junho 14, 2023

TRANSMISSÃO DA PALAVRA NA ABERTURA E ENCERRAMENTO - REAA - Pedro Juk









Em 18/07/2017 o Eminente Irmão Luis Carlos de Castro Coelho, Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente do Brasil – Goiás, a pedido de um Respeitável Irmão do Estado de Goiás, formula a seguinte questão pertinente ao REAA:

Estou sendo questionado no seguinte teor abaixo e gostaria de obter do mano a orientação devida que sei será cabível e precisa como sempre vem realizando para o engrandecimento de nossa Ordem.

"Eminente irmão Luis Carlos. Uma pergunta que sempre faço e até o momento não recebi uma resposta lógica. Se a Palavra Sagrada na abertura dos trabalhos sai do Venerável, por que no encerramento ela não volta a ele? No mundo inteiro no REAA a ritualística é essa?"

Desde já agradeço ao amado irmão pelo carinho sempre a nós demonstrado e externado.


CONSIDERAÇÕES:

É um grande erro imaginar que a Palavra Sagrada ao ser transmitida na abertura dos trabalhos, no seu encerramento ela tenha que voltar. 

Esse não é um simbolismo de partida e de retorno, mas sim de uma Palavra que dá sustentação a uma alegoria comum ao REAA. 

Em síntese, essa não é uma questão de “se ela partiu do Venerável”, tenha que ao final para ele voltar.

A alegoria da transmissão da Palavra, por comparação, simboliza o costume operativo antigo de se nivelar a base e aprumar os cantos da obra como condição primordial para que os trabalhos pudessem ser iniciados e também ao final da jornada, ou da etapa da construção, com a conferência dos serviços para se certificar se os trabalhos haviam transcorrido nos conformes. 

Nos canteiros de obras medievais, antes do início dos trabalhos o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre) solicitava através dos seus oficiais de chão (mais tarde, os Diáconos mensageiros) que transmitissem sua ordem aos seus auxiliares imediatos (Vigilantes, antigos wardens) para que eles, usando o nível e o prumo, nivelassem e aprumassem os cantos da obra (vide atualmente as joias dos Vigilantes). Aprumado e nivelado, estando tudo “justo e perfeito”, os Vigilantes comunicavam via oficiais de chão ao Mestre da Obra que então ordenava que os trabalhos fossem iniciados. 

Do mesmo modo isso acontecia ao final da etapa contratada da construção, quando então o Mestre, antes de pagar os seus obreiros, mandava os oficiais de chão transmitir ordens aos Vigilantes para que eles fizessem a conferência do trabalho executado. Se tudo estivesse de acordo com as exigências da arte, eles informavam que os trabalhos foram executados justos e perfeitos. Ao receber essa comunicação, o Mestre da Obra então mandava o Primeiro Vigilante fechar a Loja (canteiro de trabalho), pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos para o justo e merecido repouso, não sem antes recomendar que em breve (depois do inverno) deveriam retornar para o início de uma nova jornada de trabalho. 

Em síntese, note que é isso que exara o ritual de modo especulativo.

Como a Moderna Maçonaria não é mais uma construtora operativa, mas sim uma construtora social e nela o elemento primário (matéria prima) é o homem, o REAA⸫ adotou simbolicamente nos seus trabalhos a transmissão da Palavra Sagrada como elemento representativo da etapa inicial e final de um ciclo da construção (sessão da Loja). 

Assim, essa alegoria demonstra na Maçonaria Especulativa e do Rito Escocês Antigo e Aceito em particular que se a Palavra for transmitida conforme as exigências e costumes significa que tudo no canteiro (Loja) está apropriado para o trabalho e para a sua conclusão. Obviamente que tudo é simbólico e os Vigilantes não aprumam e nem nivelam literalmente cada um dos obreiros construtores do seu próprio interior, porém se a Palavra estiver correta, essa alegoria já satisfaz o objetivo. De modo especulativo a palavra correta significa uma base nivelada e um canto aprumado, mais especificamente uma pedra desbastada e esquadrejada pronta para ser utilizada na construção do edifício social.

Há que se notar então que é exatamente isso que o ritual procura demonstrar na transmissão conforme prevê a liturgia e a ritualística da Palavra Sagrada. Aliás, é oportuno mencionar que essa transmissão nada tem a ver com procedimentos de telhamento, assim como também nada tem a ver com ida e volta da Palavra no REAA. No ato de transmitir a Palavra pelos Diáconos para os Vigilantes, ela sempre se inicia pelo Venerável Mestre, tanto para a verificação inicial como para a verificação conclusiva – não existe “volta da palavra”.

É esse o significado simbólico da transmissão da Palavra Sagrada na abertura e encerramento dos trabalhos que ocorre no simbolismo do REAA.

Cabe mencionar que a liturgia da transmissão da Palavra só passou a ganhar forma gradativamente no REAA⸫ a partir do último quartel do século XIX e início do XX com a evolução dos seus rituais na França. Os primeiros rituais escoceses (a partir de 1804) não mencionavam a transmissão da Palavra.

Figuradamente o que dessa alegoria depende para estar “justo e perfeito” na Loja não é a eventual partida ou o retorno da Palavra, mas sim da forma como ela é transmitida, lembrando que essa transmissão sempre se dá entre Mestres Maçons (detentores de cargos em Loja), não importando o grau em que porventura a Loja esteja trabalhando. Ratifico: essa transmissão não é telhamento.

Como eu costumo publicar as respostas no meu blog, penso que é oportuno mencionar aos meus leitores que pesquisas sobre a história da Ordem e em particular a respeito da origem desse tema, devem ser direcionadas ao período operativo da Maçonaria, onde podem ser encontradas diversas informações fragmentadas nas antigas obrigações. Lembro ao pesquisador que nada se encontra pronto sobre a mesa. O historiador maçônico deve saber juntar as peças uma a uma para que as conclusões apareçam. Quem quiser pesquisar que o faça por esse caminho e não fique por ai cobrando uma obra pronta sobre o tema, ou o maldito peripatético “onde está escrito”. Muitas das definições da história estão nas entrelinhas dos registros documentais (hermenêutica).


junho 13, 2023

O GOLEM, Nossa Própria Criatura Lendária - Mendy Tal


 











Na tradição judaica, o Golem é mais conhecido como uma criatura artificial criada por magia, muitas vezes para servir ao seu criador.

A palavra "Golem" aparece apenas uma vez na Bíblia (Salmo 139: 16). Em hebraico, "Golem" significa "massa informe".

O Talmud usa a palavra como "não formado" ou "imperfeito" e, de acordo com a lenda talmúdica, Adam é chamado de "Golem", que significa "corpo sem alma" durante as primeiras 12 horas de sua existência.

O Golem também aparece em outros lugares do Talmud. Uma lenda diz que o profeta Jeremias fez um Golem. No entanto, alguns místicos acreditam que a criação de um Golem tem significado apenas simbólico, como uma experiência espiritual após um rito religioso.

O Golem é uma criatura de argila que foi magicamente trazida à vida. 

O Talmud relata uma história de rabinos que ficaram com fome durante uma viagem - então eles criaram um bezerro da terra e o comeram no jantar. 

Os cabalistas (místicos judeus) determinaram que os rabinos realizaram esse ato mágico por meio da permutação da linguagem, principalmente utilizando as fórmulas apresentadas no Sefer Yetzirah, ou Livro da Criação. 

Assim como Deus fala e cria, na história do Gênesis, o místico também pode. (A palavra Abracadabra, aliás, deriva de avra k'davra, aramaico para "Eu crio enquanto falo".) 

Assim, sob as mais raras circunstâncias, um ser humano pode imbuir matéria sem vida com aquela centelha de vida intangível, mas essencial: a alma.

De acordo com uma história, para dar vida a um Golem, deve-se modelá-lo do solo e, em seguida, caminhar ou dançar ao redor dele, dizendo uma combinação de letras do alfabeto e o nome secreto de Deus. 

Nos primeiros contos do Golem, o Golem era geralmente um servo perfeito, sua única falha sendo um cumprimento muito literal ou mecânico das ordens de seu mestre. 

No século 16 o Golem adquiriu o caráter de protetor dos judeus em tempos de perseguição, mas também tinha um aspecto assustador. 

