junho 04, 2025

O PELICANO - Carlos Armando Molinaria



Examinando as páginas do Grande Dicionário Enciclopédico da Maçonaria de Nicola Aslan, vamos encontrar a seguinte descrição sobre o Pelicano: "símbolo maçônico representado pelo pelicano derramando sangue pelos seus filhotes a que foi adotado pela maçonaria, na antiga arte cristã, o Pelicano era considerado emblema do salvador".

Este simbolismo tem por base uma antiga superstição, cuja falsidade foi demonstrada, mas, enquanto se acreditava nela, o Pelicano foi adotado como símbolo do Cristo, derramando o seu sangue pela Igreja e pela Humanidade.

A esta interpretação teológica, os místicos aplicaram, porém, outro significado, considerando o Pelicano como símbolo do próprio sacrifício, indicando que na medida em que damos, nossas posses, as nossas aquisições intelectuais, as nossas habilidades, alimentamos a nossa vida, desenvolvemos o nosso caráter e a nossa personalidade, sendo que, à medida que os anos passam, o nosso sacrifício se reflete em boas ações que perduram além da nossa vida, como que lembrando os sacrifícios que fizemos.

Entre os alquimistas, o Pelicano foi um utensílio que utilizaram para suas operações, e um símbolo.

Tratava-se de um alambique de vidro circular, de uma só peça, com o bojo encimado por um capitel tubulado, do qual partiam dois tubos opostos e encurvados, formando asa.

Estes tubos voltavam a entrar lateralmente no bojo, de modo que o líquido destilado recaía constantemente dentro dele. Não se sabe bem se o nome de Pelicano foi aplicado pelos alquimistas ao aparelho por causa de sua forma que se parecia com esta ave, ou pela função do aparelho, destinado a alimentar constantemente e manter a vida, com o produto de suas entranhas, o "franguinho" do alquimista, ou seja, a "obra" que ele procurava realizar.

Nas várias fases por que passava a grande "obra", a matéria tomava diferentes cores, tornando-se sucessivamente preta, branca, verde, amarela, arco-íris etc., simples transições entre as cores principais. Estas tinham os seus símbolos: o preto simbolizava um cadáver, um esqueleto, um corvo etc. o branco geralmente por um cisne; o vermelho, a rubificação, como o chamavam, por uma fênix, um Pelicano ou um jovem rei coroado encerrado no Ovo Filosófico.

O Pelicano é sempre representado quando se abre as suas entranhas para alimentar seus filhotes, sempre em números considerados sagrados: 3-5-7. A Maçonaria vê no Pelicano o DEUS alimentando o seu Cosmos com a própria substância.

Por isso na Joia dos Cavaleiros "Rosa-Cruzes" o Pelicano é visto embaixo da rosa-cruz e do compasso, que apoia as suas pontas sobre o quarto círculo que sustenta o seu ninho.

No simbolismo maçônico, o Pelicano é o emblema mais característico da caridade.

É como tirar de suas entranhas o alimento de seus filhotes. Muitos veem no Pelicano o mais lindo símbolo do amor materno.

Entre os antigos Egípcios, o Pelicano era tido como ave sagrada, era um emissário do Espírito Santo, porque apresentava certas qualidades que faziam com que os nativos de então se surpreendessem pelos esplendores da ave.

O Espírito Santo bafejava sobre o povo, assim como a pomba nos evangelhos representa o Espírito Santo, tal como naquela passagem quando Cristo foi batizado nas águas do Rio Jordão. Saindo das águas, o céu se abriu e desceu o Espírito Santo na forma de uma pomba.

Seria Lenda?

Superstição?

Seria Verdade?

Não podemos questionar. 

E isso porque o pássaro era o símbolo da maternidade mais augusta, da maternidade elevada ao seu grau máximo.

Então, o Pelicano possui uma espécie de bolsa, logo depois do bico, descendo para o papo. E, na forma de regurgitação, deposita ali os alimentos para os filhos. Quando necessitando desse trabalho, enfiava o bico pela bolsa e retirava o alimento que ali estava, servindo assim seus próprios filhos.

A ave procedia dessa forma para a manutenção dos filhotes, mas acreditavam piamente, os daquela época, que o Pelicano arrancava parte do próprio corpo para alimentar a prole, ou extraísse o próprio sangue que alimentava os rebentos.

O Pelicano não serve de sua carne, não serve de seu sangue para alimentar os filhotes, pelo processo que era vedado aos primitivos notarem, devido à distância em que ficavam. E a semelhança ficou, o símbolo permaneceu.

E o Pelicano é para nós, realmente o emblema mais extraordinário de nossa própria Ordem, quando a mãe comum realiza todos os sacrifícios para amparar os filhos, para alimentar seus rebentos para propagar a própria espécie.

Não estranha, pois, que a Maçonaria dos Altos Graus, tenha adotado este símbolo do Pelicano para o Grau de Cavaleiro Rosa Cruz, 18, grau alquímico por excelência e eminentemente cristão, fazendo-o, outrossim, o símbolo do amor paterno e materno.



junho 03, 2025

MACONARIA DIA A DIA EM POESIA - Adilson Zotovici


   
 Tive o privilégio, neste domingo, durante a Jornada Maçônica de Santos, de receber um dps primeiros exemplares do novo livro do maior poeta da maçonaria brasileira, Adilson Zotovici, intitulado Maçonaria dia a dia em poesia. Este blog posta poemas do mestre todos os domingos. A capa é uma obra prima criada por sua filha, arquiteta, que lembra as telas do artista francês Marcel Duchamp. Coube-me ainda a honra de redigir o prefácio desta notável obra, que reproduzo abaixo.
Os interessados na excepcional obra podem me contatar, que transmitirei ao poeta.

