dezembro 09, 2025

O "NADA" NA MAÇONARIA - Rafael Chiconeli




No final das contas, este "nada" sobre o qual gira o tema da Maçonaria é o que cada maçom deve procurar dentro de si. 

No final das contas, você só enxerga se estiver preparado para tal, se estiver preparado para essa tarefa, mas se estabelecer um pré-conceito de que tudo o que acontece dentro dos ritos é irrelevante e que nada há para ser aprendido, vai deixar escapar uma importante chance de entender porque a maçonaria existe há tanto tempo, e porque abarca tanta gente dos mais diferentes povos e nações, trazendo evolução, desenvolvimento e democracia por onde passa. 

Somos uma instituição que desenvolve moralmente, velada em alegorias e ilustrada por símbolos, que exige de seus membros esforço pessoal, estudo e sobretudo persistência para alcançar novos níveis de conhecimento. 

Observar de maneira superficial e deixar passar é algo habitual a quem está no início da jornada e tem este primeiro contato com a doutrina maçônica, mas, ao final o foco e a dedicação faz com que o aparente "nada" encerre conhecimentos vitais para a própria evolução de quem os encontra. 

Há períodos em quem é preciso enfrentar os paradigmas, é preciso "crer para ver", e não o contrário. 

O brilhante Pitágoras, apesar dos "nadas" que encontrou pelo caminho, teve humildade para enfrentar cada iniciação, pela qual passou, tirando lições de Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro e Polycrates. 

No Egito, Babilônia e Índia, pôde absorver coisas importantes, que ao final resultaram nos conhecimentos, com os quais presenteou os aprendizes da Escola de Krotona. 

No final, isto irá remeter ao texto enviado, e por mais que nossa ciência seja especulativa, nós trabalhamos. 

A passagem do operativo para especulativo não significou a mudança do trabalho para o ócio, mas sim a mudança da forma de se trabalhar. 

Neste caminho de aprendizes, chegamos a conclusão que trabalhamos para a construção de um templo, da mesma forma que os antigos irmãos operativos, mas nosso templo não é material, nós somos este templo.

Lapidar a pedra bruta, também significa que precisamos nos livrar dos véus que impedem de enxergar a beleza do trabalho que estamos desenvolvendo dentro da maçonaria e também no mundo profano. 

O “nada”, que leva muitos a perda do interesse, no final das contas, nada mais é que o abandono de uma obra em seu princípio. 

Podemos não enxergar o templo, pelo fato de nada ainda ter sido construído em determinado terreno. 

Mas se o material da obra fosse buscado, transportado e, finalmente assentado, aquele terreno infrutífero se tornaria um belo templo material. 

No final das contas, aquele que vê “nada” e não prossegue, só não tomou para si a tarefa de iniciar-se na obra imaterial, esta que se encontra em seu “canteiro” no interior de seu ser. 



REFORMA DO PENSAMENTO NA ORDEM - Newton Agrella



Em nosso país, a imensa maioria dos maçons, além do escasso conhecimento a respeito dos fundamentos filosóficos da Ordem, sobretudo no que diz respeito à SIMBOLOGIA, à HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO HUMANA e sobre os princípios básicos do ANTROPOCENTRISMO - dado principalmente à falta de leitura -  de um modo ou de outro, ainda hoje preferirem debitar a  compreensão e a explicação dos acontecimentos, invariavelmente às ações divinais e aos processos metafísicos.

Algo mais ou menos, como no exercício da Idade Média, em que o Pensamento Humano da Maçonaria Operativa se ancorava nos Dogmas estabelecidos pela Igreja Cristã.

Afora tudo isso, essa REFORMA DO PENSAMENTO, seria uma excelente oportunidade para esclarecer ao Maçom, que ser vanguardista, ou inovador, não significa discutir política ou religião com o indisfarçável e quase inevitável viés proselitista e partidário, como se uma academia filosófica fosse o fórum adequado para esse tipo de discussão.

Valer-se do desgastado e surrado discurso de que a Maçonaria teve papel de destaque pontual nos processos da Proclamação da República, da Abolição da Escravatura e de alguns outros episódios de menor monta na História de nosso país, há mais de século,  não é justificativa para que em Loja ou em grupos de discussão maçônica, valha-se do debate político, como pano de fundo para que alguns maçons possam fazer disso, um palanque de autopromoção, e demagogicamente chamem a este expediente de um ato de civismo ou de indignação contra medidas adotadas pelos governos que passam..

Há que se deixar claro, que a Maçonaria é um instrumento facilitador para aquele que busca despertar e aprimorar a consciência, através de um infindável processo especulativo e que seu propósito reside na evolução intelectual, espiritual, moral e ética do ser humano.



dezembro 08, 2025

O MANUSCRITO REGIUS - A MAÇONARIA É O ESPÍRITO DA GEOMETRIA



“A Maçonaria é o Espírito da Geometria”

O Manuscrito Regius, datado aproximadamente de 1390, é considerado o mais antigo documento maçônico conhecido. Escrito em versos rimados, ele preserva a memória primordial dos pedreiros operativos e lança as bases do espírito especulativo que a Maçonaria assumiria séculos mais tarde.

É nesse manuscrito que encontramos uma das mais belas e poderosas afirmações de toda a Tradição:

The Craft is grounded upon Geometry  ou  O Ofício está fundamentado sobre a Geometria.

Não é apenas uma instrução técnica. É uma definição filosófica da própria essência da Maçonaria.

1. Geometria como fundamento do Ofício

O Regius afirma que o pedreiro antigo era, antes de tudo, um geômetra.

A Geometria não era apenas cálculo: era a ciência que harmonizava o caos, permitindo transformar a pedra bruta em templo, casa, ponte ou catedral.

Assim, ao dizer que o Ofício é fundado sobre a Geometria, o Regius declara algo maior:  Construir é aplicar sabedoria ordenadora. Daí nasce a Maçonaria.

2. A transição para o espírito especulativo

Quando a Maçonaria deixa de ser apenas operativa e torna-se especulativa, a frase adquire um novo brilho.