Ao visitar a cidade de Praga, podemos nos deparar com a famosa narrativa envolvendo o Golem e o Rabi Yehuda Löw ben Betzalel, conhecido como o Maharal de Praga (1520-1609)

Na época do Maharal, eram grandes o ódio e a violência contra os judeus da cidade, o que resultava em muito sangue judeu derramado.

Rabi Löw teria criado o Golem com argila do rio Moldava para defender o gueto de ataques antissemitas e libelos de sangue.

Diz a lenda que ele moldou um boneco de argila com a aparência de um homem, que ganhou “vida” quando Rabi Löw escreveu em sua testa a palavra Emet e pronunciou um versículo de Gênesis.

O Golem deveria ser sempre obediente ao Maharal, que o escondia durante o dia, no sótão da Antiga-Nova Sinagoga da cidade.

Mas, eventualmente, o Golem se torna terrível e violento, e Rabi Low é forçado a destruí-lo. (A lenda diz que o Golem permanece no sótão da sinagoga de Altneushul em Praga, pronto para ser reativado se necessário.

Na verdade, não temos nenhuma ideia real da aparência do Golem ou de sua natureza. 

As especulações vão de uma bolha de argila amorfa, mas vagamente humanoide, a um simulacro quase perfeito de um homem, carecendo apenas de razão e de livre arbítrio. 

Não sabemos se era simplesmente matéria grosseira com aparência de vida, ou uma criatura viva cujo material formativo passou a ser matéria bruta, como Adão era antes do sopro divino.

Em outras palavras, ele era algo totalmente diferente ou apenas um ser humano incompleto? Talvez ele fosse os dois ou nenhum.

Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de Literatura, escreveu a sua versão da lenda do Golem, em 1969. 

O computador pioneiro criado em Israel pelo cientista Chaim Pekeris, recebeu o nome de “Golem”.

Essa é a feliz liberdade das lendas. Hoje, o Golem permanece silenciosamente onipresente, mas também opaco e indescritível.

Embora a cultura popular tenha visualizado e digerido com sucesso o vampiro, o lobisomem, o fantasma, o unicórnio, fadas, trolls, bruxas e inúmeras outras personificações antigas do estranho e do impossível, o Golem ainda não tem uma iconografia visual concreta. 

Todos nós sabemos sobre o Drácula de Bela Lugosi e Frankenstein do Boris Karloff, mas a única representação cinematográfica ainda vagamente memorável do Golem está em um filme mudo de Gustav Meyrink’s, agora conhecido principalmente por historiadores, cinéfilos e excêntricos.

E ainda assim encontramos o próprio Golem em toda parte: em livros, programas de televisão, filmes, videogames, histórias em quadrinhos e até mesmo nas obras da ciência. 

Vários comentaristas o declararam como o progenitor do monstro de Frankenstein, do Exterminador do Futuro, Superman, HAL 9000 e quase qualquer outra entidade não humana que, no entanto, exibe características vagamente humanas. 

Como uma metáfora universal, ele supera até mesmo Fausto como um símbolo do lado negro do conhecimento, iluminação e tecnologia, se não da própria modernidade. 

O Golem tem sido a bomba atômica, o computador, a biotecnologia, a produção industrial, na verdade qualquer avanço científico que, em um ponto ou outro, aterrorizou a raça humana e às vezes seus próprios criadores.

Como isso sugere, há duas narrativas da carreira do Golem - a da criatura enlouquecida que se voltou contra seu criador – e a que capturou de forma decisiva a imaginação comum. 

O Golem é um dos poucos monstros que não são remanescentes óbvios do mito pagão, e o primeiro que foi inequivocamente feito pelo homem. 

Em outras palavras, ele é indiscutivelmente moderno: a imagem sombria de uma era mecânica e tecnológica que sugere na qual, pela primeira vez, o artificial começaria a ter precedência sobre a natureza como força determinante da vida humana.

 

Mendy Tal é Cientista Político e Ativista Comunitário

junho 12, 2023

O APRENDIZ - Gonçalves Lêdo



É aquele que aprende, e sempre em aprendizagem vai tirando as suas conclusões: 

Aprendi... que ninguém é perfeito 

Aprendi... que a vida é dura mas eu sou mais que ela!! 

Aprendi que... as oportunidades nunca se perdem, aquelas que desperdiças... alguém as aproveita 

Aprendi que... quando te importas com rancores e amarguras a felicidade vai para outra parte. 

Aprendi que... devemos sempre dar palavras boas... porque amanhã nunca se sabe as que temos que ouvir. 

Aprendi que... um sorriso é uma maneira económica de melhorar o teu aspecto. 

Aprendi que... não posso escolher como me sinto...mas posso sempre fazer alguma coisa. 

Aprendi que... quando o teu filho recém-nascido segura o teu dedo na sua mão têm-te preso para toda a vida.

Aprendi que... todos querem viver no cimo da montanha... mas toda a felicidade está durante a subida. 

Aprendi que... temos que gozar da viagem e não apenas pensar na chegada. 

Aprendi que... o melhor é dar conselhos só em duas circunstâncias... quando são pedidos e quando deles depende a vida. 

Aprendi que... quanto menos tempo se desperdiça...mais coisas posso fazer. 



junho 11, 2023

O QUE ACONTECEU NO DIA 7 DE SETEMBRO DE 1822 ÀS MARGENS DO IPIRANGA? - Almir Sant’Anna Cruz





Embora a História oficial não conte, alguns historiadores relatam, com base em depoimentos de participantes da comitiva do Príncipe, que D. Pedro, regressando de Santos, vinha afetado por uma disenteria que o obrigava a todo momento apear-se para prover-se. Mas não citam a fonte dessa informação.

Esse relato ouvi pela primeira vez no primeiro ano da faculdade, pelo professor de História Econômica do Brasil, que me chocou, acostumado com a Historia oficial contada nos livros didáticos. Evidentemente em seu relato usou uma linguagem popular e acrescentou o motivo pelo qual D. Pedro estava às margens do Ipiranga: “por que na época ainda não haviam inventado o papel higiênico”.

Mas esse relato de alguns historiadores, que a História oficial não conta, confirma-se ser verdadeiro numa carta publicada em 1826 pelo Maçom e Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira (Nome Histórico Sócrates, membro da Loja Commercio e Artes e atuante no movimento patriótico para a Independência do Brasil desde 1812).

Também relata quais foram os documentos efetivamente recebidos por D. Pedro na ocasião, sua raiva ao tomar conhecimento do conteúdo deles e, sobretudo, como declarou a Independência do Brasil.

O Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira era amigo e confidente de D. Pedro e participava sempre das comitivas do Príncipe quando visitava outras províncias, como a de 25 de março a Minas Gerais e nessa a São Paulo.

Eis o trecho que nos interessa da carta:

“O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro (correio) e Antônio Cordeiro (Major que o escoltava)

“Eram elas: uma instrução das Cortes, uma carta de D. João, outra da Princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain, agente secreto do Príncipe. 

“As Cortes exigiam o regresso imediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; a Princesa recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos de seu Ministro; José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dois caminhos a seguir: partir para Portugal imediatamente e entregar-se prisioneiro das Cortes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; Chamberlain informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se falava abertamente na deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa.

‘D. Pedro, tremendo de raiva arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixando-os sobe a relva. Eu os apanhei e guardei.

“Depois, abotoando-se e compondo a fardeta, pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho Ipiranga, agoniado por uma disenteria com dores, que apanhara em Santos, virou-se para mim e disse:

- E agora Padre Belchior?

E eu respondi prontamente:

- Se V. Alteza não se faz Rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a Independência e a separação.

“D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros em direção aos nossos animais que se achavam à beira da estrada. De repente estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me:

- Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de Rapazinho e de Brasileiro. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho. 

*De hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero do Governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal*.

Essa é a História que a História não conta, relatada por uma testemunha ocular e auditiva do que ocorreu às margens plácidas do riacho Ipiranga.

Mas, se depois que D. Pedro disse o que o Padre Belchior disse o que D. Pedro disse, D. Pedro disse o que a História oficial disse o que D. Pedro disse, fica a critério do leitor.