PREFÁCIO PARA ADILSON ZOTOVICI

soneto é uma forma poéticas clássica e amada da literatura. Foi criado pelo poeta italiano Giacomo da Lentini, no século XIII, caiu nas graças do grande poeta e humanista Francesco Petrarca e ganhou popularidade entre como uma forma literária elegante e profunda. O nome vem do italiano sonetto, que significa "pequeno som" ao referir-se ao ritmo e à sonoridade produzida pelos versos rimados.

Soneto é um poema de forma fixa composto por catorze versos, sendo dois quartetos, um conjunto de quatro versos e finalizado com dois tercetos, conjunto de três versos, com diversas possibilidades de métrica, oferecendo uma harmonia agradável. Ele se caracteriza por sua estrutura rígida e sua capacidade de explorar temas complexos, como o amor, a morte e a natureza, em uma forma breve e rítmica. Os sonetos clássicos apresentam versos decassílabos (10 sílabas poéticas) ou alexandrinos (12 sílabas poéticas). Mas a criatividade dos poetas permite compor sonetos com outro tipo de metrificação.

O maior expoente e divulgador do soneto na Itália, foi poeta e humanista Francesco Petrarca que viveu no século 14, e que deu a essa forma poética a estrutura rígida que conhecemos hoje. Petrarca escreveu centenas de sonetos dedicados ao seu amor platônico, Laura, explorando temas de amor idealizado e inatingível. Outras grandes expressões foram o vate português Luiz Vaz de Camões e o inglês William Shakespeare. Embora pareça simples é uma composição bastante complexa, que foi utilizada pelos maiores poetas do mundo. Olavo Bilac e Vinicius de Moraes são grandes expoentes deste tipo de poema no Brasil.

O irmão e confrade Adilson Zotovici inovou neste tipo de poema enquadrando temas maçônicos em sonetos, com um extraordinário domínio de vocabulário e métrica, o que o coloca, sem dúvida, entre os maiores, senão o maior poeta da maçonaria em nossas plagas. Imaginação fertilíssima, publica pelo menos dois sonetos todas as quartas-feiras, que são lidos nos grupos de maçonaria de todo o país.

Este é o seu sexto livro, o que configura uma obra de grande expressão e qualidade que enriquece a maçonaria, a literatura brasileira e as academias às quais pertence, com todos os méritos. Mais do que comentar é fundamental ler, e saborear o ritmo, as rimas, a construção vocabular e linguística que define um poeta, assim como canta Florbela Espanca e se aplica perfeitamente a Zotovici.

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

Michael Winetzki


O QUE É O MAL PARA A MAÇONARIA? - Sérgio Quirino Guimarães


 

Inicio este artigo com a seguinte provocação: não existe o bom Maçom!

Isso porque, simplesmente, não há a possibilidade do mau Maçom. Bom e Mau são adjetivos que não cabem no que representa a condição de ser Maçom.

Assim como toda água é molhada e todo fogo é quente, os adjetivos que cabem ao Maçom são intrinsecos. Por ser Maçom, ele é honesto. Não! Por ser honesto, ele foi convidado para participar da Maçonaria.

Por outro lado, o MAL e o BEM "existem" na Maçonaria. Não em concepções religiosas, mas no que é mais sagrado para nós, na Moral e na Ética.

Não podemos dizer que desconhecemos a origem do Mal, pois ele é apenas o lado fraco da natureza humana, manifestado em tudo aquilo que não é desejável ou que deve ser combatido. O Mal é o próprio vício, em oposição à virtude. Por isso, um deve estar em masmorras, e o outro, em templos.

O filósofo alemão Immanuel Kant ensinava que o ser humano teria uma PROPENSÃO para o mal, apesar de ter uma DISPOSIÇÃO original para o bem. Assim, nos reunimos em Templos para por um freio salutar a tal propensão.

E quando o Mal é mais perceptivo entre nós? Quando há disputas eleitorais! Em todos os níveis, Irmãos entram em atrito com outros por conta de cargos em Loja. Lojas que "racham" após a eleição para VM e Potências Maçõnicas que surgiram por ações jurídicas em pleitos gerais.

O estudo acadêmico sobre o mal chama-se Ponerologia, que vem do grego "poneros", cujas possibilidades linguisticas originam, remetem e coadunam com diversos substantivos, verbos e advérbios, tais como: doloroso, calamitoso, doente, cruel, malicia, culpa, o diabo e os pecadores.

Desse modo, como Maçons Especulativos, quais pensamentos lhes vem à mente por essas palavras? Devemos, pois, nos conscientizar de nossas próprias fraquezas, e a principal delas é a vaidade. O Mal existe por toda parte, com suas atrações e a tentação do falso brilho das coisas.

A ganância, a inveja, a mentira, a soberba, as calúnias e a ambição mancham tronos e altares, corrompem Lojas e Potências, contaminam todos aqueles que sacrificam seus nomes e sua dignidade em razão do apetite pela vida material.

Isso, porém, é um processo salutar de aprendizado tanto para os protagonistas quanto para os coadjuvantes, bem como para aqueles que acompanham de maneira serena o desenrolar da instrução.

O Livro da Lei ensina que "Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã (Salmo 30:5). E qual deve ser nossa atitude com este "Mal"?

Nenhuma! O enforcado procura sua própria corda! O mal é apenas o lado fraco da natureza humana.

