junho 26, 2025

A MAÇONARIA NO IRÃ


No Irã, a Maçonaria era muito popular porque muitos Xás se tornaram maçons. No tempo do último Xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi (que não era maçom), o Irã possuía 40 lojas e mais de mil maçons na ativa. 

A maçonaria no Irã foi suprimida 1935 a 1948, e proibida após a Revolução Islâmica de 1979, com o destino dos cerca de 1.100 maçons  desconhecido.

Quando aconteceu a revolução islâmica, liderada pelo Aiatolá Khomeini, que varreu o país em 1978, as leis islâmicas anularam as leis dos Xás, e a Maçonaria, imediatamente proibida. Pelo menos 200 maçons foram executados por serem membros da Fraternidade, e muitos fugiram do país

Uma "Grande Loja do Irã no Exílio" foi estabelecida em Los Angeles, nos EUA, onde quatro Lojas reúnem os iranianos exilados e seus descendentes. 

.Fonte:CURIOSIDADES DA MAÇONARIA https://famososmacons.blogspot.com/



MAÇONARIA: UMA HISTÓRIA SEM MISTÉRIO


Corporações de ofício, as precursoras

Desde que o homem deixou as cavernas e as suas vivendas de nômade, sedentarizando-se e formando uma sociedade estratificada, surgiram os profissionais dedicados à arte da construção, os quais foram se aperfeiçoando, não só na ereção de casas de residência, mas, também, na de templos, de obras públicas e obras de arte. Embora tivessem, esses profissionais, desde os seus primeiros tempos, mantido, entre si, certa camaradagem e um sentimento de agregação, não havia, na realidade, uma organização que os reunisse, que regulasse a sua atividade e que lhes desse um maior sentido de responsabilidade profissional.

Foi no Império Romano do Ocidente, da Roma conquistadora, que, em função da própria atividade bélica, surgiu, no século VI a.C., a primeira associação organizada de construtores, os Collegia Fabrorum. Como a conquista das vastas regiões da Europa, da Ásia e do norte da África, levava à destruição, os collegiati acompanhavam as legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo destruído pela guerra. Dotada de forte caráter religioso, essa organização dava, ao trabalho, o cunho sagrado de um culto às divindades. De início politeísta, tornou-se, com a expansão do cristianismo, monoteista, entrando, porém, em decadência, após a queda do Império Romano do Ocidente, ocorrida em 476 d.C., embora persistissem pequenos grupos da associação no Império Romano do Oriente, cujo centro era Constantinopla.

Na Idade Média é que iria florescer, através do grande poder da época, a Igreja, a hoje chamada Maçonaria Operativa, ou Maçonaria de Ofício, para a preservação da Arte Real entre os mestres construtores da Europa. Assim, a partir do século VI, as Associações Monásticas, formadas, principalmente, por clérigos, dominavam o segredo da arte de construir, que ficou restrita aos conventos, já que, naquela época de barbárie, quando a Europa estava em ruínas, graças às sucessivas invasões dos bárbaros, e quando as guerras, os roubos e os saques eram freqüentes e até encarados como fatos normais, os artistas e arquitetos encontraram refúgio seguro nos conventos. Posteriormente, pela necessidade de expansão, os frades construtores começaram a preparar e a adestrar leigos, proporcionando, a partir do século X, a organização das Confrarias Leigas, que, embora formadas por leigos, recebiam forte influência do clero, do qual haviam aprendido a arte de construir e o cunho religioso dado ao trabalho. 

É dessa época aquela que é considerada a primeira reunião organizada de operários construtores: a Convenção de York, ocorrida em 926 e convocada por Edwin, filho do rei Athelstan, para reparar os prejuízos que as associações haviam tido com as sucessivas guerras e invasões. Nela foi apresentada, para apreciação e aprovação, um estatuto, que, dali em diante, deveria servir como lei suprema da confraria e que é, geralmente, chamado de Carta de York. 

Quase na mesma época, surgiriam associações simplesmente religiosas, que, a partir do século XII, formaram corpos profissionais: as Guildas. A elas se deve o primeiro documento em que é mencionada a palavra “Loja”, para designar uma corporação e o seu local de trabalho. As Guildas e sua contemporânea, a organização dos Ofícios Francos, foram as principais precursoras da moderna Maçonaria. O seu nome “Gild, de origem teutônica, deriva do título dado, na antiga região da Escandinávia, a um ágape religioso, durante o qual, numa cerimônia especial, eram despejados três copos de chifre (chavelhos), conforme o uso da época, cheios de cerveja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelos antigos heróis, e o último em homenagem aos parentes e em memória dos amigos mortos; ao final da cerimônia, todos os participantes juravam defender uns aos outros, como irmãos, socorrendo-se mutuamente nos momentos difíceis. As Guildas caracterizavam-se por três finalidades principais: auxílio mútuo, reuniões em banquetes e atuação por reformas políticas e sociais. Introduzidas na Inglaterra, por reis saxões, elas foram modificadas por influência do cristianismo, mas, mesmo assim, não eram bem aceitas pela Igreja, que não via com bons olhos a prática do banquete, por suas origens pagãs, e a pretensão de reformas políticas e sociais, que pudessem, eventualmente, contribuir para diminuir os seus privilégios e os privilégios das corporações sob a sua proteção. Assim, para evitar a hostilidade da Igreja, cada guilda era organizada sob a égide de um monarca, ou sob o nome de um santo protetor

No século XII, associada às guildas, surgia uma organização de operários alemães, os Steinmetzen, ou seja, canteiros, que, sob a direção de Erwin de Steinbach, alcançariam notoriedade, quando este conseguiu a aprovação de seus planos para a construção da catedral de Estrasburgo e deu um aperfeiçoado sentido de organização aos seus obreiros. Canteiro é o operário que trabalha em cantaria, que esquadreja e trabalha na escultura da pedra bruta; cantaria (palavra derivada de canto) designa a pedra lavrada para as construções. 

Surgem os ofícios francos, ou franco-maçonaria

No século XII, também, iria florescer a associação considerada a mais importante desse período operativo: os Ofícios Francos (ou Franco-Maçonaria), formados por artesãos privilegiados, com liberdade de locomoção e isentos das obrigações e impostos reais, feudais e eclesiásticos. Tratava-se, portanto, de uma organização de construtores categorizados, diferentes dos operários servos, que ficavam presos a uma mesma região, a um mesmo feudo, à disposição de seus amos. Na Idade Média, a palavra franco designava não só o que era livre, em oposição ao que era servil, mas, também, todos os indivíduos e todos os bens que escapavam às servidões e aos direitos senhoriais; esses artesãos privilegiados eram, então, os pedreiros-livres, franc-maçons, para os franceses, ou free-masons, para os ingleses. Tais obreiros, evidentemente, tinham esses privilégios concedidos pela Igreja, que era o maior poder político da época, com grande ascendência sobre os governantes. 

