dezembro 11, 2025

O SIMBOLISMO DA PEDRA ANGULAR - Albert Mackey.




 Devido a uma ordem de precedência, aproximamo-nos à consideração do simbolismo ligado a uma importante cerimônia no ritual do primeiro grau da Maçonaria, que se refere à extremidade nordeste da Loja. Nessa cerimônia, o candidato se torna o representante de uma pedra angular espiritual. Dessa forma, para a completa compreensão do verdadeiro significado da emblemática cerimônia, é essencial que investiguemos o simbolismo da pedra angular. A pedra angular, como o alicerce sobre o qual o edifício todo deve supostamente permanecer, é, sem dúvida, a pedra mais importante de toda construção. Ao menos, é assim considerada pelos maçons operativos. A pedra é colocada em cerimônias majestosas, geralmente com ajuda de maçons especulativos, e ela sempre deve conferir dignidade à ocasião; o evento é visto pelos operários como uma fase importante na construção do edifício.

Às várias propriedades que são necessárias para constituir uma verdadeira pedra angular – sua firmeza e durabilidade, sua forma perfeita, e a peculiar posição que assume como laço entre as paredes – nós devemos atribuir o fundamental caráter que ela atingiu na linguagem do simbolismo. Apenas a Maçonaria, de todas as instituições existentes, preservou sua antiga e universal conotação, e não poderia – como se pode supor – ter negligenciado a adoção da pedra angular entre seus mais estimados e admiráveis símbolos. utilizando-a como referência de muitas de suas significativas lições de moralidade e verdade.

A principal diferença entre a Maçonaria Operativa e a Especulativa é que enquanto a primeira se ocupou com a construção de um templo material, a última se dedica a erguer uma casa espiritual – uma casa não construída com as mãos – na qual as pedras são substituídas pelas virtudes do coração, pelas puras emoções da alma e pelos ardentes sentimentos que brotam das fontes ocultas do espírito.

O aspirante à luz maçônica – o Neófito – em sua primeira entrada no vestíbulo sagrado se prepara ao trabalho consagrado de erigir dentro do peito uma morada adequada para o Espírito Divino, então começa a nobre obra ao se tornar ele próprio a pedra angular sobre a qual o edifício espiritual deve ser construído.

Aqui, então, inicia-se o simbolismo da pedra angular.

A pedra angular com sua superfície perfeitamente quadrada é, em sua forma e conteúdo sólido, um cubo. O quadrado é um emblema da moralidade, ou do estrito desempenho de cada obrigação. O cubo, na linguagem do simbolismo, denota verdade.

A cerimônia do extremo nordeste da Loja, uma vez que deriva todo valor típico de seu simbolismo da pedra angular, indubitavelmente pretendia retratar, em sua linguagem consagrada, a necessidade de integridade e estabilidade de conduta, de verdade e retidão de caráter, de pureza e santidade de vida, que, somente naquela época e lugar, o candidato é mais pressionado a manter,

A pedra angular espiritual é depositada no extremo nordeste da Loja, pois ela é o símbolo da posição do neófito, o representa em sua relação com o mundo. Do mundo profano, de onde ele acabou de emergir. Algumas de suas imperfeições ainda estão consigo; restam ainda algumas arestas por aparar; ele ainda pertence ao Norte. Mas está buscando a Luz e a Verdade; a trilha pela qual ele enveredou vai em direção a leste. Ele não é totalmente profano, nem completamente maçom. Se ele fosse inteiramente do mundo, o Norte seria o lugar para encontrá-lo – o Norte que é a região da escuridão. Se ele estivesse completamente inserido na Ordem – caso fosse um Mestre Maçom -, o Leste o receberia – o Leste, que é o local da Luz. Mas ele não é nenhum dos dois; é um Aprendiz, apegado ainda a alguma ignorância do mundo, somente parte da Luz da Ordem incide sobre ele. A mistura da escuridão que emana do Norte com a aproximação reluzente do Leste – é bem expressada, em nosso simbolismo, pela posição adequada da pedra angular espiritual no extremo nordeste da Loja. Uma superfície da pedra fita o Norte, e a outra, o Leste. Ela não está completamente em uma parte nem totalmente na outra e à medida que este é um símbolo de iniciação não completamente desenvolvido – incompleto e imperfeito – ele está adequadamente representado pelo recipiente do primeiro grau, no exato momento de sua iniciação.

A força e a resistência da pedra angular também foram eminentemente sugeridas nas ideias simbólicas. Para cumprir com o seu propósito como fundação e apoio da construção sólida que ela precede, deve ser usado um material que conseguirá suportar todas as outras partes do edifício sobre si. Sendo assim, quando o “oceano eterno cujas ondas são anos” tiver engolido todos aqueles presentes na construção do prédio, no vasto turbilhão de sua corrente sempre fluente; e quando, geração após geração, ele se for, e as pedras do edifício arruinado começarem a desmoronar, atestando o poder do tempo e da repentina natureza de todas as incumbências humanas; a pedra angular ainda restará para contar, através de suas inscrições, de sua forma e beleza, para qualquer um, que já existiu naquele lugar, talvez então desolado, uma construção consagrada a algum nobre ou divino propósito e pelo zelo e liberalidade de homens que agora não vivem mais.

Por consequência, a resistência e a durabilidade da pedra angular, em contraste com a queda e a ruína da construção sob a qual as fundações foram colocadas, lembram o maçom que, quando a casa terrena de seu tabernáculo se for, ele terá dentro de si uma fundação segura de vida eterna – uma pedra angular de imortalidade -, uma emanação do Divino, que deve sobreviver à tumba e ascender, triunfante e eterno, acima do pó pútrido da morte e da sepultura.

É assim que o Aprendiz do simbolismo maçônico é lembrado pela pedra angular – em forma, posição e permanência -, através das significativas doutrinas da obediência, virtude e verdade – que compõem o grande ensinamento da Maçonaria.