SE VOCÊ, DE FATO, É MAÇOM, TRABALHA PARA E COM O LADO FORTE DE SUA NATUREZA HUMANA, O BEM.




junho 02, 2025

16a JORNADA MAÇÔNICA DE SANTOS



Na manhã de ontem, domingo, tive a grata satisfação de realizar uma palestra na 16a Jornada Maçônica de Santos, promovida pela UNIVEN - União de Veneráveis da Baixada Santista e pela Coligação de Lojas da Baixada Santista, que congrega quase todas as Lojas da vasta região que vai de Bertioga até Itariri. Cerca de 200 irmãos estiveram presentes para ouvir oito excelentes palestras que culminaram com um magnífico almoço.

O meu tema foi "Ética e Moral no dia-a-dia e na maçonaria" e fiz uma leitura dos conceitos desta filosofia desde a Grécia clássica, com Sócrates, Platão e Aristóteles, passando pela Escolástica de Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, pela Ética do Estado de Maquiavel até Kant, Sartre e Hanna Arendt, com a sua filosofia da banalização do mal.

A viagem filosófica, com um conteúdo sério mas uma apresentação bem humorada agradou aos espectadores que, para minha honra, aplaudiram em pé.

A organização do evento foi primorosa, desde a sua localização no Palácio Maçônico de Santos com a realização de palestras simultâneas em dois amplos templos; a escolha das palestras, todas de alto nível, o excelente almoço oferecido e a delicadeza de um copo térmico, como brinde, ao final. Tudo sem custo algum para os participantes.



junho 01, 2025

MENTE ABERTA - Newton Agrella




Tudo se torna mais difícil quando nos apoiamos no nosso próprio entendimento.

A autossuficiência humana, por vezes nos leva a um beco sem saída e até mesmo às fronteiras de nossa compreensão.

Isso contudo, não nos impõe que tenhamos que nos entregar ao conformismo, tampouco subjugarmo-nos a  dogmas ou a verdades absolutas, que inapelavelmente fazem com que a nossa capacidade especulativa seja relegada a segundo plano.

Muito pelo contrário, o emblema que a Maçonaria confere quando o Esquadro e o Compasso se encontram  traduzem os seguintes significados, conforme suas disposições sobre o Livro da Lei:

Primeiramente, demonstra em que grau a Loja está trabalhando.

O esquadro sobre o compasso simboliza o predomínio da matéria sobre o espírito. 

Um estágio de aprendizado.

Já no caso do esquadro e compasso entrelaçados, isto revela que matéria e espírito se completam num trabalho de constante evolução intelectual.

E num terceiro estágio, o compasso sobre o esquadro representa a predominância do espírito sobre a matéria, instante em que teoricamente, o maçom predipõe-se à entrega de um profundo exercício especulativo filosófico, baseado na investigação e no estudo do ser humano, da sua existência e da realidade que o cerca. 

Esse estudo ontológico caracteriza-se pela lógica, raciocínio, razão e intelecto, porém dotado de uma aura esotérica, como herança da Maçonaria Operativa que trazia em sua essência fortes influências históricas, religiosas, místicas e lendárias que não podem e nem devem ser desprezadas.

É diante desse esboço que insistir em apoiarmo-nos exclusivamente no nosso entendimento sobre as coisas, torna-nos reféns de nós mesmos, limitando nosso discernimento e nossa linha de ação.

Evoluímos à medida que predispomo-nos a ouvir mais e a prestarmos mais atenção àquilo que está mais distante de nós.

A primazia de nossa evolução está na troca de experiências e de termos a noção inequívoca de que não somos donos de verdade alguma.

Somos sim,  mera projeção do tempo, cuja estética física e mental se molda de acordo com o que somos capazes de esculpir interior e exteriormente.



PARIDADE - Adilson Zotovici




Vê  a fraterna igualdade

Na Sublime Instituição

Qual crê na sua expansão

Que imprime grandiosidade


Cada elo, que cada irmão,

Uma riqueza em verdade

Dado sua diversidade

Presa à mesma Construção


Não há superioridade

De cada cargo ou função

E nem algo que dê razão

Ao amargo da vaidade


Há o leitor voraz que seu bordão

Quem só lhe apraz solenidade

Há o que faz caridade

E quem do Templo manutenção


Ledo engano a sumidade

Ou os que buscam ovação

Que o plano a todos só erudição

Que ofuscam irmão de humildade


A bom muro qual pedra o artesão

Grande ou pequena  há paridade

Por seu talento e propriedade

Mesma obra o intento, a  missão !


maio 31, 2025

AINDA ESTAMOS EM PLENO MAR...- Francisco Feitosa


Sim, passaram-se 137 anos. Tantas lanças quebradas, várias batalhas vencidas, quantas conquistas... E, ainda sim, estamos em pleno mar!

Na voz daquele jovem ardente, no seu grito forte e estridente, ainda hoje, ecoa em nossas mentes, a súplica da conscientização.

Sim, nobre Antônio Frederico, tu que se eternizou como o jovem Castro Alves, e que nos faz contemplar, com suas poesias, as “Espumas Flutuantes”, por vezes ignoradas por seu “Navio Negreiro”. Sim, ilustre “Cantor dos Escravos”, vergonhosamente, confesso: ainda, estamos em pleno mar...

Tais navios não mais trafegam, não mais traficam. Contudo, de seus porões, ainda, ecoa a dor de humanos seres que, por má sorte, nasceram de cor diferente! Diante de tamanha crueldade, percebo o embalar do silêncio, pelo sussurrar do dramaturgo romano Tito Plauto (254-184 a.C.), em sua burlesca comédia Asinária, voltando a nos alertar: “O homem é o lobo do próprio homem!”.