A palavra francesa “maçon”, correspondente a pedreiro, converteu-se em “maison” (casa) e, também, embora só relativamente, em “masse” (maça, clava). Essa maça, ou clava, habilitava o porteiro a afastar os indesejáveis intrusos e curiosos. O pesquisador alemão Lessing, um dos clássicos da literatura alemã, atribui a palavra inglesa “masonry” (maçonaria) a uma transmissão incorreta. Originalmente, a idéia teria sido dada pelo velho termo inglês “mase” (missa, reunião à mesa). Uma tal sociedade de mesa, ou reunião de comensais, de acordo com a alegoria da Távola Redonda, do rei Arthur, poderia, segundo Lessing, ainda ser encontrada em Londres, no século XVII. Ela se reunia nas proximidades da famosa catedral de São Paulo e, quando sir Christopher Wren, o construtor da catedral, tornou-se membro desse círculo, julgou-se que se tratava de uma cabana dos construtores, que estabelecia uma ligação de mestres construtores e obreiros; daí, então, ou seja, dessa suposição errada, é que teria se originado o termo “masonry”, para designar a sociedade dos construtores. 

Uma explicação para o termo inglês “freemason” (pedreiro livre) está ligada ao termo “freestone”, que é a pedra de cantaria, ou seja, a pedra própria para ser esquadrejada, para que nela sejam feitos cantos, que a transformem numa pedra cúbica, a ser usada nas construções. As expressões “freestone mason” e “freestone masonry”, daí surgidas, acabaram sendo simplificadas para “freemason” (o obreiro) e “freemasonry” (a atividade). Esta é uma hipótese mais plausível do que a de Lessing, que só considerou o caso particular da Inglaterra, quando se sabe que não foi só aí que existiu uma íntima ligação com o trabalho dos artífices da construção. 

Nessa fase primitiva, porém, antes de, propriamente, se ter iniciado a formação de Lojas, quase que não se pode falar em Maçonaria no sentido que ela adquiriu na fase moderna, pois, sobretudo, naquele tempo não podia ser considerada como uma sociedade secreta. O segredo não era, a princípio, mais do que o processo pelo qual um dos membros da irmandade reconhecia o outro. Diga-se a bem da verdade, que, na época atual, a Maçonaria já não pode mais ser considerada secreta, mas apenas discreta. Os segredos mais guardados e que persistem são, obviamente, apenas os meios de reconhecimento, reservados só aos iniciados, já que, de posse deles, um não iniciado poderia ter acesso aos templos maçônicos e às sessões das Lojas. 

É criado o importante estilo gótico

Na metade do século XII, surgia o estilo arquitetônico gótico, ou germânico, primeiro no norte da França, espalhando-se, depois, pela Inglaterra, Alemanha e outras regiões do norte da Europa e tendo o seu apogeu na Alemanha, durante 300 anos. Tão importante foi o estilo gótico para as confrarias de construtores, que as suas regras básicas eram ensinadas nas oficinas dos canteiros, ou talhadores de pedra; tão importante que a sua decadência, no século XVI, decretou o declínio das corporações. 

No século XIII, em 1220, era fundada, na Inglaterra, durante o reinado de Henrique III, uma corporação dos pedreiros de Londres, que tomou o título de The Hole Craft and Fellowship of Masons (Santa Arte e Associação dos Pedreiros) e que, segundo alguns autores, seria o germe da moderna Maçonaria. Pouco depois, em 1275, ocorria a Convenção de Estrasburgo, convocada pelo mestre dos canteiros e da catedral de Estrasburgo, Erwin de Steinbach, para terminar as obras do templo. A construção da catedral, iniciada em 1015, estava praticamente terminada, quando foi resolvido ampliar o projeto original e, para isso, foi chamado Erwin A essa convenção acorreram os mais famosos arquitetos da Inglaterra, da Alemanha e da Itália, que criaram uma Loja, para as assembléias e discussão sobre o andamento dos trabalhos, elegendo Erwin como Mestre de Cátedra (Meister von sthul). 

Esclareça-se que, na época, os obreiros criavam uma Loja, fundamentalmente, para tratar de determinada construção, como é o caso dessa catedral. Tais Lojas serviam para tratar dos assuntos ligados apenas à construção prevista, já que, para outras reuniões, inclusive com obreiros de outras corporações, eram utilizados os recintos de tabernas e hospedarias, principalmente em solo inglês. A palavra Loja, por sinal, foi mencionada pela primeira vez em 1292, em documento de uma guilda . Loja, do germânico leubja (pronúncia: lóibja), através do francês lodge, designava o lar, a casa, o abrigo, o pátio, o alpendre e, também, a entrada de edifício, ou galeria usada para exposições artísticas e venda de produtos artesanais. As guildas de mercadores assim designavam seus locais de depósito e venda de produtos manufaturados, enquanto que as guildas artesanais adotaram o termo para designar o seu local de trabalho, ou seja, as oficinas dos artífices. 

Próximo desse tempo, ou seja, no século XIV, começava, também, a atuação do Compagnonnage (Companheirismo), criado pelos cavaleiros templários . Os membros dessa organização construíram, no Oriente Médio, formidáveis cidadelas, adquirindo certo número de métodos de trabalho herdados da Antigüidade e constituindo, durante as Cruzadas, verdadeiras oficinas itinerantes, para a construção de obras de defesa militar, pontes e santuários. Retornando à Europa, eles tiveram a oportunidade de exercer o seu ofício, construindo catedrais, igrejas, obras públicas e monumentos civis. A Ordem da Milícia do Templo, ou Ordem dos Templários, foi uma ordem religiosa e militar, criada em 1118, com estatutos feitos pelo abade de Clairvaux (São Bernardo). Adquirindo prestígio e riqueza, a ordem excitaria a cobiça do rei francês Filipe IV, cognominado “o Belo”, que, com a conivência do papa Clemente V, conseguiu a sua extinção, em 1312, seguida da execução, na fogueira, de seu Grão-Mestre, Jacques de Molay, em 1314. Antes da extinção, necessitando, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos, os templários organizaram o Compagnonnage, dando-lhe um estatuto chamado Santo Dever, de acordo com sua própria filosofia. 

No século XVI, a decadência das corporações de ofício

Já na primeira metade do século XVI, as corporações, diante das perseguições que sofriam --- principalmente por parte do clero --- e diante da evolução social européia, começavam a entrar em declínio. Em 1535, realizava-se, em Colônia, uma convenção, que fora convocada para refutar as calúnias dirigidas pelo clero contra os franco-maçons. Embora ela não tenha tido o brilho e a freqüência de outras convenções, consta, embora tal afirmativa seja contestada, por carecer de comprovação, que, na ocasião, teria sido redigido um manifesto, onde era estabelecido o princípio de altos graus, que seriam introduzidos por razões políticas. 

Em 1539, o rei da França, Francisco I, revogava os privilégios concedidos aos franco-maçons, abolindo as guildas e demais fraternidades e regulamentando as corporações de artesãos. Em contrapartida, em 1548, era concedido, aos operários construtores, de maneira geral, o livre exercício de sua profissão, em toda a Inglaterra; um ano depois, todavia, por exigência de Londres, era cassada a autorização concedida, o que fazia com que os franco-maçons ficassem na condição de operários ordinários, como tais sendo tratados legalmente. Em 1558, ao assumir o trono da Inglaterra, a rainha Isabel renovava uma ordenação de 1425, que proibia qualquer assembléia ilegal, sob pena dela ser considerada uma rebelião. Três anos depois, em dezembro de 1561, tendo, os franco-maçons ingleses, anunciado a realização de uma convenção em York, durante a festividade de São João Evangelista, Isabel ordenou a dissolução da assembléia, decretando a prisão de todos os presentes a ela; a ordem só não foi confirmada, porque lord Thomas Sackville, adepto da arte da construção, estando presente, demoveu a rainha de seu intento, fazendo com que, em 1562, ela revogasse a ordenação de 1425. 