Resumo do capítulo XXIII do livro O Simbolismo da Maçonaria, Vol. 2, de Albert Mackey.

dezembro 10, 2025

10/12 - DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS - Bruno Bezerra de Macedo

       

A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

PÕE EM ORDEM OS CAMINHOS DA FELICIDADE

     O "ser indivíduo" (buscando autonomia e interesses pessoais) é a base da dignidade humana e dos direitos individuais. O "ser cidadão" (atuando como construtor social) é o que permite a coexistência harmoniosa e o progresso da comunidade. A maioria das sociedades democráticas busca um equilíbrio dinâmico entre os direitos e liberdades individuais e as responsabilidades coletivas para o bem-estar comum, do qual emerge a felicidade (eudaimonia) que só é possível por meio da interação social, da linguagem e da vida em comunidade (a pólis), segundo Aristóteles.

        Para sociólogos como Durkheim, a sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo. As normas, regras, costumes e leis sociais (os "fatos sociais") exercem coerção sobre os indivíduos, moldando seus comportamentos e garantindo a perpetuação da sociedade. A identidade individual é, em grande parte, construída a partir do pertencimento a grupos sociais e da assimilação de valores coletivos. Uma sociedade justa e próspera requer tanto a proteção robusta dos direitos individuais quanto um compromisso firme com o bem-estar coletivo e a responsabilidade social.

        Conceitos como a santidade da vida (em contextos religiosos) ou o direito natural à vida (em contextos seculares, como os iluministas e maçons John Locke e Thomas Jefferson) reforçam essa ideia. O direito à vida é reconhecido como o direito fundamental e inalienável mais importante, sendo a base para todos os outros direitos, protegê-lo e garanti-lo é dever do Estado. A participação maçônica na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, que resultou na Constituição Federal de 1988 é percebida, ainda que discreta. Mesmo que não haja uma menção direta à Maçonaria no texto constitucional seus princípios de liberdade, igualdade e fraternidade estão refletidos em vários aspectos da Carta Magna, mostrando seu serviço à pátria.

        Maçonicamente, a dignidade social é o reconhecimento da dignidade inerente a cada indivíduo, que exige que todos sejam tratados com respeito, valor e igualdade, independentemente de suas características pessoais. Isso se traduz no direito a ter as necessidades básicas atendidas, como saúde, educação e moradia, e na proteção contra qualquer tratamento degradante. A dignidade social, sob a égide tanto da tolerância (harmonia na diferença) quanto a responsabilidade social (desenvolvimento sustentável e qualidade de vida para todos), lastreia um mundo mais equitativo, sereno, igualitário e feliz. Documentos legais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e constituições democráticas, consagram a liberdade e a dignidade da pessoa humana, pois, andam de mãos dadas com a integridade moral. Manifestam uma síntese de ideais valorizados que veem a liberdade como a capacidade escolher conscienciosamente.

        No âmbito das constituições modernas, destaca-se o Brasil, a legislação fulcra uma tríplice responsabilidade (civil, administrativa e penal) para quem causa danos ambientais, reverberando o que há consagrado em documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH, pois, o direito à vida é direito basilar e imprescindível ao ecossistema Terra. Todos os seres vivos e o meio ambiente estão intrinsecamente conectados e dependem uns dos outros para a sobrevivência. Sustentar o ecossistema é, além de reconhecer essa teia da vida compartilhada, um irrecusável convite à reflexão sobre a nossa relação com o meio ambiente, elevando a sustentabilidade ao patamar dos mais nobres gestos de fraternidade e humanidade.

        Incontestavelmente, a mão maçônica escreveu o Artigo 1º da DUDH, imprimindo-lhe diretamente suas três formidáveis colunas mestras: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade". Fraternidade requer vida livre e equânime em direitos e oportunidades. Nada há de mais fraterno do que defender o ecossistema Terra, pois, cuidar do planeta é um ato de amor e solidariedade, para com os seres humanos e para com todas as formas de vida. É um laço que une a ética humana à responsabilidade ecológica reforçando o senso de pertencimento e o orgulho de ser humano daquele que constrói a humanidade zelando por seu habitat.

        A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) reconhece a família como o núcleo natural e fundamental da sociedade, protegendo o direito de homens e mulheres se casarem e formarem uma família, sem discriminação, e assegurando direitos iguais no casamento e sua dissolução, além de proteção do Estado e da sociedade, conforme o Art. 16, ela garante o direito a um padrão de vida digno para a família (alimentação, moradia, saúde) e proteção especial para a maternidade e infância, estabelecendo que todas as crianças têm os mesmos direitos, independentemente de onde nasceram. A DUDH além elevar a família e seus membros (crianças, pais) à categoria de sujeitos de direitos, fulcra as condições para que ela prospere com dignidade e segurança, sendo um pilar fundamental para a liberdade, justiça e paz.

        Ao incutir valores como responsabilidade, empatia e ética, a família – enquanto célula-mater da sociedade – contribui para a formação de cidadãos conscientes e participativos, essenciais para a saúde de uma democracia e para o progresso da comunidade, onde a eficácia da inclusão social empreendida é ampliada quando a família trabalha em parceria com outras instituições e distintos grupos sociais, cujas funções e estrutura impactam significativamente o desenvolvimento e o progresso dos grupos sociais que erigem a sociedade. A Maçonaria, por exemplo, entende que uma pessoa que não está bem com sua família não pode pertencer plenamente à Ordem, pois a harmonia familiar é o mais robusto fundamento para a construção de um mundo mais fraterno e justo. A crença fundamental é que um homem que cumpre seus deveres para com sua família (esposa, filhos, pais) está mais apto a cumprir seus deveres para com sua comunidade, seu país e, consequentemente, sua Loja.