Já não se trata apenas da geometria das pedras, mas da geometria da alma.

Se o templo externo era erguido com esquadro e compasso, o templo interno só pode ser erguido com virtudes e consciência.

Assim, a Geometria torna-se símbolo da ordem moral, da correção dos hábitos, da medida justa dos pensamentos.

Por isso grandes autores maçônicos afirmam:  “A Maçonaria é o espírito da Geometria.”

Não porque trate de números e figuras, mas porque: A Geometria ensina proporção → o maçom aprende equilíbrio.

A Geometria revela harmonia → o maçom busca fraternidade.

A Geometria mostra precisão → o maçom cultiva a verdade.

A Geometria exige retidão → o maçom vive sob o Esquadro.

3. A Geometria como linguagem do Grande Arquiteto

O Manuscrito Regius insiste que a Geometria é “a raiz de todas as artes”.

Na leitura simbólica, isso significa:  A Geometria é a linguagem com que o Grande Arquiteto expressa a ordem do Universo.

Os antigos acreditavam que: os movimentos dos astros, as proporções do corpo humano, a estrutura das pedras,e as relações entre os seres obedecem a princípios geométricos eternos.

Assim, ao estudar Geometria — como símbolo — o maçom estuda o próprio pensamento divino.

4. O Triunfo do Espírito Geométrico na Loja

Dentro do Templo, tudo é organizado geometricamente: o Oriente elevado, as Colunas que sustentam, o Altar no centro, o quadrado do piso, a abóbada formada pelas luzes. Nada é por acaso.

A Loja é um microcosmo geométrico onde o homem aprende a ordenar sua existência.

Por isso, o maçom é chamado a ser: “Um arquiteto de si mesmo.”

Se o universo é geometria viva, o homem deve ser geometria moral viva — com firmeza, retidão e harmonia.

Conclusão

O Manuscrito Regius preserva o eco mais antigo da Arte Real: a construção de um mundo justo começa pela construção de um homem justo.

Quando dizemos que: “A Maçonaria é o espírito da Geometria”, afirmamos que o maçom é aquele que aplica, em sua vida, proporção, medida, ordem, retidão e harmonia, edificando em si o templo que oferecemos ao Grande Arquiteto.

Desconheço o Autor

A AMIZADE ENTRE HOMENS E MULHERES

 

        Em um momento que se discute a aceitação de mulheres na tradicional maçonaria masculina, como acaba de acontecer em Portugal, este artigo traz algumas questões para meditação.

        A amizade entre homens e mulheres é um tema cercado de complexidade, especialmente quando analisamos as expectativas e posturas diferentes que cada sexo tem em relação a esses vínculos. Diversos estudos e pesquisas demonstram que as amizades entre sexos opostos possuem uma dinâmica distinta das amizades entre pessoas do mesmo sexo, com divergências nas motivações, na percepção de atração e na postura emocional.

       Em grande parte, essas diferenças se devem a fatores biológicos e culturais que influenciam como homens e mulheres percebem suas interações sociais. A partir de dados concretos e de estudos, é possível perceber que as amizades entre homens e mulheres frequentemente não são tão platônicas como se pensa e, muitas vezes, uma das partes – geralmente o homem – mantém a amizade com a expectativa de que ela evolua para algo mais, seja romântico ou sexual.

        Um dos estudos mais relevantes sobre esse tema é o realizado por Bleske-Rechek et al. (2012), que investigou amizades mistas entre homens e mulheres. Os dados desse estudo revelaram que 50% dos homens afirmaram sentir atração por suas amigas, enquanto apenas 20% das mulheres disseram o mesmo sobre seus amigos. Esse contraste é significativo e aponta para uma realidade que muitas vezes não é discutida abertamente: os homens tendem a ver a amizade com uma mulher como uma oportunidade de romance ou sexo, enquanto as mulheres, na maioria das vezes, a percebem como uma amizade platônica. 

        Esse tipo de disparidade nas expectativas é uma das razões pelas quais as amizades entre homens e mulheres são, muitas vezes, mais complicadas do que as amizades entre pessoas do mesmo sexo.

        Além disso, Huston et al. (2000) reforçam essa perspectiva ao afirmar que os homens, em média, superestimam a possibilidade de atração e de desenvolvimento de um relacionamento romântico ou sexual em suas amizades com mulheres. Eles geralmente entram em uma amizade com a esperança de que ela possa evoluir para algo mais íntimo, o que muitas vezes não é o caso para as mulheres, que preferem uma amizade baseada no apoio emocional e na conexão não sexual. 

        O estudo indica que os homens têm a tendência de interpretar sinais de proximidade ou amizade como oportunidades de envolvimento romântico, um fenômeno que está amplamente ligado à biologia e às normas culturais sobre sexualidade e relacionamento entre os sexos.

        O estudo de Dewitte e De Dreu (2018) também é relevante, pois analisa a dinâmica de atração em amizades mistas. A pesquisa mostrou que a atração física é um fator significativo na amizade entre homens e mulheres, especialmente para os homens, que, ao manterem uma amizade com uma mulher, podem nutrir uma expectativa implícita de que ela leve a um envolvimento mais íntimo. A atração física, mesmo que não verbalizada, é um elemento presente na maioria das amizades mistas, e isso cria uma dinâmica diferente da que ocorre entre amigos do mesmo sexo. Em outras palavras, mesmo que a amizade comece com intenções platônicas, a possibilidade de atração frequentemente paira sobre a relação, o que torna a amizade mais complexa e sujeita a mal-entendidos.

        As amizades entre pessoas do mesmo sexo, por sua vez, não enfrentam esse tipo de complexidade. Nas amizades entre mulheres, por exemplo, o compartilhamento emocional e a intimidade são mais comuns e as expectativas em relação à amizade são, em grande parte, mais alinhadas. Mulheres, em geral, tendem a investir mais na construção de um vínculo emocional profundo, sem o risco da atração sexual ou romântica interferir. Nas amizades entre homens, o comportamento é igualmente mais voltado para atividades práticas e interações em grupo, o que também elimina as ambiguidades sobre atração. 

