janeiro 22, 2023

BEM-VINDO REI SOL - Adilson Zotovici




Bem-vindo sejas Rei Sol 

Com teu poder envolvente

Tão grandioso e silente,

Pra ver cantar o rouxinol 


Em teu abraço quente

Trazes vida,  energia,

A quem contigo se extasia

E também ao indiferente 


És a manhã de cada dia 

A festa do entardecer

Prenunciando o anoitecer

Com teu poente que inebria 


Embalas o adormecer

Do povo que se extenua

Emprestando alva luz à Lua

Até um novo dia nascer


Em cada canto, cada rua,

Presença perene, constante,

Despercebido até, inobstante,

Tua caminhada...continua 


Segue majestade adiante 

Concedendo pois, teu perdão

Pela indiferença, ingratidão,

D’algum súdito errante 


Feliz aquele cidadão

Que te contempla desde o céu 

Estrela-mor do infinito dossel

A nós és Rei, de DEUS... a Mão !


janeiro 21, 2023

A RELIGIÃO QUE ME HABITA - Newton Agrella

 


21 DE JANEIRO - 
Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa


Minha religião não tem nome.

Ela é apenas resultado de causa e efeito.

Minha religião não impõe dogmas.

Ela é um instrumento de culto ao espírito e ao intelecto.

Minha religião não estabelece limites. 

Ela se ocupa de respeitar a fé e a razão como uma possibilidade real e necessária da minha sobrevivência.

Ela aponta o caminho que me instiga à contínua busca da minha consciência.

Minha religião ensina que todas as denominações são trilhas diversas para buscar fazer o bem e a ajudar a entender a razão da minha existência.

Não importa o nome, as práticas ritualísticas ou tampouco sua liturgia.

Basta que eu compreenda que sou fruto de um princípio criador e incriado e que me manifesto como resultado dessa referência.

Minha religião não obedece uma doutrina nem invoca pra si a dona de uma verdade absoluta.

Minha religião é a essência humana que habita em mim e que se identifica através de infinitas emoções, sentimentos e sensações que consigo exprimir.

Minha religião sou eu. 

Simplesmente porque sou uma partícula de Deus.


SÓLON - O PAI DA DEMOCRACIA (638-558 a.C.) - Eduardo Szklarz





Sólon acabou com a transmissão de poder hereditária e abriu o acesso aos altos cargos do governo para todos os cidadãos

Na Grécia antiga, os aristocratas tinham tanto orgulho da sua origem que se diziam descendentes dos deuses. Cada família recitava a longa lista de antepassados até chegar ao patriarca divino. Com Sólon (638-558 a.C.), não foi diferente: ele traçava a sua origem até Poseidon, o deus grego dos mares. Mas, diferentemente dos outros nobres, Sólon importava-se com os “reles mortais” e dedicou a vida a construir uma sociedade mais justa e igualitária. De tal forma que os historiadores o consideram o pai da democracia ateniense.

“Sólon integra a lista dos Sete Sábios da Grécia ao lado de figuras como o matemático Tales de Mileto“, diz o filósofo Ron Owens, da Universidade de Newcastle (Austrália), no livro Solon of Athens. “Foram feitas várias listas dos sete sábios, e Sólon está em todas elas. A sua influência não era mesmo de desprezar: ao menos 115 autoridades do mundo antigo mencionam-no nos seus escritos, entre eles Aristóteles (384-322 a.C.).”

Apesar da glória entre os seus pares, Sólon é hoje quase um ilustre desconhecido. Sempre que se fala em Atenas, vêm à mente filósofos e matemáticos, mas nunca um sujeito como ele – misto de mercador, poeta e legislador. Afinal, quem foi Sólon? E o que ele agregou à história das ideias?

Sociedade em frangalhos

Sólon nasceu provavelmente em 638 a.C., em Atenas, numa família nobre em decadência. A Grécia estava dividida em dezenas de cidades-estados (poleis, plural de pólis), com governos independentes e uma cultura religiosa comum. Em Atenas, mandava a aristocracia dos eupátridas (os “bem nascidos”), que nomeavam arcontes (magistrados) para legislar em causa própria. Os pobres não tinham acesso ao poder político e muitas vezes pagavam as suas dívidas com escravidão.

Sólon presenciou estas injustiças ainda jovem, quando embarcou em viagens mercantes para tentar recompor a fortuna da família. Ele viu que artesãos e pequenos proprietários de terras eram alijados das decisões políticas e sempre perdiam para os nobres em disputas judiciais.

“A maioria dos camponeses era leal aos aristocratas porque dependia deles para se proteger dos inimigos de Atenas. Mas a população em geral estava cada vez mais insatisfeita“, diz o historiador Bernard Randall no livro Solon: The Lawmaker of Athens.

A oligarquia vetava até os mercadores que enriqueceram com o comércio entre a Grécia e o mundo mediterrâneo. Eles tinham dinheiro suficiente para adquirir armas e terras e por isso esperavam obter uma fatia do poder político. Mas continuaram fora do Areópago, o conselho que escolhia os magistrados. A sua única forma de ganhar uma causa na Justiça era subornando o juiz.

“Com o tempo, mais mercadores se tornaram ricos e viram que a única forma de obter poder seria por meio da força“, diz Randall. De facto, ao longo do século 7 a.C., vários tiranos deram golpes em oligarquias gregas com o apoio dos novos-ricos. Em 632 a.C., o nobre Cylon tentou usurpar o poder em Atenas com o respaldo da ilha vizinha de Megara, onde o seu sogro governava com mão de ferro. Mas o plano falhou e Cylon fugiu.

Em 621 a.C., para tentar colocar ordem no caos, o arconte Drácon elaborou um código de leis duríssimas contra o crime. Um simples roubo era punido com a morte. Não é à toa que “draconiano” passou a ser sinónimo de extrema rigidez. No entanto, nem mesmo as leis de Drácon acalmaram os ânimos.

Da poesia para as leis

Sólon foi o primeiro poeta ateniense cujos versos sobreviveram até aos nossos dias. Fragmentos da sua obra, citados por Plutarco (46-120) e outros filósofos, mostram que ele denunciava as iniquidades da época. E nem por isso ele deixou de ser respeitado pelos nobres. Aliás, sempre manteve a fama de sábio e justo. A sua entrada na política aconteceu durante uma guerra entre Atenas e Megara pela soberania da ilha de Salamina (onde nasceu). Não há registos precisos, mas estima-se que milhares de atenienses tenham morrido em combate. O governo teria até desistido, mas tudo mudou quando Sólon correu para a ágora (praça principal da pólis) e declamou uma ode a Salamina.