        Por oportuno, o Art. 25 da DUDH radica o direito a um padrão de vida adequado, incluindo alimentação, vestuário, habitação e cuidados médicos, que é essencial para a saúde e bem-estar da própria pessoa e de sua família. Além disso, confere proteção especial à maternidade e à infância. Além dos direitos, a Declaração também aborda deveres, como o de agir em espírito de fraternidade e o dever para com a comunidade. Desta forma, conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é crucial porque ela é a base para a dignidade, igualdade e liberdade de todos, servindo de inspiração para leis e políticas globais, promovendo a justiça social, combatendo a discriminação (racismo, sexismo, etc.) e estabelecendo direitos fundamentais como saúde, educação e trabalho justo, sendo uma ferramenta vital para construir uma sociedade mais justa e pacífica. Discuti-la reforça a importância do respeito mútuo e promove um senso de responsabilidade coletiva.

        

A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS M ORDEM OS CAMINHOS DA FELI


PAIXÃO DOS POETAS - Cesar Augusto Garcia


 

LIBERDADE, FILOSOFIA E MAÇONARIA - Arnaldo Gonçalves




NA FILOSOFIA 

A liberdade é um dos temas centrais do pensamento filosófico e ocupa lugar de destaque nas obras de Immanuel Kant e Rudolf Steiner. 

Embora ambos a considerem fundamental para a existência humana e para a vida moral, as abordagens de ambos diferem tanto do ponto de vista dos fundamentos como das consequências práticas. 

Enquanto Kant compreendia a liberdade como uma condição necessária da razão moral, Steiner vi-a como um ideal de desenvolvimento interior e espiritual. 

Analisar essas duas perspectivas oferece-nos um panorama ilustrativo sobre o papel da liberdade na construção ética do ser humano.

Para Kant, a liberdade é essencialmente a autonomia da vontade. 

Ser livre significa agir não de acordo com impulsos sensoriais ou inclinações externas, mas conforme as leis que a razão impõe a si mesma. 

No âmbito da filosofia moral kantiana, a liberdade manifesta-se quando o indivíduo age segundo o imperativo categórico. 

“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal” escreve Kant na Fundamentação da Metafísica dos Costumes de 1785. 

Embora a natureza humana esteja submetida às leis causais do mundo fenomênico, Kant afirma que, enquanto seres racionais, pertencemos também ao mundo noumênico (mundo das coisas em si), onde a liberdade é possível e real além, da nossa percepção. 

Essa dupla cidadania fundamenta a responsabilidade moral e a dignidade humana.

Rudolf Steiner, por sua vez, propõe uma concepção mais dinâmica da liberdade. 

Na sua obra A Filosofia da Liberdade, ele defende que o ser humano alcança a verdadeira liberdade à medida que desenvolve a sua capacidade de pensar de forma consciente e individualizada. 

Ele diz nesse texto “somente quem, através do amor ao agir, é impelido a agir, é verdadeiramente livre. 

Quem age apenas porque reconhece um dever, é, na verdade, não-livre.”

Para Steiner, a liberdade não é simplesmente um dado da razão, mas o fruto de um processo de amadurecimento interior. 

Agir livremente é agir a partir de intuições morais próprias, concebidas através de um pensar vivo e autônomo, e não apenas por obedecer a mandamentos externos ou impulsos inconscientes. 

Assim, a liberdade é tanto uma meta como uma tarefa, que exige contínuo esforço de autoconhecimento.

Comparando essas perspectivas, vemos que Kant e Steiner convergem na valorização da razão e da autonomia, mas divergem no modo como a liberdade se alcança. 

Kant concebe-a como submissão da vontade a princípios universais da razão prática, enquanto Steiner enfatiza a expressão criativa do indivíduo, guiado por intuições morais personalizadas. 

Para Kant, a liberdade é o princípio incondicional da moralidade; para Steiner, ela é a expressão singular de um Eu em constante formação e evolução espiritual.

Concluindo, a reflexão sobre a liberdade em Kant e Steiner nos revela a profundidade e a complexidade desse conceito. 

Ambos nos mostram que a liberdade é inseparável da vida moral, seja como fundamento racional, seja como realização do ser espiritual. 

Em tempos em que a autonomia individual e a responsabilidade ética se tornam cada vez mais desafiadoras, o diálogo entre essas duas visões pode nos inspirar a buscar uma liberdade que seja, ao mesmo tempo, racionalmente consciente e espiritualmente viva.

*NO PENSAMENTO MAÇÓNICO*

A liberdade é um dos princípios fundamentais da Maçonaria, sendo celebrada tanto como condição necessária para a busca da verdade quanto como um ideal moral que o maçom deve cultivar. 

Desde o primeiro grau de aprendiz, o iniciado é lembrado de que a verdadeira liberdade não consiste em fazer tudo o que se deseja, mas em agir com responsabilidade, guiado pela razão e pela consciência. 

Nos rituais, frequentemente se afirma:

• “A Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, não teria mais liberdade.”

Esta frase, de inspiração iluminista, é apresentada para reforçar que a liberdade, para o maçom, está sempre em harmonia com a ordem, a moral e a justiça.

Nos trabalhos simbólicos, a liberdade também é associada à libertação interior. 

O maçom é convidado a libertar-se das paixões desordenadas, dos preconceitos e da ignorância, buscando o autodomínio e a iluminação intelectual e espiritual. 

Como diz um trecho do ritual do grau de Aprendiz:

• “A liberdade verdadeira só pode ser alcançada pelo conhecimento de si mesmo e pelo aperfeiçoamento das virtudes.”

Assim, a Maçonaria entende que a liberdade exterior só tem valor pleno quando é reflexo de uma liberdade interior conquistada através do esforço pessoal e da disciplina. 

Dizem os rituais dos graus filosóficos “que a liberdade de consciência, a liberdade de pensamento e a liberdade de palavra sejam para nós direitos sagrados, que jamais consentiremos sejam violados ou desprezados.”

