junho 13, 2025

AS SETE ARTES E CIÊNCIAS LIBERAIS - Jeffson Magnavita Barbosa Filho


As “Sete Ciências Liberais” da Antiguidade e sua significação Maçônica e, a Reminiscência Monástica Introduzida na Maçonaria.

Na Maçonaria se mencionam muito as sete ciências liberais da antiguidade: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Os pedreiros-livres medievais enalteciam essas artes, nos seus regulamentos, envolvendo-as de lendas “secretas”. Numa época de menor divulgação da cultura, anterior à deste século, os maçons, ingenuamente, acreditavam também que essa arcaica seriação de ciências e artes fosse um mistério incomunicável a profanos, quer porque tivesse relação com o número sete, quer porque, de acordo com a opinião de “entendidos”, podiam representar os degraus que levam o maçom até o trono do Oriente, desde a Grade, como também poderiam ser o significado de certas escadas simbólicas.


A verdade é que as “sete ciências” ou “ artes” eram tudo quanto conheciam os antigos, ainda que os gregos se tivessem referido à física, à filosofia (Pitágoras) e a química fosse desconhecida, pois era praticada já no antigo Egito.


Ocorreu que Boécio (470-525), poeta e filosofo, secretário de Estado ou ministro do monarca ostrogodo Teodorico e, por ordem deste rei, condenado e decapitado, criou a divisão “trivium et quadrivium”, estabelecendo a seriação pela qual as três primeiras ciências deveriam ser a Gramática, a Retórica e a Lógica, e as quatro restantes a Aritmética, a Geometria, a Música e a Astronomia.


Boécio foi autor da “Consolação da Filosofia”, na qual ensinava a vencer as paixões, para conquistar a paz de espírito, a felicidade e a comunhão com Deus. Seu contemporâneo, o macróbio Cassiodoro (468-561 ou mais), depois de ser ministro de Teodorico, retirou-se para um convento que resolvera fundar numa sua propriedade da Apúlia, na Itália, e ordenou aos monges que passassem a copiar os manuscritos antigos e a estudar e praticar as “sete artes liberais”.


Essa prática passou a ser seguida pelos beneditinos, monges da Ordem de São Bento, fundada em 529, em Monte Cassino, cujo célebre mosteiro viria a ser destruído pelos lombardos, em 580.


Os beneditinos foram os principais divulgadores da cultura na Europa medieval. Dedicavam-se ao arroteamento de terras e a vários ofícios e, ao mesmo tempo, entregavam-se aos estudos e à religião. Construíam seus próprios conventos e assim a constituir a Maçonaria monástica (ver nota, mais adiante).


Quando passaram, em parte, a dedicar-se às construções, os beneditinos disseminaram a arte romântica. Depois criaram a própria arte beneditina. Congregando como irmãos (“frates”), nas oficinas que dirigiam os profissionais leigos da arte da construção, chegaram a monopolizar a edificação até o advento da arquitetura gótica, preferida para as catedrais.


A Ordem beneditina criou outras corporações monásticas.


Em 910, beneditinos dispostos a recuperar a severidade monástica, então em decadência, fundaram a célebre abadia de Cluny.


E, 1098 foi fundada a Ordem de Cister, no retiro de Dijon, perto de Citeaux, na França. Entre os monges cistercienses haveriam de surgir operosos construtores e seguidores do exemplo dos beneditinos, seus antecessores e fundadores. Ainda hoje há exemplos de monastérios construídos pelos atuais cistercienses, entre os quais há o Irmão Arquiteto.


Porém, os artistas leigos da construção, seguidores de uma profissão nobre e de velhíssima origem, não ficariam muito tempo sob a total dependência dos monásticos.


Entretanto, quando passaram a construir a Maçonaria-Livre, os profissionais da construção, católicos de religião, haveriam de conservar vários ensinamentos monásticos. Desse modo, as sete artes liberais continuaram a figurar nos seus códigos e regulamentos. Quanto às sete artes, a Maçonaria atual conserva o simbolismo moral e disciplinar que a elas emprestavam os obreiros medievais.


A Gramática, sistematização dos fatos da linguagem, a Retórica, arte da boa expressão e norma de eloquência, e a Lógica, ciência do método, ou da investigação da Verdade, ensinam que o maçom deve aperfeiçoar-se no falar e escrever, manifestar-se de maneira clara e dizer sempre a Verdade. Em suma, o maçom deve falar pouco e dizer muito.


A Aritmética, ciência das propriedades dos números e a Geometria, medida da extensão, ensinam ao maçom o dever de contar e medir as próprias ações e palavras. Essa regra se aplica principalmente àqueles obreiros que comparecem às Lojas para mostrar os seus dotes oratórios e cansarem a assistência com os seus discursos carregados de rançoso lirismo. Entre esses maçons há aqueles que se entregam a dar conselhos que ninguém pede e a recomendar aos aprendizes o dever de frequentar as sessões. A Maçonaria não é qualquer instituição acaciana e, muito menos, uma ordem que precisa mendigar o comparecimento de seus obreiros.


A Música lembra, em primeiro lugar, a harmonia que deve reinar entre os obreiros e os acordes de consonância. Lembra, mais, que o som afinado corresponde a uma frequência exata ou número certo de vibrações por segundo.


A Astronomia demonstra, antes de tudo, a perfeição da obra do Grande Arquiteto do Universo. Ensina, mais, o movimento aparente dos astros, a rotação e a translação da Terra, a lei da atração universal (Newton) e tudo quanto mais a ciência dos astros possa proporcionar ao simbolismo e ensinamentos maçônicos.


Nota – Fundação da Ordem de São Bento.


Fundada por São Bento, em 529, a Ordem Beneditina teve por berço o afamado mosteiro de Monte Cassino, na Itália. A própria Ordem construiu o mosteiro que em 580 viria a ser destruído, pela primeira vez, pelos lombardos.


A cultura medieval é, de um modo geral, privativa das ordens monásticas, principalmente a dos beneditinos, havidos como os “únicos eruditos” da Idade Média. Os beneditinos mais versados sempre se distinguiram nas letras e nas ciências e depois nas artes, inclusive a de construir. Os demais se dedicavam ao arroteamento de terras e ao plantio.


Foram os beneditinos que transcreveram, traduziram e interpretaram as obras gregas e romanas, bem como escritos e documentos do Oriente. Disseminaram a cultura medieval europeia e serviram de exemplo a outras ordens religiosas que surgiriam posteriormente. Encarregaram-se da missão de converter “pagãos” por toda a Europa. Na arte de construção, passaram a monopolizar e a dirigir a maçonaria operativa. Começaram pelo estilo românico. Depois implantaram na arquitetura as próprias características beneditinas e, mais tarde, também se dedicaram à Arquitetura Gótica. Associados aos pedreiros e canteiros fundaram autênticas organizações fraternais, as quais, por ordenamentos, costumes e certas cerimônias, seriam uma espécie primitiva de Lojas maçônicas.


Foi em 597 que os beneditinos se dirigiram à Inglaterra, (chamada Ilha dos Santos) e fundaram a abadia (não a catedral gótica) de Cantuária (Canterbury). No século VII, espalhando-se pela Alemanha, fundaram a abadias de Ettenheim, Lauresheim, Prüm, Monse, Hirschfeld, Fulda e outras. Da Alemanha passaram à Dinamarca, depois à França, pátria do estilo gótico e, enfim a quase toda Europa.


OS CISTERCIENSE – A Ordem de Cister, instituída, em 1098, foi fundada pelo abade De Molésme, no retiro de Citeaux, perto de Dijon, França. A princípio os cistercienses, como os beneditinos, seus inspiradores, se dedicaram ao ensino gratuito e à agricultura. Posteriormente, por seus mestres e arquitetos, passaram a erigir grandes catedrais e grandes construções, seguindo o exemplo dos beneditinos, seus mestres e fundadores.


AS CATEDRAIS – Na Idade Média a catedral não era uma simples sede religiosa ou uma igreja comum. Era realmente o centro das comunicações. Quase sempre abrangia uma escola gratuita, biblioteca e até uma sede de câmara municipal. O povo contribuía para a construção de grandes igrejas e havia, entre os habitantes de várias cidades, a emulação no sentido de construir catedrais maiores, mais altas e mais imponentes do que as outras.


Nota ao Aprendiz – Na Maçonaria atual ainda se preconiza o exemplo das antigas catedrais. Recomenda-se às Lojas para que se esforcem no sentido de se tornarem o centro social de todos os assuntos de seu “Oriente”.


USOS, COSTUMES, TRADIÇÕES E ANTIGAS OBRIGAÇÕES DA MAÇONARIA MEDIEVAL RELEMBRADOS NA MAÇONARIA ATUAL.


Entre os maçons medievais, o segredo era norma respeitada e sujeita à juramentos sobre a Bíblia ou os Evangelhos. O mesmo se dava com a promessa de não revelar a estranhos os sinais, toques e palavras de reconhecimento mútuo entre os companheiros. O compromisso envolvia a obrigação de cumprir os regulamentos, as tradições e as regras de fraternidade exigidas pela agremiação.


Quando as corporações medievais chegaram a adquirir maior importância política e econômica, até as representações teatrais passaram aos seus domínios. Os dramas da época, as antigas peças gregas, por vezes mal traduzidas, outras deturpadas, eram representadas para os associados. Os temas referentes a cada profissão eram enaltecidos ao gosto dos congregados e assistentes levados ao sentido épico. Até os antigos “mistérios” eram declamados ou encenados, ao lado das narrativas e passagens de religião.


Cada corporação tinha o seu santo padroeiro e protetor. Os maçons operativos veneravam São João Batista, ou este santo e João Evangelista, aos quais dedicavam reuniões e festas especiais. Os obreiros de Estrasburgo se chamavam Irmãos de S. João.


Nota ao Aprendiz – A Maçonaria operativa ignorava a existência de São João de Jerusalém, ou S. João Esmoler ou Hospitaleiro, lendária figura de príncipe, filho do rei de Chipre, no tempo das Cruzadas. Conta-se que ele teria renunciado aos seus direitos de herdeiro do trono, com o propósito de se dedicar à caridade, socorrer guerreiros e peregrinos. Teria fundado também um hospício.


A figura desse lendário santo foi levada à Maçonaria especulativa por maçons que quiseram impor a ideia de que a Sublime Instituição seria originária dos Cruzados. O Barão de Tschoudy viria a adotar S. João de Jerusalém, no seu Rito Adoniramita. Outros maçons passaram a identificar S. João Hospitaleiro com S. João d’Escócia, figura que jamais existiu, embora seja sempre referida em rituais do escocismo, por diversas conjeturas.


Maçons do passado, magoados com os insultos e perseguições clericais, principalmente partidas dos jesuítas, repeliam a norma de se admitir João, o Batista, como padroeiro da Sublime Instituição. A verdade é que estavam a repelir a realidade histórica e uma tradição haurida dos antigos Pedreiros-Livres e Canteiros.


Essa represália pouco adiantou. João, o Batista, continua sendo o padroeiro, com o seu par tradicional, que é João Evangelista. E em toda parte do mundo o dia 24 de junho é uma data maçônica e o verdadeiro dia da Instituição.


A Maçonaria operativa medieval possuía também os Quatro Coroados, santos da profissão, os quais eram Severo, Severiano, Carpóforo e Vitorino. Contava-se que esses quatro santos teriam sido mortos a vergastadas, por ordem de Diocleciano, eis que se teriam recusado a esculpir imagens destinadas à adoração pagã. A Igreja chegou a confundi-los com outros cinco mártires – Cláudio, Castor, Sinforiano, Simplício e Nicostrato, artistas que teriam repelido a imposição do mesmo imperador, que encomendara a imagem de um ídolo. Os cinco artífices, por esse motivo, teriam sido condenados e asfixiados dentro de um barril carregado de material pesado e atirados ao mar (ano de 237).


Outras lendas de enaltecimento da profissão eram contadas pelos maçons medievais e havidas como patrimônio da corporação.


