E DÁ-LHE MIMIMI - Newton Agrella

 


Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Um dos mais destacados intelectuais maçônicos do pais.

Impressiona como tudo hoje em dia é mimimi.

A sensibilidade humana anda mais doída e aguda que a reles picada de uma agulha.

Nada pode ser dito, sem que um prévio patrulhamento se mostre alerta, esteja vigilante e atento, tal qual a porta giratória de uma agência bancária.

A troca de informações ou a simples ovservação por alguma atitude desavisada, a utilização de algum vocábulo que enseje interpretação dúbia, ou até mesmo uma leve brincadeira,  podem assumir consequências inesperadas, atingindo proporções que beiram o fim do mundo.

Escrever então, tem sido um ofício mais que desafiador.  

Seja em prosa ou versos, as palavras tem que percorrer um caminho cheio de cuidados, enfrentando  curvas, aclives e declives, de forma que jamais colidam com eventuais pensamentos ou conceitos que divirjam de quem compartilha da leitura.

Instaurou-se uma espécie de tribunal de juizos seletivos, de sorte que o texto tenha que se submeter a um crivo de censura preventiva, para saber se vai causar algum malefício ou não.

Interessante que esse arcabouço de precauções se manifesta em praticamente todas as esferas da sociedade. 

Seja na mídia, nos canais de comunicação, nos grupos de WhatsApp, e até mesmo numa roda entre amigos ou familiares. 

O fenômeno é recorrente. 

O mimimi, é o sinal do tempo, o refém e o algoz da comunicação. Tornou-se o delimitador das ideias  pois sabe-se lá qual será a reação do interlocutor.

De qualquer modo, é vida que segue, e com ou sem mimimi, a liberdade de expressão e de pensamento deve permanecer assegurada, como o exercício democrático da vida.


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