Além disso, a liberdade é constantemente apresentada como um bem sagrado a ser defendido. 

Em muitos rituais, especialmente no Rito Escocês Antigo e Aceito, os maçons juram defender a liberdade de consciência e de pensamento. 

Um exemplo simbólico forte aparece quando se afirma:

• “Que a liberdade de pensar e de crer, dom supremo da Razão e da Consciência, seja preservada contra toda tirania.”

Nesse sentido, a Maçonaria vê na liberdade não apenas um direito pessoal, mas um dever coletivo, comprometendo seus membros a lutar contra a opressão, a ignorância e o fanatismo, sempre em nome da dignidade humana e do progresso da humanidade.

Já noutro rito – o francês – diz-se “a Maçonaria proclama a liberdade como direito inalienável do homem e ensina que somente o conhecimento e a virtude podem libertá-lo verdadeiramente.” 

A visão passada no rito francês é que o homem livre é aquele que domina as suas paixões, conhece-a si mesmo e se orienta pela luz da razão — valores herdados diretamente do espírito do Iluminismo que inspirou a Maçonaria Moderna, especialmente a francesa.

No Rito Memphis-Misraïm, a liberdade é um princípio essencial que transcende a liberdade política ou social, sendo vista como um direito sagrado do ser humano, mas também uma responsabilidade moral. 

O maçom deste rito é constantemente chamado a ser um defensor da liberdade de consciência, atuando como um guerreiro contra a ignorância, a superstição e a tirania. 

Em um dos trechos ritualísticos, afirma-se: “o maçom de Memphis-Misraïm deve ser o apóstolo da liberdade, da razão e da verdade. Quebre as cadeias da ignorância e da tirania, e ilumine-se na luz da Sabedoria”. 

Aqui, a liberdade não é apenas um ideal político, mas também um processo interior de libertação do espírito e do despertar da consciência.

CONCLUSÃO

Em conclusão, a liberdade, tanto na filosofia quanto na Maçonaria moderna, surge como um princípio essencial, mas de compreensão profunda e multifacetada. 

Para filósofos como Kant e Steiner, a liberdade é o alicerce da moralidade e do autoconhecimento, exigindo uma constante luta pela autonomia da vontade e pela consciência ética. 

Na Maçonaria, especialmente no contexto dos ritos mais elevados, a liberdade não se restringe ao simples direito de ação, mas se expande para o domínio da liberdade interior, da liberdade de pensamento e do despertar espiritual. 

A Maçonaria moderna, inspirada pelos ideais iluministas e filosóficos, propõe ao maçom a missão de buscar a verdade, a justiça e a razão, libertando-se das cadeias da ignorância e da tirania. 

Assim, a liberdade, em sua mais pura forma, é compreendida como a capacidade do ser humano de agir com plena consciência, de trabalhar pela transformação interior e de construir uma sociedade mais justa e iluminada. 

Tanto na filosofia quanto na Maçonaria, a liberdade não é um fim, mas um processo contínuo, que exige coragem, reflexão e compromisso com os princípios universais de verdade e fraternidade.



dezembro 09, 2025

O "NADA" NA MAÇONARIA - Rafael Chiconeli




No final das contas, este "nada" sobre o qual gira o tema da Maçonaria é o que cada maçom deve procurar dentro de si. 

No final das contas, você só enxerga se estiver preparado para tal, se estiver preparado para essa tarefa, mas se estabelecer um pré-conceito de que tudo o que acontece dentro dos ritos é irrelevante e que nada há para ser aprendido, vai deixar escapar uma importante chance de entender porque a maçonaria existe há tanto tempo, e porque abarca tanta gente dos mais diferentes povos e nações, trazendo evolução, desenvolvimento e democracia por onde passa. 

Somos uma instituição que desenvolve moralmente, velada em alegorias e ilustrada por símbolos, que exige de seus membros esforço pessoal, estudo e sobretudo persistência para alcançar novos níveis de conhecimento. 

Observar de maneira superficial e deixar passar é algo habitual a quem está no início da jornada e tem este primeiro contato com a doutrina maçônica, mas, ao final o foco e a dedicação faz com que o aparente "nada" encerre conhecimentos vitais para a própria evolução de quem os encontra. 

Há períodos em quem é preciso enfrentar os paradigmas, é preciso "crer para ver", e não o contrário. 

O brilhante Pitágoras, apesar dos "nadas" que encontrou pelo caminho, teve humildade para enfrentar cada iniciação, pela qual passou, tirando lições de Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro e Polycrates. 

No Egito, Babilônia e Índia, pôde absorver coisas importantes, que ao final resultaram nos conhecimentos, com os quais presenteou os aprendizes da Escola de Krotona. 

No final, isto irá remeter ao texto enviado, e por mais que nossa ciência seja especulativa, nós trabalhamos. 

A passagem do operativo para especulativo não significou a mudança do trabalho para o ócio, mas sim a mudança da forma de se trabalhar. 

Neste caminho de aprendizes, chegamos a conclusão que trabalhamos para a construção de um templo, da mesma forma que os antigos irmãos operativos, mas nosso templo não é material, nós somos este templo.

Lapidar a pedra bruta, também significa que precisamos nos livrar dos véus que impedem de enxergar a beleza do trabalho que estamos desenvolvendo dentro da maçonaria e também no mundo profano. 

O “nada”, que leva muitos a perda do interesse, no final das contas, nada mais é que o abandono de uma obra em seu princípio. 

Podemos não enxergar o templo, pelo fato de nada ainda ter sido construído em determinado terreno. 

Mas se o material da obra fosse buscado, transportado e, finalmente assentado, aquele terreno infrutífero se tornaria um belo templo material. 

No final das contas, aquele que vê “nada” e não prossegue, só não tomou para si a tarefa de iniciar-se na obra imaterial, esta que se encontra em seu “canteiro” no interior de seu ser. 