Como ensina a psicologia social, todo agrupamento humano definido tende a ser enaltecido por seus próprios componentes. Os maçons medievais, naquela época, pouco esclarecidos, não fugiram à regra. Acreditavam que a Maçonaria vinha dos tempos de Adão e que este havia ensinado a Geometria a seus filhos. Mal fundados em vários textos da Bíblia e maus conhecedores da história, fantasiavam uma complicada narrativa da profissão, envolvendo reis, patriarcas, sábios, filósofos e geômetras. Desse modo, chamavam de “maçons” a Abraão, a Nemrod, o rei caçador, a Nabucodonosor, a Pitágoras (“Peter Gower”, como diziam – http://www.masonicdictionary.com/pythagoras.html ), a Euclides e outros. Até as épocas das narrativas eram desencontradas.


Nota ao Aprendiz – Ainda hoje há irmãos maçons que costumam sustentar mitos semelhantes, pretendendo levar a origem da Maçonaria a tempos imemoriais. Outros procuram convencer que toda e qualquer personalidade ilustre seja ou tenha sido maçom.


Já no século passado, os estudos de Findel e outros abalaram todos os mitos pelos quais a Maçonaria seria originária do Egito, da Grécia, do Templo de Salomão, dos Essênios, dos cretenses e de outras fontes “antiguíssimas”. A maioria dos Corpos Maçônicos deste século já não admite as supostas “derivações” da Maçonaria, muitas delas engendradas pelos “maçons aceitos” de quando iniciou a Maçonaria especulativa.


Por esse motivo, e também por apresentarem como “segredos” muitas lições vulgares da história da filosofia, muitas instruções anexas a rituais foram abolidas. A regra a cumprir, para com os maçons iludidos ou mitômanos, é a tolerância, mas sem prejuízo do constante esclarecimento.


A par de tais lendas que liam para os recipiendários, os maçons operativos mantinham seus regulamentos profissionais e tradições.


As “obrigações” (“old charges”) deviam ser integralmente respeitadas, bem como os preceitos da ética do oficio. Várias dessas obrigações se conservaram até na Maçonaria especulativa e se tornaram “landmarks” ou lindeiros. A palavra “landmark” significa limite entre países ou territórios, mas entre os maçons veio a significar marco ou regra instransponível e imutável.


A legitimidade das antigas obrigações foi revelada mediante referências históricas, leis, bulas, papeis, inclusive decretos governamentais e clericais que tinham por escopo perseguir os maçons e proibir as reuniões das Lojas. Além desses recursos da história, havia os antigos “manuscritos”. Vários desses documentos eram reproduções ou cópias de escritos mais antigos. Outros eram realmente falsificados. A “velha Constituição de York, do ano de 925”, outorgada numa Convenção convocada pelo príncipe Edwin, filho do rei Athelstan, não passou de mistificação, que o maçom Findel e outros viriam a desmascarar.


Porém, por esse fato não há que negar os maçons operativos narravam a lenda de Athelstan e seu filho Edwin. Essa lenda consta, por exemplo, do livro conhecido por “Poema Régio”, mas cujo nome verdadeiro e “Hic Incipiunt Constitutiones Artis Geometriae Secundum Euclydem” (aqui principiam as constituições da arte da geometria, de acordo com Euclides, ou Princípios Constitucionais da Arte etc.). James O. Halliwel, 1840, encontrou esse livro, escrito em pergaminho, na Real Biblioteca, do “Brstish Museum”. Atribui-se a obra ao século XV. Trata-se de uma “constituição” à maneira adotada pelas fraternidades e organizações profissionais da época. O poema contém 794 versos, nos quais se constam as lendas da fraternidade de pedreiros, as regras morais da “boa geometria”, os deveres dos companheiros nas suas relações mútuas e para com os senhores e proprietários.


Euclides, “por inspiração de Cristo”, teria ensinado as sete ciências e, certa vez, teria sido contratado para ensinar a Geometria aos jovens da nobreza do Egito. A “arte” se espalharia pelo mundo e teria chegado à Inglaterra (Ilha dos Santos). Certa vez, o rei-arquiteto Athelstan teria promovido uma convenção, na qual se teriam promulgado quinze principais artigos e quinze pontos fundamentais. O documento menciona o martírio dos “Quatro Coroados”, santos conhecidos por essa denominação que, por sua vez, viria a ser um atributo da “arte” (“Ars Quatuor Coronatorum”). Seguem-se as lendas da Torre de Babel, “construída muito depois do dilúvio e, em certa ocasião, dirigida pelo rei Nabucodonosor”. “Os construtores da torre se tornaram tão vaidosos que o Senhor os castigou, enviando-lhes um anjo que lhes confundiu a linguagem”. Consta do documento os significados morais das sete ciências e as regras da fraternidade.


Outro documento relevante, embora de tradução infiel, é o dos regulamentos profissionais da Fraternidade de Pedreiros (talhadores e escultores de pedra) de Estrasburgo. Esses estatutos teriam sido aprovados em Spira, em 1464 e ratificados em Ratisbona cinco anos depois, trata-se de uma verdadeira constituição da Ordem, na qual se consignam as regras de ética profissional, a admissão dos aprendizes, o tempo de aprendizado, o respeito aos planos e aos contratos de obra. Na confraria só podiam ser admitidos homens livres e de boa formação moral e familiar. Era proibido aos mestres confiar trabalhos aos companheiros que viesse amancebado ou passasse “a viver desregradamente com mulheres”, ou fosse jogador a tal ponto que dele se pudesse dizer “que havia apostado as próprias vestes”.


O dever religioso, inclusive os de confessar e comungar, era imposto aos obreiros.


Outro “documento”, a chamada “Carta de Colônia”, atribuída ora aos jesuítas, ora a Frederico de Nassau, não passa de mistificação. Entre os demais documentos citados pelos historiadores maçônicos, podem mencionar-se a lei do Conde de Santo Albano (1663), o manuscrito Harley (1670), existente no Museu Britânico e escrito por Randle Holmes e o “Velho Manuscrito”, assinado por William Bray e escrito por Robert Cleark (1686). Os Estatutos Shaw, da Maçonaria Escocesa, foram publicados no final do século XVI (1598-1599).


Do confronto de todos os documentos e regulamentos e, mais, do que se pode concluir das referências históricas, resulta uma síntese de várias regras que se impunham aos maçons, entre as quais:


I – a de cumprir os mandamentos da Igreja, respeitar os sacramentos e confessar e comungar periodicamente;


II – a de respeitar as leis e as autoridades constituídas e de nunca tomar parte em sedições;


III – a de seguir os preceitos da “moral da boa Geometria”, de modo a viver de acordo com os bons costumes, a não se entregar ao jogo e a outros vícios, a mulheres de vida fácil, ao adultério e ao concubinato;


IV – a de somente admitir nas corporações e confrarias candidatos livres, de boa família (no sentido moral) e de bons costumes e boas referências (“good reports”);


V – a de não se admitirem jamais candidatos portadores de defeitos físicos ou doentes;


VI – a de os obreiros cumprirem os contratos de construção, de modo a contentar os proprietários e senhores, seguindo suas as ordens e condições combinadas e cuidando de terminar e entregar a obra no tempo ajustado;


VII – a de não se admitirem novos companheiros sem a licença do mestre da circunscrição e sem prévia comunicação às lojas da região, mediante a fixação de um pergaminho a uma prancha ou tábua colocada de modo ostensivo;


VIII – a de dar conhecimento à assembleia geral dos fatos que interessavam à fraternidade, inclusive admissões;


IX – a de comparecer periódica ou anualmente à assembleia geral, para tomar conhecimento das resoluções e receber conselhos e instruções sobre a Arte, sobre os salários a serem pagos e sobre a maneira de bem servir aos mestres, aos senhores e aos proprietários;


X – a de eleger mestres entre os companheiros mais experimentados e mais versados na Arte;


XI – a de cumprir as regras de fidelidade e fraternidade entre os companheiros e reservar “troncos” para os necessitados;


Nota – De certos regulamentos se vislumbra que o “tronco” se referia também a honorários pagos na conclusão das obras.


XII – a de os aprendizes serem sujeitos a prestar serviços aos mestres durante um determinado número de anos (na Alemanha se exigiam cinco anos e na Inglaterra sete); e a de os companheiros (aspirantes) praticarem o ofício em várias obras (três, pelo menos) e viajarem, antes de conseguirem a plenitude de seus direitos.


Nota – Referências históricas demonstraram cabalmente que esses prazos não eram iguais em todos os lugares e que a habilidade profissional era levada em consideração, de modo a se encurtarem os “interstícios”. Porém, houve época em que os mestres das diferentes profissões artísticas prolongavam, a seu bel-prazer, o tempo de aprendizado e faziam outras exigências, aproveitando-se da situação privilegiada de que desfrutavam como principais contratantes nas encomendas, e das condições regulamentares para aprovar a concessão, de cartas, licenças ou franquias. Certos regulamentos exigiam que o companheiro, para ser admitido ao trabalho, exibisse ainda a carta de apresentação de mestres e companheiros experimentados.


Por outro lado, revela considerar a tradição universitária que a Maçonaria herdou no que tange ao seu humanismo e à sua filosofia. Os estudantes da Idade-Média também se reuniam em corporações. Pagavam os professores, contratavam os mestres e os despediam. Desse modo é que fundaram as universidades.


Na Itália, na Espanha e no sul da França, as universidades seguiam o padrão de Bolonha. Nessas instituições se ensinavam o “trivium” (Gramática, Retórica ou Dialética e Lógica) e o “quadrivium” (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), mais ou menos na seriação secular instituída por Boécio. Para o estudante conseguir a carta de “mestre” era exigido um curso que durava sete anos ou pouco mais, pois o “trivium” exigia quatro ou cinco anos e o “quadrivium” o tempo restante.


As sete ciências, porém, não tinham o sentido atual. O seu ensinamento era filosófico e humanístico, isto é, mais ou menos como ocorre na Maçonaria.


As sociedades secretas estudantis resultam de tradições das universidades. A Maçonaria, por sua vez, contém muita coisa das tradições das universidades, quer por se inspirar nas práticas dos antigos Pedreiros-Livres, para os quais a Geometria era também uma ciência moral, quer porque os maçons mais versados do passado, e depois os “aceitos”, cuidariam de manter os melhores princípios das corporações, inclusive os das universidades.


Essa conclusão resulta de qualquer livro de história, como, por exemplo o de McNall Burns, 1º vol., Parte 4.


Constituída a Grande Loja Inglesa, em 1717, os seus principais fundadores cuidaram de reunir os velhos regulamentos, as lendas e tradições dos maçons e as antigas “obrigações” (old charges).


Em 1718 Jorge Payne é eleito Grão-Mestre da Grande Loja e manda consolidar os regulamentos, usos e obrigações constantes de velhas cópias. Em 1719 é eleito Grão-Mestre o reverendo João Teófilo Desaguliers, que ao lado de James Anderson, fora um dos principais fundadores da Grande Loja.


George Payne, novamente eleito para o grão-mestrado em 1720, manda completar as compilações iniciadas em 1718. Surgem e se definem, por conseguinte, as Trinta e Nove Regras Gerais (“General Regulations”) condensadas nos conhecidos Regulamentos Gerais. No mesmo ano, por motivos que se ignoram, foram queimados preciosos manuscritos da antiga Maçonaria. O fato foi lamentável, embora existissem velhas cópias nos museus e velhos documentos nas Lojas que ainda não pertenciam à Grande Loja Inglesa.


Nota – Vários maçons autênticos, inclusive os que não eram católicos, atribuíram essa queima de documentos à preocupação de se ocultar a origem clerical da Maçonaria, pois os fundadores da Grande Loja Inglesa eram protestantes, na sua maioria. Não há muito fundamento em tal suposição. No mais, seria impossível ocultar que os Pedreiros-Livres e Canteiros eram católicos e que a primeira fase da Maçonaria operativa medieval pertencia aos monásticos. Isso não quer dizer que a Maçonaria seja uma derivação de Igreja Católica, eis que releva ponderar muito mais as tradições das corporações e fraternidades do que as circunstâncias em que essas organizações vicejaram.


