junho 09, 2025

UMA FLOR, SIMBOLO DE LIBERDADE - Hamilton Ferreira Sampaio Júnior


Um dos maiores símbolos da abolição da escravatura no Brasil foi uma flor.  Na segunda metade do século XIX, a camélia era rara no Brasil, assim como a liberdade dos escravizados. A Princesa Isabel ousou, diversas vezes, aparecer em público com uma camélia adornando sua roupa, fato sempre notado pelos jornais. Essas flores subversivas tornaram-se o símbolo da causa abolicionista. A pessoa que usava uma camélia na lapela ou a cultivava no jardim de sua casa demonstrava sua fé abolicionista. Essa flor servia como uma espécie de código de identificação entre os abolicionistas, especialmente quando envolvidos em ações mais perigosas ou ilegais, como auxiliar fugas ou providenciar esconderijos para os fugitivos. Um escravizado podia identificar imediatamente possíveis aliados pelo uso de uma dessas flores na lapela, próxima ao coração.

Naquele período, usar uma camélia na lapela ou tê-la em seu jardim era uma evidente confissão de fé abolicionista. Alguns pés de camélias remanescentes desse tempo simbólico ainda podem ser encontrados em jardins, como na Casa de Rui Barbosa, membro atuante do movimento abolicionista. Essas flores são documentos vivos e, em algumas épocas do ano, quando floridas, narram um triste capítulo da história do Brasil.

No ano de 1888, no auge da campanha abolicionista, a Princesa Isabel organizou uma festa inspirada em comemorações francesas, a “Batalha das Flores”, cujo objetivo era mobilizar a alta sociedade de Petrópolis para arrecadar fundos para a Confederação Abolicionista. Em fevereiro, a princesa, seu marido, o Conde d’Eu, seus filhos e amigos percorreram a cidade em uma carruagem ornamentada com camélias. Recolhiam doações e retribuíam com flores. No dia 13 de maio de 1888, no momento em que a Princesa Isabel assinava a Lei Áurea, foram-lhe entregues dois buquês de camélias: um artificial, oferecido pela diretoria da Confederação em nome do movimento vitorioso, e outro, de flores naturais, vindas da população, que Rui Barbosa definiu como “a mais mimosa das oferendas populares”.

Com o passar dos anos, a história da camélia branca como símbolo abolicionista foi resgatada por historiadores e pesquisadores, que identificaram sua importância na mobilização de diversos segmentos da sociedade em prol da liberdade. Em algumas regiões do Brasil, ainda há referências a essa simbologia, seja em nomes de ruas, eventos culturais ou até mesmo no cultivo da flor em espaços históricos.

Atualmente, a camélia branca continua sendo um símbolo de resistência e memória, relembrando o valor da luta abolicionista e a importância de reconhecer as contribuições daqueles que, anonimamente ou publicamente, trabalharam pela liberdade. Nos dias de hoje, sua imagem ainda é utilizada em manifestações culturais e educacionais, reforçando a necessidade de valorizar e preservar a história da abolição no Brasil.

Referências:

ALONSO, Ângela. Triangulo negro da abolição.

DEMONER, Sônia Maria. História da Polícia Militar do Espírito Santo 1835 – 1985.

MORSE, Richard. Formação Histórica de São Paulo. São Paulo: Difel, 1970, p. 108.

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Bras. Porto Alegre





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