        O fato de não haver atração romântica ou sexual entre amigos do mesmo sexo facilita a construção de amizades mais claras, onde as expectativas são compartilhadas de forma mais explícita e as interações são mais simples.

        Porém, a realidade das amizades entre homens e mulheres é outra. A atração física e romântica frequentemente está presente, e isso gera uma série de questionamentos: até que ponto uma amizade mista pode ser verdadeiramente platônica? Será que as expectativas românticas de um dos lados podem ser ignoradas sem afetar a dinâmica da amizade? E mais importante, é possível que as amizades entre homens e mulheres sejam, de fato, isentas de qualquer desejo oculto? A pesquisa sugere que não.

        Quando os homens mantêm uma amizade com uma mulher, há uma grande chance de que eles a vejam, inconscientemente, como uma possibilidade de algo mais — algo que as mulheres, muitas vezes, não percebem ou não compartilham. Esse fenômeno é, em grande parte, biológico e cultural, refletindo normas que associam o contato entre os sexos à possibilidade de romance e sexo.

        Portanto, a amizade entre homens e mulheres é permeada por dinâmicas que tornam essa relação diferente das amizades entre pessoas do mesmo sexo. Os homens, em geral, mantêm suas amizades com mulheres com a expectativa de que elas possam evoluir para algo mais, seja romântico ou sexual. 

        Estudos corroboram com essa visão, mostrando que, mesmo quando as amizades começam de maneira platônica, a atração física e as expectativas românticas tendem a surgir, especialmente para os homens. Isso cria um cenário em que as amizades entre homens e mulheres são mais complexas e sujeitas a mal-entendidos, muitas vezes devido à diferença nas expectativas de ambos os lados. 

        A amizade entre homens e mulheres frequentemente não são tão simples quanto parecem e, em muitos casos, são permeadas por uma disparidade nas intenções, o que levanta uma questão crucial: será que uma amizade entre homens e mulheres pode ser realmente desprovida de qualquer desejo romântico ou sexual, ou estamos apenas ignorando uma realidade subjacente?

Fonte: Provocações filosóficas no Facebook 


dezembro 07, 2025

AMVBL - A MAÇONARIA E A EDUCAÇÃO - palestra extraordinária

 

Assembleia Geral Ordinária da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras em 16 de novembro de 2025.

Pauta: • ⁠Preleção alusiva à Proclamação da República (Lucas do Couto Santana) • 

Apresentação de candidatura da chapa da Diretoria da próxima gestão • 

Lançamento do livro físico “Sobres as Lojas (Maçônicas) de Estudos e Pesquisas" (de Ivan Pinheiro) 

Palestra “A Maçonaria e a Educação” (Ailton Elisiário de Souza).




...SECRETA ou DISCRETA ? - Adilson Zotovici




Uma sociedade secreta ? ...

Não comungo desse conceito !

Por uma razão bem direta

Por sua feição a despeito


Iniciática e discreta

Que o candidato é o sujeito

Que ensina e a ele é afeta

Uma doutrina que o preceito


Com exposição arquiteta

Por filosofia o seu preito

Por evolução se completa

Como religião... não aceito


Antropocêntrica, dileta

Combate o ódio e o preconceito

Que a Liberdade ao Ser enceta

E à humanidade o proveito


Sem qualquer mito e concreta

Em cada Rito, com seu jeito,

Vibrante busca homem asceta

Pra diante do PAI...perfeito !



FRATERNIDADE MAÇÔNICA

 



        Este é o túmulo do general Lewis Addison Armistead (1817-1863). Ele foi um militar de carreira do Exército dos Estados Unidos da América. Se tornou general de brigada no Exército dos Estados Confederados (Sul) durante a Guerra Civil Americana. Lewis foi baleado e capturado por tropas da União e morreu em um hospital de campo, dois dias depois, aos 46 anos de idade. 

        Antes de ser capturado, temendo ter seus pertences roubados por soldados da União (Norte), Lewis fez um sinal maçônico de ajuda, que foi avistado pelo Capitão Henrry Binghan (da União), portanto, eram inimigos na guerra.

        O seu túmulo é a encenação de uma cena real. Lewis, que eram Maçom, aparece deitado, nos últimos momentos de vida, confiando um relógio de bolso ao Capitão Henry Binghan (também Maçom), para ser entregue à sua família. Apesar de estarem em lados opostos na guerra, prevaleceu a fraternidade maçônica nos últimos momentos da vida do general.

Fonte: CURIOSIDADES DA MAÇONARIA

dezembro 06, 2025

A EMPATIA DO MAÇOM - Newton João dos Santos Sobral Jr.



A Maçonaria nos convida a enxergar um mundo ideal — não aquele que construímos de forma egoísta, centrado apenas nas nossas necessidades individuais, mas um mundo onde todos os seres convivem em harmonia, em irmandade e em respeito mútuo. Nesse mundo, não estamos sós. Ninguém caminha verdadeiramente sozinho, ninguém é totalmente autossuficiente, ninguém possui todas as virtudes ou habilidades necessárias para a jornada. Precisamos uns dos outros.

Cada um de nós carrega fragilidades e carências, da mesma forma que possui talentos e virtudes que faltam em outros. É justamente nessa troca silenciosa, nesse completar-se mútuo, que a verdadeira essência da Ordem se manifesta. Contudo, muitos ainda não compreendem essa verdade simples e profunda. Há irmãos que, tomados pela vaidade ou por uma percepção equivocada de si mesmos, acreditam que nada lhes falta, que tudo podem, que bastam somente a si mesmos.

Mas a empatia — esse atributo essencial do Maçom — lembra-nos que o outro também importa. Afinal, se eu não me preocupo com meu irmão, por que ele deveria se preocupar comigo? Sou eu, por acaso, mais merecedor que ele? Minha presença mais antiga na Loja, meu cargo ou meu grau me tornam superior ou mais digno de atenção? Jamais. Essa é a ilusão do maçom imaturo: acreditar que merece tudo porque aparece demais, porque fala demais, porque se exibe demais.