O ilustre maçom autêntico Albert Lantoine, autor de “Lês Societés Secretes actuelles em Europe et en Amérique” (Paris 1940), é um dos que abonam a insinuação.


As Regras gerais viriam a ser aprovadas na data de S. João de 1721. Aos 17 de janeiro de 1723 foi aprovado pela Grande Loja Inglesa o tradicional LIVRO DAS CONSTITUIÇÕES, impropriamente conhecido por Constituição de Anderson, pelo fato de este fundador da Grande Loja haver-se dedicado ao projeto e compilado as velhas lendas, usos, costumes e “antigas obrigações”, tudo acrescido às “Regras Gerais”.


Do confronto histórico resulta que o trabalho de Anderson não foi muito fiel a tudo quanto revelaram as velhas cópias. As lendas do passado, mais ou menos alteradas, se acrescentaram outras, principalmente aquelas inspiradas na Bíblia, como conviria a bons ministros e pastores protestantes.


Contudo, a modificação foi salutar, pois a Bíblia é um dos maiores monumentos morais do mundo.


A chamada Constituição de Anderson se impôs como padrão de qualquer organização maçônica regular, isto é, fundada nos princípios da Maçonaria Universal, da qual a Grande Loja da Inglaterra é a “alma mater”.


Cumpre lembrar que no tempo de Anderson ainda havia uma corrente católica, mais ligada à antiga Maçonaria Escocesa. Essa corrente era também política, pois era partidária dos Stuarts. O Cavaleiro Ramsay pertencia a essa corrente.


Mais tarde se operou a unificação da Maçonaria inglesa.


O atestado mais definido dessa unificação é o tradicional RITO DE YORK, condensado num livro denominado “Landmarks”, Leis Básicas e Cerimônias dos Três Graus Simbólicos da Arte Maçônica, chamada, às vezes, RITO DE IORQUE, por terem compiladas, elaboradas e organizadas por representantes de todas as Lojas consideradas regulares reunidas na cidade de Iorque, na Inglaterra, em 1815, tais como foram aprovadas, confirmadas e sancionadas pela Grande Loja da Inglaterra, em 1815. O ritual também é, chamado de Ritual dos Maçons Antigos, Livres e Aceitos.


Em 1813 já havia ocorrido a formal unificação da Maçonaria inglesa, com a constituição da Grande Loja Unida (27 de dezembro de 1813, data de S. João Evangelista). A união das Grandes Lojas inglesas governadas pelos duques de Kent e de Sussex tinham sido preparadas desde o começo daquele ano. O duque de Kent renunciou ao grão-mestrado, para facilitar a unificação. Assim se consumou a união de “Antigos” e “Modernos”.


Já então a Maçonaria se havia espalhado pelo mundo, com suas Lojas, algumas abraçando regras mistas e outras seguindo ou escolhendo entre regras da Grande Loja da Escócia e as regras da Grande Loja Inglesa.


Surgiram, por sua vez, vários ritos e rituais.


A Grande Loja da Escócia foi fundada aos 15 de outubro de 1736, em Edimburgo.


O Grande Oriente de França foi fundado oficialmente aos 24 de dezembro de 1772, mas a Maçonaria francesa já existia desde muito antes, quer sob a égide da Grande Loja Inglesa, quer de maneira independente. Sabe-se que em 1730 já existia a “Grande Loja Inglesa de França”. Em Paris havia a “Ordem dos Franco-Maçons do reino de França”, fundada aos 27 de dezembro de 1735.


Na Alemanha, as Lojas trabalhavam sob o sistema da Grande Loja da Inglaterra. Em, 1766, um mágico profissional hábil, prestidigitador, artista genial e homem culto de nome Schröder, funda o “Capítulo de Antigos e verdadeiros Franco-Maçons” e, depois, cria o belíssimo rito que tem o seu nome, com os três graus do simbolismo sob o nome de “Rito Retificado de Rosa-Cruz”.


Em suma, a Maçonaria se pratica por vários ritos ou métodos. De um modo geral, esses métodos conduzem o maçom ao mesmo resultado de aperfeiçoamento moral. Como afirmava Pascal, os homens se aperfeiçoam e conquistam a verdade seguindo os ritos.


As Lojas do mundo os congregam em Grandes Orientes ou Grandes Lojas, governadas pelos respectivos Grão-Mestres. Por sua vez, esses Altos Corpos se relacionam como as nações, por meio de troca de representantes, correspondências, tratados de amizade e confirmações de relacionamento mútuo. Não há poder maçônico internacional. As reuniões universais se efetuam por meio de Congressos e Convenções.


O TEMPLO DOUTRINÁRIO DA MAÇONARIA – Dir-se-ia, pois, que o Templo Maçônico foi erguido com o melhor material produzido pela humanidade. Ergueu-se com os alicerces da História. Suas paredes foram levantadas com tijolos e pedras iguais, que representariam a manifestação do espírito humano e o denominador comum de todas as crenças. Todos os componentes do edifício maçônico se entendem ligados com a argamassa da comunhão universal. Enfim, os ornamentos do Templo completariam a síntese de todas as ideias dirigidas para um mundo melhor.


E o melhor paradigma para o Templo Maçônico não podia ser outro que não o Templo de Salomão. A Davi, que manchara as mãos de sangue, não fora concedido erguer o Templo (Crônicas, 28/3), de cuja obra possuía os projetos (Crônicas, 28/11 a 21 e Cap. 29). A tarefa haveria de caber a seu filho Salomão, que apelou para Hirão, rei de Tiro, monarca suserano e aliado a Davi. O rei Hirão enviou a Salomão o artífice, metalista e arquiteto Hirão Abi, filho de uma viúva da tribo de Neftáli (Reis, I, caps. 5, 6 e 7 e Crônicas ou Paralipômenos, caps, 2, 3 e 4).


Observação: No Rito Adoniramita (Adon-Hiramita) é preferido Adonirão e Hirão-Abi (V. I-Reis, 5/14).


Assim, foi edificado o Templo de Jerusalém, com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de metal se ouviram na casa, enquanto a construíam (I, Reis, 6/7). O mesmo se dá com a Loja maçônica dedicada à construção do mundo melhor. O seu trabalho não se ouve lá fora.

Bibliografia:

Ritual do Aprendiz Maçom – Edição de junho/2006.

Curso de Maçonaria Simbólica – (I Tomo) Theobaldo Varoli Filho – Editora – A Gazeta Maçônica

Publicado em 2008 no blogue https://dcr51.blogspot.com/2008/06/as-sete-cincias-liberais.html

DA VIRTUDE, (Virtus in medium est) - Newton Agrella




Um dos princípios dialéticos da Maçonaria se fundamenta na prática da "Virtude". 

Isto se deve ao fato de que a Virtude constitui-se  num atributo moral e intelectual humano na busca pela felicidade.

É relevante destacar que este tema mereceu uma detida análise por parte do filósofo grego Aristóteles

O mesmo incumbiu-se de   demonstrar a distinção  entre virtudes intelectuais e virtudes éticas (ou morais).

Aristóteles entendia que o estado ideal era a "moderação", isto é;  tudo aquilo que residia entre o defeito (carência) e o excesso (exagero).

O pensamento aristotélico discorre que a Virtude Intelectual é aquela que nasce e se desenvolve em razão dos resultados da aprendizagem e da educação. 

Por outro lado, a Virtude Moral constitui-se no resultado do hábito que nos torna capazes de praticar atos justos

Segundo Aristóteles a Virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos.

Por sua vez, ainda no âmbito dialético,  o filósofo grego Platão, afirmava que cada território da alma deve atuar de acordo com a Virtude que lhe corresponde. 

Assim, a ação do homem é determinada.

A Maçonaria Especulativa teve significativas influências das correntes filosóficas da Antiguidade.

Particularmente  a questão sobre esta disposição da alma é abordada, quando no processo de Iniciação Maçônica, e consta no Ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, ao momento em que é perguntado ao Iniciado: 

"...O que entendeis por Virtude ?..."

E após franquear a resposta ao mesmo, o Venerável Mestre esclarece dizendo:

"...É uma disposição da alma que nos induz a praticar o bem..."

Interessante fazer uma viagem no tempo e perceber que quando nos referimos à etimologia de cada palavra, a mesma obedece um processo de construção, circunstância histórica, transformação e adaptação nos seus significados.

Assim por exemplo, em Português o substantivo Virtude advém do Latim  "virtus"  e do radical "VIR", termo associado à Virilidade, Valentia, Coragem - num contexto semântico de gênero masculino - tendo em vista que na Antiguidade, a mulher desempenhava um papel secundário e por conseguinte suas qualidades humanas eram relegadas a um segundo plano.  

Entretanto, com o tempo e a própria evolução humana, o vocábulo ganhou uma amplitude de significados passando a se referir como uma propriedade anímica de reconhecimento pleno e geral atinente a todas as pessoas.

Ainda a título ilustrativo, cabe menção como derivado do substantivo Virtude, os adjetivos "virtuoso ou virtuosa" ; quando se pretende reconhecer e exaltar as  qualidades morais diferenciadas de uma pessoa.

Diante deste esboço e considerando as variadas interpretações pelas diferentes correntes filosóficas, cabe registrar que num âmbito geral, o conceito formal das

Virtudes Humanas são qualidades morais padrão dos seres humanos, intimamente relacionadas à construção da personalidade de cada indivíduo e que sob a égide maçônica ela ganha uma identidade que se sublima com o princípio da Fraternidade.

Conclui-se deste modo, este suscinto episódio sobre uma singela palavra de relevante significado para os compêndios filosóficos e simbólicos da Sublime Ordem.



junho 12, 2025

Dona IRENA WINETZKI, 96 anos, nossa matriarca.


 O blog é meu, então publico o que quiser. O assunto desta vez não é maçonaria, mas sobre a mãe de um veterano maçom, com 44 anos de Ordem.

Esta senhora linda, saudável e muito inteligente é minha mãe, Dona Irena Winetzki, com 96 anos de vida e muitas histórias para contar: da sua infância na propriedade rural na Hungria, do desespero da adolescente no caldeirão fervente da II Grande Guerra; do casamento com um oficial russo em pleno campo de batalha; da hospitalização no hospital da Alemanha ao final da guerra por quase um ano, para recuperar a saúde debilitada; do recomeço da vida em Paris como costureira numa das confecções que estavam criando a alta costura; da mudança para Israel para com o esposo ajudar a construir um país e a vida paupérrima em um barraco no deserto; no nascimento dos filhos naquela terra inóspita; da vinda para o Brasil, onde nesta Pátria abençoada, a órfã da guerra é a matriarca de uma família de 53 pessoas entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos que se espalharam pelo mundo todo, Argentina, Africa do Sul, Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Israel, Panamá, Portugal, e todos lhe prestando a necessária reverência. Detalhe, sabe o nome de todos.

Esta foto foi tirada ontem, dia 11/6 em sua casa e santuário de nossa família em São Paulo.

O CONFLITO DE RELIGIÕES - JoseSR

 


Como pode a Maçonaria, no seu Universalismo e Tolerância, contribuir para o Amor, a Fraternidade e a Paz entre os Homens, no respeito de cada um pelo seu Deus e pelo Deus dos outros?

No mote para esta sessão aparecem algumas noções que, em minha opinião, merecem ser clarificadas e com isso tentarei expressar a minha opinião enquanto Homem de fé Judaica.

O conflito de religiões é na minha perspectiva um falso problema. É certo que a fé é usada como argumento para o conflito, mas a fé não está no centro do problema. Não pelo menos nos tempos que correm.

Os conflitos em nome de Deus, têm sempre como motivo fundamental questões econômicas, sociais, demográficas e políticas. Muito pouco de religião.

No entanto o Marketing é tudo. Quem daria a primeira página a um conflito que não se arvore como em Nome de Deus. Quem conseguiria levar para frente de batalha homens sem os motivar em Nome de Deus.

Difícil aceitar, para nós verdadeiros crentes, que pseudo Crentes manipulem o conceito de Deus para prosseguirem os seus objetivos comezinhos e terrenos.