REFORMA DO PENSAMENTO NA ORDEM - Newton Agrella



Em nosso país, a imensa maioria dos maçons, além do escasso conhecimento a respeito dos fundamentos filosóficos da Ordem, sobretudo no que diz respeito à SIMBOLOGIA, à HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO HUMANA e sobre os princípios básicos do ANTROPOCENTRISMO - dado principalmente à falta de leitura -  de um modo ou de outro, ainda hoje preferirem debitar a  compreensão e a explicação dos acontecimentos, invariavelmente às ações divinais e aos processos metafísicos.

Algo mais ou menos, como no exercício da Idade Média, em que o Pensamento Humano da Maçonaria Operativa se ancorava nos Dogmas estabelecidos pela Igreja Cristã.

Afora tudo isso, essa REFORMA DO PENSAMENTO, seria uma excelente oportunidade para esclarecer ao Maçom, que ser vanguardista, ou inovador, não significa discutir política ou religião com o indisfarçável e quase inevitável viés proselitista e partidário, como se uma academia filosófica fosse o fórum adequado para esse tipo de discussão.

Valer-se do desgastado e surrado discurso de que a Maçonaria teve papel de destaque pontual nos processos da Proclamação da República, da Abolição da Escravatura e de alguns outros episódios de menor monta na História de nosso país, há mais de século,  não é justificativa para que em Loja ou em grupos de discussão maçônica, valha-se do debate político, como pano de fundo para que alguns maçons possam fazer disso, um palanque de autopromoção, e demagogicamente chamem a este expediente de um ato de civismo ou de indignação contra medidas adotadas pelos governos que passam..

Há que se deixar claro, que a Maçonaria é um instrumento facilitador para aquele que busca despertar e aprimorar a consciência, através de um infindável processo especulativo e que seu propósito reside na evolução intelectual, espiritual, moral e ética do ser humano.



dezembro 08, 2025

O MANUSCRITO REGIUS - A MAÇONARIA É O ESPÍRITO DA GEOMETRIA



“A Maçonaria é o Espírito da Geometria”

O Manuscrito Regius, datado aproximadamente de 1390, é considerado o mais antigo documento maçônico conhecido. Escrito em versos rimados, ele preserva a memória primordial dos pedreiros operativos e lança as bases do espírito especulativo que a Maçonaria assumiria séculos mais tarde.

É nesse manuscrito que encontramos uma das mais belas e poderosas afirmações de toda a Tradição:

The Craft is grounded upon Geometry  ou  O Ofício está fundamentado sobre a Geometria.

Não é apenas uma instrução técnica. É uma definição filosófica da própria essência da Maçonaria.

1. Geometria como fundamento do Ofício

O Regius afirma que o pedreiro antigo era, antes de tudo, um geômetra.

A Geometria não era apenas cálculo: era a ciência que harmonizava o caos, permitindo transformar a pedra bruta em templo, casa, ponte ou catedral.

Assim, ao dizer que o Ofício é fundado sobre a Geometria, o Regius declara algo maior:  Construir é aplicar sabedoria ordenadora. Daí nasce a Maçonaria.

2. A transição para o espírito especulativo

Quando a Maçonaria deixa de ser apenas operativa e torna-se especulativa, a frase adquire um novo brilho.

Já não se trata apenas da geometria das pedras, mas da geometria da alma.

Se o templo externo era erguido com esquadro e compasso, o templo interno só pode ser erguido com virtudes e consciência.

Assim, a Geometria torna-se símbolo da ordem moral, da correção dos hábitos, da medida justa dos pensamentos.

Por isso grandes autores maçônicos afirmam:  “A Maçonaria é o espírito da Geometria.”

Não porque trate de números e figuras, mas porque: A Geometria ensina proporção → o maçom aprende equilíbrio.

A Geometria revela harmonia → o maçom busca fraternidade.

A Geometria mostra precisão → o maçom cultiva a verdade.

A Geometria exige retidão → o maçom vive sob o Esquadro.

3. A Geometria como linguagem do Grande Arquiteto

O Manuscrito Regius insiste que a Geometria é “a raiz de todas as artes”.

Na leitura simbólica, isso significa:  A Geometria é a linguagem com que o Grande Arquiteto expressa a ordem do Universo.

Os antigos acreditavam que: os movimentos dos astros, as proporções do corpo humano, a estrutura das pedras,e as relações entre os seres obedecem a princípios geométricos eternos.

Assim, ao estudar Geometria — como símbolo — o maçom estuda o próprio pensamento divino.

4. O Triunfo do Espírito Geométrico na Loja

Dentro do Templo, tudo é organizado geometricamente: o Oriente elevado, as Colunas que sustentam, o Altar no centro, o quadrado do piso, a abóbada formada pelas luzes. Nada é por acaso.

A Loja é um microcosmo geométrico onde o homem aprende a ordenar sua existência.

Por isso, o maçom é chamado a ser: “Um arquiteto de si mesmo.”

Se o universo é geometria viva, o homem deve ser geometria moral viva — com firmeza, retidão e harmonia.

Conclusão

O Manuscrito Regius preserva o eco mais antigo da Arte Real: a construção de um mundo justo começa pela construção de um homem justo.

Quando dizemos que: “A Maçonaria é o espírito da Geometria”, afirmamos que o maçom é aquele que aplica, em sua vida, proporção, medida, ordem, retidão e harmonia, edificando em si o templo que oferecemos ao Grande Arquiteto.

Desconheço o Autor

A AMIZADE ENTRE HOMENS E MULHERES

 

        Em um momento que se discute a aceitação de mulheres na tradicional maçonaria masculina, como acaba de acontecer em Portugal, este artigo traz algumas questões para meditação.

        A amizade entre homens e mulheres é um tema cercado de complexidade, especialmente quando analisamos as expectativas e posturas diferentes que cada sexo tem em relação a esses vínculos. Diversos estudos e pesquisas demonstram que as amizades entre sexos opostos possuem uma dinâmica distinta das amizades entre pessoas do mesmo sexo, com divergências nas motivações, na percepção de atração e na postura emocional.