Não vejo cor, não vejo pele, pois te enxergo com olhos da Alma! E, em meio a cegueira da discriminação, tenho orgulho de meu daltonismo espiritual e prefiro te reencontrar em um caloroso abraço, meu Irmão.

A pena, de tão áurea que era, na mão de Isabel, de fato, aboliu no papel o que, ao longo dos tempos a falta de consciência de muitos preferiu ignorar. Hoje, navegamos em mares nem tão revoltos, mas, ainda sim, estamos em pleno mar... 

Contudo, mares revoltos fazem bons marinheiros. E, inspirados por Castro Alves, Ruy Barbosa, Luiz Gama, Rebouças, Patrocínio, Nabuco e Maria Firmina – a primeira escritora negra, essa Áurea Lei saiu do papel e, pouco a pouco, incutiu-se nas mentes de negros e de brancos, gente de boa índole, acelerando o compasso de seus corações, a bombear o mesmo sangue carmesim da liberdade. 

Como escritores, antes de tudo, somos Arautos da Conscientização! Não existem lados, somos todos Um! Embora, vivamos em um dualismo exacerbado, sendo estimulados a nos digladiar, pelo mais banal dos motivos. E assim, seguimos manipulados pelo Sistema, pelo mesmo “Modus Operandi” já usado na Roma Antiga: dividir para governar. Pois é!  

E, até que último distraído transeunte se aperceba, continuaremos a fazer ecoar, em crônicas, poesias e versos, a estridente voz de abolicionistas, pois tais lutas, jamais, foram em vão!

137 anos se passaram, um número tão enigmático, mas, para quem tem olhos de ver, conseguirá enxergar a Unidade, como a Essência Divina a nos convidar a refletir que, antes de tudo, somos todos Um; essa mesma Unidade, por certo, manifesta-se na Trindade, a qual Pitágoras atribui à Perfeição; e o número 7, relacionado ao Sagrado, abre-se em veredas da evolução, através dos mais diversos e misteriosos Setenários. 

Não por um acaso volvi meu olhar para esse tema e me inspirei a escrevê-lo. E, também, não por um acaso, fui inspirado a fazê-lo nesse dia, sob os influxos de mais um 13 de maio, essa tão nobre efeméride. Não obstante, 13 de maio é o dia dedicado à Mãe Divina e, também, não por um acaso, coube a Isabel – a Ísis Bel ou a bela Ísis, libertá-los.

Também, curiosamente, essa data marca o 133º dia do ano e, 133 é o Salmo da Concórdia Universal, “que celebra a beleza e a alegria da união entre irmãos, comparando-a a um óleo perfumado e ao orvalho do monte Hermom, que desce sobre o monte Sião”. Este Salmo assim se inicia: “Oh, quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união!” 

Sim, apesar de tantas conquistas e realizações, e de não mais estarmos aprisionados a antigas correntes, precisamos, todos nós, produto dessa rica miscigenação que somos, formada por índios, europeus e negros, ainda, libertar as mentes de alguns que, presos às correntes da inconsciência, insistem em navegar com seus “navios negreiros” da prepotência, desfraldando a rota bandeira da intolerância, que tremula envergonhada no mastro da pseudoliberdade, que tanto nos entristece, ao percebermos tamanho desprezo pelo próximo, dividindo-nos em castas, um povo que deveria se orgulhar do privilégio de correr em suas veias o sangue de todas as raças.  

Sim, apesar de todas as conquistas, temos pouco a comemorar, pois, de fato, ainda, estamos em pleno mar...


Escrito em 13/maio/25. Texto apresentado na participação do Grupo Literário Fonte das letras, na 9ª FLAVIR – Feira Literária das Águas Virtuosas – edição São Lourenço, no Espaço Cultural Bavária, em 29/05/25*.

PAINEL - Almir Sant’Anna Cruz


Na Maçonaria Operativa, o que caracterizava as reuniões dos Maçons a céu aberto nos canteiros de obras ou nos barracões, eram os desenhos que se faziam no chão, geralmente das ferramentas, das Colunas e do Pórtico do Templo de Salomão.

Quando da transformação da Maçonaria Operativa em Especulativa, as reuniões passaram a ser feitas em ambientes fechados, geralmente em tavernas, que eram ricas cervejarias dotadas de quartos, cabeleireiros, salões de leitura e de reuniões, e a prática de se desenhar no chão – pelo fato dos desenhos não se apagarem facilmente ou por danificarem o assoalho dos estabelecimentos – foi sendo gradativamente substituída por Painéis de tecido, semelhantes a tapetes, que após o término da sessão eram enrolados e guardados por um dos Irmãos.

Essa alteração caracterizou uma importante evolução, pois além dos Painéis de tecido serem mais práticos, os Símbolos ficavam menos expostos às vistas profanas e, sobretudo, podiam ser desenhados com mais capricho e dentro de princípios estéticos mais bem elaborados, ao menos em relação aos desenhos feitos toscamente no chão.

O segundo passo na evolução dos Painéis, que perdura até os nossos dias, foi adotar quadros para cada Grau, no lugar dos tapetes de tecidos, o que permitiu que alguns Irmãos extravasassem seus dotes artísticos.

Todavia, em 1772, a Grande Loja da Inglaterra idealizou a construção do Freemason’s Hall, um edifício de uso exclusivamente maçônico, concluído em 1776.

Assim, as Lojas Maçônicas passaram a se reunir em ambientes próprios, onde todos os Símbolos representados nos quadros estavam presentes fisicamente, podendo-se dizer que perderam a sua razão de ser.