O verdadeiro caminho é outro. É olhar para dentro, reconhecer nossas imperfeições, compreender nossas limitações e, a partir disso, estender a mão ao irmão que segue ao nosso lado. Devemos ser mais atentos a nós enquanto irmandade, mais comprometidos enquanto família, mais conscientes enquanto filhos de uma tradição acolhedora, que nos guia pacientemente na senda da luz, pedindo apenas respeito à sua história e à sua missão.

Sejamos, portanto, mais maçons e menos profanos — na atitude, no coração, no espírito. Sejamos mais virtuosos e menos escravos de prazeres efêmeros. Que a vaidade não obscureça nossa visão, nem a arrogância roube de nós a capacidade de sentir.

Porque, no fim, a Maçonaria nada exige de extraordinário. Ela apenas pede que sejamos, a cada dia, mais dignos aos olhos dos homens de bem. Mais fraternos. Mais justos. Mais humanos. Mais empáticos.

E que assim, construindo uns aos outros, possamos juntos construir um mundo melhor.



A BUSCA DO DIVINO E A MAÇONARIA - Walter Teixeira




Somos concebidos, nascemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. 

Para onde vamos?

Talvez esta seja a pergunta que tanto nos angustia e onde estejam incutidas todas as nossas dúvidas e medos.

Consequentemente, acabamos tendo uma imperiosa necessidade de acreditarmos que há uma razão especial para estarmos vivos e que em algum momento, teremos que prestar contas dos nossos actos. 

Haveria então, uma “necessidade” de Deus? 

Seria esta “necessidade” transmitida geneticamente ou apenas cultivada culturalmente?

A Filosofia permite que cada um de nós tenha o seu entendimento do mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens.

No entanto, a verdade é que vivemos sim, desde cedo, sob uma ameaça latente em determinadas concepções. 

Tudo o que fizermos, para o bem ou para o mal, dar-nos-á recompensas ou castigos. 

Estaríamos assim, à mercê de um ser superior, omnipresente, omnipotente e omnisciente, julgador, nem sempre muito paciente, nem muito compreensivo; por vezes, mesmo, mal-humorado para com as nossas falhas, enviando-nos pragas e castigos quando o seu julgamento não nos favoreça. 

Poderíamos ser destinados a vagar por toda a eternidade num local mais quente do que o suportável, sob os olhares prazerosos de criaturas nada agradáveis que, ademais, ainda nos castigariam com os seus tridentes pontiagudos.

Por que, frente a tão terríveis presságios, o ser humano que é dotado de diferenciais importantes na escala zoológica, ainda se comporta de forma a causar inveja a qualquer outro animal-fera existente na face da terra?

Será que os seres humanos descobriram como diz o personagem de Nietzsche em “Assim Falava Zaratustra”, que Deus, este Ser superior, morreu?

Acontecimentos não faltam para mostrar que, na ausência de comando efectivo em convencimento, as feras internas se soltam na certeza da impunidad

Mas, teria Deus morrido? 

Para quem Ele morreu afinal? 

Pois, cada vez mais se faz em seu nome sequestros, guerras, atrocidades, negócios e muitas outras ações não muito ligadas à ética, ao amor, à solidariedade, às orações.

Onde estaria Deus no meio de tantas injustiças que nos atinge a todos, independente das nossas concepções, no dia a dia da nossa curta existência?

Podemos por outro lado, apenas acreditar que como ensina o Budismo, o sofrimento é omnipresente em toda a natureza e vida humana. 

Existir já significa que nos vamos encontrar com o sofrimento. 

O nascimento é doloroso, assim como a morte. 

As doenças e a velhice são dolorosas. 

Ao longo da vida, todas as coisas vivas encontram sofrimento.

Não teríamos, pois, o direito à alegria, à felicidade?

Alongando-me neste conceito budista, aqui não se encaixa um Deus personalista. 

Em geral, os budistas são panteístas na sua perspectiva de Deus.

Panteísmo diz respeito a uma doutrina filosófica caracterizada por uma extrema aproximação ou identificação total entre Deus e o universo, concebidos como realidades diretamente conexas ou como uma única realidade integrada. 

É um antagonismo ao tradicional postulado teológico segundo o qual a divindade transcende absolutamente a realidade material e a condição humana.

Que poderíamos dizer e pensar acerca das inúmeras interpretações que se tem nas diferentes formas de sentir e crer em Deus? 

E os conceitos de Deus no Judaísmo, no Islamismo, no Hinduísmo? 

E as contraposições filosóficas entre deísmo e teísmo?

Conceito, dizem os dicionários, é uma faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; é mente, espírito, pensamento, compreensão que alguém tem de uma palavra, de uma acção; é noção, concepção, ideia, opinião, ponto de vista, convicção. 

É a noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de modo generalizado e, de certa forma, estável, as propriedades e características de uma classe de seres, objetos ou entidades abstratas

Conceituar, pois, Deus na Maçonaria, seria no meu entender, cair em mais uma cilada.

Deus não é um conceito. 

Deus é busca, sentimento, caminho, propósito, escopo, finalidade, alvo. 

Nós, maçons, apenas o denominamos de forma diferente, como o “Grande Arquiteto do Universo”.

Quando Philibert Delorme, falando de Deus no seu tratado de arquitetura, usou em 1567, possivelmente de forma pioneira, a expressão *“esse grande Arquiteto do Universo, Deus Todo-Poderoso”*, estava incutindo um conceito: o de Deus como um grande ordenador e planeador do Universo. 

Ou seja, nada fugiria dos seus desígnios, da sua vontade, da sua determinação.

Arrisco-me a dizer que este não é um conceito próprio do que quer nos ensinar a Maçonaria.

Deus é razão, e como tal ilumina os nossos caminhos concedendo-nos a faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar. 

Concede-nos a inteligência, ou seja, a faculdade intelectual e linguística que nos distingue, para modificarmos a natureza e fazermos as nossas escolhas.

Se Ele nos distingue com tamanhos privilégios, temos a obrigação, o compromisso, o dever de saber bem usá-los.