Em 1563, a Convenção de Basiléia, feita por iniciativa da confraria de Estrasburgo, organizava um código para os franco-maçons alemães, o qual serviria de regra à corporação dos canteiros, até que surgissem os primeiros sindicatos de operários, no século XIX. Mas era patente o declínio das confrarias, no século XVI. A Renascença relegara o estilo gótico e a estrutura ogival das abóbadas --- próprias da arte dos franco-maçons medievais --- ao abandono, revivendo as características da arte greco-romana. Assim, embora ela tivesse atingido a todos os campos do conhecimento e a todas as corporações profissionais, foi a dos franco-maçons a mais afetada. No final do século, Ínigo Jones introduzia, na Inglaterra, o estilo renascentista, sepultando o estilo gótico e apressando a decadência das corporações de franco-maçons ingleses. Estas, perdendo o seu objetivo inicial e transformando-se em sociedade de auxílio mútuo, resolveram, então, permitir a entrada de homens não ligados à arte de construir, não profissionais, que eram, então, chamados de maçons aceitos. 

Iniciava-se a transformação na Maçonaria atual 

As corporações, evidentemente, começaram por admitir pessoas em pequeno número e selecionadas entre os homens conhecidos pelos seus dotes culturais, pelo seu talento e pela sua condição aristocrática, que poderiam dar projeção a elas, submetendo-se, todavia, aos seus regulamentos. Era a tentativa de sustar o declínio. 

O primeiro caso conhecido de aceitação é o de John Boswell, lord de Aushinleck --- ou, segundo J.G. Findel, sir Thomas Rosswell, esquire de Aushinleck --- que, a 8 de junho de 1600 foi recebido como maçom aceito --- não profissional --- na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja da Capela de Santa Maria), em Edimburgo, na Escócia. Esta Loja fora criada em 1228, para a construção da Capela de Santa Maria, destinando-se, como já foi visto, às assembléias dos obreiros e discussões sobre o andamento das obras. 

Depois disso, o processo de aceitação, iniciado na Escócia, iria se espalhar e se acelerar, fazendo com que, ao final do século, o número de aceitos já ultrapassasse, largamente, o de franco-maçons operativos. Os mais famosos nomes de “aceitos”, na primeira metade do século XVII, foram: William Wilson, aceito em 1622; Robert Murray, tenente-general do exército escocês, recebido, em 1641, na Loja da Capela de Santa Maria e tornando-se, posteriormente, Mestre Geral de todas as Lojas do Exército; o coronel Henry Mainwairing, recebido, em 1646, numa Loja de Warrington, no Lancashire; e o antiquário e alquimista Elias Ashmole, recebido na mesma Loja e no mesmo dia (16 de outubro) que o coronel Henry. 

Em 1666, os franco-maçons iriam recuperar parte do antigo prestígio, diante do grande incêndio, que, a 2 de setembro daquele ano, aconteceu em Londres, destruindo cerca de quarenta mil casas e oitenta e seis igrejas. Nessa ocasião, os maçons acorreram para participar do esforço de reconstrução, sob a direção do renomado mestre arquiteto Cristopher Wren, que, em 1688, viu aprovado o seu plano para reconstrução da cidade, sendo nomeado arquiteto do rei e da cidade de Londres. A obra principal de Wren foi a reconstrução da igreja de S. Paulo, em cujo adro se desenvolveria e se estabeleceria, em 1691, uma Loja de fundamental importância para a História da Maçonaria moderna: a Loja São Paulo (em alusão à igreja), ou Loja da taberna “O Ganso e a Grelha”, em alusão ao local em que, como faziam outras Lojas, realizava suas reuniões de caráter informal e administrativo, como se verá adiante. A reconstrução de Londres só iria terminar em 1710. 

E nascia a primeira Grande Loja

Como, na época, não existiam templos maçônicos --- o primeiro só seria inaugurado em 1776 --- os maçons reuniam-se em tabernas, ou nos adros das igrejas. As tabernas, cervejarias e hospedarias desse tempo, principalmente na Inglaterra, tinham uma função social muito grande, como local de reunião e de troca de idéias de intelectuais, artífices, obreiros do mesmo ofício, etc. . A Loja da Cervejaria “The Goose and Gridiron” (O Ganso e a Grelha), ou Loja São Paulo, inicialmente formada só pelos maçons de ofício que participaram da reconstrução de Londres, resolvia, em 1703, diante do número cada vez maior de maçons aceitos, em todas as Lojas, admitir, a partir dali, homens de todas as classes, sem qualquer restrição, promovendo, então, uma reforma estrutural, que iria dar o arcabouço da moderna Maçonaria. A admissão, em 1709, do reverendo Jean Théophile Désaguliers , nessa Loja, em cerimônia realizada no adro da igreja de São Paulo, iria apressar o processo de transformação, já que Désagulliers iria se tornar seu lider e paladino. 

A 7 de fevereiro de 1717, Désagulliers conseguia reunir quatro Lojas metropolitanas, para traçar planos referentes à alteração da estrutura maçônica. Nessa ocasião, foi convocada uma reunião geral dessas quatro Lojas existentes em Londres, para o dia 24 de junho daquele ano. Essa reunião foi realizada na taberna “The Apple Tree” (A Macieira), e as Lojas presentes foram, além da “O Ganso e a Grelha”: a da Cervejaria “The Crown” (A Coroa), a da Taberna “Rummer and Grappes” (O Copázio e as Uvas) e a da Taberna “The Apple Tree” (A Macieira). 

E, no dia 24 de junho de 1717, como fora marcado, as quatro Lojas reuniam-se e criavam The Premier Grand Lodge (a Primeira Grande Loja), em Londres, implantando o sistema obediencial, com Lojas subordinadas a um poder central, sob a direção de um Grão-Mestre, já que, antes disso, as Lojas eram livres de qualquer subordinação externa, concretizando a idéia do “maçom livre na Loja livre”. Isso era, portanto, um fato novo e uma grande alteração --- uma verdadeira revolução --- na estrutura maçônica tradicional, o que faz com que esse acontecimento seja tomado como o divisor de águas, o marco histórico entre a antiga e a moderna Maçonaria, ou seja, entre a operativa, ou de ofício, e a dos aceitos, ou especulativa, sua forma moderna. 


 autoria desconhecida)

junho 25, 2025

ARLS TRÍPLICE ALIANÇA 341 - Mongaguá



Dois eventos que marcam a história de minha amada Loja Tríplice Aliança 341 de Mongaguá ocorreram na noite de ontem: o aniversário de 37 anos da Loja e a reassunção do Venerável Mestre Alexandre Lucena, para o segundo tempo, conforme destacou o Orador Claudio Nardi.

A Comissão Instaladora presidida pelo irmão João Roberto da Silva, com os irmãos Salvador Heredia e Antônio Gracioso realizou uma cerimônia brilhante.

Dois dos fundadores da Loja, ainda ativos, Carlos Bastos Campos e José Ricardo Alcântara Ramos foram homenageados. 

Ao final, um lauto ágape finalizado pelo bolo de aniversário. Eu comentei que era uma data especial pois os números perfeitos 3 e 7 somados compõe a década pitagórica de grande importância para a numerologia que estudamos na Ordem.


