dezembro 30, 2025

CHANUKÁ E NATAL – LUZES E ESPERANÇA - Jacques Ribemboim



Muitas tradições e festividades cristãs têm origem no judaísmo, berço das grandes religiões monoteístas. Não poderia ser diferente, haja vista que Jesus era judeu, assim como toda a sua família, parentes e apóstolos. Portanto, há de se compreender o paralelo existente entre tantas celebrações, coincidindo nas datas, mas reinterpretadas em conteúdo. Ao procurarmos em sites de I.A., contudo, dão como certas as origens pagãs, de culto a solstícios e mudanças de estação – lembrando, porém, que nenhuma festividade greco-romana conseguiu se manter até os nossos dias.

Comecemos com o carnaval, que tem inspiração em Purim, a festa da Rainha Ester, anualmente celebrada entre os meses de fevereiro e março. Em Purim, as pessoas se fantasiam, põem-se a dançar e fazer barulho nas ruas, com apitos e rashanim, tal como se fosse no carnaval.

A Páscoa católica, por sua vez, tem inspiração no Pessach, sempre em março ou abril, com os judeus comemorando a saída do Egito e os cristão rememorando a ressurreição de Cristo. Lembremo-nos de que a Páscoa celebrada por Jesus e seus apóstolos era a judaica, com direito a sidur, vinho e pão-ázimo.

Outros costumes cristãos derivam do judaísmo e seriam muitos para relacioná-los aqui. O dia semanal de descanso, por exemplo, que segundo ordena Deus no Velho Testamento deve ser o sétimo, o Shabat, mas para o imperador romano Constantino deveria ser o domingo, primeiro da semana. O que de fato passou a acontecer por sua ordem, a partir de 321 d.C. – uma iniciativa a mais para distinguir do judaísmo a nova religião naqueles primórdios do monoteísmo europeu. A artificialidade do ato de Constantino fez surgir reações dentro da própria Igreja, dando origem a vertentes sabatistas de séculos depois.

Com relação à festa do Natal, a data coincide com a de Chanuká – a “Festa das Luzes”, quando os israelitas festejam a vitória dos Macabeus contra os gregos selêucidas, declarando a independência da Judeia, em 165 a.C. Na retomada do Templo de Jerusalém, foi registrado o milagre do óleo purificado, suficiente para acender os candelabros por apenas um dia e perdurou por oito. Por isso, todos os anos, os judeus acendem candelabros e agradecem a Deus pela vitória que assegurou a sobrevivência da religião.

No caso do Natal, as luzes da cristandade foram associadas ao nascimento de Jesus e foi convencionado no dia 25 de dezembro pelo Papa Júlio I, por volta do ano 354 d.C., sendo paulatinamente esquecido pelos cristãos o significado de Chanuká como libertação frente aos gregos e ao paganismo.

Todo este berço judaico do cristianismo e o fato de possuir um calendário tão arraigado às efemérides da “Lei Antiga”, dos Rolos de Ester e dos Macabeus, não enfraquecem em absoluto a exegese do Novo Testamento, seus significados e celebrações. Ao contrário, renova espíritos, aproxima as pessoas, intensifica o diálogo e reforça a fé. Importante ter ciência desses paralelos que às vezes nos passam despercebidos.

Imagem: Rosto judaico de Jesus, Richard Neave, BBC, 2001.

Fonte:Publicado no Diário de Pernambuco, 19.12.2025).

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