“Prefiro renunciar à minha cidade natal e me tornar cidadão de Folegandros (minúscula ilha grega no mar Egeu) a continuar sendo chamado de ateniense, marcado pela vergonha da rendição de Salamina!“, teria dito, motivando os conterrâneos a retornar à batalha.

Segundo Plutarco, Sólon teve papel activo na estratégia militar que debilitou o inimigo e levou Atenas à vitória. Foi assim que ganhou fama de soldado. Em 594 a.C., foi nomeado arconte e realizou reformas que ajudaram a cimentar o caminho ateniense rumo à democracia.

A sua primeira medida foi promulgar um código de leis escritas que aboliu a escravidão por dívida e proibiu os homens de vender filhas e irmãs. Também alterou o código penal de Drácon. Segundo a nova lei, o ladrão teria de compensar a vítima com o dobro do valor do produto roubado. Ao que tudo indica, o arconte poeta só manteve a pena capital para os homicidas.

Ascensão social

Talvez a grande decisão de Sólon tenha sido substituir o sistema de poder hereditário por outro baseado no dinheiro. Parece injusto, mas foi uma forma de aproveitar a mobilidade social para ampliar o acesso ao poder político. Classificou os habitantes em 4 classes. No topo, estavam os pentacosiomedimnos, donos de terras. Abaixo vinham os hippeis, que tinham dinheiro suficiente para manter um cavalo ao serviço do Estado nas guerras – um luxo para poucos. Em seguida, estavam os zeugitas (a “classe média”) e finalmente os tetes, os mais pobres.

Quanto mais rico o cidadão, mais alto o cargo público que ele podia ocupar. Para quem viveu nesse tempo, quando o poder se perpetuava entre os mesmos sobrenomes, esta foi uma bela mudança rumo à democracia.

Como muita gente podia acumular certa riqueza – graças ao comércio crescente, por exemplo -, o novo sistema era mais igualitário que o anterior. Os tetes não podiam disputar os cargos, pois temia-se que fossem mais propensos a receber subornos. Mas Sólon deu-lhes o direito de se defender nos processos judiciais e de integrar o júri. Mais importante: deu luz verde para que o cidadão com mais de 18 anos participasse da Ekklesia (Assembleia), inclusive os tetes (mas não os escravos, pois esses não eram considerados cidadãos). A Assembleia promulgava leis e decretos, decidia a concessão de privilégios, servia de palco para debates políticos e influía na escolha de arcontes (magistrados). Portanto, quem diria, os mais pobres podiam influir na formação do temível Areópago.

A pauta da Ekklesia era definida pelo Conselho dos 400 (formado por 400 cidadãos de todas as classes, excepto os tetes). As mulheres não votavam, mas justiça seja feita: veja-se o que aconteceu por todo o mundo nos tempos modernos.

“Assim como o filósofo Sócrates (469-399 a.C.), Sólon tentou criar pontes entre os extremos da sociedade e uma nova unidade dentro do Estado“, diz Victor Ehrenberg em From Solon to Socrates (De Sólon a Sócrates). “Ambos são símbolos da moderação e clareza mental que fizeram a grandeza de Atenas“. Em 561 a.C., 30 anos depois das reformas, o tirano Psístrato usurpou o poder em Atenas – com a bênção do Conselho dos 400.

Ao saber da notícia, Sólon interrompeu uma longa viagem pelo Egipto e Chipre e voltou a Atenas para tentar mobilizar a massa. Não conseguiu. Mas a democracia continuou a evoluir mesmo após a sua morte (3 anos depois). Em 508 a.C., as suas reformas foram levadas adiante pelo legislador grego Clístenes. E, no século 5 a.C., continuaram com Péricles e Efialtes. “O principal método de escolha para cargos públicos era o sorteio, tido como o mais igualitário“, diz o cientista político Robert Dahl no livro “Sobre a Democracia”.

Para ele, um cidadão ateniense tinha uma possibilidade razoável de ser sorteado ao menos uma vez na vida.

Segundo alguns historiadores, Sólon decepcionou muita gente. Os ricos diziam que as suas inovações foram longe demais, e os pobres reclamavam que foram insuficientes (queriam a reforma agrária). Nem o sábio conseguiu agradar a gregos e troianos.


janeiro 20, 2023

DO APRIMORAMENTO PESSOAL - Heitor Rodrigues Freire



Descobrir o significado da vida e para que estamos aqui se constitui num grande enigma, que cabe a cada um decifrar.

O grande compromisso que se tem é consigo mesmo. Cada um é o responsável único por seu aprimoramento pessoal e sua evolução espiritual, que acontecem por ato próprio. Não depende de ninguém mais. Muitas pessoas não têm ainda a consciência dessa responsabilidade.

E o aprimoramento começa com o aperfeiçoamento e a prática de uma palavra sã. E esse aprimoramento depende diretamente da qualidade da palavra. 

Vivemos envolvidos com nossas obrigações, responsabilidades, compromissos, questões financeiras, etc. que nos levam a descuidar de algo fundamental: a qualidade da nossa palavra, que vai se deteriorando aos poucos quando começamos a usar expressões chulas, de gíria, de imitação de alguém que nos influencia, chavões, bordões, etc.

Percebo que o ser humano não leva em consideração o que é primordial. Está permanentemente voltado para o acessório, com o peso do passado e o medo do futuro, para os seus interesses momentâneos, envolvendo-se com as angústias, sofrimentos, doenças, dores, necessidades de sobrevivência, busca de realização financeira, deixando de considerar o que representa, de fato, sua evolução mental e espiritual.

Isso decorre do desconhecimento da verdade básica: Deus está em tudo e acompanha tudo. Ele nos orienta permanentemente. Nós é que não ouvimos Sua voz, porque estamos preocupados com questões menores.

O homem está voltado para a horizontalidade, vive no piloto automático, no faz de conta, para seus interesses imediatos, deixando de considerar a verticalidade. Não olha para o alto; falta-lhe a dimensão da eternidade, a consciência de que somos seres eternos, de que a vida na Terra é apenas uma parcela infinitesimal de nossa existência. Não compreende que a morte não existe, que ela é somente uma passagem para a dimensão espiritual.

Como poderíamos, com nossa percepção primária, avaliar o todo? Percebo que, como a humanidade está em evolução, não há como ter uma visão completa ou acabada. Fazemos parte de um processo evolutivo em constante ação. Tudo está a evoluir.

Assim, como elementos participantes do processo, penso que nos cabe analisar e aceitar o que não podemos ainda entender.