Perderam, sim, sua função utilitária, mas foram elevados à categoria de Símbolo, representativo do Mestre, que é aquele que deve transmitir aos Aprendizes e Companheiros o significado dos Símbolos dos respectivos Graus, que estão figurados nos Painéis, o Símbolo da Tracing Board (Tábua de Delinear), como é chamado na Maçonaria inglesa, que passamos, no Brasil, a adotar os nomes de Painel e Prancheta, como se fossem dois distintos Símbolos.

Os Painéis são quadros onde estão figurados os principais Símbolos dos respectivos Graus. 

Os Painéis em uso no Brasil são de origem inglesa e francesa, sendo que os de origem inglesa foram elaborados por John Harris, desenhista arquitetônico e pintor de miniaturas inglês para a sua Loja, a Emulation Lodge of Improvement for Master Masons (Loja Emulação de Melhoria para Mestres Maçons), em 1823, que, como o próprio nome indica, é uma Loja de Instrução para o Emulation Ritual (Ritual Emulação), praticado no Grande Oriente do Brasil como sendo Rito de York, que apresenta características semelhantes ao verdadeiro Rito de York Americano, mas muito diferente dos Ritos criados na França. 

Esse conjunto de Painéis ingleses ao serem utilizados por Ritos originários da França, apresentam incongruências irreconciliáveis.

Já os Painéis de origem francesa estão absolutamente em conformidade com a estrutura dos Ritos originários da França.

A utilização de dois Painéis, um de origem inglesa e outro de origem francesa para um mesmo Grau, sob os nomes de Painel Simbólico e Painel Alegorico, é uma invenção brasileira inexistente na Maçonaria Universal. Painel do Grau é um só, o que é exposto na abertura da Loja em cada Grau. 

Os Mestres têm, ou deveriam ter, a obrigação de conhecer o simbolismo de cada elemento figurado nos Painéis, para que possam transmitir com propriedade os ensinamentos aos Aprendizes e Companheiros, como preconizados pela Prancheta, que no verbete próprio, será demonstrado que Painel e Prancheta são dois nomes que se dá a um mesmo Símbolo.


Excertos do *Dicionário de Símbolos Maçônicos: Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Interessados no livro contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

maio 30, 2025

O TRABALHO NA MAÇONARIA - Kennyo Ismail


Quem nunca ouviu a máxima de que “o trabalho dignifica o homem” a qual foi tão bem defendida por Voltaire, Adam Smith, dentre outros? Voltaire, maçom, registrou que “o trabalho nos afasta de três grandes males: o ócio, o vício e a pobreza”. Já na visão de Adam Smith, “onde predomina o capital, o trabalho prevalece”. Essa relação entre homem e trabalho não é apenas suportada pelas Ciências Sociais, mas também pelas ensinamentos judaicos, cristãos e islâmicos: “E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus.” (Eclesiastes 3:13); “Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.” (I Coríntios 3:8); “Que trabalhem por isso, os que aspiram lográ-lo!” (Alcorão, 37:61).


Este é um assunto sobre o qual as diferentes vertentes – socialistas ou capitalistas, ateus e crentes – concordam: o homem nasceu para trabalhar e viver dos frutos de seu trabalho. Na Maçonaria não é diferente: uma vez feito maçom, o Aprendiz já é chamado ao trabalho, sendo apresentado a ele suas ferramentas de trabalho.


Porém, um erro que muitos podem cometer ao promover uma abordagem simplista sobre o assunto é pensar que o trabalho dignifica o homem, pois através dele pode-se proporcionar uma vida decente para si e sua família. Tal raciocínio está equivocado, pois, nesse sentido, não seria o trabalho que dignifica o homem, mas o seu resultado: o salário. Cometer esse erro seria desonroso, negligenciando e zombando tanto o homem quanto o seu trabalho, por julgar que o trabalho só tem valor porque gera um salário e que o homem só trabalha para ganhar o seu próprio pagamento.


O trabalho produz mais do que simplesmente o salário do trabalhador. O trabalho gera um produto ou serviço que é demandado por outra pessoa ou pela sociedade. O trabalho gera habilidade e experiência para aquele que o executa. O trabalho cria não apenas relações comerciais, mas também sociais. Trabalho resulta em aprendizagem e conhecimento. Trabalho proporciona prazer quando bem feito. Trabalho estabelece parcerias.


Desse modo, o trabalho mostra que todos nós dependemos uns dos outros, porque um alfaiate não pode fazer um terno sem o agricultor que planta e colhe o algodão, o caminhoneiro que transporta o algodão para a fábrica, o operário da indústria têxtil que o transforma em tecido, o motorista da transportadora que entrega o tecido para o atacadista, e, finalmente, o atacadista que o fornece para o alfaiate. Apenas pelo trabalho de muitos trabalhadores, o alfaiate pôde realizar seu próprio trabalho. E o ciclo de trabalho não para por aí, visto que o terno produzido pelo alfaiate vestirá outro profissional, o qual depende não apenas do alfaiate, mas de muitos outros profissionais para sobreviver e poder desempenhar seu trabalho, do qual outros trabalhadores podem depender, incluindo o alfaiate.


Assim sendo, como pode o salário chamar a atenção quando o trabalho significa algo muito maior e muito mais relevante para a vida de todos os homens de boa vontade? Quando o trabalho cria uma riqueza muito mais valiosa, imensurável em comparação com o salário? Pensando assim, pode-se afirmar que o salário é, talvez, o resultado menos importante do trabalho, servindo apenas como moeda de troca para os produtos e serviços dos trabalhadores – algo necessário entre os homens para tornar o fruto de seus trabalhos mais acessível a todos.