Excertos do livro *A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil - Interessados no livro contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 10, 2023

O POEMA REGIUS E O SEGREDO - Almir Sant’Anna Cruz


O Poema Regius, Manuscrito Regius ou Documento Halliwell, que se acha atualmente no Museu Britânico de Londres, foi manuscrito entre 1356 e 1450 e encontrado em 1839 na Régia Biblioteca do Museu Britânico de Dnodes pelo antiquário inglês não maçom Orchard Halliwell.

Trata-se de uma compilação dos antigos regulamentos, de data incerta, dos talhadores de pedra (Maçons), apresentada em 33 folhas de pergaminho, numa bela escrita gótica e sob a forma de um poema de 790 versos, para que os operários analfabetos pudessem facilmente decorá-los.

Seu autor foi provavelmente um clérigo com conhecimento de vários antigos documentos relativos à história da Ordem, pois, naquela época, os letrados eclesiásticos assumiam frequentemente as funções de secretário nas Lojas dos Maçons operativos, ou seja, foram os primeiros Maçons aceitos.

Presume-se também que o autor tenha sido encarregado de redigir um manual com as lendas do ofício e as regras da fraternidade, compilando-as das que já eram usadas nas assembleias dos Maçons. 

Está dividido em nove seções (três vezes três).

A terceira seção compreende quinze Pontos, sendo particularmente interessante o terceiro, que impõe o segredo profissional, provável embrião do segredo maçônico: 

*Os conselhos de seu Mestre devem ser guardados e não revelados, assim como os conselhos de seus Companheiros. Não revelar a ninguém o que se passa na Loja O que ouvir ou que veja fazer deve ser guardado em seu coração. Não dizer a ninguém, onde quer que vá, os conselhos da sala e os conselhos da câmara. Guardar os segredos com a maior honra, temeroso de que os revelando se torne culpável e, com sua falta, seja motivo de opróbrio para o ofício*


Excertos do livro *O que um Mestre Maçom deve saber*Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp *(21) 99568-1350*

junho 09, 2023

A IMPORTÂNCIA DO RITUAL - Rui Bandeira





Meus Irmãos, saúdo-vos fraternalmente, em todos os vossos graus e qualidades.

A suspensão dos trabalhos presenciais por virtude da pandemia em curso revelou-nos a falta que o Ritual, a execução do Ritual, nos faz. É essa a natureza humana: muitas vezes só nos damos conta do que é importante quando o não temos. Mas não é sob esta perspetiva que escolhi expor a Importância do Ritual. Vou procurar incidir a nossa atenção sobre a razão por que o Ritual é importante, porque só tendo-se essa noção é que nos apercebemos completamente da importância do mesmo.

Começo por fazer uma afirmação que aparentemente não tem nada a ver com o tema e que é – como todas! – discutível, mas cujo mérito vos peço que julgueis apenas no final desta nossa conversa: a Maçonaria não se ensina, aprende-se!

Não quero com esta afirmação dizer que os mais experientes não devem partilhar com os mais novos o que aprenderam, o que sabem. Com esta frase, enfatizo que, em Maçonaria, o que é importante, não é o que se transmite, mas antes o que se apreende. Porque a experiência, a vivência, a personalidade, do que transmite são diferentes das do que recebe. Assim, o que verdadeiramente interessa não é o que se ensina, se partilha, se transmite. O que importa é o que se aprende e, mais do que isso, o que se apreende, o que se interioriza. E aquelas e estas não são necessariamente - atrevo-me mesmo a dizer que raramente são - a mesma coisa. E, bem vistas as coisas, é inevitável que assim seja, pois, como já há pouco referi, o que transmite e o que recebe têm personalidades, vivências, capacidades, características diferentes. Assim, o que transmite tem necessariamente uma noção diversa do que aquele que recebe. Este, daquilo que é transmitido, receberá o que, na ocasião, estiver apto e pronto a receber, será tocado pelo que, no momento, o sensibilize. Em suma, o que ficará é o que ele aprende e apreende, não o que o que transmitiu julga que ensinou…

Não tenho, portanto, a pretensão de ensinar nada! Tenho apenas a esperança de que, da maçada a que agora vos submeto, cada um de vós retenha algo de útil.

Em meu entender, para uma correta abordagem da importância do ritual impõe-se que previamente distingamos entre Conhecimento e Sabedoria. O Conhecimento é tudo aquilo que aprendemos e estamos aptos a utilizar, quando necessitemos. A Sabedoria é algo mais profundo. Baseia-se, é um facto, nos conhecimentos que adquirimos. Mas reside na intuição, na capacidade adquirida de, relacionando tudo o que conhecemos, daí selecionar o que efetivamente importa, o que é adequado para um momento específico, uma situação concreta. Nem sempre aquele que tem mais conhecimentos é o que tem a sabedoria necessária para escolher a via justa, a palavra indicada, o gesto preciso, a atitude certa perante uma dada situação concreta. Numa muito grosseira aproximação, poderíamos dizer que a sabedoria resulta do conhecimento sublimado pela experiência. É através dos êxitos e fracassos na nossa escolha na utilização dos nossos conhecimentos que sublimamos o nosso Conhecimento em Sabedoria, que passamos do Conhecer ao Saber.

Memoriza-se e utiliza-se o que se conhece; desenvolve-se e internaliza-se o que se sabe.

O meio privilegiado para rápida aquisição de Conhecimento é o Estudo. Para se chegar à Sabedoria é preciso tempo e vivência. Mas há um meio para acelerar esse percurso, para induzir a Sabedoria: a utilização, execução e prática do Ritual. Se o Estudo é um meio de aquisição de Conhecimento, o Ritual é indutor de Sabedoria.

Com efeito, o Estudo estimula, faz funcionar, desenvolve a Inteligência Racional. Mas o Ritual, a sua prática, esse, estimula e desenvolve a Inteligência Emocional. E esta é bem mais profunda do que aquela, pois combina o conhecimento, o raciocínio, com a Intuição. O que estudamos pode não nos tocar e dar-nos apenas, pela memorização, a ferramenta necessária para agir. Mas só o que nos toca, nos emociona, efetivamente guardamos para saber como utilizar a ferramenta. A ferramenta é útil, mas saber utilizá-la pela melhor forma é indispensável…

Para entendermos porque e como o Ritual e o seu exercício estimulam a nossa Inteligência Emocional e, logo, induzem a obtenção de Sabedoria, devemos ter presente que, nos primórdios da Humanidade, quando ainda não tinha sido inventada a escrita – e muitas e muitas gerações de humanos viveram sem que houvesse escrita… -, a aquisição de conhecimentos e o acesso à Sabedoria processavam-se através da Tradição Oral. Era exclusivamente por essa via que os mais velhos e os mais experientes transmitiam o que sabiam aos mais novos e sem experiência.

Não havia então propriamente aulas, nem escolas. Os mais velhos e experientes diziam o que tinham aprendido, executavam perante os mais novos os gestos que era necessário fazer, repetiam, uma e outra vez, e faziam repetir muitas e muitas vezes, as palavras, os gestos, os atos de que dependiam, tantas vezes, a alimentação, a segurança e a sobrevivência, não só individuais como do grupo.

Ora, repetir uma e outra vez as mesmas palavras, para transmitir as mesmas noções, executar muitas e muitas vezes os gestos e as ações adequados para a obtenção dos resultados pretendidos mais não é do que… executar um ritual! Um Ritual é um conjunto de palavras, gestos e atos proferidas e executados sempre da forma similar.

Então, nos primórdios da Humanidade, aprendia-se e vinha-se a saber através da repetida execução de rituais. Era pelo que se via, pelo que se ouvia, pelo que se executava, pelo que exaustivamente se repetia, que se entranhava em cada um o que fazer e como fazer para obter alimento, para garantir segurança, para melhorar e curar maleitas, para adquirir o conforto possível.

Os rituais aprendidos e executados propiciavam, assim, a sabedoria necessária para sobreviver e viver o melhor possível.

O cérebro humano foi portanto, desde muito cedo, formatado em primeiro lugar para reagir aos estímulos visuais e auditivos.

Só mais tarde, muito mais tarde, o cérebro humano adquiriu a capacidade e habilidade de decifrar o código da escrita. A criação da escrita foi um avanço civilizacional imenso. Permitiu registar o que se tinha por importante, aquilo que anteriormente tinha de ser adquirido e mantido à custa de repetições. A escrita e a habilidade de a utilizar permitiram à Humanidade um meio mais fácil de registar e dar acesso ao Conhecimento. O cérebro humano naturalmente adquiriu, assim, também a capacidade de adquirir Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo.