ÉS AGORA VENERÁVEL MESTRE - Adilson Zotovici




Escolhido com alegria
Após longo aprendizado
Neste inesquecível dia
Num trono foste Instalado

Dele flui sabedoria
Para seres iluminado
Qual a luz do Sol irradia
E como tal caminhado

Com humildade e mestria
Mantém teu grupo irmanado
Com igualdade, à porfia,
E serás por ele amparado

Estende tua mão com energia
A cada igual comandado
Mantém a razão qual vigia
Que boa obra o legado

Inda que grande honraria
Parodiando um ditado
Poder dado em boa quantia
Muito te será cobrado

O Grande Arquiteto te Guia
Por  ELE serás coroado
Artífice da maçonaria...
E um Venerável Mestre amado !



SHIBOLET - Almir Sant'Anna Cruz


 

Segundo os Rituais, Schibolet significa:

Rito de York – Emulação (Grande Oriente do Brasil): “Significa fartura, abundância, sendo aqui representada por uma espiga de trigo e uma queda d’água”.

Rito Moderno (Grande Oriente do Brasil): “Significa numerosas como as espigas de trigo”.

Rito Brasileiro (Grande Oriente do Brasil): “Significa fartura, abundância, e é representada por uma espiga de trigo”.

Rito Adonhiramita (Grande Oriente do Brasil): “Significa espiga e rio e, para nós, significa númerosos como espigas de trigo, porque tão numerosos quanto estas são os membros de nossa Ordem”.

Rito Escocês Antigo e Aceito (Grande Oriente do Brasil): “Significa fartura, abundância e é representada por uma espiga de trigo”.

Rito Escocês Antigo e Aceito (Grande Loja – RJ): “Significa fartura, abundância e está representada no Painel da Loja do 2º Grau por uma espiga de trigo junto de uma queda d’água”.

Rito Escocês Antigo e Aceito (Grande Oriente Independente - RJ): “Significa abundância e está representada no Painel da Loja do 2º Grau por uma espiga de trigo junto de uma queda d’água”.

É interessante observar que os usuários do Painel do Irmão John Harris mencionam a queda d’água e os que não o utilizam (Ritos Moderno, Brasileiro e Escocês do Grande Oriente do Brasil)  se referem apenas à espiga de trigo.

Vejamos agora o que diz a Bíblia em Juízes 12:6:

Tradução de Almeida (baseada na Versão dos Setenta), utilizada pelos Protestantes: Então lhes diziam: Dize pois Chibolete. Porém ele dizia: Sibolete, porque o não podia pronunciar assim bem: então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão, e caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil. 

Tradução de Figueiredo (baseada na Vulgata), utilizada pela Igreja Católica: Eles lhe replicavam: Pois dize Shibolet, *que significa uma espiga*. E quando o outro pronunciava: Sibolet, não podendo exprimir a palavra espiga com a mesma letra; imediatamente preso o degolavam na mesma passagem do Jordão. E assim naquele tempo foram mortos quarenta e dois mil homens de Efraim.

Jefté usou de um ardil discutível quando escolheu a palavra Schibolet – que segundo a Vulgata significa tão-somente “espiga” – para permitir a passagem pelo rio. 

Além dos Efraimitas terem dificuldade de pronunciar o som palatal sibilante “Schi”, trocando-o pelo lingual sibilante “Si”, o fato é que, nas margens de um rio, pedir-se para falar Schibolet, “espiga”, ao invés de Sibolet que significa exatamente “rio”, “curso d’água”, “queda d’água”, convenhamos, poderia induzir até mesmo os seus a incorrerem em erro se não estivessem convenientemente instruídos. 

Assim, fica a dúvida: 42.000 homens foram degolados no Jordão por terem dificuldade de pronunciar a palavra espiga ou, por estarem em um rio, terem falado rio ao invés de espiga?

Concluindo, a espiga e o rio ou queda d’água que compõem o Painel do Irmão John Harris ali estão presentes para contar a história e a importância da escolha da P.’.P.’. do Grau 2. A espiga, a P.’.P.’. correta, Schibolet, e o curso d’água, a P.’.P.’. incorreta, Sibolet.

O que não se diz, mas não é demais aqui ficar registrado, é que ao contrário da guerra dos Gileaditas contra os Amonitas, esta, entre Gileaditas e Efraimitas foi uma guerra fratricida entre duas tribos judaicas. 

Os Gileaditas eram descendentes de Gade, filho de Israel (Jacó) com Zilpa, escrava de Lia, uma de suas mulheres e os Efraimitas eram descendentes de Efraim, filho de José, fruto da relação de Israel (Jacó), com Raquel, sua outra esposa.  O mais destacado Efraimita apresentado na Bíblia foi Josué, sucessor  de Moisés.

Do livro O que um Companheiro Maçom deve saber - Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-135

junho 24, 2025

ALTAR DOS JURAMENTOS - Adilson Casanova Torman





Uma Loja Maçônica simboliza o modo como o Universo era compreendido antigamente. Nossos primeiros irmãos tiveram grande inspiração quando perceberam que o mundo é um templo, coberto por uma abóbada estrelada durante a noite, e iluminado pelo Sol em sua jornada durante o dia. Um Universo no qual o Homem segue adiante em seu trabalho, alternando luz e sombra, alegrias e tristezas, sempre buscando reproduzir na Terra a lei e ordem presentes no Oriente, que é a origem de tudo.

Embora hoje saibamos que o mundo é fisicamente diferente daquele que era conhecido por nossos ancestrais, ainda assim aquela inspiração inicial de nossos primeiros irmãos continua e continuará verdadeira.

Parece-me que a ideia central dessa inspiração é que se o Homem tem o propósito de construir seu próprio Templo Interior, ou se ele está disposto a construir uma sociedade justa e duradoura nessa justiça, então ele deverá estar iniciado nas leis e princípios que regem o Universo no qual ele vive. E para isso, o Homem necessita não apenas de sabedoria, que deve ser desenvolvida, mas também da ajuda de Deus, que é o G:.A:.D:.U:.

Bem por isso em nossas Lojas Maçônicas está o Altar – mais antigo que qualquer Templo, e tão antigo quanto a própria vida mesma. Um foco de fé e união. Um símbolo sagrado daquele pensamento inicial que inspirou a nossa Arte Real. Um símbolo sagrado da existência do G:.A:.D:.U:.. Um símbolo sagrado de nosso propósito de erguer Templos à Virtude e cavar masmorras ao vício.

Nada há de mais impressivo na face da Terra que o silencio de uma reunião de seres humanos curvados diante de um Altar. O instinto que faz com que Homens se reúnam para orar é a mesma força invisível que move Homens a desbastar pedras para construírem templos que corporificam o mistério de Deus.

Até onde conhecemos, o Homem é o único ser em nosso planeta que pára para rezar. E a beleza desse ato nos diz mais sobre nós do que qualquer outro. Por uma profunda necessidade natural, o Homem procura Deus, e em momentos de tristeza ou angústia, ou em momentos de tragédia e terror, ou ainda em momentos de sincera gratidão e felicidade, o Homem deixa de lado suas ferramentas de trabalho e olha para o horizonte. E sem perceber, acaba por fixar seu olhar num ponto mais elevado do relevo que está adiante. Talvez tenha nascido aí o termo Altar, substantivo masculino proveniente do latim altare, que por sua vez derivou do adjetivo latino altus (alto, elevado, levantado).

