junho 13, 2021

DO ESTOICISMO - Heitor Rodrigues Freire

 

Heitor Rodrigues Freire é advogado, corretor de imóveis, ensaísta, Past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande.

Em artigo anterior, mencionei o estoicismo a voo de pássaro, en passant, por tratar naquela oportunidade de outro tema. Mas, na realidade, seu fundamento é tão abrangente e interessante que me vejo no dever de tratar do assunto com a profundidade que merece, pois temos muito a aprender com sua prática.

O estoicismo prega a ética da imperturbabilidade, a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino como marcas do homem sábio. É o triunfo da resignação, da aceitação da adversidade e da dor.

Como se vê, é um conceito que tem muito a ver com os momentos que estamos vivendo hoje.

O estoicismo foi fundado no século 3 A.C. por Zeno, um rico mercador da cidade de Cítio, no Chipre, uma ilha no Mediterrâneo. Após sobreviver a um naufrágio em que perdeu tudo o que tinha, Zeno foi parar em Atenas. Essa adversidade acabou causando uma profunda transformação em seu modo de ser. Uma vez na Grécia, Zeno conheceu as filosofias de Sócrates, Platão, Aristóteles e seus seguidores.

Ele se deu conta de que existia um mundo não material que era imprevisível e cujo controle não dependia diretamente de seus atos, diferente do mundo que ele vivenciava até então. Zeno abraçou as ideias daqueles filósofos, passou a viver uma vida simples e fundou sua própria escola de pensamento, o estoicismo.

Os primeiros estóicos criaram uma filosofia que oferecia uma visão unificada do mundo e do lugar que o homem ocupava nele. 

Trezentos anos depois, Epiteto, um ex-escravo grego que viveu na Roma de Nero, tornou-se um dos três maiores filósofos do estoicismo, a escola de pensamento que é considerada filosofia prática. Para ele, uma vida feliz e uma vida virtuosa são sinônimos. Felicidade e realização pessoal são consequências naturais de atitudes corretas.

No trecho a seguir, extraído de seu manual, Epiteto reflete sobre as paixões, e como lidar com elas.

"Os homens são perturbados não pelas coisas, mas pelas opiniões que eles têm delas. A morte, por exemplo, nada tem de terrível, senão tê-lo-ia parecido assim a Sócrates. Mas a opinião que reina em relação à morte, eis o que a faz parecer terrível a nossos olhos. Por conseguinte, quando estivermos embaraçados, perturbados ou penalizados, não o atribuamos a outrem, mas a nós próprios, isto é, às nossas próprias opiniões. Quem acusa os outros pelos próprios infortúnios revela uma total falta de educação; quem acusa a si mesmo mostra que a sua educação já começou; mas quem não acusa nem a si mesmo nem aos outros revela que sua educação está completa".

 “Um estóico é quem transforma medo em prudência, dor em transformação, erro em aprendizado e desejo em empreendimento.”

Para os estóicos, a vida não é em si uma coisa boa, é uma oportunidade. E o que importa é o que fazemos dela. Um sábio, um homem ou uma mulher, podem fazer algo útil com suas vidas, uma pessoa má ou tola pode fazer algo ruim com suas vidas. E o mesmo vale para qualquer coisa que os estóicos consideram estar fora do nosso controle, como, por exemplo, nossa saúde, nossa riqueza ou nossa reputação. Essas coisas são vantagens que a vida nos dá, mas não são intrinsecamente boas. Um homem mau pode usar sua riqueza e reputação para fazer coisas terríveis. Mas nas mãos de uma pessoa boa, essas coisas podem ser usadas com finalidades virtuosas.

Na vida de um estoico cada minuto tem seu preço; o tempo é precioso, não porque é curto e receamos que ele falte (todo minuto representa um ganho, que consiste em ter empregado racionalmente o tempo), mas porque não devemos desperdiçá-lo irrefletidamente.

Os mais célebres estóicos que viveram e divulgaram o estoicismo são Zeno, Epiteto, Sêneca e o imperador romano Marco Aurélio, que se tornou um grande difusor da filosofia, aplicando-a no seu governo de forma marcante e deixando seu testemunho por escrito na série de textos intitulada Meditações.

A escola estóica teve profunda influência na civilização greco-romana e, por consequência, no pensamento ocidental como um todo – e foi mais além. Ela está presente no cristianismo, no budismo e no pensamento de diversos filósofos, como o alemão Immanuel Kant, além de ter influenciado a técnica contemporânea de psicoterapia chamada Terapia Cognitivo-Comportamental.

O estoicismo se perpetuou no tempo e no espaço exatamente por seu fundamento básico e chega aos tempos atuais sendo divulgado por muitos filósofos e pensadores modernos, como Massimo Pigliucci, autor do livro Como Ser um Estóico: Usando a Filosofia Antiga para Viver uma Vida Moderna.

Nancy Sherman, filósofa americana que estuda a influência do pensamento estóico sobre a ética militar, escreveu: "Não espere que o mundo seja como você deseja, mas sim como ele realmente é. Dessa forma, você terá uma vida tranquila."

A filosofia estóica, aplicada no limite da sobrevivência, foi o que norteou um piloto da marinha americana, James Stockdale. Durante a guerra do Vietnã, ele foi abatido em pleno voo e ficou em cativeiro por sete anos na mão do inimigo. Em seu livro de memórias, ele conta que foi Epiteto que o inspirou a aguentar firme: "Ele me ensinou que o negócio é manter o controle sobre meu propósito moral. Na verdade, ele me ensinou que eu sou o meu propósito moral. Ele me ensinou que sou totalmente responsável por tudo o que faço e digo. E que sou eu quem decide e controla minha própria destruição e minha própria libertação”.

"Para quem vê conformismo nessas palavras, uma ressalva: eles não estão propondo que você seja passivo em relação à vida, mas que aceite as coisas que estão além do seu controle e que já aconteceram", diz o filósofo e psicoterapeuta escocês Donald Robertson.

Para fechar a influência moderna nestes tempos de tanto avanço tecnológico, não podemos deixar de citar o escritor e palestrante alemão de auto-ajuda Eckhart Tolle, cujo livro Aqui e Agora, vendeu milhões de exemplares em todo o mundo. Em seu livro : O Poder do Agora,  Eckhart Tolle, nos ensina como tomar consciência dos pensamentos e emoções que nos impedem de vivenciar plenamente o que está dentro de nós.

Ou como dizemos nós, no Paraguay, em bom guarani: “Ko’ápe ha ko’ânğa”, aqui e agora. A vida acontece aqui e agora. Não a desperdicemos.

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junho 12, 2021

SINAIS LAPIDARIOS



 

Uma das formas de transmitir o ensino da Arte Construtiva era por meio de sinais lapidários, ou seja, as marcas gravadas na pedra. 