Mas tenhamos presente que a camada mais profunda do nosso cérebro é desde sempre estimulada auditiva e visualmente e por execuções ritualizadas do que se pretende transmitir. A aquisição de Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo é uma habilidade mais recentemente adquirida, logo, mais superficial no nosso cérebro.

Não nos enganemos: o estudo, a aquisição de Conhecimento pelo estudo, dá trabalho. Esse trabalho é recompensado pelo desenvolvimento da nossa Inteligência Racional, pela habilidade de memorizar, de relacionar, de aplicar. Mas é apenas a Razão que é aplicada e fortalecida.

Para se desenvolver, para se utilizar a Inteligência Emocional, a que nos permite, quantas vezes sem sabermos como, intuitivamente dizer a palavra certa, executar o gesto adequado, efetuar a ação necessária sem termos de longamente pesar os prós e os contras, sem necessitarmos de fazer exaustivas análises e cálculos, para isso temos de recorrer às camadas mais profundas do nosso cérebro – e essas desde o início dos tempos foram estimuladas pelo que se via e ouvia, pelo que se repetia uma e outra e muitas vezes, pelo que se ritualizava.

Por isso afirmo que o Ritual é o indutor de mais rápida passagem do Conhecimento à Sabedoria, acelerando o que só a Experiência, a Vida vivida, os erros cometidos e as vitórias alcançadas nos permitiria atingir, não fora ele.

Meus Irmãos: até agora tenho sempre falado de Ritual, sem adjetivar e, sobretudo, sem utilizar o adjetivo maçónico.

Porque o ritual, penso tê-lo demonstrado, existe desde sempre e desde sempre aumenta a capacidade humana de discernir, em suma, de saber. E não há “o “ ritual, há muitos rituais, respeitando a muitos momentos, ocasiões e atividades. Existem, bem o sabemos, rituais religiosos. Mas também de outra natureza, uns mais solenes e utilizados em ambiente de Poder ou de significado social, outros mais simples, íntimos até. Atrevo-me a dizer, por exemplo, que todos os casais com algum tempo de ligação criam os seus rituais próprios, indutores de segurança, conforto e manutenção da relação afetiva. 

Uma categoria de rituais que merece referência é o ritual que podemos denominar de grupal, o que marca, define e corporiza a integração de alguém num determinado grupo. Aí não está em causa a aquisição ou consolidação de conhecimentos ou o acesso a sabedoria, mas simplesmente o estabelecimento de uma união grupal, a que o neófito passa a aceder.

Todo o ritual é importante, precisamente porque correspondendo à mais antiga e natural forma de a Humanidade processar a aquisição de conhecimentos, ganhar e manter confiança, obter conforto e segurança. Não é assim porque queremos que seja, assim é porque a nossa evolução como espécie o determinou. Talvez algo grandiloquentemente, pode-se afirmar que a Civilização se alicerça em rituais. 

Mas os Rituais Maçónicos, esses, partilhando com os demais a mesma natureza de meios indutores de aquisição de Sabedoria, têm ainda uma valência própria, quiçá não exclusiva, mas seguramente que identitária.

Os rituais maçónicos têm uma tríade de caraterísticas, duas delas já referidas e uma terceira que podemos considerar própria. Os rituais maçónicos assumem a natureza de indutores de Sabedoria, são também, particularmente nos rituais de Iniciação e de Aumento de Salário rituais grupais, mas também assumem a natureza de explanação e aprofundamento de Princípios e Valores.

Esta uma especificidade não negligenciável. Os vários rituais dos diferentes ritos maçónicos apresentam-nos e definem-nos Valores e Princípios a que os maçons devem corresponder. Não estão aqui em causa conhecimentos a interiorizar. Estão, diretamente, aspectos e referências morais a seguir, a cumprir, a divulgar.

Os rituais maçónicos ao promoverem Princípios e Valores apelam diretamente às caraterísticas básicas do cérebro humano. Os princípios e Valores expostos, facultados, não se destinam a ser meramente apreendidos pela Inteligência Racional, através do estudo e da aquisição de conhecimentos. Procura-se atingir a Inteligência emocional, o âmago da personalidade de cada um e aí efetuar as modificações inerentes a esses Princípios e Valores.

Busca-se a aceleração do processo. Em vez da mera aquisição pela Inteligência Racional e posterior enraizamento através da experiência, busca-se a inserção direta e eficaz na mente do maçom, atingindo o que o Ritual, desde os primórdios da Humanidade toca: a Inteligência Emocional, logo as profundezas do ser que cada um de nós é. Não se semeia, para que porventura nasça e cresça. Planta-se para que, no mais curto espaço de tempo, haja frutos. 

Os rituais maçónicos destinam-se assim, para além da integração de indivíduos em grupos, a propiciar a modificação de cada um, através da interiorização de Princípios e Valores morais, que devem nortear a conduta de cada um,

Expostos de forma ritualizada, muitas vezes repetida, encenada e praticada, tais Princípios e Valores entranham-se diretamente no âmago essencial de cada um, assim propiciando o seu aperfeiçoamento.

Este processo de aperfeiçoamento não é imediato. É demorado, é evolutivo, depende de patamares.

É por isso que é um erro pensar-se que, sabido o ritual, aprendido a executar o mesmo com perfeição, o nosso trabalho está terminado.

Posso garantir-vos, com base na minha experiência de mais de 30 anos de maçom, que não é assim que funciona.

Decorar o ritual, executá-lo na perfeição, são ainda tarefas do Intelecto, da Inteligência Racional. O que importa é senti-lo, vivenciá-lo, apreender aqui e ali algo de novo, algo que nos chama agora a atenção e em que não reparáramos antes. Porque esse é o processo de entranhamento das noções transmitidas pelo ritual, esse é o processo de passagem do Conhecimento à Sabedoria.

Se há algo que verdadeiramente aprendi com os nossos rituais é que se está sempre a aprender algo de novo com os mesmos. Em mais de trinta anos de Maçonaria, já repeti, já executei, já vi serem repetidos, já vi serem executados, os nossos rituais centenas de vezes. Nunca me incomodei com a repetição. Nunca deixei de me concentrar na sua execução. E, trinta anos passado, ainda me sucede que subitamente encontro algo de novo, apesar de ser o mesmo ritual que pratico e a que assisto ao longo deste tempo.

Tal sucede por uma simples razão: encontro numa ocasião aquilo que então estou preparado para encontrar. As palavras, os gestos, os atos, são os mesmos desde o princípio. Mas antes eu não compreendera aquele particular significado, porque ainda não estava preparado para tal. Porque tive de seguir uma evolução, compreendendo aqui algo que mais tarde me permitiu perceber aquilo, que me modificou e levou a entrever aqueloutro pormenor, num processo evolutivo permanente.

É para isso que serve o nosso ritual. Porque o ritual maçónico não é um simples ritual igual a todos os outros que a Humanidade segue. O ritual maçónico é um meio de Construção e Aperfeiçoamento de Nós.

É esta a sua importância!

junho 08, 2023

MANÁ - Adilson Zotovici



Tudo pronto no canteiro

Oficiais preparados

Instrumentos adequados

Cruciais ao livre pedreiro


De aventais, paramentados,

Mestre,  aprendiz, companheiro

Formais, diretriz e roteiro

Por Grande Arquiteto guiados


Saga em templo sobranceiro

Labores realizados

Sem qualquer paga em dinheiro


Vez que aos assalariados

_O saber_ alvissareiro

_É o maná_dos iniciados !



OS MAÇONS E A MAÇONARIA - HUMANISMO E GLOBALIZAÇÃO - Luis Carlos M.'.M.'.(Grande Oriente Lusitano)


Ao longo destas quase duas décadas decorridas sobre a minha Iniciação, e que se seguiram a outras quase duas décadas de aproximação aos valores do Humanismo, da Liberdade de Pensamento e de uma crescente consciência social e de cidadania, tenho vindo a sedimentar alguns valores, alguns princípios que, na minha modesta opinião, são fundamento, fundação e significado do fato de se ser Franco Maçom. 

