junho 23, 2025

NOBLESSE OBLIGE - Heitor Rodrigues Freire


Todos nós somos filhos do Pai Altíssimo, que nos criou livres e iguais para, assim, termos a oportunidade de nos desenvolver por nossos próprios meios, para conquistarmos nossa evolução. A única diferença entre nós é o modo como utilizamos o conhecimento de que somos dotados. Só depende de cada um.

No livro Deuteronômio, o quinto do Pentateuco da Bíblia Sagrada, no capítulo 30, versículos 11-14, Deus declara a Moisés: “Este mandamento que hoje lhe ordeno não é muito difícil, nem está fora do seu alcance. Ele não está no céu, para que você fique perguntando: ‘Quem subirá até o céu para trazê-lo a nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática?’ Também não está no além-mar, para que você fique perguntando: ‘Quem atravessará o mar, para trazer esse mandamento até nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática?’ Sim, esta palavra está ao seu alcance: está na sua boca e no seu coração, para que você o coloque em prática”.

Assim, Deus concedeu a cada um de nós o mesmo mandamento e o fez da mesma forma, sem distinção. O mandamento do Pai Altíssimo está em nossa palavra e em nosso coração. Cabe a cada um procurá-lo, encontrá-lo e praticá-lo. Somos todos nobres de origem, independentemente de raça, gênero, classe social, nacionalidade, religião ou época. Afinal, somos todos filhos do Pai.

Dessa forma, nosso comportamento deve ser sempre nobre, pois noblesse oblige: a nobreza obriga. Devemos agir de uma forma que esteja de acordo com a nossa natureza, a nossa graduação original e a nossa consciência. Indo diretamente à fonte, que mora em nosso coração. A tradução literal dessa frase quer dizer “a nobreza manda”, e para entendê-la é bom que se volte um pouco no tempo e que pensemos na história. 

Houve uma época em que as normas de conduta ética e moral eram transmitidas às novas gerações pelas classes dominantes: a aristocracia, os intelectuais, os escritores, os artistas, ou seja, pela elite, aquela categoria de pessoas que tinha acesso ao conhecimento e, por isso, era um exemplo de conduta. Isso mudou muito hoje em dia, mas o significado da frase permanece. Quando, por exemplo, nos confrontamos com uma situação em que o outro lado age de maneira rude ou equivocada, noblesse oblige: independentemente de quão rude agiu o outro lado, por mais tentador que seja, jamais devemos sair da atitude correta – e a atitude correta acaba desarmando ou neutralizando a grosseria cometida pelo outro lado.

Noblesse oblige é uma frase que deveria se fazer mais presente em nosso cotidiano e sobre a qual deveríamos refletir com mais frequência. 

Na realidade, houve uma renúncia, por desconhecimento, ao direito que cada um tem de acessar seu coração e obter diretamente, sem intercessão de quem quer que seja, a ligação direta com o nosso Pai. Sem dogmas, sem rituais, sem liturgia.

O primeiro passo para a evolução é o discernimento. E o que ele significa? Discernimento é a capacidade de decidir por nós mesmos, ter a confiança de que somos capazes de pensar com a própria cabeça, sem nos deixar influenciar por quem quer que seja. “Tudo é permitido. Mas nem tudo convém. Tudo é permitido. Mas nem tudo edifica.” São palavras de Paulo na 1ª Carta aos Coríntios, capítulo 10, versículo 23. Ou ainda: “A liberdade é bonita, mas não é infinita. Acredite: a liberdade é a consciência do limite” (letra da canção A liberdade é bonita, de Jorge Mautner com José Miguel Wisnik). 

Paulo também afirmou, na Carta aos Gálatas, capítulo 5, versículos 22-23: “Mas o fruto do Espírito é amor, é alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si”. Ele mostra o caminho para a prática do mandamento que Deus nos concedeu e que colocou em nosso sentimento (coração) e em nossa palavra (boca).

Já que estamos com Paulo, na 1ª Carta aos Coríntios, capítulo 13, ele também escreveu que o caminho que ultrapassa todos os dons e ao qual todas as pessoas devem aspirar é o amor. O amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva as pessoas a discernir as situações e a criar gestos oportunos. No versículo 13, ele encerra: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.

Voltando ao conceito noblesse oblige, não nos deixemos dominar por outro sentimento que não seja o amor, que tudo encerra e tudo engloba.


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