janeiro 26, 2024

DO PECADO ORIGINAL - Heitor Rodrigues Freire



Santo Agostinho (354-430), um dos doutores da Igreja, criou uma base teológica e doutrinária para o catolicismo que até então carecia de uma orientação que fundamentasse sua força institucional.

A discussão sobre o “pecado original” perpassa os séculos desde que Agostinho, baseado em seus estudos teológicos, cunhou essa expressão, criando um dos grandes traumas da porção ocidental cristã da humanidade. 

Esse pecado decorre da desobediência de Adão e Eva, que segundo narra o Antigo Testamento, comeram o fruto proibido da árvore do conhecimento, e com isso infringiram a única regra imposta em todo o paraíso. O deus bíblico parecia querer que Adão e Eva vivessem para sempre em estado de contemplação. E se assim fosse, como ficaria a evolução da espécie?

Ainda segundo a Bíblia, esse pecado de origem seria congênito e hereditário, isto é, inato e passaria de uma geração para outra. Todos nós, de formação cristã, já nasceríamos com a mancha de um pecado para o qual não contribuímos e que nos foi imposto por hereditariedade. Nasceu, já é pecador. Um pecado contraído de forma hereditária e não cometido, mas penalizado.

A imposição do pecado original disseminada pela Igreja ganhou força por essa interpretação de Santo Agostinho, no ano 400 da era cristã, em decorrência de sua imensa influência, e o estendeu ao resto da humanidade, como consequência do ato fundador da expulsão de Adão e Eva do paraíso.

Assim, conforme Agostinho, o pecado seria herdado por toda a humanidade, cuja redenção dependeria unicamente do sacrifício de Jesus, que teria vindo ao mundo para nos salvar.

Essa imposição contraria a justiça infinita de Deus: Ele é justo e não nos impõe algo que supere nossas forças, e não dá a alguém um auxílio maior do que a outrem. Perante Deus, somos todos iguais, titulares de direitos e de deveres igualitários. A diferença vai decorrer do comportamento de cada um.

É exatamente essa a tese do monge bretão Pelágio (360-435), que corajosamente se contrapôs ao todo-poderoso bispo Agostinho, cuja palavra era lei nos lugares de influência da Igreja Católica. Segundo Pelágio, o pecado de Adão afeta apenas a Adão, não seria congênito. Ao homem foi dada absoluta liberdade: a vontade do homem é perfeitamente livre, dependente apenas de si mesmo para evitar o pecado. A essa doutrina foi dado o nome de pelagianismo, em homenagem ao seu autor.

A doutrina espírita, no livro A Gênese, ensina que “a única interpretação racional do pecado original é o pecado próprio de cada indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de um outro que nunca conheceu...” – ou seja, para o espiritismo não há pecado hereditário.

Santo Agostinho também defendia a pré-destinação, ou seja, a ideia de que a vida de todas as pessoas é traçada anteriormente por Deus. A prevalecer esse entendimento, ao nascimento de cada pessoa deveria corresponder um manual, indicando todo esse traçado.

Mas há nesse pensamento uma grande contradição, porque ele mesmo, Agostinho, em outra interpretação, afirmava que algumas pessoas alcançariam a salvação pelo uso do livre arbítrio. Dessa forma, o indivíduo teria a chance de determinar sua conduta de acordo com a própria consciência, sendo assim o agente da própria salvação, de acordo com seus atos.  

São Tomás de Aquino (1224-1274), outro eminente doutor da Igreja, veio dar força à teoria do pecado original de Agostinho, que acabou consagrando essa tese, sacramentada definitivamente durante a realização do Concílio de Trento (1545-1563) – ganhando, assim, o respaldo oficial da Igreja no Concílio mais longo de toda a história do catolicismo.

Mas Tomás de Aquino também cai em contradição: entre tantos estudos e teses, ele elaborou o Tratado da Prudentia, que afirma a primazia da virtude da prudentia, no qual  destaca dois elementos-chave: “o mistério e a liberdade, na qual cada pessoa é a protagonista de sua própria vida, só ela é responsável por suas decisões livres, por encontrar os meios de atingir o seu fim, ou seja, a sua realização pessoal”.

Aprendi, como livre-pensador que sou, que o importante é entender que as respostas, todas, estão dentro de cada um de nós. O que implica a consciência da responsabilidade de cada um.  Nada é certo, nada é errado. O que existem são consequências.

Quando começamos a despertar para o verdadeiro significado da nossa encarnação, percebemos que somos seres em evolução; nenhum de nós foi criado pronto e acabado. Tudo vai depender dos nossos atos, e essa situação nos põe como verdadeiros construtores do nosso ser – e como tal, parceiros de Deus. E isso se constitui no grande encanto da nossa existência.

A única certeza do que possuiremos em toda a nossa encarnação é o nosso corpo. Que deixaremos quando desencarnarmos.

Assim, libertando-nos da pecha do pecado original pela consciência do que somos verdadeiramente, cabe-nos fazer a nossa parte, porque só cada um pode decidir a própria vida. 

Somos criados originalmente livres, maravilhosamente livres e responsáveis pelo nosso destino, responsáveis por tudo aquilo que fizermos, pois na medida exata do que dermos, receberemos. Entender isso é o começo da libertação. Não existe nenhuma mágica. É dar e receber, como magistralmente ensinou Jesus.

Assim, concluo que o pecado original, na verdade não existe, apesar de toda sua fundamentação doutrinária e teológica. 


COMIGO NINGUEM BODE - Roberto Ribeiro Reis


A despeito do bem que existe,

A humanidade inda insiste

Em fazer culto à maldade;

Uma triste apologia incisiva

Criada pela mídia televisiva

E pelos meios de publicidade.


Assistimos à destruição da terra,

E à banalização da guerra,

Qual uma série hollywoodiana;

O mal reverbera pelo noticiário,

Isso é bem próprio do ideário

Da mentalidade profana.


Meu Irmão, jamais se acomode,

Use a Arte Real,que ela pode

Promover a mudança necessária;

O triste cenário que vemos agora

Só vai mudar de dentro para fora

Sendo a Maçonaria revolucionária.


Usemos o “comigo ninguém bode”,

Planta maçônica que nos acode

Quando precisamos de energia;

Ela extermina qualquer falácia,

Pois é inspirada na Acácia,

Gera paz e harmonia.


A natureza é bem que veio do céu,

Vai descortinar esse obscuro véu

Da matéria que a todos assola;

A Luz Infinita é doação do Criador,

Recebê-la é bênção de vital valor:

Ao homem cura e também consola!






janeiro 25, 2024

JOÃO RAMALHO - O PATRIARCA DOS PAULISTAS



João Ramalho Maldonado foi um aventureiro e explorador português. Viveu boa parte de sua vida entre índios tupiniquins, após chegar no Brasil em 1515. Foi, inclusive, chefe de uma aldeia, após se tornar amigo próximo do cacique Tibiriçá, importante líder indígena tupiniquim na época dos primeiros anos da colonização portuguesa no Brasil. Teve um papel importante na aproximação pacífica entre índios e portugueses, principalmente na chegada de Martim Afonso de Sousa no Brasil, com quem se encontrou no território de São Vicente, e criou grande amizade. Vivia no povoado de Santo André da Borda do Campo, que em 1553 foi transformado em uma vila pelo governador-geral do país na época, Tomé de Sousa. Ramalho foi vereador e alcaide (prefeito) da vila. 