Pelas consultas realizadas, pude imaginar que a história do Altar na vida da humanidade parece ser uma história mais fascinante que qualquer ficção. Da procura inconsciente deste lugar mais elevado ou alto presente na natureza que o cerca, o Homem evoluiu para construir este Altar perto de si. Inicialmente rudimentares, sua construção dava-se pelo simples amontoar de pedras. A centralidade e importância do Altar tornaram-no mais solene e elaborado, sendo portador de uma série de significados e elemento central dos mais variados rituais (holocaustos, preces, declaração de compromissos, incensações, sacrifícios, etc). Todas as grandes civilizações e culturas humanas ergueram altares: judeus, cristãos, muçulmanos, hindus, romanos, gregos, egípcios, fenícios, incas, maias e astecas. Indígenas e antigos pagãos de todas as partes tiveram e têm seus altares. Nunca, porém, o Altar perdeu sua significação inicial, que é a de conduzir os pensamentos do Homem ao seu elevado deus, seja ele denominado como for, e ao qual chamamos G:.A:.D:.U:..



PEDRA BRUTA E PEDRA CÚBICA - Marcio de Oliveira Cadurim


Quem quer que pretenda entrar na Ordem Maçônica deverá preencher alguns requisitos, dentre os quais o de possuir instruções suficientes que lhe possibilite compreender e aplicar os ensinamentos da Instituição. Não se exige que possua riqueza ou nível superior de escolaridade. Assim é que nela ingressam homens das mais variadas condições sociais, e todos o fazem na mesma condição, simplesmente como Aprendizes.Para podermos compreender o significado da pedra bruta e da pedra cúbica ou polida, devemos primeiramente ter em mente uma visualização panorâmica de uma construção rústica, como, por exemplo, as pirâmides do Egito ou o Coliseu em Roma, onde a pedra usada na construção simboliza o Maçom.

Este deve trabalhar no aperfeiçoamento de si mesmo, combatendo os vícios e glorificando o direito e a virtude, em benefício da sociedade, o que simbolicamente denominamos a construção do Templo.

A filosofia da designação “Pedra Bruta” simboliza o início do aperfeiçoamento moral, que deve buscar todo o ser humano-maçom. Sintetiza, para o Maçom, um objetivo a ser buscado, qual seja, de que através do seu burilar moral, transformará também, simbolicamente aquela pedra bruta numa “Pedra Polida”. Esta conquista representa a passagem do Grau de Aprendiz para o Grau de Companheiro. Representa ainda, uma contribuição que a Maçonaria confere para um efetivo burilar universal a partir do próprio iniciado.

O trabalho atribuído ao Aprendiz para vencer esse primeiro degrau na sua evolução de existência templária é executado na Col∴B∴, sob a orientação do Irmão 1º Vig∴. Sua tarefa básica consiste, portanto, “em desbastar e esquadrejar a pedra bruta”.

Num sentido mais amplo, a filosofia da pedra bruta é embasada no paralelismo verificado do homem da era paleolítica com o neófito recém-chegado à Maçonaria.

Ou seja, o homem que habitava as cavernas tinha uma capacidade intelectual quase nula, na medida em que eram criaturas sem instrução, por conseguinte, rudes e impolidas, assemelhando-se ao sentimento de despreparo do neófito ao tomar conhecimento do complexo da instrução ministrada pela Maçonaria, daí porque o proclama com mero aprendiz.

Assim, conforme explicado, o neófito aprendiz deverá ser induzido a trabalhar simbolicamente no desbastar da pedra bruta, pedra essa de formas toscas e imperfeitas, objetivando a sua lapidação. Portanto, o transformar de uma pedra bruta informe e irregular numa pedra lapidada significa simbolicamente uma etapa da evolução do homem-maçom na sua carreira templária, caracterizando a lapidação de seu ego, conforme já indicado.

Da mesma forma quando no início fiz uma referência à construção das pirâmides do Egito, assim é o aprendiz. A pedra bruta nada mais é que o Aprendiz, em que cada pedra toda deformada, de várias assimetrias, uma diferente da outra, com medidas e pesos diversos, vão sendo colocadas uma a uma, lado a lado e em cima da outra, de formas geometricamente alinhadas, formando um encaixe perfeito, que aos poucos e através de ardilosos trabalhos, irão recebendo forma, uma aparência de monumento, mesmo que aparentemente abstrato ou intrínseco no começo, é que percebemos o nascimento de um Maçom, onde o tornará Mestre-Maçom.

O atingir daquele objetivo representa que o aprendiz terá vencido a si mesmo, desfraldando a bandeira da sua evolução interior. Terá descoberto seus defeitos, suas fraquezas, seus deslizes e suas vaidades, que o fará pensar tão somente em construir o poder do seu próprio caráter virtuoso, que outra coisa não é senão a base fundamental do templo moral de sua vida, consubstanciado pelo seu ajustamento à índole dos símbolos maçônicos e, sobretudo, aos mandamentos divinos.

Ressalte-se que o trabalhar na pedra bruta é um caminhar ininterrupto na busca do ideal de uma moralização plena do indivíduo. Deve-se entender como um processo de aprendizado contínuo porque, embora a simbologia maçônica estabeleça o trabalho na pedra bruta apenas no grau inicial de aprendiz para efeito de evolução do maçom na vida templária, o ser humano, em sua essência, não é desprovido de sentimentos como a inveja, o egoísmo, a luxúria, a cobiça, a intolerância, etc., que corroboram para dificultar a consecução de um estágio moral supremo. Aqueles poucos que atingem em vida esse estágio, prestam elevados serviços à Humanidade.

A “Pedra Bruta” simboliza, portanto, que o Aprendiz-Maçom deve ser induzido a trabalhar no seu desbaste, porque possui formas imperfeitas, objetivando a sua lapidação.

O transformar, então, de uma pedra informe numa pedra esculpida representa que o Homem-Maçom adquiriu força de caráter voltado para um ideal elevado, ferramenta fundamental para desempenhar uma liberdade bem dirigida aos interesses da Humanidade e de sua Pátria, pois eliminou os traços de egoísmo e ambição, que se verdadeiramente postos em prática contribuirão para uma contínua transformação do Mundo para melhor.

Assim que forem ocorrendo estas transparências de aperfeiçoamento, extinção de seus vícios adquiridos no decorrer de sua vida, o Aprendiz vai tomando formas mais justas, perfeitas para atingir o seu ego, tornando-o mais puro, sublime e harmonioso.

Dessa forma mais trabalhada, essa pedra passa a ter outro nome, onde ela depois de passado por todos os obstáculos, todos os procedimentos de preparação, é que ela forma a “Pedra Polida” ou cúbica. É a etapa final da construção. A pirâmide está construída. Mas não para por aí.

Agora vem os acabamentos, as manutenções do dia-a-dia, as faxinas diárias. É nessa etapa que o Mestre Maçom deverá provar através de seu conhecimento, colocar em prática toda a sua sabedoria para transformar-se cada vez em um ser melhor, para si mesmo e para com os que estão ao seu redor.