Ser Maçom, significa, antes de tudo, ser reconhecido como tal pelos restantes Maçons. 

Não se trata de um atributo a que se acede com "cunhas", pelo pagamento de cotas ou pela assinatura livre de uma condição. 

Não é o mesmo que se ser sócio de um clube ou membro de uma associação. 

Para ser Maçom, é condição sine-qua-non, o ser reconhecido inter-pares. 

O processo que conduz à possibilidade de o ser, passa por uma série de provações - os contactos, as sindicâncias, os interrogatórios, a exposição nos "passos perdidos" - e por um ato iniciático. 

Este começa por assentar numa descida ao limbo, ao útero, à escuridão primordial, como uma semente que passa a germinar no silêncio e nas trevas do subsolo, seguindo-se-lhe uma gradual ascensão, por ação dos restantes elementos tradicionais - a água, o ar e o fogo -, os pais, os companheiros e o amigo, no sentido da LUZ. 

O dar a Luz ou vir à Luz é apenas o início de algo, que o porvir irá ou não determinar. 

Quantas sementes lançamos a terra e nela apodrecem sem ver a Luz?

Quantas germinam, para logo padecer às agruras do clima, sem nunca virem a frutificar?

Vejamos: A verdadeira iniciação não é o momento da "tomada da Luz" nem o da aclamação pelos Irmãos presentes, que representam ali todos os Irmãos Maçons do Universo. 

A verdadeira Iniciação estou em crer, é toda a vida futura após aquele momento iniciático. 

Por mais que pareça ser um lugar comum, continuo a acreditar e a afirmar que serei sempre um eterno Aprendiz! 

A Iniciação leia-se, ignição, é apenas a abertura, o prelúdio de todo um devir iniciático, que envolve um solene e profundo até de responsabilização perante todos os outros, os presentes, os ausentes, os antecessores e aqueles que nos virão a suceder. 

Assumimos, nesse momento mágico, a responsabilidade de trabalhar, com preserve rança e entrega totais, no sentido do nosso aperfeiçoamento espiritual: o tal trabalho simbólico sobre a pedra bruta. 

É em Loja que nos entregamos a esse Trabalho. 

É a Loja que nos guia, nos acolhe, nos incita, nos transmite os hábitos, a técnicas, os preceitos e fundamentos teóricos da ARTE. 

Essa transmissão é-nos feita ou dada através do método que a Tradição nos ensinou: o RITUAL. 

É na sistemática e repetida prática do Ritual que interiorizamos e nos confrontamos com a simbólica, os valores e os signos que conformam a Arte Real. 

A Abertura dos Trabalhos, a Cadeia de União e o Encerramento dos Trabalhos, juntamente com a decoração do Templo, contêm em si mesmos, em qualquer dos três Graus Simbólicos, em qualquer Rito, todo o acervo de informação de que o Aprendiz precisa para prosseguir o seu infindável processo de Iniciação. 

Podem e devem ser debatidas pranchas simbólicas e filosóficas no período da Ordem do Dia, debater-se questões administrativas, profanas ou conjunturais na Palavra a Bem da Ordem, mas é na prática efetiva do Ritual que se centra o trabalho sobre a pedra bruta, ou seja, o verdadeiro trabalho maçônico. 

Perdoem-me a analogia de cordel, mas tendo a crer que a Loja é como um meio de transporte (chamemos-lhe autocarro), que pára em diversas estações, transportando passageiros de diversas origens para diversos destinos, segundo regras comumente aceites e por todos partilhadas. 

Em linguagem profana coeva, diria que cada um desses autocarros, desenhados segundo determinado modelo (Rito), preparados para determinados tipos de viagem (Rito), e conduzidos por uma determinada tripulação (Luzes), por razões logísticas e culturais faz parte de uma frota (Obediência) que, conjuntamente com a globalidade das frotas (Obediências) conforma aquilo a que chamamos um sistema de transportes (a Maçonaria Universal). 

Todas nos assentam mesmo objetivo, todas procuram participar na construção de um Mundo mais humano, mais livre, mais fraterno, mais justo, mais ilustrado. 

(Algumas frotas, contudo, só transportam passageiros de um determinado sexo, outras de determinada cor, outras procuram transportar o maior número possível de passageiros, outras, ainda, dão preferência a determinados credos ou oferecem e exigem tipos diferenciados de serviço. Trata-se de outra Pedra Bruta a trabalhar, conjuntamente, por todos os Pedreiros verdadeiramente Livres e de bons costumes. Estou plenamente convencido que lá chegaremos, mais cedo ou mais tarde. Como é óbvio, a Obra está longe de estar concluída!). 

Não acredito na existência de um "novo Humanismo". O Humanismo foi, é e será sempre o mesmo objetivo a atingir e assenta redondamente no nosso sistema de valores. 

Os meios e sistemas de organização política e social ao nosso alcance em cada momento histórico, geográfico e cultural é que poderão variar, mas o conceito de Humanismo será sempre o mesmo: a liberdade de opinião, a liberdade de escolha, o respeito do Homem pelo seu semelhante e pela Natureza, o respeito pela opinião e pela diferença, o sentimento de cooperação e de interajuda, a noção cada vez mais presente de que habitamos todos sob um mesmo texto, vão-se construindo, à medida que a História e a Ciência nos desvelam o mundo nas suas diversas dimensões. 

O Homem foi, é e será sempre, uma espécie em construção, sob pena da sua total diluição no abismo da amnésia cósmica. 

O mundo atual revela-nos a globalização, a generalização da informação, a possibilidade de um sistemático estado heterotópico no habitar, no ser, no existir. 

Alguns de nós somos meros transeuntes apressados num mundo virtual (tele móveis, aeroportos, supermercados, fast-food, televisão, Internet, etc.), outros, optamos por ser viajantes atentos de um mundo real 

- não dispenso ir à janela do meu quarto, quando acordo ou chego a casa; de confraternizar à mesa, com amigos ou familiares, com frequência, ou de sistematicamente participar nas sessões da minha Loja, não faltando nunca ao ágape que se lhes segue, com os meus Irmãos. 

Houve um tempo em que, transgredir - condição única para o progresso -, significava, como em Lewis Carroll, passar para o outro lado do espelho. 

Hoje, a grande maioria da população urbana dita civilizada vive do outro lado do espelho, na net, nos programas de televisão, nos espaços virtuais que o mundo contemporâneo tem vindo a engendrar em catadupa. 

Estou convencido de que transgredir, hoje - atitude revolucionária como sempre -, significa manter a lucidez suficiente para ver, olhar, sentir, ouvir, tocar, degustar, cheirar tudo aquilo que é sensível e real, nos envolve e enriquece, nos faz pensar e agir, conjuntamente com pessoas reais (Cadeia de União), em práticas objetivos e materiais (o Ritual) que nos transportem para o onírico mundo dos hábitos, dos saberes e dos sabores, que nos devolvam os reais prazeres do corpo e da mente, em equilíbrio, numa consciente e profícua atitude de atuação e mudança: como poderei eu sentir-me bem comigo mesmo se tenho consciência do sofrimento e da dor dos meus Irmãos? 

Sendo que estes são, no sentido lato, toda a Humanidade Sofredora que me antecedeu, me acompanha e me sucederá através do tempo e do espaço. 

Assim, em jeito de remate, gostaria de vos dizer, meus Irmãos, do mais fundo das minhas convicções e saberes, que o papel dos Franco Maçons e da Maçonaria na construção do Humanismo, na consumação dos Valores, dos quais destaco como mais importante de todos o da Felicidade Universal, é o do persistente, sistemático e consciente trabalho sobre a pedra bruta que cada um de nós é, através de um profícuo trabalho Ritual em Loja, para que, nos diversos momentos em que somos, vivemos e atuamos , possamos contribuir serena e seguramente para a construção coletiva do Templo do Homem




junho 07, 2023

A MAÇONARIA VEM PRIMEIRO - Thomas W. Jackson



Nos últimos anos, tornei-me mais estudante da Maçonaria do que era no passado e, embora ainda hesite em me considerar um erudito maçónico, há aqueles que tendem a colocar-me nesta categoria. Se eu me tornei um estudante ou um estudioso da Ordem não é tão significativo quanto é o meu reconhecimento da grande escassez de estudantes e estudiosos maçónicos na Maçonaria atual em comparação com o passado. Duvido que alguém negue que um dos maiores problemas que a Maçonaria enfrenta hoje é a falta de conhecimento do que ela realmente é, e isto inclui tanto o Maçom quanto o não Maçom. Simplesmente temos uma percentagem muito grande dos nossos membros, relutantes em fazer um esforço para compreender a verdadeira filosofia e significado da nossa Fraternidade.