Aprendi que tudo faz parte de tudo. Ou seja, não há nada fora, tudo está dentro. E esse tudo engloba tudo mesmo. Todos somos irmãos, fazemos parte do programa de Deus. Tudo está interligado. Deus está em tudo. No ar, na água, na pedra, na natureza, em todos os seres. 

Assim, devemos ir aprendendo e praticando o aprendizado para que se possa confirmá-lo. Só confirmando é que poderemos entender. Se não houver entendimento, tudo ficará no terreno da especulação. Será que é assim mesmo? 

Aprendi que, na realidade, as qualidades que ornam o caráter das pessoas decorrem diretamente da consciência de cada um. Aprendi também que a consciência é o altar onde se deve prestar culto a Deus. A consciência é também, a guardiã do ser e a fonte da força individual. 

Assumir a responsabilidade por nossa própria vida deve ser uma constante. Prosperidade não acontece assim, simplesmente, e não é algo que devamos apenas esperar ou que nos seja dado por uma "força oculta" ou superior. É fruto de envolvimento, dedicação pessoal e de novos e saudáveis hábitos que temos que desenvolver. Pessoas de sucesso criam condições para a sua própria realização. A cada dia, faça pelo menos uma coisa que o deixe mais perto do alcance dos seus objetivos. Você vai poder constatar – vai valer a pena!

É ter sucesso e sentir-se realizado e satisfeito, em cada área da vida. Deve se ter um certo grau de consciência para criar abundância em todas as áreas da vida. Vislumbrar o que se deseja em termos pessoais, materiais, financeiros e espirituais para se sentir satisfeito. Mudar pensamentos, crenças, emoções e padrões de comportamento, para permitir que uma nova ordem se estabeleça e partir para a ação.

O aprimoramento pessoal é uma conquista que cada um deve priorizar permanentemente.


AL KINDI - UM GÊNIO ARABE - Mansur Peixoto



 “Não devemos ter vergonha de apreciar a verdade e de obtê-la de onde quer que ela venha, mesmo que venha de povos distantes e nações diferentes da nossa.  Nada deve ser mais caro para o buscador da verdade do que a própria verdade, e não há deterioração da verdade, nem depreciação de quem a fala ou a transmite.”

- Abū Yūsuf Yaʻqūb ibn ʼIsḥāq aṣ-Ṣabbāḥ al-Kindī 

Al-Kindi foi um polímata, matemático, médico e teórico da música árabe-muçulmano, e o primeiro dos filósofos peripatéticos islâmicos, sendo aclamado como "pai da filosofia árabe".

Figura proeminente na Casa da Sabedoria em Bagdá, os califas abássidas o nomearam para supervisionar a tradução de textos científicos e filosóficos gregos para a língua árabe. Este contato com a filosofia dos antigos teve um efeito profundo sobre ele, pois sintetizou, adaptou e promoveu a filosofia helenística e peripatética no mundo muçulmano. O tema central que sustenta os escritos filosóficos de al-Kindi é a compatibilidade entre a filosofia e outras ciências islâmicas, particularmente a teologia.

 Posteriormente, ele escreveu centenas de tratados originais de sua autoria sobre uma variedade de assuntos, desde metafísica, ética, lógica e psicologia, até medicina, farmacologia, matemática, astronomia, astrologia e ótica, e mais além, para tópicos mais práticos, como perfumes. , espadas, joias, vidro, corantes, zoologia, marés, espelhos, meteorologia e terremotos. Foi também um grande musicoterapeuta. 

No campo da matemática, al-Kindi desempenhou um papel importante na introdução dos numerais indianos no mundo islâmico, e seu posterior desenvolvimento em algarismos arábicos junto com Al-Khwarizmi  eventualmente foi adotado pelo resto do mundo. Al-Kindi também foi um dos pais da criptografia, tendo seu trabalho dado origem ao nascimento da criptoanálise, sendo o primeiro uso conhecido de inferência estatística, e introduzindo vários novos métodos de quebra de cifras, termo de origem árabe, principalmente análise de frequência. Usando sua experiência matemática e médica, ele foi capaz de desenvolver uma escala que permitiria aos médicos quantificar a potência de sua medicação.

janeiro 19, 2023

UM LIVRO EM HEBRAICO ESCRITO POR D. PEDRO II.


Durante toda sua vida, o Imperador Dom Pedro II voltou-se especialmente para o aprendizado de idiomas; estudou grego, latim, inglês, francês, italiano, provençal, alemão, tupi, guarani, hebraico, sânscrito e árabe. Traduzia por prazer, para treinar o conhecimento e a fluência nos vários idiomas que cultivava. Embora sua atividade tradutória esteja inserida em um contexto mais pessoal do que político, as traduções que D. Pedro realizou, em especial a partir da língua hebraica, adquiriram relevância perante historiadores da cultura judaica que reverenciam a atuação do imperador na preservação da memória do povo judeu. 

Em seu exílio escreveu D. Pedro um livro de gramática hebraica, em francês, e traduziu do hebraico para o francês a canção “Had Gadiá”, da Hagadá de Pessach , por entender que esta canção refletia a essência da justiça divina e seu poder sobre a vida e a morte.

Traduziu também, de um jargão misto de hebraico e provençal, para o francês, três cânticos litúrgicos antigos (séc. XVI ou XVII), que costumavam ser entoados nas festas de Brit Milá  e Purim  por algumas comunidades na Provence.

Sobre estas traduções observou Sokolov:

“Nenhum de nossos homens de letras teve a idéia de salvar do esquecimento e da perda estas peças do folclore judaico, até que veio o imperador brasileiro e coletou-as, interpretou-as, traduziu-as e publicou-as, com total fidelidade aos originais”.

No livro que publicou com estas traduções, aduziu D. Pedro na introdução a história destas canções e seu valor literário, para que seus leitores pudessem captar a luminosidade oculta nos tesouros da literatura hebraica.

No prefácio deste livro, declarou o monarca brasileiro seu amor pela língua hebraica e descreveu as sucessivas etapas de seu estudo, mencionando com reverência os nomes de seus professores de hebraico, como citamos anteriormente

O linguista judeu alemão Christian Fredrich Seybold (1859-1921), foi um erudito que lecionou hebraico ao Imperador, chegou ao Brasil em 1887, atuou como correspondente da Real Academia de la Historia de Madri, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Arqueológica da França.