Assim é a minha percepção desde que fui iniciado na Maçonaria. Posso dizer que não tinha controle de pequenos atos que o profano possui ao entrar na maçonaria, são vícios vitais, adquiridos desde o nosso nascimento até os dias atuais, como espinhos que fere sem sentir dor, como o egoísmo, a inveja, mesmo que passavam despercebidos, mas que hoje eu tenho controle de repelir do meu ego.

O meu objetivo, é trabalhar insistentemente todo dia, corrigindo as irregularidades, e arestas inúteis, desbastando todas as saliências, deixando a pedra mais lisa, polindo-a dia-a-dia, para tornar-me um mestre maçom no mais puro e verdadeiro sentido.

Este trabalho deve ser feito por si mesmo, obter um aperfeiçoamento, sentir as misteriosas harmonias das esferas superiores unirem-se a estas harmonias e compreender que elas não podem ter sido formadas nem por acaso nem sem uma finalidade.

É preciso que o iniciado se coloque por ele mesmo num estado físico e moral que permita estas revelações que resultam de uma iluminação última que se merece.


Referências bibliográficas

DYER, Colin. O Simbolismo na Maçonaria. São Paulo: Madras, 2013.

PEDRA CÚBICA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2012. .

PEREIRA, Carlos Alberto. Desbastando a pedra bruta. Disponível em:

<http://www.maconaria.net/portal/index.php/artigos/46-pedra-bruta.html>

SÃO JOÃO PRENUNCIA NOSSO ZÊNITE - Bruno Bezerra de Macedo


João, filho de Zacarias, da Tribo de Levi, e filho de Isabel, da Tribo de Judá, ocupa a posição sobre a qual o indivíduo encontra-se, especificamente, no ponto mais alto da órbita celeste para ver e observar a trajetória dos elementos e astros que o circundam, tendo um vasto horizonte para explorar e experimentar. Esse ponto chama-se zênite: “Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (2).

O zênite do sol sobre a terra ocorre apenas duas vezes ao ano e somente nas latitudes entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, exatamente no instante em que o Sol atinge a sua declinação máxima ou mínima, dependendo do hemisfério em que se o observa. Por ser o dia de maior noite no ano, o solstício de Inverno (21 de Dezembro, no hemisfério Norte e 21 de Junho no hemisfério Sul) é associado à morte, ao desconhecido ou à escuridão, enquanto o dia de maior claridade (21 de Junho, no hemisfério Norte e 21 de Dezembro no hemisfério Sul) é associado a Vida ou à Luz (solstício de Verão). 

Na antiguidade, as iniciações eram feitas sempre no solstício de Inverno, porque sendo o último dia de maior noite, marca do início do ciclo de dias de luz cada vez maiores; certificando a saída do mundo dos mortos (a noite, a escuridão) e/ou a entrada no mundo dos vivos (o dia, a Luz). As iniciações têm, assim, o significado de renascer, ou nascer de novo para a Luz; o renascimento assume, assim, a relevância simbólica da vida que se renova, após a grande noite (morte). “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (3). 

No Egito antigo, os Faraós eram reiniciados a cada novo solstício de inverno. As Pirâmides foram construídas em alinhamento para receber o Sol de frente à porta de entrada, exatamente no dia do solstício de Inverno. Em diversas outras civilizações, as grandes obras de arquitetura foram construídas com este alinhamento e com este objetivo. “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (4).

A iniciação nos “augustos mistérios”, portanto, não é apenas uma formalidade, mas um processo transformador que envolve a revelação gradual de conhecimentos e a prática de rituais que buscam a evolução do indivíduo.  A "iniciação", dentro de um contexto iniciático como a Maçonaria, é um ritual ou conjunto de rituais que marcam a entrada de um novo membro e o início de sua jornada de aprendizado. Estes ensinamentos podem incluir filosofia, ética, moral, simbologia e práticas ritualísticas que visam aprimorar o conhecimento, a sabedoria e a virtude do iniciado. O termo "augustos mistérios" refere-se aos ensinamentos transmitidos durante a iniciação, que são considerados sagrados, profundos e muitas vezes secretos.

“Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre” (5). Desta forma, tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. 

Sob este auspício, na Inglaterra, onde a primeira Obediência Maçônica do mundo foi fundada em 1717, exatamente no dia de São João Batista, o antigo símbolo maçônico de um círculo ladeado por duas linhas paralelas, sendo este, talvez, um dos símbolos mais antigos da humanidade ainda em uso em nossos dias, imprime deste então ao mundo a simbologia das linhas paralelas dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, que possuem ligação direta com a observância dos Solstícios, transformados em São João Batista e São João Evangelista. Ou seja, as Lojas Maçônicas não são Lojas Solsticiais – que contemplam unicamente os movimentos do Sol e seus prodígios na natureza – mas, sim, e antes de tudo, Lojas de São João – que emancipam o homem.

Neste toar, São João Batista, o profeta que anuncia e prepara, no sistema iniciático, a vinda da Luz. Ele ensina a humildade, a renúncia ao ego, sem as quais a iniciação e o progresso espiritual são impossíveis: "É preciso que ele cresça e que eu diminua"(6). Haverá, pois, expressão mais profunda? Afinal, pobre do Mestre que não aspira ser ultrapassado pelo seu discípulo.  João Batista simboliza, assim, o grande iniciador, o Mestre sábio que prepara, humildemente, o caminho ao Aprendiz. Cada iniciação envolve superar obstáculos, medos e ilusões para alcançar um novo patamar de consciência. “Pois, Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio” (7). 

Claramente, o objetivo final desta expansão da consciência, leva o indivíduo a uma compreensão mais profunda da realidade e do seu lugar no universo e São João Evangelista, filho de Zebedeu, da Tribo de Levi; e de Salomé, da Tribo de Benjamim, fidedignamente representa o Irmão, que tendo recebido a Luz, a dimana com sabedoria, identificando-a com o Verbo e com o Amor. Ao passar por esses processos, o indivíduo se torna mais consciente de si mesmo, do mundo e do seu propósito na vida. Essa jornada de autoconhecimento e transformação leva a uma vida mais plena e significativa. Sendo assim, “acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito” (8).

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REFERÊNCIAS INSPIRADORAS

(2) Sagradas Escrituras, João 1:6-9

(3) Sagradas Escrituras, 1 Pedro 1:23

(4) Sagradas Escrituras, Efésios 4:22-24

(5) Sagradas Escrituras, Colossenses 3:11

(6) Sagradas Escrituras, João 3:30

(7) Sagradas Escrituras, 2 Timóteo 1:7

(8) Sagradas Escrituras, Colossenses 3:14

junho 23, 2025

 Essa é pra pensar.

Cabe uma incursão bem profunda ao no sso interior.

O valor das coisas é o substrato das nossas percepções.

Sejam nas nossas atitudes, nos nossos sentimentos, mas sobretudo nas nossas emoções.

O valor das coisas, lá no fundo, é uma questão de distância.

Antes de ter, a vontade é mais acentuada e às vezes até aflitiva e o valor parece inestimável.

Quando se tem, torna-se algo pertinente, rotineiro, circunstante e ganha um aspecto trivial e não há mais distância.

Porém...quando se perde, aí sim o cenário torna-se mais crítico.

Muitas vezes, falta-nos o chão. 

Quando se perde, se condensam as experiências do que se almejava, do que se teve e da dor e da frustração daquilo que se foi...e a distância se torna infinita.