Conta-se a história de um velho médico francês que dedicou a sua vida aos pacientes, dando muito de si mesmo e exigindo pouco em troca. Se eles não podiam pagar, ele não cobrava. Quando se aproximou o dia em que o velho médico já não podia continuar na sua profissão, os seus pacientes quiseram dar algo ao velho em troca da devoção e das contribuições altruístas que ele deu às suas vidas. No entanto, eles eram pobres demais para dar ao velho médico o tipo de reconhecimento que achavam que ele merecia. Cada um, porém, produzia vinho para seu próprio uso. Eles decidiram que cada um contribuiria com uma jarra de vinho e presenteariam o médico com um barril de vinho de onde ele poderia beber enquanto relaxava após se ter aposentado.

Quando chegou o dia inevitável e terminaram os discursos de reconhecimento e gratidão, o velho médico aceitou o vinho daqueles a quem servia há tanto tempo e tão bem e voltou para sua casa. Ele agarrou numa taça de vinho e sentou-se numa cadeira para relaxar. Quando provou o vinho, contudo, o gosto era de água. Pensando que algo devia estar errado, encheu um segundo copo, mas também tinha gosto de água e, infelizmente, a verdade foi revelada.

Cada um dos seus pacientes achava que tinha muito pouco para seu próprio uso e que não tinha dinheiro para contribuir para o médico. Cada um deles raciocinou que, como tantos outros estavam a dar, a sua pequena contribuição não faria falta.

É triste, mas verdadeiro, que esta analogia também possa ser aplicada à nossa Fraternidade, hoje. Muitos acham que a sua pequena contribuição não fará falta e, como resultado, a Maçonaria, como o velho médico, que significou tanto para tantos, experimenta a decepção.

Quanto mais familiarizado estou com esta organização, mais impressionado fico com a magnitude do impacto que ela causou no mundo como o conhecemos hoje. Não pode haver dúvida de que sem a Maçonaria o mundo civilizado, na sua forma atual, provavelmente não existiria. Mas, tendemos a tornar-nos uma Fraternidade passiva à medida que o não envolvimento se torna mais uma parte das nossas vidas. Cada um de nós provavelmente se orgulha de ser capaz de apontar tantos grandes homens que fizeram parte da Maçonaria, mas esta tendência de apontar os grandes homens levou-nos a ignorar a grandeza da Ordem. É a grandeza da Ordem com as suas filosofias e preceitos que atraiu os grandes homens para começar, e que fez do mundo o que é hoje. A Maçonaria vem primeiro; a adesão é secundária. Sem a grandeza da Ordem, a sua composição teria sido irrelevante. No entanto, ao mesmo tempo, foi a contribuição dos membros que fez a filosofia da Ordem funcionar.

Jamais devemos deixar de nos orgulhar do nosso passado; mas não podemos dar-nos ao luxo de insistir nisso, se nos faz perder de vista o presente. Cada contribuição, por menor que seja, é uma contribuição para a perpetuação de um ideal – talvez o maior ideal – que a mente do homem concebeu. Numa época que continua a ver os maiores conflitos do mundo ocorrendo em nome de Deus e da religião, a filosofia da tolerância ainda é tão desesperadamente necessária quanto no passado. Não encontramos nenhuma organização hoje que defenda uma filosofia semelhante. Podemos continuar a expressar os nossos adoráveis chavões e não dar nenhuma contribuição; ou podemos ser o que dizemos que somos e praticar o que pregamos.

Não pode haver dúvida, porém, de que se continuarmos a não saber o que somos, continuaremos a deixar de ser o que éramos. Provavelmente, o maior desafio enfrentado pela liderança maçónica hoje é a educação dos membros sobre o verdadeiro significado da Maçonaria. A Pensilvânia tem sido extremamente afortunada no campo da educação maçónica. Tivemos, e continuamos a ter, um dos maiores programas de educação maçónica em operação em qualquer Grande Loja do mundo. Mas, como já foi dito muitas vezes, não se pode fazer 20.000 volts passar por um não condutor e, infelizmente, muitos dos nossos membros de hoje, tornaram-se não condutores por escolha própria. Se não entendemos a Ordem, como podemos esperar que aqueles de fora nos entendam?

Se continuarmos a pensar que a nossa pequena contribuição não fará falta, então, como o velho médico, uma organização que tem causado grande impacto neste mundo por quase 300 anos durante a evolução da civilização, será como ele – condenada a se decepcionar. Pensem nisto, meus Irmãos. A vossa contribuição, não importa quão pequena, é significativa.


Tradução de António Jorge Fonte: Publicado originalmente em “The Pennsylvania Freemason”, Fevereiro de 1996.

junho 06, 2023

VER – OUVIR - CALAR








 ...“Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum”...

Irmão Iniciado: Um forte querer vos impeliu a buscar admissão aos umbrais do Templo, aspirando receber a Luz, como outrora peregrinavam os buscadores, nas regiões do Oriente, também desejosos de obter a Iniciação nos Mistérios. 

Descendo à sombria câmara, fostes buscar no interior da Terra a Pedra Oculta – o encontro com o Eu real – como o Mestre que se recolheu ao deserto para vencer suas tentações.

O terror do Umbral não vos causou medo, nem ao percorrer os caminhos largos e estreitos, guiado por mãos tão desconhecidas quanto às provas que vos aguardavam. 

Passando por Fogo, Terra, Ar e Água, seguistes o exemplo do Mestre que triunfou das tentações e foi servido pelos Anjos. 

Por ousar vencer essas provas, a Luz vos foi concedida, como prêmio da Iniciação: Ali estava a Luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo. 

Como mais um Iniciado, livre e aceito, tomai vosso lugar no Templo.

No Oriente, o Mestre pouco a pouco vos desvelará os Augustos Mistérios da Tradição antiga, orientando para as obras de Luz, o fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal.

Ousai fazer, e o Poder vos será dado. 

Mas lembre-se de sua responsabilidade: No dia em que comeres deste fruto, serás ferido de morte. 

Que o saber não lhe deslumbre, nem acirre sua vaidade, que é destruidora da Luz. 

O saber vos tornará o Mestre de vosso próprio Templo, pois o Reino de Deus está dentro de vós.

Para que o Negro em Branco, e o Branco em Vermelho, seja transformado, o Iniciado separa o sutil do espesso, domina os elementos e opera a quadratura do círculo, tornando cúbica a pedra que era bruta. 

Está, enfim, diante da Realização da Grande Obra, e agora só lhe resta calar.

Velai prudentemente a Verdade oculta nos símbolos e alegorias cujo real sentido a poucos é dado conhecer, para não entregardes as luzes do Conhecimento às contradições humanas. 

Não lanceis vossas pérolas aos porcos.

O silêncio é o testemunho de tudo o que vistes e aprendestes – é o fecho de ouro dos quatro verbos do Iniciado. ...

Bom dia meus irmãos. 

(Desconheço a autoria)

junho 05, 2023

A ÉTICA E O VALOR MORAL NA MAÇONARIA - José Airton de Carvalho











A Ética, denominada de Filosofia Moral ou Ciência Moral, trata da análise e a reflexão sobre as condutas humanas, tanto individuais, quanto coletivas, e as normas morais como princípios dos comportamentos. Sua finalidade é fazer com que o desenvolvimento humano atinja a plenitude, respeitando as diferenças individuais.

Segundo Aristóteles, “a Ética estabelece o que se deve ou se pode fazer, e o que não se deve ou não se pode fazer”.

É evidente que quando se estuda o procedimento do homem no meio social, deve-se levar em conta que o homem é um ser moral, justamente por ser ele um se político. É um ser político porque a isso o obriga a sua natureza humana.