A segunda noção é “Seu Deus e o Deus dos outros”. Deixando de lado outras fés que não as comumente chamadas Monoteístas, então esta afirmação não faz sentido.

As três religiões do Livro, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, quando se referem a Deus referem-se claramente a UM e Único Deus, o mesmo.

Isto leva-nos a que uma ofensa ao “Deus dos outros” seja uma ofensa ao nosso próprio Deus, pois Ele é Um e Único, pelo que o não respeito do “Deus dos outros” é uma falta de respeito ao “seu Deus”.

A terceira noção presente é a Tolerância. A tolerância tão apregoada pela Maçonaria é em minha opinião, um conceito perigoso.

Perigoso por duas razões essenciais:

Não é paritário; Não é mensurável.

Tolerar alguém, ou algo é uma relação de superioridade para com esse alguém ou esse algo. Numa relação de Tolerância há o Tolerante e o Tolerado, é certo que cada qual pode ser as duas coisas simultaneamente, mas o mais normal é cada um de nós aplicar o conceito de tolerância quando a coisa não correu conforme o esperado.

Não é mensurável, pois não é possível definir até onde se deve ou se pode ser Tolerante. E como dizia Fernando Teixeira “o limite da tolerância é a estupidez“.

Temos então que:

Não havendo Conflito de Religiões mas sim Conflitos por outras causas.

Havendo apenas UM e Único Deus.

Sendo a tolerância um conceito perigoso

O tema aparentemente fica vazio. Mas apenas aparentemente.

No meio de tudo está o Homem.

O Homem é o fator decisivo. Decisivo porque tem a mais poderosa dádiva Divina - O Livre Arbítrio.

O homem tem a possibilidade de Amar ou Odiar, de respeitar ou desrespeitar, de pacificar ou guerrear, de ser fraterno ou inimigo.

O Homem essa criatura perfeita dentro da Imperfeição.

É com os homens que teremos que resolver as nossas diferenças, e com eles que teremos que avançar para a solução dos conflitos.

O respeito pelos outros, essencialmente pela diferença é a chave da questão.

E Então que pode a Maçonaria fazer.

A Maçonaria pretende ser e têm sido uma escola. Usando uma via iniciática que de Per Si não serve para nada, pois se for interpretada Strictu sensu é mais um ritual e nem sequer consegue substituir o religioso.

No entanto a interpretação desse ritual, conjuntamente com a Ação na Sociedade e não apenas com uma caridade aqui ou outra ali, mas com intervenção política e social, coerente e fundamentada, pode permitir aos homens Maçons fazerem progredir a sociedade.

Ao contrário do que se prega pelas lojas da nossa obediência, a Maçonaria não é apolítica. O que não permite é que em sessão ritual se discuta política.

Mas na intervenção na sociedade as Grandes Lojas têm que ser parceiros políticos.

Parceiros políticos, não quer dizer apoiar o partido A ou B ou o candidato X, mas sim pensar a política, acercar-se dos meios políticos e apresentar a Maçonaria como uma Ferramenta de Persecução de fins.

E temos que nos meter em todos os assuntos?

É claro que não, mas temos que ter uma palavra em muitas áreas da política, eventualmente começando pela política social, criando estruturas de apoio ou redes de contactos.

É também evidente que em assuntos de política internacional as Grandes Lojas devem trocar entre elas as informações relevantes para que o seu contributo para o mundo em que vivemos seja tido em conta pelos respectivos Governantes locais.

Termino com dois exemplos:

Um de ação política e outro sobre o primado do homem

Em 1839 / 1840 surge um problema na Síria em que membros de uma confissão religiosa são acusados de assassinar “ritualmente” um sacerdote jesuíta e o seu acólito.

O problema internacionaliza-se e a França e a Inglaterra, potências dominantes na altura tomam o assunto em mãos, enviando para resolver o problema os Sr. Adolphe Cremieux e Sir Moses Montefiore.

Estes dois emissários eram ilustres Maçons no seu tempo, sendo que Montefiore era Embaixador e Cremieux chegou a ser Ministro de França.

E eles com a sabedoria dos Maçons resolveram o problema evitando assim uma crise internacional.

Quanto ao primado do Homem, há uns dias atrás o Papa Bento XVI em visita a Auschwitz – Birkenau perguntou “Onde estava Deus nestes dias?”

O Rabino Henry Sobel de São Paulo no Brasil escreveu então o seguinte:

 “Antes de perguntarmos "onde está Deus", cabe-nos formular a outra pergunta: "Onde está o homem?”O que está fazendo o homem com o mundo que Deus lhe deu?”

Concluindo com a seguinte resposta:

 “Com todo o respeito, permito-me responder ao Sumo Pontífice: Deus estava onde sempre esteve esperando que os homens assumissem o seu dever.”

A Maçonaria como organização de Homens Livres e de Bons Costumes tem um poder imenso na persecução dos desígnios da PAZ, AMOR e RESPEITO dos Homens pelos Homens e conseqüentemente dos Homens por Deus.

Assim nos ajude o Grande Arquiteto do Universo


DEFINIÇÃO DE MESTRE - Papus

 



Somos guiados passo a passo na nossa evolução, e os guias que nos são enviados pelo invisível vêm de diferentes planos; em linguagem mística “apartamentos”, segundo o gênero de faculdade que eles devem evoluir.

Trata-se de mestres, mas é necessário darmos a este termo, de imediato, o seu significado verdadeiro e geral, porque na nossa época de mediocracia universal, termos tão elevados como “mestre” são atribuídos, pela cortesia dos arrivistas, a qualquer indivíduo que lhes possa ser de alguma utilidade na sua ascensão às alegrias e aos horrores materiais.

O Mestre é um guia, e ele pode devotar-se à evolução de três tipos de faculdades humanas: pode dirigir a evolução da coragem, do trabalho manual ou das forças físicas como o oficial, o mestre construtor ou o professor de boxe. É realmente um Mestre, mas este é o produto da sociedade e age sobre a porção física das faculdades humanas.

Este tipo de maestria é coroado por um enviado do plano invisível que se chama “o Conquistador” e que faz evoluir a humanidade como a febre faz evoluir as células humanas na batalha, no terror, no sacrifício e na matança em todos os planos.

O segundo tipo de maestria visa à evolução do mental humano. Ele começa pelo Mestre de escola, a quem Grosjean quer sempre retornar para chegar ao professor universitário, com todos os intermediários possíveis.

Tudo isto constitui a banda dos queridos Mestres, horda sagrada que defende justamente as suas prerrogativas e eleva diante do profano a barreira das ciências técnicas e dos exames.

Este tipo de maestria é dominado por um enviado do mundo invisível vindo do apartamento que os antigos chamavam Hermes, Trismegisto, e que chamamos pessoalmente o Mestre intelectual, caracterizado pelas luzes que projeta em todos os planos de instrução.

Acima, enfim, encontramos aquele que é o único a ter verdadeiramente direito a esse título de Mestre. É o enviado real, encarregado de evoluir as faculdades espirituais da humanidade, e ele apela a forças que bem poucos compreendem e de quem poucos ainda podem seguir as incitações. Este é aquele a quem chamamos um Mestre espiritual, que foi assim chamado por Marc Haven, no seu maravilhoso estudo sobre Cagliostro, o Mestre Desconhecido, e por Sédir, nos seus comentários sobre o Evangelho, o homem livre.

Seja qual for o nome que lhe dermos, ele chega a certo período manifestando-se abertamente, a outros períodos ocultando-se no meio dos humanos e agindo desconhecido para o bem coletivo e todos os que podem entrar em contato com ele guardam uma tal lembrança que o seu coração permanece comovido por várias encarnações.

É dele que Sédir diz, em uma das suas conferências:

“Mas quando o Mestre aparece, é como um sol que se ergue no coração do discípulo; todas as nuvens se desfazem; todas as gangues se desagregam; uma nova claridade, ao que parece, se expande no mundo; esquecem-se dissabores, desesperos e ansiedades; o pobre coração tão infeliz se lança rumo às radiosas paisagens entrevistas, sobre as quais o tranquilo esplendor da Eternidade estende as suas glórias; nada mais terno lança sombras na Natureza; tudo, enfim, se concilia na admiração, na adoração e no amor”.

É aquele que provoca discípulos ardorosos ou adversários impiedosos e que recebe, como Cagliostro, cartas deste tipo:

“Eu ficaria feliz, então, se pudesse dar-lhe provas dessa afeição terna e respeitosa da qual foi penetrado, dessa afeição da alma que não sei dar e que sinto tão vivamente. A minha existência física e moral pertence a ele; que ele disponha dela como do mais legítimo apanágio… A minha mulher, os meus irmãos, os meus pais, Me du Piqueet e a sua família, que também lhe devem grandes obrigações, querem… Que o Senhor Conde de Cagliostro esteja persuadido de que fomos afetados além da expressão de tudo o que os acontecimentos imprevistos lhe fazem sofrer, e que a nossa ambição e a nossa glória estariam satisfeitas se pudéssemos encontrar ocasiões de servir-lhe de maneira útil, é a homenagem simples e espontânea dos nossos corações”.

Estas classificações, como todas as classificações humanas, são forçosamente um pouco artificiais; em geral um Mestre aborda, mais ou menos, as três categorias a que nos referimos, e como tudo no invisível é coletivo, esses enviados se prendem não a personalidades, mas a “apartamentos”. Assim, um enviado do apartamento do Cristo está sempre ligado à lei Cristal solar, o que fecha a porta invisível a todos os impostores.

É perigoso deixar-se chamar “Mestre”, porque, além da evocação dos seres de orgulho que velam ao nosso redor, isto dá àquele que aceita esse título, a responsabilidade de todos as faltas cometidas por seus autointitulados discípulos.

Assim vosso servidor, que não passa na realidade de um pobre soldado desse exército, não tendo sequer podido nele obter os galões de cabo, fica desagradavelmente impressionado cada vez que lhe enfiam goela abaixo o título de “Mestre”.

Consolo-me imaginando que estou fazendo uma viagem à Itália. Nesse país encantador, recebe-se um título nobiliário segundo o valor da gorjeta que se distribui aos empregados dos trens; por cinquenta centavos é-se cavalheiro; por um franco, duque ou excelência; e por cinco francos, é-se pelo menos príncipe. O número de Mestres que são mestres como o viajante à Itália é príncipe, é de tal forma grande na terra, principalmente nos centros intelectuais, que o verdadeiro Mestre tem razão de permanecer desconhecido.

Permitam-me abrir um parêntesis aqui. É a propósito de uma associação misteriosa de homens evoluídos, conhecidos sob o título de “Rosa-Cruz”. Este título é um nome exotérico, cuja finalidade é ocultar o nome secreto e verdadeiro da sociedade em questão. Ora, uma multidão de ambiciosos, que nada sabem de real sobre esta sociedade, ornam-se a torto e a direito com esse nome e dizem, misteriosamente aos seus amigos e conhecidos: “Admirem-me, vejam as minhas belas plumas de pavão; não digam a ninguém: Eu sou Rosa-Cruz”.

Não falamos, bem entendido, do 18° grau do REAA. Ora, os verdadeiros Rosa-cruzes (eles são dez, ao todo) não se dizem tal. Apresso-me a dizer que não sou um deles, mas os conheço. Eles se divertem muito em ver que o nome profano da sua sociedade ser desavergonhadamente empregado de todas as maneiras; é um pouco como um societário da Comédie-Française que vê na província um figurante se esforçando para desempenhar o seu papel e copiar o seu nome. Ele sorri, mas não se aborrece.

De onde vem este nome de “Mestre”? Na França, do latim magister que, decomposto nas suas raízes dá-nos:

MaG, fixação numa matriz (intelectual ou espiritual) do princípio A; pela ciência G;

IS, dominação da serpente (S) pela ciência divina (I); característica do nome de “ÍSIS”; TR, proteção pelo sacrifício de qualquer expansão (R).

