fevereiro 10, 2021

SEMENTES DE CABALA: Luz e Trevas


        
A fala é a ferramenta mais eficaz  para curar os males psicológicos de alguém. Mas há situações nas quais o silêncio é mais conveniente. A fala traz sentimentos e emoções, que de outra forma permaneceriam enterrados no subconsciente, à luz da mente consciente. Entretanto, não é fácil fazer o subconsciente falar, e um cuidado especial deve ser tomado ao persuadi-lo a revelar seus segredos. Caso contrário, os efeitos de fazê-lo podem ser prejudiciais ao invés de salutares.

         No simbolismo da Torá, a mente subconsciente é considerada trevas - e a mente consciente, luz. Dessa maneira, aprendemos que no início, a terra não estava formada, havia um vácuo, e escuridão estava sobre a face do abismo. O espírito de D'us pairou sobre as águas. "E D'us disse: Que haja luz! E houve a luz" (Bereshit 1:2-3). A terra simboliza a alma do homem ao descer para penetrar e dar vida ao corpo. (Em sua forma incorpórea, pura, é simbolizada pelo céu.) As três descrições da terra primordial, amorfa, vazia e escura simbolizam os três componentes da mente subconsciente: fé, deleite e vontade.
 
        O espírito de D'us pairando sobre as águas simboliza o nível intermediário de consciência entre a mente subconsciente e consciente (no jargão da psicologia, a pré-consciência), que paira entre a obscuridade do subconsciente e a revelação da mente consciente. A revelação dos segredos da mente subconsciente são revelados pela fala "E D'us disse: Que haja luz." 

        O propósito do serviço Divino em terapia geral, e psicológica em particular, é possibilitar que a luz da consciência brilhe mais e mais sobre as trevas do Subconsciente. E quanto mais os segredos ocultos das regiões escuras da mente forem trazidos à luz, mais poderão ser elevados à esfera da santidade.     

          Quanto maior o sucesso que a pessoa tiver em expor e retificar seu lado mais tenebroso, menos será incomodada por pensamentos evasivos e ânsias que emergem involuntariamente. Esse estado de liberdade do eu não retificado e inferior é o verdadeiro bem-estar espiritual buscado pelas técnicas terapêuticas prescritas pelo pensamento chassídico. Libertado pelo mal, o bem criativo no homem pode brilhar e imprimir sua expressão singular de Divindade sobre a realidade, com perfeita eficácia. 

       No simbolismo da Torá, as ânsias primitivas da mente subconsciente que temporariamente atrasam a psique são simbolizados pelas sete nações pagãs canaanitas que ocupavam a terra de Israel antes que o povo hebreu lá chegasse. A nação hebraica recebe ordens de desenraizar estas nações e suas culturas idólatras da Terra Santa; isso simboliza a erradicação do mal da psique através dos meios terapêuticos.

      No conflito entre luz e trevas, a luz, por sua própria natureza, sai vencedora.Um pouco de luz dispersa muito da escuridão. Uma grande quantidade de luz consegue muito mais; dispersa completamente as trevas e toma seu lugar, como o sucessor de direito na mente da pessoa. A dualidade da luz e das trevas na psique do homem é mencionada na visão profética da carruagem Divina, como foi testemunhada pelo profeta Ezequiel. Esta visão, que compreende o primeiro capítulo do livro escrito pelo profeta, é considerada a passagem maisobscura e mística da Torá. Nele, Ezequiel (1:4) descreve como os céus se abriram, e "tive visões de D'us." E eu vi, e veja, um vento tempestuoso veio do norte, uma grande nuvem, e um fogo chamejante, e um brilho ao seu redor, e do meio disso, fora do meio do fogo, havia algo como o "chashmal." 

     A palavra chashmal aparece na Torá apenas no contexto desta visão e é tradicionalmente entendida como um tipo de luz ou energia, que é também personificada como um tipo especial de anjo. A palavra é tomada como sendo uma composição das palavras para silente (chash) e falar (mal); estes anjos, portanto,são descritos como silentes, falando às vezes. Dessa maneira, esta interação dinâmica entre silêncio e fala é parte integral do processo da revelação Divina, e o correto uso da fala é essencial para a cura das partes enfermas da alma.

 Fonte: Academia de Cabala

fevereiro 09, 2021

O Triunfo dos Relógios - uma história do tempo contado

 

O triunfo do tempo

A partir do século XIV a Igreja deixou de controlar o tempo de seus campanários. A incipiente sociedade industrial necessitava de novas pautas horárias não associadas ao Sol.

A Igreja e a Burguesia Mercantil

Os céus da Europa todavia são testemunhos daquela guerra. A força com que a igreja rivalizava com a sociedade. Hoje já quase ninguém levanta a cabeça para ver as horas. Os relógios de pulso ou os celulares tiram essas dúvidas. Porém, durante a Idade Média os relógios das torres eram as únicas referências temporais das pessoas. A partir do século XIV a burguesia mercantil, motor da atividade econômica do momento, propôs tirar da Igreja o monopólio do tempo. A nova realidade laboral exigia um método mais rigoroso das horas.

As divisões do tempo para a Igreja, as vigílias

A Igreja havia herdado parte do sistema horário do mundo romano, onde as doze horas que marcavam os relógios solares dividiam-se em quatro partes iguais. A “prima” era a primeira hora desde o amanhecer (que, dependendo da estação, poderia ocorrer as 4:30 ou as 7:30) até a terceira, ao meio da manhã; a “tertia”, até o meio-dia; a “sexta”, até o meio da tarde (coincidia com a hora mais quente, onde se aproveitava para fazer a “siesta”); e a “nona”, até o pôr do Sol (em inglês, a palavra “afternoon remete a uma antiga faixa horária). As doze horas da noite também eram divididas em quatro períodos conhecidos como “vigiliae”, igualmente variáveis em função da estação. Recebiam os nomes de “prima vigilia”, “secunda vigilia, “tertia vigilia” e “quarta vigilia”.

Horas canônicas ou Instantes de Deus

Os monges da Idade Média adaptaram esta divisão de tempo em suas ocupações espirituais. O resultado foram as sete horas canônicas destinadas a oração, e conhecidas por eles como “instantes de D’us”. Eram as “matines”, pouco depois da meia-noite; as “laudes”, na aurora, momento em que se rezava um salmo que continha de maneira constante o imperativo “laudate” (load), de onde vem o nome; a “prima”, a “tertia”, a “sexta” e a “nona”, de tradição romana; e as vésperas, ao meio da tarde, depois do pôr do Sol. O italiano São Bento (480-547), fundador da vida monástica no Ocidente, foi o promotor desta divisão. Baseou-se no Salmo V do Antigo Testamento, que diz: “Ore sete vezes ao dia”. Com o tempo, surgiria uma oitava hora, para dar graças a Deus antes de ir para a cama.

Relógios primitivos: solar, vela, clepsidra e areia.

Relógio a vela

Em noites e dias nublados, quando o relógio solar não tinha nenhuma utilidade, recorria-se a diversos sistemas para calcular as horas canônicas. No relógio de vela o tempo era marcado pelo consumo de uma delas. Também poderia ser utilizada a clepsidra (ladrão de água, em grego). Este relógio, conhecido também dos egípcios, era formado por dois recipientes: um deles tinha água que caía de um orifício a outro. O nível da água que escorria indicava as horas, o qual trazia um problema. A velocidade do fluxo dependia da pressão da água, e esta pressão variava em função da quantidade de líquido que estava no recipiente. Igualmente impreciso era o relógio de areia, um recipiente de vidro formado por duas ampolas unidas a dois vértices. Através dessa parte central passava certa quantidade de areia de um a outro bulbo. Uma vez acabado a passagem, era necessário virar o recipiente para continuar a contagem do tempo.

