para mim um exemplo de homem honrado, gentil, generoso, um verdadeiro maçom em sua essência. Desejo, do fundo do coração, que o tempo transforme essa dor em saudade. Não é tarefa fácil, e que esse processo seja pleno e sem demora.

Quando a dor apertar, lembre-se: a missão dela foi concluída com louvor. Você é uma obra das virtudes de uma mulher extraordinária, sua mãe.

Parabéns pelo seu aniversário.

TRABALHO BENEFICENTE DA GRANDE LOJA UNIDA DA INGLATERRA - Lourival Cunha


A Grande Loja da Inglaterra é uma das maiores realizadoras de caridade daquele país contribuindo com dinheiro e com o valioso tempo de seus integrantes. 

Em 2020, a Grande Loja contribuiu com 51,1 milhões de libras (o equivalente a 319,9 milhões de reais) a causas efetivamente merecedoras. Além dessas doações em dinheiro, os maçons doam anualmente em torno de 18,5 milhões de horas de trabalho voluntário (o que equivale a 12.671 pessoas doando diariamente 4 horas de seu tempo de trabalho para estas atividades de caridade) em suas comunidades.

Os maçons ingleses também realizam uma série de atividades beneficentes, envolvendo suas famílias, em todo o país, como por exemplo, arrecadação de fundos comunitários, doações de veículos de emergências e plataformas aéreas para o Corpo de Bombeiros de Londres.

Na área médica a contribuição dos maçons da Grande Loja da Inglaterra é fenomenal, pois financia pesquisas em tratamento de câncer, diabetes, doenças cardíacas, Alzheimer, entre outras. A Grande Loja inglesa também ajuda as vítimas de desastres naturais no exterior.

Fonte: Livro Maçonaria no Mundo: Potências, Lojas, Obreiros e outras questões relevantes (autor: Lourival Cunha; Editora A Trolha).

O JUDAÍSMO NA MAÇONARIA - Michael Winetzki