       Em grande parte, essas diferenças se devem a fatores biológicos e culturais que influenciam como homens e mulheres percebem suas interações sociais. A partir de dados concretos e de estudos, é possível perceber que as amizades entre homens e mulheres frequentemente não são tão platônicas como se pensa e, muitas vezes, uma das partes – geralmente o homem – mantém a amizade com a expectativa de que ela evolua para algo mais, seja romântico ou sexual.

        Um dos estudos mais relevantes sobre esse tema é o realizado por Bleske-Rechek et al. (2012), que investigou amizades mistas entre homens e mulheres. Os dados desse estudo revelaram que 50% dos homens afirmaram sentir atração por suas amigas, enquanto apenas 20% das mulheres disseram o mesmo sobre seus amigos. Esse contraste é significativo e aponta para uma realidade que muitas vezes não é discutida abertamente: os homens tendem a ver a amizade com uma mulher como uma oportunidade de romance ou sexo, enquanto as mulheres, na maioria das vezes, a percebem como uma amizade platônica. 

        Esse tipo de disparidade nas expectativas é uma das razões pelas quais as amizades entre homens e mulheres são, muitas vezes, mais complicadas do que as amizades entre pessoas do mesmo sexo.

        Além disso, Huston et al. (2000) reforçam essa perspectiva ao afirmar que os homens, em média, superestimam a possibilidade de atração e de desenvolvimento de um relacionamento romântico ou sexual em suas amizades com mulheres. Eles geralmente entram em uma amizade com a esperança de que ela possa evoluir para algo mais íntimo, o que muitas vezes não é o caso para as mulheres, que preferem uma amizade baseada no apoio emocional e na conexão não sexual. 

        O estudo indica que os homens têm a tendência de interpretar sinais de proximidade ou amizade como oportunidades de envolvimento romântico, um fenômeno que está amplamente ligado à biologia e às normas culturais sobre sexualidade e relacionamento entre os sexos.

        O estudo de Dewitte e De Dreu (2018) também é relevante, pois analisa a dinâmica de atração em amizades mistas. A pesquisa mostrou que a atração física é um fator significativo na amizade entre homens e mulheres, especialmente para os homens, que, ao manterem uma amizade com uma mulher, podem nutrir uma expectativa implícita de que ela leve a um envolvimento mais íntimo. A atração física, mesmo que não verbalizada, é um elemento presente na maioria das amizades mistas, e isso cria uma dinâmica diferente da que ocorre entre amigos do mesmo sexo. Em outras palavras, mesmo que a amizade comece com intenções platônicas, a possibilidade de atração frequentemente paira sobre a relação, o que torna a amizade mais complexa e sujeita a mal-entendidos.

        As amizades entre pessoas do mesmo sexo, por sua vez, não enfrentam esse tipo de complexidade. Nas amizades entre mulheres, por exemplo, o compartilhamento emocional e a intimidade são mais comuns e as expectativas em relação à amizade são, em grande parte, mais alinhadas. Mulheres, em geral, tendem a investir mais na construção de um vínculo emocional profundo, sem o risco da atração sexual ou romântica interferir. Nas amizades entre homens, o comportamento é igualmente mais voltado para atividades práticas e interações em grupo, o que também elimina as ambiguidades sobre atração. 

        O fato de não haver atração romântica ou sexual entre amigos do mesmo sexo facilita a construção de amizades mais claras, onde as expectativas são compartilhadas de forma mais explícita e as interações são mais simples.

        Porém, a realidade das amizades entre homens e mulheres é outra. A atração física e romântica frequentemente está presente, e isso gera uma série de questionamentos: até que ponto uma amizade mista pode ser verdadeiramente platônica? Será que as expectativas românticas de um dos lados podem ser ignoradas sem afetar a dinâmica da amizade? E mais importante, é possível que as amizades entre homens e mulheres sejam, de fato, isentas de qualquer desejo oculto? A pesquisa sugere que não.

        Quando os homens mantêm uma amizade com uma mulher, há uma grande chance de que eles a vejam, inconscientemente, como uma possibilidade de algo mais — algo que as mulheres, muitas vezes, não percebem ou não compartilham. Esse fenômeno é, em grande parte, biológico e cultural, refletindo normas que associam o contato entre os sexos à possibilidade de romance e sexo.

        Portanto, a amizade entre homens e mulheres é permeada por dinâmicas que tornam essa relação diferente das amizades entre pessoas do mesmo sexo. Os homens, em geral, mantêm suas amizades com mulheres com a expectativa de que elas possam evoluir para algo mais, seja romântico ou sexual. 

        Estudos corroboram com essa visão, mostrando que, mesmo quando as amizades começam de maneira platônica, a atração física e as expectativas românticas tendem a surgir, especialmente para os homens. Isso cria um cenário em que as amizades entre homens e mulheres são mais complexas e sujeitas a mal-entendidos, muitas vezes devido à diferença nas expectativas de ambos os lados. 

        A amizade entre homens e mulheres frequentemente não são tão simples quanto parecem e, em muitos casos, são permeadas por uma disparidade nas intenções, o que levanta uma questão crucial: será que uma amizade entre homens e mulheres pode ser realmente desprovida de qualquer desejo romântico ou sexual, ou estamos apenas ignorando uma realidade subjacente?

Fonte: Provocações filosóficas no Facebook 


dezembro 07, 2025

AMVBL - A MAÇONARIA E A EDUCAÇÃO - palestra extraordinária

 

Assembleia Geral Ordinária da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras em 16 de novembro de 2025.