Por meio desses sinais, os antigos Maçons e construtores quiseram transmitir de forma eficaz uma série de conceitos e ideias relacionadas ao conhecimento da Cosmogonia, seus princípios e leis fundamentais, corporificados em formas geométricas.

Na realidade, todos os signos lapidários se resumem a alguns esquemas fundamentais: o círculo, a linha (eixo), a espiral, o quadrado, o triângulo e a cruz. 

A partir deles todos os outros sinais são gerados e também o design das ferramentas que foram usadas para a construção: maço, cinzel, fio de prumo, nível, quadrado, espátula, compasso, etc., e todos juntos formam um código ou linguagem simbólica que o constituem.

De Bizâncio à Irlanda, os Maçons construtores deixaram sua assinatura pessoal na pedra na forma de sinais lapidares (...). Esta assinatura constituiu, em suma, a imagem reduzida de uma planta construída no seu círculo diretor, sendo esta 'arte da geometria', uma das sete Artes Liberais, ensinada nas universidades monásticas e a partir da qual se construiu a Metafísica. 

Ao registrar seu sinal, o "Irmão" não 'justificou' apenas sua identidade, mas sua qualidade e conhecimentos.

Por outro lado, o próprio fato de gravar os signos na pedra era considerado um rito, talvez pelo próprio fato de este, o rito, nada mais ser do que o símbolo em ação, ou seja, o mesmo contorno simbólico é, por sua vez, a fixação de um gesto ritual. Precisamente, a origem desse gesto está no próprio ato do Grande Arquiteto criando o cosmos, então a construção aparece como uma verdadeira "imitação" desse mesmo ato, ou gesto inteligente, que é também a origem de toda a verdadeira arte, seja o que for, mas que terá sempre o objetivo essencial de harmonizar o nosso ser com o ritmo do mundo, fonte de toda a vida e expressão dinâmica da Unidade primordial. 

Vamos levar em consideração, neste sentido, que os antigos arquitetos e mestres construtores não usaram planos detalhados do edifício a ser construído como fazem hoje. Estes eram muito mais simples, reduzidos em muitas ocasiões aos desenhos das diferentes partes da construção. Tratava-se, em seus aspectos essenciais, da projeção para o exterior de uma imagem sutil concebida na mente e no espírito do arquiteto, e os oficiais sob seu comando estavam perfeitamente cientes das regras e técnicas do ofício necessárias para sua realização, que eles foram revelados oralmente e compreendidos por meio da prática repetida (e ritual) dessa mesma arte.

Texto publicado no grupo da Academia de Estudos Maçônicos do Baixo Vale do Paraíba. 

junho 11, 2021

O MAÇOM MOZART




Wolfgang Amadeus Mozart é talvez o maçom mais famoso. Para se ter uma ideia, se se fizer uma busca no Google utilizando a palavra chave Mozart, encontra-se nada mais nada menos do que 42 milhões de páginas referenciadas; pesquisando nestes resultados com a palavra chave maçom, obtém-se, para o conjunto Mozart maçom o número de 213.000 páginas referenciadas; se, em vez de maçom, efetuarmos, nos resultados obtidos com a pesquisa Mozart, outra pesquisa, agora com a palavra chave mason, em inglês, para este conjunto Mozart mason o número de páginas referenciadas sobe para 1.030.000!

Em resumo, não é segredo para ninguém que Mozart foi maçom e mesmo os mais distraídos podem facilmente tropeçar com essa informação na Rede. É assim evidente que uma galeria de Maçons célebres não pode deixar de conter um texto sobre o mais célebre dos célebres maçons! Eis então um breve retrato do maçom W. A. Mozart.

Mozart tinha onze anos quando, atingido pela varíola, foi tratado por um médico vienense de apelido Wolff, que era um conhecido maçom. Em agradecimento pela sua cura, Mozart compôs uma melodia que ofereceu ao Dr. Wolff, que intitulou An die Freude (À alegria). O texto musicado era claramente de inspiração maçônica e o jovem Mozart não poderia ter composto a melodia sem conhecer o seu sentido.

Um ano mais tarde, Mozart travou conhecimento com o célebre Dr. Messmer, também maçom.

Aos dezasseis anos de idade, Mozart compôs O heiliges Band (Ó Sagrada Escritura), sobre um texto de Lens existente num conjunto de textos maçônicos, reservado apenas aos maçons e a que, naturalmente, era suposto nenhum profano ter acesso...

Um ano mais tarde, um maçom importante, von Gebler, encomendou a Mozart dois coros e cinco entreatos para acompanhar um drama heróico, Thamos, rei do Egipto (prefigurando o que mais tarde virá a ser uma ópera intitulada A Flauta Mágica).

Ou seja, entre os 11 e os 17 anos o contato de Mozart com maçons e a sua forma de pensar e ver o Mundo foi frequente.

Em 1783, tinha então Mozart 27 anos de idade, o famoso Gemmingen, que conhecia o compositor, instala a sua própria Loja Maçônica em Viena e convida Mozart para se juntar a ela e aí exercer o ofício de Mestre da Harmonia. Mozart reflete. Em Novembro do ano seguinte, apresenta a sua candidatura à Loja Zur Wohlthätigkeit (Beneficência). Foi aí iniciado em 14 de Dezembro de 1784.

A 7 de Janeiro de 1785 (apenas 24 dias depois da sua iniciação!), Mozart é, na Loja Zur wahren Eintracht (Verdadeira Concórdia), passado ao grau de Companheiro. A 10 de Janeiro, termina o Quarteto de Cordas em Lá Maior (K 464), no qual o movimento Andante se refere ao ritual de Iniciação Maçônica. A 13 de Janeiro (6 dias depois da passagem a Companheiro, 30 dias depois da sua Iniciação!), Mozart é elevado ao grau de Mestre. Quatro dias mais tarde, compõe um Quarteto de cordas em Dó Maior (K 465), que se refere ao grau de Companheiro. Em Março de 1785, termina o Concerto em Dó Maior (K 467), cujo Andante faz claramente alusão ao terceiro grau, o de Mestre.

A 6 de Abril de 1785, participa na cerimônia de Iniciação do seu próprio pai, Leopold Mozart.

Mozart participa em inúmeras reuniões de Loja e compõe numerosas obras destinadas a serem tocadas em sessão. Visita as Lojas Zu den drei Adlern (Três Águias) e Zur gekrönten Hoffnung (Esperança Coroada).

Entretanto, a doença que lhe virá a ser fatal (o síndroma de Schönlein-Henoch) progride. Mozart compõe as suas três grandes obras com simbologia maçônica: A Clemência de Tito, a Flauta Mágica e o Requiem.