Mais do que nunca o homem tem que se adaptar à vida em comunidade, mormente nos tempos de globalização, quando o mundo virou uma “aldeota”, onde a aviação e os meios de comunicação acabaram com as distâncias.

O homem vive em sociedade e o Estado onde ele vive precisa dele, como ele precisa do Estado. Na sua larga visão, Aristóteles em “A Política” assinala:

…“Está claro que o Estado é produto da natureza e superior ao indivíduo; quem não fosse capaz de viver na comunidade civil ou dela não tivesse necessidade para bastar-se a si mesmo, não se tornaria nenhuma parte do Estado…”.

Tenhamos em mira que a teoria aristotélica da moral é o fundamento dessa corrente do pensamento chamado Ética.

É interessante verificar que a palavra ética, em português, é derivada do vocábulo grego ethos que significa hábito, costume.

Os romanos traduziram o ethos grego por moralis. Cícero diz em uma das suas obras, referindo-se ao vocábulo grego, que “Aquilo que tem a ver com os costumes, que eles (os gregos) chamam ethos, nós, nesta parte da filosofia referente aos hábitos, costumamos chamar de moral”.

O dicionário esclarece que Moral é a parte da filosofia que trata dos costumes ou deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo mesmo.

Aristóteles não separa a Ética da Virtude, porque, para ele, toda a virtude se gera e perece dos mesmos atos, e mediante os mesmos atos; e exemplifica dizendo que “de tocar cítara surgem os bons e os maus citareiros”. Isto significa que, pelos atos, se conhece se o indivíduo é virtuoso ou não.

Mais adiante ele enfatiza: “É necessário, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porque consoante a sua diferença resulta a diferença dos hábitos.”

Se o homem considerar que a prática dos deveres para com os outros e para consigo mesmo é o único caminho que leva à perfeita harmonia social, estará, pois, procedendo corretamente e pode considerar-se feliz.

Analisemos o que Aristóteles estabelece de fundamental na sua “Ética”:

“Os atos morais são livres, motivo por que o indivíduo assume a sua responsabilidade. Em assim sendo, torna-se, para quem os pratica, causa de mérito ou demérito. A responsabilidade supõe, com certeza, o que denominamos de imputabilidade, pelo qual o ato é atribuído a um indivíduo como seu autor”.

“Existem duas espécies de responsabilidade: aquela pela qual o indivíduo responde por seus atos diante da própria consciência, ou seja, a responsabilidade moral, e a responsabilidade social que faz com que o indivíduo responda por seus atos, às vezes, perante a justiça, quando violar as leis civis”.

Aristóteles ensina que “A virtude é um hábito não só diante da reta razão, mas a ela conjunta. E a reta razão nada mais é que sabedoria”.

Resumindo, Virtude é o hábito de praticar o Bem, e vício, o hábito de praticar o mal.

Voltemos a Aristóteles e vejamos o que ele tem para nos ensinar:

“A Virtude, diz ele, se distingue segundo esta diferença: das virtudes, algumas chamo dianoéticas, a sapiência, a inteligência e a prudência; éticas, a liberalidade e a temperança. Quando, de fato, falamos dos costumes de alguém, não dizemos ser sapiente ou inteligente, mas sim, brando de ânimo ou temperante; e louvamos também, referindo-nos ao hábito: que nós chamamos virtudes aqueles hábitos que merecem ser louvados.”

Aristóteles procura estabelecer diferença entre aquilo que ele chama de virtudes dianoéticas e virtudes éticas:

“As primeiras são inatas no homem e podem crescer através do estudo, do ensinamento, razão por que têm necessidade de experiência e de tempo. Já as virtudes éticas são frutos do hábito, o que vale dizer que nenhuma delas se gera no homem por natureza, são as chamadas virtudes adquiridas. Elas não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em nós que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito”.

O estagirita conceitua a natureza humana como sendo equilibrada. Para ele, todo ideal tem base natural e todo natural tem desenvolvimento ideal. Reconhece, e o faz objetivamente, que a meta da vida não é o Bem por si mesmo, mas a felicidade. Assegura que a felicidade aparece como um bem perfeito, sendo a meta de todas as ações.

A Maçonaria é por excelência, uma Entidade de Moral, pois, seus princípios alcançam, em suas ações, os níveis mais elevados da Ética Universal. Sua obra, tanto material quanto espiritual advém de um passado remoto. Educando e disciplinando, prepara seus membros para que participem na busca da verdade, elevando-os em sua dignidade, fazendo com que ajam com justiça, desfrutando da liberdade, praticando a fraternidade e dedicando-se com amor à Humanidade.

Diante da evolução por que passa o mundo é necessário que visualizemos, à luz maçônica, os grandes desafios. O rigor moral e a força da autêntica solidariedade social se fazem necessários para que corrijamos os deslizes individuais, as más instituições políticas, econômicas e sociais, com o intuito de que o relacionamento humano seja mais fraterno.

A resposta não é simples, mas, podemos assegurar que sem ela enveredamos os mais tristes e funestos destinos. A Moral permite o cultivo de todas as virtudes, o que garante uma promissora convivência com nossos pares.

O imoral e o amoral, hoje ou amanhã, pagarão alto preço de uma conduta desmedida, destruindo, assim, suas vidas. “A História, mestra da vida”, testemunha a decadência dos que se distanciam da moral.

Nenhuma nação, nenhum povo e nenhum homem poderão concretizar seus sonhos, se não estiverem embasados nos conceitos da Moral. Seria como construir castelos ao vento, ainda que a aparência pareça estável.

Portanto, a cada um, a concepção do dever, do bem, da justiça, das virtudes e, sobretudo, da verdade, pois aí está a formatação da moral, revelando-nos os valores que norteiam o homem e os povos, prestigiando suas instituições e reafirmando na fé, a verdadeira perfectibilidade humana.

A Maçonaria nos chama ao cultivo da Moral e à sua nobre prática, para que sejamos cada dia, mais virtuosos.

*Zé Airton é Mestre Instalado, membro da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, presidente da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida e membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda.

junho 04, 2023

NINGUÉM É O QUE VESTE... - Joab Nascimento

 







Ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!


Fui criado com tão pouco,

Com pouco sinto-me bem,

Não me iludo com o muito,

Nem com dinheiro também,

Gosto da simplicidade,

Abomino a vaidade,

E todo orgulho de alguém,

Mando a riqueza pra peste,

Pois ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!


Fui criança de pé no chão,

Usei calção remendado,

Almocei café sem pão,

Tinha farinha ou grolado,

Nunca conheci fartura,

Sempre tive vida dura,

No bolso nenhum vintém,

Quem quiser que me conteste,

Pois ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!


Não gosto de ostentação,

Nem tão pouco me mostrar,

O trocado que eu tenho,

Eu sei muito bem gastar,

Prefiro não ser notado,

Ficar um pouco afastado,

Passar-me por Zé Ninguém,

Ser matuto do agreste,

Pois ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!



ALQUIMIA -



A finalidade principal da Alquimia (do árabe al-kimia) era a transformação de substâncias por processos químicos e as tentativas de transmutação dos metais. Embora a sua época de apogeu tenha sido a Idade Média, quando, sob esse nome, ela foi introduzida, no Ocidente, pelos árabes (século VII), a verdade é que ela foi praticada desde tempos muito antigos, no Egito, na Pérsia, na China, na  Índia e na Grécia arcaica. Os egípcios já a utilizavam, de maneira prática, para curtir couros, preparar ligas de metais comuns e fabricar corantes e cosméticos; os persas tiveram grande interesse por esse novo tipo de conhecimento e o espalharam entre os povos conquistados; através dos persas, ela chegou à Grécia, onde os gregos a incorporaram aos seus conhecimentos teóricos sobre os mistérios da vida.

É necessário, já de início, que se estabeleça a existência de dois tipos de alquimia: a prática, precursora da química e estabelecida pelo médico suiço Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (1493-1541), e a alquimia oculta, muito associada à magia.