Pauta: • ⁠Preleção alusiva à Proclamação da República (Lucas do Couto Santana) • 

Apresentação de candidatura da chapa da Diretoria da próxima gestão • 

Lançamento do livro físico “Sobres as Lojas (Maçônicas) de Estudos e Pesquisas" (de Ivan Pinheiro) 

Palestra “A Maçonaria e a Educação” (Ailton Elisiário de Souza).




...SECRETA ou DISCRETA ? - Adilson Zotovici




Uma sociedade secreta ? ...

Não comungo desse conceito !

Por uma razão bem direta

Por sua feição a despeito


Iniciática e discreta

Que o candidato é o sujeito

Que ensina e a ele é afeta

Uma doutrina que o preceito


Com exposição arquiteta

Por filosofia o seu preito

Por evolução se completa

Como religião... não aceito


Antropocêntrica, dileta

Combate o ódio e o preconceito

Que a Liberdade ao Ser enceta

E à humanidade o proveito


Sem qualquer mito e concreta

Em cada Rito, com seu jeito,

Vibrante busca homem asceta

Pra diante do PAI...perfeito !



FRATERNIDADE MAÇÔNICA

 



        Este é o túmulo do general Lewis Addison Armistead (1817-1863). Ele foi um militar de carreira do Exército dos Estados Unidos da América. Se tornou general de brigada no Exército dos Estados Confederados (Sul) durante a Guerra Civil Americana. Lewis foi baleado e capturado por tropas da União e morreu em um hospital de campo, dois dias depois, aos 46 anos de idade. 

        Antes de ser capturado, temendo ter seus pertences roubados por soldados da União (Norte), Lewis fez um sinal maçônico de ajuda, que foi avistado pelo Capitão Henrry Binghan (da União), portanto, eram inimigos na guerra.

        O seu túmulo é a encenação de uma cena real. Lewis, que eram Maçom, aparece deitado, nos últimos momentos de vida, confiando um relógio de bolso ao Capitão Henry Binghan (também Maçom), para ser entregue à sua família. Apesar de estarem em lados opostos na guerra, prevaleceu a fraternidade maçônica nos últimos momentos da vida do general.

Fonte: CURIOSIDADES DA MAÇONARIA

dezembro 06, 2025

A EMPATIA DO MAÇOM - Newton João dos Santos Sobral Jr.



A Maçonaria nos convida a enxergar um mundo ideal — não aquele que construímos de forma egoísta, centrado apenas nas nossas necessidades individuais, mas um mundo onde todos os seres convivem em harmonia, em irmandade e em respeito mútuo. Nesse mundo, não estamos sós. Ninguém caminha verdadeiramente sozinho, ninguém é totalmente autossuficiente, ninguém possui todas as virtudes ou habilidades necessárias para a jornada. Precisamos uns dos outros.

Cada um de nós carrega fragilidades e carências, da mesma forma que possui talentos e virtudes que faltam em outros. É justamente nessa troca silenciosa, nesse completar-se mútuo, que a verdadeira essência da Ordem se manifesta. Contudo, muitos ainda não compreendem essa verdade simples e profunda. Há irmãos que, tomados pela vaidade ou por uma percepção equivocada de si mesmos, acreditam que nada lhes falta, que tudo podem, que bastam somente a si mesmos.

Mas a empatia — esse atributo essencial do Maçom — lembra-nos que o outro também importa. Afinal, se eu não me preocupo com meu irmão, por que ele deveria se preocupar comigo? Sou eu, por acaso, mais merecedor que ele? Minha presença mais antiga na Loja, meu cargo ou meu grau me tornam superior ou mais digno de atenção? Jamais. Essa é a ilusão do maçom imaturo: acreditar que merece tudo porque aparece demais, porque fala demais, porque se exibe demais.

O verdadeiro caminho é outro. É olhar para dentro, reconhecer nossas imperfeições, compreender nossas limitações e, a partir disso, estender a mão ao irmão que segue ao nosso lado. Devemos ser mais atentos a nós enquanto irmandade, mais comprometidos enquanto família, mais conscientes enquanto filhos de uma tradição acolhedora, que nos guia pacientemente na senda da luz, pedindo apenas respeito à sua história e à sua missão.

Sejamos, portanto, mais maçons e menos profanos — na atitude, no coração, no espírito. Sejamos mais virtuosos e menos escravos de prazeres efêmeros. Que a vaidade não obscureça nossa visão, nem a arrogância roube de nós a capacidade de sentir.

Porque, no fim, a Maçonaria nada exige de extraordinário. Ela apenas pede que sejamos, a cada dia, mais dignos aos olhos dos homens de bem. Mais fraternos. Mais justos. Mais humanos. Mais empáticos.

E que assim, construindo uns aos outros, possamos juntos construir um mundo melhor.



A BUSCA DO DIVINO E A MAÇONARIA - Walter Teixeira




Somos concebidos, nascemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. 

Para onde vamos?

Talvez esta seja a pergunta que tanto nos angustia e onde estejam incutidas todas as nossas dúvidas e medos.

Consequentemente, acabamos tendo uma imperiosa necessidade de acreditarmos que há uma razão especial para estarmos vivos e que em algum momento, teremos que prestar contas dos nossos actos. 

Haveria então, uma “necessidade” de Deus? 

Seria esta “necessidade” transmitida geneticamente ou apenas cultivada culturalmente?

A Filosofia permite que cada um de nós tenha o seu entendimento do mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens.

No entanto, a verdade é que vivemos sim, desde cedo, sob uma ameaça latente em determinadas concepções. 

Tudo o que fizermos, para o bem ou para o mal, dar-nos-á recompensas ou castigos. 

Estaríamos assim, à mercê de um ser superior, omnipresente, omnipotente e omnisciente, julgador, nem sempre muito paciente, nem muito compreensivo; por vezes, mesmo, mal-humorado para com as nossas falhas, enviando-nos pragas e castigos quando o seu julgamento não nos favoreça. 