A morte de Mozart origina uma reunião de exéquias fúnebres de seus Irmãos. Uma oração fúnebre proferida na ocasião foi impressa. Hoje, dela resta apenas um exemplar. Eis a sua tradução:

O Grande Arquitecto do Universo acaba de retirar à nossa Cadeia Fraternal um dos elos que nos era mais caro e mais valioso. Quem não o conhecia? Quem não amou o nosso tão notável Irmão Mozart? Há poucas semanas ainda, ele encontrava-se entre nós, glorificando com a sua encantadora música a inauguração deste Templo. Quem de nós imaginaria que seria tão rapidamente arrancado do nosso seio? Quem poderia saber que três semanas depois choraríamos a sua morte? É o triste destino imposto ao homem, de deixar a vida deixando a sua obra inacabada, e tão excelente ela é. Mesmo os réis morrem deixando à posteridade as suas intenções inacabadas. Os artistas morrem depois de terem devotado as suas vidas a melhorar a sua arte para atingirem a perfeição. A admiração de todos acompanha-os ao túmulo.No entanto, se os povos choram, os seus admiradores não tardam, muito frequentemente, a esquecer-se deles. Os seus admiradores talvez, mas não nós, seus Irmãos! A morte de Mozart é para a arte uma perda irreparável. Os seus dons, reconhecidos desde a infância, tinham feito dele uma das maravilhas deste tempo. A Europa soube-o e admirou-o. Os príncipes gostaram dele e nós, nós poderíamos chamá-lo: “meu irmão”. Mas se é óbvio honrar o seu gênio, não nos devemos esquecer de comemorar a nobreza do seu coração. Foi um membro assíduo da nossa Ordem. O seu amor fraternal, a sua natureza inteira e devotada, a sua caridade, a alegria que mostrava quando beneficiava um de seus irmãos com a sua bondade e o seu talento, tais eram as suas imensas qualidades, que nós louvamos neste dia de luto. Era simultaneamente um marido, um pai, o amigo de seus amigos e o irmão de seus irmãos. Se tivesse tido fortuna, faria todos tão felizes como ele desejaria.

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Fonte A Partir da Pedra

RITO ESCOCÊS DO BRASIL, A ORIGEM - Ailton Pinto de Trindade Branco




              O Rito Escocês do Brasil aparece pela primeira vez nos rituais dos três graus simbólicos criados em 1927 pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, presidido por Mário Behring, e transmitidos à Grande Loja do Rio de Janeiro através de tratado entre as duas Obediências. Foram colocados em execução em 1928 nas Grandes Lojas brasileiras fundadas após a separação entre Supremo Conselho e Grande Oriente do Brasil. Substituíram os rituais do REAA das Lojas Simbólicas do GOB.

              O Rito Escocês do Brasil foi uma invenção ritualística circunstancial. Não é o mesmo que Rito Escocês Antigo e Aceito, embora as Grandes Lojas brasileiras, por imposição do Supremo Conselho, empreguem indevidamente essa denominação para o seu ritual escocês. Indevidamente porque os procedimentos que constituem os primeiros rituais do REAA, a partir de 1804, na França, são diferentes do que se faz no Brasil. O REAA praticado no século 19 nos graus simbólicos das Lojas Capitulares do Grande Oriente do Brasil, portanto antes do surgimento das Grandes Lojas, é semelhante ao que consta nos primeiros rituais franceses e diferente do Rito Escocês do Brasil.

              Em 1927, as chamadas Lojas Capitulares do REAA abrangiam os graus 1 ao 18 e eram comandadas pelo Grande Oriente do Brasil. O Supremo Conselho jurisdicionava os graus 19 ao 33.    

              Na nova estrutura jurisdicional do REAA do começo dos anos 1900, decidida em convenção mundial dos Supremos Conselhos, as Lojas Capitulares desapareciam; os três primeiros graus ficavam sob responsabilidade de uma Obediência que pode ser uma Grande Loja ou Grande Oriente e os 30 graus restantes sob o comando de outra Obediência, o Supremo Conselho do Grau 33. Essa reformulação na divisão jurisdicional dos 33 graus do REAA não teve receptividade pacífica no Brasil. O Grande Oriente inicialmente aceitou, depois recuou e rejeitou o acordo. O conflito provocou desdobramentos político-administrativos, culminando com a ruptura das relações entre as Potências Maçônicas GOB e Supremo Conselho.

              O Supremo Conselho, tendo se separado do Grande Oriente do Brasil, precisou de novas Lojas Simbólicas para os três primeiros graus dos 33 do REAA. Por isso, criou as Grandes Lojas. Sobre os rituais a ser adotados, tudo levava a crer que seriam os mesmos, conhecidos do Supremo Conselho desde a época da convivência amistosa com o Grande Oriente. Bastava recomendar às Grandes Lojas por ele criadas os mesmos rituais para as suas Lojas Simbólicas.  

              Mas o Supremo Conselho não prestigiou a lógica operacional e nem a ética com os maçons do Rito. Elaborou um ritual novo que gerou um rito diferente nos três primeiros graus, constituído de procedimentos misturados do Rito Moderno, do Rito de Heredom, do Rito de York e de alguns graus superiores do próprio REAA. Deve ter tido suas razões para desprezar rituais consagrados. O Supremo Conselho como qualquer outra Potência Maçônica pode criar um rito novo. O que não deve fazer é criar um rito novo e dar a ele o nome de um rito antigo, tradicional, cujos rituais são conhecidos no mundo inteiro. O ritual criado pelo Supremo Conselho para os graus simbólicos das Grandes Lojas brasileiras é muito diferente do REAA original trazido para o Brasil pela primeira vez. Mesmo assim, premeditadamente, foi dado ao conjunto de novos cerimoniais o mesmo nome do rito Escocês Antigo e Aceito criado em 1801 nos Estados Unidos da América. O Supremo Conselho rasgou parte do seu passado ritualístico obrigando as Grandes Lojas a adotarem o nome do REAA embora seus rituais do simbolismo não contenham os procedimentos desse Rito. O Supremo Conselho nunca explicou porque agiu dessa forma. Presentemente, sabe-se que as pesquisas realizadas pela Oficina de Restauração do REAA sobre os rituais originais de 1804 e a comparação com os rituais designados pelo Supremo Conselho, desencadearam surpresa em todo o Brasil e alguns constrangimentos. Maçons tidos como conhecedores do REAA, palestrantes convictos e aplaudidos, passaram a ser questionados sobre afirmativas produzidas a respeito de procedimentos mostrados e interpretados como sendo do REAA e que agora se sabe que não são.

              Assim nasceu o Rito Escocês do Brasil, sistema ritualístico que apenas os maçons brasileiros conhecem.