Assim somos nós, passageiros transitórios da vida e de tudo o que nos cerca. No

A experiência é cíclica e contribui para que possamos aprimorar nosso nível consciencial.


NEWTON AGRELLA

NOBLESSE OBLIGE - Heitor Rodrigues Freire


Todos nós somos filhos do Pai Altíssimo, que nos criou livres e iguais para, assim, termos a oportunidade de nos desenvolver por nossos próprios meios, para conquistarmos nossa evolução. A única diferença entre nós é o modo como utilizamos o conhecimento de que somos dotados. Só depende de cada um.

No livro Deuteronômio, o quinto do Pentateuco da Bíblia Sagrada, no capítulo 30, versículos 11-14, Deus declara a Moisés: “Este mandamento que hoje lhe ordeno não é muito difícil, nem está fora do seu alcance. Ele não está no céu, para que você fique perguntando: ‘Quem subirá até o céu para trazê-lo a nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática?’ Também não está no além-mar, para que você fique perguntando: ‘Quem atravessará o mar, para trazer esse mandamento até nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática?’ Sim, esta palavra está ao seu alcance: está na sua boca e no seu coração, para que você o coloque em prática”.

Assim, Deus concedeu a cada um de nós o mesmo mandamento e o fez da mesma forma, sem distinção. O mandamento do Pai Altíssimo está em nossa palavra e em nosso coração. Cabe a cada um procurá-lo, encontrá-lo e praticá-lo. Somos todos nobres de origem, independentemente de raça, gênero, classe social, nacionalidade, religião ou época. Afinal, somos todos filhos do Pai.

Dessa forma, nosso comportamento deve ser sempre nobre, pois noblesse oblige: a nobreza obriga. Devemos agir de uma forma que esteja de acordo com a nossa natureza, a nossa graduação original e a nossa consciência. Indo diretamente à fonte, que mora em nosso coração. A tradução literal dessa frase quer dizer “a nobreza manda”, e para entendê-la é bom que se volte um pouco no tempo e que pensemos na história. 

Houve uma época em que as normas de conduta ética e moral eram transmitidas às novas gerações pelas classes dominantes: a aristocracia, os intelectuais, os escritores, os artistas, ou seja, pela elite, aquela categoria de pessoas que tinha acesso ao conhecimento e, por isso, era um exemplo de conduta. Isso mudou muito hoje em dia, mas o significado da frase permanece. Quando, por exemplo, nos confrontamos com uma situação em que o outro lado age de maneira rude ou equivocada, noblesse oblige: independentemente de quão rude agiu o outro lado, por mais tentador que seja, jamais devemos sair da atitude correta – e a atitude correta acaba desarmando ou neutralizando a grosseria cometida pelo outro lado.

Noblesse oblige é uma frase que deveria se fazer mais presente em nosso cotidiano e sobre a qual deveríamos refletir com mais frequência. 

Na realidade, houve uma renúncia, por desconhecimento, ao direito que cada um tem de acessar seu coração e obter diretamente, sem intercessão de quem quer que seja, a ligação direta com o nosso Pai. Sem dogmas, sem rituais, sem liturgia.

O primeiro passo para a evolução é o discernimento. E o que ele significa? Discernimento é a capacidade de decidir por nós mesmos, ter a confiança de que somos capazes de pensar com a própria cabeça, sem nos deixar influenciar por quem quer que seja. “Tudo é permitido. Mas nem tudo convém. Tudo é permitido. Mas nem tudo edifica.” São palavras de Paulo na 1ª Carta aos Coríntios, capítulo 10, versículo 23. Ou ainda: “A liberdade é bonita, mas não é infinita. Acredite: a liberdade é a consciência do limite” (letra da canção A liberdade é bonita, de Jorge Mautner com José Miguel Wisnik). 

Paulo também afirmou, na Carta aos Gálatas, capítulo 5, versículos 22-23: “Mas o fruto do Espírito é amor, é alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si”. Ele mostra o caminho para a prática do mandamento que Deus nos concedeu e que colocou em nosso sentimento (coração) e em nossa palavra (boca).

Já que estamos com Paulo, na 1ª Carta aos Coríntios, capítulo 13, ele também escreveu que o caminho que ultrapassa todos os dons e ao qual todas as pessoas devem aspirar é o amor. O amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva as pessoas a discernir as situações e a criar gestos oportunos. No versículo 13, ele encerra: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.

Voltando ao conceito noblesse oblige, não nos deixemos dominar por outro sentimento que não seja o amor, que tudo encerra e tudo engloba.


PEDREIROS X MAÇONS OPERATIVOS


Para que se possa bem compreender o que se segue, é importante lembrar que a palavra Maçom vem do inglês Mason e do francês Maçon, todas significando Pedreiro.

Mas faço aqui distinção entre Pedreiro e Maçom Operativo. Nem todo Pedreiro era um Maçom Operativo, mas todo Maçom Operativo era Pedreiro, ou seja, os Maçons Operativos eram pedreiros profissionais dedicados a construção de edificações, mas com o diferencial de estarem congregados em uma corporação do ofício, com suas histórias lendárias, fundamentos morais e obrigações, com seus segredos profissionais e  que, com o passar do tempo, com a decadência dessas corporações, passaram a admitir pessoas não profissionais, os “Aceitos”, que, tornando-se maioria, deram origem à Maçonaria Especulativa, de “Pedreiros” construtores de seu Eu e da Sociedade.

Ora, os Pedreiros surgiram muito antes de qualquer tipo de organização operária e, portanto, não havia uma Maçonaria. Segundo uma lenda Maçônica pouco conhecida, depois de expulso do Éden, Caim se uniu a Lebuda, gerando Enoque (Gênesis 4:17), que ensinou os homens a talhar a pedra, reunir-se em sociedade e construir seus edifícios. Foi, então, o primeiro Maçom? Não! Foi o primeiro Pedreiro! 

Depois o ofício de pedreiro foi se disseminando e temos a construção bíblica da Torre de Babel (Gênesis 11:9), evidentemente construída por Pedreiros. Maçons? Não! Pedreiros. 

E as monumentais pirâmides egípcias, que sobrevivem até os nossos dias, foram construídas por Maçons? Não! Por pedreiros! 

E chegamos a construção do Templo de Salomão, por Fenícios da cidade-estado de Tiro, por um acordo entre o rei Salomão e o Rei Hiram. Esses fenícios eram Maçons? Não! Pedreiros. 

Passamos para os construtores de palácios e templos da antiga Grécia. Eram Maçons? Não! Pedreiros. 

Nas Américas, Maias, Incas e Astecas construíram templos e pirâmides. Eram Maçons? Não! Pedreiros! 

Em Roma surgem as primeiras organizações de Pedreiros, os Collegia artificum e os Collegia fabrorum, criados por Numa Pompilio. Eram Maçons? Não! E as organizações eram Maçonaria? Não! 

Chegamos então à Idade Média, em que a sociedade era feudal e criam-se as corporações de ofício de artesãos e de certas profissões, como as de alfaiates, chapeleiros, carpinteiros, cuteleiros, ferreiros, sapateiros, seleiros, lenhadores e pedreiros, entre outros. Invariavelmente, essas corporações possuíam seus segredos profissionais e praticavam rituais de recepção de calouros, de cunho mais ou menos espiritual, em que se mesclavam práticas vulgares, por vezes obscenas, grosseiras e com paródias de ritos religiosos, sendo certo que não há como se comparar essas práticas com as dos pedreiros, verdadeiros Maçons Operativos, a quem o conhecimento da Geometria lhes conferia um enobrecimento intelectual.

