A VIRTUDE COMO IDEAL - Ademir Candido da Silva



O caráter progressista de nossa Sublime Instituição nos impulsiona para a construção de uma sociedade mais justa e fraternal.

Admitimos que, além de direitos, temos também deveres - e não somente para com nossos Irmãos, com nossos familiares e a sociedade, mas principalmente para com nós mesmos, trabalhando nosso Templo interior.

Na sua essência, a Maçonaria tem como lema erigir templos à virtude e cavar masmorras ao vício - uma das mais nobres atividades pregadas por todos os grandes condutores da humanidade.

Ao estimular a virtude, é preciso, ao mesmo tempo, combater o seu inimigo, o vício, que está sempre tentando o homem e o desviando da estrada correta.

Desde os tempos antigos, a virtude era tida como uma disposição adquirida de fazer o bem. Para os pensadores latinos e gregos, a virtude era um ponto sediado de maneira equidistante dos vícios, como expressa o provérbio latino “in medio stat virtus”.

Em “Ética a Nicômano”, Aristóteles afirma que tanto na Moral, no comportamento e na virtude, há uma mediação entre vícios de sentidos opostos.

Horácio, em um dos versos de suas “Epistolas”, diz que a virtude é o ponto médio entre dois defeitos equidistantes um do outro. Lê-se também nas “Metamorfoses de Ovídio”, quando o sol adverte Faetonte para que dirija seu carro de maneira equidistante da terra e do céu, para não se submeter aos perigos; conselhos este não seguidos, que obrigou Zeus a fulminá-lo: “medio tulissimus íbis” (pelo meio irás com segurança), representando o conselho não seguido.

Roberto Lyra, professor da UnB, era totalmente contra o meio termo como conduta certa e ao tratar do comportamento humano, investiu ferozmente contra tal ideia. Segundo ele, o meio era uma linha que passava do nariz às partes pudentas, portanto, detestável, contaminando, pois ele defendia o marxismo, que era radical nas suas ações.

Para o Apóstolo Paulo, a excelência da virtude é a caridade, como podemos ler na Primeira – Epistola aos Coríntios, versículo 13: “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.

Ao tratarmos da virtude pelo político, temos a citação de versos de Petrarca em “O Príncipe” de Maquiavel, onde o termo significa: “O valor tomará armas contra o furor; que a luta se espraie bem depressa! Pois a coragem antiga não morreu no coração dos Italianos”. Para Maquiavel, virtude é a capacidade do príncipe de manter e firmar seu domínio, usando das artes da raposa e do leão.

O vocábulo “virtude” vem do latim “vir” (viri) que significa homem (como homem ou com as qualidades de homem) em oposição à feminina. Daí (VIRTUS – UTIS), varonil, coragem, vigor valor e virtude. Era qualidade física do homem, dos animais ou das coisas.

Há inúmeras virtudes, mas devemos ter em mente que a primeira das virtudes é reprimir a língua, como se pode ler na “Quinta Nemea” de Pindro ou nos “Disticha Catonis”: “virtutem primam esse puta compescere linguam”. Também dentro de nossa Instituição, o silêncio vale ouro e é sempre solicitado do verdadeiro Maçom.

As virtudes adquiridas (ou naturais) são os hábitos que se criam através do processo de socialização, seja na família, na escola ou nas demais instituições das quais fazemos parte desde que nascemos.

Assim, as virtudes humanas não são inatas, mas sim elementos que se constroem e complementam a personalidade das pessoas ao longo da vida.

Para Confúcio, a personalidade moral do homem tinha quatro pontos de crescimento, cujo cultivo produzia as Quatro virtudes: o humanitarismo, a observação dos ritos, a diligência e a sabedoria.

Na Igreja temos as virtudes Teologais: a fé, a esperança e a caridade, em contraposição aos vícios chamados capitais: soberba, avareza, luxuria, ira, gula, inveja e preguiça.

Para os franceses, a preguiça é a mãe de todos os vícios. Existe um sem-número de virtudes: prudência, temperança, coragem, fidelidade, justiça, generosidade, compaixão, misericórdia, gratidão, simplicidade, tolerância, pureza, doçura, boa-fé, humor, o amor, que resume quase tudo, e tantas outras.

Todas as virtudes são aceitas e bem recebidas na Maçonaria; vamos levantar Templos à virtude, em especial os sentimentos de fraternidade, que geram a igualdade e a liberdade.

A Maçonaria não tem a capacidade de produzir homem virtuoso, o que acontece com qualquer tipo de instituição, mas o esforço que emprega para divulgar as virtudes, tem criado inúmeros homens de boa conduta, capazes de trazer à sociedade um trabalho profícuo de criar um mundo melhor.