              A obra da maçonaria celebra a repetição de si mesma e do seu próprio destino à luz dos sucessivos elementos que são adicionados a cada nova descoberta de acontecimentos históricos desenterrados do passado. Cada um desses fatos clareia a visão para interpretações sobre condutas da coletividade maçônica, as quais têm oscilado entre grandes feitos solidários com elevados humanitarismos e atitudes como alterar rituais apenas para alimentar disputas políticas internas. Embora recomendado nos trabalhos em Loja o respeito à inalterabilidade do desenvolvimento dos rituais em vigor, os caciques das diferentes administrações modificam os rituais de suas Obediências sem muito pudor. O exemplo na prática dos rituais brasileiros não recomenda a teoria dos princípios maçônicos.


Texto: Ailton Pinto de Trindade Branco - Presidente da Oficina de Restauração do REAA - Novembro/2014

junho 10, 2021

A SIGNIFICAÇÃO DO VENERALATO – UMA VISÃO TEOLÓGICA - Júlio Aquino


Júlio Aquino é Venerável Mestre da ARLS Luzes da Fraternidade Universal N° 4070 -GOB/AM, Grau 330 – Grande Inspetor Geral, Corpo Visconde do Rio Branco/RJ e Grau 33 o – Servidor da Ordem, da Pátria e da Humanidade da Oficina Chefe do Rito Brasileiro I RJ. É Teólogo (PHD) e Pós-Graduado em Filosofia


Com inusitado e merecido brilho, reverencio inicialmente a memória do Apóstolo São Pedro, notável e aplaudível, rico de delicados sentimentos, fez majestosa síntese sobre a Fraternidade, na sua segunda (2a) Carta Universal, capítulo primeiro (1°), versículo sétimo (7°): “A Fraternidade é que gera o Amor”! E esse amor jamais prescreve pelo lapso do tempo.

Com efeito, o amor ao GADU e ao próximo é inseparável, sumamente majestoso, sumamente glorioso e sumamente elevado. As muitas águas não poderiam apagar esse amor, nem os rios afogá-Io. Assim, outro exponencial, nimbado de auréola refulgente, é o profeta Amós, que exerceu o seu ministério nos reinados de azias, rei de Judá, e de Jeroboão II, rei de Israel, 752 anos A.C., pugnava pelo trabalho, justiça e a retidão, usava nos seus ensinos as mesmas ferramentas que usamos na Maçonaria.

Razão pela qual, a luz da face do GADU resplandece em toda a sua beleza no rosto do Maçom, manifestada pelo ditame da consciência. Maçom é um estado de espírito, e a razão da vida, começa grandiosa e altaneira, em levantar Templos a Virtude, e a razão da morte, para nós, não se constitui um mal, a morte que é um mal, é a que provem do vicio, do crime e da barbárie.

A morte não é o apagamento da luz, mas o simples ato de dispensar a lâmpada.

Ponha-se em evidência, a nossa Ordem, essa acrópole magnífica, tem na grandeza da sua excelência, uma dimensão transcendental, porque nasce nos desígnios do GADU – Um Deus que não morre, sentando num trono que não se desmorona, e se finaliza no absoluto desse mesmo Deus que é a luz que espanca as trevas da nossa ignorância insolente.

Convém lembrar, que o maçom não pode desfraldar outra bandeira que não seja a da compreensão e do entendimento, e ninguém poderá aprisionar a nossa esperança e nem exilar a nossa inteligência.

A partir de então, o maçom descobre o descortinamento exuberante da Razão e fascínio de ditosas riquezas que provem dos sete triângulos:1 – Triângulo Equilátero,2 – Triangulo Isósceles,3 – Triangulo Escaleno,4 – Triangulo Retângulo,5 – Triangulo Obtusângulo,6 – Triangulo Acutângulo,7 – Triangulo Esférico.

Evidentemente, todos esses Triângulos, abrem-nos as portas do campo da educação matemática, das leis de proporção mecânicas, da aritmética, representada pelos números, e da geometria, representada pelos símbolos, da raiz quadrada, das equivalências, das equações, das formas, dos axiomas, dos teoremas, dos corolários, dos escólios, das retas, dos planos, das perpendiculares, dos ângulos, dos seguimentos lineares e das poligonais.

Do Sodalício, com o verbo franjado de ouro e púrpura, enalteço a grandeza e o valor das leis das equivalências do Físico Newton, entre as temperaturas do sol e as propriedades de absorção da clorofila, para que a fotossíntese possa se realizar, também se as cargas de elétrons, prótons e nêutrons não tivesse precisas ressonâncias, os planetas não poderiam orbitar o sol com estabilidade, e nos seres vivos, as interconexões para o fluxo de sangue e o sistema nervoso seriam impossíveis.

Os quantitativos constantes da física que define o universo são espetacularmente precisos. Outro astrofísico, chamado Fre Hoyle, no seu livro intitulado, A Arquitetura do Universo, diz que tudo foi meticulosamente planejado para a chegada da vida na terra, segundo ele, existe um fio de felizes e estranhas coincidências.

O Venerável Mestre

A palavra venerável é um titulo canônico, usado pelas Igrejas Cristãs, pelo Budismo e pelo Islamismo. Equivale a respeitável, digno de estima e honra. Já o adjetivo venerável provém do substantivo latino veneratio, que significa respeito e culto, digno de reverência e veneração. Pode ser substantivo e advérbio, e como sinônimo, significa santificado, reverenciado, reverendo e santidade. Já no antônimo, significa moderno, novo, recente.

A palavra Venerável Mestre, decorre de uma expressão Inglesa Worspfel Master. É uma expressão pomposa, que significa dirigente máximo. Na literatura clássica, Venerável significa uma pessoa venerada pela idade, pelo amor e amizade.

Na língua árabe e semita, no gerúndio do verbo, a palavra venerável é substantivo. 

Na Maçonaria recebe a complementação de Mestre, que significa aquele que mais sabe, ele se sobressai dos demais Mestres, e é o que pode dirigir, orientar, decidir com absoluta independência, obedecendo, apenas, os preceitos legais do Rito, dos Landmarks e aos Rituais.

O espírito de um Venerável Mestre, se alegra com o que recebe, podendo ser até uma simples palavra de conforto e incentivo ao trabalho, mas, o seu coração se alegra com o ensino que ele ministra à sua Loja. O oficio exige abnegação.

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junho 09, 2021

NÃO DISCUTA COM BURROS

 

          

 


 O burro disse ao tigre:  - ′′ A grama é azul ".

 O tigre respondeu:- ′′ Não, a grama é verde ".

  A discussão aqueceu, e os dois decidiram submetê-lo a uma arbitragem, e para isso concorreram perante o leão, o Rei da Selva.

 Já antes de chegar à clareira da floresta, onde o leão estava sentado em seu trono, o burro começou a gritar:- ′′ Sua Alteza, é verdade que a grama é azul?".

O leão respondeu: - ′′ Certo, a grama é azul ".