Se, deixando de lado as chaves hebraicas e o tarot, dos quais acabamos de nos servir, e nos voltarmos para o sânscrito, obteremos duas palavras:

MaGa, que quer dizer “felicidade e sacrifício” com o seu derivado “Magoni“, a aurora, eIsTa, que quer dizer “o corpo do sacrifício”, a oferenda.

O Mestre, o Maga Ista, ou o Magisto, o Mago, é, pois, aquele que vem sacrificar-se, que dá o seu ser em oferenda para a felicidade dos seus discípulos. Compreender-se-á agora o símbolo maçônico do Pelicano e a lei misteriosa “O iniciado matará o Iniciador”.

Antes de deixar o sânscrito, digamos que a palavra “Guru” originou a palavra francesa “Grave”; é o instrutor, aquele a quem chamamos “o Mestre intelectual”, o Grave professor, e isto não tem qualquer ligação, em geral, com o plano das forças divinas.

Fonte: (Esta matéria foi republicada no nº 2, de 2001, da edição francesa de L’Initiation)

junho 11, 2025

Discurso de Posse - Jorge Antônio Vieira Gonçalves



Discurso de Posse do Venerável Mestre da Loja Constâncio Vieira nº 3300 - Jorge Antônio Vieira Gonçalves 

Meus inestimáveis Irmãos,

Boa noite e muito obrigado pela gentileza da presença de cada um de vocês.

A vida é feita de memórias, e há momentos em que o tempo parece parar. É como se, por um breve instante, fosse possível contemplar, com silêncio e admiração, tudo aquilo que está acontecendo diante dos nossos olhos. Este é um desses momentos. O poeta libanês Khalil Gibran escreveu: “Existe um espaço entre a imaginação do homem e as realizações do homem que só pode ser transposto através do querer.”

Segundo a Bíblia, no Livro dos Reis, no quarto ano do reinado do Rei Salomão, iniciou-se a construção do Templo de Jerusalém, sobre o monte Moriá, lugar sagrado onde Davi já havia erguido um altar (1 Reis 6, 1 e 2 Crônicas 3, 1). O templo foi construído com proporções precisas, paciência e silêncio, pois “não se ouvia martelo, nem machado, nem qualquer instrumento de ferro” enquanto se edificava (1 Reis 6, 7).

Segundo nossa mitologia, foi no Templo de Jerusalém que germinou a semente da Maçonaria Operativa. Com o passar do tempo, a arte de construir e os segredos que a envolviam foram transformados. As ferramentas utilizadas pelos antigos pedreiros, que outrora serviam para erguer catedrais, passaram a ser interpretadas de forma simbólica, convertendo-se em instrumentos voltados à construção dos templos interiores.

Foi durante esse processo que nasceu a Maçonaria Especulativa. Na realidade, ninguém sabe ao certo como ela surgiu das antigas corporações de ofício. O que se sabe é que ferramentas como o esquadro e o compasso deixaram de servir à pedra e passaram a simbolizar a retidão moral, o domínio das paixões e o aperfeiçoamento interior.

Nossas cerimônias são repletas de simbolismo atemporal e nos iniciam em um método de ensino próprio, que transmite, com profundidade e beleza, ensinamentos sobre os grandes mistérios da existência: o nascimento, a vida e a morte.

Dentro de nossas lojas, somos conduzidos pela luz da razão, somos chamados a praticar a fraternidade humana e a refletir sobre como viver com retidão, e partir deixando a lembrança de uma vida que valeu a pena.

Nesse processo de aperfeiçoamento, cada um de nós, com virtudes e imperfeições, vai lapidando sua pedra bruta, construindo de forma única seu Templo Interior.

As antigas Lojas eram lugares de aprendizado e de debate de novas ideias. E mesmo quando as guerras dilaceraram o mundo, mesmo quando tudo parecia desabar, nossos irmãos continuaram a se reunir, confiando na força dos rituais e nos princípios que nos sustentam. Veja o exemplo da pandemia iniciada em 2019. Com a criação das Lojas virtuais, conseguimos concretizar o ideal maçônico em suas raízes, que é transformar a Maçonaria Universal em realidade. Ampliamos os limites de uma Loja física para todo o globo terrestre.

Somos herdeiros da mais antiga ordem iniciática ininterrupta do mundo. Hoje, aqui, na Loja Constâncio Vieira nº 3300, recebo com humildade e alegria a honra de servir como Venerável Mestre, não como quem sobe ao trono de Salomão, mas como quem se curva diante da obrigação de servir.

Pois, como diz o Livro dos Provérbios: “Com sabedoria se edifica a casa, e com inteligência ela se firma.” (Provérbios 24, 3) Que esta sabedoria seja a de todos nós, reunidos em Loja.

Segundo o escritor português José Saramago: “O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.”

O Alcorão nos ensina: “Deus não muda a condição de um povo até que ele mude aquilo que está em si mesmo.” (Surata 13, áia 11)

No Espiritismo, Allan Kardec nos alerta: “Fora da caridade não há salvação.” E essa caridade é mais do que esmola, mais do que ajuda, é a capacidade de compreender a necessidade do outro, mesmo quando se discorda dele, mesmo quando se acredita que o outro esteja errado.

A prática da conciliação é o fundamento essencial da nossa Primeira Obrigação, nosso primeiro juramento, escrito nas Constituições de Anderson, de 1723: “A Maçonaria é o meio de conciliar a amizade entre aqueles que, de outra forma, deveriam ter permanecido a uma distância perpétua.”

Nosso irmão Zé Rodrix cantou:

"Nada no passado,

Tudo no futuro,

Espalhando o que já está morto

Pro que é vivo crescer."

É com essa consciência de conciliação entre passado, presente, futuro e renovação que conduziremos nossa Loja, pois presidir, na Arte Real, é servir.

E servir, como escreveu no poema Andares o escritor suíço Hermann Hesse: “A cada chamado da vida o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias, aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.” É com este encanto, com esta centelha que não se apaga, que estamos reunidos nesta noite.

Mesmo quando a escuridão do mundo ameaça cobrir de sombras nossas esperanças, aprendemos no nosso ritual: “A Luz que ilumina o Templo deve irradiar sobre todo o Universo.”

Aos irmãos que me antecederam, deixo minha reverência. Aos que caminharam comigo, ofereço minha vontade de servir e ajudar. Aos que virão, que encontrem em nossa obra um alicerce firme e uma inspiração duradoura.

Porque construir, na essência do sentido maçônico, é deixar um mundo melhor do que o encontramos. Os maçons passaram os últimos séculos construindo e espalhando essa luz da tolerância, do aprimoramento pessoal e do serviço ao próximo.

Finalizo este momento com um compromisso diante de todos os irmãos aqui presentes e diante dos olhos de Deus: trabalharei com empenho, levarei com honra o nome da Loja Constâncio Vieira nº 3300 e presidirei com ternura. Que os instrumentos da Arte Real me ajudem a cumprir esta missão.

E que, ao final da jornada, quando mais uma pedra estiver assentada nessa magnífica obra e meu ciclo estiver finalizado, que não reste em mim orgulho, mas gratidão. Gratidão por ter servido à nossa Ordem, que atravessou os séculos de história inquebrantável. Gratidão por poder erguer, com vossas mãos e com a minha, juntos, mais uma pedra justa e perfeita nesse templo invisível que chamamos de vida.

Muito obrigado, meus inestimáveis Irmãos.

TEMPLO MAÇÔNICO - José Castellani



O templo maçônico, como é hoje conhecido, é relativamente recente.

Na realidade, o primeiro templo maçônico, que foi o da Grande Loja de Londres, teve lançada a sua pedra fundamental no dia 1º de Maio de 1775, sendo inaugurado e consagrado a 23 de Maio de 1776.

Antes disso, as lojas maçónicas reuniam-se em tabernas, ou nos adros das igrejas, numa prática herdada de lojas de maçons de ofício, ou operativos. As tabernas europeias, nos séculos XVII e XVIII, possuíam uma função social muito importante e tinham uma fama bem diferente das cervejarias e bares das épocas posteriores; elas serviam para descontraídas reuniões de entidades associativas e de intelectuais, que possuíam, assim, centros de reunião para a troca de ideias e para aperfeiçoamento, numa atividade social e cultural muito semelhante à desenvolvida, nas primeiras décadas do século XX, nos “cafés”, que chegaram, devido a isso, a ser chamados de “cafés literários” e que tanto incrementaram o desenvolvimento da. literatura, pelas trocas de experiências e de ideias entre os literatos e entre o público leitor.

A primeira Obediência maçônica do mundo, a Grande Loja de Londres, criada a 24 de Junho de 1717, foi formada, inicialmente, por quatro lojas, que tomavam, como título distintivo, os nomes das tabernas em que se reuniam: “The Goose and Gridiron” (O Ganso e a Grelha), “The Apple Tree” ( A Macieira), “The Crown” (A Coroa) e “The Rummer and Grapes” (O Copo e as Uvas).

A Loja da taberna O Ganso e a Grelha era, também, chamada de Loja São Paulo, porque celebrava as suas reuniões no pátio da igreja de São Paulo. Esta Loja, que, posteriormente, adotaria o título de “Antiquity”, teria sido fundada em 1691 e, já a partir dos primeiros anos do século XVIII, começava a promover modificações estruturais, que iriam redundar na moderna forma da Maçonaria, ou seja, a dos maçons aceitos, ou “especulativos”. Formada, inicialmente, apenas por maçons de ofício, ou operativos, ela começaria, a partir de 1702, a admitir homens não ligados à arte de construir.

Esta Loja viria a ter fundamental importância para a criação da Grande Loja de Londres, pois foi por intermédio do reverendo Desaguliers, iniciado em 1709, no pátio da igreja de São Paulo, que se conseguiu, em fevereiro de 1717, a reunião, na taberna “The Apple Tree”, das quatro Lojas citadas, da qual surgiria a convocação de todos os membros das Lojas, para o dia 24 de junho, quando seria, então, fundada a primeira Obediência do mundo. Graças a isso, como também, à proeminência dos seus membros (Payne, Anderson, Desaguliers, Calvert, Elliot, Luniden etc.) e ao grande número de maçons aceitos, a Loja da taberna O Ganso e a Grelha, ou de São Paulo, ir-se-ia colocar à testa do movimento de transformação da Maçonaria.

A recém fundada Obediência – que não contou, inicialmente, com o apoio dos demais maçons ingleses – continuou a realizar as suas reuniões nos pátios das igrejas ou nas tabernas das quais as Lojas fundadoras tomavam os nomes, até a inauguração do Templo, em 1776; os símbolos maçónicos, então, eram traçados no chão, ou sobre um painel.

A 1º de Maio de 1775, na presença de numerosos grupos de maçons, era lançada a pedra fundamental do “Freemasons’ Hall“, a qual continha uma placa, com a seguinte inscrição:

“ANNO REGNI GEORGII TERTII QUINDECIMO, SALUTIS HUMANAE, MDCCLXXV, MENSIS MAU DIE PRIMO, HUNC PRIMUM LAPIDEM, AULAE LATOMORUM (ANGLICE, FREE AND ACCEPTED MASONS) POSUERIT HONORATISSIMUS ROB. EDV. DOM. PETRE, BARO PETRE, DE WRITTLE, SUMMUS LATOMORUM ANGLIAE MAGISTER; ASSIDENTIBUS VIRO ORNATISSIMO ROWLANDO HOLT, ARMIGERO, SUMMI MAGISTRI DEPUTATO; VIRIS ORNATISSIMIS JOH. HATCH ET HEN. DAGGE, SUMMIS GUBERNATORIBUS; PLENOOUE CORAM FRATRUM CONCURSU; QUO ETIAM TEMPORE REGUM, PRINCIPIUMQUE VIRORUM FAVORE, STUDIOQUE SUSTENTATUM MÁXIMOS PER EUROPAM HONORES OCCUPAVERAT NOMEM LATOMORUM, CUI INSUPER NOMINI SUMMUM ANGLIAE CONVENTUM PRAEESSE FECERAT UNIVERSA FRATRUM PER ORBEM MULTITUDO E COELO DESCENDIT”.