No fim de seus dias no exílio em França, D. Pedro II conheceu o rabino de Avignon, Benjamin Mossé, e lhe ofereceu uma Tradução de Antigos Cantos Litúrgicos Judaicos. O rabino sugeriu ao monarca que traduzisse poemas litúrgicos da Provence. Este convite deu origem às “Poésies hebraïco-provençales du Rituel Israélite Comtadin” (1891), de autoria do próprio Imperador.

O rabino Mossé escreveu ainda uma biografia em francês sobre o monarca brasileiro. Em carta a Pedro II (09/08/1890), diz: “Uma das mais belas retribuições de minha vida, será apresentar, como historiador francês, o maior dos modernos imperadores: D. Pedro II. Desejo que Vossa Majestade seja o primeiro a ler este livrinho que escrevi, quase todo, visando muito ao efeito que deve produzir, não só no estrangeiro, mas principalmente no Brasil”. 

Dom Pedro II sabia tão bem o idioma hebraico que em 1887, uma delegação de judeus da Alsácia-Lorena, representando a comunidade judaica do Rio de Janeiro, foi recebida, em grande estilo no seu Palácio em São Cristóvão. O monarca surpreendeu a comitiva, falando- lhes em hebraico clássico:

“Bem aventurados aqueles que viram D. Pedro II, Imperador do Brasil, e o ouviram falar na língua sagrada. Bem aventurados todos aqueles que o saudaram e foram por ele saudados” escreveu o rabino Israel Isser Goldblum, que visitou o Imperador em São Cristóvão. D. Pedro estudou hebraico durante toda a sua vida e quando foi deposto pelos republicanos em 1889 encontrou alívio para o seu sofrimento no exílio estudando línguas, aprofundando especialmente o conhecimento da gramática e da literatura hebraicas. Um dos seus biógrafos, Georg Raeders, assim descreveu: 

“A fim de encontrar consolo em seus anos de exílio, ele também estudou grego e árabe, mas acima de tudo sentia-se atraído pelo hebraico. E a razão disto era que em seu exílio ele se identificava com um povo que também vivia exilado." 

A relação do Imperador Dom Pedro II com os judeus ia muito além de seu interesse pelo idioma hebraico, que estudava intensamente. Inclusive parte de sua família, os Braganças tem ascendência hebraica, na história de Inês de Pirez, cristã nova e mãe do primeiro Duque de Bragança.

Fonte: Poésies Hébraïco-Provençales du Rituel Israélite Comtadin. Traduites et Transcrites par S.M. Dom Pedro II D’Alcantara, Empereur du Brésil. Avignon 1891/Judaísmo na Corte de D. Pedro II por Reuven Faingold/ A história dos judeus no Rio de Janeiro. Henrique Veltman.

Ref Brazil Imperial

A ORIGEM DE "ALGARISMO" - Mansur Peixoto



 Nas últimas décadas, um gentílico árabe medieval (alcunha designativa da ligação de alguém ao lugar de onde veio) ganhou destaque através do inglês nos idiomas mais difundidos do mundo. Muitos o utilizam no dia a dia, muitas vezes considerando o conceito a que se refere como essencialmente misterioso, como foi quando surgiu na Idade Média, e deu a pessoas que introduziram a matemática árabe na Europa cristã a fama de feiticeiro ou bruxo, como foi o caso do papa matemático Silvestre II. 

A palavra é algoritmo , cujas raízes remontam ao século IX, no Grande Irã. Lá viveu um polímata persa chamado Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, sendo ‘’al-Khwarizmi’’ um gentílico que significa em árabe ‘’o Corásmio’’, pois foi na Corásmia que nasceu este grande cientista muçulmano de quem agora nos lembramos por suas realizações em geografia, astronomia e matemática. 

Nesse último campo, ele foi o primeiro a definir os princípios das equações de “redução” e “balanceamento”, assunto que todos conhecemos na escola como álgebra (nome que vem do árabe  al-jabr , ou “a redução’’, que é o título de um dos seus livros).  

Foi fazendo uso dos métodos de cálculo de al-Khwarizmi que um milênio depois o criptoanalista britânico Alan Turing (m. 1954) descobriu como, em teoria, uma máquina poderia seguir instruções algorítmicas e resolver matemática complexa. A função essencial de um algoritmo é processar dados, hoje em dia muitas vezes em grandes quantidades e de vários tipos, e cada vez mais com o auxílio de sofisticados processos de aprendizado de máquina. Este foi o nascimento da era do computador, e, posteriormente, a como estes padrões são utilizados para cooptar e reproduzir suas preferências de conteúdos e propaganda em redes sociais e plataformas de streaming.

janeiro 18, 2023

A VIDA É UM SOPRO! - Roberto Ribeiro Reis



Ela, de tão repentina,

Parece pequena, um instante;

E oculta algo importante,

Mesmo se cega é a retina.


Ainda que sacra ou libertina, 

Vivê-la é pra lá de relevante;

Tem dor, sangue e, inobstante,

É amor que a sorte descortina.


Parece a flor, flor de menina,

E desabrocha exuberante,

A morte para ela é pequenina.


Tem luz tão desconcertante

Que a melhor alma desatina:

A vida é um sopro excitante!




OS IRMÃOS INVISÍVEIS NA MAÇONARIA. - Orlei Figueiredo



A Maçonaria, entre as virtudes que valora, prega seus conhecimentos e os transmite através dos seus Ritos, Liturgias e dos exemplos de irmãos, maçons dedicados, através de suas obras construtoras do bem comum, tanto as traçadas em pranchas de arquitetura como em atitudes pessoais. 

Acredito que, - a defesa e a pregação da  liberdade do pensamento - é um dos princípios fundamentais que mantém nossa Ordem viva, atuante, sempre atual, capaz de conduzir o maçom pela infinita senda do estudo e do conhecimento das ciências humanas, perfeitamente ajustadas e obedientes, as Leis de Deus, o Grande Arquiteto do Universo.

Leis que sempre se revelam, de modo esotérico, oculto, ou filosófico, sem favores pessoais, aos que se dedicam adentrar com amor, humildade e boa fé nos Seus Augustos Mistérios.

Desta forma, as três Colunas do Templo, representando a Força, a Beleza e a Sabedoria, carecem sempre de uma perfeita interação, para que haja a paz, a harmonia e a concórdia. 

Para isto, deve prevalecer, da parte dos três irmãos que comandam uma Oficina de Trabalho, o desejo sincero, fraterno e adorável, da compreensão de que seus irmãos, presentes em Sessão, são diferentes em muitos aspectos, como o meio onde foram criados, o meio onde vivem na vida profana, as suas vivencias pessoais e, - as suas crenças, ou seja, o modo que creem em Deus. 