Olhe para si mesmo e veja a imensidão que lhe rodeia. Veja cada objeto, parte e acessório que você está usando. Olhe para o ambiente ao seu redor e tente imaginar quantos trabalhadores de todo o mundo estiveram envolvidos na produção desses utensílios. Olhe para o celular que provavelmente está contigo agora. Imagine a energia que talvez mantém sua lâmpada ou computador ligado. Agora pense nas vastas redes de produção e de transporte e os milhares de trabalhadores envolvidos nelas para permitir que este livro estivesse em suas mãos neste exato momento, sem mencionar as paredes em que talvez se encontre e serviços de água, internet, telefone, etc. Sem dúvida, podemos dizer que milhões de trabalhadores de sua cidade, estado, país e inclusive de outros países estiveram e estão envolvidos na produção dos produtos e serviços que neste momento circundam você.


Às vezes, a pressa da vida diária não nos permite parar por alguns minutos e fazer essa reflexão. Simplesmente olhar ao redor e entender como todos nós somos dependentes do trabalho de inúmeros trabalhadores desconhecidos e sermos gratos a cada um deles.


Um dos principais ensinamentos maçônicos é o de que, para fazer qualquer trabalho, deve-se equilibrar três conceitos arquetípicos diferentes que são potenciais em cada um de nós: sabedoria, força e beleza. Somos ensinados que estes são pré-requisitos para qualquer grande e importante empreitada. Fugir disso pode levar à infeliz tendência de sacrificar um planejamento adequado, o refinamento estético ou a mão de obra adequada em uma tentativa equivocada de ser “prático”. Quando cometemos essa imprudência e erguemos uma estrutura sem a devida força ou beleza, não estamos conservando qualquer coisa de valor, senão sendo contrários aos melhores lições da tradição maçônica.


Pensando em termos individuais, não seria útil ter a vontade e a força para realizar um trabalho se o trabalhador não tem a sabedoria ou as habilidades necessárias para completá-lo. Da mesma forma, se tem a inteligência e a força para trabalhar, mas falta a vontade, significa que nada será feito. E do mesmo modo, é impossível para um trabalhador produzir apenas com a vontade e a inteligência, mas sem a força exigida. Ou seja, é necessário empregar todas essas três qualidades para que um trabalho seja feito de uma forma justa e perfeita. Este é o segredo da perfeição: não está no trabalhador, mas em seu trabalho.


Isso nos leva a uma característica essencial da Ordem Maçônica. Nossa tradição valoriza todas as classes sócio-econômicas e recusa-se a levar em conta a posição profana de um homem, a não ser em termos de seu caráter moral. É fácil de entender a partir desse ensinamento que nossa Ordem ensina a dignidade de todo o trabalho. Em seu clássico trabalho, Moral & Dogma, o célebre filósofo maçônico norte-americano Albert Pike ensina-nos: Que nenhum companheiro imagine que o trabalho dos humildes e sem influência não vale o feito. Não há limite legal para as possíveis influências de uma boa ação ou uma palavra sábia ou um esforço generoso. Nada é muito pequeno. Quem está aberto para a penetração profunda da natureza sabe disso. Embora, na verdade, nenhuma satisfação absoluta poderá ser concedida à filosofia, mais em circunscrever a causa do que em limitar o efeito, o homem de pensamento e de contemplação cai em êxtases insondáveis, tendo em vista todas as decomposições de forças resultantes na unidade. Todos trabalham para todos. (DE HOYOS, Arthuro. Ed. Albert Pike’s Morals and Dogma of the Ancient e Accepted Scottish Rite of Freemasonry: Annotated Edition. Washington, DC: Supreme Council, 2011.)


Não é apenas o seu trabalho que o dignifica, mas o trabalho de todos os homens em todo o mundo que contribui para que você, um indivíduo, possa viver com dignidade. O maçom deve procurar compreender que o que o conecta a todos os homens de boa vontade do mundo é o trabalho digno que cada um realiza. Trabalho esse que, direta ou indiretamente, afeta todos os outros. Além da fé no Grande Arquiteto do Universo, o trabalho é um dos grandes laços que nos une em um vínculo que, mitologicamente, nós, como maçons identificamos como o mesmo vínculo compartilhado por aqueles que trabalhavam no Templo de Salomão.


Portanto, durante a execução de um trabalho perfeito, o trabalhador está aprendendo, desenvolvendo-se, evoluindo, interagindo com fornecedores e clientes, em parcerias, atendendo a uma demanda de um indivíduo, um grupo ou sociedade, gerando empregos, proporcionando felicidade para si e para os outros, contribuindo com o seu trabalho para a humanidade, e é isso que conecta todos os homens de bem no mundo. Há algo mais digno do que isso?

CÂMARA DE REFLEXÃO NÃO É UM LUGAR. É VOCÊ! - Newton Agrella



Na qualidade de "livres pensadores"  temos a oportunidade de enxergar e interpretar conceitos filosóficos sob prismas diferenciados.

 Alguma vez você ousou pensar a Câmara de Reflexão não como um cubículo escuro, desconfortável, com cheiro de enxofre e ornamentado com inúmeros símbolos e inscrições, mas sim como um estágio de sua Existência,  ou como se fosse o fim de um ciclo e o sinal de passagem para um recomeço ???

Experimente imaginar essa Câmara de Reflexão sem considerar seus valores estéticos.

Ouse elaborar um conceito de um hiato de vida.  Ou seja, uma parada em que você se defronta com a sua própria existência.

Você inicia uma conversa consigo mesmo, avalia tudo o que você já viveu até aquele instante e faz um brevíssimo flashback dos momentos mais marcantes de sua história.

A encruzilhada está na sua mente. 