O burro se apressou e continuou: - ′′ O tigre discorda de mim e me contradiz e incomoda, por favor, castigue-o ".

O rei então declarou: - ′′ O tigre será punido com 5 anos de silêncio ".

O burro pulou alegremente e seguiu seu caminho, contente e repetindo: - ′′ A grama é azul "...

O tigre aceitou sua punição, mas antes perguntou ao leão - ′′ Vossa Majestade, por que me castigou?, afinal a relva é verde ".

O leão respondeu: - ′′ Na verdade, a grama é verde ".

O tigre perguntou: - ′′ Então, por que você me pune?".

O leão respondeu: - ′′ Isso não tem nada a ver com a pergunta de se a grama é azul ou verde O castigo acontece porque não é possível que uma criatura corajosa e inteligente como você perca tempo discutindo com um burro, e ainda por cima venha me incomodar com essa pergunta ".

A pior perda de tempo é discutir com o tolo e fã que não se importa com a verdade ou realidade, mas apenas com a vitória de suas crenças e ilusões. 

Jamais perca tempo em discussões que não fazem sentido... 

Há pessoas que por muitas evidências e provas que lhes apresentamos, não estão na capacidade de compreender, e outras estão cegas pelo ego, ódio e ressentimento, e a única coisa que Desejam ter razão mesmo que não tenham.

Quando a ignorância grita, a inteligência cala. Sua paz e tranquilidade valem mais.

O IMPACTO DA CHUTZPÁ NA SOCIEDADE ISRAELENSE - Floriano Pesaro





Recebo do meu irmão, o intelectual Newton Agrella, a seguinte mensagem com um texto anexo. O tema é muito interessante, razão pelo qual eu o publico, e atendendo ao pedido do irmão, irei desenvolver.

"Meu caríssimo Irmão MICHAEL segue o artigo escrito por FLORIANO PESARO, ao qual eu fiz referência, durante a nossa conversa telefônica há pouco. Peço a você, que se possível você escreva algo a respeito da CHUTZPÁ"

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Olá,  Newton Agrella, como está?

Compartilho meu mais recente artigo na Revista do Clube Hebraica SP sobre um dos princípios que regem a sociedade israelense. Leia e me fale sua opinião. Obrigado.

"O impacto da Chutzpá na sociedade israelense

Floriano Pesaro, sociólogo.

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Por vezes neste espaço, falamos sobre a capacidade de Israel desenvolver tecnologias, inovações e sistemas que – nas mais diversas áreas – trazem revoluções a processos produtivos, relacionais, medicinais e tecnológicos.

De fato, sempre nos chama a atenção que um país com uma área territorial pequena e com uma população que também não ostenta grandes proporções consiga – apesar também das fronteiras hostis – desenvolver tamanha capacidade de alterar sistematicamente o modo como os processos são feitos e os fatos são dados.

Esse motor da inovação vem sendo identificado por estudiosos como resultado de uma série de fatores – investimento público, educação de qualidade e políticas de apoio à inovação, por exemplo -, mas, dentre eles, um bastante curioso: a chutzpá.

A chutzpá é um balizador comportamental encontrado na Shulchan Aruch - catálogo escrito da lei do judaísmo, composta, no século XVI, pelo rabino Yosef Karo. Não há uma tradução única para a chutzpá, sendo que o mais próximo no português seria a “ousadia”.

Estudiosos dos escritos afirmam que a chutzpá existe para lembrar os judeus de que não se devem curvar, temer ou envergonhar-se ao seguir seus caminhos, princípios, ideias e, claro, praticar sua fé.

Um dos episódios mais lembrados para exemplificar o que entendemos por chutzpá é a tentativa de Moshê de salvar seu povo questionando a D’us.

Ainda quando Abraham questionou D’us sobre os planos que Ele tinha para Sodoma e Gomorra. Ali ambos se encheram de chutzpá para defender aquilo no que acreditavam, mesmo que estivessem errados e não tivessem seus pleitos atendidos.

Sob risco de resvalarem para o campo da arrogância e da insolência, chutzpá é o princípio que guia o povo judeu no constante questionamento às regras e processos postos.

Não há nada para nosso povo que está dado e “assim que deve ser”. Se algo existe, tem uma razão e sobre ela não há quem proíba a discussão.

É provável que não só nosso ímpeto inovativo - simbolizado nos incríveis números de startups e criações israelenses – mas, também o apreço de Israel pela democracia e pela liberdade também estejam ligados à chutzpá, ou a essa “ousadia” em português.

Para nós, brasileiros, que somos um povo bastante conciliador e pouco7 questionador, esse é um princípio judaico que a comunidade pode, e deve, incentivar em seus lares e empresas. É preciso que absolutamente tudo possa ser questionado e que não se tenha medo.

Não há espaço para a inovação e o desenvolvimento socioeconômico em sociedades que cerceiam o direito de as pessoas questionarem outras, familiares, empresas e políticos.

Questionamento e ousadia estão também ligados à diversidade de opiniões. Tal qual em Israel, essa é uma defesa intransigente que devemos fazer também por aqui.

Não se tem inimigo numa discussão familiar, empresarial ou política, tem-se, ao máximo, um adversário ou opositor.

É do contraditório e dos diferentes pontos de vista, movidos pela ousadia, que chegamos ao aprimoramento, condição fundamental para que uma sociedade seja tão bem-sucedida em suas mais variadas formas, como é a sociedade israelense.

A chutzpá é o combustível para a inovação e a democracia que tanto admiramos em Israel e que tanto contribui para o avanço da humanidade em todo o mundo"

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VOCE USA UM ANEL COM SÍMBOLO MAÇONICO?

 






Os irmãos gostam de usar anel, boton e outra coisas que tem o símbolo da MAÇONARIA??? Vale a pena ler.

Há vários anos, a história é contada a um maçom que sempre usava o seu anel maçônico e alfinete de lapela quando em público. Em algumas ocasiões, ele foi de ônibus de sua casa para o centro da cidade. Em uma viagem, e quando ele se sentou, descobriu que o motorista lhe tinha dado R$ 0.25 a mais de troco.

Como ele pensou o que fazer, pensou para si mesmo: " é melhor dar a moeda de volta. Seria errado mantê-lo." então ele pensou: " Oh, esqueça, é apenas uma moeda; quem se preocuparia com essa pequena quantidade." de qualquer maneira, a companhia de trânsito recebe muito dinheiro; eles nunca vão perder - Sim. Aceita-o como um "presente de Deus" e mantém-te calado.

Quando o seu ponto chegou, ele parou momentaneamente na porta, depois entregou a moeda ao motorista e disse: " aqui, você me deu a mais."