Em 1562, João Ramalho foi designado a capitão-mor da Praça ou de São Paulo (uma espécie de protetor da região) por decisão popular, e lhe teve atribuída a tarefa de comandar a resistência da vila.  Ao lado de Tibiriçá, Ramalho e o povo de São Paulo conseguiram repelir os índios que cercaram a região. Teve relações com várias mulheres indígenas, mas sob influência do Padre Manuel da Nobrega casou-se com Bartira, filha de Tibiriçá, maior chefe guerreiro da região, batizada de Isabel Dias, tiveram nove filhos juntos, e dessa união descendem inúmeras das mais tradicionais famílias paulistas atuais.


João Ramalho deixou como descendentes a chamada dinastia de mamelucos, filhos de portugueses com indígenas, e teria recebido apelidos como o pai dos paulistas e o fundador da paulistanidade. Entre as famílias tradicionais fundadoras de São Paulo de Piratininga (em 1554) que se misturaram com os descendentes de João Ramalho, destacam-se, entre outras: os Leme, Prado, Almeida, Castro, Monteiro de Castro, Almeida Prado, Silva Prado, Castro Prado, Cardoso de Almeida, Pinheiro Guimarães, Bueno da Silva, Furquim, Castanho, Almeida Castanho, Freitas, Cunha Gago, Cunha Bueno, Dias, Botelho, Arruda, Arruda Botelho, Afonso Gaia, Rendon, Moraes Antas, Fernandes Reis, Fernandes Gonçalves Reis, Fernandes , Gama, Nogueira da Gama, etc


Fonte: A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900.

Ref Terra de Santa Cruz

SALVE SÃO PAULO - Newton Agrella

São Paulo é uma cidade singular.

Aliás, o que de mais intrigante ocorre por aquí é que o que menos se encontra na cidade são "paulistanos".

Os sotaques são múltiplos. 

Os sons se propagam sob fortes influências externas.

São estrangeiros das mais diversas nacionalidades e brasileiros que aqui vivem ou que  simplesmente por aquí transitam, vindos dos mais diversos locais do país. 

Sejam do interior do próprio Estado quanto dos mais distantes rincões do Brasil.

Esse "melting pot" é o que enseja uma espécie de caleidoscópio de cores, imagens e traços culturais que conferem à cidade um caráter realmente cosmopolita.

São Paulo não dorme. Cochila quando muito. 

Viiver aquí  não é tarefa das mais fáceis. 

Não é mesmo.

Ainda que se encontre praticamente tudo nesta cidade, os acessos, filas, trânsito infernal, poluição e a burocracia que se enfrenta para a maioria dos serviços é o que faz desse lugar um território inóspito, mesmo para quem nasceu e cresceu aqui.

Imprimir um tom lírico à cidade, conforme decantado através de versos e canções, é claro que amenizam a alma por um átimo de tempo.

Porém, a indisfarçável violência urbana que impõe ao cidadão caminhar aos sobressaltos com medo da própria sombra e dirigir sob olhos atentos diante dos inexpugnáveis assaltos mesmo à luz do dia, são verdades que consomem quem aqui vive ou quem por aqui passa. 

Nem mesmo a tentativa de uma leveza que a mídia busca transmitir, consegue esconder o medo e a angústia das pessoas.

São Paulo é uma cidade que abriga a contramão e o controverso, como se fosse a síntese do Antagonismo.

É a cidade que respira e transpira, mas que pouco inspira.  

A coisa chega a tal ponto que o turismo que aqui se vende é  o "turismo de negócios", algo que cá entre nós, dói o ouvido, uma vez que turismo traz na sua bagagem semântica a idéia de viagem de passeio, lazer, descanso, diversão e cultura. 

De qualquer forma, vamos dar uma colher de chá, tendo em vista que as palavras têm ganho novas motivações e significados, até como paliativos para o que se quer exprimir...

Lá no fundo, São Paulo é bem isso, um lugar em que a maioria esmagadora de sua gente, vive para trabalhar, e trabalha para sobreviver.  

Mas é vida que segue. 

E tá tudo muito bom. Tá tudo muito bem...

Salve São Paulo, com um econômico ponto de exclamação !


PEDREIRO LIVRE (FREE MASON - Alfério Di Giaimo Neto


Qual seria a origem desse nome? Quando, onde e por que foi dado?

Algumas supostas respostas, dadas a seguir, foram baseadas no conteúdo do livro do Ir.:Bernard Jones “The Freemason’s Guide and Compendium”.

Na verdade, muitas explicações são dadas sobre esse assunto. O que se sabe é que nos tempos das construções das Catedrais, os Maçons eram divididos em duas categorias: os maçons “rústicos”, quebradores de pedras, que extraiam os blocos e davam uma preparação preliminar aos mesmos, e os “especialistas” cujo trabalho era o de “acabamento” das referidas pedras, dando corte, formato e acabamento conforme o requerido na etapa final da construção.

Esses últimos eram os mais qualificados do grupo de Maçons. 

Podemos dizer que eram verdadeiros artistas na arte de acabamento em pedras. 

Estes maçons é que foram chamados de “Freemasons”.

Aparentemente esse nome foi usado nos primórdios dos Operativos.

Bernard Jones esclarece que a palavra “free” tinha muitos significados e é difícil precisar qual deles foi utilizado no termo “Freemason”. 

Três deles serão dados a seguir:

1) “Free” pode indicar a pessoa que era imune a leis e regras restritivas, particularmente com a liberdade de ir e vir para diversos lugares, conforme a necessidade do seu trabalho. 

2) Muitos Maçons de hoje acham que o termo foi aplicado originalmente, àquele fisicamente livre, que não era servo, muito menos um escravo.

3) O “Freemason” seria talvez aquele que trabalhava na pedra livre (free stone) que é um tipo de pedra calcárea, fácil de manusear, não muito dura.


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A ORIGEM DA ROMÃ E SEU SIMBOLISMO NA MAÇONARIA - Ernande Costa Macedo



A ROMÃ é o fruto da romãzeira é delicioso e, oriundo da Pérsia ou Irão que se começou a espalhar há milhares de anos por toda a Ásia, pela África, região do Mediterrâneo e até há poucos séculos pelas Américas, chegando ao Brasil através do portugueses. Este fruto é do tamanho duma maçã, apresentando uma casca dura com uma cor que vai desde o alaranjado até ao vermelho escuro.

Segundo estudioso da cultura da alimentação este fruto possui até 613 sementes que são as partes comestíveis, para os povos antigos, como os gregos, os romanos e os persas, havia a concepção de que a ROMÃ era a ponte entre a mortalidade e a imortalidade. "O homem apaixonado que comia a ROMÃ se tornaria imortal, Já, si, um Deus que a consumia se transformaria em um mortal", era o que diziam. A fruta era tida como símbolo de amor e fertilidade por causa de suas numerosas sementes. A romã, que muitos acham sem graça e difícil de ser comida, sempre foi respeitada pelos poderosos. Reis e Bispos a ostentavam nas suas vestes", Dizem que na mitologia Iraniana, o fruto desejado da árvore sagrada é a ROMÃ E não a maçã, como foi difundida pela cultura ocidental. "Na versão hebraica, há o Jardim do Éden e a serpente. Na versão greco-romana, há o Jardim das Hespérides e o dragão Ladon.  

Segundo a Bíblia, quando os judeus chegaram à terra prometida, após abandonarem o Egito, os 12 espias que foram enviados para aquele lugar voltaram carregando ROMÃS e outros frutos como amostras da fertilidade da terra que Deus prometera. Ela estaria presente nos jardins do Rei Salomão. Foi cultivada na antiguidade pelos fenícios, gregos e egípcios. Em Roma, a ROMÃ era considerada nas cerimônias e nos cultos como símbolo de ordem, riqueza e fecundidade.

Os judeus a chamavam de rimmon; entre os árabes, era conhecida como rumman; mais tarde, os portugueses a chamaram de ROMÃ ou "roman". Na Idade Média, a romã era, frequentemente, considerada como um fruto cortês e sanguíneo, aparecendo também nos contos e fábulas de muitos países. Os povos árabes salientavam os poderes medicinais dos seus frutos e como alimento. Tanto a planta como o fruto têm sido utilizados em residências ou em banquetes pelo efeito decorativo das suas flores e dos seus frutos, além do seu uso como cerca viva e planta ornamental.

As sementes secas da romã eram usadas como condimento pelos antigos e o seu suco como remédio até o renascimento. No Oriente Médio, é usada concentrada em pratos salgados, como almôndegas e peixe recheado, e, fresca em saladas, com berinjelas.  ROMÃ Tem 32 calorias por 100 gramas e é muito rica em fósforo. Possui ainda propriedades terapêuticas e é usada na medicina popular. Alguns especialistas em plantas medicinais, diz que o chá da casca de romã é indicado para o tratamento de problemas de garganta.

Na Maçonaria a ROMÃ é o símbolo menos analisado na filosofia maçônica; colocada sobre os capiteis das CCol.·. na entrada do T.·., sempre acima do olhar físico de cada Ir.·. ela passa despercebida e, por isso, mais ignorada, porque “parece” que da muito trabalho olhar para cima e sondar os mais elevados ideais que a Maçonaria busca. “A UNIÃO”. Na maioria dos trabalhos maçônicos eu vejo muito sobre significados e interpretações dos símbolos que envolvem as CCol.·. B e J, mas, pelo que vejo não se tem dado muita atenção às ROMÃS que, embora sustentadas pelas colunas, representam o que há de mais essencial em nossa instituição. “A UNIÃO”.

Se “tomemos uma ROMÃ em nossas mãos” vejamos que é uma fruta bastante diferente das demais e não foi por acaso que entrou como peça decorativa dos Templos Maçônicos. A sua casca, dura e resistente, representa a Loja em si, o templo material que mantem os OObr.·. reunidos, e, as sementes representam os OObr.·.; como sabemos, uma semente não é exatamente igual à outra, em tamanho e formato, mas o paladar de todas é invariavelmente idêntico.  Daí extraímos uma lição: não importa quem saboreia a fruta, quais as sementes são pequenas e quais as grandes mas, o que importa sim, o paladar.

Na Loja, temos IIr.·. de menor porte na vida profana e outros, com maior gabarito social e econômico. Se a sabedoria do G.·.A.·.D.·.U.·. assim o quis, cabe nos lembrar que a mesma seiva que alimentou o pequeno grão, alimentou igualmente o maior. Não obstante, as sementes pequenas e grandes estão unidas, todas compondo um único fruto, com um só objetivo: servir de alimento e fonte de prazer ao paladar.

O que mantém as sementes da ROMÃ unidas é a pele interna, essa pele, feita da mesma substancia carnuda e consistente da casca e do miolo, representa o selo, ou melhor, o sigilo maçônico; rompido esse selo, as sementes ficam expostas ao ataque de pragas, deteriorando-as e estas perdem assim sua finalidade.  Igualmente nas nossas Lojas, todos os nossos assuntos carecem da proteção do sigilo, sob pena de rompido este, a Loja, que é a ROMÃ, vir a sofrer sérias consequências como a perda da união que deve reinar em nosso meio em prol do bem comum.  O nosso juramento é representado pela seiva que alimenta as sementes (que são os OObr.·.)  foi contraído sem o mínimo de coação moral e sem reserva mental ou equivoco.

Rompido esse juramento, a fruta definha seca e, por fim, apodrece. Assim, o sigilo, representado pela pele que UNE e SELA as sementes, merece de nossa parte o máximo de cuidados. A fruta, ao soar da primeira batida do malhete até a última, deve ser saboreada enquanto durem os trabalhos.

É responsabilidade do fruticultor, que representa o “Venerável”, zelar para que a árvore da Maçonaria venha a produzir frutos não afetados por pragas e doenças, zelando pela preservação não só da casca da fruta (o material), como também pela unidade garantida pelo sigilo, que é simbolizado pela pele interna da fruta.

Essa Peça de Arquitetura é dedicada à A.·.R.·.L.·.S.·. ROMÃ DO PROGRESO nº 34, Jurisdicionada a Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia (GLEB) e todos os seus membros, da qual, tenho o prazer de ser Membro Honorário.



NOSSA SÃO PAULO - Adilson Zotovici


Neste dia em que a cidade de São Paulo completa 470 anos, prestamos-lhe homenagem com este belo poema de um dos maiores poetas da maçonaria.


Linda e  quão interessante

Ainda que tão sofrida

Bela e dura qual diamante

Noite e dia é pura vida


Cada rua, veia pulsante

Cidade  nua e garrida

Coração materno, gigante

Superno, pujante à acolhida


Da Arte Real radiante

Pelo habitante escolhida

Universal, aconchegante...


Da principal avenida

Ao arraial quão distante

*Nossa “São Paulo” querida* !   


janeiro 24, 2024

TERGIVERSEMOS - Roberto Ribeiro Reis

A 𝙖𝙜𝙧𝙚𝙨𝙨𝙞𝙫𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙜𝙧𝙖𝙩𝙪𝙞𝙩𝙖, via de regra, tem sido a arma dos ignorantes. Quantas pessoas há no mundo que destilam seu veneno contra aquilo que não conhecem. O prejulgamento e o preconceito se revelam companheiros inseparáveis dos que não têm o desejo de conhecerem ou de se aprofundarem sobre determinado tema.

Essa atitude também ocorre em relação a pessoas; quantos de nós já não nos arvoramos no direito de achar uma pessoa antipática ou mal-humorada, sem que com ela tivéssemos tido a 𝙤𝙥𝙤𝙧𝙩𝙪𝙣𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 de um momento de boa prosa.

Esse 𝙗𝙤𝙢𝙗𝙖𝙧𝙙𝙚𝙞𝙤 𝙤𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚𝙨𝙖𝙧𝙧𝙖𝙯𝙤𝙖𝙙𝙤, regado a vitupérios e ignomínias de toda sorte, sempre atingiu nossa Sublime Ordem. Com efeito, é só mantermos o anonimato, e observarmos as discussões -dos incautos- envolvendo a Maçonaria, desde uma resenha pós-futebol, até reuniões de outros grupos sociais ou religiosos.

Quanta sandice é reverberada, muitas das vezes até pela boca de pessoas “instruídas”. Um 𝙧𝙤𝙨𝙖́𝙧𝙞𝙤 de 𝙞𝙣𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙨, motivado, a meu sentir, por uma 𝙘𝙪𝙧𝙞𝙤𝙨𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙚𝙭𝙩𝙧𝙖𝙫𝙖𝙜𝙖𝙣𝙩𝙚, que não comporta o grau elevado de nossa discrição e, às vezes, até mesmo justificado por uma inveja sem precedentes em relação aos grandes feitos histórico-humanitários promovidos por nossa Honrosa Instituição.

O fato é que não devemos combater a ignorância com 𝙧𝙚𝙖𝙘̧𝙤̃𝙚𝙨 𝙙𝙚𝙨𝙥𝙧𝙤𝙥𝙤𝙧𝙘𝙞𝙤𝙣𝙖𝙞𝙨 e 𝙘𝙖𝙡𝙤𝙧𝙤𝙨𝙖𝙨; todas as vezes que alguém queira, deliberadamente ou não, macular o nome da Maçonaria, a sugestão que se nos impõe é: 𝙩𝙚𝙧𝙜𝙞𝙫𝙚𝙧𝙨𝙚𝙢𝙤𝙨!

Isso mesmo. Façamos 𝙤𝙪𝙫𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙢𝙤𝙪𝙘𝙤𝙨, viremos de costas, deixando a 𝙚𝙨𝙘𝙪𝙧𝙞𝙙𝙖̃𝙤 𝙖𝙜𝙖𝙨𝙖𝙡𝙝𝙖𝙧 o 𝙞𝙢𝙖𝙜𝙞𝙣𝙖́𝙧𝙞𝙤 de quem se acha dono da verdade, mesmo sem qualquer embasamento doutrinário, histórico, filosófico e cientifico.

Se o grau de 𝙖𝙗𝙚𝙧𝙧𝙖𝙘̧𝙤̃𝙚𝙨 𝙫𝙚𝙧𝙗𝙖𝙡𝙞𝙯𝙖𝙙𝙖𝙨 for maior ainda, que comecemos a discorrer, por exemplo, sobre a cor do cavalo branco de Napoleão, sobre o efeito indelével provocado na camada de ozônio pela atividade humana, enfim, até mesmo sobre comodities. É questão de piscar de olhos, para que os 𝙙𝙤𝙪𝙩𝙤𝙨 𝙙𝙚 𝙥𝙡𝙖𝙣𝙩𝙖̃𝙤 desapareçam, instantaneamente.

O verdadeiro Maçom não deve perder o seu valioso tempo, discutindo com pessoas cujo cérebro foi tomado pelos realities shows ou programas congêneres. É se nivelar bem por baixo, permitindo a 𝙘𝙤𝙣𝙩𝙖𝙢𝙞𝙣𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤 𝙙𝙚𝙡𝙚𝙩𝙚́𝙧𝙞𝙖. É migrar do sagrado para o profano, sem sombra de dúvidas!

A 𝙩𝙚𝙧𝙜𝙞𝙫𝙚𝙧𝙨𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤 é remédio fundamental no mundo em que vivemos. Ela evita contendas, acalma os ânimos e 𝙖𝙧𝙧𝙚𝙛𝙚𝙘𝙚 𝙤 𝙚𝙨𝙥𝙞́𝙧𝙞𝙩𝙤 𝙗𝙚𝙡𝙞𝙘𝙤𝙨𝙤 que tem tomado conta do homem. Nossa Missão Real é a de 𝙖𝙥𝙖𝙨𝙘𝙚𝙣𝙩𝙖𝙧 𝙖𝙨 𝙤𝙫𝙚𝙡𝙝𝙖𝙨 𝙖𝙙𝙤𝙚𝙘𝙞𝙙𝙖𝙨, conduzindo-as ao 𝙍𝙚𝙗𝙖𝙣𝙝𝙤 da 𝙎𝙖𝙗𝙚𝙙𝙤𝙧𝙞𝙖, conquanto estas assim o permitam.




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A DOUTRINA MAÇÔNICA E A ÉTICA DO OBREIRO - Leon Grinberg



O fundamento doutrinário maçônico é gnóstico, porque o homem interior habita a Verdade. Por isso a Instituição Maçônica propicia a busca e realização do homem interior, em todo homem e em todos os homens.

Ortega Grasset disse: “Eu sou eu e minha circunstância”, mas também o profeta Natan disse ao Rei David: “Tu és o homem. De ti depende o destino da humanidade”.

Focalizar especificamente o homem é contemplá-lo como um lento processo evolutivo de um princípio de consciência. 

Princípio de consciência ou substância primordial que se manifestou como matéria inerte na primeira etapa. Logo surgiu o fenômeno da vida, aparecendo nas formas vegetal e animal.

No reino animal, coincidindo talvez com a linha do pensamento de Telhard de Chardin, foi ocorrendo o processo de aparecimento e formação do sistema nervoso central, culminando na configuração do cérebro humano. Cérebro este que possibilitou, a nível da mente humana, a faculdade da reflexão e da consciência de se fazer autoconsciente.

Todo este breve relato, em síntese, é expressão do movimento natural da consciência humana rumo a uma expansão e liberdade. A experiência central do mundo moderno é a busca da liberdade.

Claramente, ao sair da Idade Média, vislumbrou-se que o homem buscou a liberdade, para dar forma ao seu próprio destino como pessoa humana. Para muitos, a procura e o encontro dessa liberdade (qualquer que seja a acepção tomada, e ainda melhor: o conjunto de todas) é um fim em si próprio. Erich Fromm, na sua clássica obra O medo da liberdade diferenciou o conceito de liberdade de e de liberdade para.

Para outros, a liberdade não é um fim em si própria: é um meio para se atingir um fim superior ou mais transcendente. E este fim não poderá ser outro que o da Vida. Vida plena e real, com um autêntico sentido integrado. Viver é outorgar um sentido à existência.

Acreditemos ou não, sejamos ou não conscientes, nós, os homens, somos os únicos gestores e realizadores da História, através da nossa concepção da vida. A dialética do porvir humano de todos os tempos aparenta surgir de duas concepções divergentes: a materialista e a idealista.

Concepção que se manifesta na luta ou no defrontar do que poderíamos chamar: poder político e poder espiritual. A verdade da realidade vital contra os interesses criados. Verdades absolutas contra Verdades relativas, acomodadas. Liberdade individual contra autoritarismo. Liberdade versus dogmatismo.

O primeiro intento ocidental de unir ambas concepções, ou seja, os dois poderes, foi o dos pensadores gregos. Entre eles, Platão, no seu livro A República, tratou de espiritualizar a realidade, de onde surgiu a utopia de que os governantes deveriam ser filósofos, homens do espírito, segundo Martin Buber, é o encontro entre o homem e o transcendente. 

Daí ser necessária inevitavelmente a integração. As ideias têm valor contanto e enquanto se transformem em vida palpável, concreta. Não é possível permutar a vida pelo espírito, a ideia abstrata. Nem emancipar o transcendente, o espiritual, da vida cotidiana.

Espírito sem compromisso do dever é um dos sintomas da nossa atualidade, e também a sua contraparte: o materialismo desconhece a essência da vida. O material e o vital devem se fundir para que o espírito seja vida.

Responsabilidade, base da ética

Ser significa ser totalmente. Sermos nós mesmos, assumir. É nos comprometermos com cada hora de nossos dias, é sermos um homem em plenitude. Reiteramos: viver é dar sentido à vida. Cada momento da existência põe à prova o homem. Assumirá ele a responsabilidade de responder com todo seu ser à invocação do momento? É livre. Pode escolher e decidir. Nesta eleição ele joga o sentido da sua existência. E ao eleger para si mesmo, estará elegendo para a humanidade.

A responsabilidade é a única insofismável base de toda ética. É precisamente a responsabilidade que possibilita o exercício da ética e a prática da moral.

O que é conflitante? O que cria a crise do homem e no homem? A cisão da existência em tabela valorativas distintas. Pode ser que individualmente estabeleçamos a nossa própria escala de valores, nossa própria mensuração com prioridades diferentes. 

O importante é o ajustamento da nossa conduta à nossa tabela valorativa, evitando a multiplicidade de morais. Não há uma ética para o Templo e outra para o mercado.

O processo formativo maçônico nos encaminha, desde o primeiro grau, rumo a uma coerência entre pensamento, palavra e ação. Guia-nos para alcançar afirmativamente a unidade da vida do homem em todos os campos. Uma única vida, uma única resposta, uma única responsabilidade, um único compromisso, uma única ética.

Sempre há no recôndito do homem uma voz interior que o chama, que pergunta que indaga que reclama. Às vezes a chamamos de consciência. Perante ela, alguns se ocultam entre palavras, entre ideias. Entre ações. Outros se revelam se manifestam tal como são. 

Alguns argumentam tranquilizando-a, se justificando. Outros se realizam se ajustam. Lutam contra a fragmentação, a divisão da vida em categorias distintas e em recintos temáticos, qual compartimentos estanques, que nenhuma relação estabelece entre si. O ético, o estético, o religioso, o metafísico, o sociológico, o econômico, o psicológico etc., que em definitivo refletem aspectos do homem, nunca do homem total.

Karl Jasper disse: “O modo como vejo a grandeza e como em comporto perante ela, me faz chegar ao meu próprio ser”.

Ante um ideal de perfeição alguns expressam: são utopias; negam-no e reduzem tal ideal ao comodismo do nível em que se encontram. Outros, pelo contrário, e entre eles estão os maçons, tentam-se elevar, se realizar nessa meta de perfeição. Essa meta de perfeição. Essa meta de perfeição logicamente leva implícita a efetivação dos nossos princípios básicos.

Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Amor à justiça; procura da verdade. Respeito à sabedoria; reconhecimento da harmonia e da justiça. Tolerância no seu legitimo limite.

Rejeição, superação ou controle da hipocrisia, ambição, inveja, egoísmo etc. Mas, acima de tudo, a pedra básica, o fundamento da nossa Instituição; a Fraternidade. E ela depende da compreensão.

Ambas, fraternidade e compreensão determinam e descansam na responsabilidade, forjada, no nosso caso, como maçons, na real interiorização do que os nossos símbolos dinamizam.

Nossa formação maçônica implica ao menos estarmos a coberto de intenções e ideias espúrias, vigilantes de que a sabedoria, harmonizada pela beleza e pelo amor, seja a potência das nossas ações, e por onde a nossa conduta esteja nas vinte e quatro horas do dia, a prumo, no transcurso do reto caminho a transitar pela vida.

SAUDAÇÃO MAÇÔNICA DO ORIENTE - Charles Evaldo Boller



Sinopse: Especulação sobre qual o objeto de saudação no oriente da loja: O Delta? O Iod? A presença de Jeová? A espada flamígera? O venerável mestre? A carta constitutiva?

Nossa sociedade ocidental hodierna tem suas raízes plantadas no humanismo renascentista, de onde também vieram as influências culturais da Maçonaria. O que vivemos em nosso dia-a-dia é o resultado de longo caminho de desenvolvimento cultural. Passou pelo pensamento grego, pelo direito romano e assimilou a filosofia cristã. Ao compreender o mundo no qual se vive entende-se a sociedade em que se está imerso. Deste entendimento depende como cada cidadão se porta e vive em sociedade e a expressão desta é revelada pelos mitos, religiões e filosofias que desenvolve.

Toda a cultura humana está alicerçada no pensamento filosófico e isto era o que os fundadores da Maçonaria do século XVI tinham interesse. Desde então ocorreram enxertos e modificações, algumas linhas de pensamento trouxeram desde longínqua idade do homem influências às quais nada se pode debitar no aspecto evolucionista da Maçonaria. Em essência, a Maçonaria apenas usa das antigas crenças, ciências e religiões o indispensável para auxiliar na formação da cultura maçônica, porque é isto que os adeptos possuem em suas bases culturais ao serem iniciados.

Exemplo de ciência morta é a Astrologia; há muito que os vaticínios desta antiga ciência foram superados pela astronomia e tecnologias. As colunas zodiacais existem em nossos templos como referência para orientação simbólica no Universo; é sabido da física elementar que sem referencial não existe apoio sensorial ao deslocamento pelo Universo, e a loja é uma simulação do Universo tridimensional.

Na religião a influência dos deuses e deusas do antigo Egito na Maçonaria serve de referência e não como deuses a serem venerados, daí excluir qualquer tipo de adoração, inclusive a Jeová, o Deus exclusivo dos judeus e cujo nome a maioria das religiões cristãs não usam. Na Maçonaria criou-se o conceito de Grande Arquiteto do Universo, que não representa o Deus de nenhuma religião. Esta foi uma das grandes invenções dos criadores da Maçonaria, pois possibilita cada crente adaptar o conceito às suas próprias necessidades de adoração e representações antropomórficas ou espiritualistas. No Rito Escocês Antigo e Aceito, em todos os graus, as representações divinas são influenciadas pelas linhas filosóficas do judaísmo e do cristianismo em seu culto a Jeová, expressas pelo iod inserido no delta do oriente da loja simbólica e outros símbolos da filosofia maçônica do Rito.

Se numa loja maçônica não existe culto de adoração a deuses, então o que realmente é saudado pelo maçom no oriente? Certamente não é o iod, a primeira letra do nome de Jeová em aramaico! Nem qualquer outro objeto ou criatura do oriente. Maçonaria não é religião! Por simples exclusão é possível determinar que a saudação seja exclusiva para a representação simbólica da coluna da sabedoria, cujo guardião é o venerável mestre. E se esta é saudada cerimonialmente, o que existe por detrás desta demonstração de respeito marcial. Ali acontece o homem e sua filosofia; o amigo da sabedoria que todo maçom é por definição desde a sua iniciação.

Existem diversas maneiras de interpretar filosofia: atitude de vida individual; conhecimento impossível de provar; conhecimento abstrato e teorias lógicas; modo de ver o Universo e a realidade; representação teórica da ilusão que os sensores induzem ao ser. Em essência, filosofia é apenas conhecimento, certo tipo de conhecimento. É a ciência preocupada com o todo, que vai fundo na revelação especulativa da realidade. Não se trata de matemática, astrologia, astronomia ou medicina; cada ciência destas foi influenciada pelo filosofar, pela busca em profundidade do sentido de totalidade que os gregos denominaram sabedoria, em grego "sophía". O homem que se dedicava a ação do pensamento para discernir o Universo que o cercava era denominado sábio, em grego verbalizado "sophós", ou simplesmente amigo, em grego "phílos"; amigo da sabedoria. A existência dos amigos da sabedoria cunhou o verbete "filosofia". Depois dos gregos, a filosofia passou pela idade média e chegou a nossos dias com outra aparência, porque ela mesma passou a ser criticada pelos filósofos. De ciência de todas as coisas, da totalidade, e de suas causas primeiras ela acaba fragmentada em: filosofia experimental ou empírica, reflexão crítica das ciências ou epistemologia, positivismo, filosofia analítica, dialética, e assim por diante. Isto não diz alguma coisa a respeito da diversidade de ritos que a Maçonaria alberga?

Na Maçonaria não interessam os detalhes da divisão da filosofia. A assimilação cultural filosófica maçônica, mesmo dentro da mistura de pensamento grego, direito romano e filosofia cristã possibilita obter rico e explicito conhecimento a respeito da sociedade ocidental e o que esta pensa de si. O filosofar maçônico não visa erudição, antes, provoca seus adeptos a pensarem em temas da sociedade nos quais já estão experimentados e familiarizados, mas impedidos de pensar nestes devido às atividades do dia-a-dia. O sistema humano é cruel quando aprisiona a grande massa em condições de autômatos vivos, sem possibilitar tempo à contemplação e recolhimento. É disso que o maçom foge em suas reuniões. Nestas ocasiões é desperto para assuntos que já são de seu conhecimento, mas jazem sepultos debaixo da busca do sustento e em virtude das vicissitudes que a vida apresenta.

Para tal objetivo são utilizadas filosofias usadas pelas religiões, mas apenas como coadjuvantes ao grande objetivo de conduzir cada maçom ao autoconhecimento visando o bem da sociedade. Não significa proselitismo religioso quando são introduzidos conceitos cristãos - poderia ser budista, hinduísta, vedanta, egípcio, islâmico, ou outro. Quando aparentemente defende princípios da democracia cristã não significa propaganda ideológica - poderia ser democracia: direta, indireta, representativa presidencialista, semipresidencialista, parlamentarista; ou sistemas oligárquicos como: meritocracia, gerontocracia, plutocracia, tecnocracia, etc. Qualquer sistema ideológico político e religioso que respeita liberdade, igualdade e fraternidade é caminho para facilitar a transmissão de conhecimento filosófico alicerçado no que cada maçom já tem em si. O que já é bom torna-se melhor. Nada de perfeição, esta pertence ao Grande Arquiteto do Universo, o maçom busca em suas lojas apenas uma condição aperfeiçoada.

Partindo do princípio que para entrar na Maçonaria o homem já deve ser dotado de luz espiritual, quando se exige dele a crença em Deus para ser iniciado, ocasião em que vem desejoso de ver a luz simbólica do conhecimento, da sabedoria, tornar-se amigo da sabedoria, viver a especulação maçônica, filosofar. Logo depois, na ritualística de suas sessões de trabalho, o que ele saúda no oriente é o fato de ver ali, simbolicamente, a luz do conhecimento que pediu e para o que trabalhará arduamente para dela nutrir-se. Esta é representada simbolicamente pela diminuta coluneta jônica que nunca é deitada e está sempre à disposição. A luz está ali a sua disposição, basta pensar na totalidade dos problemas do agrupamento de seres que vivem em estado gregário ao seu redor e levantar ideias para melhorá-la, que o representado pela coluna do venerável mestre não será apenas visto, mas internalizado. Em um dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito aprende-se que a sabedoria não emana do venerável mestre, orador ou vigilantes, a sabedoria está potencialmente dentro de cada coluna que cada obreiro é quando filosofa e melhora a si mesmo.

Sessão maçônica não é mera leitura de atas, expediente e planejamento de festas; a essência do trabalho é o filosofar maçônico. Significa: autoeducação; humanização; fomento e manutenção de amizades fraternas; pratica da beneficência; patriotismo; servir a humanidade; desenvolvimento de empatia; superação de vícios; controle de paixões desenfreadas e degradantes; evitar a maledicência; tudo alicerçado no desenvolvimento do filosofar maçônico; a conquista da luz simbólica do conhecimento maçônico. A busca desta luz é tarefa individual intransferível! Ninguém a dá e constituem os louros da vitória de uma longa jornada, ao final da qual, o maçom dá honra e glorifica a maravilhosa obra criativa do Grande Arquiteto do Universo.

Bibliografia:

1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora Ltda., 320 páginas, São Paulo, 2007;

2. BACHL, Hans, Nos Bastidores da Maçonaria, Memórias de um Ex-secretário, Coletânea de Artigos e Traduções, segunda edição, Editora Aurora Limitada, 136 páginas, Rio de Janeiro;

3. D'OLIVET, Antoine Frabre, A Verdadeira Maçonaria e a Cultura Celeste, tradução: Caroline Kazue R. Furukawa, ISBN 85-7374-873-7, primeira edição, Madras Editora Ltda., 150 páginas, São Paulo, 2004;

4. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora Ltda., 308 páginas, São Paulo, 2003;

5. ISRAEL, Jonathan I., Iluminismo Radical a Filosofia e a Construção da Modernidade 1650-1750, Radical Enlighttenment, Philosofy, Making of Modernity, 1650-1750, tradução: Cláudio Blanc, ISBN 978-85-370-0432-6, primeira edição, Madras Editora Ltda., 878 páginas, São Paulo, 2009;

6. LARA, Tiago Adão, Caminhos da Razão no Ocidente, A Filosofia Ocidental do Renascimento Aos Nossos Dias, segunda edição, Editora Vozes Ltda., 176 páginas, Petrópolis, 1986;

7. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural Ltda., 320 páginas, São Paulo, 2005;

8. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários Aos Graus Inefáveis do Ritual Escocês Antigo e Aceito, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-035-X, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 192 páginas, Londrina, 1997;

9. PANSANI, João, Cuidado, Maçom! Primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 116 páginas, Londrina, 1992;

10. PUSCH, Jaime, ABC do Aprendiz, segunda edição, 146 páginas, Tubarão Santa Catarina, 1982;

11. RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Vol. 04, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 172 páginas, Londrina, 2007;

12. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;

13. RUSSELL, Bertrand Arthur William, A Filosofia Entre a Religião e a Ciência, 16 páginas;

14. SILVA, Roberto Aguilar M. S., A Genealogia do Poder, primeira edição, 4 páginas, Corumbá, 2011;

15. SOUZA FILHO, Ubyrajara de, Cognição e Evolução dos Rituais Maçônicos, ISBN 978-85-7252-278-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 152 páginas, Londrina, 2010.

janeiro 23, 2024

"ESFRIAMENTO DAS RELAÇÕES PESSOAIS" - Newton Agrella


Não é por acaso que as relações humanas circunstancialmente acabam ganhando um caráter meramente protocolar.

São conexões - que por razões diversas e que nem sempre encontram uma explicação ou justificativa plausíveis - se perdem no tempo e se diluem.

É natural que o distanciamento acaba gerando um vazio, que por vezes, se torna abismal e invariavelmente  complicado para ser preenchido.

E mesmo após tanto tempo, quando essas relações se restabelecem, fica instalado um vestígio de indiferença, que por mais que se tente, mal se consegue disfarçar.

Aliado a isso tudo, numa tentativa de minimizar essa sensação desconfortável e intrigante, arranja-se um bode expiatório que recebe o singelo nome de "falta de sintonia ou afinidade".

Provavelmente, esse eufemismo em forma de desculpa, devesse ser melhor e mais realísticamente substituído por "falta de empatia", ou seja, de reconhecer em sí mesmo a indiposição de explorar a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer e de apreender do modo como ela apreende. 

Isso tudo, sem no entanto, perder a própria identidade.

Trata-se pois da sutil arte de se reconstruir relações, sem que o emocional sobrepuje a lógica e a razão, agindo como uma espécie de agente restaurador.

As experiências amargas fazem parte do processo de maturidade e de aprimoramento da consciência.

Não é imperativo que se tenha que estar com aqueles com quem já se tenha vivido experiências negativas amiúde. 

Não faz mal algum, poder ouvir e compartilhar momentos com aqueles com quem já divergimos ao longo da vida.  

Pelo contrário, talvez este seja um sinal de evolução.

Quebrar paradigmas, aprender a estar no lugar do outro e acima de tudo ter a certeza de que ninguém é superior a outrem, são desafios dos quais não se deve fugir; nem tampouco se furtar de enfrentá-los.

O tempo passa e o desafio mantem-se ali.



QUAL O SENTIDO DE SER MAÇOM? - Rommel Oliveira Alkmim


Quando começamos a despertar para a nossa vocação religiosa ou até profissional, ainda na infância, para muitos, não escolhemos ser Maçons. Afinal, maçonaria não consta em nenhuma lista como uma dessas opções. Por uma simples razão: maçonaria não é religião e tampouco emprego.

Embora trate das relações espirituais com as quais cada indivíduo se identifica, inclusive no trabalho, somente após adquirida a maturidade necessária, e no tempo certo, é que se manifestará o desejo de se tornar um maçom. A questão que se deseja responder é: por que quero entrar para a Maçonaria?

Ao fazermos a opção de integrar a Ordem, o que esperamos dela? Qual é a fonte das informações que possuímos que a torna tão atrativa ao ponto de queremos nos tornar um Maçom?

Na maioria das vezes, somos despertados por um parente, um amigo ou até um conhecido. Ainda que raro, por admirar a um Maçom em específico pelas suas atitudes. Todavia, as razões que mais parecem surtir influência e se evidenciam atrativas aos propensos candidatos serão, exatamente, as mais combatidas pela Ordem, quais sejam:

1-         Por que nos confere “status”?

2-         Por pertencer a um grupo influente?

3-         Por que serei apoiado nos meus negócios?

4-         Por que o meu parente ou o meu chefe é um Maçom?

        Como se presume, são estas “possibilidades” que afastam muitos daqueles que assim procuram integrar a Ordem e que, uma vez investidos, não encontrarão terreno fértil para colher suas expectativas materiais. Desse modo, passarão a engrossar as estatísticas dos que a abandonam logo de início e, a uma outra lista, que não tardará ser preenchida.

         Ainda, se a esses, os “mistérios da maçonaria” se resumirem a vestir um terno preto; participar de encontros “secretos”; pertencer a uma Ordem secular; ou ter tratamento diferenciado que lhe proporcione vantagens sobre outras pessoas, não será a Maçonaria a Instituição que os abrigará, confortavelmente, em seu meio.

          É sabido que, no meio maçônico, buscam-se ressaltar em seus indivíduos os valores morais. Estes, devem ser resgatados por intermédio da apuração do caráter, através do constante burilamento pessoal a culminar numa condição social exemplar. Para tanto, é mais do que perceptível serem dispensáveis aqueles valores comuns pretendidos por um postulante.

       Estas perguntas, em princípio, elaboradas como questionário a ser empregado nos processos de sindicância, cabem, por força de reflexão, serem refeitas por alguns Obreiros, independente do grau ao qual pertençam. Todavia, a estes, aprofundaremos em outras questões, agora direcionada aos Maçons:

      Qual é o sentido de ser Maçom? Uma vez dentro da Ordem, você consegue definir essa questão?

          Mesmo no seu primeiro ano, pode ocorrer ao Iniciado Aprendiz perceber o quão “distante” tais impressões iniciais vêm se tornando e, por esta razão, se “desmanchando” ao longo do seu caminhar maçônico, uma vez que, nesse processo evolutivo velhos conceitos vão dando lugar aos novos valores preconizados pela Ordem.

           Contudo, quantos de nós saberemos responder o que se segue? Houve, de fato, uma substituição desses valores profanos uma vez aplicados e assimilados os conhecimentos maçônicos?

          Quantas vezes aplicamos a máxima: “... não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mateus 6:3)?

          Quão tolerantes somos se contrariados das nossas posições ou pensamentos?

          Quantos “templos à virtude” erigimos e quantas “masmorras ao vício” cavamos?

          Quem de nós sabe o “... quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união...” (Salmo 133), e qual é a nossa contribuição pessoal para isso?

      Quantos de nós sabemos o que significa: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2)?

        Estamos verdadeiramente empregando o “conceito” maçônico: primeiro, a família; segundo, o trabalho e; por fim, a maçonaria? À última, legamos o respeito e a importância que lhe são devidas, quando a trocamos por atividades sociais julgadas mais “importantes”? Não é caro relembrar a nós maçons de que, por meio do aperfeiçoamento obtido com as práticas maçônicas, é que conservamos a família e conquistamos o trabalho.

           O texto, por si, encerra a sua construção dialética, onde se expôs pela tese, antítese e síntese, o princípio, meio e fim da evolução do caráter de um Maçom. Contudo, quantos de nós, hoje, seríamos capazes de nos submeter confortavelmente a um “reexame” onde fôssemos reavaliados aptos, ou não, para permanecer integrantes da Ordem Maçônica?

                Depois de ler esse trabalho, seríamos capazes de responder:

1-        Vale à pena estar na maçonaria? Por quê?

R:

 

2-        Estou sendo leal comigo mesmo?

R:

 

3-        Devo continuar na maçonaria?

R:

      Não se pretende neste trabalho, de forma alguma, avaliar ou julgar as credenciais maçônicas de Obreiros. São apenas EXERCÍCIOS DE REFLEXÃO, tais quais aqueles que fazemos em outros cenários de nossas vidas. Se para alguns, no entanto, tais proposições lhes pareçam impertinentes ou até mesmo ofensivas, talvez, seja chegada a hora, para esses, de rever seus próprios conceitos sobre maçonaria.

           Faz-se, aqui, um convite a uma nova inserção à “Câmara das Reflexões”. Desta feita, entraremos de olhos abertos e uma forte luz deverá nos acompanhar. Não nos surpreenderá mais o VITRIOL, nem seus adereços ou o cenário fúnebre. Se, ainda assim, nos encontrarmos “indignados” e rotularmos tal proposta como petulante, pode significar que, no passado, nela se adentrou e saiu da mesma forma; o que provavelmente se repetirá, mesmo que, embora “renascido” há anos e submetido a toda a sua liturgia, simbolismo e alegorias, ainda que tenha sido comprometido pela emoção daquele momento, não introjetou seus ensinamentos ou sequer se dispôs a conhecê-los.

            O que mais parece ter importado naquela primeira “Câmara” sugere ser o mesmo adereço desafiador desta segunda: “Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te”.

             Reavaliar passos e decisões é uma constante em nossas vidas. Quantas empreitadas deixamos de lado, nos esquivando de assumi-las e, em quantas outras mergulhamos de cabeça e nos esforçamos para mantê-las? Talvez, encontremos a resposta na lógica: O que é bom pra mim ou me dá retorno, me faz ficar; o que me incomoda e me tira da zona de conforto, provoca meu abandono.

          Será aí o “divisor de águas” entre o maçom ativo e o adormecido? Ser maçom não foi uma imposição. Foi uma escolha. Agora, saber se certa ou errada, só uma vez dentro. Este, talvez, seja o único “mistério” dito, e tido como certo, no que se refere à Maçonaria.

            A questão pode ganhar corpo a seu favor se considerar aqueles maçons que a abandonam, (e que carinhosamente são denominados “adormecidos” pelos seus irmãos) e que, nada podem “revelar” ou “acrescentar” a um profano sobre o que se faz na maçonaria que seja relevante, pois nada conhecem além de alegorias. Já aqueles que se ajustam e passam a sua vida a integrá-la, não a “traduz” em palavras e sim no seu comportamento.

           Somente dentro da Ordem saberemos se foi uma “empreitada acertada”, ou não. Se certa, há o desejo de avançar, mesmo que para alguns a obra maçônica se apresente de forma prazerosa e até natural. Para outros, pode não ser algo tão confortável, mas que, com disciplina e perseverança, bons frutos serão colhidos e isso lhes tornará homens melhores.

         E se essa escolha não lhes agradou? Nesse caso, ser sincero consigo, se retirar e retomar seus caminhos seria a opção mais apropriada, pois suas ideias diversas ou até paralelas ao que preceitua a Ordem não coadunam. Não se permitir abandonar a sua “zona de conforto” sugere muitas dificuldades até para se aprofundar no tema. A sua natureza dogmática ou temporal, seria de difícil lapidação. A estes, aparentemente frágeis ao maço e o cinzel, pela ótica profana, não têm do que se recear. Como dito, pode ser uma questão apenas temporal.

             Contudo, recobrar a necessidade de atitudes assumidas com bom senso e dignidade pode minimizar desconfortos e atritos desde o início, ainda antes de se iniciar a um amigo. Ao se bater à porta de um maçom (seu propenso “padrinho”), inicia-se um “namoro” ainda na rua, correspondido pela janela da maçonaria. Adentrar à Casa, não dependerá exclusivamente desse padrinho, mas de uma constante avaliação que passará pelos olhos vigilantes de seus membros maçons, da janela da rua para o seio da Instituição. Se estranho aos olhos será defenestrado, mesmo que investido das nossas insígnias. Portanto, uma vez dentro da Casa, a sua permanência dependerá, única e exclusivamente do seu desempenho.

           Depois de submetidos e imersos na sua própria “Câmara das Reflexões”, pela segunda vez, no caso deste texto, como você responderia às questões mais evidentes no VITRIOL (“Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta)? Recordemos:

“Se tens receio de que se descubram os teus defeitos, não estarás bem entre nós”;

“Se fores dissimulado, serás descoberto”;

“Se és apegado às distinções mundanas, retira-te; nós aqui, não as conhecemos”;

“Se tens medo, não vás adiante”;

“Se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte”.

 


janeiro 22, 2024

A EXPRESSÃO "ERA VULGAR" E O CALENDÁRIO MAÇÔNICO - Rogério Alegrucci


Desde os idos mais antigos a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. 

Os astrônomos servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas. 

Os cronologistas e historiadores, servem-se também de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano.

Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: Criação do mundo, fundação de Roma e o nascimento de Cristo, entre outros. 

Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois do Dilúvio. 

Já segundo Heródoto (Grego considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam a cem anos. 

Posteriormente, possivelmente no século VIII, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo que decorriam desde uma época notável, tomada como ponto de referência, e que dava o nome à era adotada.

Quanto à etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. 

Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha e, acredita-se, ser a contração das iniciais A.E.R.A. encontradas nos monumentos antigos e que significam Annus Erat Regni Augusti (era o ano do reinado de Augusto) ou Ab Exordio Regni Augusti que significa "Do começo do reinado de Augusto", pois os Espanhóis iniciaram seus cálculos a partir do período que o país ficou sob o domínio de Augusto. 

Outros dizem derivar da palavra latina aes, aeris (bronze), porque das medalhas e moedas desse metal se deduzia a data do acontecimento notável que serviu de começo a uma serie de anos. 

As palavras era e época tem certa relação entre si, contudo, são bem distintas: 

_Era, é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; 

_Época é o momento desse acontecimento. 

De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo. 

Todos os povos tomariam este instante se tivesse sido possível determiná-lo. 

Não o sendo, cada povo adotou, como já dissemos, uma Era: 

_A dos Judeus funda-se na criação do Mundo, segundo o Gênesis; 

_A dos antigos Romanos, na fundação da sua Capital; 

_A dos Gregos, no estabelecimento dos jogos Olímpicos; 

_A dos Egípcios, na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; 

_A dos Cristãos no nascimento de Cristo.

Já a expressão Vulgar tem origem no Latim Vulgaris ou Vulgus e primitivamente significava “pessoas comuns”, ou seja, aqueles que não são da realeza. 

Isto pelo menos até meados do século XVI quando a palavra Vulgar passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”. 

Foram os Judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. 

Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação com as outras, as quais podem se classificar em Eras antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, as posteriores. 

A Era Vulgar, portanto, designa o calendário Gregoriano mundialmente adotado. 

Para entender como a expressão Era Vulgar passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. 

O primeiro ano do Calendário Maçônico é o Ano da Verdadeira Luz, Anno Lucis em Latim, ou simplesmente V.´.L.´. ou A.´.L.´. como empregado na datação de antigos documentos Maçônicos do século XVIII, e interpretado como Latomorum Anno ou, como no texto original em inglês que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters” – que significa “Idade dos Cortadores de Pedra”.

A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria sido com base nos cálculos de James Usher, um bispo Anglicano nascido no ano de 1581, em Dublim. 

Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo segundo o Livro de Gênesis, que precisou ter ocorrido as 09 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 A.C., com base no texto Massorético (texto em hebraico que deu origem à vários capítulos da Bíblia) ao invés do Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento). 

Neste contexto, James Anderson fez constar em sua Constituição de 1723 a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria. 

Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica deu-se 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar. 

Nota-se o que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson. 

O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do ano Gregoriano, no entanto, começa em 01 de março – assim como o Ano Juliano que ainda estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson. 

No calendário Maçônico os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, 01 de março de 2011 da E.´. V.´. seria o dia 01 do mês 01 do ano de 6011 da V.´.L.´., segundo Anderson.

Se por um lado existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados segundo a regra que citamos, por outro tal prática parece não ter sido adotada como regra geral. 

Os antigos maçons dos Ritos de York e Francês adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. 

No entanto Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o calendário judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar. 

Já os Maçons do Arco Real utilizavam-se da data de construção do segundo Templo, ou 530 anos antes da Era de Cristo. 

Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um calendário maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e estas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas. 

As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma loja maçônica no Jardim do Éden... 

A ideia só foi concebida para se transmitir que os princípios da maçonaria (e não a maçonaria em si) são tão antigos quanto a existência do mundo. 

Vejo que qualquer outro significado Maçônico para essas datas não passam de um desejo dos primeiros maçons escritores de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico não em 01 de março como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.´.L.´.(A.´.L.´.).

Desta maneira, o 6° mês Maçônico tinha início a 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês) e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.´.V.´., como situa um Boletim do GOB de 1874, isto segundo o Ir.’. José Castellani, em sua obra “Do pó dos arquivos”.

O fato é que datar pranchas e documentos maçônicos com o ano da V.´.L.´. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos. 

Utilizar o calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.´.V.´., é a pratica mais comum nos dias atuais.

Bibliografia:

- Philosophical e Mathematical Dictionary – Vol I - 1815 – Google Books.

- Peça de Arquitetura do Ir. Antonio Carlos Rios – Academia Maçonica de Letras do MS – COMS-COMAB

- Pesquisas Objetivas:

- http://www.calendario.cnt.br/pesquisas2004.htm

- The Masonic Manual by Robert Macoy – Revised Edition – 1867

- Do pó aos arquivos – José Castellani

- Web Site da Grande Loja Maçônica de Minnesota-USA

(Trabalho apresentado na ARLS Manoel Tavares de Oliveira, 2396 – Or. de São Paulo, em 30/08/2011)