Poderíamos ser destinados a vagar por toda a eternidade num local mais quente do que o suportável, sob os olhares prazerosos de criaturas nada agradáveis que, ademais, ainda nos castigariam com os seus tridentes pontiagudos.

Por que, frente a tão terríveis presságios, o ser humano que é dotado de diferenciais importantes na escala zoológica, ainda se comporta de forma a causar inveja a qualquer outro animal-fera existente na face da terra?

Será que os seres humanos descobriram como diz o personagem de Nietzsche em “Assim Falava Zaratustra”, que Deus, este Ser superior, morreu?

Acontecimentos não faltam para mostrar que, na ausência de comando efectivo em convencimento, as feras internas se soltam na certeza da impunidad

Mas, teria Deus morrido? 

Para quem Ele morreu afinal? 

Pois, cada vez mais se faz em seu nome sequestros, guerras, atrocidades, negócios e muitas outras ações não muito ligadas à ética, ao amor, à solidariedade, às orações.

Onde estaria Deus no meio de tantas injustiças que nos atinge a todos, independente das nossas concepções, no dia a dia da nossa curta existência?

Podemos por outro lado, apenas acreditar que como ensina o Budismo, o sofrimento é omnipresente em toda a natureza e vida humana. 

Existir já significa que nos vamos encontrar com o sofrimento. 

O nascimento é doloroso, assim como a morte. 

As doenças e a velhice são dolorosas. 

Ao longo da vida, todas as coisas vivas encontram sofrimento.

Não teríamos, pois, o direito à alegria, à felicidade?

Alongando-me neste conceito budista, aqui não se encaixa um Deus personalista. 

Em geral, os budistas são panteístas na sua perspectiva de Deus.

Panteísmo diz respeito a uma doutrina filosófica caracterizada por uma extrema aproximação ou identificação total entre Deus e o universo, concebidos como realidades diretamente conexas ou como uma única realidade integrada. 

É um antagonismo ao tradicional postulado teológico segundo o qual a divindade transcende absolutamente a realidade material e a condição humana.

Que poderíamos dizer e pensar acerca das inúmeras interpretações que se tem nas diferentes formas de sentir e crer em Deus? 

E os conceitos de Deus no Judaísmo, no Islamismo, no Hinduísmo? 

E as contraposições filosóficas entre deísmo e teísmo?

Conceito, dizem os dicionários, é uma faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; é mente, espírito, pensamento, compreensão que alguém tem de uma palavra, de uma acção; é noção, concepção, ideia, opinião, ponto de vista, convicção. 

É a noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de modo generalizado e, de certa forma, estável, as propriedades e características de uma classe de seres, objetos ou entidades abstratas

Conceituar, pois, Deus na Maçonaria, seria no meu entender, cair em mais uma cilada.

Deus não é um conceito. 

Deus é busca, sentimento, caminho, propósito, escopo, finalidade, alvo. 

Nós, maçons, apenas o denominamos de forma diferente, como o “Grande Arquiteto do Universo”.

Quando Philibert Delorme, falando de Deus no seu tratado de arquitetura, usou em 1567, possivelmente de forma pioneira, a expressão *“esse grande Arquiteto do Universo, Deus Todo-Poderoso”*, estava incutindo um conceito: o de Deus como um grande ordenador e planeador do Universo. 

Ou seja, nada fugiria dos seus desígnios, da sua vontade, da sua determinação.

Arrisco-me a dizer que este não é um conceito próprio do que quer nos ensinar a Maçonaria.

Deus é razão, e como tal ilumina os nossos caminhos concedendo-nos a faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar. 

Concede-nos a inteligência, ou seja, a faculdade intelectual e linguística que nos distingue, para modificarmos a natureza e fazermos as nossas escolhas.

Se Ele nos distingue com tamanhos privilégios, temos a obrigação, o compromisso, o dever de saber bem usá-los.

Usá-los na busca do aperfeiçoamento individual e coltivo; no sentimento de amor e compreensão que devemos ter para com todos os demais seres vivos; na visão de um caminho de sofrimentos, porém, também de alegrias. 

No propósito de honrarmos, respeitarmos e aceitarmos todos os conceitos humanos que Dele se possa ter, com a finalidade de obtermos não a sua graça, mas, o seu respeito, e mesmo, por que não, a sua admiração; enfim, como um alvo, tentando nos aproximarmos da sua grandeza.

Na verdade, Ele nunca se definiu. 

Nós é que temos esta necessidade incompreensível de tentar defini-lo.

É mister que entendamos que para a Maçonaria, Deus não é castigo e apesar da denominação “Grande Arquiteto”, não planeia as coisas impedindo as nossas escolhas. 

Dá-nos sim, o livre arbítrio.

As nossas escolhas não serão julgadas, elogiadas ou castigadas com o céu ou o inferno. 

As nossas escolhas representarão dualidades contrastantes do piso mosaico  como enobrecimento ou embrutecimento das nossas almas. 

O bem ou o mal para os nossos semelhantes e demais criaturas vivas; o conhecimento ou a ignorância, a luz ou a escuridão, alegria ou infelicidade.

Todo o ensinamento maçónico está envolvido nestes conceitos: *mente e razão*.

*Mente* como conceito de processos cognitivos e atividades psicológicas, inteligentes e sensíveis do ser humano. 

*Razão*, como pensamento moral, na sua função orientadora da conduta humana, prevendo as consequências e avaliando, com absoluta autonomia, o significado das nossas acções, com base na nossa capacidade lógica de discernir entre o verdadeiro e o falso, o bem e o mal.

Na minha visão, conseguir visualizar, idealizar, conceber, estar convicto e partilhar destes conceitos, independentemente de crenças e práticas pessoais, representa orar a melhor das orações: a da bondade, da virtude, da honra, da dignidade, do compartilhamento, da solidariedade, do sentimento humanitário, da honestidade e do amor.

É, enfim, seguir em busca da mais sublime concepção de DEUS!