O motorista  com um sorriso respondeu: " reparei no teu anel maçônico e no alfinete de lapela. Tenho pensado em pedir a um maçom como ser um. Eu só queria ver o que você faria se eu te desse a mais. Passaste no teste. Podes dizer-me como se tornar um maçom?

Quando o maçom saiu do onibus, ele disse uma oração silenciosa, " Oh Deus, grande arquiteto do universo, quase te vendi a ti e aos meus amados irmãos  por uma moeda."

As nossas ações são o único credo maçônico que alguns vão ver. Este é um exemplo quase assustador de como as pessoas nos vêem como maçons e podem nos colocar em teste mesmo sem que nós percebemos ! Seja sempre diligente, seja no teatro, no restaurante, na mercearia, na estação  ou apenas no trânsito.

Lembra-te, quer seja um alfinete de lapela, um anel, ou um emblema no carro, tu tens o nome da nossa grande fraternidade nos teus ombros, sempre que te chamas de Maçom. Nunca se sabe quem pode estar a ver!

Bons homens procuram a maçonaria; a maçonaria os torna melhores.

ALÉM CANTEIRO - Adilson Zotovici

 



Adilson Zotovici, da ARLS Chequer Nassif 169, de S. Caetano do Sul, é um festejado intelectual e poeta maçonico.


Lembra-te livre pedreiro

Do ensejo peremptório

Que sobejo, o hospitaleiro

Roga algum adjutório


O benfazejo obreiro

Num gesto assaz simplório

Vê-se incapaz, sem dinheiro,

Em lesto desejo inglório


Audaz impacto primeiro

Não hostil ou vexatório

Qual traz pacto certeiro


Que essencial, verdadeiro, 

O altruísmo notório

Perenal, além canteiro!

junho 08, 2021

A DOUTRINA



 A Maçonaria, em certo sentido (como sendo escola) é denominada de doutrina (do latim docere).

Doutrinar significa incutir ideias filosóficas na pessoa, mas genericamente diz respeito a um ensinamento religioso. A doutrina pode ser exclusivamente moral ou de filosofia, ou de fé, oculta, exteriorizada, esotérica, ideológica, enfim, quantos nomes lhe possam atribuir.

Cada Grau Maçônico dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito, bem como de outros ritos, constitui uma “doutrina em separado”. Assim, podemos afirmar que a Maçonaria esparge múltiplas doutrinas entre os seus adeptos.

As doutrinas secretas são muito atrativas; os antigos mistérios foram preservados durante milênios; hoje não existe mais nenhuma doutrina secreta; a universidade, as bibliotecas e a informática revelaram tudo e todo o saber humano.

Quando o homem não alcança a compreensão do que lhe é ensinado, isso não significa que possa existir alguma coisa absolutamente secreta; a própria Maçonaria, que se ufanava em manter secretos os seus ensinamentos, hoje nada mais tem para ocultar, seja seus próprios adeptos, seja em relação aos profanos.

Logo, a Maçonaria não é uma doutrina secreta.

NOSSAS ANTIGAS LEIS E COSTUME - José Maurício Guimarães




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Por que devemos pautar nossos atos pelo comportamento digno? Por que não somos estranhos uns aos outros? Por que o maçom deve cultivar um perfeito controle de si próprio? Por que só devemos admitir em nossas lojas homens honrados, de ilibada reputação moral e atitudes discretas? Por que somos uma fraternidade iniciática?

As respostas estão nas profundas raízes da Arte Real, isto é, nos antigos deveres do ofício (The Old Charges of Craft Freemasonry) e na compilação deles da qual resultaram a Constituição de Anderson e, mais tarde, noutras compilações denominadas landmarks. (Neste texto uso landmark com L maiúsculo ou minúsculo conforme me refira ao termo geral ou à lista adotada pela Potência Maçônica. Da mesma forma, uso Constitution em inglês para diferenciar da Constituição adotada pela Potência Maçônica.)

Todos os maçons conhecem bem os preâmbulos
dos atos e decretos de suas Potências ou Obediências que começam com a proclamação: “O Grão-Mestre, no uso das atribuições que lhe conferem os Landmarks da Ordem, a Constituição de Anderson… etc
.”. Mas poucos têm a oportunidade de conhecer aprofundadamente os landmarks; e são pouquíssimos os que se interessam pelo texto completo das chamadas Constituições de Anderson (Constitution).

Comecemos pelo aparentemente mais simples – os landmarks.

Uma vez que a palavra é inglesa, o que se entende por landmarks? Para simplificar, tomemos landmark no sentido de LIMITE – ponto de referência, marco divisório ou fronteira. Há quem prefira esquartejar a palavra: land (terra) + mark (marco) – antigamente, aquela cerca de arame que separava as hortaliças de Joe Smith das galinhas do seu vizinho John Dolittle – um marco divisório, uma fronteira, um limite: “daqui pra lá é seu, daqui pra cá é meu”.

A Bíblia, de onde o conceito foi tirado, refere-se à cláusula pétrea “nolumus leges mutari”, isto é, que essas leis não sejam transgredidas – implícita no livro dos Provérbios, 22:28 – “Ne transgrediaris terminos antiquos quos posuerunt patres tui”, traduzido na versão inglesa King James por “Remove not the ancient landmark, which thy fathers have set.” – não removas os marcos antigos que teus antepassados colocaram.

Resumindo: landmark envolve – social e politicamente falando – as questões do direito patriarcal (‘antiquos’ e ‘thy fathers’), de posse, domínio e poder.

Mas quem foram esses pais ou antepassados que andaram colocando limites e fixando fronteiras no território terrestre? Quais foram esses precursores chefes de família que restringiram quaisquer mudanças nas leis e assentaram regiões de interdição ao pensamento das gerações vindouras?

O livro “llustrations of Masonry“, do maçom inglês William Preston (1772) registra a palavra “landmark” como sinônimo de usos e costumes estabelecidos na Arte Real. 

Penso que seja esta acepção mais correta, principalmente por ser a mais antiga (terminos antiquos) e considerando que o Direito inglês é eminentemente consuetudinário (de uso habitual, comum). Além disso, a Grande Loja Unida da Inglaterra nunca enumerou uma lista de landmarks porque considera fundamental o único landmark possível: a crença na existência de um Ser Supremo.

Ressalvo, entretanto, que a expressão “usos e costumes” deve ser entendida no contexto histórico da Maçonaria e não no sentido jurídico atual (fonte do direito) erigido através de condutas e atos praticados reiteradamente nas Lojas. Nesse sentido não existem usos e costumes na Maçonaria e muito menos nas questões ritualísticas.