Além disso, ao que se saiba, a única corporação que tinha o privilégio de circular livremente entre os diversos feudos era a dos Pedreiros (Maçons Operativos), daí a denominação Freemason em inglês e Franco-Maçom em francês, pois seus principais clientes eram a nobreza e a Igreja, para a construção de castelos, palácios, templos e catedrais.

Sobreviveram desse período medieval alguns manuscritos com os estatutos dessas diversas corporações operárias, daí se conhecer algumas de suas práticas. 

No caso dos Pedreiros (Maçons Operativos), esses manuscritos são denominados tecnicamente pela Maçonaria Especulativa de Old Charges, Antigas Obrigações, Antigos Deveres, Antigas Constituições ou Constituições Góticas. Muitas dessas práticas sobreviveram a trnsformação da Maçonaria Operativa em Maçonaria Especulativa.

Com a decadência das corporações de ofício, os Maçons Operativos passaram a admitir pessoas dissociadas da arte de construir, os “Aceitos”, sobretudo nobres, militares e antiquários e, com o advento do Iluminismo, intelectuais, místicos, alquimistas, etc, que passaram a ser predominantes nas Lojas operativas.

Finalmente, em 1717, com a reunião de 4 Lojas de Londres, formou-se a Grande Loja de Londres, marco da definitiva transformação da Maçonaria Operativa em Maçonaria Especulativa, a Maçonaria que conhecemos atualmente.


Autoria desconhecida

junho 22, 2025

SÍNDROME DE CARÊNCIA DE PROTAGONISMO - Marcelo Duarte Lins


Um dia você é chamado de “doutor”, “comandante” ou seja lá qual for o título de autoridade civil ou militar. 

No outro, é só o seu Fulano da caminhada matinal, a dona Cicrana do pilates das nove, a voz que o neto chama para ajeitar o Wi-Fi.

E tudo bem.

Durante anos — décadas, talvez — você construiu, decidiu, liderou.

Resolveu problemas que pareciam montanhas.

Carregou a casa, a empresa, o Estado — o mundo, quem sabe — nas costas.

Teve horário, metas, gente que dependia de você.

Chamavam, você respondia. Ordenava, e o mundo obedecia. Ou quase.

Mas enquanto o mundo obedecia, havia um outro mundo que crescia — e que, muitas vezes, você mal viu crescer.

Filhos que aprenderam a andar, falar, sofrer e se virar sem você.

No fundo, você prometia a si mesmo que um dia compensaria o tempo.

Esse dia chegou. E, para sua surpresa, não é mais com os filhos — é com os netos.

Agora, o crachá foi entregue, o e-mail corporativo desativado, a agenda virou um caderno de aniversários e exames de rotina.

Um clique silencioso no botão “sair”.

E então começa o verdadeiro login: o da vida que existia por trás da função.

No início, é estranho.

Acordar sem pressa.

Almoçar sem o celular à mesa.

Não precisar provar nada a ninguém.

Parece perda.

Mas, com o tempo, a gente descobre que é ganho.

É quando o ego — aquele bicho barulhento e faminto — finalmente vai dormir mais cedo.

As vaidades começam a se despentear.

E o poder, coitado, vira uma piada interna entre lembranças e ironias.

Há uma liberdade secreta — e quase sagrada — em deixar de ser importante.

Depois que os holofotes se apagam e as salas esvaziam, sobra um silêncio que assusta no início, mas logo revela algo raro: a chance de ser inteiro sem precisar ser centro.

É nesse intervalo entre a grandeza e o anonimato que mora uma liberdade que poucos aceitam — a de não precisar provar mais nada.

Ser ex-presidente, ex-artista da moda, ex-chefe temido ou ex-qualquer-coisa relevante exige mais do que currículo.

Exige maturidade para suportar o eco do próprio nome dito cada vez menos.

Há quem aceite essa travessia com dignidade, transformando passado em legado e presente em sossego.

E há quem se agarre a qualquer manchete, a qualquer aplauso residual, como quem se recusa a apagar as luzes do palco mesmo quando a plateia já foi embora.

Que a vida pregressa sirva de boas lembranças, orgulho e referências — não de prisão.

Viver de glórias passadas é confortável, mas perigoso.

Morar no passado é correr o risco de se tornar o próprio fantasma do metrô no filme Ghost — aquela alma inquieta, presa entre estações, que assombra os outros no vagão porque não consegue aceitar que o tempo passou.

Há dignidade em reconhecer a importância que se teve.

Mas há ainda mais liberdade em não precisar provar isso o tempo todo.

Nesse novo tempo, surgem outras rotinas: o café sem pressa, a leitura sem prazo, a escuta sem interrupção.

Aparece uma nova importância — mais discreta, mas muito mais verdadeira.

Porque já não importa o que você faz.

Importa quem você é.

Agora, você é o dono do cachorro Weiss e da gata Menina Chanel.

E as pessoas da praça nem sabem seu nome — quanto mais o que você já foi.

E não faz falta.

As ilusões do “ser alguém na vida” se dissolvem como espuma.

E o que sobra é a essência:

O prazer de uma conversa boa.

A alegria de ensinar sem cobrar.

O tempo de ouvir mais do que falar.

A leveza de não ser mais “necessário” — e descobrir que isso é liberdade, não desprezo.

Talvez o que antes era ausência agora vire presença.

A pressa que te levou embora dos aniversários dos filhos cede lugar à calma de montar quebra-cabeças com os netos.

O conselho que você não deu aos 17, você agora sussurra aos 7 — com voz mais mansa, com menos urgência, com mais amor.

Os netos não são só a continuação da linhagem: são a chance de acertar com mais ternura onde antes só houve esforço e intenção.

A verdadeira grandeza talvez esteja em saber sair de cena. E permanecer inteiro.

Quem já foi importante, se souber deixar de ser, talvez descubra que o anonimato é só outra forma de liberdade — menos barulhenta, mas muito mais leve.

Alguns chamam de aposentadoria.

Outros, de desaceleração.

Mas talvez seja apenas o início da verdadeira vida adulta: aquela em que você vive, enfim, para si mesmo — sem script, sem performance, sem palco.

E é nesse silêncio do “já fui” que se escuta, pela primeira vez, o que você sempre foi.

Sem cargo, sem salário, sem plateia.

Só sabedoria.

E paz.

Porque a verdadeira importância pode estar, agora, em ter o tempo inteiro para fazer coisas simples que levam à felicidade:

Brincar com um neto.

Passear com o cachorro.

Conversar com velhos amigos.

Sentar à mesa com quem sempre esteve por perto — mesmo quando o mundo exigia que você estivesse longe.

É a liberdade de quem já foi importante.

E, enfim, aprendeu a ser presente.

MUDANÇA LEGAL - Adilson Zotovici


 

Tem que haver muito cuidado

E também discernimento

Com o que convencionado

Aceito sem constrangimento


Se não houver concordado

Com teor em detrimento

Que anterior adotado

Busque o legal instrumento


Tem que ser observado

Seu inicial intento

Por maioria aprovado


Moral comprometimento

Com ritual praticado

Tal Estatuto ou Regimento !