Cito nosso Irmão João Ricardo Ribas Junior da A.R.L.S. Leon Denis, 17, do oriente do RJ, representa a cidade como vereador, tem proeminência na saúde pública e atuação humanitária em nível mundial, assim como participou da Conferência Mundial do clima em Dubai em dezembro/2023. O convite teve motivação pela sua participação efetiva salvando vidas, através de cirurgias complexas, quando da grande explosão no Líbano. Exerce também abnegada atuação nos Médicos Sem Fronteiras, que leva cuidados de saúde a pessoas extremamente necessitadas.

Assim como o Irmão João Ricardo, temos inúmeros outros Irmãos Maçons que são altruístas e que se doam para o próximo, sem esperar nada em troca.

Antonio Moraes Silva, no seu celebre dicionário da Língua Portuguesa, edição de 1831, define humildade como: “virtude, que consiste no conhecimento do nada que somos, e na prática conforme a esse conhecimento, refreando o entendimento, e o amor-próprio, onde a Religião, e a razão ditam: sujeitando-nos, e obedecendo aos superiores; não tratando com soberba aos próximos”.

A humildade é uma virtude cristã, que nos inspira o profundo sentimento de nossa fraqueza, fragilidade, miséria e o sincero reconhecimento de que nada bom é propriamente nosso, mas sim, um Dom de Deus, feito da sua liberalidade e misericórdia.

Nada melhor que começarmos praticando a simplicidade, a fim de que se adquira a humildade, que é virtude silenciosa, não sendo notada, se é real, nem pelas outras pessoas.

O humilde desconhece sua virtude, pois no dia que propagá-la deixa de ter o dom. Humilde é aquele que faz força para que o bem-estar atinja a humanidade, sem que seu nome seja citado.

O humilde emprega o tempo em silêncio para pensar as feridas do próximo, sem visar recompensas. Faz com a mão direita, de modo que a mão esquerda não saiba, o bem, desinteressadamente.

Aplaude anonimamente o êxito dos outros, tem o valor moral de ser isento, de não ser apaixonado, considerar a relatividade de tudo o que nos cerca, sabendo que tudo muda num piscar de olhos, pois na luta pela vida não há vencidos nem vencedores, apenas competidores, que são parte da transformação contínua que opera em toda parte.

Por isso, na prática do Amor, da Verdade e da Justiça, jamais deve o verdadeiro esoterista aguardar reciprocidade ou recompensa pelos seus atos elevados. Deve lembrar-se de que é um simples instrumento do G.A.D.U., agindo neste plano em benefício do próximo; não deve esquecer que veio a este mundo para servir e sacrificar-se pela evolução geral, e viver feliz.

Analisando este estudo, chega-se à conclusão de que, no âmbito maçônico, não há espaço para disputa de cargos ou política. A verdadeira Maçonaria é aquela que na qual vivenciamos o Amor, a Fraternidade, a Verdade, o Dever e o Direito, nos proporcionado o prazer indescritível de abraçar um Irmão; é aquela que faz com que a convivência fraternal seja um prazer e não uma obrigação semanal.

Platão, no século V a.C, já mostrava a virtude como esforço de purificação das paixões. Dizia que o compromisso de um homem virtuoso está vinculado à razão que determina o exercício prático, o domínio do corpo.

Esses valores e virtudes, indispensáveis em todos os seres humanos, são conquistados através da vontade, imbuída de razão. Se temos direitos, temos também deveres, e não somente para com nossos Irmãos, para com nossos familiares, para com a sociedade, mas principalmente para com nós mesmos, para com nosso trabalho interior, para o desbaste de nossa Pedra Bruta.

Muitas vezes esquecemos de olhar para nós mesmos, em se tratando de mudanças e transformações. Exigimos que os outros mudem, sem, no entanto, fazer nada para sair de onde estamos. Em nosso meio, não deve haver lugar para hipocrisia e muito menos para vaidade.

Neste ano que se inicia (2024), procuremos sempre transpor os caminhos por onde transitam as verdades vestidas de consolo, orientação e otimismo.

Sem dúvida são alguns materiais que o G.A.D.U. selecionou, para compor o refúgio e suavizar a nossa jornada dos desatinados viajadores do seu Reino.

Assim, com prudência, justiça, fortaleza e temperança, vamos percorrer esses caminhos plenamente conscientes do poder construtivo dos nossos pensamentos, que nos tornarão, indubitavelmente, canais livres, desimpedidos, por onde as bençãos de Deus fluirão inexoravelmente, embalando nossos sonhos ao encontro de si mesmo.


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