Em todas as teorias cosmogônicas do mundo antigo, existe a idéia da existência de um elemento primordial, do qual derivam todos os demais elementos. A mais antiga idéia, relativa a esse conceito, é aquela que considerava a água como elemento fundamental, associada aos trabalhos do sábio grego Thales, de Mileto. Na mesma Grécia, entretanto, muitos filósofos defenderam idéias diferentes. Anaxímenes afirmava que o elemento primordial era o ar, pois ele podia ser condensado, formando nuvens e chuvas, cujas águas, ao se evaporar, formando, novamente, o ar, deixavam um resíduo sólido de terra. O mitraísmo persa via a manifestação do poder divino no fogo, crendo, portanto que esse era o elemento formador de todas as coisas; Heráclito também defendia a teoria do fogo, afirmando que tudo, no mundo, está em constante transformação e que o elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o fogo, daí a máxima hermética Igne Natura Renovatur Integra (o fogo renova toda a Natureza). Já Feresides escolheu, como fundamental o elemento terra, pois, afirmava, ao se queimar um corpo sólido, obtém-se água e ar. E Aristóteles, finalmente, defendendo uma concepção de Empédocles, afirmava que esses quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram formados por combinações deles.

As ideias de Aristóteles, básicas para a alquimia, eram ensinadas nas escolas de pensadores da cidade de Alexandria, no Egito, a qual foi o grande centro alquimista da Antiguidade, nela se dando a fusão entre as práticas egípcias e as teorias gregas, mais tarde desenvolvidas pelos árabes. Estes, ao conquistar, em 642, o Egito, atingindo, depois, a Síria e a Pérsia, trouxeram, para o ocidente, a nova contribuição, que gerou aquilo que, hoje, é chamado de alquimia.

Dos árabes conquistadores, originou-se um dos maiores alquimistas de todos os tempos: Jabir ibn Hayyan (721-813), conhecido, na Europa, como Geber. Este aceitava a teoria aristotélica dos quatro elementos, adicionando, todavia, outros dois elementos essenciais, o mercúrio e o enxofre, os quais explicavam certas propriedades dos metais; um terceiro elemento, o sal, foi, posteriormente, incluído, formando, com os outros dois, o trio fundamental (trio prima) de Paracelso e de seus discípulos, no século XVI.

Essencialmente, a alquimia era caracterizada pela busca de duas substâncias: a pedra filosofal, capaz de transformar os metais inferiores em ouro, e o elixir da longa vida, capaz de manter os homens eternamente jovens. Para Geber, todos os metais seriam formados apenas de enxofre e de mercúrio; desses elementos, deveriam ser extraídas as essências, que transformariam todos os metais "em ouro mais puro do que o das minas". Partindo do princípio de que todas as substâncias possuem uma única raiz, parecia possível, para os alquimistas, transformar os corpos, entre os quais os metais, em ouro, o qual, além de ser o princípio concreto da força, que serve para comprar a glória e a felicidade material, é, também, o símbolo do Sol, da luz, do poder criativo, da revelação divina.

Teosoficamente, a alquimia trata das forças sutis da natureza e das diversas condições da matéria, nas quais aquelas forças agem. Quando, dá, aos iniciados, a idéia do mysterium magnum, sob o véu regularmente artificial da linguagem, para que não represente perigo nas mãos de egoístas, o alquimista aceita, como primeiro postulado, a existência de um determinado dissolvente universal da substância homogênea, de onde evoluíram os elementos, ao qual chamam de ouro puro, ou summum materiae. Este, possuía o poder de lançar fora do corpo humano todos os germes de doença de renovar a juventude e de prolongar a vida: assim é a Pedra Filosofal (Lapis Philosophorum).

A alquimia é, na realidade, tratada sob três aspectos distintos: o cósmico, o humano e oterrestre; esses três aspectos eram típicos, sob as três propriedades alquímicas: o mercúrio, o sal e o enxofre, que são os três princípios da Grande Obra (transformação dos metais inferiores em ouro).

No aspecto terrestre, ou meramente material da alquimia, o objetivo é transmutar os metais grosseiros em ouro puro, já que é indiscutível que, na natureza, ocorre a transmutação de metais inferiores em outros, melhorados. Existe, todavia, um aspecto muito mais místico, o ocultista, da alquimia. O alquimista ocultista despreza o ouro terrestre, material, e dirige todos os seus esforços na transmutação do quaternário inferior em ternário divino superior ao homem, os quais, quando se unem, acabam constituindo um só. Os planos da existência humana, espiritual, mental, psíquico e físico, comparam-se, na alquimia oculta, aos quatro elementos da teoria de Aristóteles (o fogo, o ar, a terra e a água); cada um deles é capaz de uma tríplice constituição, ou seja: fixa, instável e volátil.

A Grande Obra, para a alquimia oculta, consistia no constante renascer, para que o iniciado percorresse o caminho do aperfeiçoamento e do conhecimento, até chegar à comunhão com a divindade, conceito muito parecido com os do hinduísmo e os da doutrina de revelação do mitraísmo persa. Assim, os metais inferiores simbolizam as paixões humanas e os vícios, que devem ser combatidos e transformados em ouro do espírito, que é o objetivo da Grande Obra, ou Obra do Sol, ou Crisopéia, ou Arte Real. 

As operações da natureza são, praticamente, as mesmas da alquimia, diferenciando-se somente na denominação, podendo ser reduzidas a sete principais: calcinação, solução, putrefação, destilação, sublimação, conjunção e coagulação, ou fixação. É necessário, porém, tomar essas palavras no sentido filosófico, de acordo com o procedimento da natureza, a qual deve ser bem estudada e conhecida, antes de ser imitada.

Não se pode negar que a Química moderna deve os seus melhores descobrimentos à alquimia, a partir de Paracelso, que achava que "apenas os idiotas pensam que a alquimia é o conhecimento de como obter ouro; o objetivo da alquimia é procurar descobrir novos remédios". Os antigos e infatigáveis trabalhos alquímicos relativos à transmutação dos metais até ao ouro potável (conseguida pela Química moderna), originaram inúmeras descobertas, às quais deve, a humanidade. o seu progresso atual. Muitos dos descobrimentos tidos, exclusivamente, como modernos, já eram conhecidos pelos magos e alquimistas de tempos bem remotos: os sacerdotes etruscos, adeptos da magia, conheciam bem a eletricidade e fizeram uso dela para a defesa de cidades; o arquiteto e alquimista Anselmo de Tralle já conhecia os efeitos do vapor, enquanto o monge alquimista, Pauselenas, fala, em suas obras, sobre a aplicação da química nas fotografias e afirma que autores jônicos falam desse mesmo processo, assim como de câmara escura, sensibilidade de placas e aparelhos ópticos.

Com a união, na Idade Média, principalmente a partir do século XIII, dos alquimistas com os cabalistas, hermetistas e adeptos da magia, surgiriam diversas seitas e grupos secretos, como o dos adeptos e o dos iluminados, os quais, posteriormente, como elementos aceitos, incorporaram-se às associações de construtores medievais, levando, para a nascente Maçonaria dos Aceitos (ou "especulativa"), os seus conceitos, ideias e símbolos.

A Maçonaria ainda conserva muitos símbolos dos alquimistas, para armar a sua doutrina moral e espiritual. Um exemplo é, em muitos ritos, a chamada Câmara de Reflexão, onde o candidato à iniciação permanece, em meditação, antes da cerimônia; a câmara, que representa o útero (da terra), do qual o candidato nasce para uma nova vida, representa a "prova da terra", um dos quatro elementos aristotélicos. Nela, entre diversos símbolos representativos da espiritualidade e do valor da vida honrada, encontram-se as substâncias necessárias à Grande Obra --- sal, enxofre e mercúrio --- para lembrar, ao candidato, que ele deve percorrer o caminho do conhecimento, para chegar ao aperfeiçoamento espiritual e moral, que é a Grande Obra da vida. Na mesma câmara, uma máxima alquímica --- representada pelas iniciais de suas palavras, V.I.T.R.I.O.L. --- adverte: Visita Interiore Terrae Rectificandoque Invenies Ocultum Lapidem (vá ao interior da terra e, seguindo em linha reta, em profundidade, encontrarás a pedra oculta), a qual, além de uma referência à Pedra Filosofal, é um convite à procura do "eu interior" de cada um. Alquímicas, também, são as provas simbólicas de alguns ritos, ligadas aos outros três elementos: ar, fogo e terra.

...Do livro "Origens do Misticismo na Maçonaria", 1a. ed.: Traço Editora - 1982 - 2a. ed.: A Gazeta Maçônica: 1995.