O pesquisador inglês Harry Carr (1900-1983), Past Master da Quatuor Coronati Lodge nº 2076 de Londres, aponta dois pontos essenciais para as cláusulas pétreas: 1 – Um landmark deve ter existido desde os tempos imemoriais (terminos antiquos) e não fabricados a partir de certo ponto da história; 2 – Os landmarks são elementos de tal importância essenciais para nossa fraternidade que a Ordem já não seria Maçonaria se algum deles fosse alterado. Neste particular, Albert Gallatin Mackey alertou: “Não admitamos mudanças de quaisquer espécies, pois desde que isso se deu, funestas consequências demonstraram o erro cometido.”

Apesar disso, e de acordo com os modernos pesquisadores do assunto, existem várias listas de landmarks que pode ser de apenas três para Alexander S. Bacon e Chetwode Crawley, ou nove para J. G. Findel. Para Roscoe Pound, a Grande Loja da Virgínia e o cubano Carlos F. Betancourt são sete; ou seis landmarks para a Grande Loja de Nova York, que toma por base os capítulos em que se dividem as Constituições de Anderson. Vinte para a Grande Loja Ocidental de Colômbia; dezenove para Luke A. Lockwood e a Grande Loja de Connecticut; dezessete para Robert Morris; quinze para John W. Simons e para a Grande Loja de Tennessee; doze para A. S. MacBride e dez para a Grande Loja de Nova Jersey. As listas maiores compreendem trinta e um landmarks para o Dr. George Oliver, cinquenta e quatro para H. G. Grant e para a Grande Loja de Kentucky; vinte e nove para Henrique Lecerff, vinte e seis para a Grande Loja de Minnesota e assim por diante.

A Grande Loja Maçônica de Minas Gerais adota a lista de Albert Gallatin Mackey que compilou vinte e cinco landmarks, a lista mais conhecida e utilizada no Brasil, que preconiza: “Não admitamos mudanças nos legítimos e inquestionáveis landmarks, pois desde que isso se deu, funestas consequências demonstraram o erro cometido.”

Mackey foi um médico norte-americano nascido em 1807. Publicou “The Principles of Masonic Law on the Constitutional Laws, Usages And Landmarks of Freemasonry” em 1856 onde propôs um meio termo entre a ritualística, à legislação e o cerimonial:

“Várias definições foram dadas para landmarks. Alguns supõem terem sido constituídos a partir de todas as regras e regulamentos que estavam em vigor antes da revitalização da Maçonaria em 1717, confirmados e aprovado pela Grande Loja da Inglaterra naquela época. Outros, mais rigorosos, limitam essa definição aos modos de reconhecimento em uso na fraternidade.

Eu proponho um meio termo, e considero landmarks todos os usos e costumes do ofício ritualístico, legislativo, cerimonial, e mesmo à organização da sociedade maçônica conforme os usos dos tempos imemoriais. E considero a alteração ou a supressão de algo que possa afetar o caráter distintivo da instituição como fator de destruição da sua identidade.”

O meio termo acenado por Mackey foi, entretanto, o sinal verde para novas hermenêuticas entre as visões ortodoxa e heterodoxa da Maçonaria. Sem falar na nítida constatação de que alguma coisa fora mudada ou alterada nos antigos marcos colocados por nossos antepassados – antevisão reveladora de que outras modificações estariam a caminho no devido tempo.

Muitos autores questionam a lista de Mackey que descreve, com exagerada ênfase, os poderes e atribuições do Grão-Mestre. Um dos mais expressivos críticos foi Roscoe Pound (1870-1964), reitor da Harvard Law School que – talvez motivado pela teoria do “meio termo” – propôs uma lista mais curta, de sete landmarks… com a possibilidade de mais dois. 

Esses nove landmarks possíveis mantiveram, com algumas modificações, os de Mackey (III, X, XIV, XVIII, XIX, XX, XXI, XXIII e XXIV) eliminando os números I e II que a Maçonaria tradicional considera fundamentais: os processos de reconhecimento e a divisão do Simbolismo em três graus, além do polêmico e nevrálgico Landmark XXV – “nenhuma modificação pode ser introduzida…”

Por outro lado, por estranho que pareça, o próprio Mackey considerava os landmarks uma generalidade e que os regulamentos gerais e locais fossem os determinantes para as autoridades locais da Maçonaria. 

Afirmava também, no mesmo diapasão da Quatuor Coronati Lodge de Londres, que um dos requisitos dos landmarks é terem eles existido desde o tempo que a memória do homem possa alcançar – donde se deduz que os verdadeiros marcos são as leis morais ou o Direito Natural inscritos na mente e no coração dos homens. Por isso James Anderson escreveu na primeiríssima página da Constitutions:

“Adão, nosso primeiro pai, criado à imagem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, deve ter tido a Ciência Liberal, particularmente Geometria escrita em seu coração…” (Adam, our first parent, created after the Image of God, the Great Architect of the Universe, must have had the Liberal Science, particulary Geometry written on his Heart…)

Houve (e ainda há) os que debocharam dessa declaração interpretando, grosso modo, que o sábio James Anderson estava a dizer que o Venerável Deus iniciou o Aprendiz Adão na Maçonaria. O ilustre Irmão José Castellani ironizou essa interpretação do mito no texto humorístico “Loja Paraíso nº0”, mas, da parte de lá do fino humor, Castellani sabia a qual escrita James Anderson estava se referindo. 

Para os que conhecem a Filosofia do Direito, aquela Ciência Liberal escrita no coração do homem nada mais é do que o Direito Natural comunicado à razão humana desde sua criação – simbolizada pela Geometria – um código ético completo coligido da estrutura da natureza – tese sustentada por Tomás de Aquino, Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau e presente na Common Law.

Talvez isso responda à pergunta sobre quais foram aqueles pais que colocaram fronteiras nas divagações inúteis da vaidade humana.

As Constituições de Anderson (1723) são anteriores a quaisquer landmarks e, por isso, ouso dizer que elas são – ao lado do Jus Naturalis – os verdadeiros LANDMARKS. Os antigos deveres do ofício de maçom foram consolidados nessas Constitutions of the Free-Masons dedicadas ao Grão-Mestre Philip Wharton Duque de Montagu e assinadas pelo francês Jean Théophile Désaguliers, Grão-Mestre Adjunto e membro da Royal Society of London. O redator James Anderson, por sua vez, era um pastor presbiteriano nascido na Escócia.

As Constitutions dividem-se em quatro partes: I – a História, “para ser lida quando da admissão de um Novo Irmão (to be read at the admission of a New Brother). Essa primeira parte vai até a página 48; II – Os Deveres (extraídos dos antigos registros das Lojas Ultramarinas e daquelas da Inglaterra, Escócia e Irlanda), da página 49 até 57; III – Os Regulamentos Gerais (da página 58 até 74); IV – Partituras e Canções dos Mestres, dos Vigilantes, dos Companheiros e dos Aprendizes, completando a obra em 91 páginas.

CONCLUSÕES 

Nem tudo que é Constitutions, portanto, está nos Landmarks; mas tudo o que é landmark está nas Constitutions;

As Constitutions não deixam margens ao oportunismo iniciatório e respondem àquelas cinco perguntas que aparecem no início deste artigo. O conhecimento do passado (a História) é a principal e insubstituível fonte do aprendizado e do conhecimento maçônicos;“... pela sua Missão, um maçom torna-se obrigado a obedecer à Lei moral, e nunca será um estúpido ateu nem um Libertino” (Constituitions, página 50, concernente a Deus e à religião);

Não basta preencher um formulário dizendo “sim” às clássicas perguntas: “credes num Ente Supremo? credes na imortalidade da alma?” se a reposta afirmativa não vier da Consciência e com o aval do Conhecimento. Por isso pautamos nossos atos pela dignidade e só admitimos em nossas lojas homens honrados.

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junho 07, 2021

POR QUE O PÉ ESQUERDO - Kennyo Ismail



Kennyo Ismail, do DF, professor universitário, escritor, historiador, palestrante é um dos mais notáveis estudiosos da maçonaria no Brasil.


PÉ ESQUERDO: Passo esquerdo

Ao contrário do que alguns podem pensar, esse é um costume muito antigo, de milênios, e não possui relação alguma com o azar.

As principais pinturas e esculturas de deuses e faraós egípcios mostram sempre o pé esquerdo à frente, enquanto as que ilustram pessoas comuns em situações do cotidiano mostram o pé direito. Trata-se de uma coincidência? Não. O passo com o pé esquerdo era considerado pelos egípcios como símbolo do “primeiro passo” para uma nova vida. Por isso, era com o pé esquerdo que o faraó dava seu primeiro passo após sua posse. Também por isso que as escadas eram feitas com degraus em número ímpar, de forma a ser possível iniciar e encerrar a subida com o pé esquerdo. Essa tradição foi herdada posteriormente pelos gregos, como também se pode ver estampada em sua arte.

Por que o esquerdo, e não o direito?

Os egípcios acreditavam que o lado esquerdo era o lado espiritual, enquanto que o lado direito era o lado material. O passo esquerdo relaciona-se com o lado onde está nosso coração, que para os egípcios era a sede da alma. Onde pomos nosso pé esquerdo, colocamos nosso coração. Por esse motivo, as coisas tidas como sagradas eram feitas com o pé e mão esquerda.

Esse simbolismo do primeiro passo, um passo espiritual para uma nova vida, continuou sendo observado nas instituições tradicionais, principalmente em suas cerimônias.

“Rompendo a Marcha”

O costume também foi incorporado pelos antigos exércitos, que davam o primeiro passo de suas marchas com o pé esquerdo como um sinal de sorte para a batalha. Com o tempo, o costume se tornou regra, mas perdeu sua simbologia.

A MAÇONARIA E OS MÓRMONS




A Maçonaria não surgiu apenas como uma sociedade secreta que desejava transformar a sociedade em que vivia. Vale destacar, no entanto, o peso da maçonaria nos processos revolucionários do século XIX. Porém, um dos seus atrativos era a pretensão dos iniciados de possuírem conhecimentos secretos, uma gnose que lhes eram transmitida. Isso explica o considerável papel representado pela maçonaria na configuração de algumas seitas surgidas durante o século XIX e no importante ressurgimento do ocultismo desse século e do seguinte.

Os Mórmons

Dentre as seitas contemporâneas, a mais importante é a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, mais conhecida como mórmom. Seu fundador Joseph Smith Jr. era maçom, tendo a maçonaria  desempenhado um papel bastante considerável no nascimento e estabelecimento da seita por ele fundada.

O pai, Joseph Smith Jr., havia iniciado no grau de mestre maçom em 7 de maio de 1818 na loja maçônica de Ontario n. 23 de Canandaigua, Nova York. Um dos filhos mais velhos, Hyram Smith, era membro da loja maçônica Mount Moriah n. 112 de Palmyra, Nova York. Numa época bem próxima, 1820, segundo o relato dos mórmons, Deus apareceu para Joseph Smith num episódio que explica o surgimento da seita.

Em 6 de abril de 1840, foi fundada a Grande Loja Maçônica d Illinois pelo general, juiz e patriarca mórmom James Adams. A nova Grande Loja maçônica passou imediatamente a estabelecer estreitos vínculos com a seita fundada por Smith. Em pouco tempo, Nauvoo contava com três lojas maçônicas e Iowa com duas; cinco eram denominadas "lojas maçônicas mórmons" e somavam 1500 irmãos. O próprio Joseph Smith Jr., profeta de Deus segundo seu testemunho, foi iniciado como aprendiz maçom na terça-feira, 15 de março de 1842. O fato está documentado nas atas da loja de Nauvoo correspondentes a essa data, nas quais conta como Smith Jr. e Sydney Rigdon "foram devidamente iniciados como aprendizes maçons durante o dia".

Era apenas o começo. Os cinco primeiros presidentes da seita - Joseph Smith, Brigham Young, John Taylor, Wilford Woodruff e Lorenzo Snow - foram iniciados na maçonaria na mesma loja de Nauvoo. Na verdade, quase todos os membros da hierarquia ou já eram maçons ou foram iniciados assim que Joseph Smith ascendeu ao grau de mestre maçom. Para falar a verdade, é possível que a loja mórmom de Nauvoo tenha sido a que contou com mais pessoas célebres entre seus membros, com exceção  da Joja maçônica das Nove Irmãs.

No entanto, as relações da nova seita e de seu fundador com a maçonaria não podiam ser melhores. Contudo, Joseph Smith estava muito longe - considerações sobre suas revelações à parte - de ser um modelo de moral tal e qual a maçonaria exige de seus membros. De fato, em 1842, o profeta foi acusado de assassinato. Verdade ou não, certo é que se saiu bem do processo judicial e inclusive se permitiu aspirar a ser candidato à Presidência dos Estados Unidos. Não chegaria a tanto, mas no ano seguinte receberia outra revelação de enormes consequências. O tema seria a poligamia. 

Parece que, antes da canônica revelação de 12 de julho de 1843, Smith tinha tido várias outras relativas a este tema; a diferença estava em que, até então, tinham sido privadas e geralmente dirigidas a convencer a mulher ansiada ( que podia ser tanto solteira como casada) de que Deus desejava que ela se entregasse ao profeta Smith.

A primeira acusação pública de adultério formulada contra Smith procedeu, nada mais nada menos, de uma testemunha do Livro de Mórmon: Oliver Cowdery. Este documentado que, desde 1835, Smith manteve com uma tal Fanny Alger uma relação adúltera da qual não conseguiram dissuadí-lo nem sequer alguns dos seus colaboradores mais próximos. Logo, o número de amantes - esposas, segundo Smith - superou o número de oitenta.