Usá-los na busca do aperfeiçoamento individual e coltivo; no sentimento de amor e compreensão que devemos ter para com todos os demais seres vivos; na visão de um caminho de sofrimentos, porém, também de alegrias. 

No propósito de honrarmos, respeitarmos e aceitarmos todos os conceitos humanos que Dele se possa ter, com a finalidade de obtermos não a sua graça, mas, o seu respeito, e mesmo, por que não, a sua admiração; enfim, como um alvo, tentando nos aproximarmos da sua grandeza.

Na verdade, Ele nunca se definiu. 

Nós é que temos esta necessidade incompreensível de tentar defini-lo.

É mister que entendamos que para a Maçonaria, Deus não é castigo e apesar da denominação “Grande Arquiteto”, não planeia as coisas impedindo as nossas escolhas. 

Dá-nos sim, o livre arbítrio.

As nossas escolhas não serão julgadas, elogiadas ou castigadas com o céu ou o inferno. 

As nossas escolhas representarão dualidades contrastantes do piso mosaico  como enobrecimento ou embrutecimento das nossas almas. 

O bem ou o mal para os nossos semelhantes e demais criaturas vivas; o conhecimento ou a ignorância, a luz ou a escuridão, alegria ou infelicidade.

Todo o ensinamento maçónico está envolvido nestes conceitos: *mente e razão*.

*Mente* como conceito de processos cognitivos e atividades psicológicas, inteligentes e sensíveis do ser humano. 

*Razão*, como pensamento moral, na sua função orientadora da conduta humana, prevendo as consequências e avaliando, com absoluta autonomia, o significado das nossas acções, com base na nossa capacidade lógica de discernir entre o verdadeiro e o falso, o bem e o mal.

Na minha visão, conseguir visualizar, idealizar, conceber, estar convicto e partilhar destes conceitos, independentemente de crenças e práticas pessoais, representa orar a melhor das orações: a da bondade, da virtude, da honra, da dignidade, do compartilhamento, da solidariedade, do sentimento humanitário, da honestidade e do amor.

É, enfim, seguir em busca da mais sublime concepção de DEUS!



dezembro 05, 2025

JONAS SALK, O HOMEM QUE DEU O SOL À HUMANIDADE




O verão de 1952 foi o verão em que os pais desaprenderam a respirar.

Naquele ano, cerca de 57 mil crianças americanas contraíram poliomielite.

Os parques silenciaram.

As piscinas esvaziaram.

Os cinemas apagaram suas luzes por falta de público.

Dentro de casa, janelas fechadas, mães e pais tentavam erguer muralhas invisíveis contra um inimigo que chegava sem avisar — e que podia transformar um corpo infantil em um campo de batalha contra si mesmo.

Nos hospitais, fileiras de pulmões de aço compunham uma música mecânica e assombrosa.

Cilindros metálicos respiravam por crianças que já não conseguiam fazê-lo por conta própria.

Algumas sairiam dali.

Outras jamais deixariam aquela cápsula.

E enquanto o país inteiro prendia o fôlego, em um laboratório subterrâneo em Pittsburgh, Jonas Salk corria contra o tempo — e contra a morte.

Filho de imigrantes judeus russos, criado em um bairro modesto do Bronx, Salk cresceu ouvindo da mãe uma frase que moldaria sua vida:

“Você deve parecer que pertence, mesmo quando disserem que não.”

Ele foi o primeiro da família a entrar na universidade. Escolheu a ciência em vez da clínica.

“Por quê?”, perguntou a mãe.

“Porque não quero ajudar um paciente de cada vez”, respondeu.

“Quero ajudar milhões.”

Em 1952, Salk ousou propor o impossível: uma vacina feita com o vírus morto.

Colegas desconfiavam. Alguns o chamavam de imprudente.

Mas Salk havia percebido um detalhe decisivo:

as crianças que sobreviveram à pólio jamais adoeciam de novo.

O corpo se lembrava do inimigo.

Se pudesse ensinar essa memória ao sistema imunológico — sem o risco da doença — talvez pudesse mudar o mundo.

A teoria precisava de coragem.

E coragem, às vezes, veste o rosto da loucura.

Em 2 de julho de 1953, Salk tomou uma decisão que hoje seria impensável:

injetou a si mesmo com sua vacina experimental.

Depois, à esposa, Donna.

Depois, aos filhos — Peter, de 9 anos; Darrell, de 6; Jonathan, de 3.

Colegas murmuravam pelos corredores:

“Louco.”

“Gênio.”

“Ou os dois.”

Por semanas, ele observou seus filhos com o coração apertado.

Nenhuma febre. Nenhum sinal.

Apenas anticorpos.

Funcionara.

Mas três crianças eram uma gota num oceano.

Era preciso testar milhares.

E assim, em 26 de abril de 1954, na Escola Franklin Sherman, Virgínia, o pequeno Randy Kerr, 6 anos, arregaçou a manga e se tornou o primeiro voluntário do maior estudo médico da história.

Depois dele, vieram 1,8 milhão de crianças — os “Polio Pioneers”, orgulhosos de seus distintivos.

Os pais assinavam formulários com mãos trêmulas. Igrejas faziam vigílias.

Um país inteiro esperava.

Salk, exausto, emagrecido, dormindo pouco, vivia atormentado:

E se tivesse cometido um erro irreparável?

Cada febre em qualquer criança do estudo parecia um golpe na sua consciência.

Então, 12 de abril de 1955 — exatamente dez anos após a morte de Franklin D. Roosevelt — os resultados foram anunciados:

“Seguro. Eficaz. Potente.”

O auditório explodiu.

Sinos tocaram em várias cidades.

Lojas fecharam espontaneamente.

Pais choraram abraçados aos filhos.

Horas depois, perguntaram a Salk quem detinha a patente.

Ele respondeu:

“O povo, eu diria. Sem patente. Como se pode patentear o sol?”

E com essa frase, ele abriu mão de uma fortuna incalculável — e entregou ao mundo sua arma contra o terror.

O efeito foi imediato:

– Em 1961, os casos caíram mais de 90%.