Após a cerimônia de lançamento, a companhia seguiu, em carruagens, até ao “Leatherfellers’ Hall”, onde houve uma festiva recepção, ocasião em que foi instituído o cargo de Grande Capelão (Grand Chaplain).

A construção do edifício foi bastante rápida e ele foi concluído em pouco mais de um ano. A 23 de Maio de 1776, ele foi inaugurado e dedicado à Maçonaria, à Virtude, à Caridade Universal e à Benevolência, na presença de uma brilhante assembleia de maçons.

Uma Ode, escrita por um membro da “Alfred Lodge”, de Oxford, e musicada por um Maçom conhecido como Dr. Fisher, foi executada, na ocasião, perante muitas senhoras, que, nesse dia, honraram a Sociedade com a sua companhia.

Uma instrutiva explicação sobre a instituição maçônica foi transmitida pelo Grande Secretário, seguindo-se uma magnífica oração desenvolvida pelo Grande Capelão. Em comemoração ao evento, tão importante e feliz para a Ordem, ficou acertado que o aniversário da cerimônia deveria ser sempre comemorado.

No prédio da Great Queen-Street passaram a ser realizadas as assembleias anuais e as comunicações trimestrais da fraternidade; e, para o aperfeiçoamento de quaisquer Lojas, assim como de maçons, individualmente, ele foi liberalmente franqueado.

Os Irmãos da “St. John’s Lodge”, de Newcastle, animados pelo exemplo dado pela metrópole, abriram uma subscrição entre eles, com o propósito de construir, na cidade, um templo para os seus trabalhos; e, a 23 de setembro de 1776, foi lançada, por Francis Peacock, então Venerável Mestre da Loja, a pedra fundamental da construção. Daí em diante, aquele primeiro exemplo foi frutificando.

É claro que o templo maçônico, como é hoje conhecido, não surgiu de uma só vez. Serviu-lhe, inicialmente, de modelo arquitetônico, o templo de Jerusalém, que já servira de modelo para as igrejas; isso não é, na realidade, de se estranhar, pois tendo, a Maçonaria de Ofício, ou operativa, crescido e frutificado à sombra da Igreja, reunindo-se nos adros das igrejas, ou nelas próprias, era natural que, ao construir o seu templo, embora já na fase dos maçons aceitos, a Maçonaria procurasse o modelo que lhe era mais conhecido.

O conceito de que havia, aí, uma influência da Ordem dos Templários, cujos estatutos consideravam o templo de Jerusalém como o símbolo das obras perfeitas dedicadas a Deus, é posterior; esses estatutos foram redigidos pelo abade Clairvaux (São Bernardo), quando a ordem templária foi fundada, em 1118, o que mostra, mais uma vez, que, em qualquer caso, a Maçonaria baseou-se na Igreja, ou em conceitos eclesiásticos, para concretizar o seu templo.

A orientação e a divisão dos templos maçônicos, assim como das igrejas, têm, indisfarçavelmente, a sua origem no templo de Jerusalém, da mesma maneira que alguns objetos da decoração e as duas colunas vestibulares.

Existem, entretanto, outras influências, não só das antigas civilizações, mas, também do misticismo medieval e de costumes originários da Inglaterra, que, aos poucos, motivaram a complementação da decoração dos templos. Não é, entretanto, apenas nos templos que essas influências são palpáveis, mas, também, na doutrina, na ritualística, na filosofia e no misticismo da Maçonaria.

No tocante ao templo, as maiores contribuições foram:

1 – Das antigas civilizações, que, a partir do quinto milênio a.C., começaram a se sedentarizar e a se aglomerar em centros urbanos, entre os rios Tigre e Eufrates (a Mesopotâmia, “terra entre rios”), em torno deles, às margens do rio Nilo e em torno dos mares Mediterrâneo e Adriático, atingindo, portanto, a Asia Menor, o norte da África e a Europa Oriental. Nessas regiões, encontravam-se sumerianos, acadianos, babilônios, persas, hebreus, egípcios e gregos.

A maior contribuição, neste terreno, é, evidentemente, a hebraica, já que é o templo hebraico de Jerusalém o modelo do templo maçônico, embora não seja, este, uma cópia exata daquele, como pretendem alguns.

Além da orientação, da divisão e das colunas vestibulares Booz e Jachin, encontram-se, num templo maçônico, dependendo do grau e do rito em que a Loja funciona, outros elementos do templo hebraico, como: Altar dos Perfumes, Mesa dos Pães Propiciais (ou Altar dos Pães da Proposição), Candelabro de Sete Braços (o menorá hebraico), Estrela de Seis Pontas (a Magsen David, do judaísmo e a Blazing Star, do Rito de York), Mar de Bronze, Ouro, Cedro do Líbano, Pedra, além do Altar, com o Trono, que fica no Oriente e corresponde ao Altar-mor das igrejas e ao Santo dos Santos do templo de Jerusalém.

A contribuição grega está presente nas três colunas, dórica, jônica e coríntia, que, simbolicamente, sustentam a Loja de Aprendiz e na Estrela de Cinco Pontas, ou Estrela Pentagonal (ou Pentáculo, ou Pentagrama), que é a estrela hominal das escolas pitagóricas (e que foi introduzida na decoração do templo maçônico pelo barão de Tschoudy, no século XVIII).

A contribuição egípcia é encontrada na decoração estelar do teto do templo; os antigos templos egípcios eram a representação da Terra, de onde brotavam as colunas, como gigantescos papiros, em direção ao firmamento estrelado. Além disso, todavia, há outra contribuição importante: embora as colunas do pórtico, ou vestibulares, tenham a sua origem no templo de Jerusalém, elas não são, no templo maçônico, iguais às hebraicas; são, sim, egípcias (com influências babilônicas), simbolizando folhas de papiro e flores de lótus, que eram as duas plantas sagradas do antigo Egito (muitos templos maçônicos possuem colunas vestibulares da ordem coríntia, o que é um grave erro).

A contribuição sumeriana está presente no Pavimento Mosaico, que, entretanto, nem todos os ritos possuem; o pavimento, que tem origem sumeriana, era, para os sumerianos, terreno sagrado, mas para os gregos e cretenses era um simples elemento decorativo.

2 – Dos agrupamentos e seitas místicas medievais, como os rosa-cruzes, os alquimistas e os ligados à astrologia (embora a astrologia fosse muito antiga, existindo desde a época dos sumerianos, foi na Idade Média que, graças aos árabes, ela se expandiu e se consolidou).

A contribuição da Astrologia está presente nas Colunas Zodiacais (que não estão presentes em todos os ritos), meias colunas jônicas encimadas pelos Pentáculos, que simbolizam o planeta e o elemento correspondente a cada signo do zodíaco; como cada signo representa uma passagem iniciática, desde a entrada do candidato na Câmara de Reflexão até ao acme da exaltação ao grau de Mestre Maçom, todo o zodíaco mostra a escalada iniciática, associada às cíclicas mortes e ressurreições da natureza.

A contribuição da Alquimia é encontrada em muitos símbolos, principalmente os alusivos aos quatro elementos da antiguidade (ar, água, fogo e terra), mas a sua presença é mais importante num anexo do templo, a Câmara de Reflexão, onde, em muitos ritos, estão presentes os três elementos alquímicos, sal, enxofre e mercúrio, necessários à concretização da Grande Obra, ou Obra do Sol, ou Arte Real – a transmutação dos metais inferiores em ouro – da alquimia.

A contribuição do rosacrucianismo encontra-se mais na decoração dos Altos Graus, através de vários símbolos, dos quais o máximo é a rosa na intersecção dos braços da cruz.

3 – Da igreja medieval e da do início da era moderna. A contribuição, aí é patente, pois, como já foi salientado, a Maçonaria cresceu à sombra da Igreja e dela copiou os templos, os quais, por sua vez, têm base no templo de Jerusalém. As antigas igrejas, inclusive, possuíam as duas colunas na entrada e um triângulo equilátero (Delta) na fachada; isso, modernamente, tem sido abandonado, mas a divisão e a orientação continuam tendo o templo hebraico como arquétipo.

4 – Do Parlamento inglês, existente desde 1296. Os lugares dos maçons, no templo, imitam a disposição existente no parlamento britânico; neste, o presidente tem assento na Great Chair (um cadeirão de encosto alto), sendo ladeado pelos líderes do governo e da oposição, um a cada lado, enquanto os demais parlamentares sentam-se frente a frente, situação de um lado e oposição do outro, em bancadas de vários níveis.

Esta mesma disposição existe no templo maçônico, com o Venerável no Trono e os maçons das Colunas do Norte e do Sul sentados frente a frente; e isso não é de se estranhar, pois sendo, o primeiro templo, originário da Inglaterra, tomou os modelos mais próximos: o Parlamento e as igrejas. Também a Sala dos Passos Perdidos, que é um anexo do Parlamento inglês, foi colocada como anexo do templo maçônico.

Os templos maçônicos não são exatamente iguais em todos os ritos, pois existem aqueles que são mais simples e aqueles que são mais complexos, dependendo do rito em que a Loja trabalha; existem, todavia, entre todos eles, mais pontos em comum do que divergências, pois existe um arquétipo do templo, do qual nenhum rito pode fugir.

Assim, independentemente de ritos, qualquer Maçom, em qualquer parte do mundo, reconhece um templo maçônico pelas colunas do pórtico, pela orientação, pela divisão e pelos símbolos presentes na decoração.



LÚCIFER


A palavra LÚCIFER tem uma origem tremendamente simples. Entretanto, foi e é fruto dos “oportunistas” religiosos que, normalmente visado obtenção de bens materiais, se aproveitavam e se aproveitam da ignorância das pessoas. Desse modo, devido à convenientes interpretações, tem essa palavra, hoje, diversos significados.

A origem correta é: portador(a) da luz (do Latim lucis = luz e ferre = carregar, portar, trazer. Idem para o grego heosphoros), e era o nome dado ao planeta Vênus, que é visível antes do alvorecer e que, simbolicamente, seria o portador da luz do Sol que em breve estaria brilhando.

Segundo o pesquisador iconográfico Luther Link, Isaias, na Bíblia fez uma designação descritiva aplicada a uma metáfora referente aos excessos de um “rei da Babilônia”, e não a uma entidade em si: “Como caíste do céu, o Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante”

Isaias não estava falando do Diabo. Usando imagens possivelmente retiradas de um antigo mito cananeu, Isaías referia-se aos excessos de um ambicioso rei babilônico. (Wikipédia)

Aproveitemos as informações dessa Enciclopédia:

“A expressão hebraica (heilel ben-shahar) é traduzida como “o que brilha”. A tradução “Lúcifer” (portador de luz), deriva da Vulgata latinade Jerônimo e isso explica a ocorrência desse termo em diversas versões da Bíblia.

Mas alguns argumentam que Lúcifer seja satanás e por isso, também foi o nome dado ao anjo caído, da ordem dos Arcanjos. Assim, muitos nos dias de hoje, numa nova interpretação da palavra, o chamam de Diabo(caluniador, acusador), ou Satã (cuja origem é o hebraico Shai'tan, Adversário). Os judeus o chamam de heilel ben-shachar, onde heilel significa Vênus e ben-shachar significa "o luminoso, filho da manhã". Alguns judeus interpretam Lúcifer como uma referência bíblica a um rei babilônico. Mais tarde a tradição judaica elaborou a queda dos anjos sob a liderança de Samhazai, vindo daí a mesma tradição dos padres da Igreja.

Segundo a igreja católica, Lúcifer era o mais forte e o mais belo de todos os Arcanjos. Então, Deus lhe deu uma posição de destaque entre todos os seus auxiliares. Segundo a mesma, ele se tornou orgulhoso de seu poder, que não aceitava servir a uma criação de Deus, "O Homem", e revoltou-se contra o Altíssimo. O Arcanjo Miguel liderou as hostes de Deus na luta contra Lúcifer e suas legiões de anjos corrompidos; já os anjos leais a Deus o derrotaram e o expulsaram do céu, juntamente com seus seguidores. Desde então, o mundo vive esta guerra eterna entre Deus e o Diabo; de seu lado Lúcifer e suas legiões tentam corromper a mais magnífica das criaturas mortais feitas por Deus, o homem; do outro lado Deus, os anjos, arcanjos, querubins e Santos travam batalhas diárias contra as forças do Mal (personificado em Lúcifer). Que maior vitória obteria o Anticristo frente a Deus do que corromper e condenar as almas dos humanos aos infernos, sua morada verdadeira?”