Porque a Maçonaria apenas exige que, - o homem profano, para que se torne um maçom, creia num Ente Espiritual Superior, Deus.

Faço estas considerações, para dizer que, temos irmãos maçons que acreditam na presença de espíritos desencarnados assistindo as Sessões, principalmente os irmãos maçons que partiram para o Oriente Eterno.

Temos irmãos maçons que acreditam que Irmãos Invisíveis são todos os irmãos maçons presentes em Sessão e na Cadeia de União, através dos seus pensamentos, pois muitos estão participando de outras milhares de Lojas espalhadas por todos os continentes do planeta Terra. 

E, quando em cada uma delas forma-se uma Egrégora, ou seja, uma energia igual, semelhante, a qual envolve os irmãos, unindo-os, não importando a distância que os separe.

Temos ainda, irmãos maçons que acreditam apenas no Grande Arquiteto do Universo, que se manifesta em Sessão através da Escada de Jacó, na qual os Anjos, - Mensageiros de Deus, sejam os Irmãos Invisíveis, que trazem as bênçãos prodigalizadas pelo Supremo Criador e levam até Ele, os rogos e os pedidos feitos, mentalmente pelos irmãos presentes, unidos fraternalmente na Cadeia de União.

O homem maçom é um livre pensador!

Precisamos convir que vivemos em Loja e fora dela, as influências das energias circulantes.

Somos individual e coletivamente, um somatório de energias.

Emitimos e captamos energias.

Lembremos das velas que iluminam o Templo!

Uma vela acesa permite que o número de velas necessárias para um determinado Grau que, acontece em Loja, sejam todas acesas em sua chama.

Mesmo, - cedendo a luz de sua chama, a vela que permite que sejam acessas as demais velas continua flamejante, não perde a intensidade de sua luz, até que termine sua composição formada por materiais orgânicos ou minerais, - velas de cera ou parafina, ou seja apagada ritualisticamente.

Desta forma, precisamos nos conscientizar da importância das nossas doações energéticas, pois, com a luz que emana, irradia de cada um de nós, irmãos maçons, é que contribuiremos positivamente para que a paz, o perfeito entendimento, a união e a concórdia se estabeleçam, para a formação da Egregora renovadora, encorajadora, moderadora, pacífica, prudente, fraterna e amorável,  continue permanecendo conosco, nos conduzindo de forma segura pelos caminhos do mundo.

Até que na próxima Sessão possamos repetir, todos estes procedimentos, capaz de nos tornar verdadeiramente irmãos, aptos ao trabalho de contribuirmos positivamente com nossos amados familiares, irmãos e amigos.

Também o de mantermos sempre o ideal de tonarmos feliz a humanidade.

Lembremos sempre que certas discussões apenas promovem vaidades!

Temos o direito de pensarmos diferente sobre vários temas e assuntos, porém não podemos jamais impor aos outros, aos demais irmãos maçons, as nossas próprias "verdades".



janeiro 17, 2023

EGO ESPIRITUAL X RELACIONAMENTOS




No filme "Eu não sou seu guru", Tony Robbins disse mais ou menos assim: 

_Você pode ter força espiritual, meditar todos os dias e ser o melhor nisso, mas se não sabe se relacionar, não evoluiu nada. 

Essa é a mais pura verdade! 

O que mais vemos por aí é uma galera grande se achando evoluído porque tem uma religião, porque faz caridade, porque faz Yoga, porque é vegetariano, porque medita... 

O que nos faz crescer e evoluir são as nossas relações.

São elas que nos mostram verdadeiramente quem somos. 

De nada adianta fazer tudo isso se ainda não sabemos nos relacionar e se não estivermos conscientes de que essa é a única forma de crescer. 

Porque meditar é fácil! Frequentar casas espirituais também!

Ser generoso dentro dos templos é mais fácil ainda! 

O difícil é trazer tudo isso pro dia a dia, nas relações.

Porque nelas experimentamos intimidade e na intimidade as nossas vulnerabilidades são expostas. 

É aí que mostramos mesmo quem somos. 

É aí que as nossas sombras aparecem.

E é aí, no dia a dia das relações, que podemos nos trabalhar para melhorar. 

Nesse momento da intimidade, as mentiras que contamos pra nós e para o mundo, não se sustentam.

Não tem meditação, Yoga, ou Espiritualidade que sustente as nossas mentiras. 

É claro que tudo isso nos conduz a um lugar melhor de nós mesmos.

É maravilhoso fazer tudo isso. 

Mas não basta! 

Todas essas coisas são parte do caminho, parte do caminhar.

Todas essas formas de nos acessarmos fazem parte da teoria, mas a prática mesmo são os relacionamentos. 

_Não basta meditar todo dia e se aborrecer constantemente com o(a) companheiro(a), ou com os filhos, ou com os pais. 

_Não basta se espiritualizar, fazer caridade e tratar mal o porteiro, o garçom, o caixa do supermercado. 

_E não basta achar que somos maravilhosos e seres elevados se não conseguimos saber, de verdade, quem somos. 

_Não adianta fazer de conta que está se aprofundando, quando na verdade o olhar só fica na superfície, colocando a responsabilidade de tudo nos outros. 

O nome que se dá a todas essas pegadinhas é "Ego Espiritual".

E o mundo tá cheio deles. 

Pessoas que até têm uma boa intenção de transformação, mas que na maioria das vezes não conseguem reconhecer seus erros, suas falhas e vão colocando as responsabilidades daquilo que não deu certo, no outro. 

Então, é preciso estarmos atentos ao nosso ego espiritual. 

É preciso estarmos atentos a quem somos e o que lá no fundo desejamos. 

É preciso reconhecer que se nos julgamos melhores e/ou mais evoluídos porque não comemos carne, porque produzimos menos lixo, porque andamos de bicicleta ou por qualquer outra coisa, tudo o que não somos é evoluídos. 

Porque seres evoluídos não se comparam e não competem. 

Eles são o que são, sabem disso e não precisam provar pra ninguém. 

E se você descobriu que seu ego espiritual está gritando aí dentro, que bom! 

Fique feliz por estar se tornando consciente dele. 

Porque é só através dessa consciência que podemos melhorar. 

Seja bem-vindo ao mundo dos que são de verdade!!! 


O QUE POSSO FAZER ? - Adilson Zotovici



Indagou pedreiro inquieto

Por não entender a ventura

Desse canteiro o objeto

Nem antever semeadura


Lembrei-o com todo afeto

Que livrado da furna escura

Levado à Luz, vez que dileto

Da sua soturna clausura


Perguntou em tom discreto:

O que realizar  por ventura

A esse grupo tão seleto

Por essa sacra investidura ?...


Tens ferramental completo

À perfeição atém com candura

Na perenal trilha, discreto

Que brilha além da sepultura


Fez-nos o Grande Arquiteto

Rico bloco em pedra dura

A algo que medra, concreto

Uma lapidada criatura


Sem enganos, nada secreto:

Nos arcanos a propositura

“_Basta estudares o projeto_

_E lavrares tua própria escultura_” !!!



OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS E A PRETENDIDA ORIGEM DA MAÇONARIA - Pedro Juk



Em 19/06/2017 o Respeitável Irmão Demétrius Galego Davis, Loja José Caraver, 101, REAA, Grande Loja do Estado do Rio Grande do Sul, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta o seguinte:

Na atualidade, estou fazendo pesquisas para elaborar uma Peça sobre o tema "Cavaleiros Templários e as Origens da Maçonaria". Confesso ter recebido algumas dicas de pesquisa (Jacques De Molay, A Lenda do Santo Graal e a Arca da Aliança, etc.)... Mas, confesso que estou um pouco "perdido" para elaborar esse trabalho. Pelo exposto, gostaria de saber se o estimado Irmão teria alguma pesquisa já feita sobre esses temas, que poderiam ser úteis na elaboração da Peça de Arquitetura que ainda irei elaborar. Se o irmão tiver disponibilidade e aceitar compartilhar conhecimento comigo, serei muito grato.

CONSIDERAÇÕES:

De início devo mencionar que essa é daquelas bobagens que persistem em existir, devido à insistência de alguns autores que teimam em inescrupulosamente associar os Templários às origens da Maçonaria. 

Afirmativa temerária, querer associar a Ordem Templária com o florescimento da Maçonaria, pura e simplesmente, é mero elemento contraditório. 

É certo, porém que existem alguns graus dos chamados “Altos Graus e Graus Laterais” de alguns Ritos e Trabalhos maçônicos que mencionam práticas litúrgicas relacionadas aos costumes da Ordem da Milícia do Templo, todavia isso nunca teve nenhuma ligação com a autenticidade histórica, senão como um espécime estrutural e lendário para atender metodologicamente o aprimoramento dos iniciados. 

Ratifico: a Ordem da Milícia do Templo (Templários) não deve sob qualquer justificativa ser considerada como um elemento ancestral da Ordem Maçônica, salvo como um artifício alegórico de estudo para aplicação de uma doutrina. É o caso, por exemplo, do que acontece com o Templo de Jerusalém na Maçonaria que, mesmo sendo um dos principais ícones das suas alegorias doutrinárias, sob nenhuma hipótese se concebe, aos olhos da história autêntica, imaginar a existência de maçons construtores naquele período da História. 

O ideário do Templo surgiu não como um elemento histórico, mas sim como um método de estrutura doutrinária que se ocupou de construir a Lenda do Terceiro Grau. A fantástica Lenda é - como diz o sentido - apenas uma lenda.

Dados esses comentários seguem alguns apontamentos inerente à história dos Templários de Jacques De Molay.

A Ordem da Milícia do Templo, também conhecida entre os estudiosos como “Templários”, teve a sua fundação no ano de 1118 por Hughes de Payns e por um grupo de oito cavaleiros que tinham participado da cruzada de Godefroi de Bovilon. 

De início, denominavam-se Os Pobres Cavaleiros de Cristo, protegidos por São Bernardo adotaram o nome de Templários na ocasião em que Balduíno II, rei de Jerusalém, instalou-os em um palácio contíguo ao antigo e lendário Templo de Jerusalém, também conhecido como o Templo de Salomão (sic). 

Confirmada como instituição em um concílio que estivera reunido em Troyes em 1128, foi dotada por regra monástica e militar, cujo regulamento severo e judicioso foi ditado pelo próprio São Bernardo.

Com o objetivo principal de proteger e escoltar os peregrinos que iam à Terra Santa, os Templários formavam a estrutura principal dos exércitos dos cruzados na Palestina. Adquiriram vultosas receitas advindas de grande número de doações e donativos, embora também contraíssem austeras despesas devido às costumeiras guerras que se envolviam (Cruzadas), bem como idealizadores da construção e manutenção de muitas fortalezas na Terra Santa.

Excelentes administradores, fiéis e organizados depositários de bens de natureza financeira, acabariam também, sob esse perfil, por se tornar banqueiros de papas, reis, príncipes e outros de situação abastada. Entretanto, devido ao acúmulo de riqueza, a Ordem Templária não demoraria a suscitar sobre si imensa cobiça por parte de muitos príncipes e governantes, os quais para justificar a cupidez, lhes atribuíam lendas malévolas e hediondas.

Organização dependente diretamente do Papa, os Templários logo excitariam também a malevolência dos bispos e demais autoridades que, no afã da cobiça, apelavam queixosamente com constância a Roma. Contudo, a Ordem era levada em alta conta pelo Papa e com isso o pontífice desviava-lhe os olhos dos seus defeitos naturais oriundos do perfil da dupla finalidade assumida pela Ordem, já que os seus integrantes eram ao mesmo tempo, monges e soberbos soldados.

Sob o perfil de valentia e temeridade, os Templários se tornariam homens orgulhosos e briguentos, embora também suscetíveis aos reveses sofridos pelos cristãos no Oriente o que acabaria por lhes proporcionar a diminuição de boa parte do seu prestígio.

Sob o estigma da cobiça muitas lendas caluniosas insidiam sobre os Templários a tal ponto de lhes comprometer a moralidade. Com isso era comum se ouvir, mesmo que velados, comentários embusteiros de que nos seus capítulos existia idolatria e devassidão. 

Foi assim que, sob a égide da cobiça e amargurado pela constante derrocada da economia do seu reino devido as incessantes guerras que movia contra os seus vizinhos e, temeroso pelo poderio circunstancial adquirido pelos Cavaleiros Templários; aconselhado pelos inescrupulosos que o rodeavam; o Rei Felipe, o Belo, conspirou para se apoderar dos bens da Ordem Templária. 

Em 14 de setembro de 1307, Filipe lançou ordem de captura de todos os Templários que se encontrassem em seu reino. Presos em 13 de outubro daquele ano por acusação de heresia e sodomia, perante a Inquisição, além de crimes de toda sorte, eles foram caluniados, espoliados, martirizados e condenados. Sob tortura, acabariam confessando tudo àquilo que era conveniente ao Rei, das quais, inclusive a renegação de Jesus Cristo e adoração a Baphomet, pretenso ídolo que chegou a ser relacionado com Maomé. 

Assim, em 1308 os Estados Gerais de Tours declaravam a condenação à morte dos integrantes da Ordem, enquanto o Concílio de Viena em 13 de abril de 1312, na França e com a conivência do Papa Clemente V, submisso ao Rei Felipe IV (o Belo), pronunciava a sua completa supressão.

Com toda a sorte de multiplicação de torturas os inquisidores conseguiram confissões de culpabilidade de alguns dos altos dignitários da Ordem, dentre os quais do seu último Grão-Mestre, Jacques De Molay. Não querendo, entretanto, confirmar as confissões que lhes foram arrancadas, sob tortura, miséria e falsas promessas, esses dignitários retrataram-se (desmentiram as confissões) perante o público o que deixou irado o rei devasso, condenando-os à morte como relapsos, os quais foram queimados vivos em 13 de março de 1314.

De qualquer maneira, pela organização, prestígio e riqueza da Ordem ela não seria completamente exterminada e muitos dos seus adeptos conseguiriam burlar os destinos condenatórios se refugiando no norte da Inglaterra até o fim dos seus dias, principalmente na Escócia. 

Conhecedores de muitos segredos relativos à arte e as ciências aprendidas com os árabes durante as suas perambulações pelo Oriente Médio, seria mais do que normal para os Templários, pelas suas habilidades e conhecimento, se integrarem às Guildas de Construtores Medievais que haviam florescido no norte da Inglaterra e distante do poderio eclesiástico de Roma.

Assim, sobre esses acontecimentos é que desafortunadamente muitos autores, uns por desatenção e outros por puro ufanismo, inverteram os acontecimentos sem observar as narrativas originais e notáveis dos fatos. Muitos pesquisadores desatentos acabariam por montar uma falácia na histórica “achando” que os maçons construtores da Idade Média teriam se originado na Ordem da Milícia do Templo.

Outro importante pormenor dessa história e que também merece muita atenção por parte do pesquisador é que antes da dispersão dos Templários para o norte da Europa, ainda nos tempos áureos da Ordem, muitos maçons operativos foram atraídos e contratados para construir e reparar, junto com as Compagnonnages, cidadelas e fortalezas idealizadas pela Milícia do Templo no caminho para a Palestina (vide a história das Cruzadas e das Compagnonnages francesas). 

Sem dúvida é inegável que a relação entre a Maçonaria Operativa e os Templários existiu, mas ela foi puramente profissional, estando, porém muito longe de se admitir que entre essas instituições houvesse uma afinidade de ancestralidade.

Do mesmo modo também nunca existiu nenhum vínculo de ascendência entre as Instituições quando as Guildas de Construtores Operativos da Idade Média na Escócia, precursores da Francomaçonaria, acolheram mais tarde, numa relação meramente econômica-profissional, os remanescentes dispersos da Ordem da Milícia do Templo.

A despeito desses comentários, ainda existem os tendenciosos e inescrupulosos “autores inventores” que procuraram associar intimamente a Ordem Templária com a Francomaçonaria. É o que se verá a seguir.

Quatro séculos mais tarde, em pleno século XVIII, já na Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, nasceu uma incrível fábula criada por fabricantes sem escrúpulos dos “Altos Graus” fantasiosos, a chamada “origem templária”, segundo a qual a Ordem do Templo, da qual alguns sobreviventes haviam se refugiado na Escócia, teria dado origem à Maçonaria!

Fantasia histórica, embora refutada várias vezes e até condenada na convenção de Wilhelmsbad[1] no ano de 1782 e desmontada pelo autêntico Albert Lantoine em La Franc-Maçonnerie chez elle (Francomaçonaria em casa), infelizmente essa falácia renasce periodicamente, apesar de contestada e contra atacada por inúmeros historiadores comprometidos com a verdade.

Allec Mellor in Dictionnaire des Franc-Maçons et de La Franc-Maçonnerie, 1979, Belfond, Paris, 1971-1979, citando o que escreveu Albert Lantoine em 1925, nos traz uma preciosa manifestação com autenticidade: “Essa reputação revolucionária adquirida pela Ordem – que lhe fez tanto mal e da qual a Franco-Maçonaria francesa se orgulhava – aconteceu simplesmente porque, em sua loucura de grandeza, um devoto dos Altos Graus quis assinar o avental maçônico com a cruz vermelha dos Templários”.

À bem da verdade a criação dessa fábula se deve ao Barão de Hundt, o criador do Rito da Estrita Observância que, no século XVIII inventou sem fundamento histórico algum, ter Jacques de Molay nomeado um sucessor para substituí-lo como dirigente da Ordem do Templo e que o mesmo teria se retirado para a Escócia onde “havia fundado a Maçonaria!”. Irresponsavelmente o Rito Estrita Observância então se propunha a reivindicar os bens deixados pelos Templários daqueles que dele tinham se apossado e que posteriormente seriam distribuídos aos membros do Rito e dos quais seriam cobradas elevadas quantias em bens e riquezas para servirem de sustento aos seus dirigentes. Pura cafajestada que simplesmente intencionava apropriação indébita - coisas que certos copistas e espalhadores de inverdades teimam ainda em não reconhecer.

Vale a pena também mencionar um dos documentos básicos do escocesismo; o Discurso de André Miguel de Ramsay que, mesmo proibido na França pelo cardeal Fleury, acabou sendo pronunciado em 1737 na Inglaterra. Ramsay querendo dar um significado aristocrata para a Maçonaria, falava sobre os “cruzados”, embora não sobre os Templários em particular. Assim havia lançado uma fábula segundo a qual os “cruzados” teriam dado origem à Maçonaria. 

Na verdade esse engodo era para satisfazer o orgulho aristocrático dos maçons franceses da época que não se satisfaziam apenas com o prestígio obscuro dos construtores medievais. Assim, ligar à Maçonaria aos Templários era a “varinha de condão” para satisfazer o pavonismo latino, embora ainda ficasse um hiato de quatro séculos que separava os “Cruzados” da Maçonaria Especulativa, essa como Instituição ainda recente.

A fantasia foi fácil suprir esse hiato, bastando para tal apenas inventar que os Templários haviam sobrevivido secretamente por todo esse tempo, o que imediatamente satisfez os espíritos crédulos que raramente possuíam uma formação crítica (como acontece ainda hoje).

É fato também que em pleno século XXI ainda existem adeptos que excessivamente imaginam essa pretensa vida secreta e até mesmo muitas vezes se fantasiam a moda medieval.

Em 1806 surgia em Paris uma nova Ordem do Templo baseada num documento falsificado chamado de a Carta de Transmissão de Larmenius. Era mais um de outros embustes que vinha acompanhado de uma suposta lista de Grãos-Mestres Templários estabelecendo a sucessão de Jacques De Molay até Fabré-Palaprat no ano de 1804.

Na realidade essas Ordens neotemplárias acabariam todas ligadas deixando seus traços na Moderna Maçonaria francesa e nos Ritos compostos por Altos Graus, principalmente no REAA com seus graus de Kadosh e outros baseados nessas lendas, bem como em alguns side degrees (graus laterais) da Maçonaria inglesa.

Embora inúmeros pesquisadores e escritores maçônicos do século XVIII e XIX tenham se esforçado para encontrar palpáveis relações não fantasiosas entre os Templários e a Maçonaria Operativa, desde o discurso de André Miguel de Ramsay e posteriormente adornada como lenda pelo Barão de Hundt, em cuja qual ele substituiu o termo “cruzados” por “templários” afirmando que “todo o verdadeiro maçom é um cavaleiro templário” (sic), nenhum deles conseguiu encontrar elemento plausível de crédito para essas e tantas outras afirmativas temerárias.

Embora a existência das Compagnonnages (braço construtor templário), também era natural que grandes empreendedores como foram os Templários tenham tido nos seus tempos áureos a necessidade de contratar mais mão de obra especializada para as suas edificações, tanto sacras como as militares. 

As regalias que desfrutavam em seus domínios francos serviam perfeitamente para atrair com certa facilidade os operários das guildas construtoras garantindo-lhes subsistência em tempos difíceis de conseguir trabalho contínuo. Essa relação puramente profissional é o único elo existente na época das Cruzadas entre os Templários e a Francomaçonaria operativa, mas não ao ponto de se achar que uma pudesse ter dado origem a outra.

Já bem mais tarde, como já comentado, a outra relação que aparece entre ambas, reporta-se ao tempo do exílio dos Templários em fuga das perseguições na decadência da sua Ordem. Nessa oportunidade, ao contrário, foram as Guildas Operativas da Francomaçonaria que os acolheram dispersamente, inclusive valendo-se do seu prestígio e conhecimento. Mais uma vez o fato não nos dá o direito de afirmar “origens” entre uma e outra Instituição.

É desse período que podem ser encontradas inúmeras evidências de símbolos templários (espada) unidos a símbolos maçônicos operativos (letra G), todavia isso nunca autorizou afirmativas de origem ou influência, senão um momento da história em que muitos Templários se tornaram maçons na Escócia, ainda medieval, pelas próprias circunstâncias.

Dizer que a Maçonaria é filha dos Templários é proferir uma afirmativa temerária, já que isso nunca existiu. Ambas as Ordens, uma sacra e militar e a outra composta por canteiros medievais que trabalhavam na pedra calcária, podem ter caminhado juntas por conjunturas de momento, porém nunca existindo entre elas quaisquer ligações que possam sugerir “origens”.

Por fim, é certo que a Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, pelo seu ecletismo e na profusão dos seus ritos e rituais a partir do século XVIII, sobretudo no que concernem as doutrinas dos seus Altos Graus, possui na sua liturgia inúmeras passagens ritualísticas e lendárias que mencionam concepções hauridas de costumes templários, todavia esse não é um fato que possa leva a especulações temerárias como a de que a Maçonaria tenha se originado dos rudes monges militares da Ordem Templária.

Embora muitos autores ainda queiram encontrar na Ordem dos Templários os primórdios da Maçonaria, a realidade histórica tem mostrado que isso é mera fantasia, pois no seu auge, a Ordem dos Templários era muito mais dedicada ao belicismo religioso e às operações financeiras, embora nela até existisse um braço construtor, ou pelas Campagnonnage, ou circunstancialmente pela contratação de Francomaçons medievais. Já na sua decadência muitos Templários encontraram abrigo nas Guildas de Construtores, principalmente na Escócia. 


janeiro 16, 2023

O PROTAGONISMO DO EMBURRECIMENTO - Newton Agrella



Algo que assusta e que causa uma apreensão desmedida é o contínuo processo de emburrecimento que as pessoas estão sofrendo em todo o mundo.

A despeito do emprego da chamada alta tecnologia, assistências online, dispositivos e aplicativos, bem como a instauração de uma linguagem virtual e propositadamente impessoal, somado ao prolífero uso de expressões da lingua inglesa - como se isso simbolizasse algum status -  o que se percebe sistematicamente é o  descompromisso incessante com o exercício intelectual. 

As imposições de ideias e o dogmatismo contido nas pressupostas linhas de raciocínio "express" , na realidade têm se constituído em agentes depauperados da capacidade de pensamento humano.

Deparamo-nos a cada pouco com imagens, vídeos e áudios em que a pseudo tentativa de nos levar a uma elevação cultural, ou prestar-nos algum tipo de contribuição filosófica, quanto a maneira de interpretar a nossa existência e os valores que nos cercam, simplesmente caem num vazio e numa inconsistência estéril sem igual.

O processo de emburrecimento, por exemplo, se torna algo evidente quando o próprio sistema educacional desestimula a leitura e principalmente o abandono da forma maior e consagrada da escrita; ou seja, a "escrita cursiva", na qual a experiência de escrever de próprio punho, sentir o lápis e a caneta, estabelecer uma real conexão com o cérebro, estimular a elaboração de uma frase e a sensação única da criação, ficam relegadas a um segundo plano.

Não se propõe aqui, retroceder no tempo. Em absoluto.

O que se evidencia sim, é o indisfarçável proselitismo da digitação em teclados de notebooks e smartphones. 

O que de algum modo, tem auxiliado no elevado índice de analfabetos funcionais, que mal conseguem ler e escrever, mas que pior que tudo isso, acham-se destituídos de toda e qualquer capacidade de "interpretar um texto", bem como alijados de qualquer poder de argumentação, quando se vêem diante de um livro ou de qualquer peça literária.

Seja em qualquer âmbito cultural, e inclua-se aí a própria Maçonaria, o que se observa é a escassez de textos e de propostas que legitimem a Arte de Pensar, Refletir, Ponderar e Elaborar o Espírito Crítico, com bases consistentes e intransferíveis, em favor da evolução humana.

É óbvio que a tecnologia é uma aliada do progresso da humanidade, porém a cultura e a intensidade do pensamento intelectual é o alimento que nutre a Alma e o Espírito em consonância com o aprimoramento da própria Consciência.

Evoluir demanda entrega, esforço e determinação, enquanto emburrecer é meramente uma questão de acomodação.