Encontra-se recôndita no seu coração... 

O momento é só seu....

Cabe a você persistir ou não no seu intento.  

Corpo, Alma e Espírito confabulam freneticamente dentro de sí.

Você é o agente de sua conduta e a Câmara de Reflexão reside unicamente em você.

O que você vê no cubículo em que se acha encarcerado é uma mera e circunstancial projeção estética e formal.

Porém o que você enxerga é o seu comprometimento para com uma vida diferente.

É o adeus ao profano e o renascimento para a Arte Real....

A Reflexão contudo, pede um compromisso com o seu interior e com os valores mais intrínsecos que a alma humana requer.  

Diante disso, fica renovado o convite para que de agora em diante você considere a Câmara de Reflexão, não apenas como um lugar simbólico, porém como um intervalo especial e incomparável entre o que você viveu e o que a sua consciência passou a viver.

Entre ver e enxergar reside o discernimento.



maio 29, 2025

ORADOR - Almir Sant'Anna Cruz


Joia: Livro aberto

O livro aberto simboliza o esclarecimento da lógica pura e faz lembrar que nada estará escondido ou em dúvida. Simboliza também que o Orador é o conhecedor da tradição do espírito maçônico, o guardião da Lei Magna Maçônica, dos Regulamentos e dos Ritos.


Investidura e Posse: Com a seguinte locução do Venerável Mestre eleito:

Irmão Orador, ao revestir-vos com esta Joia, invisto-vos no respectivo cargo.

Ela representa o Livro da Lei e aberto como está, indica que deveis ser um livro aberto à consulta de vossos Irmãos.

Bem compreendeis, pois, as imensas responsabilidades que vosso cargo vos atribui e das quais somente podereis vos desobrigar pelo estudo profundo de todas as Leis e de todas as praxes de nossa Sublime Ordem.


Avental: O Avental dos Mestres difere em função da Potência e já foi descrito na página 36.


Alfaias: Avental de Mestre e Colar com a joia do cargo.


Instrumentos de trabalho: Não há.


Correspondência na Abobada Celeste: ARCTURUS, que na mitologia grega é o ateniense Icário, que recebeu o segredo da elaboração do vinho e ofereceu a pastores que, acreditando terem sido envenenados, mataram Icário. Seu cão Maera ficou latindo sobre o corpo morto de seu dono, chamando a atenção de sua filha virgem Erigone, que se enforcou.

Houve então uma praga que afligiu as mulheres atenienses que só foi aplacada quando os assassinos foram punidos e se instituiu um festival em homenagem a Icário e Erigone. Os deuses então transformaram ambos em estrelas: Erigone virou a constelação de Virgem e Icário a estrela Arcturus, a mais brilhante da constelação do Boiero e a quarta estrela mais brilhante do céu noturno. Pela sua posição na Abobada corresponde ao cargo do Orador.


Atributos do Cargo:

Dignidade eleita, a quem compete observar, promover e fiscalizar o rigoroso cumprimento das Leis maçônicas, dos rituais e dos demais deveres e obrigações. 

Tem assento em mesa própria no Oriente e pode dirigir-se diretamente ao Venerável Mestre 

É o representante do Ministério Público Maçônico na Loja, sendo de sua alçada comunicar as infrações e promover a denúncia do infrator, bem como acatar ou rejeitar denúncias formuladas à Loja, escritas ou verbais. 

Como “guarda da lei”, nenhuma matéria pode ser votada sem que antes apresente suas conclusões sob o ponto de vista legal. 

De igual forma, antes do encerramento das sessões deverá apresentar suas conclusões sob o ponto de vista legal.

Deve opor-se, de ofício, a qualquer deliberação contrária à lei e, em caso de insistência na matéria, formalizar denúncia ao Poder competente.

Está incumbido também de fazer a leitura das leis e decretos, discursar nas sessões magnas e nas festas públicas em geral e agradecer a presença de visitantes. 

Compete-lhe conferir o Tronco de Beneficência, entregando-o a quem de direito, como disposto no Ritual.

O Orador só pode apresentar as suas conclusões de acordo com as proposições apresentadas durante as discussões. 

Embora possa tomar parte na discussão dos assuntos, deve ter o cuidado de não apresentar sua opinião, que poderia ser entendida como conclusão. Em outras palavras, o Orador só pode concluir sobre proposições dos outros, conservando sempre o caráter da impessoalidade. 

É recomendável que esta função seja exercida por um Mestre Instalado experimentado e com profundos conhecimentos maçônicos, além de habilidades de oratória. 


Do Manual dos Cargos em Loja do REAA -Interessados no Manual contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp (21) 99568-1350

JONAS E A BALEIA - Ivan Froldi Marzollo


 

"O iniciado Jonas e a esotérica Câmara" 

O Maçom para estar em comunhão com a ordem basta ter o coração puro e os olhos transparentes como o céu estrelado da sua loja.

O caminho de Jonas  representa a nossa Alma Divina, a Consciência, adormecida e presa pelo Ego e pela Mente, pelos desejos inferiores egóicos, que temos, que ouvir e seguir na formação do coração e esclarecimento do espírito.

A história relata simbolicamente o caminho longo e cansativo de um iniciado maçon. O Trabalho pelo qual a Pedra Bruta se transforma numa pedra trabalhada e viva.

Logo que Jonas cai ao mar a Tempestade cessa. Dentro do mar, Jonas é engolido por uma enorme baleia, dentro da qual ele passa 3 dias e 3 noites orando a Deus e pedindo que lhe dê uma segunda chance. Assim Deus lhe perdoa e Jonas é liberto do interior da baleia, seguindo doravante o seu destino.