– Em 1979, a poliomielite foi eliminada nos EUA.

– Em 2023, persistia apenas em dois países.

– Cerca de 18 milhões de pessoas que teriam ficado paralisadas podem caminhar hoje.

– Centenas de milhares de vidas foram salvas.

Salk nunca recebeu o Prêmio Nobel.

Mas recebeu algo que poucos ganham:

a visão de crianças correndo por parques onde antes só havia medo.

Quando perguntado o que queria escrito em sua lápide, respondeu:

“Preferia que ela ficasse em um parque. Onde brincam as crianças que não pegaram poliomielite. Isso é suficiente.”

E assim, em um depósito em Atlanta, repousa hoje um dos últimos pulmões de aço — relíquia de um inimigo vencido.

Vencido porque um homem decidiu arriscar tudo — até a própria família — para proteger milhões de outras.

Ele poderia ter sido o cientista mais rico da história.

Preferiu ser algo infinitamente mais raro:

indispensável.

Da próxima vez que alguém disser que uma única pessoa não muda o mundo, conte sobre o verão de 1952, quando o medo encheu o ar…

e sobre Jonas Salk, o homem que decidiu dar o sol à humanidade.


---Fonte: Facebook 

E “A GENTE?” - Heitor Rodrigues Freire

 


Navegando ainda no campo da gramática, recebi uma sugestão do professor Renato Brito sobre um tema que tem merecido minha atenção, tendo em vista a maneira como vem sendo praticado: o uso corrente da expressão “a gente”.

É o termo que mais se ouve em qualquer discurso moderno. É a gente pra cá, a gente pra lá, a gente faz, etc. 

O professor escreveu: “Creio ser pertinente lembrarmos do termo: ‘a gente’, que, de origem latina, ‘gens’, ‘gentis’ – povo, raça, grupo, um substantivo muito utilizado na idade média em Portugal –, começa a partir dos séculos XVII e XVIII aqui em terras brasileiras a deixar de ser um termo substantivado para ousar status de pronome pessoal, funcionando como primeira pessoa do plural, através do fenômeno linguístico da gramaticalização, o mesmo fenômeno que abraçou o vocábulo ‘você’.

Qual é o ponto? Reforçar o sentido do seu texto que trata entre outras coisas, da relação de poder, hierarquia e submissão na sociedade e o reflexo disso no idioma português. Se de um lado temos ‘você’ a denotar respeito, formalidade e superioridade, por outro lado temos ‘a gente’, ou seja, toda gente, todos os que são inferiores e subalternos ao comando e, talvez, caprichos e vaidades mundanas de ‘você’, que está hierarquicamente acima.

De fato, a língua reflete a cultura social posta, afinal, a ‘última flor do Lácio’ em tempos pretéritos em Roma mostrava a diferença brutal do latim falado por Ovídio e Virgílio e o latim chamado ‘vulgar’, precariamente falado pela plebe nas ruas da ‘URBS AETERNA’”

Isso posto, penso que respeito é fundamental, e para isso não devemos levar nada para o lado pessoal, mantendo o bom nível. 

Falando em primeira pessoa – hoje o que mais se verifica é a expressão “a gente”, levando tudo para o impessoal –, da individualidade, passou-se, sem nenhum critério, para a coletividade, despersonalizando totalmente a fala. 

Apesar de sua impropriedade, é importante destacar que "a gente" é uma locução pronominal, composta pelo artigo definido singular "a" e o substantivo "gente". Apesar de se referir à primeira pessoa do plural (nós), a concordância verbal deve ser feita na terceira pessoa do singular. Por exemplo, o correto é "a gente vai", não "a gente vamos".

A proliferação desse termo no português brasileiro é um fenômeno sociolinguístico que reflete uma mudança na língua falada, na qual a locução pronominal tornou-se o substituto mais comum e informal do pronome pessoal "nós". 

Parece que o que se pretende é criar informalidade e coloquialidade: "a gente" é predominante em contextos informais e na fala cotidiana, enquanto "nós" é geralmente reservado para situações mais formais ou para a norma culta escrita. O seu uso indiscriminado reflete a identidade cultural e a diversidade linguística do Brasil, onde as variações da língua são comuns e influenciadas por fatores geográficos, sociais e temporais.

Penso que esse processo faz parte de uma tendência de simplificação ou mudança natural da língua ao longo do tempo. Pesquisas mostram que a forma "a gente" tem, cada vez mais, ocupado o lugar do pronome "nós" entre os falantes brasileiros.

A análise filosófica do uso crescente de "a gente" pode ser abordada através de várias lentes: filósofos como Ludwig Joseph Johann Wittgenstein, (1889-1951, pensador austríaco naturalizado britânico e um dos principais autores da virada linguística na filosofia do século XX) argumentavam que os problemas filosóficos muitas vezes surgem de mal-entendidos sobre como as palavras são usadas na vida cotidiana. A exemplo desse pensamento, a mudança de "nós" para "a gente" na linguagem ordinária sinaliza uma transformação no uso da língua que merece atenção filosófica, pois o uso da linguagem molda nossa percepção sobre o mundo. A análise focaria em como essa nova forma é usada para transmitir significado em contextos não filosóficos.

O uso de "a gente" pode indicar uma mudança na percepção da identidade coletiva. Enquanto "nós" denota um grupo específico e muitas vezes exige uma concordância mais direta e pessoal; "a gente" pode sugerir uma forma mais genérica, menos definida ou mais fluida de pertencimento a um grupo. Isso levanta questões sobre a natureza da comunidade moderna: estamos nos tornando mais homogêneos, ou a linguagem reflete uma nova forma de solidariedade menos formal?

Em suma, a proliferação de "a gente" é mais do que uma simples mudança gramatical; é um fenômeno linguístico que convida à reflexão filosófica sobre a relação entre o eu e o outro, a natureza da vida em sociedade e a forma como a linguagem captura (ou distorce) a realidade da experiência humana na contemporaneidade, e também é um exemplo claro  de como a língua evolui e se adapta ao uso cotidiano de seus falantes, com a linguagem informal ganhando espaço significativo na comunicação oral no Brasil. 

Apesar de toda essa argumentação a favor, entendo que o uso indiscriminado desse termo contribui para o empobrecimento da língua. Não se trata de purismo, mas de constatação verdadeira, porque a substituição do pronome “nós” enseja à forma como as pessoas vivem a maior parte de suas vidas em um estado de impessoalidade e conformidade, fazendo o que "se faz", pensando o que "se pensa". A popularização do termo "a gente" pode ser vista como uma manifestação linguística dessa existência inautêntica e massificada, onde a responsabilidade individual se dilui na coletividade anônima.

Enfim, assim caminha a humanidade. Sigamos.


dezembro 04, 2025

AOS MAÇONS MALEMOLENTES - Roberto Ribeiro Reis

 


 

Quero trazer à baila, entrementes,

Dos Maçons uma triste condição,

Que embora isolada, é má ação,

Quando esses são malemolentes.

 

A moleza e ausência de disposição

São mazelas e assolam excedentes;

Há irmãos que, dos trabalhos carentes,

Prejudicam a boa fama da Instituição.

 

Maçonaria é labor, incansável ação,

Sem espaço algum aos incoerentes;

Não usam ferramentas e, descrentes,

Parecem viver no mundo da lassidão.

 

Essa apatia já lhes virou escravidão,

Têm maus hábitos, e são indolentes;

Do desinteresse eles são recorrentes,

Sua fadiga lhes promove a solidão.

 

Que a Força da Ordem possa então

Dar ânimo e vontade a tais Obreiros;

Que eles se tornem bons Oficineiros,

Deixando o vil ócio rumo ao clarão!

 

 

A MARCA DO MAÇOM - Alfério di Giaimo Neto




Hoje, se fizermos uma viagem à Escócia, Inglaterra, Irlanda, alguns países da Europa e visitarmos suas belíssimas e imponentes catedrais, abadias e monastérios, citando como exemplos a Salisbury Cathedral, York Minster, Westminster Abbey, a Capela Roslyn e Melrose Abbey, podemos verificar que as pedras que as compõem, tem marcas esculpidas em forma de riscos e pontos, e nós a chamamos de “Marcas do Maçom” (Mason´s Marks) 

Estas antigas Marcas do Masom ajuda-nos a traçar a história da Maçonaria dos seus tempos de Operativa até o presente momento, quando são usadas num sentido simbólico no primeiro Grau Capitular do Rito de York

Pondo de lado as lendas das Antigas Constituições Góticas perpetuadas alguns hoje em dia, os quais pretendem dar sentido ao fato da Maçonaria se originar na construção do Templo do Rei Salomão, ou após o dilúvio do tempo de Noé, sabemos atualmente que  nossa moderna Maçonaria é fruto daqueles Maçons Operativos da idade média, os reais construtores daqueles ornados e belos exemplos da escola gótica de arquitetura, insuperáveis na arte de construir.

Pequena atenção foi dada para esses entalhes até 1841, quando um pesquisador britânico de arqueologia, publicou um artigo em seus estudos. Estudiosos maçônicos tiveram um interesse no tema, e perceberam a conexão formada entre a Maçonaria Operativa e a Especulativa.

É surpreendente como tanto tempo uma coisa permanece desconhecida até seu primeiro descobrimento. Quando essas de marcas de Maçons foram mostradas para um velho padre, ele retrucou “eu tenho andado através desta igreja quatro vezes ao dia, vinte vezes por semana e nunca reparei em nenhuma delas. Agora eu não posso olhar para qualquer lugar, que elas flutuam nos meus olhos”.

A marca do Maçom Operativo foi usada com propósito puramente pratico. Durante o período quando muitas catedrais, abadias e monastérios foram construídos, eram poucos os que sabiam ler ou escrever. Quando se tornava um Companheiro ou Oficial, cada Aprendiz Maçom selecionava sua marca ou desenho, a qual era para toda a sua vida, e não era nunca mudada. A marca servia, então, como uma assinatura. Ele a marcava em cada pedra preparada, de tal modo que poderia receber crédito e salário pelo seu trabalho, e ele se mantinha responsável pela qualidade e pela adequada execução de seu serviço. A marca do Maçom tinha um objetivo similar a um negócio onde se tinha a assinatura pela qualidade do serviço.

Sabemos que durante a idade média, a Igreja Católica Romana dominou todas as demais religiões na Europa e nas Ilhas Britânicas, e que a maioria dos trabalhos feitos pelos Maçons Operativos daqueles dias foi a construção de catedrais, abadias e monastérios para tal Igreja. Entretanto, com a vinda do Protestantismo, na revolução religiosa em 1517, a Igreja Católica Romana perdeu muito de seu poder temporal e influencia e os trabalhos nas construções religiosas, caíram acentuadamente. Os Maçons Operativos acharam-se frente a um desemprego crescente. Poucos Aprendizes eram aceitos para aprender a Arte Real, e o trabalho para os Maçons remanescentes era largamente limitado à construções militares e trabalhos de reparo que requeriam menores habilidades.

Esse período de declínio operativo era o começo de uma gradual mudança de uma agremiação de construtores, para uma fraternidade moral e filosófica, a qual hoje nos chamamos de “Maçonaria Especulativa”.

Retornando nossa atenção para as marcas do Maçom, foi achado, alguns anos atrás, uma referencia num livro alemão, de 1462, e nele estava anotado que, quando um Aprendiz se tornava um “oficial” (equivalente ao Companheiro), o Maçom “tomava a sua marca numa festa solene de admissão”. Mais tarde na Escócia, em 1598, o então chamado “Schaw Statutes” foi colocado em efeito. Era uma série de regras governando o negocio dos Maçons Operativos e foi emitido por William Schaw, Mestre de Trabalho (artífice) do rei James VI da Escócia. Citam, de modo sumário que “... quando se tornavam Companheiros ou Mestres, seus nomes e marcas deviam ser devidamente registrados no livro adequado para tal fim...”  O Companheiro era um oficial (artesão, artífice), totalmente qualificado para fazer trabalhos de pedreiro, e o Mestre era o contratante (empreiteiro) de Companheiros, e que podia trazer Aprendizes para treinamento.

Em 1634 aconteceu um evento que afetou profundamente o futuro da Ordem. A Ata da Loja Escocesa de Edinburgh (Mary´s Chapel), em 01 de Julho de 1634, registra que Lord Alexander; Sir Anthony Alexander e Sir  Strachan foram admitidos como membros da Loja e não eram Maçons Operativos.. Este é o mais antigo registro de admissão de não operativos em uma Loja da Escócia ou Inglaterra, e transformou-se na cunha de abertura na transição da Maçonaria Operativa em Especulativa.

Atas mais antigas dessa Loja, de julho de 1599, e mostram a marca do Maçom usada em conjunção com a assinatura de um dos membros presentes. No ano seguinte, muitas marcas aparecem nas Atas, muitas vezes desacompanhadas da assinatura. Atas de outras Lojas Escocesas também mostram o uso da marca, incontestavelmente de acordo com o requerido nos Estatutos Schaw.

Depois da admissão dos três Maçons não-operativos mencionados acima, tal pratica se espalhou rapidamente. No período de declínio dos operativos, mais e mais não-operativos vinham a ser aceitos como membros na maioria das Lojas, e a característica da Maçonaria sofreu uma mudança crescente e rápida. Em 1670, por exemplo, a Loja de Aberdeen mostra Atas assinadas por 49 membros, dos quais três quartos eram não-operativos. Notável era o fato de que entre esses últimos, dois tinham marcas, indicando que a pratica da escolha de marca não era restrito somente aos operativos.

Durante este período quando atividades eram bem documentadas na Escócia, registros ingleses eram mais ou menos raros, relativos aceitação de não-operativos, e não fazem nenhuma referencia deles no uso da marca de Maçom. Essa escassez de registros dificulta fazer mais do que uma leve suposição na cadeia de eventos, os quais precederam o mais importante de todos, que foi a formação da primeira Grande Loja por quatro Lojas em 1717, geralmente aceita como a linha histórica divisória entre a Maçonaria Operativa e Especulativa. Isso estabeleceu a base do padrão organizacional da Maçonaria regular, em todo o mundo. A Irlanda seguiu o exemplo, formando sua própria Grande Loja em 1725, e a Escócia, igualmente em 1736.

A parte ritualística desempenhava função relativamente pequena na Maçonaria Operativa, mas com a transição para Especulativa, se desenvolveu e expandiu, e logo se tornou importante. Entretanto, a primeira indicação sobre a marca do Maçom em uma cerimônia foi em 01 de setembro de 1769, nas Atas do Phoenix Royal Arch Chapter of Plymouth, Inglaterra, onde se relata que seis membros foram feitos “Maçons da Marca e Mestre Maçom da Marca” e cada um “escolheu sua marca”. 

O desenvolvimento do Grau Mestre Maçom da Marca até o a condição atual é uma historia interessante. Por várias vezes ele foi conferido em Lojas Simbólicas, no Rito Escocês, ou nos Capítulos do Real Arco, ou nas Lojas Independentes da Marca. Na América o Grau foi gradualmente absorvido pelo Real Arco antes do século XIX.

Apesar do ritual variar um pouco em diferentes locais, eles são basicamente semelhantes. Com o desenvolvimento do Ritual do Grau do Maçom da Marca, houve uma conversão para a lenda da função da Pedra da Abóbada (Pedra Fundamental) e para o tema da construção do Templo do Rei Salomão.

O grau da Marca é agora um requisito para candidatos para o Grau do Real Arco nos Estados Unidos, Irlanda e Escócia. A Grande Loja Unida da Inglaterra, no começo, reconheceu o Grau de Marca como uma “digna adição para o Grau de Companheiro”, mas logo reverteu sua decisão, o que permitiu, em 1856, a formação da “Grande Loja de Mestre Maçons da Marca da Inglaterra, Wales e Domínios e Dependências da Coroa Britânica” a qual tem hoje em torno de 1200 Lojas de Marca sob sua jurisdição.

Nosso Ritual para o terceiro grau na Loja Simbólica é claramente baseada nas praticas dos Maçons Operativos, com simbolismo baseado nas ferramentas de trabalho, pedras de cantaria esquadrejada, lições de arquitetura e muitas outras. Por que a marca do Maçom, uma pratica operativa de tempos imemoriais é omitida em favor de outras coisas como a Ancora, a Arca de Noé, a Colméia, etc, é difícil de entender.

Nossa marca de Maçom é o equivalente Maçônico de nossa assinatura. Ela representa nosso nome, nosso caráter, nossa integridade e nossas habilidades. Quando nós assinamos nosso nome ou aplicamos nossa Marca em um documento, numa carta, num quadro, ou numa pedra para a construção de uma catedral nós nos levantamos para sermos considerados. Por ela nos podemos efetivamente dizer “esta é a minha posição, este é o meu trabalho, eu garanto sua qualidade, e estou orgulhoso da obra que ela mostra”.

Parece ser da natureza humana, querer deixar algum tipo de registro para as gerações futuras saberem o que se passou em nossos dias. Nós algumas vezes ouvimos dizer de uma pessoa que “ele deixou sua marca”, significando que ela deixou uma impressão favorável em algum campo da sociedade, tornando-se notável. Nem todos podem se tornar expressões máximas da sociedade, mas podemos contribuir na construção de um mundo melhor. Os antigos Maçons Operativos deixando sua marca nas pedras das grandes catedrais revelam que “ tomei parte na construção dessa belíssima casa de Deus”.

Se formos os melhores cidadãos, melhores maridos, melhores pais, nós podemos deixar nossa marca na sociedade, melhorando-a, melhorando nossos amigos e vizinhos e melhorando a nós mesmos. Vamos deixar nossa marca, fazendo o melhor que pudermos em nosso trabalho, em nossa família, e, principalmente na Fraternidade Maçônica.


Bibliografia: The Masonic Service Associations of United States

Wallace M. Gage, PM  -  The Maine Lodge of Research