agosto 31, 2025

CUANDO YO ME VAYA - Heitor Rodrigues Freire


O tema da morte, ultimamente, tem merecido um destaque em minhas meditações. Nesse sentido, encontrei um poema de Carlos Alberto Boaglio, poeta, escritor e ator argentino, que com muita sensibilidade e consciência abordou o assunto num poema maravilhoso, que nos inspira a viver o presente, a não lamentar o que não podemos mudar, que transcrevo a seguir, no original:

Cuando yo me vaya, no quiero que llores, quédate en silencio, sin decir palabras, y vive recuerdos, reconforta el alma.

Cuando yo me duerma, respeta mi sueño, por algo me duermo; por algo me he ido.

Si sientes mi ausencia, no pronuncies nada, y casi en el aire, con paso muy fino, búscame en mi casa, búscame en mis libros, búscame en mis cartas, y entre los papeles que he escrito apurado.

Ponte mis camisas, mi sweater, mi saco y puedes usar todos mis zapatos. Te presto mi cuarto, mi almohada, mi cama, y cuando haga frío, ponte mis bufandas.

Te puedes comer todo el chocolate y beberte el vino que dejé guardado. Escucha ese tema que a mí me gustaba, usa mi perfume y riega mis plantas.

Si tapan mi cuerpo, no me tengas lástima, corre hacia el espacio, libera tu alma, palpa la poesía, la música, el canto y deja que el viento juegue con tu cara. Besa bien la tierra, toma toda el agua y aprende el idioma vivo de los pájaros.

Si me extrañas mucho, disimula el acto, búscame en los niños, el café, la radio y en el sitio ése donde me ocultaba.

No pronuncies nunca la palabra muerte. A veces es más triste vivir olvidado que morir mil veces y ser recordado.

Cuando yo me duerma, no me lleves flores a una tumba amarga, grita con la fuerza de toda tu entraña que el mundo está vivo y sigue su marcha.

La llama encendida no se va a apagar por el simple hecho de que no esté más.

Los hombres que ‘viven’ no se mueren nunca, se duermen de a ratos, de a ratos pequeños, y el sueño infinito es sólo una excusa.

Cuando yo me vaya, extiende tu mano, y estarás conmigo sellada en contacto, y aunque no me veas, y aunque no me palpes, sabrás que por siempre estaré a tu lado.

Entonces, un día, sonriente y vibrante, sabrás que volví para no marcharme”.

Essa reflexão pode ser analisada sob diferentes aspectos, como, por exemplo, a aceitação da morte e a importância de viver o presente. Também pode ser considerada sobre a questão da despedida que, quase sempre, acontece sem avisar e o impacto que causa aos que ficam. É um convite e uma reflexão sobre a vida e a morte, o legado e a possibilidade de encontrar a paz e aceitação em um fato inexorável.

A propósito, em João, 16,5 temos: “Eu lhes digo a verdade, convém que eu me vá, porque se eu não for, não virá o Espírito da Verdade”, complementando no versículo 13 do mesmo capítulo: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que virão a acontecer”.

O Espírito da Verdade já veio.


A MAÇONARIA ELIMINA A DISTÂNCIA ENTRE OS HOMENS - Carl J. Sanders


 "Em tempos de desconfiança, suspeita, discriminação, separação e até ódio, a Maçonaria elimina a distância entre os homens. Amizade, moralidade e amor fraternal são as marcas registradas de nossos relacionamentos. Há uma integridade básica na Fraternidade que muitas vezes falta em muitos relacionamentos da vida... Permitam-me dizer, rápida e enfaticamente, que a Maçonaria não é e nunca foi uma religião; no entanto, a Maçonaria sempre foi amiga e aliada da religião. Em 50 anos como ministro e como maçom, não encontrei conflito entre minhas crenças maçônicas e a fé cristã.

Minhas atividades maçônicas nunca interferiram na minha lealdade e no meu amor pela minha Igreja. Muito pelo contrário, minha lealdade à minha Igreja foi fortalecida pelos meus laços maçônicos. Bons maçons são bons clérigos.

'Que ninguém diga que você não pode ser cristão e maçom ao mesmo tempo. Conheço muitos que são ambos e se orgulham de ser ambos.'

Mas nos orgulhamos, como maçons, de que membros de todas as religiões tenham encontrado valor na fraternidade. O Rabino Seymour Atlas, detentor de algumas das mais altas honrarias maçônicas, escreve sobre o que encontra na Maçonaria: "Fui criado em um lar religioso, filho de um rabino, com sete gerações de rabinos me precedendo... Tenho orgulho de ser um maçom que acredita na dignidade dos filhos de Deus e se opõe ao ódio e à intolerância, e defende a verdade, a justiça, a bondade, a integridade e a retidão para todos."

Carl Julian Sanders (1912–2007) foi um bispo americano da Igreja Metodista Unida que foi eleito para o cargo em 1972.

Fonte: CURIOSIDADES DA MAÇONARIA


agosto 30, 2025

AS TARIFAS FUNCIONAM PARA PROMOVER RIQUEZA? - Mario Cesar Martins de Camargo


A administração dos EUA promoveu mudanças drásticas em sua política comercial nos últimos meses. Isso afetou parceiros de longa data, como a União Europeia e a China, e impactou severamente dois países emergentes: Índia e Brasil, meu país de origem.

A tarifa imposta a esses dois países é substancial, de 50%, e, no caso do gigante sul-americano, recaiu sobre itens de consumo cotidiano, como carne, café, cimento e madeira. A lista de tarifas cobre aproximadamente 65% das importações dos EUA vindas do Brasil, excluindo produtos como suco de laranja, celulose, aviões e petróleo.

Tendo tido o privilégio de viver em ambos os países durante minha vida, aprendi a respeitar as decisões tomadas por governos democráticos, deixando de lado qualquer viés político. Entrar na onda da polarização só atrai simpatias e antipatias; já uma discussão inteligente é crucial nesses momentos.

Afinal, o objetivo pretendido é melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores norte-americanos, criando mais empregos, fomentando o crescimento e, em última instância, promovendo riqueza. Metas razoáveis para qualquer administração pública.

Um pouco de história

Os EUA têm vasto conhecimento sobre tarifas implementadas ao longo de sua história. Como lembrete, a Lei Smoot-Hawley de 1930 foi criada para proteger os agricultores afetados pelas consequências da Primeira Guerra Mundial. Proposta por Herbert Hoover, a legislação elevou tarifas a até 60%, número surpreendentemente semelhante aos aplicados nas negociações com países específicos, como os dois mencionados acima.

Após a quebra da Bolsa de Valores em 1929, a medida aprofundou a recessão no continente. Economistas podem debater o papel das tarifas naquela crise, mas os números falam por si: o PIB dos EUA caiu 46% entre 1929 e 1933; as exportações despencaram de US$ 5,24 bilhões em 1929 para US$ 1,6 bilhão em 1932. A receita dos produtos agrícolas, os supostos beneficiários da lei, caiu 50%, principalmente devido às medidas retaliatórias adotadas por parceiros comerciais afetados, como Canadá e França.

Tarifas são inflacionárias? O que esperar?

As taxas de inflação recentes têm sido inesperadamente baixas, se comparadas às expectativas levantadas pelas tarifas. Uma enxurrada de números, típica de um acordo comercial, foi colocada na mesa, mas há alguns fatos concretos que sustentam a narrativa inflacionária até agora, que não foi tão negativa quanto se previa:

1. As tarifas realmente implementadas não foram tão altas quanto se esperava;

2. O estoque e a antecipação de inventário evitaram aumentos imediatos de preços; empresas estão consumindo produtos adquiridos antes do impacto das tarifas;

3. Absorção de custos: empresas têm segurado reajustes, aguardando maior clareza em sua estrutura de custos, resultante da adição das tarifas às suas planilhas;

4. Pressões inflacionárias historicamente levam tempo para se manifestar.

As tarifas causam inflação? Segundo a The Economist, geralmente sim, “mas o problema maior é que prejudicam o crescimento econômico e a inovação”, de acordo com um artigo de janeiro de 2025. O que nos leva ao exemplo do meu país, o Brasil.

Tarifas como política de longo prazo podem prejudicar a produtividade, a alma da riqueza.

Uma ressalva: a situação histórica das tarifas impostas pelo Brasil sobre produtos importados pode diferir do cenário americano, dadas as enormes diferenças entre o tamanho de suas economias. O PIB dos EUA em 2024 foi de US$ 29,2 trilhões, enquanto o do Brasil foi de US$ 2,18 trilhões, sem mencionar a maior complexidade e sofisticação da economia americana. Mas, sendo ambas economias de mercado, talvez a história do uso recorrente de tarifas pelo Brasil para “proteger” sua indústria sirva de exemplo das consequências de longo prazo dessa política.

1. O crescimento econômico anual do Brasil desde a década de 1980 tem sido, em média, 2,5%, bem abaixo das duas décadas anteriores, quando foi três vezes maior. O crescimento da produtividade estagnou em torno de 0,5% ao ano, em média, entre 1981 e 2023, insuficiente para melhorar a qualidade de vida da população. Não surpreende que o setor mais “protegido”, a indústria de transformação, tenha apresentado queda média anual de -0,3% em produtividade, enquanto o setor de serviços ficou estagnado. O segmento mais competitivo da economia brasileira — e os americanos reconhecem isso em suas mesas de café da manhã — é o agronegócio, que cresceu de forma consistente 6% ao ano nas últimas quatro décadas, consolidando o país como fornecedor global de proteína;

2. Comparação de produtividade: na década de 1980, a produção por trabalhador no Brasil representava 46% da de um trabalhador americano. Hoje, o número caiu para 25,6%. Em outras palavras, quatro trabalhadores brasileiros produzem o mesmo que um trabalhador americano. Vários fatores contribuem para essa diferença crescente, não apenas o protecionismo, mas as tarifas para proteger fabricantes locais certamente reforçaram essa disparidade;

3. As tarifas médias do Brasil sobre máquinas e equipamentos importados — vitais para aumentar produtividade e inovação — são de 11,5%, o dobro das do México e três vezes as da União Europeia. Se somarmos barreiras não econômicas, como proteções tecnológicas e burocracia, 86% das importações brasileiras de manufaturados são atingidas por tarifas.

Esses números revelam a dificuldade de implementar uma estratégia de crescimento econômico e geração de riqueza no longo prazo por meio do aumento de tarifas. O exemplo do Brasil também mostra que as implicações de longo prazo devem ser consideradas, com consequências na produtividade e na inovação. Como disse um ex-presidente americano, Ronald Reagan, “as tarifas funcionam por um tempo, um curto tempo”. A adoção dessas medidas de forma permanente pode trazer resultados negativos — o oposto dos objetivos iniciais.


Acesse a publicação: 

https://www.bocaratontribune.com/bocaratonnews/2025/08/do-tariffs-work-to-promote-wealth




A MACONARIA PARA TODOS V - Jorge Gonçalves


Na noite de sexta feira, 29 de agosto, no templo da Grande Loja Maçônica do Estado de Sergipe, realizou-se o lançamento do livro A Maçonaria Para Todos V. *Antes mesmo das 22 horas, todos os exemplares estavam esgotados.* Seria correto chamar isso de sucesso? E será que esse termo não ultrapassa a simples ideia de comercialização?

Mas, espere, vamos conhecer um pequeno detalhe de planejamento, voltemos à terça feira, 26 de agosto. Em conversa com o extraordinário Irmão Lourival, surgiu uma mudança de última hora: levar a apresentação do Coral Canto Fraterno para o templo maçônico e reservar o salão de festas apenas para a confraternização e a noite de autógrafos. A princípio, hesitei, mas o argumento foi irrefutável, a acústica do templo é incomparável.

O resultado foi grandioso. O templo, amplo e majestoso, recebeu confortavelmente inúmeras pessoas, e o coral emocionou com um espetáculo memorável, incluindo Acácia Amarela, de Luiz Gonzaga. Muitos convidados não maçons se encantaram com a arquitetura, os sinais e os símbolos, percebendo ali um universo novo que se abria diante dos seus olhos.

Ao final, quando as vendas se encerraram, ficou claro que o tal sucesso não foi apenas comercial, mas simbólico. Que o próximo coordenador do projeto fique tão feliz como fiquei naquela noite. A Maçonaria Para Todos registra nossa história, estimula a escrita, inclui novos escritores, promove a beneficência e reforça o precioso laço que nos une como verdadeiros irmãos.


AS FERRAMENTAS PARA DISSOLVER O EGO - Redaelli


1-Introdução

A partir dessas diferentes apresentações, podemos concluir que o Ego, em sua expressão mais negativa, corresponde ao orgulho e ao egoísmo no homem; está apegado ao mundo das posses e das coisas perecíveis. Esses defeitos ocultam a consciência humana da Luz e da Verdade e, consequentemente, constituem um obstáculo à perfeição espiritual, moral, material e intelectual da humanidade.

Também a Maçonaria, como tradição da Luz, propõe, através da iniciação, libertar o homem de todas as suas contingências materiais, morrendo para o seu Ego, para levá-lo a descobrir o seu real Ser imperecível.

Temos uma primeira parte que se concentrará nos aspectos simbólicos da Dissolução do Ego, depois nas ferramentas necessárias para essa dissolução. Na segunda parte é apresentada a importância dessas ferramentas na vida diária do maçom

2-Simbolismo


2.1-A Dissolução do Ego

Na Maçonaria, a exigência da Dissolução do Ego é simbolicamente representada pela presença de ossos na câmara de reflexão, no trono de Salomão do Venerável Mestre e, em seguida, no Ataúde do painel de Mestre Maçom. Esses ossos e o Ataúde, evocam a morte e sugerem ao Maçom que apodreça o ser fictício e faça nascer, em sua própria dissolução, o germe da pedra cúbica que ele será, da Estrela Flamejante que ele é e do verdadeiro Mestre Maçom que ele deve ser.

A Dissolução do Ego consiste, portanto, em morrer para si mesmo conscientemente, em deixar que os velhos restos do ser de desejo sejam enterrados sem arrependimento, para se tornar um ser de luz na materialidade.


 2.2- As ferramentas da dissolução do ego

Em sua abordagem iniciática, o ensino maçônico fornece ferramentas e ritos simbólicos que, por meio do uso da reflexão e meditação sobre as funções que representam, provocam uma verdadeira metamorfose profunda no iniciado.

É assim que o Mestre Maçom, ao dar os três passos para cruzar o Ataúde, percorre a jornada de sua morte simbólica, durante a qual encontra ferramentas: o Mestre Maçom passa do Esquadro para o Compasso, passando da Alavanca, à direita, para a Régua, à esquerda. Ele atravessa o Ataúde em um arco que simboliza o Compasso, e com os pés sempre voltados em forma de Esquadro. Essas ferramentas participam de uma continuidade na progressão  da escuridão para a luz.


2.2.1-O esquadro :

O esquadro está associado ao quadrado, à terra, à materialidade que é o domínio por excelência da expressão do ego em todas as suas formas.

 Mas o esquadro também une em um único símbolo a horizontalidade e a verticalidade, formando o ângulo da retidão, de 90°. Exige que o maçom leve em conta todos os opostos e todas as restrições necessárias à sua própria construção pelo esquadro. A verticalidade, por seu movimento descendente, sugere a necessidade de inspecionar o interior da própria natureza, e a direção ascendente exige o dever espiritual da elevação; quanto à horizontalidade, ela encoraja a aplainar os obstáculos gerados pelo Ego para acessar a libertação interior, corrigindo defeitos e purificando o supérfluo.

Permanentemente presente nos passos do Maçom, o Esquadro representa uma retidão constante no caminho iniciático e na obra a ser realizada, a da dissolução do Ego.

Mas o Esquadro como ferramenta de desenho e controle não é suficiente para realizar este trabalho. Para agir em si, é preciso vontade e força, simbolizadas pela Alavanca.


2.2.3-A Alavanca  :

Para falar desta ferramenta, recordarei a afirmação de Arquimedes que, ao descobrir a lei de aplicação da Alavanca, disse: "Dêem-me um ponto de apoio e uma Alavanca e eu moverei o mundo". Assim, a Alavanca apresenta-se como uma ferramenta por excelência à qual nada pode resistir no plano mecânico.

No plano maçônico, a Alavanca demonstra que uma vontade inabalável, aplicada com inteligência, pode triunfar sobre todos os obstáculos. É por meio dela que o futuro Mestre obtém a força necessária para dar o passo mais largo de sua marcha. Esse avanço tão difícil muitas vezes só é possível graças à mão estendida de um irmão Mestre para alcançar o outro lado do Ataúde.  A alavanca traduz, assim, a necessidade de uma Vontade superior, animada por um verdadeiro Amor fraterno e desprovida de quaisquer paixões ou desejos materiais. Essa Vontade-alavanca constitui o fulcro que permite ao iniciado triunfar sobre qualquer obstáculo físico ou moral, sobre as resistências materiais, bem como superar seus medos e fraquezas para se questionar.

 O simbolismo da alavanca leva a consciência do iniciado a poder se deslocar para um plano superior, entendendo que nada é possível sozinho, é impossível purificar o próprio ego, e que isso passa essencialmente pela superação de si mesmo, trabalhando com os irmãos e para os outros homens, num espírito de tolerância, amor e fraternidade.


2.2.4-A Régua 

A Régua, que serve para traçar linhas retas ou para verificá-las, estimula o maçom a perseverar no caminho da virtude, seguindo um caminho reto, justo e equitativo em suas relações com seus semelhantes.

Segundo o maçom James Harvey Martin: "a régua do iniciado é subdividida em 4x6 horas, ou 24 horas, que se articulam da seguinte forma: 6 horas para trabalhar, 6 horas para servir a Deus, 6 horas para servir a um amigo ou irmão, sem que isso seja um prejuízo para nós ou para nossa família, e 6 horas para dormir".

 A divisão do dia em 4x6 horas lembra ao iniciado a passagem do tempo, bem como a necessidade imperativa de viver em harmonia com essa graduação das 24 divisões do ciclo solar diário e, portanto, integrar-se ao ritmo da Ordem cósmica. Ela leva a consciência do maçom a se elevar acima de desejos e preocupações centradas exclusivamente em si mesmo, e a se estender ao Universo e à percepção Divina.

É pela Régua que é possível passar do Esquadro ao Compasso, do perecível ao imperecível, da Dissolução à ressurreição, da materialidade à espiritualidade.


2.2.5 - O compasso:

O compasso está associado ao círculo, ao céu e ao espírito. Ao passar a perna sobre o Ataúde é estimulada a verticalização do espírito, o que é evocado pela noção de "passar do esquadro ao compasso".   

Ao atingir a compasso ou o centro do círculo, o iniciado entra em si mesmo, lugar em que está em harmonia com o brilho de sua estrela flamejante, e obtém as luzes que devem iluminar a dissolução de seu ego na escuridão de sua consciência, para que o trabalho encontre uma aplicação mais judiciosa e frutífera em sua vida diária.


3- observações 

Observo que a Dissolução do Ego ocorre entre o Esquadro e o Compasso, passando da Alavanca para a Régua pela busca da harmonia consigo mesmo, com o Universo e com Deus. Mas isso é possível se a Força da Alavanca for usada adequadamente sob o controle do Esquadro, como em qualquer construção, e se for baseada em uma Vontade de bem sem esperança de recompensa que deve animar o iniciado, permitindo-lhe manter seus compromissos maçônicos em relação à Régua com 24 divisões e continuar seu trabalho até o fim de sua vida, como nosso falecido Mestre Hiram. Mas a acácia nos lembra que nem tudo está perdido, pois da dissolução do corpo emerge a noção de perpetuidade de energias imperecíveis e não dissolvidas; talvez aí apareça o segredo da imortalidade.


4-Conclusão

Diferentemente das ferramentas do assassinato, que são as únicas, ou seja, o fio de prumo, o nível e o martelo, as ferramentas da dissolução do Ego são acopladas, e é preciso associá-las para utilizá-las corretamente, se se quiser ter sucesso na execução do trabalho empreendido.

Aprendiz, somos constantemente ensinados a que a Dissolução do ego é essencial para "sermos livres e de boa moral"; Companheiros, temos à nossa disposição todas as ferramentas cujas funções se sintetizam no Esquadro e no Compasso, na Alavanca e na Régua, para trabalharmos na "Conquista de nossas paixões, submeter nossas vontades aos nossos Deveres e progredir na Maçonaria". O Maçom, visando sua regeneração espiritual, é um companheiro eterno no trabalho da Dissolução de seu Ego por meio de um questionamento permanente, pois não poderá funcionar completa e unicamente no centro do círculo até que tenha estabelecido sua morada no "Oriente eterno".

A POLARIZAÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO MAÇOM COMO PONTE EM TEMPOS DE CONFLITO - Luís Fernando Martinez Miranda




Vivemos em tempos fragmentados. Não por acaso, mas por um acúmulo de tensões sociais, políticas, culturais e emocionais que vêm fermentando há décadas. Hoje, esta tensão encontra múltiplos canais de expressão: desde as redes sociais que amplificam a indignação, até as ruas que se enchem de gritos e faixas. O mundo parece dividido em campos irreconciliáveis, onde cada um defende a sua própria visão como se fosse a única possível. Neste cenário, cheio de ruídos e trincheiras, torna-se urgente perguntar:

Qual o papel do Maçom neste conflito latente?

A Maçonaria, embora discreta nas suas formas, não pode nem deve ficar indiferente aos desafios do mundo que a rodeia. Se o seu objetivo é contribuir para a edificação moral e intelectual do ser humano, então a sua presença, mesmo em silêncio, deve fazer-se sentir quando os fundamentos da convivência estão em perigo.

A lógica do inimigo

Um dos sinais mais preocupantes do nosso tempo é a instalação de uma lógica binária: se não estás comigo, estás contra mim. Este raciocínio, tão simplista quanto nocivo, substituiu o saudável debate de ideias pela desqualificação sistemática do outro. O adversário já não é alguém de quem discordo; é um inimigo a ser derrotado ou silenciado. Esta mentalidade não só empobrece o diálogo social, como o envenena. Perde-se a capacidade de ouvir, de reconhecer o valor do diferente, de aceitar que o outro, mesmo no erro, tem uma dignidade inviolável. Quando uma sociedade perde esta bússola, a coesão quebra-se e a violência, simbólica ou física, encontra um terreno fértil.

O Maçom, pela sua formação, deve resistir a esta tentação. Não porque se considere moralmente superior, mas porque foi treinado para construir em vez de destruir, para reconciliar em vez de dividir. Num mundo que recompensa a reação impulsiva, o Maçom cultiva a pausa reflexiva; numa sociedade que se alimenta de slogans, ele procura o pensamento profundo; e numa época em que a emotividade domina, ele esforça-se por exercer um julgamento calmo.

Ser uma ponte não é ser neutro

Ser uma ponte não significa ser indiferente ou equidistante. Não se trata de adoptar uma tibieza ética que tudo justifica, mas de exercer uma presença que liga, medeia, escuta e propõe. Para cumprir a sua função, uma ponte deve ter âncoras firmes em ambos os lados do abismo. Esta firmeza resulta de um compromisso com princípios universais: justiça, dignidade humana, liberdade de consciência e paz social.

O Maçom não pode ser refém de ideologias passageiras ou cúmplice de fanatismos disfarçados de certezas. A sua tarefa não é alinhar bandeiras, mas recordar que, acima de quaisquer diferenças, há uma humanidade comum que nos une e é onde todos se apressam a julgar que o Maçom pára para compreender que é onde se erguem muros que ele tenta construir pontes.

Ser Maçom em tempos de polarização é, acima de tudo, um ato de coragem. É falar quando todos gritam, mas fazê-lo com respeito, é discordar sem ódio, discutir sem humilhar, construir sem aniquilar o outro. Num mundo inflamado pelas paixões, a serenidade é um ato revolucionário.

O exemplo como palavra silenciosa

Mais do que grandes discursos, o que é necessário hoje são exemplos. Exemplos de integridade, coerência e abertura de espírito. É na vida quotidiana que o ideal maçônico é mais testado: na forma como tratamos aqueles que pensam de forma diferente, na forma como reagimos à injustiça, na nossa capacidade de ouvir sem preconceitos.

Um Maçom que age de forma justa, que dialoga com humildade, que constrói uma comunidade no meio de um conflito, está a fazer muito mais pela paz do que qualquer retórica bombástica. Porque a verdadeira mudança não vem de cima ou de fora. Começa dentro de cada um de nós e espalha-se pelos outros como uma onda de choque.

O dever do discernimento

A polarização também se alimenta da confusão. Na era da desinformação, distinguir o verdadeiro do falso, o importante do trivial, o ético do útil, torna-se uma tarefa complexa. Também aqui o Maçom tem um papel a desempenhar: cultivar o pensamento crítico, questionar a superficialidade, desmantelar as narrativas simplificadoras.

O discernimento exige um esforço intelectual e moral. Requer uma vontade de olhar para além do óbvio, de questionar as próprias convicções, de aceitar que ninguém possui toda a verdade. Neste exercício, o Maçom torna-se um farol discreto: não para iluminar os outros, mas para não se perder no meio da tempestade.

Rumo a uma cultura do encontro

Não há paz sem justiça e não há justiça sem diálogo. A nossa tarefa é, pois, dupla: construir espaços de reflexão serena e promover uma cultura do encontro. Isto não implica ingenuidade ou conformismo, mas um compromisso profundo com o futuro da humanidade.

Precisamos de voltar a olhar uns para os outros como iguais e recuperar o valor da palavra empenhada, do abraço sincero, do silêncio partilhado. Precisamos de recordar que a diferença não é uma ameaça, mas uma riqueza e que o conflito não é necessariamente destrutivo, se abordado com respeito e boa-fé.

E aqui o Maçom tem uma oportunidade preciosa: ser um artesão desta nova cultura. Não da tribuna, mas do trabalho paciente, constante e humilde.

Para onde vamos…                             

Em tempos de confusão, o compromisso ético torna-se urgente. A Maçonaria não tem receitas mágicas nem verdades absolutas. Mas tem uma tradição de homens que procuraram honestamente compreender os outros, elevar-se acima do imediato e contribuir para o bem comum.

Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa da nossa presença serena. Do nosso olhar integrador. Da nossa capacidade de estender a mão quando todos se afastam. No meio do ruído, sejamos um espaço de silêncio fecundo e no meio do ódio e da fragmentação, sejamos uma semente de unidade.

Porque onde tudo parece estar prestes a partir-se, há sempre alguém pronto a reconstruir. Que esse alguém, hoje, seja cada um de nós.

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agosto 29, 2025

ARLS GONÇALVES LEDO 1785 - Vicente Pires



Frequento esporadicamente a  ARGBLS Gonçalves Ledo n. 1785 há cerca de duas décadas em função da amizade com o irmão Ricardo Gomide Castanheira e outros tantos que ao longo destes tempo tornaram-se próximos. A sensação de reencontrar tantos irmãos e amigos é muito gratificante.

Há uns dez anos construíram um belo templo na entrada de Taguatinga, em Vicente Pires, que é utilizada por outras Lojas simbólicas, de altos graus e pelos DeMolay.

Na noite desta quinta-feira foi a oportunidade de mais uma visita e o Venerável Mestre William Camargo me ofereceu o tempo de estudos para dedicar uma palestra aos aprendizes da Loja, que fiz com muito prazer.

A palestra versou sobre a história da formação da Grande Loja de Londres e Westminster e sobre a origem dos graus maçônicos e foi muito bem recebida. Aproveitei para expor os livros da Academia.

Um reforçado ágape encerrou a noite.



INICIAÇÃO - Jorge Levi Salles Pereira,



Iniciação origina-se da palavra latina initia, na acepção de adquirir os primeiros  rudimentos de uma ciência. 

Inúmeros e antigos são os processos iniciáticos e temos que ter consciência de que outras escolas de iniciação esotérica existem, além da Ordem Maçônica, Rosa Cruz, Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, Ordem Martinista, etc. 

O Ato Iniciático é contribuição da Ordem para que se tenha uma sociedade mais  justa, com mais amor, mais humildade, mais tolerância, enfim, que exercite realmente os bons sentimentos. 

A Iniciação aos nossos Mistérios é uma tradição antiga, sagrada, tanto para aqueles que chegavam quanto para os que os receberiam. Existia um fator importantíssimo que envolvia tal momento: o Respeito.

Hoje, todavia, muito se perdeu, muito nos falta para entendermos o que seja um Ato Iniciático. Lamentavelmente, muitos vêm até nós por curiosidade, com interesses em bens materiais, porque querem obter privilégios, ou, comuníssimo, porque são amigos de um Irmão, mas não têm a mínima condição para serem Maçons e, assim, a Iniciação vai perdendo seu valor de transformação do homem. 

Precisamos entender que, trabalhando ou assistindo a um Ato Iniciático estamos presenciando o nascer de uma nova vida e somos responsáveis pelo ingresso de um novo homem, não somente em uma Loja, mas, principalmente, na Maçonaria Universal. 

É mais um momento de refletirmos, deixarmo-nos envolver pelo amor ao Ser que ora nasce, sentirmo-nos esperançosos, acreditando que é mais um que lutará para atingir aquela Sociedade mais justa, que tanto almejamos. Aí estão verdadeiro e profundo significado da frase Sic transit Gloria Mundi - assim caminha a Glória do Universo. 

Lembremos que o Ato Iniciático não é o instante que precede ao ágape e tampouco uma peça de teatro, onde os erros dos atores serão comentados de uma forma jocosa, que não nos leva a nada. Somos Maçons, homens que praticam puros e belos atos. Dentro da Ordem, sendo educados e educando fora dos nossos Templos, servindo de exemplo para os demais cidadãos do Mundo. 

Cada Loja Maçônica, além do Proponente e dos Sindicantes, terá uma plêiade de Maçons para analisar o currículo de um candidato e, assim, responsabilizar-se por seu ingresso na Ordem. O candidato deverá ser, obrigatoriamente, um homem probo, cortês, de bom nível cultural, situação financeira razoável, discreto, maduro, crente em Deus ou em um Ente Superior, etc. 

Cremos que um excelente proponente deva ser um Mestre Maçom ativo, conhecedor das necessidades de sua Loja e da Ordem, de conduta profana e maçônica ilibadas e de maturidade maçônica suficiente até, para entender, se for o caso, que um proposto seu não foi aceito pela Loja por motivos que ele desconheça e tenha sido detectado pelos Sindicantes. 

Segundo Marivalde Calvet Fagundes, emérito pensador e escritor maçônico, iniciar um profano para o ingresso na Maçonaria não é colocá-lo dentro da Instituição. É permitir, solicitar e ensejar que a vida desse profano seja vasculhada, analisada e pesada por três Mestres Maçons encarregados da sindicância. 

Quem na realidade concede o ingresso do profano na Maçonaria é uma Loja, reunida regularmente e mediante escrutínio secreto. A responsabilidade, portanto está repartida por muitos. 

Muitas sindicâncias não significam necessariamente muitas iniciações. Significam, sem dúvida alguma, à luz da Ciência Estatística, maior oportunidade de seleção e melhor escolha. 

O que nós temos, inapelavelmente, de começar a abolir é a figura do "padrinho", que não se justifica, uma vez que ela não dispensa a sindicância nem o escrutínio. 

A transformação do "padrinho" em "proponente" dá maior liberdade de ação ao mesmo, tirando-lhe o medo de cometer um engano. Além disto, concede aos sindicantes, também, maior liberdade de ação, porque estes sabem que não irão suscetibilizar o proponente, caso as sindicâncias sejam desfavoráveis, o que tem acontecido com frequência, no sistema atual. 

Por falar em medo de cometer engano, lembremo-nos que Jesus Cristo, ao escolher doze apóstolos, cometeu um engano, logo... 

Muitos outros aspectos da iniciação poderiam ser discutidos neste trabalho, mas, para não cansar o leitor; paramos por aqui, conclamando a todos que cumpramos o que determinam os nossos Rituais e assim teremos novos e brilhantes Maçons para honra e glória do G∴A∴D∴U∴

Publicado na Revista Astréa – Órgão Oficial do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil -  Ano LXXVII – no 14 – Rio de Janeiro – Out 2003 / Abr 2004 – pág 23/24.

agosto 28, 2025

ARLS FRATERNIDADE DE SAMAMBAIA 3230 - Taguatinga


Estando em Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal, decidi visitar uma Loja que eu ainda não conhecia, a ARLS Fraternidade de Samambaia n. 3230, que funciona no mesmo templo da ARLS Gonçalves Ledo, esta já visitei inúmeras vezes.

Entrei em contato com o Venerável Mestre Eduardo Aquino poucas horas antes da sessão e de maneira extremamente cordial e simpática, não só aceitou a minha visita como se prontificou a me dar carona até a Loja.

Ao chegar encontrei irmãos que já conhecia de longa data, o irmão Wellington, que era VM da Loja Renascença durante uma de minhas visitas àquela Loja, os irmãos Sérgio Rocha Machado (ocupando o cargo de Mestre de Cerimonias) e Luiz Paulo N. Neto (secretário), que são parceiros de primeira hora da ARLS Virtual Lux in Tenebris, e outros que já haviam assistido palestras minhas.

A Ordem do Dia foi a apresentação de um excelente trabalho de um irmão aprendiz, Murilo Salas Ferreira, de qualidade incomum pela erudição e conteúdo. E o Venerável Mestre pediu que eu apresentasse um resumo de uma minhas palestras, "Maçonaria, da Pedra Bruta a Inteligência Artificial" que fiz com muito prazer. Também expus os livros editados pela Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras e fiz o convite para que os irmãos se inscrevessem na XXX Jornada Maçônica do Brasil que será realizada no próximo dia 28 de setembro em Santos.

A sessão foi encerrada com um delicioso ágape.


PARA QUE ME FORAM DADOS ESTES ANOS?


Às vezes eu penso: para que me foram dados esses anos? Fico no portão, olhando para a rua, e lá a vida corre — alheia e rápida. Carros, pessoas, vozes. E em minha casa apenas o silêncio, só o relógio que tica alto.

Antes era diferente. A casa estava cheia de sons: o barulho de pequenos pés, risadas cristalinas, os gritos eternos de «papai, papai, olha!». Eu me lembro de quando meu filho corria pelo quintal com uma espada de madeira, e minha filha constantemente pegava minhas camisas, fazendo delas vestidos para suas bonecas. Naquela época, parecia que nunca iria acabar, que eles sempre estariam por perto.

E então os anos passaram, e as crianças cresceram. Foram embora, formaram suas próprias famílias, empregos, preocupações. Eu entendo tudo: eles estão ocupados, têm suas próprias famílias, preocupações... Mas o coração não entende. O coração espera todas as noites que o telefone toque, que ouça uma voz familiar. Mas a resposta é apenas silêncio.

Guardo seus desenhos, recortes de revistas, cartões caseiros com "para o papai". Passo por eles com mãos trêmulas e sorrio, mas logo as lágrimas caem por si só. Eles eram tão pequenos, gentis, delicados, precisavam de mim... Mas agora essa necessidade passou. Pareço ter me tornado uma sombra em suas vidas, da qual se lembram, talvez, uma vez por mês com uma ligação. «Como você está, papai?» — perguntam rapidamente, e eu respondo: «Tudo bem», mesmo que por dentro esteja vazio.

Às vezes sonho que sou jovem novamente: carregando meu filho nos ombros, segurando minha filha pela mão, minha amada esposa ao meu lado, rindo todos juntos. Acordo — estendo a mão, mas não há ninguém ao lado. Apenas o travesseiro frio.

Não peço muito. Gostaria de sentar um pouco ao lado deles, ouvir uma voz viva, sentir que ainda faço parte de suas vidas. Mas, parece que cada um tem seu próprio tempo. O meu já passou. Agora só importo para essas paredes, fotografias nas paredes e memórias, que a cada dia queimam mais o coração.

Sabe, a velhice não é assustadora pelas rugas. A velhice é assustadora quando você percebe que não é mais necessário para ninguém.💔

Fonte: Facebook 

PARALELOS ENTRE OSÍRIS E HIRAM ABIFF


A lenda de Hiram Abiff na Maçonaria é frequentemente comparada ao mito egípcio de Osíris, pois ambas as histórias compartilham elementos simbólicos de morte, desmembramento e ressurreição. Embora sejam narrativas de contextos culturais e históricos distintos, a Maçonaria moderna, em sua tradição esotérica, reconhece e utiliza essas semelhanças para transmitir ensinamentos sobre a imortalidade da alma e a superação da morte.

Paralelos entre Osíris e Hiram Abiff

As principais similaridades entre as duas lendas são:

 * O "Filho da Viúva": Tanto Hiram Abiff quanto Osíris são considerados filhos de uma viúva. Na mitologia egípcia, Osíris é o filho de Nut (o Céu), mas seu pai, Geb (a Terra), é "morto" em sentido simbólico após Osíris ser assassinado por seu irmão Set. Sua esposa Ísis, que é também sua irmã, o chora como uma viúva. Na lenda maçônica, Hiram é explicitamente chamado de "filho da viúva", uma designação que os maçons usam para se referir a si mesmos, honrando a Hiram.

 * Assassinato por Inveja: Em ambas as narrativas, a morte do protagonista é motivada por inveja e traição. Osíris é assassinado por seu irmão Set, que cobiçava o seu trono. Hiram Abiff é morto por três mestres artesãos que o invejavam e queriam extrair dele a "Palavra do Mestre Maçom", um segredo que ele se recusou a revelar.

 * O Desmembramento e a Perda: Osíris é desmembrado em 14 partes por Set, que as espalha pelo Egito. Ísis parte em uma busca incansável para encontrar e reunir os pedaços do corpo de seu marido. Da mesma forma, o corpo de Hiram Abiff é enterrado de maneira secreta e desmembrada, e seus companheiros partem em busca de seu túmulo.

 * A "Ressurreição" Simbólica: Osíris, com a ajuda de Ísis, é magicamente ressuscitado, tornando-se o rei do mundo dos mortos e simbolizando o renascimento e a vida após a morte. Hiram Abiff não retorna fisicamente à vida, mas sua memória e os ensinamentos que ele representava são "ressuscitados" na forma de uma nova palavra secreta, a ser utilizada até que a palavra original seja reencontrada. Isso simboliza o triunfo do espírito sobre a matéria, da moralidade sobre o mal e a imortalidade da alma.

 * A Acácia e a Imortalidade: Na lenda de Hiram Abiff, uma acácia é usada para marcar o local de seu túmulo. Essa árvore de folhas perenes é um símbolo da imortalidade da alma. Da mesma forma, a acácia está associada a Ísis e à lenda de Osíris.

Em suma, a relação entre Osíris e Hiram Abiff não é histórica, mas sim alegórica. A lenda de Hiram Abiff é considerada por muitos estudiosos maçônicos como uma versão mais moderna e adaptada do mito de Osíris, com o objetivo de ensinar os princípios da moral, da imortalidade da alma e da persistência da verdade.

Fonte: Filhos da viúva 

HIRAM ABIFF E O CULTO SOLAR - João Anatalino Rodrigues

 


Os cultos solares

Como todos os maçons sabem, a sua Arte, embora encontre os seus fundamentos organizacionais entre os pedreiros medievais, mais propriamente na estrutura das corporações dos chamados pedreiros-livres (chamados masons pelos ingleses e maçons pelos franceses), têm, na sua filosofia e princípios fundamentais, um pé firmemente fincado na estrutura do antigo reino de Israel. Tanto isso é verdade que encontraremos no catecismo dos graus superiores da Maçonaria uma verdadeira profusão de temas e ensinamentos inspirados no Velho Testamento. 

Isto é interessante, porquanto, sendo a Maçonaria ocidental uma instituição tipicamente cristã, é bastante estranho que sejam, primordialmente, os temas da Bíblia hebraica a inspirar a liturgia desenvolvida nos graus superiores da Maçonaria e não a teologia dos Evangelhos cristãos. Esta é, sem dúvida, uma das razões que fazem católicos e evangélicos, especialmente aqueles menos informados, desconfiarem da Maçonaria e levantarem contra os maçons as mais estúpidas e ridículas acusações.

A verdade é a que a doutrina maçónica – se assim podemos chamar os preceitos cultuados pelos maçons estão muito mais fundamentados em fontes hebraicas do que cristãs. E no que toca à influência cristã que aparece em alguns dos graus (especialmente o 18- O Cavaleiro da Rosa-Cruz), ela tem um parentesco mais próximo com o gnosticismo do que com o cristianismo ortodoxo, propriamente dito.

Como sabemos, o cristianismo ortodoxo, seguido tanto pelos católicos quanto pelos evangélicos, é uma criação do apóstolo Paulo de Tarso. Não fosse ele a doutrina pregada por Jesus jamais teria saído dos estreitos limites do território de Israel e não se teria tornado uma crença mundial. E foi o apóstolo Paulo que transformou Jesus, o Messias cristão, (um herói tipicamente da cultura israelita) no Cristo grego, um arquétipo de carácter universal, cultuado por praticamente todos os povos antigos.

A tradição de um herói sacrificado, no entanto, que dá a sua vida pela salvação do povo, não é específica da cultura de Israel, mas sim um tema existente em praticamente todas as culturas antigas. É, na verdade, uma inspiração derivada das antigas religiões solares, na qual o sol, sendo aquele que permite a existência da vida, por efeito da energia que ele prodigaliza, é o “herói que morre todas as noites”, e ressuscita pela manhã, energizando a terra para que ela produza os seus frutos.

Daí os povos antigos desenvolverem o culto ao sol, fazendo desta crença uma verdadeira religião, criando ritos de fertilização como os praticados no Egipto, com os Mistérios de Ísis e os praticados pelos gregos, com os Mistérios de Elêusis, o persas com os Mistérios de Mitra, os hindus com os Mistérios de Indra, etc.

O mito do herói sacrificado

Todo Maçom que tenha sido elevado ao mestrado na Arte Real já fez a sua marcha ritual em volta do esquife do Mestre Hiram Abiff. A alegoria da morte de Hiram é uma clara alusão ao mito do sacrificado. Ele está conectado, de um lado ao simbolismo da ressurreição e de outro lado ao mito solar. Pois nas antigas religiões solares, como vimos, o sol, princípio da vida, morria todos os dias para ressuscitar no dia seguinte, após passar uma noite no meio das trevas.

Assim como toda a teatralização dos Antigos Mistérios, fosse na Grécia ou no Egipto, ou em qualquer outra civilização que praticasse esses festivais, mais do que uma simples homenagem aos protetores da natureza, esses rituais simbolizavam a jornada do espírito humano em busca da Luz que lhe daria a ressurreição. 

É neste sentido que a marcha dos Irmãos em volta do esquife de Hiram, sempre no sentido do Ocidente para o Oriente, nada mais é que uma imitação desse antigo ritual, que espelha a ansiedade do nosso inconsciente em encontrar o seu “herói” sacrificado (ou seja, o sol), para nele realizar a sua ressurreição. Pois o sol, em todas essas religiões, era o doador da vida. Ele fertilizava a terra e fazia renascer a semente morta. Destarte, toda a mística desses antigos rituais tinha essa finalidade: o encontro com a luz que lhe proporcionaria a capacidade de ressurreição.

Esta é a razão da estranha marcha praticada pelos maçons em volta do corpo assassinado do arquitecto Hiram Abiff, sempre no sentido do ocidente para o oriente, pois o que ali se simboliza é a marcha do espírito humano em busca da luz (a luz solar) que nasce no oriente e caminha para o ocidente. Desta forma, o espírito humano, fazendo o caminho inverso, há de encontrar o seu “herói sacrificado” e com ele realizar a união, obtendo a sua “iluminação.” Este é, pois, o sentido simbólico da cerimónia de elevação do Irmão ao grau de mestre.

O sacrifício da completação

Conectado com este simbolismo, os antigos povos, nas suas tradições iniciáticas relacionadas com grandes obras arquitectónicas, desenvolveram o chamado “sacrifício da completação”. Este sacrifício consistia em oferecer ao deus a quem era dedicado o edifício um sacrifício de sangue, que podia ser o holocausto dos inimigos aprisionados em guerra ou pessoas escolhidas entre próprio povo. Muitas vezes essa escolha recaia sobre mulheres virgens (as vestais) ou jovens guerreiros, realizadores de grandes feitos na guerra. Acreditava-se que assim os deuses patronos dos poderes da terra se agradariam daquele povo, prodigalizando-lhes fartura de colheitas e protecção contra os inimigos. [1]


Este tema remonta a antigas lendas, cultivadas pelos povos do Levante, segundo o qual nenhuma grande empreitada poderia obter bom resultado se não fosse abençoada pelos deuses. E esta bênção era sempre obtida através de um sacrifício de sangue. Este costume era praticado inclusive pelos israelitas, como mostra o texto bíblico ao informar que Salomão, ao terminar a construção do Templo de Jerusalém “sacrificou rebanho e gado, que de tão numeroso, nem se podia contar nem numerar.” [2]


Desta forma, na Maçonaria, o Drama de Hiram tem uma dupla finalidade iniciática: de um lado presta a sua referência ao culto solar, sendo Hiram, nessa mística, o próprio sol que é homenageado; de outro lado, cultua o herói sacrificado, pois é nele que se consuma a obra maçónica. A Maçonaria, como se sabe, é uma sociedade de “pedreiros”, que visa construir uma sociedade justa e perfeita.


Nesta mística podemos incluir o simbolismo que está no centro do próprio mistério que informa a crença cristã. Pois Jesus Cristo, o sacrificado do credo cristão, também é imolado para que a obra de redenção da humanidade seja realizada. A Maçonaria, como vimos, trabalha especificamente com esse simbolismo no grau dezoito, o chamado Cavaleiro da Rosa-Cruz.


Concluindo, podemos dizer que a Maçonaria é uma sociedade teosófica e humanista que no seu propósito místico está centrada na estrutura do antigo reino de Israel. Como se sabe, a doutrina que fundamenta a formação e a existência do povo israelense, como se comprova na sua própria saga histórica, é a de que Israel, como povo e nação, é uma espécie de “maquete da humanidade autêntica”, ou seja, o povo modelo que Deus escolheu para que a humanidade nele se espelhasse. E na sua face mística, o povo de Israel seria a estratégia pela qual Deus reuniria “os cacos do vaso sagrado (o universo)” quebrado pela acção impensada de Adão e Eva. Ou seja, Israel seria o próprio “Messias” realizando a Tikun olam. [3]


É neste sentido que a Maçonaria, adoptando a estrutura e o simbolismo do Velho Testamento, na sua ritualística procura desenvolver o mesmo sentido que Israel dá à sua doutrina. Por isso podemos dizer que a Maçonaria é a Cabala do Ocidente.


Notas


[1] Veja-se o relato bíblico em Juízes: 11;30,31, na qual o juiz Jefté sacrifica a própria filha em razão de um voto feito a Jeová.


[2] Reis I- 8:5 – Na imagem, gravura mostrando os maçons em volta do esquife do Mestre Hiram. Fonte: “Morals and Dogma”, de Albert Pike – Kessinger Publishing Co. 1992.


[3] O termo Tikun olam (תיקון עולם) significa “reparar o mundo”. É um termo cabalístico que sustenta a crença de que Deus escolheu o povo de Israel para reparar o caos causado pelo pecado de Adão. Vide neste sentido a obra de Gershon Scholen – A Cabala e Seu Simbolismo, Ed. Perspectiva, São Paulo, 2015. É neste sentido, também, que a Maçonaria adoptou o lema “Ordo ab Chao”, que significa Ordem no Caos, pois sendo a Maçonaria uma espécie de sucedâneo do reino de Israel, essa seria a sua missão no mundo: realizar a ordem no caos, construindo uma sociedade justa e perfeita.

agosto 27, 2025

I CONGRESSO NACIONAL DAS ACADEMIAS MAÇÔNICAS DE LETRAS - CONAMA - Hélio P. Leite




A Academia Goiana Maçônica de Letras, sob a presidência do confrade José Mariano Fonseca, planejou, organizou e realizou entre os dias 22 e 24 deste mês, o I Congresso Nacional de Maçons Imortais - CONAMA, tem como sede a cidade turística de Caldas Novas, Goiás e como cenário as instalações de um dos 14 hotéis do Sistema DiRoma.

A abertura deste mega evento lítero cultural aconteceu na noite de sexta-feira, presentes todos os congressistas e seus familiares, convidados, autoridades maçônicas, autoridades de Caldas Novas, Secretária de Turismo, representando o Prefeito e o Deputado Federal, irmão Pedro, nascido em Caldas Novas. Foi sem dúvida um momento apoteótico, com apresentação músical da Banda de Caldas Novas e de dois grupos de jovens bailarinas que se apresentaram em grande estilo, e que emocionou a todos que ali assistiram suas performances em ballet Clássico.

Na ocasião, o Presidente da Academia Anfitriã, confrade José Mariano Fonseca, coadjuvado pelos confrades Michael Winetzki, Presidente da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras e o confrade Helio P. Leite, Presidente da Academia Internacional de Maçons Imortais, procedeu a Abertura Solene do Congresso. E em seguida o doutor Nilson Jaime, Presidente do Instituto Cultural Bernardo Élis para os Povos do Cerrado - ICEBE (GO), discorreu sobra Bernardo Élis, sua vida e sua obra. Após esta cerimônia foi servido um jantar nas dependências do Hotel.

No sábado, na abertura dos trabalhos, fez uso da palavra o confrade Helio Pereira Leite, discorrendo sobre a importância cultural do CONAMA para a literatura e a cultura da Maçonaria no Brasil, ressaltando a oportuna iniciativa da Academia Goiana Maçônica de Letras, que por certo muito enriquecerá o saber e conhecimento dos participantes. 

Em seguida, foram proferidas várias Conferências todas em nível acadêmico, com destaque para os seguintes temas:
"As Vigas Mestras da Maçonaria", Conferencista - contrade Denizart Silveira de Oliveira Filho(RJ);

 

"Empatia e Liderança: combinação perfeita para um bom caminho de uma gestão maçônica exitosa", Conferencista - Mario Martins de Oliveira Neto, Sereníssimo Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás;

 

"Tradição, arte e cultura: maçonaria e a escola autêntica para a busca do conhecimento", Conferencista - confrade Eleutério Nicolau da Conceição (SC);

Em prosseguimento, apresentaram suas conferências, o Confrade Antonio Rosário Leite Filho (GO), sob o tema:

 

"Filosofismo: uma escola de formação de líderes";

 

Professor Lindonor Ribeiro, sob o tema: "Por que ser maçom ainda?

Na parte da tarde se apresentaram os seguintes conferencistas:

 

Desembargador Adegmar José Ferreira, sob o tema: "Qual o papel e como aproximar o mundo jurídico e os pólos da arte e da cultura em nossas práticas na Maçonaria?";

 

Professor Getúlio Targino Lima, sob o tema: "É possível encontrar espaços na Maçonaria para a boa prosa, poesia e demais gêneros literários entre os jovens frente às imposições do mundo digital? Como?";

 

Dr. Michael Winetzki, sob o tema: "Em tempos digitais, entre tantos desencontros e encontros: é possível ver e ter um caminho para a felicidade?".

 

Professor Anderson Lima Silveira, sob o tema: "Brindando a um até logo !!! - Degustando um papo reto".

Nas considerações finais sobre a realização do I CONOMA, vários participantes fizeram uso da palavra, bem como algumas cunhadas presentes. Solicitado por um dos participantes, o confrade Michael discorreu sobre os caminhos para a Felicidade, fechando, assim, com chave de ouro o ciclo de conferências apresentadas no decorrer do Congresso. E finalmente o Congresso foi encerrado de forma conjunta pelos confrades Helio Michael e José Mariano. Sendo que o domingo ficou reservado para os participantes e seus familiares desfrutarem da estrutura turística, das águas termais, oferecidas pela Cidade de Caldas Novas.

Na minha avaliação pessoal, o I CONAMA alcançou sucesso exponencial. Em organização, na escolha do local - a aprazível cidade de Caldas Novas, a capital do turismo no Estado de Goiás; na escolha dos conferencistas, todos eles possuidores de vasto conhecimento literário e cultural, maçônico e não maçônico, que nos brindaram com temáticas importantíssimas e em nível de excelência.

Outro detalhe importante, que muito me surpreendeu foi a presença de nossas cunhadas em todo o decorrer do Congresso, com destaque para a Irmã Maçona Célia Barbara Amorim, viúva, iniciada há 29 anos atrás na GLADA ( Grande Loja Mista), Mestra Instalada e Grau 33. Seu esposo foi iniciado na Loja Maçônica Cavaleiros dos Templo nº 85, da GLMEGO, transferindo-se para o GOB, filinando-se nas Lojas Guimarães Natal e Liberdade e União. Ou seja, pela primeira vez em meus 59 anos de maçonaria tive a oportunidade de privar da companhia de uma cunhada e confrade maçônica.

Enfim, para mim valeu a pena me deslocar de Brasília para a cidade de Caldas Novas, para participar do I CONAMA, representando os 193 membros da Academia Internacional de Maçons Imortais - AIMI, pois tive a oportunidade de ver e ouvir conferencistas de alto nível intelectual e ainda mais por ter conquistado para os quadros da AIMI dois membros correspondentes nacionais, um de Goiás e o confrade Presidente da Academia Maçônica de Letras da Paraíba José Lima e como membro honorário o Sereníssimo Irmão Mário Martins, Grão-Mestre da Grande Loja da Estado de Goiás.