Abrindo um parenteses: dá para se perceber que a imaginação do ser humano não tem limites. Anjo... Arcanjo... o mais forte e belo dos Arcanjos... auxiliares de Deus... Caramba! é interessante como se dá um “comportamento totalmente humano” à Deus e muitos aceitam como se fosse a coisa mais natural do mundo!

Na “Enciclopédia”do Mestre Nicola Aslan temos:

“Entre os cristãos, esse nome acabou por ser aplicado ao espírito do Mal. Esta denominação nasceu, em certos Padres da Igreja, por alusão a várias passagens de Isaias... em que o profeta anuncia a queda do rei da Babilonia e o assombro que ela causa, nestes termos – Como é que caiste do céu, tu, Lúcifer, astro da manhã? – Os padres aplicaram a palavra ao demonio, anjo caído.”

Sem mais comentários.

Fonte: pilulasmaconicas.

junho 10, 2025

FILHO DAS ESTRELAS - Thomé Márcio Cristiano




Hoje, a história muda.

 "Um pequeno passo para o homem..." mas um grande passo para a Ordem Maçônica.

Hoje saberemos que um GIGANTE irá sentar-se no trono de Salomão.

Como sempre deveria ser. Como sempre haverá de ser.

Estamos ansiosos por vê-lo em seu devido lugar, Venerável Mestre Irmão Jorge Gonçalves!

Tenho (temos) o privilégio de sua fraternidade 💖

E desejo (desejamos) o mais profícuo veneralato possível dentro do GOB 🇧🇷, para bem fazer tanto a ordem em geral, quanto ao quadro em particular.

Parabéns, trabalhador e valoroso Irmão Jorge Gonçalves 🌿

Filho das estrelas!

DESISTÊNCIAS E AUSÊNCIAS - A EROSÃO DA ORDEM - Antônio Jorge


Porque será que temos um nível tão elevado de desistências e/ou de não comparecimentos nas Sessões?

Normalmente, o que nos leva a desistir de algo é um sentimento de expectativas não correspondidas, acompanhado pela sensação de que tal não irá ocorrer “em tempo útil”. 

Este sentimento aplica-se a tudo que fazemos já que é intrínseco ao processo de avaliação que permanentemente fazemos sobre tudo em que nos envolvemos. 

Todos criamos expectativas e as avaliamos face à realidade; desistimos quando achamos que a probabilidade de as nossas expectativas serem correspondidas é mínima ou inexistente, ou o “timing” para que tal se verifique é excessivo.

Ora isto leva-nos a uma segunda pergunta: quais são as expectativas que os candidatos têm e até que ponto consegue a Ordem responder? 

Naturalmente, há seguramente expectativas aos quais a Ordem não tem que, nem pode corresponder – estes são os erros de “casting”. 

Correspondem normalmente a candidatos com uma visão demasiado distorcida da Ordem, que os leva a criar expectativas muito próprias e/ou baseadas numa ideia de se servir em vez de servir.

Mas se considerarmos que temos candidatos que foram supostamente bem seleccionados; que foram supostamente bem avaliados e que foram supostamente bem escrutinados durante a votação, então os erros de “casting” deveriam ser mínimos – talvez não esteja aqui a resposta à pergunta. 

Mas será que podemos considerar isto?

O processo de avaliação do candidato que se prolonga por meses e por vezes até por anos, aliado à “aura” de mistério e ao “secretismo” que são normalmente associados à Maçonaria, ajudam a potenciar ilusões, por mais fantasiosas que elas sejam, criando por vezes, expectativas ao qual a Ordem não consegue dar resposta, até porque, embora cada um de nós construa o seu próprio Templo, a Maçonaria é só uma, não se podendo moldar aos desejos de cada um.

Assim sendo, talvez valha a pena olharmos para dentro, e para o fazermos talvez valha a pena partir de mais uma pergunta: O que é que nós fazemos como Maçons? 

Reunimo-nos uma ou duas vezes por mês, vestimos uns aventais, de preferência com ornamentos cintilantes, colocamos alguns símbolos e executamos um ritual. 

Durante as sessões, há alguns assuntos que tendem a se destacar: discussões intermináveis de regulamentos e burocracias da Loja (a Grande ou a nossa); leitura de comunicados, inquirições e respectivas votações; de longe em longe, a leitura de uma prancha, nem sempre discutida; de longe em longe também, a discussão de algum assunto mais relevante, mas sempre virado “para dentro”. 

Isto é o que temos para oferecer aos neófitos – será que corresponde às suas expectativas? 

Ou será que esperavam outra coisa? 

Será que esperavam uma Ordem mais preocupada com o exterior e menos voltada para si mesma?

Quando tentamos responder à pergunta: O que é que a Maçonaria faz? 

De exterior e de concreto, temos pouco; ou seja, quem procure a Maçonaria como uma via para a intervenção Social no apoio ao seu semelhante, poderá sentir que não está no lugar certo. 

Resta-nos esperar que o interior seja suficiente; resta nos esperar que “a construção interior de um homem melhor…” dê frutos e ter esperança que a capacidade de fazer com que os recém iniciados percebam o mais precocemente possível o valor deste processo e que o valorizem, permita suplantar eventuais outras expectativas não correspondidas.

Creio ser possível agrupar os candidatos em três grupos, em função das suas expectativas e perfis:

1- Tontos, sonhadores, negociantes e pessoas à procura de substitutos terapêuticos para o dominó no jardim: para este grupo, não temos (nem devemos ter) nada que lhes possa interessar. 

Importa detetar-los o mais precocemente possível e desiludi-los – implica desde logo que os seus “padrinhos” tenham consciência disto e sejam o primeiro filtro.

2- Candidatos com um vertente mais espiritual: Creio ser fundamental mostrar-lhes o caminho, o método, e acompanhá-los o melhor possível na sua progressão. 

É importante que reconheçam e valorizem as possibilidades de crescimento individual que a Maçonaria lhes pode proporcionar.

3- Candidatos com uma vertente mais forte de solidariedade e ajuda ao próximo: devemos avaliar se temos uma resposta suficiente para este grupo e devemos tê-la – é importante que se identifiquem oportunidades para que a Maçonaria se torne um verdadeiro parceiro em termos sociais, evitando assim que tenda a ser vista (injustamente) como um grupo de pessoas que ninguém sabe o que faz, mas que eventualmente o que faz, é mais em função dos seus interesses, do que em benefício da sociedade.

À laia de conclusão deste texto que já vai longo, deixo mais algumas perguntas:

Até que ponto o foco na quantidade e não na qualidade, abriu a porta a McMaçons, que, até que percebam que aqui não se vende fast-food “maçónico” e que talvez seja preferível ir bater a outra porta, vão deixando a sua marca na Ordem, marca essa que nem sempre é boa?

Como deve ser interpretada a quantidade de Mestres que tendo passado os dois graus anteriores, se afastam, muitas vezes continuando a pagar quotas, como se se quisessem afastar, mas não romper a sua ligação?

Estão os Irmãos que escolhemos para liderar, devidamente motivados / preparados / disponíveis / alertas para a necessidade de termos Lojas motivadoras em que cada sessão e cada actividade acrescente algo à vivência dos Irmãos?

Deverá a tentação de mostrarmos ao exterior aquilo que julgamos que o exterior quer ver – uma instituição focada nos aspectos sociais e na solidariedade -, sobrepôr-se ao que realmente sabemos fazer bem e para o qual a Maçonaria foi criada: "uma instituição vocacionada para transformar homens bons em homens ainda melhores?" 

O futuro da Maçonaria joga-se em quatro “Is”:

1- Identificação dos candidatos,

2- Inquirição dos candidatos,

3- Iniciação dos profanos,

4- Instrução dos membros

Estaremos a preparar convenientemente todos os envolvidos, para assegurar que cada profano que passa por este processo se torne num caso de sucesso como Maçom? 

Estaremos bem organizados em termos de acolhimento, formação e acompanhamento, para detectarmos precocemente os problemas e resolvê-los atempadamente?

A análise profunda destes quatro I’s é um excelente tema para trabalhos que desde já desafio os leitores a fazer. 

Aqui estaremos para os publicar.

Se de cada ato, de cada palavra, não resultar o enriquecimento interior dos Membros da Ordem, se a Ordem não integrar a vida dos Membros, então os Membros poderão não integrar a vida da Ordem.


A BIBLIA DO SIMBOLISMO E SUBJETIVIDADE - Ivan Froldi Marzollo


No século IV, a Igreja reuniu-se o Concílio em Nicéia, e uma das tarefas era organizar o “cânon”, ou a lista de livros sagrados considerados autênticos. Neste Concilio, os livros foram estudados e investigou-se quais os que sempre foram lidos nos cultos e sempre foram considerados legítimos. E estabeleceu-se a ordem ainda hoje conservada.

“A palavra “cânon” vem do termo grego “kanon” que significa “cana’, ou seja,” uma vara recta “ou” um padrão de medida“. Daí deriva o significado secundário que se refere a uma regra ou padrão de conduta uma forma de lei. “O sentido metafórico da palavra cânon é empregue para significar” aquilo que é conforme a regra ou medi­da. A origem do termo está relacionada ao nome da cidade fenícia de Biblos, onde o papiro, material usado para escrever, era exportado. 

No ano 382DC, começou a ser elaborada a Vulgata Latina [tradução para o latim] por Jerónimo de Stridon, a pedido de Dâmaso, que era o papa daquela época; este trabalho somente foi concluído em 404DC.O Livro da Lei ou Livro Sagrado é, num amplo sentido, a denominação dada às revelações inspiradas por Deus, transcritas pelos seus escolhidos. 

Na maçonaria a Bíblia Sagrada utilizada, particularmente a versão King James , é um texto fundamental na Maçonaria, sendo usada como um símbolo e fonte de estudo e reflexão para os maçons. É um "Livro da Lei" que reflete valores éticos e morais que os maçons devem seguir.

Na China, o Yi- King, escrito por Fo-Hi, provavelmente o mais antigo sábio da história humana, versa sobre as relações do homem com o universo; os livros escritos por Lao-Tse, fundador do taoísmo, discorrem sobre o princípio místico do universo, a prática do bem e a responsabilidade do homem quanto a ocorrência do bem e do mal em razão da sua própria vontade e determinação.

Na Índia os Livros Sagrados são os Vedas. O Rig-Veda, livro dos versos; o Yajur-Veda, livro das sagradas formas; o Sama-Veda, livro dos cânticos; e o Atharva-Veda, livro dos contos de fascinação e poderes mágicos. O Bhagavad Gitã ou o Canto do Bem- Aventurado, atribuído a Krishna, que seria assim como Buda uma das encarnações de Vishnú, o criador, ensina como se formar um sábio dentro de um ciclo de sucessivas existências.

No Egito, o Livro dos Mortos, que trata da vida e da morte, de interpretação difícil, encontrado em túmulos e junto a múmias. É possível que acreditassem servir para guiar as almas dos mortos. E ainda podemos citar outras escrituras sagradas como, os clássicos no confucionismo; Tripitaka no budismo; Avesta no zoroastrismo; Ko-ji-ki e Nihon-gi no xintoísmo; Alcorão no islamismo; Antigo Testamento no judaísmo e a Bíblia Sagrada no cristianismo.

Em razão da grande maioria dos Maçons brasileiros praticarem o Rito Escocês Antigo e Aceito, muitos imaginam que todos os Ritos usam os mesmos textos bíblicos. 