São Bento: “O ócio é inimigo da alma” – Surgia o Negócio.

Na medida em que a Igreja foi se consolidando como a instituição mais poderosa da Europa medieval, o controle do tempo ficou sob seu domínio. Tinha-se muito presente a máxima de São Bento: “O ócio é o inimigo da alma”. Os trabalhos dos monges serviam para anunciar as horas canônicas, e também para marcar as rotinas diárias das pessoas. A partir do século XIII, com a aparição dos relógios mecânicos, a Igreja assegurou-se de que a população pudesse cumprir de uma maneira mais estrita seus deveres com Deus. Difundia-se assim a regra beneditina “ora et labora” (reze e trabalhe).

Primeiro relógio mecânico

Abadia de DunstableO primeiro relógio mecânico conhecido foi instalado em 1283 na abadia de Dunstable, na cidade inglesa de Bedfordshire. Constava de duas rodas dentadas que se enroscavam uma com a outra graças a um mecanismo chamado “escape”, impulsionado por um peso. O movimento constante do “escape” é a fonte do famoso “tic-tac”, que converteu-se desde então na voz do tempo. Estes primeiros relógios, instalados em torres, não mostravam as horas, só soavam.

Relógio com ponteiro e astronômico

Relógio AstronômicoNo século XIV, a hora começou a ser visualizada graças a introdução de uma agulha no centro de uma esfera numerada. Seu inventor, o astrônomo italiano Jacopo Dondi, popularizaria este sistema ao fabricar em 1344, em Pádua, o primeiro relógio astronômico, que além de marcar as horas, ainda marcava os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas. De todo modo, os primeiros relógios mecânicos eram caros e imprecisos. A temperatura afetava na dilatação de suas peças metálicas, fazendo-lhe sofrer variações entre 15 e 30 minutos por dia, sendo necessário regulá-los diariamente. E, os relógios solares continuaram desempenhando um papel notável.

O relógio regendo o trabalho dos agricultores

Na Espanha, o primeiro relógio mecânico foi o da catedral de Barcelona. Conhecido como “el seny de les hores” (em catalão antigo “seny” significava tanto “torre” como “sinal”), data de 1393. Com a propagação deste tipo de relógio, pouco a pouco a vida cotidiana das cidades do Ocidente foi sendo modificada. A jornada laboral de um agricultor sempre variava muito ao longo do ano, já que estava sujeita a luz solar, que dependia da estação. Em geral, trabalhava de sol a sol. Os campanários das igrejas tinham certos estandartes horários, mas não eram muito regulares: os toques da “prima” e “vésperas” coincidiam com o amanhecer e o crepúsculo, e a partir destes estabeleciam-se outros toques, com os quais só no equinócio obtinha-se períodos homogêneos. Além disso, os toques dos sinos podiam variar de uma igreja a outra, o qual causava uma grande confusão.

O relógio e a sociedade industrial

Com a incipiente sociedade industrial da Baixa Idade Média (séculos XI-XV), as oito horas canônicas perderam sentido. O trabalho já não podia ser regulado pelo tempo das Igrejas, mas por horas concretas. Não em vão, descobriu-se que o tempo de produção de um produto poderia ser adicionado a seu preço, assim como também o pagamento dos trabalhadores. Iniciou-se então uma guerra não declarada entre a Igreja e a burguesia por seu controle. Uma data chave nesta disputa foi o dia 24 de abril de 1355. Nesse dia, o rei francês Felipe VI concedeu a Amiens a faculdade de indicar, através do toque de um sino, as diferentes ocupações do dia: o momento de ir trabalhar, do descanso para comer, do retorno aos trabalhos e de sua finalização. Dado que estes primeiros relógios davam as horas através do som de um sino, não é estranho que a palavra francesa “cloche” (torre) seja a raiz da palavra relógio em inglês (clock) e alemão (Glocke). O nosso, deriva do grego “horologion” (indicador de horas, “horologium” em latim), o relógio solar. A variedade cuja sombra, projetada sobre uma escala gradual, indica a hora denominada “gnomon”. Dela procede a palavra gnomônica, disciplina relacionada com a elaboração de relógios solares.

Carpe Diem

Os avanços tecnológicos não tardaram em catapultar o ofício de relojoeiro. Seus serviços eram muito procurados. Não paravam de viajar de cidade em cidade construindo grandes relógios mecânicos que instalavam nas torres dos edifícios civis. Todos os grêmios tinham claro os toques que marcavam sua jornada de trabalho. Assim, pouco a pouco, o tempo não só tornou-se independente do Sol, como também secularizou-se, ou seja, separou-se da Igreja. Foram muitos os pensadores do momento interessados na construção de relógios. Com o homem como centro do universo no lugar de Deus, tratava-se de um instrumento muito em sintonia com a máxima latina “carpe diem” (aproveite o dia), que viveu um momento de glória no Renascimento. Desta época, um dos relógios laicos mais famosos é o astronômico de Praga, criado no século XV.

Relógios portáteis

A partir desse século, os relógios perderam peso e surgiram os primeiros dispositivos portáteis. Não existia mais só aquele ponto fixo para ver as horas. Para este avanço, foi necessário substituir o pendulo por uma mola, muito mais rápida. Os progressos tecnológicos levaram em 1509 Peter Henlein, um alemão de Nuremberg, a fabricar os primeiros relógios de bolso que se tem notícia, apelidados de “ovos de Nuremberg” por seu formato. Funcionavam somente por 40 minutos, alguns deles foram autênticas obras de arte. Os relógios, acabaram sendo objetos de luxo, assim com o tempo só as classes privilegiadas os possuíam. Enquanto isso, as outras pessoas dependiam do quadrado das fachadas onde era projetada as sombras dos relógios solares (que por isso são conhecidos também como quadrantes solares). Haviam sido aperfeiçoados graças as contribuições dos astrônomos e matemáticos árabes.

O relógio de pêndulo

Christiaan HuygensNo século XVII foi dado um grande passo na contagem de tempo. O matemático e físico holandês Christiaan Huygens construiu em 1657 o primeiro relógio de pêndulo. Este invento, muito mais preciso que os anteriores, foi possível graças aos princípios de movimentos oscilatórios estudados anos antes pelo astrônomo Galileu Galilei. Huygens dividiu a hora em 60 minutos e estes em 60 segundos. Recuperava com isso o sistema de numeração sexagesimal dos antigos sumérios fazendo derivar para o duodecimal. Cada vez que o homem contava com o polegar da mão esquerda a dezena de falanges dos dedos restantes (de onde procede a divisão do dia e da noite em doze horas respectivas), levantava um dedo da mão direita, o que só era possível cinco vezes. Assim, a contagem total era de 12×5=60. Enquanto a palavra minuto, era uma simplificação da expressão latina “pars minuta prima” (primeira parte pequena), enquanto que segundo derivava de “partes minutae secundae” (pequenas segundas partes).

O relógio cuco

Primeiro cucoA criação do pêndulo aumentou a demanda de relógios, e ainda por cima também deu lugar a sua integração nos móveis das casas. Isto começou a partir do século XVIII com os relógios de cuco. Desenvolvidos pelos carpinteiros da Floresta Negra alemã, estes relógios com pêndulos tinham como peculiaridade um pássaro automático que a cada meia hora aparecia pela abertura emitindo um “cuco” pelo quais ficaram conhecidos.

O despertador

Em meados do século na Inglaterra, com a Revolução Industrial, culminaria o processo de apropriação do tempo que havia sido iniciado pela burguesia na Baixa Idade Média. O proletariado, que trabalhava tanto em turnos diurnos como noturnos, estaria dependente dos minutos e segundos marcados pelos relógios que pendiam das paredes das fábricas. Então generalizou-se os despertadores domésticos, que asseguravam a chegada pontual aos postos de trabalho. Da ótica capitalista, as horas eram fonte de benefícios. Não havia, pois, tempo a perder. De fato, algumas expressões ficaram famosas como “o tempo vale ouro”, atribuída ao escritor britânico Edward Bulwer-Lytton.

O relógio de pulso

Os relógios de pulso mecânicos apareceram no final do século XIX, mas inicialmente tiveram menos êxito que os de bolso, pois os homens achavam similares as joias que as damas utilizavam. Popularizou-se somente após a Primeira Guerra Mundial. No conflito, os atiradores optaram por enrolar os relógios de bolso nos braços, para ter as mãos livres durante as operações. Depois da guerra continuou os avanços tecnológicos através da invenção de sistemas cada vez mais precisos.

O relógio a quartzo

Desde o final do século XIX descobriu se que o quartzo tinha propriedades piezoelétricas. Em 1920 foi utilizado pela primeira vez em um relógio, mas só ficaria popular após os anos 1960. Graças a eletricidade proporcionada por uma pilha, um cristal deste mineral gera vibrações em intervalos regulares que permitem uma medição altamente precisa do tempo.

O relógio atômico

Relógio atômicoNo final dos anos quarenta chegamos a exatidão horária com a aparição dos primeiros relógios atômicos, baseados na vibração dos átomos de determinados elementos como o Césio, o Hidrogênio ou o Estrôncio. Os sinais acústicos das transmissões radiofônicas são coordenados através deste tipo de relógio, até agora os mais precisos. Atrasam um segundo a cada 20 milhões de anos. O progresso, nos levou a busca do segundo exato. Após uma longa jornada através das horas ditadas pelos “relógios de Deus”. Agora, somos escravos da sofisticação horária.

Imitamos muitas vezes o coelho branco de “Alice no País das Maravilhas”, o personagem de Lewis Carroll que olha sem parar seu relógio, atormentado pela falta de tempo. Isto já foi objeto de reflexão para incontáveis filósofos. Kant dizia que “o tempo não é mais que um meio que utilizam nossas mentes para organizar as experiências que vivemos”. Para Einstein, “o tempo é o que você vê no relógio“. Contava o sociólogo e antropólogo francês Pierre Bourdieu que, nos anos cinquenta, os camponeses berberes da região argelina de Cabília chamavam o relógio de “moinho do demônio”. Naquela região, falar a hora exata é inclusive falta de educação.

BIBLIOGRAFIA

DOHRN-VAN ROSSUM, Gerhard. History of the Hour: Clocks and Modern Temporal Orders. Chicago (EUA): Univ. of Chicago Press, 1996.
GIMPEL, Jean. La revolución industrial em la Edad Media. Madri: Taurus, 1982.
LANDES, David S. Revolución em el tempo. Barcelona: Crítica, 2007.

Deivid Miranda, Historiador

fevereiro 08, 2021

É COMO O ORVALHO DO HERMON, QUE DESCE SOBRE OS MONTES DO SIÃO

MONTE HERMON A ligação entre o povo judeu e as Colinas do Golã remonta aos tempos bíblicos. Diz a tradição judaica que foi no Monte Havtarim, na região do Monte Hermon, a 1.296m acima do nível do mar, nos declives de Katef Sion, que D’us prometeu a Abrão que lhe daria a terra para seus descendentes. Um antigo túmulo marca o local e um robusto carvalho ergue-se, ao lado. “Os olhos de Israel”. Assim é carinhosamente chamado o Monte Hermon, ponto culminante do país, localizado no topo da Cordilheira do mesmo nome, entre a fronteira de Israel e a Síria. Assim denominado por causa de seus picos, é um dos principais centros de prática de esportes de inverno. Com 2.224m, foi o local escolhido para a implantação de um centro de lazer para turistas e amantes do esqui, pois a neve faz parte da paisagem natural da área de novembro a março, cobrindo de branco os picos do Hermon. De suas encostas, que degelam após o inverno, nasce o rio Jordão. Nos dias claros de verão, do alto das montanhas, tem-se uma das vistas mais belas da Galiléia. A região é apreciada também por outro tipo de turistas, além dos esquiadores: os observadores de pássaros. Por sua altura e a existente fauna e flora, é considerada uma das melhores áreas da região. Fundamentalmente estratégicas para a defesa do país, somente após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, as Colinas do Golã e o Monte Hermon passaram do controle sírio para o de Israel, inaugurando uma era de tranqüilidade como não conhecia, há décadas, a população israelense do norte do país. Vestígios da antigüidade Dizem os historiadores que a região sempre foi disputada pelos povos que lá viveram. Os amoritas a dominaram do 3º ao 2º milênio antes da nossa era, quando foram derrotados pelos arameus. Posteriormente denominada Bashan, foi uma área disputada pelo reino de Israel e o dos arameus, a partir do ano 800 a.E.C. A partir daí, se seguiram constantes trocas de poder: assírios, babilônios, persas. No século V a.E.C, a região volta a ser povoada pelos judeus que retornavam do exílio da Babilônia. Alexandre, o Grande, conquistou as montanhas no século IV antes desta era, mantendo-as sob controle helenístico até sua captura pelos romanos. É quando passa a ser chamada de Golã. Os gregos costumavam referir-se às redondezas como “Gaulanistis”, termo usado pelos romanos, daí o nome Golã. A 1ª. Revolta Judaica contra as forças de Roma aconteceu de 66 a 73 da Era Comum, quando um grupo de judeus ocupou a colina de Gamla. Estes foram derrotados e a cidade, destruída. O local tornou-se conhecido como “A Massada do Golã”. Durante o reinado dos romanos, chegaram os gassânidas, em 250 da E.C. e construíram sua capital em Jabiyah. Dividido o Império Romano, em 391, as Colinas do Golã ficaram sob influência bizantina e controle dos gassânidas. Depois vieram os sassânidas e mais tarde os árabes muçulmanos, sob domínio omíada, iniciando um novo capítulo na história local. Os druzos começaram a chegar ao norte do Golã e arredores do Monte Hermon a partir do século XV, seguidos um século depois pelos turcos otomanos, que lá permaneceram até o final da 1ª Guerra Mundial. Em 1880, um grupo de pioneiros sionistas fundou um núcleo judaico denominado Ramataniya, que desapareceria em apenas um ano. Finda a 1ª. Guerra, em 1920 o destino do Golã é definido por um acordo entre França e Grã-Bretanha, que concedia aos primeiros o controle sobre a maior parte do território. Isto ocorreu somente em 1924, um ano após os ingleses assumirem o mandato sobre a então Palestina. Ainda pelo mesmo tratado, uma pequena parcela do território passou da Síria para a Palestina. Assim, a França estendia seu mandato sobre a Síria. Ao término deste, em 1944, este último país fica com o controle da área. Logo após a Independência de Israel, em 1948, Damasco aumenta sua presença militar nas colinas, de onde atacava constantemente a população civil israelense do norte do país. Depois de assinado o armistício em 1949, entre israelenses e sírios, parte da área foi desmilitarizada, mas as violações destes últimos continuaram até 1967, quando Israel ocupa a região, pondo fim a 18 anos de bombardeios sobre seus cidadãos. Atualmente, 18 mil pessoas moram na região do Golã, em 35 povoados Trilha das sinagogas Um dos símbolos mais conhecidos do legado judaico na região é o povoado de Gamla, destruído durante o ano 67 da E.C., durante a 1ª Revolta Judaica. A escavação da cidade e sua identificação só foram possíveis após 1967. Para os visitantes, transformou-se em interessante ponto turístico. Para os estudiosos, a mais importante evidência da vida judaica no Golã, durante a Antigüidade, e da política destrutiva dos Césares contra os povoados judaicos. Tal perspectiva, no entanto, só voltou a ser estudada quando o arqueólogo Haim Ben-David aprofundou suas pesquisas sobre as ruínas das comunidades judaicas, no Golã, do período mishnaico e talmúdico. Como parte de sua investigação, analisou artefatos encontrados em mais de 50 sítios, habitados entre o século I a.E.C. e o século VI. Ben-David datou cuidadosamente cada um dos fragmentos, ressaltando que, diferentemente de outros sítios arqueológicos do período romano-bizantino, os mínimos detalhes encontrados na região do Golã eram cruciais para uma compreensão da história local. Após estudar cerca de 6 mil fragmentos, chegou a uma conclusão surpreendente: “Gamla foi o único povoado destruído durante a 1ª. Revolta Judaica…. As evidências indicam que pelo menos 25 continuaram a existir… e suas ruínas estão no que hoje se conhece como Ein Nashut, Yehudiya Dir Aziz”. O arqueólogo concluiu, também, que, nessa região central encontra-se um padrão contínuo de vilarejos judaicos desde o período do Segundo Templo até o final do domínio bizantino; e que alguns ainda se estenderam pelo início do período islâmico, em meados do século VIII. No entanto, Ben David faz questão de ressaltar que sua conclusão não significa que todos os povoados judaicos sobreviveram até o domínio bizantino; demonstra apenas que aqueles cujos vestígios foram encontrados não foram destruídos nos confrontos. O estudioso encontrou sinais de 15 assentamentos judaicos abandonados no século IV, final do período romano. Segundo suas pesquisas, os povoados iam sendo abandonados à medida que os bizantinos ocupavam as terras mais férteis do Golã. Os judeus, por sua vez, foram-se concentrando em áreas cada vez mais remotas, distanciando-se, gradativamente, do poder central. As análises do arqueólogo também levaram à conclusão de mais uma característica comum entre tais povoados: a presença de edifícios públicos elaborados, incluindo-se sinagogas bem decoradas, geralmente nos pontos mais altos das montanhas. Outra forte marca da presença judaica nas regiões mais remotas do Golã foi a descoberta de uma sinagoga nas ruínas do vilarejo sírio de Dir Aziz, próximo ao Moshav Kanaf. Era parte de um assentamento judaico, datado do século I desta Era. Foi justamente na área em que começaram a se delinear as primeiras teorias de Ben-David sobre as antigas comunidades do Golã. Antes dele, no entanto, o explorador Laurence Oliphant, em suas andanças pela Terra Santa, em 1885, já mencionara a existência de uma sinagoga no local. Descreveu a fachada ocidental do edifício, com 3m de altura, então intacta. Somente após 1970 iniciaram-se trabalhos arqueológicos mais intensos. Mas os primeiros pesquisadores não encontraram a sinagoga, provavelmente em virtude de um terremoto na área, em 1920, que a teria posto abaixo. Zvi Ilan foi o primeiro a coordenar as pesquisas, seguido, décadas depois por Zvi Maoz, do órgão responsável pelo patrimônio de Antiguidades, em Israel. As informações iniciais de Oliphant foram confirmadas: em Dir Aziz, de fato existira uma sinagoga. Por insistência de Ben-David e Maoz, as escavações foram retomadas em 1998, quando finalmente se encontrou a estrutura da sinagoga. Bem conservada, mantinha quatro colunas ao longo do muro norte e o piso de pedras artisticamente talhadas. Além de surpresos pelo bom estado da construção, Ben-David e Maoz entusiasmaram-se com algumas de suas singularidades. Por exemplo, a escada para o saguão principal e sua construção, voltada ao Oriente. A maioria das sinagogas do Golã e da Galiléia aponta para o sul, em direção a Jerusalém. A bimá, por sua vez, ergue-se ao longo do muro sul do edifício. Em artigo publicado no Haaretz, em 2003, Ben-David dizia que a estrutura da sinagoga de Dir Aziz era muito parecida com as construídas na região sul de Hebron, o mesmo acontecendo com o local do Aron Hakodesh. Mas a maior surpresa dos pesquisadores foi depararem-se com um pequeno jarro de barro, sob o piso da sinagoga, contendo catorze moedas de ouro do reinado do imperador Justiniano, de Bizâncio. “Sabíamos que, na época, era costume enterrarem-se moedas, mas, quase sempre, as de bronze. Os achados de Dir Aziz constituem um verdadeiro tesouro”. Ao longo das escavações, foram-se sucedendo as surpresas. Quando desmontaram um muro divisório construído no vilarejo durante o período sírio, encontraram uma inscrição em grego em uma pedra antiga, reutilizada, do período bizantino. Havia apenas uma palavra: “Azizo”. Sobre a palavra, os arqueólogos observam que havia na região de Hebron um povoado chamado Kfar Aziz. Há, também, outras explicações para a semelhança entre os termos Azizo e Aziz – ambos usados como prenomes entre os semitas. É possível que os fundadores da sinagoga tenham gravado o nome do doador da obra. Apesar das escavações não terem sido ainda encerradas, os estudiosos acreditam que a sinagoga foi utilizada até o início do domínio islâmico, durante as dinastias omíada e abássida. Durante o período romano, a região denominada Golã incluía principalmente a parte central do planalto, entre Nahal Jalabun, ao norte, e Nahal Kanaf, ao sul. Aí floresceram os povoados judaicos. O atual “sul do Golã” era genericamente descrito como Hippos, provavelmente pela influência grega dominante. Ao redor da cidade foram construídos também alguns vilarejos judaicos. Na literatura rabínica é também conhecida como Susita. Se durante a dominação romana os judeus se dedicavam quase que exclusivamente ao cultivo de vinhedos, com o domínio bizantino e seu contínuo deslocamento para áreas mais distantes e menos férteis passaram a produzir azeite de olivas. Segundo Ben-David, restos de prensas encontrados na região comprovam a florescente indústria desenvolvida pelos judeus, que chegavam a exportar a produção. Todo povoado construído no período bizantino possuía sua sinagoga, tendo-se provas da existência de no mínimo 25, em comunidades vizinhas. Para o arqueólogo, há uma relação inegável entre o êxito na indústria de azeite do povoado e o porte de sua sinagoga. Quanto mais bem sucedida a comunidade, mais monumental a construção. Tal pujança, no entanto, desapareceu no início da Idade Média. Foram abandonados todos os assentamentos da região central do Golã, inclusive os ishuvim judaicos. A localização exata de locais como Nov, Hispin, Afik e Kfar Haruv – mencionados em fontes históricas e na literatura rabínica – se perdeu. Para Ben-David, no entanto, Dir Aziz pode-se vangloriar de ser o único povoado do Golã onde se encontrou uma evidência de seu nome hebraico, preservada por mais de vinte séculos. Inúmeras atrações Palco de tantos eventos da história antiga, a região norte do Golã traz, em sua paisagem, marcas de vários períodos. Entre as colinas foi construída Ka’alat Namrud, uma das melhor preservadas fortalezas mamelucas, do período dos cruzados. De suas muralhas é possível se ter uma visão panorâmica das Cachoeiras de Banias, recanto dos mais procurados pelos israelenses que fogem das altas temperaturas que assolam o país, no verão. O vilarejo de Ein Kinya, por sua vez, permite aos visitantes aprender um pouco sobre o estilo de vida e a cultura drusa. A capital do Golã é Katzrin, cidade com várias opções turísticas. Com mais de 5 mil habitantes, situa-se entre os rios Zavitan e Meshushim. O Museu Arqueológico do Golã é parada obrigatória para os visitantes. Abriga uma coleção de artefatos que é uma verdadeira retrospectiva da história do homem e da cultura na região, dos tempos pré-históricos até o período talmúdico. Nesse museu estão expostos, entre outros, armas usadas nos embates entre os habitantes de Gamla e as legiões romanas. O próximo passo do roteiro dos visitantes é o antigo Parque de Katzrin, nas proximidades da zona industrial da cidade. Lá se vêem reconstituições de construções do período talmúdico, inclusive a magnífica sinagoga e duas residências. Ainda na zona industrial estão as vinícolas, que hoje fazem a fama dos vinhos israelenses, no mundo, com uvas cultivadas nos vinhedos locais. Algumas horas de visita bastam para provar que se está no coração dos famosos Vinhos do Golã. Sua região central se caracteriza pela presença de cachoeiras e rios que se estendem por quase toda a área – uma paisagem bem diferente do semi-árido que marca o sul de Israel. O verde é uma constante mais ao sul do Golã, no inverno e na primavera. De lá se tem uma vista panorâmica do lago Kineret, também chamado do Mar da Galiléia. Em suas águas, é muito refrescante um mergulho, no verão. Na área corre o Nahal El-Al, o mais perene dos rios do Golã, com duas famosas quedas de água – a Cachoeira Negra, cujas águas correm sob rochas negras de basalto; e a Cachoeira Branca, que deságua em um solo de calcário. Ainda na área, não importa a época do ano, é sempre bom passear pela região termal de Hammat Gader, famosa por suas propriedades luxuosas, da primeira fase do período romano. Outro ponto obrigatório é a cidade greco-romana de Susita, com igrejas bizantinas e ruas de colunas monumentais. Também conhecida como Ba’al Hermom, Mt. Líbano, Jabel A-talg, ‘Arqub, Hermon Massif, Pistas de Hermon, Jebel esh-Sheikh, Senir, Shenir, Sion, Sirion A ligação entre o povo judeu e as Colinas do Golã remonta aos tempos bíblicos. Diz a tradição judaica que foi no Monte Havtarim, na região do Monte Hermon, a 1.296m acima do nível do mar, nos declives de Katef Sion, que D’us prometeu a Abrão que lhe daria a terra para seus descendentes. Um antigo túmulo marca o local e um robusto carvalho ergue-se, ao lado. “Os olhos de Israel”. Assim é carinhosamente chamado o Monte Hermon, ponto culminante do país, localizado no topo da Cordilheira do mesmo nome, entre a fronteira de Israel e a Síria. Assim denominado por causa de seus picos, é um dos principais centros de prática dos desportos de inverno. Com 2.224m, foi o local escolhido para a implantação de um centro de lazer para turistas e amantes do esqui, pois a neve faz parte da paisagem natural da área de novembro a março, coberto de branco os picos do Hermon. Das suas encostas, que degelam depois do inverno, nasce o rio Jordão Vista de Hazor Mt. Hermon é o extremo sul da cordilheira Anti-Líbano. Seu pico mais elevado é 9230 pés e o ponto mais alto dentro das fronteiras de Israel hoje é Mizpe Shelagim em 7295 pés. A montanha é o único lugar com esqui na neve no país. Fronteira com a Síria A montanha tem sido conhecida como Ba’al Hermom, Senir, Sirion, Sião, e por Josefo como Mt. Líbano. Hoje, os árabes chamam de “Jabel A-talg” que se traduz como “a montanha de neve.” Mais de vinte templos antigos foram encontrados na montanha ou na sua proximidade. Mt. Hérmom Sl 133:3 (NVI) “É como se o orvalho de Hérmon estavam caindo sobre o monte Sião”. Cântico dos Cânticos 4:8 (NIV) “Vem comigo do Líbano, minha noiva …. descer do cume do Amana, do alto de Senir, o cume do Hermon, das cavernas dos leões e das principais atracções da montanha dos leopardos . “ Bibliografia: Duby, Tal & Haramati, Moni. Golan. Skyline , Ministry of Defense Publishing House,2001 Ya’acov Shkolnik, “Secrets from the Golan’s Ancient Synagogues”, The Book – 1985-2005. A selection of articles from ERETZ Magazine

fevereiro 07, 2021

INCOMPETENCIA DOS CORREIOS PERDE OBJETO

 Não Respondida

Adquiri pela Internet uma central multimídia na China, que foi regularmente expedida conforme o código de rastreamento LB091472767HK, postagem que eu acompanhei. No 18 de janeiro consta a entrega do objeto, QUE EU NÃO RECEBI. Fui a central de distribuição de Mongaguá reclamar e o atendende, grosseiramente, disse que está entregue e pronto. Eu perguntei quem teria recebido, assinado ou mostrado seus documentos e ele disse que não podia mostrar, seria confidencial, embora eu seja o destinatário. Na agência do correio uma funcionária gentil me mostrou uma foto da entrega, onde aparece a etiqueta do destinatário, o dedo do carteiro e meu nome escrito a caneta, sem documento, sem nada. Reclamei para o site da ECT explicando o caso e recebi como resposta - ''Prezado cliente, como deve ser de seu conhecimento informamos que o objeto mencionado foi entregue conforme sistema de rastreamento.'', o que mostra que ninguem sequer leu direito a reclamação. Moro em frente a praia, não tenho vizinhos de lado nenhum e na minha casa só residem dois idosos, eu e minha esposa e raríssimamente um de nós dois sai de casa. Só posso supor, infelizmente, que o próprio funcionário da ECT tenha posto meu nome na embalagem e ficado com o pacote, porque não há outra explicação, uma vez que o endereço da entrega está corretíssimo. Que triste é ver a decadência daquela que já foi a melhor e mais confiável empresa do país por décadas. Não creio que a ECT vá resolver coisa alguma, assumo o prejuízo mas vou fazer um terno circunstanciado de ocorrencia na Polícia e postar em todas as redes sociais. Não vai fazer diferença alguma para os Correios, mas ameniza um pouco o meu desgosto.

fevereiro 05, 2021

SEXO E MISTICISMO - UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CULTURAL - PARTE 4


 SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural


Parte 4


Sexualidade e amor


Segundo o filósofo Martin Buber, três são as esferas nas quais o mundo das relações se constrói:
A primeira é a vida com a natureza, onde a relação permanece no limiar da linguagem, ou mundo da consistência, chamado COSMOS.
A segunda é a vida com os homens, onde a relação toma forma de linguagem, ou mundo a afetividade, também chamado de EROS.
Finalmente a vida com o espírito, onde a relação, embora sem linguagem, gera linguagem, ou o mundo da validade, ou LOGOS.
Quando o encontro perfeito se realiza, essas três esferas se reúnem num único portal, que é o da VIDA, o da PALAVRA.
Escreve Buber: - "Quando um homem está intimamente unido a sua mulher, estão ambos envolvidos pelo sopro da eternidade". Diz ainda: - "Quando um homem ama uma mulher de tal modo que ele a torna presente em sua vida, a luz do olhar dela lhe permite vislumbrar um clarão da luz divina."
A sexuallidade humana, na verdade, não é apenas biológica, mas deve considerar dimensões teológicas e metafísicas. Assim sendo pode-se iniciar a abordagem deste tema a partir de uma dupla constatação:
1) a sexualidade humana é a expressão carnal de uma realidade espiritual;
2) a sexualidade humana é a expressão carnal do amor pessoal.
Esta é a grande diferença entre a sexualidade animal, originária do instinto, para quem o sexo é apenas uma união fugaz, motivada pelo apelo biológico, e a sexualidade do homem, para quem é a corporificação do amor, ou um sinal sensível de uma realidade afetivo-espiritual.
Se o amor se define como a atração recíproca de uma homem por uma mulher, ou vice-versa, ou até mesmo entre parceiros do mesmo sexo, ele é rigorosamente pessoal e será necessariamente tanto carnal quanto espiritual.
Desta forma, seu amor desembocará inevitavelmente no terreno da sexualidade, onde os parceiros encontrar-se-ão não necessariamente para procriarem, mas para se amarem.
O filósofo Ernesto Sábato afirma que - "o amor entre almas corporificadas é a suprema tentativa de comunhão, e realiza-se mediante a carne, e que, se graças ao amor sabemos quanto de espiritual tem a carne, também é graças a ele que sabemos quanto de carne tem o espírito."
Por esta razão não se pode enquadrar numa categoria o amor espiritual entre parceiros, feito de afeto, carinho, afinidade e companheirismo e noutra categoria, diversa, o amor sexual: - ambos são faces da mesma moeda.
Encerramos este pequeno ensaio com um suave soneto de Hermes Fontes, que contrapõe à imperfeição e fragilidade humanas à sublime perfeição do mais nobre dos sentimentos:

Tanto esforço perdido em ser perfeito!
Em ser supremo, tanto esforço vão!
Sonho enfermo; acordo e junto ao leito,
a mesma inércia, a mesma escuridão.

Vejo, através das sombras, um defeito
Em cada coisa, e as coisas todas são,
para meus olhos rútilos de eleito,
prodígios de impureza e imperfeição.

Fico-me, noite a dentro, insone e mudo,
pensando em ti, que dormes esquecida
do teu amargurado sonhador...

Ah! Mas, se ao menos imperfeito é tudo,
salve-se ás mil imperfeições da vida,
a humilde perfeição do meu amor.


Bibliografia

Centenas de fontes foram compiladas para a elaboração deste ensaio. Listamos as mais importantes:

1) A Bíblia de Jerusalém ? Ed. Paulinas, 1980
2) A Bíblia Hebraica ? Ed. Sefer ? 1998
3) Antologia Nacional ? F. Barreto ? Liv. Francisco Alves - 1965
4) A Cabala ? Samuel Gabirol ? Ed. Record ? 1991
5) As origens da cabala ? Eliphas Levy ? Ed.Pensamento ? 1989
6) As leis morais ? R. Calligaris ? Fed. Espírita Brasileira ? 1967
7) Centaurus ? vol. 1, n° 2 ? 1998
8) Criação ? Gore Vidal ? Ed. Nova Fronteira ? 1981
9) Dicionário Enciclopédico SAV ? Ed. Formação Cultural
10) Enciclopédia Barsa
11) Ensaios e reflexões ? G. Zarsecka ? Ed. da autora - 1989
12) E por falar em amor ? Marina Colassanti ? Círculo do Livro ? 1980
13) Eu e Tu ? Martin Buber ? Cortez e Moraes Ed. ? 1977
14) Fisiologia Sensorial ? vários autores ? USP ? 1980
15) História da prostituição, uma interpretação ? L. Basserman ? Ed. Civ. Brasileira ? 1968
16) Kama Sutra ? Vatsyaayana ? Ed. Skorpios ? 1965
17) O livro dos símbolos ? R. Koch ? Ed. Renes - 1988
18) Orgia Latina ? F. Champsaur ? Ed. Lisboa ? 1911
19) Prazer, uma abordagem criativa da vida ? A. Iowen ? Círculo do Livro - 1990
20) Sciência e Religião na philosophia contemporânea ? Ed. Garnier ? 1924
21) 265 histórias divertidas sobre sexo ? suplemento da revista Nova n° 188
22) Wikipédia e diversos sites na internet

fevereiro 04, 2021

SEXO E MISTICISMO - UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CULTURAL - PARTE 3




 SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural


Parte 3


O sexo como fator de estabilidade social

Verificamos que, se a sexualidade foi sempre uma das maiores motivações do ser humano, foi também uma das grandes preocupações dos legisladores.
Por sua necessidade com fator de estabilidade social, é que as grandes correntes filosóficas de todas as épocas deram tanta atenção à sexualidade; por esta razão Iaweh, que inspirou todo o Livro Santo, consagra um Cântico ao amor.
E entre as mais importantes regras que procuraram normatizar a sexualidade encontramos o Decálogo, os Dez Mandamentos.
Com efeito, o sétimo mandamento ? não cometerás adultério ? reconhece o matrimônio como base da família, santificando-o dando-lhe o respaldo da religião.
Curiosamente a maior parte dos grandes heróis citados na Bíblia, a começar de Abraão, passando por Salomão, Davi e tantos outros praticavam o adultério. Assim como "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
É, no entanto, no Levítico que o Senhor elenca um rigoroso código de comportamento sexual, moral e religioso, com severíssimas restrições, que se estendem por três capítulos inteiros do Livro, e que, entre outras coisas, determina:
"Não descobrirás a nudez de sua parente próxima, não descobrirás a nudez de teu pai e nem a nudez de tua mãe...e vai aí por diante estabelecendo a expressa proibição de casamentos consangüíneos, do incesto, do adultério ? "não darás teu leito conjugal à mulher de teu próximo, para que não te tornes impuro com ela" ? e condena à morte ambos os adúlteros ou "o homem que se deitar com um animal".
Mas o Senhor não proibiu expressamente a relações com prostitutas estrangeiras e por esta razão, moabitas, sírias e outras tantas viviam ao longo das estradas da Terra Santa, combinando mascateação com prostituição.
Salomão revogou as leis que as mantinham fora dos muros de Jerusalém, e com isso elas se multiplicaram tanto, e tão velozmente, que nos dias do Templo, era acusado pelos macabeus de tê-lo transformado em um "antro de fornicação".
Mas a história registra que a família judaica, ao invés de degenerar, prosperou.
O substrato ético do povo hebreu, aliado à força coercitiva das prescrições divinas, consolidou a família como elemento fundamental do ordenamento social e casos de amor e ternura foram eternizados como os de Isaac por Rebecca ou o de Jacó por Raquel, matéria prima de um dos mais belos sonetos da língua portuguesa, de Luiz Vaz de Camões:

Sete anos de pastor Jacó servia,
a Labão, pai de Raquel, serrana bela,
mas não servia a ele e sim a ela,
que a ela só por premio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel, lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor, que com enganos,
lhe era assim negada a sua pastora,
como se não a tivera merecido,

Começa de servir outros sete anos,
dizendo: - mais servira, se não fora
para tão longo amor, tão curta a vida.

A atividade sexual era escrupulosamente regulamentada pela lei religiosa, que determinada dias, ritos e procedimentos, sem no entanto coibir o prazer. O sexo devia dar satisfação. O legislador hebreu, experiente e realista, admitia ser forçoso administrar aquilo que não se podia combater, porque o ato sexual, com a ampla variedade de sensações agradáveis que proporciona, oblitera o juízo, embota a razão e traz a tona os incontroláveis e primitivos instintos do animal.
A propósito, em 1668, o Dr. Mauriceau, médico e pensador gaulês, escrevia: - "As partes do homem e da mulher que servem à geração, foram dotadas de uma sensibilidade, de uma cócega agradável, um doce formigamento que os incita à ação. Assim não sendo, seria impossível ao homem, esse animal divino, nascido para a contemplação das coisas celestiais, juntar-se à mulher. Se assim não fosse ele fugiria da sujeira e do mau cheiro dessa parte, receptáculo de todas as imundícies do corpo da mulher, e não se resolveria a colocar este membro que lhe é tão querido, a uma dedo da distância do ânus...".
Prossegue o pensador: - "Se a mulher pensasse nos mil incômodos que lhe causa a gravidez, nas dores que sentirá, no perigo de vida a que se pode acrescentar a perda da beleza, o dom mais precioso que ela tem, fugiria do ato. Mas essas reflexões, dele e dela, vêm depois da ação e não contam quando o prazer domina".
Assim podemos entender melhor o Gênese, a tentação de Adão, ao tomar ciência do fato de que a palavra NAHASH, vulgarmente traduzida como serpente, quer na verdade dizer: concupiscência. Essa era a principal paixão no meio de toda a animalidade da natureza elementar que o Senhor criara.
- "Yaweh disse à mulher: - Que fizeste? E a mulher respondeu: a serpente (concupiscência) me seduziu e eu comi (do fruto da árvore).
E foi por esta razão, por força do apelo sexual, que Adão e Eva teriam precipitado a queda da raça humana.

O sagrado sêmen e a masturbação


O legislador de Israel também sacralizou o sêmen, a semente, baseado num texto da Lei, que reza: "Toda a raça humana descende de um único homem. Logo, não apenas um homem tem potencial para reproduzir um mundo inteiro, como, verdadeiramente, cada homem é um mundo inteiro".
Isso significava, no aspecto místico, que a semente, fluido misterioso contido no homem, contém em si uma força emanada diretamente por Deus, e que é a potência de construção da humanidade. É como se o esperma contivesse em si, a geração.
Como tudo o que se referisse à fecundidade e a reprodução tinha caráter misterioso e sagrado, alguns preceitos versavam sobre a menstruação, o parto, a ejaculação, que é considerada uma perda de vitalidade pelo homem, e que, através de certos ritos e práticas deve restabelecer a sua integridade e a sua união com Deus, fonte da vida.
A masturbação, por se tratar de desperdício, ou uma destinação menos nobre do fluido seminal, era interdita. Essa proibição através os séculos tendo sido reforçada pelos pregadores, quer católicos, quer da Reforma, até adquirir verdadeiro caráter de anátema.
O livro "O inimigo rastejante" editado em Estocolmo, em 1887, ensinava que a masturbação transformaria o rapaz em "uma ruína esquálida e devastada, um condenado à morte ou ao asilo, mergulhado na noite escura e sem fim da demência". Provocaria ainda "a interrupção do crescimento, do desenvolvimento do sistema muscular, da puberdade e da barba". Finalmente "destruiria o cérebro, o sistema nervoso, a medula espinhal, a inteligência, a lucidez, a vida sob todos os aspectos".
Infelizmente tais sandices perduram ainda em nosso tempo. É comum se ouvir no interior do Brasil que a masturbação faz crescer pelos nas mãos.

fevereiro 03, 2021

SEXO E MISTICISMO - UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CULTURAL - PARTE 2


 SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural


Parte 2


O Kama Sutra hindu, os pés chineses,
os pregadores católicos e a poesia árabe.


Na filosofia hindu, outro Livro é consagrado ao mesmo tema e começa assim:
"No início, o Senhor dos Seres criou a humanidade e estabeleceu, em cem mil capítulos, sob a forma de mandamentos, as normas da existência humana, sob as formas de DHARMA ? "aquisição de mérito religioso"; ARTHA ? "aquisição de bens, patrimônio" e KAMA ? "sobre o amor, prazer e satisfação sexual".
DHARMA é a obediência aos mandamentos religiosos, no que concerne às suas práticas, como rituais e sacrifícios.
ARTHA é a aquisição de artes, terras, ouro, gado, amigos, bem como a proteção para o que se adquire e o aumento do que se protege.
KAMA, finalmente, é o que desfrutamos com os cinco sentidos, auxiliados pela mente e pela alma. O ingrediente é o contato íntimo entre os órgãos dos sentidos e o objetivo em mira. A consciência do prazer decorrente desse contato se chama KAMA. Segundo a tradição híndi, os KAMA-SUTRA (aforismos sobre o amor) foram expostos originalmente em mil capítulos por NANDI: este é a imagem do touro sagrado hindu.
O homem deve viver de maneira a harmonizar os fatores, evitando que entrem em conflito.
Na antiga China, devido ao curioso costume chamado de Pés em Lótus, de envolver os pés femininos em fortes ataduras para mantê-los pequeninos, surgiu o fetiche de erotizar os pés. O Pé em Lótus, muito mais do que os genitais, é que era o símbolo do amor erótico, do desejo e servia como acessório à relação sexual e ao orgasmo. E até hoje, milhões de pessoas, especialmente homens, ainda têm o fetiche dos pés.
No entanto, embora todas as grandes correntes filosóficas tenham apresentado o amor carnal como limpo, puro e saudável, tanto naquela época, quanto atualmente, o homem tende a ocultar a sua própria ignorância com preceitos religiosos ou legais, quer forjando rígidas prescrições, quer atribuindo uma origem divina aos seus propósitos.
Dessa forma, graves abusos ou vícios, contrários a vida sexual normal, adquiriram pouco a pouco, ao longo da história, a qualidade de preceitos religiosos ou legais.
Assim, a ignorância e o temor dos povos antigos sobre um evento tão fantástico e misterioso como a concepção e a reprodução, acabaram por transformar o sexo num poço de imundície, preconceito e medo.
São Jerônimo, por volta do ano 400, dizia: "No que tange à esposa de outrem, todo amor é vergonhoso; no que tange a sua própria, vergonhoso é o amor excessivo. O homem sábio deve amar sua mulher com discernimento, não com paixão. Que ele domine o impulso da volúpia e não se deixe levar com precipitação à copula. Nada é mais infame do que amar a esposa como a uma amante"...
E S. Francisco de Assis reforçava o preconceito contra o amor carnal instando os casais a observarem o comportamento dos elefantes: "porque o macho nunca troca de fêmea e ama ternamente aquela que escolheu e com a qual só se acasala a cada três anos e somente por cinco dias e tão secretamente que jamais alguém o viu neste ato. Ele é visto no entanto no sexto dia, quando antes de qualquer coisa, vai diretamente ao rio, lavar todo o corpo, não querendo de modo algum retornar ao seu bando antes de se purificar. Não temos aí belas e honestas disposições?"
Em compensação o ponto de vista dos povos árabes a respeito da sexualidade era muito mais próximo ao dos hebreus e hindus, como prova o Alcorão, que promete aos fiéis mais piedosos, uma cópula para cada dia de jejum observado no Ramadã (9º mês do ano islâmico), ou para cada boa ação, com as "huris", voluptuosas virgens de olhos negros que residem no Paraíso.
O belo poema "O jardim perfumado", atribuído ao Xeique Nefzawi, por volta do ano de 1500 EV, resume a opinião do Povo do Crescente sobre a sexualidade:

A mulher é como a fruta, que só entrega a sua doçura, quando comprimida pelas mãos.
Olha o manjericão: se não espremerdes entre os dedos, não desprenderá nenhum perfume.
Sabes o âmbar, se não for tratado e aquecido, oculta em seus poros o aroma que contém.
Assim é com a mulher...
Se não a animas com entretenimentos, com beijos, carícias e toque, não obterás dela o que desejas.
Não sentirás nenhum prazer em compartilhar o seu leito.
Não despertarás em seu coração nem inclinação, nem afeição e nem amor por ti.
E todas essas qualidades permanecerão ocultas.



A cultura greco-romana e costumes
e símbolos sexuais da antiguidade


A mitologia grega, com seus deuses de paixões e características humanas, apresenta um dos mais ricos repositórios de práticas, costumes e símbolos sexuais que nos foram legados, inclusive o vocabulário.
Por exemplo: "erótico" vem de Eros, o deus do amor, "afrodisíaco" de Afrodite, deusa da beleza, e centenas de outras expressões adotadas pela Medicina e pela Psicologia para denominar os fatores relacionados com o sexo, a emoção e o amor.
Mesmo na mais remota antiguidade, a prostituição de caráter religioso, dita "sagrada", era um instrumento de poder político ou religioso, para manter controlado o "fogo" sexual, e especialmente uma de manifestações mais "perigosas", ou o que imaginava ser um mal maior , a pederastia.
Com efeito, o homossexualismo era parte essencial da vida emocional e cultural da Grécia antiga, especialmente em Atenas e Corinto, durante a época áurea da cultura grega, o século de Péricles, em 5 AEV.
Os helenos acreditavam na natureza bissexual do ser humano, crença aliás antiga e arraigada. Apolo era macho-fêmea, os egípcios acreditavam que alguns de seus deuses eram masculinos pela frente e femininos por detrás, ou as vezes humanos pela frente e animais por detrás. Na Babilônia acredita-se que os primeiros homens criados tinham um corpo e duas cabeças, uma masculina e outra feminina, o que significa que teriam também órgãos de ambos os sexos; Shiva, a semideusa hindu, semi-mulher, era uma divindade duplamente sexuada e uma exegese do Talmud dá a entender que Adão, antes de Eva, seria hermafrodita, ou seja, conteria em si os atributos de ambos os sexos. Foi só quando Deus dividiu simbolicamente o seu corpo, que foram criados o homem e a mulher.
Em função desta crença e de uma característica da cultura grega, na qual a mulher era considerada "res", ou seja, "objeto" e não como parceira ideal de uma relação sexual, proliferou, especialmente entre a elite, a homossexualidade. Hesíodo, em sua "Obras e Dias", adverte: "Não te deixes seduzir por mulher alguma de traseiro atraente que por acaso venha com palavras lisonjeiras, procurar-te um tua cabana" , condenando aquele mesmo atributo com o Príncipe Paris se deleitou ao eleger a deusa da beleza, Afrodite Calipígia, ou "Afrodite das belas nádegas", entre as três candidatas somente após estas terem-lhe exibido o mesmo.
Embora os gregos adorassem deusas e lhes erigissem magníficos tempos, na vida cotidiana as mulheres eram completamente afastadas de atividades comuns a ambos os sexos; eram as casadas, por exemplo, proibidas de assistir aos jogos. Não se tem notícia de uma heroína nacional grega, comum aos costumes judeus e romanos.
Isso não significava que as helênicas fossem indiferentes ao sexo, muito pelo contrário. Hipócrates, o pai da medicina, pontifica que se a "hystera" ou útero de uma mulher não fosse regularmente excitada pelo sêmen de um homem, o sangue afluiria a cabeça da infeliz, enevoando-lhe a mente, causando inquietação e nervosismo, a "histeria", enfim. Durante mais 20 séculos, para os médicos da escola hipocrática, a cura para fenômenos histéricos foi simplesmente uma dose maior de sexo.
Absoluta exceção com relação ao papel da mulher na Hélade eram as prostitutas, conhecidos como "hetairas". Os registros documentais a respeito da presença e da participação das cortesãs na vida grega são infinitamente maiores do que as notícias sobre as mulheres virtuosas. A história registrou entre outras os nomes de Frinéia, modelo das estatuas de Afrodite, de Leontina, culta hetaira de Epicuro e principalmente de Taís, hetaira de Alexandre, o grande, presenteada por este ao general Ptolomeu, que com a morte de Alexandre ascendeu ao trono do Egito. Assim, a cortesã Taís tornou-se a matriarca da linhagem protolomaica, que por mais de 300 anos governou com pompa e circunstância a maior potência do mundo na sua época, encerrando-se a linhagem com Cleópatra, que por sua vez se tornou concubina de Julio César e Marco Antonio.
Ao atingir a puberdade os jovens gregos procuravam um "protetor" entre os adultos ricos e letrados, que se tornaria seu conselheiro e orientador. Admitia-se implicitamente que este relacionamento fosse também sexual, no entanto os rígidos mandamentos sociais exigiam que o rapaz só cedesse à corte após ter certeza das sérias intenções de seu "protetor", principalmente da intenção de educá-lo e fazer dele um bom cidadão.
Os membros das elites gregas consideravam tais relacionamentos afetivos nobres e aristocráticos e lhes davam o nome de "dóricos", significando "de sangue azul".
Tornado adulto esperava-se que ele se tornasse ativo, possuindo moças e rapazes. Se continuasse a se comportar apenas como passivo era tratado com desprezo.
Entre as mulheres o relacionamento homoafetivo também existia embora fosse menos comum. Conta a lenda que a poetisa Safo, que dirigia uma escola para meninas na ilha de Lesbos apaixonou-se por uma de suas alunas e mais tarde pela amiga Féon. Não tendo sido correspondida por nenhuma das duas suicida-se, afogando-se no mar. Da denominação da ilha deriva a palavra "lésbica".
Platão, um dos maiores atletas de sua época (seu nome deriva de "Platos" ? ou seja "ombros largos" e um dos maiores filósofos da história, em sua obra "Simpósio", que é um tratado sobre a homossexualidade, cria um tipo de ideal amoroso, entre homens, livre de luxúria ou contato físico, que passou a ser conhecido como "amor platônico". No entanto, apesar do ideal de Platão, a homossexualidade atingiu tais proporções que Sólon, legislador e filósofo, prescreveu aos atenienses a abertura de bordéis como remédio eficaz contra a sodomia, tendo sido fundado do primeiro bordel estatal de que se tem notícia na história. Embora não tenham sobrevivido documentos oficiais a respeito do assunto, Nicandro de Colofon e Filemon de Siracusa descrevem com minúcias esta atitude do grande estadista.
A despeito das boas intenções de Sólon, a medida deu como único resultado concreto transformar a bela Atenas numa das mais depravadas metrópoles da antiguidade, ponto de partida da decadência daquela grandiosa civilização.
Os romanos, legítimos sucessores da cultura helênica continuaram considerando a homossexualidade como natural e desejável. Julio César era conhecido pelo epíteto de "marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos." Os imperadores Trajano, Augusto, Tibério, Domiciano e Adriano, entre muitos outros, eram notoriamente homossexuais, e Nero e Calígula foram extraordinariamente depravados.
Tem-se notícia de que lesbianismo foi muito mais comum em Roma do que na Grécia, e a não ser em casos onde o amor e o sexo se imiscuíam na política, não gerava maiores escândalos. Muitas das esposas ou matriarcas romanas, esposas de oficiais do exército, devido a longa ausência de seus maridos em distantes guerras, usavam os favores sexuais de escravos ou gladiadores, que quase sempre eram "propriedade" de suas famílias.
Muitos romanos usavam em torno do pescoço um amuleto fálico chamado "fascinium", de onde derivam as palavras "fescenino" e "fascínio". Gravados ou fundidos, em ouro ou chumbo, tem de um lado a representação dos órgãos sexuais masculino e feminino e do outro, uma cruz.
Aliás, a cruz egípcia, ou cruz ansata, o ANKH, que tem a forma de um T, encimado por um oval, representava a imortalidade, porque o oval significava o órgão feminino, por extensão o útero, e a haste do T, obviamente, o pênis.
Em 1955, o Dr. Roger Gronjeam, chefiando uma equipe de arqueólogos da Sociedade Francesa de Estudos pré-históricos, descobriu na Córsega gigantescas figuras datadas de 3.000 AC. Inúmeros destas estátuas tinham a forma de pênis, com cerca de três metros de altura de um lado, e do outro formas humanas como a nuca, omoplatas e a coluna vertebral, ou ainda rostos humanos, ou ainda complementos anatômicos do pênis, como as pregas do prepúcio.
Esculturas semelhantes, ainda maiores e mais rudimentares foram descobertas no Sudão, Argentina, México, Inglaterra e Peru. Na Índia centenas de templos cobertos literalmente por milhares de imagens celebram em cenas vívidas, sem ressalva alguma, o ato sexual.
Alguns antropólogos imaginam que estas obras, criadas desde a Idade do Bronze, são símbolos fálicos em louvor do deus da sexualidade e também um elo simbólico entre a vida e a morte, a procriação e a destruição.
Outros, corajosamente, lançam a discutível teoria de que o cetro e coroa, símbolos da realeza e do poder absoluto, representam simbolicamente os órgãos masculino e feminino, que empunhados e coroados sobre um homem comum significam que lhe foi concedido o poder de criar e que se aproximou da imortalidade.