abril 19, 2023

A PEDRA BRUTA E SUAS APLICAÇÕES FILOSÓFICAS - Geraldo Batista de Camargos





PREFÁCIO

A pedra bruta é a pedra de cantaria, que é uma pedra própria para ser esquadrejada e usada nas construções, já que só a pedra esquadrejada cúbica, ou em forma de paralelepípedo – é que encaixa perfeitamente nas construções, sem deixar vãos. Os homens que nela trabalhavam eram os canteiros, ou esquadrejadores da pedra, os quais a transformavam na pedra cúbica. Daí os dos símbolos em Loja, já que praticamente tudo o que fazemos, hoje, tem sua origem nas organizações dos franco-maçons de ofício, ou operativos, como a dos canteiros. (José Castellani)

INTRODUÇÃO

Para os iniciados nos Augustos Mistérios da Maçonaria, a apresentação do seu primeiro trabalho é um passo de valor imensurável, por tratar da importância de pesquisar, comparar obras de mais de um autor, tirar conclusões próprias, externar o que pôde aprender e o que progrediu com os ensinamentos prestados pelos irmãos de Loja.

O tema escolhido é palpitante haja vista sua aplicabilidade tanto no meio profano como na maçonaria simbólica, de vez que podemos verificar desde as mais antigas civilizações já se faziam menções sobre as pedras, que ao longo do tempo foram utilizadas das mais diversas formas para expor o pensamento humano, seja ele religioso como filosófico. Não obstante a maçonaria especulativa muito sabiamente aproveita esses conceitos retirados das pedras a expressão marcante e lança ensinamentos para todos seus membros, desde sua iniciação.

O objetivo principal desse trabalho é apresentar a simbologia das pedras presentes em várias civilizações e em diferentes épocas e sua aplicação na formação dos maçons aceitos.

DESENVOLVIMENTO

A história da humanidade desde seu inicio tem um vínculo forte com as pedras. O homem das cavernas descobriu-as como grandes aliadas. A pedra foi utilizada para vários fins seja como arma ou outra ferramenta qualquer que facilitara a vida de nossos ancestrais.

O tempo foi passando e o homem evoluía cada vez mais, seus aprendizados foram aprofundando-se, até que adquiriu o domínio de várias técnicas, as quais eram vitais para sua sobrevivência. Essas técnicas deram origem a ciência, produto do intelecto humano, como somatório dos conhecimentos adquiridos. Ainda em sua primitividade o homem, por seus caracteres que diferem dos outros animais (corpo, alma e mente), sentia a necessidade de comunicar com o ser superior, pois percebia em sua espiritualidade que foi criado, logo, desse sentimento nasceu a religião que era manifestada de forma muito variada conforme cada região onde habitava.

As pedras dentro da religiosidade têm um valor sem par, elas eram erigidas para representar seus deuses. E vemos que de simples pedras não-talhadas, gradativamente os homens foram utilizando pilares lavrados e depois para colunas talhadas esculturalmente segundo a semelhança de animais ou homens destinados a tornarem objetos de reverência e culto como representação de deuses, que por sua solidez e durabilidade servia para sugerir o poder e a estabilidade de uma divindade.

O culto utilizando pedras tem sido rastreado em quase todas as regiões da terra e entre quase todos os povos bárbaros. A Bíblia Cristã, desde o livro do Gênese até o Apocalipse, faz alusões às pedras, vejam alguns exemplos:

Em Gênese, capítulo vinte e oito, versículo dezoito, lemos: “No dia seguinte pela manhã, tomou Jacó A PEDRA sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em Estela derramando óleo sobre ela;

As tábuas onde foram escritos os dez mandamentos eram de PEDRA (Êxodo, capítulo trinta, versículo dezoito);

Há referências bem conhecidas tanto no Velho com no Novo Testamento sobre as pedras símbolos. No Livro dos Salmos, capítulo cento e dezoito, lemos: “ A PEDRA que os construtores rejeitaram, tornou-se PEDRA ANGULAR”. Considera-se isso uma profecia dirigida a Jesus, como o Cristo, que foi rejeitado pelos judeus, mas tornou-se a PEDRA fundamental da igreja.

Jesus cita essas palavras em Mateus, capítulo vinte e um, acrescentando: “Aquele que tropeçar nesta PEDRA, far-se-á em pedaços, e aquele sobre quem cair será esmagado”.

Pedro denomina Jesus em sua segunda epístola, capítulo quatro, como PEDRA PRECIOSA;

Ao passo que Pedro foi chamado CEPHAS, quer dizer PEDRA, pelo próprio Jesus em Mateus, capítulo vinte e seis, versículo dezoito.

Já no judaísmo se vê a velha lenda sobre o maravilhoso depósito de PEDRA DE FUNDAÇÃO, É encontrada no livro Talmúdio-yoma, que afirma, ela tinha sobre si o nome sagrado de DEUS gravado na síntese da sigla G.A.O.T.U. Alguns rabinos hebraicos dos tempos antigos adeptos à doutrina metempsicose acreditavam que uma alma humana podia após a morte não só renascer num corpo humano, mas também, por culpa de seus pecados, num corpo de animal e até mesmo aprisionado numa PEDRA. No fólio hebraico número cento e cinqüenta e três, podemos ler: “A alma de um caluniador pode ser forçada a habitar uma PEDRA SILENCIOSA.

Os antigos gregos costumavam erguer colunas de pedras consagradas diante de seus templos e ginásios e até mesmo as habitações de seus cidadãos insignes. No mundo árabe em Meca (cidade de peregrinação islâmica), acha-se a PEDRA mais notável do mundo, é uma PEDRA PRETA, que está preservada na “kaaba” ou casa cúbica que fica no átrio da mesquita sagrada. Acredita-se que seja um aerólito ou pedra meteórica. Esta PEDRA PRETA tem sete polegadas de comprimento aproximadamente, e é oval, segundo diz, ela foi quebrada durante o assédio de Meca em 683 DC, foi recomposta com cimento e encerrada numa cinta de prata. Está embutida na parede do ângulo nordeste da kaaba a uma altura que permite que os devotos a beijem em ato de adoração.

Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos da correlação homem e pedra, presente na cultura religiosa que é a mais antiga manifestação circundada na vida humana. Assim também para a maçonaria as pedras têm um valor imensurável, posto que a própria origem desta instituição tenha muito haver com elas, uma vez que é herdeira o conhecimento de várias associações de construtores, principalmente daquelas manifestada durante a Idade Média. A representação simbólica das pedras está intimamente ligada com a vida de um maçom, desde sua iniciação, seu primeiro trabalho realizado à frente do irmão primeiro vigilante, onde ele ainda não percebe a riqueza existente nesse gesto.

A PEDRA BRUTA é o ponto de partida para a grande transformação a ser feita no espírito do maçom. Desbastar esta PEDRA BRUTA significa que esse trabalho simbólico deve-se dedicar o maçom para chegar a ser o obreiro que domina a boa arte de construir. Na realização desse trabalho o iniciado é ao mesmo tempo obreiro, matéria-prima e instrumento. Ele mesmo é a PEDRA BRUTA, que representa seu atual estado de imperfeito desenvolvimento, que deve converter-se em forma de perfeição interior.

Como a perfeição é infinita e seu absoluto é inacessível, o que nos resta fazer é tão somente aproximar da perfeição ideal, por etapas de progresso, desenvolvendo-as através de sucessivos graus de perfeição relativa. O próprio reconhecimento de nossa imperfeição por um lado e de outro um ideal desejado são as primeiras condições indispensáveis para que possa existir o trabalho de desbaste. Se o Aprendiz souber relevar, quando algum irmão o aborrecer, estará retirando uma aresta, se ele usar o exercício da tolerância contra as agressões, mais arestas caem. O construir, o participar, o contribuir e o atender são atributos que também retiram arestas.

Contudo a melhor maneira de desbastar a PEDRA BRUTA é a própria comprovação fraterna – chave para abrir portas aos irmãos e assim estaremos dando mostras de que os amamos. Este é o caminho certo, o início do aperfeiçoamento, que certamente será longo, áspero e de sacrifícios, mas vale a pena ser trilhado. É dando que se recebe lembra-nos Francisco de Assis, em uma mensagem de amor.

Assim pedem os aprendizes maçons, sempre haja alguém que os ajudam a suportar o fardo, a torná-lo leve, colaborando com seu progresso mostrando sempre o caminho do bem e da virtude. É necessário ainda que cada um de nós, sendo PEDRA BRUTA conheça sua natureza, descubra de que material é feito, que resistência possui, se é pedra-ferro, pedra mármore, granito ou outra composição.

Esse trabalho deve ser uma contínua rotina em nossas vidas, uma vez que a necessidade de aprimoramento seja ele intelectual; espiritual ou psíquico faz parte da natureza humana para atingir novos paradigmas do verdadeiro progresso, a serviço da própria humanidade que vai adentrando por séculos e séculos cumprindo seu destino. Pois somos degraus na cadeia da divindade, e cada degrau sustenta um e é sustentado por outro, o ser evolucionado além de limpar e polir seu degrau tem também o dever de contribuir para a limpeza dos outros, para que nada de feio se veja, assim estaremos evoluindo e colaborando para a evolução do todo, pois “o todo é muito maior que a simples soma das partes”.

CONCLUSÃO:

O valor alegórico inspirado nas pedras, desde os primórdios tempos, é refletido para toda a existência, que o homem moderno precisa obter os ensinamentos que elas – as pedras proporcionam, a fim de melhorar sua própria vida, para contribuir na construção de uma sociedade centrada nos bons costumes. Desta forma, faz-se necessário buscar incessantemente o aprimoramento individual e coletivo, quer nos trabalhos das oficinas, nos encontros fraternos, na aplicação da doutrina, no ensinamento geral a que todos abrangem, nas ocupações do mundo profano, que o maçom cumpre integralmente sua finalidade na sociedade humana.

A transformação de PEDRA BRUTA EM PEDRA POLIDA só encontra seu significado real com o trabalho primitivo dos PEDREIROS LIVRES, quando, a própria oficina procura anular as arestas de seus próprios membros quaisquer que sejam as suas posições em Loja, sejam quais forem seus títulos iniciáticos.


Bibliografia:

Constituição do Grande Oriente do Brasil

Ritual (REAA) 1º Grau – Aprendiz

Enciclopédia Barsa

“A simbólica Maçônica” – Jules Boucher

“Caderno de Estudos Maçônico” – José Castellani

Manual do Aprendiz-Maçom

Bíblia Sagrada

Enciclopédia da Sociedade de Ciências Antigas

LOJA MAÇÔNICA - Kennyo Ismail

Qual maçom nunca foi questionado por um profano do porquê do termo “LOJA”?

Muitos são aqueles que perguntam se vendemos alguma coisa nas Lojas, para justificar o nome.

Alguns, fanáticos e ignorantes, chegam a ponto de indagar que é na Loja que os maçons vendem suas almas!

Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que, só porque “loja”, em português, denomina um estabelecimento comercial, isso não significa que o mesmo termo em outras línguas tem o mesmo significado. Vejamos:

“Loge”, palavra francesa, pode se referir à casa de um caseiro ou porteiro, um estábulo, ou mesmo o camarote de um teatro. Mas os termos franceses para um estabelecimento comercial são “magasin”, “boutique” ou “commerce”.

Da mesma forma, o termo usado na língua inglesa, “lodge”, significa cabana, casa rústica, alojamento de funcionários ou a casa de um caseiro, porteiro ou outro funcionário. Os termos mais apropriados para um estabelecimento comercial em inglês são “store” ou “shop”.

Já o termo italiano “loggia” significa cabana, pequeno cômodo, tenda, mas também pode designar galeria de arte ou mesmo varanda. Os termos corretos para um estabelecimento comercial são “magazzino”, “bottega” ou “negozio”.

Em espanhol, “logia”, derivada do termo italiano “loggia”, denomina alpendre ou quarto de repouso. As palavras mais adequadas para estabelecimento comercial são “tienda” e “comercio”.

Por último, podemos pegar o exemplo alemão, “loge”, que não tem apenas a grafia em comum com o francês, mas também o significado: um pequeno cômodo mobiliado para porteiro ou caseiro, ou um camarote. Já os melhores termos para estabelecimento comercial em alemão são “kaufhaus”, “geschaft” ou “laden”.

Com base nesses termos, que denominam as Lojas Maçônicas nas línguas francesa, italiana, espanhola, alemã e inglesa, pode-se compreender que as expressões referem-se a uma edificação rústica utilizada para alojar trabalhadores, e não a um estabelecimento comercial. Verifica-se então uma relação direta com a Maçonaria Operativa, em que os pedreiros costumavam e até hoje costumam construir estruturas rústicas dentro do canteiro de obras, onde eles guardam suas ferramentas e fazem seus descansos. Essas simples edificações que abrigam os pedreiros e suas ferramentas nas construções são chamadas de “loge, lodge, loggia, logia” nos países de língua francesa, alemã, inglesa, italiana e espanhola.

A palavra na língua portuguesa que mais se aproxima desse significado não seria “loja” e sim “alojamento”. Nossas Lojas Maçônicas são exatamente isso: alojamentos simbólicos de construtores especulativos. Isso fica evidente ao se estudar a história da Maçonaria em muitos países de língua espanhola, que algumas vezes utilizavam os termos “Alojamiento” em substituição à “Logia”, o que denuncia que ambas as palavras têm o mesmo significado.

À luz dos significados dos termos que designam as Lojas Maçônicas em outras línguas, podemos observar que a teoria amplamente divulgada no Brasil de que o uso da palavra “Loja” é herança das lojas onde os artesãos vendiam o “handcraft”, ou seja, o fruto de seu trabalho manual, além de simplista, é furada. Se fosse assim, os termos utilizados nas outras línguas citadas teriam significado similar ao de estabelecimento comercial, se seria usado em substituição às outras palavras que servem a esse fim.

Na próxima vez que você passar em frente a um canteiro de obras e ver à margem aquela estrutura simples de madeira compensada ou placas de zinco, cheia de trolhas, níveis, prumos e outros utensílios em seu interior, muitas vezes equipada também com um colchão para o pedreiro descansar à noite, lembre-se que essa estrutura é a versão atual daquelas que abrigaram nossos antepassados, os maçons operativos, e que serviram de base para nossas Lojas Simbólicas de hoje.

Fonte: www.noesquadro.blogspot.com -

abril 18, 2023

VOCE ME AJUDOU PORQUE SOU MAÇOM?



O carro de um vendedor que viajava pelo interior quebrou e conversando com um fazendeiro de um campo próximo eles descobrem que são Irmãos. 

O vendedor está preocupado porque ele tem um compromisso importante na cidade local. - Não se preocupe - diz o fazendeiro, - você pode usar meu carro. Vou chamar um amigo e mandar consertar o carro enquanto você vai ao seu compromisso.  

E lá foi o vendedor e umas duas horas mais tarde ele voltou, mas infelizmente o carro precisava de uma peça que chegará somente no dia seguinte. - Sem problemas,  - diz o fazendeiro, - use meu telefone e reprograme seu primeiro compromisso de amanhã, fique conosco hoje, e providenciaremos para que seu carro esteja pronto logo cedo!

 A esposa do fazendeiro preparou um jantar maravilhoso e eles tomaram um pouco de malte puro em uma noite agradável. O vendedor dormiu profundamente e quando acordou, lá estava seu carro, consertado e pronto para ir.

 Após um excelente café da manhã, o vendedor agradeceu a ambos pela hospitalidade. Quando ele e o fazendeiro caminhavam para seu carro, ele se voltou e perguntou : - meu irmão, muito obrigado, mas preciso perguntar, você me ajudou porque sou Maçom?

 - Não - foi a resposta  - eu ajudei você porque eu sou Maçom.


(Autor Desconhecido).

abril 17, 2023

A PEDRA ANGULAR




Da substância à pedra angular

O que poderia ser mais fundamental do que uma pedra e o simbolismo associado a ela.

Para o leigo que está prestes a se tornar aprendiz, uma pedra é uma pedra, nada mais que uma matéria-prima, uma substância que pode ou não lhe servir.

Por outro ângulo, é também a clássica questão dos leigos e por vezes de alguns maçons “ o famoso para que serve a Maçonaria ”, como se tudo tivesse de ser reduzido a um uso para uma utilidade. A matéria, como a Maçonaria, não pode ser reduzida a meras utilidades.

Mas na loja simbólica, a primeira coisa que falamos e vemos é a pedra bruta. É esta matéria que se sente deve estar pesada com alguma coisa, mas com o quê?

Esta pedra se oferece ao trabalho do homem, “ o material tem propriedade reflexiva, é um espelho embaçado pelo nosso hálito. Basta limpar o espelho e ler os símbolos que estão escritos na matéria desde toda a eternidade (1) ”. O trabalho por si só trará algo mais. O gesto do semeador ajuda a reavivar a semente na terra, os golpes do cinzel do trabalhador dão à pedra a sua finalidade. Todos nós já sentimos esse respiro, o prazer de aplainar uma tábua no veio da madeira, de cortar uma pedra em seu leito, na direção em que a natureza a colocou na pedreira, de ver os contrafortes transmitirem os esforços, e ainda por cima como diz o poeta “ um espírito puro cresce sob a casca das pedras! »

Etimologicamente, a substância é concebida como “ o que está embaixo (sub stare) ”, expressão na qual se distingue implicitamente um determinado modo de ser de outro, talvez uma emergência que poderia ser revelada pelo trabalho.

O primeiro modo é aquele das coisas que não podem existir sem estar em relação com algo diferente de si mesmas .

O segundo modo é o das coisas que existem por si mesmas , e que assim constituem o foco ou o suporte do primeiro.

Todos como a matéria, são homens, uns só existem através dos outros, outros são autónomos, estes assimilaram a Arte Régia - são Reis de si mesmos e libertam os primeiros estão à espera de serem agredidos, à espera da liberdade, à espera de passar.

Intuitivamente o jovem iniciado adivinha que existe algo mais por baixo desta pedra, distingue aí a ideia de um princípio de permanência, mas também que a pedra pode ser outra coisa que não o que é. Essa permanência é um ponto de partida. Uma criação a ser concluída, da qual ele é chamado a participar.

Se essa pedra não for nomeada ou examinada, ela permanecerá, na melhor das hipóteses, um seixo, na pior, um material, nem mesmo matéria-prima, nem mesmo uma substância. Se ela não trabalhar na Loja, ela nunca participará do estabelecimento do Templo.

A Pedra está grávida de um futuro, espera uma forma e porque não um nome, por exemplo, um sonho como o de Jacob que adormeceu com a cabeça sobre uma pedra. Essa pedrinha que lhe servia de travesseiro tornou-se a pedra de Betel, de Jacó, tornou-se Israel. Uma substituição é feita. Entre a mão e o espírito há interação recíproca.

O mundo é como uma gramática; agrupar letras faz emergir palavras, unir palavras favorece a emergência do sentido e da ação, é toda a força do verbo criativo evocado por Jean em seu prólogo. É esse verbo posto em ação que a pedra e o aprendiz esperam. A pedra em hebraico é chamada Eben, uma palavra composta pelas letras Alef, Beth, Nun. Já Alef é a letra da unidade, de valor 1, é portanto o que era antes do começo, a letra Beth segunda letra simboliza o lar, nosso mundo, a letra Substantivo simboliza o homem. Colocado em perspectiva, Eben, a pedra, significaria que a divindade encontra residência na pedra para se revelar ao homem. Confere as Tábuas da Lei.

O aprendiz parte da pedra bruta, ou seja, de si mesmo.

Ele é esta Pedra Inaugural , que, através da iniciação, se torna o lançamento da “ Primeira pedra fundamental do seu Templo ”, o lançamento da sua pedra inaugural. Templo que deve ser construído de acordo com a tradição dos construtores, ou seja com o que está no local. Essa maneira tradicional de fazer as coisas gradualmente abre a mente para uma espiritualidade. Ele não precisa fazer uma limpeza em si mesmo, ele se reconstrói a partir de si mesmo. Passo a passo, grau a grau, portanto sem dogma, sem revelação, ele é objeto e sujeito de seu templo, matéria e espírito ao mesmo tempo, o processo é certamente mais longo. É preciso força de vontade, não se torna pedreiro por impregnação.

Esta espiritualidade sem dogmas, desvinculada de qualquer religiosidade, arte ou poesia poderia tê-lo sugerido a ele antes da iniciação.

Suponha que duas massas de pedra foram colocadas uma em frente à outra. O primeiro permaneceu cru. A segunda, o artista converteu-a numa estátua de um homem ou de um deus.

A pedra convertida em estátua parecerá a mais bela, não porque seja de pedra, pois então a outra massa não poderia ser inferior a ela, mas porque tem uma forma que lhe é dada pela arte.

Essa forma, porém, não pertence à matéria; pois antes de se manifestar na pedra, estava na mente do artista, não porque ele tenha pés, mãos ou sentidos, mas porque ele tem um sentimento pela arte. Mesmo na imitação da natureza há um pensamento, é esta vida do espírito que nos preocupa na AASR.

Mas havia nessa arte uma beleza muito maior que não podia se manifestar na pedra; a manifestação dessa beleza no material é apenas uma forma inferior ao desejo do artista, aquele que apenas obedeceu aos princípios da arte.

A forma que passa para a matéria relaxa e se afasta e se torna mais fraca do que aquela que permaneceu encerrada no pensamento. É assim que a força vem da força, o calor do calor, a beleza da beleza, o desejo de agradar do desejo, a imitação ou cópia da criação, o crime de não cortar a pedra em sua cama. A faculdade produtiva é sempre mais excelente do que o objeto produzido. A culpa não é imputável à matéria, mas ao homem.

As artes não apenas imitam o que nossos olhos veem, mas remontam às leis da razão e da intuição.

A arte não pode ser reduzida a efeitos sociológicos, a um status social em troca do domínio de um impulso, a posturas para aparecer ou sobreviver, para obter a paz social.

Quando entramos na Loja, sabíamos de tudo isso? Acho que não, mas estávamos procurando algo obscuramente.

Durante nossa iniciação percebemos que estávamos colocando a primeira pedra de um edifício? Não claramente eu acho. Mais preocupado em fingir dominar as situações, levado por uma torrente, mais espectador do que ator, mais imitador do que verdadeiro. Nem mesmo víamos os alicerces sobre os quais iríamos nos construir. Nós os percebemos melhor hoje?

As fundações

Quando se deseja erguer um templo, mesmo interior, nunca se deve perder de vista três pontos principais, sem os quais nenhuma boa construção é possível.

A primeira é a escolha do local adequado, a segunda a solidez das fundações, a terceira a perfeição da execução dos detalhes e do todo.

A primeira depende do objetivo. Fundar uma sociedade, uma nação, uma empresa, uma irmandade, um homem, uma espiritualidade. Tudo está na orientação do prédio, no destino do lugar, no prédio, na igreja, no templo. Construção exterior ou construção interior.

O segundo ponto diz respeito às fundações. Cujos ângulos regulares das pedras angulares indicam a regularidade do edifício, e cuja posição perpendicular deve dar uma ideia do prumo das paredes e do equilíbrio perfeito de todo o edifício.

Bons alicerces significam escolher bem seus valores e mantê-los ao longo do tempo. Este trabalho é realizado nas profundezas misteriosas que cavamos após longas e profundas meditações. Quais são nossos objetivos, lucrativos, emocionais, sexuais, desejo de poder, sociais, políticos, religiosos, iniciáticos, etc.? tantas perguntas, você tem que se conhecer antes de cavar os alicerces.

O terceiro ponto é dizer, a perfeição da execução dos detalhes e do todo. O que requer a cooperação de todos os ofícios, de todas as artes. É a arte desse bem cercado não ser traído por quem trabalha conosco no trabalho.

O trabalho do pedreiro está predestinado a passar despercebido. A terra esconde os alicerces, os alicerces, os fundamentos que ele construiu com tanta dor e tanta inteligência; ele nem tem o direito de reclamar. As superestruturas devem refletir os valores que estão nos alicerces, pois tudo o que fazemos no mundo deve refletir nossos princípios.

Feito a escolha do local, e a orientação definida, há que pensar nesta pedra que vai garantir a coesão do todo, uma unidade que vai fazer com que cada uma das pedras forme um todo, a pedra angular, depois a pedra angular que coroará tudo.

De antemão, essa pedra bruta que deve ser lapidada representa o homem em suas duas dimensões principais, a terrestre e a celeste. Um lado voltado para a terra, o outro voltado para o céu. Essa tarefa é colocar a forma em relação ao seu destino, colocar o homem em relação ao seu destino, é objetivo da Arte Real polir e transformar, ao mesmo tempo o objeto e o sujeito.

A pedra angular ou quadrangular (nos quatro cantos do templo).

O trabalho manual da pedra é duplicado por um trabalho espiritual, um acto mental, ao cortar pedras para um destino, o pedreiro faz mais do que um gesto prático, avança para um domínio interior, uma tomada de consciência, inscreve, grava em o silêncio da pedra o eco de uma consciência, de uma palavra.

Eco que sentimos ao visitar uma catedral, um monumento. A arquitetura é, de fato, a única arte que pode ser visitada por dentro.

Com a pedra quadrangular, dirigimo-nos ao altar orientado que apresenta as suas quatro faces voltadas para os quatro pontos cardeais. A companhia manteve esse simbolismo, veja Isaías 28-16 (2). “ Quem o toma por apoio não terá pressa em fugir ”. Em outras palavras, aquele que sabe onde está e quem é, não precisa fugir ou fugir de si mesmo.

O objeto final desta prancha é a pedra angular também chamada de pedra do cume , aquela que fica no topo do prédio que coroa o prédio. A pirâmide que coroa a pirâmide, os egípcios ali gravaram o nome dos defuntos, orações, era a passagem para o que nos ultrapassa. Esta pedra é única em sua forma única. Esta pedra angular é também a marca da unidade, materializa o todo. O ciclo se fecha.

Esta pedra é diferente de qualquer outra, é diferente, tanto em forma quanto em função. Aqui forma e destino se encontram, não há mais perto, a forma é uma função do destino.

A pedra cúbica se integra, faz a corrente com as demais, é o aspecto igualitário da fraternidade, " você é meu irmão porque não é diferente de mim ", é uma verdadeira fraternidade aquela do amor apenas a sua imagem, ou seu idêntico ?

Esta pedra superior deve facilitar a distribuição das cargas da cobertura e do céu, para equilibrá-las em cada lado da abóbada ou cúpula. Ela distribui a Lei a todos. É a esta pedra que se liga o fio de prumo, as outras pedras formam uma espécie de corrente de união, de forma a passar a Lei em todas as partes do edifício.

Na Idade Média ainda não se conhecia a resistência dos materiais, para construir apesar de tudo, os nossos antepassados ​​recorriam a regras (os dogmas da época) das proporções entre alturas, larguras etc. portanto, não é surpreendente encontrar o número de ouro na batalha, aqui o ângulo de ouro, para presidir as linhas desta pedra angular.

Esse layout exigia grande maestria, uma conquista na vida de um construtor (a estereotomia). Imagine ter que traçar a interseção de três, quatro ou seis abóbadas que se cruzam em um ponto. De outro ângulo, é a arte de combinar diferentes planos, de ir das retas às curvas, de combinar o esquadro e o compasso, de mudar de plano e voltar a eles.

Uma solução poderia ser tapar o buraco central com cimento e alisar tudo com uma espátula, o que nos separaria da espiritualidade ligada ao nosso Rito.

A pedra bruta ou pedra cúbica é muito mais fácil de entender, pois sua forma é banal e não revela facilmente seu destino. Para apreender o seu destino, é necessário consultar a planta do arquitecto. Sem planos não há destino e, inversamente, é o plano que faz aparecer o GADLU. Sem programa, sem plano, sem Loja.

A pedra cúbica serve para quase tudo, faz uma prisão tão bem quanto um templo, a diferença vem do destino. Mas lembremos que da indiferenciação, da monotonia, não nasce o destino, mas que é da liberdade e da autonomia, ambas sujeitas à Lei, que pode surgir o desígnio, o plano.

Nem todos compartilham deste ponto de vista, como Plantageneta em seu curso filosófico apontou: que entre os arianos, era ao contrário a pedra lapidada que era o símbolo das trevas e da servidão, e a pedra bruta o símbolo da liberdade. A pedra lapidada, acabada, comenta Plantageneta, é feita de preconceitos, paixões, dogmatismos aceitos sem controle.

A iniciação devolve ao aprendiz e à pedra seu potencial e liberdade natural. Assim cortamos a nossa pedra não para sermos idênticos a " de " ou o resultado de um grupo, mas para sermos livres e participarmos como homem autónomo na estabilidade do edifício, sem necessitarmos de cimento para nós. silêncio com o princípio criativo.

A Pedra do Piso , se for mal traçada, mal calculada face aos ensaios a submeter, é rejeitada ou rejeitável, ou não encaixa, ou os constrangimentos externos a rejeitam. É recusado pelo edifício ou pelo gerente de projeto.

Mas em qualquer caso, muito diferente dos outros, seu destino, antes de estar no lugar, é ser rejeitado porque incompreendido no local antes do final da obra, porque rastreável apenas por um Arquiteto Mestre.

Este mal-entendido é simbolicamente marcado pela rejeição dos responsáveis ​​da Loja, por não parecer enquadrar-se no quadro que tinham planeado, do que pensavam ser a realização final do edifício. Muita diferença, não regular em seus olhos, difícil até impossível de tornar cúbico.

Acabará sendo reconhecido, por quem conhece o plano da obra, pelo Mestre, aquele que busca seu ideal no princípio e não no consenso.

Por aquele que sabe onde está o “ buraco da lareira ” por onde passa a Lei, o ponto onde o templo se une ao cosmos. Além disso, era a única pedra assinada por aquele que era considerado digno de suceder aos seus pares.

A assinatura, o nome gravado como forma de invocação de outra coisa.

Este lar, esta fonte, este centro, este olho por onde passa simbolicamente o eixo do mundo, que o ordena, que lhe dá sentido.

Eixo vertical voltado para o mais alto, única saída real no labirinto do mundo profano. Mas cuidado para não subir muito rápido, muito alto, correndo o risco de queimar as asas como Ícaro.

A única saída de situações complexas é de cima, por uma mudança de lógica, por um retorno ao centro, ao Princípio.

Mas a pedra cúbica também pode ser desdobrada, achatada, em forma de cruz. O cubo contém, portanto, algo mais dentro de si, uma forma implícita, uma cruz. Forma e substância estão intimamente ligadas, unidas.

Quatro lados, quatro ângulos, quatro pedras nos cantos do Templo. Tantos significados e formas de ver o mundo. Para entender o princípio criativo.

Esses quatro significados já formulados na Idade Média: a letra ensina os fatos, a alegoria o que você deve acreditar, a moral o que você deve fazer, a anagogia o que você deve almejar. (Littera gesta docet, quid credas allegoria, moralis quid agas, quo tendas anagogia).

A mesma coisa no judaísmo sobre as formas de entender um texto de forma literal, alusiva (literalmente: alusão), alegórica (literalmente: cavar, sondar, procurar), mística (literalmente: segredo).

As quatro pedras angulares, cantos , nas quais também podemos ver a representação dos evangelistas (Marcos, Lucas, Mateus, João). Ou o homem Adão de Mateus, o Touro (o homem natural) de Lucas, o Leão (o homem psíquico) de Marcos e a Águia (o homem espiritual) de João. O homem em todas as suas dimensões.

No manuscrito maçônico de Graham, as quatro pedras são, São Pedro (Cephas em grego), Moisés que esculpiu os mandamentos, Bezaléel o construtor do tabernáculo e Hiram o sábio, ainda outra visão das dimensões do mundo.

As pedras não vão para qualquer lugar, elas têm um destino definido por um plano .

Na tradição cristã:

A pedra fundamental está colocada no coro do edifício , ao centro da base: nela está gravada uma cruz.

A pedra de dedicação , geralmente colocada no pilar nordeste do coro. Na face interior estão gravadas as dimensões do edifício, as datas, algumas particularidades, se necessário, e os nomes dos construtores.

A pedra angular, pedra angular , cortada em flor-de-lis, vertical à pedra fundamental.

Esta " pedra angular " do cume também é chamada de " olho " da cúpula), ela é " refletida " em cada uma das " pedras fundamentais " dos quatro ângulos da base. É a representação do centro. Em outras palavras, do Princípio presente nos fatos, na alegoria, na base da moralidade e na anagogia.

É esta pedra diferente de todas as outras, rejeitada pela sua diferença, que se tornará a pedra que dá sentido às restantes.

É talvez o profano quem bate à porta, « bate, ela abrir-te-á, procura, encontrarás ». Ou o aprendiz muito diferente para ser aceito como jornaleiro. É talvez o manual que os intelectuais rejeitam, o intelectual que os manuais rejeitam, o poeta que os racionalistas negligenciam, o sagrado afugentado pelo profano, o visível perseguindo o invisível, a lista é longa demais. É a diversidade que enriquece, que permite aproximar-se do Plano.

Isso não significa que você deva aceitar qualquer pessoa, especialmente se houver ausência de fundamentos.

Termino citando G. de Nerval.

Macho ! Pensador livre - você acha que é o único pensador.

Neste mundo onde a vida explode em tudo:

Forças que você detém sua liberdade dispõe,

Mas de todos os seus conselhos o universo está ausente.

Respeite na besta um espírito ativo: ….

Cada flor é uma alma para a Natureza florescente;

Um mistério de amor no metal reside:

" Tudo é sensível! " - E tudo sobre o seu ser é poderoso!

Teme na parede cega um olhar que te espia

À própria matéria um verbo se liga...

Não a faças servir a algum uso ímpio!

Muitas vezes, no ser obscuro habita um Deus oculto;

E como um olho nascente coberto por suas pálpebras,

Um espírito puro cresce sob a casca das pedras!

Geraldo de Nerval


(1) Simone Weil 1905-1943.

(2) 16 Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que lancei uma pedra por alicerce em Sião, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, bem assentada; Quem o tomar como apoio não terá pressa em fugir.

17 Farei da retidão uma regra, e da retidão um padrão; E a saraiva varrerá o refúgio da falsidade, E as águas inundarão o abrigo da falsidade.


Autor desconhecido

DESPEÇO-ME AQUI - Newton Agrella




É instigante como a Despedida desperta intensidades tão diferentes na alma.

Enquanto um "tchau" expressa uma distância emocional curta e informal, seu conteúdo pode encerrar uma ação transitória, passiva de ser repetida em algum lugar do tempo, como pode encerrar a idéia de uma ação que se apaga, sem qualquer compromisso consigo mesmo.

Nesta caminhada semântica um "até logo" , "até breve", "até a vista" ou "até mais" merecem uma consideração um pouco mais detida e que de algum modo,  deixam em aberto, um certo ar de comprometimento para com um eventual retorno, cuja essência, necessariamente não precisa revelar uma vontade ou obrigação.

Correndo em paralelo a estas formas circunstanciais de despedidas, nossa língua nos faculta outras expressões que denotam um caráter mais alentador e amável ao serem empregadas:

"Vai com Deus"

"Fica com Deus"

"Deus te acompanhe"

dentre algumas outras que obedecem seus regionalismos.

Lá adiante porém, surge uma curva mais acentuada, cujo sinal indica uma forma mais categórica, onde se lê:  "Adeus" 

Ei-lo finalmente diante de  nossos olhos e sobretudo de nosso pensamento.

"Adeus", além de substantivo é igualmente um advérbio de modo, mas que traz consigo um profundo caráter de temporalidade, visto o significado que encerra em sí.

A etimologia da palavra "Adeus" obedece a uma forma sintética da antiga expressão utilizada pelos padres que quando eram convocados a comparecer ao leito de morte de alguém que estivesse na iminência de partir, para "encomendar a alma" valiam-se da expressão: 

"A Deus vos recomendo".

Como se percebe, ao longo da própria dinâmica linguística, dizer "adeus" hoje enseja a idéia de abrir mão de alguém ou de algo; abdicar, renunciar; invariavelmente indicando um âmbito de encerramento ou ruptura e em outros casos, o de "trancendentalismo"  em que o conceito de volta a Deus e de conclusão de um ciclo de vida se manifestam.

Vai aqui uma tênue despedida, sem a pretensão de despertar qualquer caráter dialético, mas na certeza de poder compartilhar outros conceitos de propriedade humana, longe de qualquer natureza proselitista.



abril 16, 2023

A SENHORA E O MENDIGO - Joab Nascimento





        Caía à tarde, o calor começava a fugir, amenizando um pouco a temperatura de quase 40° que dominou por todo o dia aquele lugar. as sombras das casas e dos prédios, abafavam um pouco o reflexo do sol que teimava em queimar e aquecer, como o fogo a arder, sob uma panela de pressão. 

numa certa rua desse lugar, na região central, próximo ao centro comercial, encontrava-se um velho, um senhor de idade bem avançada, com barba branca por fazer, mas no momento meio amarelada, maltrapilho, desprovido de valores , tanto moral quanto material, mal cheiroso, os poucos cabelos que ainda restavam em sua cabeça e teimavam em não cair, estavam despenteados e sujos, os dentes em sua boca não passavam de um par, na parte superior, seus pés descalços, mostrando calos e rachaduras no calcanhar, informavam que há anos não sabiam o que era um calçado; suas unhas grandes e sujas, alojavam detritos escuros oriundos da falta de higiene, ao seu lado uma manta suja que lhe servia de cobertor, em volta muitos papelões que serviam de colchão pro seu descanso. numa sacola velha, pedaços de pano e restos de roupas rasgadas que serviam pra ele vestir. sua barriga tão vazia, faltava pouco para se encontrar com as costas, pois, sua alimentação só acontecia quando alguém de bom coração doava algo pra ele comer. 

        Tinha dificuldade de andar, as pernas já não mais obedeciam aos seus comandos, pois a resistência há tempos, já tinha ido embora também. 

        Esse homem de rua, estava naquele dia, sem esperanças, com tanta fome, que a dor fazia descer lagrimas do seu rosto, e ele rogava a deus a chegada da noite, para que o sono chegasse e assim amenizasse um pouco o seu sofrimento.

     Quando de repente, se aproxima uma senhora, muito bonita, bem vestida, a aparentemente demonstrava uma pessoa de muita posse, uma condição de vida que ele nunca imaginou, mas, seu semblante, mostrava, que um dia também maus bocados, já havia passado. 

E tudo aconteceu porque essa senhora, que raramente passava nessa rua, nesse dia resolveu sair pra jantar, e, ao passar com seu carro por alí, algo lhe chamou a atenção naquele indigente, pois, o olhar daquele homem, estava marcado pra sempre na sua memória. ela, estacionou seu carro importado, e foi ao seu encontro. o homem, ao vê-la se aproximar, sentiu algo familiar também no seu olhar, mas, nada disse, pois, o medo que sentia das pessoas, o aterrorizava, independente de quem se aproximasse, fosse homem, mulher ou criança, todos o evitavam e o ignoravam, ele ainda se dava por satisfeito quando não era maltratado, quando passavam e o deixavam em paz.

        Sentiu o coração acelerar, o corpo tremer, quando a mulher se aproximou, pois, imaginava que mais uma tortura iria sofrer. mas, pra sua surpresa e espanto, a mulher se agachou, tomou-lhe as suas mãos entre as suas, encostando seu rosto junto ao seu, o cumprimentou com um sorriso tão familiar, e o convidou para jantar. nesse instante, um guarda ia passando, e, imediatamente se prontificou a protegê-la, daquele ser nocivo que estava a incomodá-la. 

        A senhora, sem tirar a vista daquele olhar, pediu ao guarda que lhe ajudasse a atravessar a rua e o conduzisse ao restaurante que ficava quase em frente. o pobre homem cambaleante, com muita dificuldade pra se conduzir, foi levado e numa cadeira foi acomodado. o restaurante era muito chic, padrão cinco estrelas, com ar central, pianos bar, comidas raras, local frequentado por pessoas da alta sociedade, com grande fartura de dinheiro. 

        No mesmo instante que a senhora, e o mendigo, junto com o guarda adentraram o estabelecimento e se acomodaram, um garçom, educadamente se aproximou, e, pediu que eles se retirassem, pois, aquele mendigo não poderia ali ficar, pois, iria expulsar todos os clientes do estabelecimento. a senhora também muito educada, perguntou ao garçom quem era o gerente dali. imediatamente o gerente se aproximou e se apresentou, também pedindo que o mesmo dali fosse retirado. a senhora perguntou se ele conhecia o dono daquela rede de restaurantes espalhadas por todo o brasil, o mesmo disse que não conhecia e que nunca ouviu falar. a senhora se apresentou, como a proprietária da rede daquele restaurante, e, explicou o motivo do seu ato de caridade: - há muitos anos atrás, quando aqui cheguei, vindo do interior, pra cursar uma faculdade, eu não tinha pra onde ir e nem aonde comer. esse homem, que agora vocês querem daqui expulsar, foi quem me deu casa e comida todo dia, nesse local que aqui estamos, e que na época, era apenas uma pequena pensão que vendia comida caseira. aqui eu trabalhei, estudei e me formei. por motivos pessoais, que só ele sabe, um certo dia ele sumiu, desapareceu sem dar notícias, como ele não tinha família, ou se tinha, ninguém o procurou, eu fiquei trabalhando, trabalhando...até que fui crescendo, administrando com unhas e dentes, e hoje sou a responsável por essa rede de lojas, administradas por mim, pois o verdadeiro dono, é esse aqui, o patrão de vocês. há anos o procurava, até que hoje tive a felicidade de me deparar com esse olhar que um dia com tanta caridade me acolheu e matou minha fome. ele sim, é o dono de tudo isso, por direito. por isso nunca julguem ninguém pela aparência, esse homem deveria estar há dias nesse local, nunca veio pedir um prato de comida pra saciar sua fome, no próprio restaurante onde ele é o proprietário.

        Carreguem sempre nas veias de vocês, o sangue da caridade. façam o bem, que um dia ele retornará multiplicado.



O SEGREDO DA MAÇONARIA - Almir Sant"Anna Cruz




Invariavelmente as antigas instituições filosóficas e religiosas dividiam seus ensinamentos em públicos ou exotéricos (de caráter geral e ético, ministrados sob a forma de contos, alegorias e parábolas) e secretos ou esotéricos (de caráter individual e místico, reservados aos iniciados).

Jesus também assim procedeu. Na Bíblia podemos confirmar que se para o público em geral seus ensinamentos eram limitados e por parábolas, para seus discípulos tudo lhes era revelado:

*Marcos 4:11: E ele disse-lhes: A vós é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora, todas estas coisas se ensinam por parábolas*

*Marcos 4:34: E sem parábolas nunca lhes falava; porém tudo declarava em particular aos seus discípulos*

No período operativo da Maçonaria, os segredos do ofício e das técnicas de construção utilizadas pelos Maçons era de fundamental importância, pois lhes assegurava a sobrevivência através de uma reserva de mercado. Também os sinais, toques e palavras garantiam trabalho e proteção para aqueles que viajavam de um lugar para outro. 

Em capítulo precedente já vimos a importância que se dava aos segredos dos Maçons operativos no Poema Regius.

Também vimos em outro capítulo, na Lenda Hirâmica, a importância das palavras e sinais secretos:

Alec Mellor in Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons afirma que nunca faltarão concepções fantasiosas e até aberrantes do Segredo maçônico, alimentando tanto os detratores da Maçonaria quanto a credulidade humana.

A essa afirmativa, podemos acrescentar que os próprios Maçons são os responsáveis pelas ideias erroneas sobre o Segredo maçônico. Para muitos Maçons, tudo é segredo e quando são perguntados a respeito de um assunto trivial, respondem com ar professoral com um enigmático “isso é segredo”, seja por uma convicção erronea do que efetivamente é segredo, seja para encobrir seu desconhecimento sobre o assunto que lhe foi perguntado.

Segundo Mellor, o Segredo da Maçonaria corresponde a duas distintas noções:

*- Os Segredos (no plural), que dizem respeito aos sinais, palavras e toques pelos quais os Maçons se reconhecem e se “distinguem dos outros homens* 

*- O Segredo (no singular), que é um conceito totalmente filosófico e de conteúdo variável*

*Para alguns, concebido como o estado de iluminação interior atingido na Iniciação e que a linguagem humana não saberia traduzir e, portanto, trair, visto que as palavras correspondem a conceitos ao passo que o pensamento iniciático eleva-se acima do pensamento conceitual* 

*Para outros, o Segredo não conduz a um conteúdo de ideias, mas é de ordem moral e não passa da ascese simbolizada pelo ritual e destinada a realizar o homem ideal. A concepção cristianizada dessa ascese torna-a um meio privilegiado de salvação*

Jesus Hortal, reitor da PUC-RJ in Maçonaria e Igreja, afirma:

*O segredo maçônico é uma espécie de viagem espiritual que o iniciado faz e que dificilmente poderia exprimir-se com palavras. É algo que o maçom guarda para si. Quanto mais velho, mais volumoso é o seu segredo, composto dos resquícios de suas experiências de vida*

Jean-Jacques Casanova de Seingalt (1725-1798), o célebre aventureiro veneziano do século XVIII, conhecido em nossos dias como o libertino Casanova, teve o seu texto História da Minha Vida deturpado quando de sua publicação no século XIX. Mas em 1960 o texto original foi publicado na França, surgindo então seu verdadeiro pensamento, pleno de psicologia e perspicácia. Conquanto não se possa citá-lo como modelo de virtude nem como exemplo de Maçom, reproduzimos a seguir suas interessantes observações sobre o Segredo da Maçonaria:

*Os homens que se fazem receber Maçons apenas com a intenção de conseguir o conhecimento do segredo da Ordem, correm grande risco de envelhecer sob a colher de pedreiro sem jamais atingir a meta que se propõem*

*Há no entanto um segredo, mas que é tão inviolável por sua própria natureza que nunca foi confiado a ninguém*

*Aqueles que param na superfície das coisas pensam que o segredo consiste em palavras, sinais e toques, ou que finalmente a grande palavra está no último grau*

*Erro. Aquele que adivinha o segredo da Maçonaria, visto que só será conhecido se for adivinhado, só chega a este conhecimento por muito freqüentar as Lojas, por muito refletir, raciocinar, comparar e deduzir*

*Quando chega a ele, evita participar a sua descoberta a quem quer que seja, mesmo a seu melhor amigo Maçom, pois, se o último não teve o talento de penetrá-lo, tampouco terá o de aproveitá-lo depois de conhecê-lo oralmente. Esse segredo será, portanto, sempre um segredo*

*Tudo o que se faz na Loja deve ser secreto, mas aqueles que, por uma indiscrição desonesta, não tiverem escrúpulos de revelar o que nela foi feito, não revelaram o essencial. Como eles poderiam revelar, se nada sabem? Se soubessem, não falariam das cerimônias*

Há também os céticos, que afirmam que o grande segredo guardado pelos maçons é que não existe segredo algum. Entre eles encontra-se o filósofo John Locke, que afirma:

*Mesmo que a inexistência de algum segredo seja o grande segredo maçônico, não é uma pequena proeza manter isso em segredo*

Finalmente, destacamos um trecho de nosso livro Simbologia Maçônica dos Painéis: Lojas de Aprendiz, Companheiro e Mestre:

*Quando um Maçom se torna verdadeiramente um Maçom, sua busca terminou* 

*Ele encontrou o Segredo*. 

*Como revelá-lo a quem não se iniciou nos Mistérios da Maçonaria?* 

*Como transmiti-lo a quem entrou para a Maçonaria, mas não conseguiu ainda ser Maçom?* 

*Quem descobre o Segredo não o revela a ninguém. A ninguém em nenhuma circunstância!* 

*O Segredo é intransmissível!*


Do livro
Maçonaria para Maçons, Simpatizantes, Curiosos e Detratores - Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp (21) 99568-1350

abril 15, 2023

O COBRIDOR INTERNO DE CADA UM - Fausto Rodrigues do Valle


Todos os códigos e preceitos morais, estabelecidos em todas as épocas, têm um denominador comum: a separação entre o que é bom e o que é mau. Fazer o que é bom é moralmente correto. O que modifica é o conceito de BEM, variável segundo a cultura e evolução de um povo, em cada época. Variável também sob influências religiosas. Até mesmo a situação geográfica poderá influir no conceito do bem e do mal.

O homem primitivo, o Pithecantropus erectus, provavelmente era dotado de uma consciência rudimentar, não vivendo muito diferente dos outros animais. Mas, através dos milênios, o homem foi adquirindo autoconsciência, tomando conhecimento de si mesmo e do mundo à sua volta. Através da autoconsciência, o homem cria possibilidades de níveis mais altos de integração. Nesse estágio, o homem sabe que sabe e tem a faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados, distanciando-se, deste modo, de outras espécies animais.

À medida que o homem, individualmente ou como raça, evolui, expandindo sua consciência, vai tornando mais complexa sua relação com o mundo e com si mesmo, porque outros fatores tornam-se importantes na estruturação de sua conduta moral. Um exemplo significativo, que me veio agora à mente: a escravidão de seres humanos. Há os relatos bíblicos a respeito desse assunto e, mais próximo de nós, a escravidão humana, oficializada em nosso país, até há bem pouco tempo. Era normal o senhor rico, dono de terras, construtor de igrejas (religioso portanto) ter os seus escravos, a quem tratava como animais, separados em senzalas, sem direitos e sujeitos a castigos inomináveis. Ah, mas havia os senhores bons! Até que ponto eram bons? Porque castigavam menos?

O que eu quero dizer é que, moralmente, era tido como correto ter, entre seus bens, os escravos. Além de tudo, amparado por lei. E ninguém tinha dor de consciência porque, além de legal, os limites das consciências de então eram muito estreitos, pautavam-se por padrões que hoje até nos horrorizam, e são incompreensíveis para nós. Havia as exceções, e entre estas, orgulhosamente, os maçons.

Outro exemplo é a separação de classes, mais evidente nos antigos, não tão antigos, reinados da Europa. A distância entre a plebe e a nobreza, odiosa, era uma coisa “natural”. Como era natural mandar alguém para a fogueira simplesmente por admitir fatos, tidos como heréticos, e que hoje qualquer pessoa admite como se nunca houvesse sido diferente. Mutatis mutandis, hoje é a mesma coisa, com outra roupagem, basta ler os jornais e ver a televisão. As condutas morais em nosso tempo, estribadas na maior parte em leis, estão a exigir outras “revoluções francesas”. Revoluções brancas, sem dúvida, porque de 1.792 até agora, a humanidade evoluiu um pouco e, em vez de paus, porretes, sabres ou baionetas, temos o voto, arma silenciosa porém, de uma eficácia ainda não percebida por todos.

Retomando o fio do raciocínio: à medida que o homem cresce interiormente, tomando consciência dos valores intrínsecos da alma, seus padrões morais também se modificam, tornam-se mais sutis, havendo maior exigência de si mesmo no comportamento moral. Há a influência do meio, da estabilidade social, da religiosidade, da cultura própria de seu país e de muitos outros fatores.

De qualquer maneira que se olhar o padrão moral do homem, ou de um povo, uma coisa é certa: a consciência é o fator principal na crivagem do bem e do mal.

A consciência é o Cobridor Interno. É o guardião permanente de nossa conduta. A todo momento, em nosso dia-a-dia, nos relacionamentos profissionais ou familiares, a nossa consciência é abordada no sentido de responder às questões que surgem. É ela quem nos diz: isso é bom ou isso é mau. Por isso, é preciso reflexão antes de tomarmos decisões, na base do sim ou do não. Uma conduta impensada, uma frase inoportuna e mal colocada, poderão trazer-nos dissabores o resto da vida, porque agimos contra a consciência, que não teria sido ouvida devidamente.

Tomemos tento, portanto, em nosso guardião interno. Falar e agir, segundo seus ditames. Se ele nos diz “não faça isso”, não façamos.

De um modo geral, o que não gostaríamos que nos fizessem não devemos fazer a outrem. Agindo assim, teremos um bom caminho andado para vivermos felizes e cheios de amigos, não sendo necessário abandonar nossos princípios e nem pactuar com atos indignos ou incorretos.

Num homem pouco evoluído, no entanto, esses limites de consciência não tem a mesma dimensão da de um homem com mais madureza
 de alma e, assim, o mal praticado por alguns, não teria para os seus praticantes o mesmo nível moral. Praticam o mal sem se aperceberem do desvio moral em que estão incorrendo. É necessário apenas um pouco de atenção para percebermos isto em nossos relacionamentos, imediatos ou não. (Um exemplo recente é o do deputado “pianista”, no Congresso. Para muitos de seus pares, e para ele próprio, um deslize pequeno não significa ser desonesto. . . questão de ponto de vista).

Em nossos Templos, e fora deles, temos um campo imenso para exercitar a consciência – e expandi-la. No silêncio de nosso Templo Interior, abriga-se a alma, com os atributos que lhe foram dados pelo Grande Arquiteto do Universo, Deus.

Quando tivermos consciência de todo o nosso potencial espiritual, estaremos prontos para sermos maçons em plenitude.


Fausto Rodrigues do Valle. Loja Maçônica Francis Bacon, 2610 Goiânia – GO


A DÁDIVA DA VIDA - Heitor Rodrigues Freire



Deus, ao nos criar, nos concedeu a oportunidade de contribuir com nossa consciência, inteligência, trabalho para participarmos da Sua obra, concorrendo com a nossa parte no conjunto cósmico que rege todo o universo. A vida é o bem mais precioso que Deus nos concedeu. Essa dádiva não se esgota no tempo e no espaço. Pelo contrário, é ad aeternum, para toda a eternidade, e é também, a mais clara demonstração do amor que Ele tem por todas as suas criaturas, pois somos todos irmãos. Ninguém é melhor do que o outro. Todos temos a mesma oportunidade.

A dádiva da vida não se manifesta por acaso. Ao nos dar a vida, Ele também nos conferiu a individualidade que caracteriza o nosso ser por toda a eternidade. Para isso, é indispensável alcançar a dimensão da eternidade.

Ao entender essa condição única, cada um de nós dentro da sua idiossincrasia deve manifestar a mais profunda gratidão por esse fato. Somos únicos. A nossa existência se realiza por fases, em que nascemos e renascemos infinitamente por meio de sucessivas  encarnações. As dificuldades, os obstáculos, os problemas e as intempéries servem para forjar o nosso caráter.

Todos somos destinados a morrer. Uns mais cedo, outros mais tarde. Alguns de uma maneira, outros de outra. A morte não significa o fim, é apenas um meio e como ela atinge a todos e a tudo, é a demonstração mais evidente da igualdade. É a forma de mudarmos de status, de encarnados para não encarnados. Mas sempre vivos. Porque a vida não se restringe ao tempo em que vivemos neste belo planeta azul. Quando se compreende isso, ocorre uma sensação de leveza, paz, alegria, entendimento e libertação.

Em geral, a humanidade não se dá conta disso. E esse desconhecimento acaba gerando muitas disputas nas quais o ser humano se vê envolvido desde o princípio. Na realidade, somos parte do mesmo corpo cósmico universal. Tudo o que acontece em qualquer lugar influencia o restante.

Inicialmente nós não havíamos recebido, um manual com as informações de uso para orientarmos nossa vida, até que Jesus, nosso Mestre Maior, com muita propriedade deixou um legado maravilhoso, orientador, para irmos aprendendo, praticando o amor e evoluindo na senda do progresso. Na realidade, Ele mostrou que todos temos em nossos corações toda a orientação necessária para isso. Temos que saber buscar. Entendo que três características são indispensáveis: a fé, a esperança e o amor.

Deus nos dotou, a todos, de um atributo intrínseco, infinito e eterno: a fé. A fé não pode ser confundida com crença. Fé é fidelidade, que é uma característica do comportamento humano. A fé liberta, a crença fixa, prende, escraviza. Outro atributo da fé é que ela é pessoal, individual. A fé revitaliza o ser humano.

A esperança é a forma motriz da fé. 

O amor se distingue pela integridade neste mundo em que as atitudes são permeadas pelo interesse, em que tudo o que se faz é em função do imediatismo. A integridade é um produto escasso, e requer consciência plena do compromisso assumido com Deus.

A fé, a esperança e o amor acabam ensejando outros princípios que, naturalmente, se inserem na vida das pessoas, como a gratidão, a alegria de viver e a determinação na busca da realização dos objetivos, criando uma atitude positiva, escolhendo pensamentos e sentimentos que serão úteis à transformação de cada um.

Assim, esse conjunto de atributos, quando atuam sob a égide da consciência, constituem os elos que nos conduzirão à evolução contínua, tudo sintetizado na dádiva da vida.


abril 14, 2023

C O N S T A T A Ç Ã O - Newton Agrella



Maçonaria não é e nunca foi Religião.

Maçonaria é uma instituição Filosófica de caráter iniciático, espiritual, esotérico e evolucionista.

Por uma questão de circunstâncias culturais e intelectuais há um contingente significativo de Iniciados na Sublime Ordem que "acham" que a Maçonaria seja uma instituição religiosa.

Lembrando que a Maçonaria não oferece qualquer tipo de salvação, não possui propriedades divinais ou reveladoras, nela não se ora, não se reza, não se presta qualquer tipo de veneração ou idolatria e tampouco se cultuam imagens.

A Maçonaria obedece um critério Especulativo em que o Homem, busca através da Liberdade de Pensamento, do Raciocínio e do acúmulo de Experiências, o Conhecimento para seu aprimoramento humano.

O Maçom trabalha seu Templo Interior buscando seu aperfeiçoamento espiritual, anímico, hominal e sobretudo o da "Consciência Humana".

Tudo isso contudo, não impede que o Maçom professe uma religião, creia num Ser Superior, exerça sua Fé, conforte sua alma de modo que lhe traga uma paz espiritual.

Porém, rezar, orar, pedir, implorar, venerar e idolatrar são ações e atitudes atinentes ao mundo das Religiões, Crenças e Seitas, cujas bases se assentam sobre fundamentos "dogmáticos" - que de algum modo - atendem às necessidades de cada grupo social ou de cada indivíduo.

Pode-se perfeitamente praticar a Maçonaria como uma entidade filosófica que se ocupa de entender, estudar e especular a relação humana com o universo.

Do mesmo modo, pode-se seguir toda e qualquer Religião de forma a exercer a Fé como um instrumento amortecedor das angústias, sofrimentos e vicissitudes a que o ser humano se submete ao longo da vida.

Porém são coisas absolutamente "distintas".

O fato da Maçonaria, dentre seus princípios filosóficos e dialéticos, preceituar que para ser aceito na Ordem, faz-se necessário admitir e aceitar um "Princípio Criador e Incriado do Universo", é por si só uma questão de inteligência como referência para explicar a nossa própria Existência e constitui-se numa condição para que se possa viver esta experiência.



TERCEIRA VIAGEM: A PROVA DO FOGO - Almir Sant’Anna Cruz



    O Fogo é o mais sutil, ativo e puro dos quatro elementos. Para os antigos, era considerado o princípio ativo, germe e origem da geração, fonte de energia, princípio animador e masculino, em oposição à Água. Para os hermetistas, representava as qualidades quente e seca, análogas ao verão, ao meio-dia, à cor vermelha e à inteligência brilhante. Na Maçonaria, o elemento Fogo é emblema da purificação iniciática, do fervor, do zelo e da Verdade.

    O fogo foi adorado e considerado sagrado por inúmeros povos, seja como símbolo de vida ou da força animadora, seja diretamente como fogo aceso, seja como Sol, ou ainda como a própria divindade.

    Na liturgia da Igreja Católica, o fogo novo simboliza Cristo, a Luz do Mundo, na cerimônia da Vigília Pascal, onde, no vestíbulo ou fora da Igreja, obtido pelo atrito de pedras, o novo fogo vai iluminar todo o templo. Esta cerimônia lembra a figura de Cristo ressuscitado, pelo que se acende o Círio Pascal até o dia da Ascensão.

    Na Bíblia, no Antigo ou no Novo Testamento, a palavra fogo é usada, tanto no sentido literal quanto no figurado, com inúmeros significados e em diversos contextos, todos de denso sentido simbólico. Recolhemos alguns deles:

    1 - O fogo do inferno, que queima, no sentido figurado, tanto a alma, que é espiritual, quanto o corpo, que é material, sem consumi-los. 

    2 - O fogo como símbolo da providência divina:

    Êxodo 13:21: E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite.

    Salmos 78:14: De dia os guiou com uma nuvem, e toda a noite com um clarão de fogo.

    3 - O fogo testando as virtudes:

    Zacarias 13:9: E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro: ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo, e ele dirá: O Senhor é meu Deus.

    I Coríntios 3:13: A obra de cada um se manifestará: na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.

    4 - O fogo simbolizando a purificação moral e espiritual:

    Malaquias 3:2: Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem substituirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros.

    5 - O fogo como manifestação de Deus:

    Gênesis 15:17: E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumo, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades.

    Êxodo 3:2-4: E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia em fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés .

    6 - O fogo associado ao Espírito Santo:

    Atos 2:3-4: E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

    7 - O fogo associado ao Espírito Santo e a um batismo superior ao da água:

    Mateus 3:11: E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.

    Lucas 3:16: Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

    Portanto, embora todas as religiões cristãs utilizem a Água para as suas cerimônias de iniciação, batismo e purificação, seu próprio Livro Sagrado, a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, indica que existe um batismo superior, pelo Espírito Santo e pelo Fogo.

    Na terceira viagem o recipiendário é conduzido por um dos Expertos por um caminho sem qualquer obstáculo e totalmente silencioso, pedindo passagem ao chegar ao altar do Venerável Mestre.

    Para a Escola Oculta, o completo silêncio da terceira viagem representa a parte superior do mundo astral, contígua ao mundo celeste. Leadbeater in A Vida Oculta na Maçonaria, assim se expressa: Atrás de si ficou o mundo inferior; diante dele estão as alegrias do céu, e no espaço intermediário reina o silêncio.

    Ao chegar ao altar do Venerável Mestre, será purificado pelo elemento Fogo, última purificação simbólica. Com a purificação pelo Fogo, o recipiendário chega, enfim, à Iniciação pura, à purificação superior, livrando-se das nódoas dos vícios do mundo inferior.

        

Do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber* do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

abril 13, 2023

A CARA DA LIBERDADE




" Como a viúva do criador da máquina de costura Singer deu a sua cara à Estátua da Liberdade!''

Isabella Boye nasceu em Paris, na família de um pai confeiteiro africano e de uma mãe inglesa . Logo ficou claro que a natureza presenteou Isabella com uma beleza especial e mesmo muito jovem ela se tornou modelo. 

Aos 20 anos, casou-se com o fabricante de máquinas de costura Isaac Singer, de 50 anos, e após a sua morte tornou-se a mulher mais rica do país. 

Depois de ficar viúva, ela se casou novamente com o violinista holandês Victor Robstett, que é uma celebridade mundial e um conde, então Isabella também se tornou uma condessa.

Numa festa conheceu o famoso escultor francês Frederick Bartoldi. Nessa época Bartoldi e já havia aceitado a oferta de criar uma estátua simbolizando a independência dos Unidos. 

A escultura seria um presente da França para assinalar o 100° aniversário da independência do país. Assim, nasceu a ideia de uma estátua gigante retratando uma mulher segurando uma tocha numa mão e escalopes na outra, com a data de adoção da Declaração de Independência dos Estados Unidos. 

Bartoldi ficou tão impressionado com o rosto da Isabella que decidiu usá-la como modelo para a sua escultura. Como resultado, na Ilha Bedlow, na Baía de Nova Iorque, a Estátua da Liberdade foi erguida com a figura de uma deusa antiga, mas com o rosto de Isabella Boye - Singer. 

Isabela se casa pela terceira vez, aos 50 anos, com Paul Sohej, um famoso colecionador de obras de arte. Viveu até 62 anos e morreu em 1904 em Paris."



A MAÇONARIA E A ESTÁTUA DA LIBERDADE




A vitória do Movimento Revolucionário de 1776, que deu origem à República dos Estados Unidos da América, foi também uma vitória da Maçonaria, pois os ideais maçónicos de Liberdade e Igualdade foram os alicerces para a construção do novo país.

A recém-nascida nação foi uma espécie de laboratório para a construção da primeira sociedade democrática do mundo, onde se organizou um governo que “em certo sentido, nascia de baixo para cima”.

 Dois maçons notáveis contribuíram para declaração de Independência dos Estados Unidos da América: George Washington e Benjamin Franklin.

Benjamin Franklin ao lado de Thomas Jefferson atuou como um dos principais articuladores do ideário republicano, alicerçado no “pensamento Iluminista de Locke, Hobbes, Rousseau e Montesquieu e sorvido pelo próprio Benjamin Franklin nas Lojas e na literatura maçónica que conheceu”.

A declaração de Independência dos Estados Unidos, elaborada por Thomas Jefferson, é o melhor exemplo do pensamento Iluminista de Locke, Hobbes e Montesquieu tornado práxis na edificação da nova sociedade.

 Este importante documento exalta os valores eternos de Liberdade e Igualdade, que são fins supremos da Maçonaria.

 A Estátua da Liberdade (cujo nome oficial é A Liberdade Iluminando o Mundo)que é uma síntese destes ideais foi construída por um Maçom e inaugurada numa cerimónia maçónica.

O historiador e Maçom francês Edouard de Laboulaye foi quem primeiro propôs a ideia do presente, e o povo francês arrecadou os fundos para que, em 1875, a equipe do escultor Bartholdi começasse a trabalhar na estátua colossal. 

O construtor da estátua da liberdade foi o Maçom Frederic-Auguste Bartholdi.

Voltando a França, com a ajuda de uma campanha de nível nacional feita pela maçonaria, encabeçada por Edoard, levantou a quantia de 3.500.000 francos franceses, uma quantia muito grande para a época (1870). 

O projeto sofreu várias demoras porque naquela época não era politicamente conveniente que, na França imperial, se comemorassem as virtudes da ascendente república norte-americana. 

Não obstante, com a queda do Imperador Napoleão III, em 1871, revitalizou-se a ideia de um presente aos Estados Unidos.

Em Julho daquele ano, Bartholdi fez uma viagem aos Estados Unidos e encontrou o que ele julgava ser o local ideal para a futura estátua.

 Uma ilhota na baía de Nova Iorque, posteriormente chamada Ilha da Liberdade (baptizada oficialmente como ilha Liberty em 1956).

 Cheio de entusiasmo, Bartholdi levou avante os seus planos para uma imponente estátua

Tornou-se patente que ele incorporara símbolos da Maçonaria no seu projecto – a tocha, o livro na sua mão esquerda, e o diadema de sete espigões em torno da cabeça, como também a tão evidente inspiração ligada à deusa Sophia, que compõem o monumento como um todo.

 Isto, talvez, não era uma grande surpresa, visto ele ser Maçom.

 Segundo os iluministas, por meio desta foi dado “sabedoria” nos ideais da Revolução Francesa.

O presente monumento foi, portanto, uma lembrança do apoio intelectual dado pelos americanos aos franceses na sua revolução, em 1789.

 Um primeiro modelo da estátua, em escala menor, foi construído em 1870. Esta primeira estátua está agora no Jardin du Luxembourg em Paris.

 Um segundo modelo, também em escala menor, encontra-se no nordeste do Brasil em Maceió.

 Este modelo, feito pelo mesmo escultor e pela mesma fundição da estátua original, está em frente à primeira prefeitura da cidade, construída em 1869, onde hoje é o Museu da Imagem e Som de Alagoas.

A estrutura em que a estátua se apoia foi construída pelo Maçom Gustave Eiffel, o famoso construtor da Torre Eiffel. 

O pedestal sobre o qual se apoiaria a estátua seria construído e financiado pelos americanos..

Esta estátua foi feita de chapas de cobre batido a mão, que foram então unidas sobre uma estrutura de suportes de aço, projetada por Eiffel, com 57 metros de altura, completa, pesando quase 225 toneladas.

São 167 degraus de entrada até o topo do pedestal. Depois são mais 168 degraus até a cabeça. Por fim, outros 54 degraus levam à tocha. 

A coloração verde-azul é causada por reações químicas, o que produziu sais de cobre e criou a atual tonalidade.

 Registos históricos não fazem qualquer menção da fonte de fios de cobre usados na Estátua da Liberdade, mas suspeita-se que sejam provenientes da Noruega. Foi desmontada e enviada para Nova York, onde então foi montada num pedestal projetado pelo arquiteto americano e Maçom Richard Morris Hunt. 

A onda de perseguições na Rússia, aos judeus, que resultaram numa migração em massa para os Estados Unidos, afetou a vida e as ações da poetisa judia americana, Emma Lazarus, de grande renome americano. Mas o que se tornou “o ponto culminante” na vida de Emma foi o seu incansável trabalho de assistência aos milhares de refugiados judeus que perseguidos chegavam famintos.

Emma juntou-se ao trabalho da Maçonaria e a grupos judaicos de assistência e lançou-se em todo o tipo de trabalho.

 Nada era duro ou difícil para ela. Chegou a usar o seu próprio dinheiro para ajudar os emigrantes na sua fase de adaptação.

Trabalhou incessantemente na própria Staten Island, a famigerada ilha, por onde os emigrantes eram obrigados a passar por uma humilhante seleção, que determinava quem poderia entrar em terras americana

As palavras e as ações de Emma Lazarus foram de extrema importância nesta época, servindo de incentivo para que muitos outros se juntassem aos esforços dos comitês de ajuda aos refugiados e com grande relevância da Maçonaria Americana.

O soneto de Emma Lazarus, intitulado “The New Colossus”, com o famoso verso, está inscrito no pedestal.

Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,

As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade

O miserável refugo das suas costas apinhadas.

Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,

Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.”

A estátua foi terminada em França em Julho de 1884 e a chegada no porto de New York, em 17 de Junho de 1885.

 Para se preparar para o trânsito, a estátua foi reduzida a 350 partes individuais e embalada em 214 containers de madeira. (O braço direito e a tocha, que foram terminados mais cedo, tinham sido exibidos na exposição Centennial em Filadélfia em1876, e depois disso no quadrado de Madison em New York City.) a estátua foi remontada no seu suporte novo num tempo de quatro meses.

Para tal, o navio Bay Ridge, levou para a ilha de Bedloy, onde hoje está erguida a estátua.

 Cerca de 100 maçons, onde o principal arquiteto do pedestal, o Maçom Richard M. Hunt, entregou as ferramentas de trabalho aos maçons construtores. 

A pedra fundamental, a primeira pedra, foi então assentada conforme ritualística maçónica própria para estes eventos. 

As peças que iriam compor a estátua chegaram ao porto de New York, em Junho de 1885; foram montadas sobre a estrutura construída por Gustave Eiffel.

A estátua foi inaugurada em 28 de Outubro de 1886. 

O presidente Grover Cleveland presidiu à cerimónia em 28 de Outubro de 1886 e o Maçom Bispo Episcopal de New York fez a invocação.

 O Maçom Bartholdi retirou a bandeira francesa do resto da estátua. 

O principal orador da cerimónia foi o Maçom Chaucey M. Depew, senador dos Estados Unidos.



obs: Emma Lazarus era descendente dos maçons brasileiros que saíram de Recife para a Nova Amsterdam que depois foi chamada de Nova York.