Em alguns Ritos não há abertura nem leitura de trechos do Livro da Lei: Ritos Moderno e Schröder, além do próprio REAA praticado no Brasil desde a sua introdução no país pelo Grande Oriente do Brasil, que assim procedeu até o final da década de 1950. Hoje a regra no Rito Escocês Antigo e Aceito é a abertura do livro da lei e a leitura do Salmo 133( versão King James) em toda sessão inclusive em banquetes ritualisticos, neste tocante há aqueles que dizem ser por usos e costumes porém se o banquete é um loja de mesa , neste sentido a loja só é aberta após a leitura do livro da lei.

Em outros, abre-se aleatoriamente, sem leitura: Ritos de York e de Emulação (York-GOB).A abertura mais conhecida é a do Salmo 133, usada pelo REAA e introduzida pelas Grandes Lojas estaduais, que importou tal prática de algumas Grandes Lojas americanas. Atualmente, com algumas exceções, é utilizada pela maioria das Potências Nacionais e também pelo Rito Brasileiro.

Dois outros Ritos fazem a abertura no Evangelho de João 1:6-9: O Rito Adonhiramita e o Escocês Retificado, além do próprio REAA de algumas Potências, como assim o é em alguns países, como na Espanha e Portugal, por exemplo.

No Grau de Companheiro, temos pelo menos três diferentes aberturas do Livro da Lei:

- Amós 7:7-8 para o Rito Escocês Antigo e Aceito.

- Atos dos Apóstolos 20:34 para o Rito Brasileiro;

- III Reis 3:7-12 (na tradução católica, correspondente a I Reis na protestante) para o Rito Adonhiramita.

No Grau 3, o Livro da Lei é aberto em Eclesiastes, recitando-se os versículos 1, 7 e 8 do capítulo 12 (Eclesiastes 12:1,7,8).

No Brasil, a Oficina Chefe do Rito Moderno, em sessão realizada aos 8 dias do mês de Setembro de 1969, baixou resolução definindo a Bíblia como o Livro da Lei, devendo no entanto permanecer fechada.

Juntamente com o Esquadro e o Compasso constituem as três Grandes Luzes da Maçonaria. O Livro da Lei é considerado parte integrante dos utensílios maçônicos, sendo indispensável nos trabalhos de uma Loja.

Segundo os pesquisadores, ela foi estabelecida em 1717, a partir da fundação da Grande Loja da Inglaterra. Existiam divergências quanto à aplicação dos textos do Livro da Lei nos Trabalhos Maçônicos, pelo fato da liberdade de uso, através dos tempos.

Na Inglaterra, é costume abrir o Livro da Lei no Salmo 133, quando a Loja estiver trabalhando em Grau de Aprendiz.O Livro da Lei é o símbolo de Lei moral que cada Maçom deve respeitar e seguir; representa a filosofia que cada um adota ou a Fé que anima e governa os homens. simplesmente o Livro da Lei, livro que continha os Antigos Deveres, as regras, – os Old Charges – que regulavam a atividade das corporações.

O Livro da Lei é um símbolo de sabedoria, justiça e espiritualidade na Maçonaria. Ele guia os maçons em sua busca por virtude e harmonia, promovendo a unidade dentro da Ordem.

Eles são apresentados nos landmarks: VIII - a manutenção das Três Grandes Luzes da Maçonaria: o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso, sempre à vista, em todas as sessões das Lojas; o Landmark 21 da classificação de Albert Mackey dispõe que um Livro da Lei deve constituir parte indispensável do mobiliário da loja. Nos seus exatos termos: 

“um Livro da Lei como parte indispensável no ornamento da Loja”.

Na classificação de Jean-Pierre Berthelon, o Landmark 6 diz: 

“O Livro da Lei Sagrada sobre o Altar”. 

E Joaquim Gervásio de Figueiredo adota o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso, como as 3 Grandes Luzes que devem estar sobre o Altar, sendo o Volume da Lei Sagrada a Escritura Sagrada adotada pelo Loja local.

Já a Grande Loja Unida da Inglaterra estabeleceu 8 pontos que necessária e obrigatoriamente devem ser obedecidos por qualquer potência maçônica para que possa obter o seu reconhecimento. Não considerando como um Landmark a rigor, senão como condição sine qua non para tal fim. Assim, para que uma Grande Loja venha a ser considerada regular pela Grande Loja Unida da Inglaterra, ela deve atender os 8 pontos de regularidade estabelecidos, dos quais o ponto 6 está descrito nestes termos: 

“As Três Luzes da Maçonaria: o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso serão sempre expostos durante os trabalhos da Grande Loja ou das Lojas da sua Obediência. A mais importante das três é o Volume da Lei Sagrada”.

Tal disposição é decorrente do Memorial que a Grande Loja Unida da Inglaterra encaminhou em 4.9.1929 a todas as obediências que com ela mantinham relações, tornando-se os 8 pontos os princípios básicos para o reconhecimento de uma Potência maçônica, no mesmo diapasão a Grande Loja Unida da Inglaterra, numa carta dirigida à Grande Loja do Uruguai, e que esta publicou na sua circular de 18 de Outubro de 1950, exprimia desta forma o seu pensamento: “A Maçonaria não é um movimento filosófico admitindo toda orientação ou opinião… A verdadeira Maçonaria é um culto para conservar e difundir a crença na existência de Deus, para ajudar os Maçons a regular a sua vida e a sua conduta nos princípios da sua própria religião, qualquer que ela seja… mas deve ser uma religião monoteísta que exija a crença em Deus como Ser supremo… e deve ser uma religião tendo um livro sagrado sobre o qual o iniciado possa prestar o juramento à Ordem”.

Ao pleitearmos o ingresso na vida maçônica, tomamos ciência de que embora não seja a maçonaria uma religião, necessária se faz a crença num Princípio Criador, denominado de o Grande Arquiteto do Universo. Mais ainda, logo que conhecemos os Landmarks, vemos que esta crença é de suma importância, como a vida futura também assim o é, e que é indispensável, no Altar, estar o Livro da Lei.

A sua leitura é feita em todas as sessões, independente do grau, e tem por finalidade, embora seja certa a onipresença de Deus, invocar a bênção do Grande Arquiteto do Universo para os trabalhos a serem executados, propiciando a fraternidade e o amor entre os irmãos.

A Grande Loja da Inglaterra, considerada Loja Mãe da Maçonaria Universal, recomenda a utilização da Bíblia e não de qualquer outro livro porque a Maçonaria tem a sua origem nas antigas corporações de mestres pedreiros construtores de igrejas e catedrais formadas sob a influência da Igreja na Idade Média.O Livro da Lei é o símbolo de Lei moral que cada Maçom deve respeitar e seguir; representa a filosofia que cada um adota ou a Fé que anima e governa os homens.A Grande Loja dos Modernos tinha a Bíblia, o Esquadro e o Compasso representando o Mobiliário da Loja até a época da união com a Grande Loja dos Antigos. Diziam as suas Preleções:

Qual é o Mobiliário da Loja? – A Bíblia, o Esquadro e o Compasso.

Os seus usos? – A Bíblia serve para dirigir e governar a nossa Fé, e sobre ela é feito o Juramento pelos nossos novos Irmãos. Assim também o Compasso e o Esquadro, quando unidos, servem para reger as nossas vidas e as nossas ações.

De onde derivam e a quem pertencem? – A Bíblia deriva de Deus, para o homem em geral; o Compasso pertence ao Grão Mestre, em particular e o Esquadro a toda a Ordem.

Por que a Bíblia deriva de Deus, para o homem em geral? – Porque aprouve ao Todo Poderoso revelar mais da sua Divina vontade neste Livro do que por outros meios que já tenha feito; seja pela luz da razão, seja pela retórica com todos os seus poderes.

Por que o Compasso pertence ao Grão Mestre em particular? – Sendo este o principal Instrumento usado para desenhar e fazer plantas arquitetônicas, é particularmente apropriado ao Grão-Mestre, como um Emblema da sua dignidade, e por ser o Chefe e o Governador de toda a Ordem, e sob cujo patrocínio as nossas Grandes leis são tão sensatamente impostas, estrita e universalmente obedecidas pela Ordem em geral.

Por que o Esquadro pertence a toda a Ordem? – Por ser ela juramentada no Esquadro e, consequentemente, compromissada a assim agir sobre ele.O que ocorre na atualidade com os diversos ritos praticados pelas Grandes Lojas é que há ritos que o Livro da Lei é aberto e lido em locais definidos, aberto e lido em locais aleatórios, abertos e não lidos, não abertos. Porém, em qualquer circunstância, junto a ele estão o Esquadro e o Compasso, sempre em posição do grau no qual a Loja esteja reunida. 

Há ritos, porém, que neles o Livro da Lei se encontra ausente.

A Bíblia em uma leitura subjetiva classifico como um bom livro filosófico neste sentido o Compasso e o esquadro estão sobre ela justamente como simbologia do grau de memória e cientificação daquele que se prosta no Altar lembremos que o primeiro juramento é feito vendado. 

Que o Grande Arquiteto do Universo permita a Luz da cientificação a todo buscador da verdade .


 

junho 09, 2025

UMA FLOR, SIMBOLO DE LIBERDADE - Hamilton Ferreira Sampaio Júnior


Um dos maiores símbolos da abolição da escravatura no Brasil foi uma flor.  Na segunda metade do século XIX, a camélia era rara no Brasil, assim como a liberdade dos escravizados. A Princesa Isabel ousou, diversas vezes, aparecer em público com uma camélia adornando sua roupa, fato sempre notado pelos jornais. Essas flores subversivas tornaram-se o símbolo da causa abolicionista. A pessoa que usava uma camélia na lapela ou a cultivava no jardim de sua casa demonstrava sua fé abolicionista. Essa flor servia como uma espécie de código de identificação entre os abolicionistas, especialmente quando envolvidos em ações mais perigosas ou ilegais, como auxiliar fugas ou providenciar esconderijos para os fugitivos. Um escravizado podia identificar imediatamente possíveis aliados pelo uso de uma dessas flores na lapela, próxima ao coração.

Naquele período, usar uma camélia na lapela ou tê-la em seu jardim era uma evidente confissão de fé abolicionista. Alguns pés de camélias remanescentes desse tempo simbólico ainda podem ser encontrados em jardins, como na Casa de Rui Barbosa, membro atuante do movimento abolicionista. Essas flores são documentos vivos e, em algumas épocas do ano, quando floridas, narram um triste capítulo da história do Brasil.

No ano de 1888, no auge da campanha abolicionista, a Princesa Isabel organizou uma festa inspirada em comemorações francesas, a “Batalha das Flores”, cujo objetivo era mobilizar a alta sociedade de Petrópolis para arrecadar fundos para a Confederação Abolicionista. Em fevereiro, a princesa, seu marido, o Conde d’Eu, seus filhos e amigos percorreram a cidade em uma carruagem ornamentada com camélias. Recolhiam doações e retribuíam com flores. No dia 13 de maio de 1888, no momento em que a Princesa Isabel assinava a Lei Áurea, foram-lhe entregues dois buquês de camélias: um artificial, oferecido pela diretoria da Confederação em nome do movimento vitorioso, e outro, de flores naturais, vindas da população, que Rui Barbosa definiu como “a mais mimosa das oferendas populares”.

Com o passar dos anos, a história da camélia branca como símbolo abolicionista foi resgatada por historiadores e pesquisadores, que identificaram sua importância na mobilização de diversos segmentos da sociedade em prol da liberdade. Em algumas regiões do Brasil, ainda há referências a essa simbologia, seja em nomes de ruas, eventos culturais ou até mesmo no cultivo da flor em espaços históricos.

Atualmente, a camélia branca continua sendo um símbolo de resistência e memória, relembrando o valor da luta abolicionista e a importância de reconhecer as contribuições daqueles que, anonimamente ou publicamente, trabalharam pela liberdade. Nos dias de hoje, sua imagem ainda é utilizada em manifestações culturais e educacionais, reforçando a necessidade de valorizar e preservar a história da abolição no Brasil.

Referências:

ALONSO, Ângela. Triangulo negro da abolição.

DEMONER, Sônia Maria. História da Polícia Militar do Espírito Santo 1835 – 1985.

MORSE, Richard. Formação Histórica de São Paulo. São Paulo: Difel, 1970, p. 108.

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Bras. Porto Alegre