A peregrinação de Jonas no interior da baleia demonstra os passos do Caminho, as suas Provas, nas quais se prepara o espírito para se tornar digno de entrar no Templo (Interior), naquele templo verdadeiro, que é feito sem ruído de pedra nem de martelo, em que a luz do Conhecimento (Gnose) permanece eternamente

A entrada de Jonas no ventre da baleia, é o “regressus ad uterum” de todos os ritos iniciáticos, que implicam transformação simbólica em embrião e uma pré-morte, seguida do regresso à Grande Mãe da etiologia, onde o iniciado nasce pela segunda vez.

Esta penetração na Grande Mãe, é muitas vezes perigosa:

A entrada no ventre da baleia, além da já referida semelhança bíblica, encontra-se muitas vezes noutros mitos e sagas do antigo Oriente e do mundo mediterrâneo de raiz iniciática, tendo paralelismo com o mito polinésio de Maui, o grande herói maori que regressando à pátria, para casa da avó, encontrando-a adormecida, se despe e penetra no corpo da gigante, Grande Dama da Noite, Huie-muite-po, atravessando-a, mas ao sair, ela acorda em sobressalto apertando-o entre os dentes e cortando-o ao meio; sob outro viés observamos o paralelismo com os ritos iniciáticos relativos às grutas e fendas das montanhas, símbolos da matriz Terra Mãe em muitas culturas. Por exemplo, o termo chinês "Tang", designando gruta, também significa "misterioso, profundo, transcendental", todos os  arcanos revelados nas iniciações.

Esta representação do além,  sob a forma de ventre da baleia, ilustra que o outro mundo é um local de acesso extremamente difícil.

A porta em forma de mandíbula, significa a dificuldade da passagem e reflete a necessidade da mudança do modo de ser para poder atingir o mundo do espírito.

A história de Jonas é realmente uma lenda da iniciação nos grandes mistérios, pois a baleia ou o “grande peixe” representa a escuridão da ignorância que domina o homem quando ele é jogado para o fora do navio (ou seja sai do seguro reino celestial para aqui nascer) no mar (vida terrena).

Quando usado como um símbolo do mal, o peixe representa a natureza animal e inferior do homem em seu próprio túmulo (corpo físico). 

Assim Jonas passou três dias e três noites no ventre do “grande peixe”, da mesma forma como Cristo passou três dias e três noites no seu sepulcro. 

 Jonas é o arquétipo do homem caído ou deitado, que está adormecido na matéria, do homem que não quer se levantar e não quer cumprir sua missão. 

Jonas é o arquétipo do homem que foge da sua missão, que foge da sua verdadeira natureza ou identidade divina, que foge do verbo interior, que foge da sua vocação, da sua realização.

Quando Jonas dentro da baleia decide retomar seu caminho, ele não teme mais nada. É a fênix que renasce das cinzas. É Osíris que morto, renasce em Hórus (Ouros). É Cristo , morto crucificado, renasce como Cristo ressuscitado.

Há momentos em nossas vidas que não podemos mais mentir para nossa própria consciência. Chega uma hora em nossa vida que nós somos obrigados a ser autênticos conosco mesmos, não podemos mais fugir. 

 O arquétipo da história de Jonas é um convite para que nós mergulhemos nas profundezas de nosso inconsciente, para passarmos através das nossas próprias sombras, para após passarmos pela experiência da morte, aceitarmos nossa missão, nossa condição como humanos mortais e descobrirmos, em nós mesmos, a nossa essência imortal (alma espiritual). 

Ir de encontro ao destino é realizar plenamente o potencial que está desde a eternidade dentro de nós. 

É ouvir o chamado, atentar e responder a ele. É desabrochar todas as nossas potencialidades e seguir nossa vocação pré-escolhida antes de nascer neste mundo, estranhamente o mundo costuma nos corresponder quando agirmos assim, sem covardia.

Uma das formas de saber se realmente estamos indo no bom caminho e que estamos fazendo aquilo para o qual nascemos, é parar e perceber se o mundo está nos abrindo as portas e que, se mesmo nós nos negando a usufruir dos seus benefícios, nós continuaremos os tendo a disposição.

 Independentemente da interpretação psicológica que muitos autores fazem da história, que é rebuscada e não estava na intenção do seu autor, ela têm, na sua génese, uma conotação maçônica e esotérica,  a simbologia e estrutura é maçônica, e descreve a viagem atribulada e solitária da cada ser humano, pobre, nu e cego, na procura constante da Sabedoria e da Espiritualidade, que vem já das mitologias e ritos de iniciação antigos e que várias culturas, religiões e a maçonaria adotaram para explicar simbolicamente a transformação espiritual de cada indivíduo..

A busca é individual e a evolução depende da resposta e significado que o peregrino estiver disposto a desafiar . 

Que a Luz do Grande Arquiteto do Universo ilumine a peregrinação individual de todo filho da viúva. 


maio 28, 2025

ANTIGAMENTE - Carlos Drummond de Andrade





"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito.

Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.

E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. 

As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro.

Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada.

Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. 

Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno.

Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. 

Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.

Haviam os que tomaram chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. 

Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes:

“Farei presente.”

Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando:

“Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”, ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” 

E os eruditos, se alguém espirrava — sinal de defluxo — eram impelidos a exortar: “Dominus tecum”.

Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana.

A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso.

Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.

Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. 

Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. 

As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um cabrito, não tivesse catinga.

Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da Corte do Rio de Janeiro. 

Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe.

As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro.

Infelizmente, alguns eram mais do que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.

Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas.

Doença nefasta era a phtysica, feia era o gálico. 

Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O.

London, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.

Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora."