maio 20, 2025

ARLS MOZART n. 92 - São Paulo

 


Cerca de 100 pessoas entre irmãos de diversos orientes e potências, De Molays, familiares e visitantes, lotaram as dependências da Augusta e Respeitável Grande Benfeitora e Grande Benemérita Loja Simbólica Mozart n. 92 no seu templo no Palácio Maçônico da GLESP em São Paulo.

A razão foi a palestra do irmão Marcelo Del Debbio, um dos expoentes da Escola Mística da Maçonaria, sobre "Cabalá e Árvore da Vida", que despertou grande interesse.

Eu havia visitado esta Loja em outubro passado, na comemoração dos seus 71 anos, quando assisti  a outra palestra, que também está registrada neste blog em 01/10/24. 

O jovem e ativo Venerável Mestre Eduardo Zani, atendendo a definição de "livres pensadores" atribuídos aos maçons, tem trazido temas interessantes para estudo em sessões compartilhadas com visitantes não maçons, o que lhes proporciona uma ampla compreensão dos objetivos culturais da Ordem.

COMPANHEIRO MAÇOM - Luciano Rodrigues

 


Ah, beleza do aprendizado do Companheiro Maçom! 

É uma jornada fascinante, não é mesmo?

Nesse grau, o maçom se aprofunda nos mistérios da arte e da ciência, expandindo o conhecimento adquirido no grau de Aprendiz. Ele começa a compreender a aplicação prática dos princípios maçônicos na vida diária e na sociedade.

É um período de grande desenvolvimento intelectual e espiritual, onde o Companheiro é convidado a:

 * Explorar as sete artes e ciências liberais: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Essa exploração não é meramente acadêmica, mas busca a compreensão de como esses campos do saber contribuem para a formação do indivíduo e para a construção de uma sociedade mais justa e esclarecida.

 * Avançar no simbolismo: Os símbolos se tornam mais complexos e revelam camadas mais profundas de significado, conectando o indivíduo a uma tradição milenar de sabedoria.

 * Desenvolver suas habilidades: O trabalho no grau de Companheiro incentiva o desenvolvimento de talentos e a aplicação prática do aprendizado, preparando o maçom para assumir responsabilidades maiores.

 * Fortalecer os laços fraternos: A interação com os outros membros da Loja se intensifica, promovendo um ambiente de apoio mútuo e aprendizado coletivo.

A beleza reside justamente nessa progressão constante, nessa busca incessante por conhecimento e aprimoramento. Cada novo entendimento, cada símbolo desvendado, contribui para a construção de um ser humano mais completo e consciente do seu papel no mundo.


maio 19, 2025

ANNUS MIRABILIS - Jorge Antônio Vieira Gonçalves


Em 1666, na Inglaterra, a peste bubônica se espalhava com fúria, causando terror e morte em grande escala. Em setembro, o Grande Incêndio reduziu Londres a cinzas. Nada havia a celebrar naquele ano, cenário sombrio e apocalíptico. O número 666 carregava superstições antigas, segundo o Livro do Apocalipse 13, versículo 18: “ _Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta, porque é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis._ ”


O poeta inglês John Dryden (1631–1700) utilizou em um dos seus poemas, curiosamente, a expressão latina annus mirabilis, que significa “ano miraculoso”. Parece totalmente contraditório, diante daquele ano que remetia à dor, destruição, desgraça e morte. No entanto, a palavra mirabilis deriva do verbo mirari, que significa “maravilhar-se”, “admirar”.


Em meio a tantas desgraças, lá em 1666, o milagre realmente estava por acontecer. Isolado na zona rural por conta da peste, um jovem recluso e de temperamento difícil, de apenas vinte e três anos, desvendou segredos ocultos que mudariam para sempre o entendimento humano da natureza. Isaac Newton (1643–1727), o maior gênio que já pisou sobre a Terra, na minha opinião, é claro, formulou as bases do cálculo, descobriu as leis do movimento, definiu a gravitação universal e analisou a natureza corpuscular da luz.


Dois séculos e meio depois, em 1905, outro titã da ciência desvelou à humanidade novos segredos, um novo annus mirabilis. Albert Einstein (1879–1955), então funcionário frustrado do Escritório de Patentes em Berna, na Suíça, publicou quatro artigos científicos que redefiniram os fundamentos da física: o comportamento da luz, o movimento das partículas, a estrutura da matéria, a natureza do tempo e do espaço, o efeito fotoelétrico, a teoria da relatividade restrita e a famosa equação que expressa a equivalência entre massa e energia.


Cem anos depois, em 2005, por ocasião desse “milagre”, o mundo celebrou o Ano Mundial da Física. No Brasil, instituiu-se o dia dezenove de maio (19/05) como o Dia do Físico, em homenagem ao centenário do annus mirabilis de Einstein. *Parabéns aos colegas e ao aniversariante do dia.* 


O annus mirabilis, por mais contraditório que pareça, surgiu em uma época em que a razão, mesmo cercada de sombras, consegue iluminar os escuros corredores da ignorância e do medo.

SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA - Pedro Juk



Embora o assunto já tenha sido exaustivamente debatido e esclarecido por autores autênticos da Maçonaria, ainda muitas dúvidas campeiam o solo maçônico no que diz respeito às figuras patronais de João, o Baptista e de João, o Evangelista.

Nesse sentido, tenho recebido muitos pedidos de esclarecimento sobre o assunto através do Consultório Maçônico José Castellani da revista A Trolha de Londrina, PR, assim como pelo diário eletrônico JB NEWS in Perguntas e Respostas – Florianópolis, S.C.

Dado ao exposto seguem as seguintes considerações sobre o tema:

Para o esclarecimento necessário dessa questão e para que não se caia no campo das suposições “inventando” padroeiros para a Maçonaria só porque esse ou aquele Rito pretende identificar um “santo” em particular, é antes imprescindível que o estudante conclua que a questão não é só a de identificar um padroeiro para um Rito específico, senão antes identifica-lo como um patrono de toda a Maçonaria, independente dos Ritos e Trabalhos nela praticados (as Lojas de São João).

Nesse pormenor seria lógico antes se compreender a razão dessa escolha ou costume como parte integrante da história da Sublime Instituição. É, portanto imperativo que antes se entenda o porquê dessa relação que envolve as datas comemorativas dos “santos padroeiros – Baptista e Evangelista” como uma espécie de patronos da Maçonaria.

Desde quando? Qual a razão de João, o Baptista e João, o Evangelista aparecerem nesse misto de respeito religioso e alegoria simbólica intrínseca à Maçonaria? Por que a Moderna Maçonaria ainda mantém essa tradição?

Sem ter a pretensão de aqui querer ensinar astronomia e geografia, o tema, entretanto merece ser identificado tanto pela feição científica, bem como pela cultural que envolve as crenças pertinentes aos cultos solares da antiguidade – base de grande parcela das religiões conhecidas.

Essa explicação, embora condensada, está no fato de que o planeta Terra além de girar em torno do seu próprio eixo em um ciclo diário e noturno totalizando vinte e quatro horas (rotação), também o Planeta se desloca no espaço em uma trajetória elíptica (elipse) ao redor do Sol (translação), cuja viagem completa resulta no período conhecido por “ano” (arredondados trezentos e sessenta e cinco dias).

Em seu deslocamento elíptico ao redor do Sol, a Terra estará no seu trajeto mais, ou menos afastado do Sol o que implica no Planeta estar em periélio - o ponto de órbita com menor afastamento distando 147 milhões de quilômetros e em afélio – ponto de órbita com maior afastamento com 152 milhões de quilômetros de distância. Assim o afélio se opõe ao periélio, e vice-versa.

Como a Terra no seu trajeto elíptico em torno do Sol mantém uma inclinação constante em relação ao seu plano de órbita (norte-sul) de 23 graus e 27 minutos, o movimento faz com que as duas regiões terrenas divididas pela linha imaginária do equador e conhecidas como hemisférios (meias-esferas), recebam a incidência de mais, ou menos raios solares, ou ainda estes por igual conforme a localização na sua trajetória ao redor do Sol.

Pela não coincidência do plano de órbita com o plano do equador, do ponto de vista daquele que estiver situado na Terra, esse movimento simula a ilusão de como fosse o Sol a se movimentar em torno da Terra. O trajeto dessa revolução imaginária é conhecido como eclíptica, ou a passagem do astro pelo círculo máximo da esfera celeste – é a interseção da esfera com o plano de órbita. Assim os limites, ou pontos máximos dessas inclinações nesse movimento aparente, tanto no Norte, como no Sul, quando o Sol atinge a sua maior distância angular do equador cessando o seu afastamento, ocorrem os dois solstícios (8) que marcam o início do verão e do inverno conforme o hemisfério terreno – inverno no Norte, verão no Sul, ou vice-versa.

Por ocasião do solstício no ciclo, ou estação do verão, devido a maior incidência de raios solares, prevalecem assim dias mais longos e noites curtas na sua duração. Já no ciclo do inverno, devido a menor incidência de raios solares, prevalecem as noites mais longas e dias curtos na sua duração. Os solstícios destacam-se no clima terrestre principalmente pela ocorrência do frio no inverno e do calor no verão.

Por outro lado, no que concerne a esse mesmo movimento aparente do Sol na sua eclíptica em direção ao solstício, quando passa de um para o outro hemisfério cruzando o Equador, marca a ocorrência do início da primavera e do outono conforme o sentido da marcha aparente. Do Sul para o Norte – primavera no hemisfério Norte e outono no Sul. Do Norte para o Sul – hemisfério Sul e outono no hemisfério Norte. O momento em ocorrem essas passagens ilusórias do Sol de um para o outro hemisfério sobre o Equador é que acontecem os equinócios (9).

Nessa situação de projeção zenital (equinócio - que dista igualmente), tanto no outono quanto no inverno, a incidência é igual de raios solares sobre a Terra. Esse atributo faz então com que os dias e noites sejam iguais na sua duração.

Devido à inclinação do planeta Terra no seu eixo Norte-Sul, bem como o seu movimento em torno do Sol (revolução anual e ilusória do Sol) é que ocorrem os ciclos naturais, conhecidos como as estações do ano - a primavera, o verão, o outono e o inverno - opostos conforme o hemisfério (verão – inverno, outono – primavera).

Não obstante essa relação astronômica, tal condição climática também faria com que as civilizações primitivas já distinguissem as épocas frias e quentes levando-os a organizar o seu modo de subsistência no trabalho agrícola.

Sob a óptica do Sol como fonte de luz e calor ele seria proclamado como divindade soberana e daria o suporte principal para os cultos solares da antiguidade. Com indelével influência sobre quase todas as religiões e crenças da humanidade, o homem imaginou os solstícios como portas por onde o Sol entrava e saia ao terminar o seu trajeto aparente (trópicos de Câncer e Capricórnio).

Sob o ponto de vista da Terra, as épocas solsticiais desde então seriam marcas astronômicas idealizadas pelos alinhamentos com as constelações de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul, o que sugeria, sob a ótica do misticismo, inclusive, uma relação com deuses pagãos que, mais tarde e sob a influência da Igreja, seriam elementos substituídos por santos do cristianismo. É o caso, por exemplo, do deus Janus (palavra latina que significa porta), agregado ao panteão romano, cuja representação era de uma divindade bicéfala, com duas faces simétricas olhando uma para o passado e a outra para o futuro. De acordo com a posição do Sol na eclíptica, a alegoria insinuava filosoficamente que o futuro seria construído sobre a luz do passado; sugeria também que o passado um dia fora presente e futuro, assim como o futuro seria também um dia, presente e passado.

Com o advento da adoção do cristianismo para o Império Romano, por obra do imperador Constantino, essa relação solsticial com a divindade bicéfala pagã seria alterada, quando então foi substituído o deus Janus pelos santos cristãos João, o Baptista e João, o Evangelista, o que inclusive adequaria e acomodaria essa relação religiosa para o cristianismo. Nesse pormenor a identidade do solstício em Câncer (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul) por influência de Igreja Católica, ficaria relativo a São João Baptista (Esperança – daquele que previu a Luz), enquanto que o solstício em Capricórnio (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul) seria alusivo a São João Evangelista (Reconhecimento – daquele que pregou a Luz).

Cabe aqui uma recomendação importante: Ao se tratar desse apólogo religioso inerente aos solstícios e os santos mencionados, o mesmo estará sempre relacionado ao hemisfério Norte, por extensão isso também ocorre com esse simbolismo no que concerne à Maçonaria. Como o caráter é simbólico todas as referências inerentes aos ciclos da primavera, do verão, do outono e do inverno sempre aludem ao Norte do planeta Terra.

Ainda no que concerne a relação entre o simbolismo solsticial, o cristão e a própria Maçonaria que também adota os mesmos padroeiros, muito embora a Maçonaria não seja uma religião, essa alegoria relativa aos dois solstícios, em última análise, salienta a evidente relação com o deus bicéfalo romano Janus (que tem duas cabeças) às duas transições solsticiais do verão e do inverno na banda setentrional da Terra.

O solstício de verão (junho) ficaria então relacionado a João, o Baptista como aquele que anunciou a vinda da Luz (Jesus, considerado como a Luz do Mundo), enquanto que o solstício de inverno (dezembro) concernente a João, o Evangelista, ficaria relacionado àquele que difundiu a palavra de Jesus (a Luz do Mundo).

Na concepção cristã João Baptista anunciou no verão a Esperança por intermédio da vinda de Jesus que nasceria em pleno inverno como que fazendo renascer, ou voltar novamente a Luz (Natalis Invicti Solis), enquanto que João, o Evangelista pelo Reconhecimento à Luz, passou a difundir a “boa nova” (evangelho – do grego euangélion, pelo latim evangeliu). Nota-se aqui mais uma vez a evidente relação com os cultos solares da antiguidade no hemisfério boreal.

Essa importante representação alegórica igualmente ganharia corpo pela própria semelhança entre os nomes do deus pagão Janus e Joannes (João). A palavra João, em hebraico Iheho-hannam, significa a “graça de Deus” e essa semelhança viria inclusive acomodar a situação pela exclusão e substituição do deus pagão que se chocava com as tradições do cristianismo. Desse modo João Batista e o Evangelista passariam a se associar com as datas solsticiais (junho e dezembro).

Não menos importante também é a relação simbólica configurada na constelação de Câncer lembrada pelo saudoso Irmão José Castellani in “Porque São João, Nosso Padroeiro”: “Suas duas estrelas principais (da constelação de Câncer) tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é “creche”, também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra, creche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente”.

Note-se então que a previsão alegórica do nascimento de Jesus em uma manjedoura e outras particularidades inerentes teve origem interpretativa nessa observação mística relativa à constelação de Câncer (junho, solstício de verão no hemisfério Norte) e consignada no outro alinhamento com a constelação de Capricórnio (dezembro, solstício de inverno no hemisfério Norte).

Não obstante ao sentido dessa exegese, vale também a pena mencionar a relação dela com os cultos solares da antiguidade que mais uma vez se evidenciaria e passaria, dentre outros, a influenciar na fixação pela Igreja da data do nascimento de Jesus para a noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa do ano no Norte, e que alude ao solstício relativo à volta do Sol no mitraísmo persa (INRI - Igne Natura Renovatur Integra – o Fogo Renova a Natureza Inteira) e propagada pelo mitraísmo romano na concepção do Nascimento do Sol Triunfante, ou Invicto (Natalis Invicti Solis). 

Por ocasião dessa longa e fria noite de inverno (no Norte) os homens acendiam fogueiras e faziam oferendas e preces evocando a volta da Luz. Assim o Cristianismo, valendo-se dessa alegoria solsticial fixaria o Natal (nascimento de Jesus) identificando à volta do Sol a partir de Capricórnio para o Norte como a Luz do Mundo, cujo nascimento fora previsto (anunciado em Câncer – verão). 

Essa associação daria então a João, o Baptista o rótulo daquele que anunciou a vinda da Luz, cuja data comemorativa se fixaria em 24 de junho, bem próxima do solstício de verão no hemisfério Norte que ocorre em 21 de junho - o Sol alinhado com Câncer. Assim também se daria cooptação com João, o Evangelista em 27 de dezembro, cuja data praticamente está conexa ao Natal e ao solstício de inverno no hemisfério Norte que se dá em 21 de dezembro – o Sol alinhado com Capricórnio. Ao Evangelista seria titulado o desígnio daquele que pregou a Luz (a doutrina de Cristo).

São João e a Maçonaria – Antes das considerações propriamente ditas, fica aqui o alerta sobre alguns pontos no tema que não podem ser confundidos:

a) Na matéria há que se vislumbrar que o patrono, ou patronos (São João) se referem à Maçonaria em geral, e não dela apenas a um rito ou costume em particular.

b) Como ritos maçônicos, alguns deles possuem o seu próprio patrono, todavia estes nunca se confundem com os padroeiros gerais da Maçonaria.

c) Ainda existem os protetores regionais da Maçonaria. É o caso, por exemplo, da inglesa e São Jorge (padroeiro da Inglaterra – 23 de abril). Entretanto este não pode ser confundido com as comemorações maçônicas solsticiais relativas a João, o Baptista e João Evangelista.

d) A Maçonaria é oriunda dos canteiros medievais e traz consigo uma forte influência da Igreja. Como atividade profissional à época ela comemora até os dias atuais, ainda que de modo especulativo, as festas solsticiais.

Primitivamente (com aproximadamente 800 anos de história) a Maçonaria era operativa (profissional) e não possuía ritos nem graus. Constituída de maçons livres (nas Lojas livres), muitos desses grupos profissionais, além dos santos relativos às datas solsticiais, também não raras vezes rendiam particularmente preito a outro santo protetor, inclusive a uma santa.

Conforme costume haurido dessas organizações profissionais do passado - Associações Monásticas, Confrarias Leigas e da antiga Francomaçonaria (base da Maçonaria) – e com inegável tempero da Igreja, a prática comemorativa solsticial alcançaria posteriormente a Maçonaria Especulativa e por extensão inclusive a Moderna Maçonaria (primeiro sistema obediencial fundado 1.717).

Isso se explica porque mesmo não sendo a Maçonaria considerada como uma religião, ela foi historicamente criada à sombra de Igreja Católica medieval e dela arregimentou assim uma forte influência que dava ao trabalho, bem como aos seus membros e respectiva profissão, um amoedo religioso.

Em resumo e para aplicação de uma salutar geometria a Maçonaria precisa de uma vez por todas ser despida de ilações fantasistas e equivocada que ainda forçam subsistência como aquelas que a tratam como fosse ela uma Instituição milenar. Ora, essas concepções anacrônicas não cabem mais em pleno século XXI.

Autenticamente a Maçonaria veio a nascer à sombra da Igreja nos Canteiros (10) da Idade Média, portanto não seria novidade nenhuma que sob essa influência a Maçonaria, construtora de igrejas e catedrais, viesse também possuir um patrono religioso.

Assim, essas associações profissionais geralmente se agrupavam em reunião nos solstícios de verão e de inverno, cujas reuniões, além de comemorativas ao padroeiro solsticial, também alcançavam a finalidade de rever os planos das obras, discutir novos contratos, avaliar as atividades econômicas e profissionais e promover ingresso de novos artífices na “Arte de Construir” (iniciar).

Essa relação do Ofício com o verão e com o inverno implicava antes de tudo num aspecto prático e literal da construção, já que no rigor do inverno setentrional pouco se produzia na arte de cortar a pedra calcária, bem como a de com ela se edificar. Efetivamente os trabalhos praticamente permaneciam paralisados na estação hibernal.

Com o final do inverno e o início da primavera – o rigor do clima mais ameno - os trabalhos no canteiro (hoje as Lojas especulativas) retomavam as suas atividades com força e vigor. Assim os labores do ofício iriam atingir o seu auge no verão (dias longos e noites curtas), voltariam a declinar no outono e seriam novamente paralisados no inverno (dias curtos e noites longas).

Vale então a pena mais uma vez salientar que todas as referências feitas às estações do ano (ciclos naturais) nesse arrazoado, se relacionam indistintamente àquelas que ocorrem no hemisfério Norte do nosso Planeta (berço da Maçonaria).

Como as datas solsticiais sucedem nos dias 21 de junho e 21 de dezembro, isto é, muito próximas das datas religiosas comemorativas a João, o Baptista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro, as mesmas acabariam por se confundir. Isso pode ser perfeitamente observado tomando-se por base a fundação em 1.717 da Primeira Grande Loja em Londres em 24 de junho, dia de São João Baptista (princípio da Moderna Maçonaria (11) – primeiro sistema obediencial). Do mesmo modo também se pode observar nos dias atuais onde a maioria das Obediências tem ainda o costume de dar posse aos Grão-Mestres e Veneráveis das Lojas no dia comemorativo a São João no mês de junho.

Nesse sentido a Moderna Maçonaria como fiel guardiã da tradição usos e costumes da Ordem mantém a alegoria dos solstícios nos seus arcabouços doutrinários, costume esse adquirido desde os primeiros grupos profissionais, cujas representações simbólicas, independente dos contemporâneos Ritos e Trabalhos praticados, se apresentam nos Templos maçônicos.

É o caso do conjunto simbólico composto pelo o Círculo e as Paralelas Tangenciais Verticais, cuja alegoria sugere que o Sol (círculo) não transpõe os trópicos (Câncer e Capricórnio - as paralelas representam João Baptista e Evangelista). 

Ainda outros símbolos inerentes: o das Colunas Solsticiais B e J que simbolizam, por exemplo, no Rito Escocês, a passagem dos referidos Trópicos e entre as quais o Equador do Templo; também no Rito Escocês as constelações do Zodíaco que marcam simbolicamente a eclíptica do Sol e as estações do ano, por conseguinte os solstícios e os equinócios; ainda no arcabouço doutrinário maçônico de vertente francesa a Marcha do Mestre exprime a curso aparente do Sol de um para outro hemisfério, etc.

Vale a pena também mencionar que no puro e verdadeiro Rito Escocês o Grau de Aprendiz é aberto com a leitura do Livro da Lei em São João, cap. 1, vs. 1-5 – implica na prevalência da Luz sobre as trevas como mote doutrinário do Grau.

No tocante às tradições, usos e costumes da Maçonaria, as Iniciações operativas (embora muito diferente das que hoje conhecemos) ocorriam nas reuniões semestrais (solsticiais). Naquela oportunidade em muitas associações profissionais o “Aprendiz Admitido” pousava a mão direita sobre o Evangelho de São João para prestar a sua obrigação. Esse costume era assim praticado porque as datas iniciáticas coincidiam com aquelas relativas aos santos protetores – a Igreja ditava as regras.

Como à época não existia ainda a imprensa (12) e a Bíblia era propriedade apenas da Igreja, cujo texto era compilado à mão em papel grosseiro (de gramatura alta) e resultava em um volume da Bíblia imenso, pesado e incomodo para o transporte e manuseio. Devido a esse particular o Iniciando prestava simbolicamente a sua obrigação pousando a mão direita apenas sobre o Evangelho de São João, que era geralmente reduzido e adequado para a ocasião à sua primeira página.

Assim se explica o hábito, segundo a maioria dos Ritos, do notório uso do título distintivo - as Lojas de São João, cujos trabalhos são abertos “À Gloria do G∴A∴D∴U∴ e em Honra a São João nosso Padroeiro”, ou ainda: “Uma Loja de São João, Justa, Perfeita e Regular”.

Obviamente como a questão envolve os dois solstícios, englobam-se como patronos também os dois São João, o Batista e o Evangelista. Até porque como a Maçonaria é uma Obra de Luz, nada mais oportuno do que celebrá-la simbolicamente (sem conotação religiosa) através daquele que previu a Luz e também daquele que propagou a Luz.

Nesse sentido, em se tratando dos padroeiros maçônicos cujo nome é João, muitos equivocadamente ainda teimam em propagar o nome de outros S. João, a exemplo do Esmoler (também conhecido como Hospitalário ou de Jerusalém) que não tem qualquer relação com a Maçonaria Operativa. Pior ainda foi a invenção do tal “da S. João da Escócia” que nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.

Alguns equivocadamente ainda associam um santo padroeiro inerente a um Rito em particular e querem generalizá-lo como patrono de toda a Maçonaria. Daí a razão dessa propagação desmedida que tem causado muitas dúvidas para o entendimento de muitos outros.

Aliás, é oportuno salientar que a tal “generalização” tem sido uma verdadeira erva daninha na prática e interpretação maçônica, geralmente adubada pelos incautos que ao se referirem a um Rito específico o imaginam como se fosse ele o único representante de toda a Maçonaria. 

Inquestionavelmente esse despautério não condiz com a Verdade, já que os Ritos e os Trabalhos do Craft são partes integrantes da Maçonaria. Embora a sua espinha dorsal seja única, cada Rito ou Trabalho (costume) possui a sua particularidade geralmente oriunda da sua doutrina, da sua cultura e da sua vertente maçônica (inglesa ou francesa). A Maçonaria Simbólica Universal é única, porém composta por vários Ritos e Trabalhos do Craft.

A chave da compreensão está no conhecimento e pratica da história autêntica da Sublime Instituição - acadêmica por excelência. Antes de se mencionar opiniões de achistas e crédulos em escritos comprometidos (água contaminada), quando não repletos de opiniões ocultistas hauridas de crenças pessoais, melhor seria primeiro atender a virtude da prudência na observação dos fatos.

Retomando o assunto inerente ao mote desse arrazoado e por tudo o que até aqui fora sobre ele foi mencionado é que a Maçonaria desde o seu período operativo vem se servindo da relação Homem-Natureza, cujo palco alegórico de outrora era o canteiro da obra. Atualmente essa analogia está na topografia e na decoração dos templos maçônicos, bem como nas doutrinas específicas dos Ritos e Trabalhos da Moderna Maçonaria Simbólica, sejam eles de conceito deísta ou teísta.

Concluindo: por razões óbvias, despido de qualquer relação com uma religião ou dogma específico, o padroado da Maçonaria Universal (não de um rito específico), considerada a característica especulativa da Instituição como “Obra de Luz” sugerem como patronos os dois personagens ligados simbolicamente à Luz - João, o Baptista e João, o Evangelista.


maio 18, 2025

CORPORAÇÕES DE OFICIO - Michael Winetzki


 

CONCISA INTERPRETAÇÃO DO SALMO 133 (NA SIMBOLOGIA MAÇÔNICA) R.'.E.'.A.'.A.'. - Newton Agrella


No Brasil as Lojas Maçônicas Simbólicas seguem a orientação da Grande Loja da Inglaterra e costumam fazer a leitura do Salmo 133 versículos 1, 2 e 3 do Livro da Lei.

*"...OH ! QUÃO BOM E SUAVE É QUE OS IRMÃOS VIVAM EM UNIÃO...”*

É o canto de David pela confraternização dos que passam o dia reunidos junto à esplanada do Templo em Israel, que mal se conhecem, vindos de todas as regiões, ali se congregam como irmãos e irmãs, com o intuito de adorarem um só Deus.

*"...É COMO O ÓLEO PRECIOSO SOBRE A CABEÇA E QUE DESCE À ORLA DE SUAS VESTES..."*

O *óleo* era um perfume à base de mirra e oliva usado para ungir os reis e sacerdotes, 

Na tradução da Bíblia Vulgata, entenda-se por "cabeça" , o ouvido, a visão, o paladar, o olfato, as mãos e o tato.

Já a fronte, a cabeça, simbolizam os cinco sentidos.  

E o óleo derramado, a purificação dos mesmos. 

A *cabeça* denota o núcleo da existência e do pensamento.

A *barba* é o distintivo da honra e da probidade como reza a tradição pelo respeito e veneração aos Anciãos sobretudo no Oriente.

As *vestes* são o emblema da honestidade e pudor e de especial significado litúrgico e ritualístico.”

*"...É COMO O ORVALHO DE HERMON QUE DESCE SOBRE SIÃO PORQUE ALI O SENHOR ORDENA A BENÇÃO E A VIDA PARA SEMPRE..."*

A reunião dos romeiros fazia com que a *benção* descesse para todos. 

Isto para David manifesta-se na natureza, no óleo, no orvalho, nas chuvas, nas águas do rio Jordão que irriga a terra e a torna fértil tornando possível a posse da Terra Prometida.

O propósito dessa breve interpretação tem por objetivo analisar, dentro de um contexto histórico-social, as figuras de David e de Aarão e a importância dos mesmos, dentro da formação religiosa do povo hebreu, a partir do Salmo 133. 

Cabe também registrar que essa interpretação e o Salmo 133 em si - para efeito Maçônico - não tem conteúdo divinal ou religioso proselitista.

A finalidade de sua evocação é simbólica e se vale de uma metáfora denotando que a Maçonaria traz dentre seus postulados basilares o entendimento de que a FRATERNIDADE e a UNIÃO são uma referência de virtude na relação entre a Existência Humana e o Princípio Criador e Incriado do Universo.

A moral SIMBÓLICA do Salmo 133 reside na sua excelência à exaltação do Amor Fraternal e portanto o motivo de ter sido eleito para traduzir a firme e solene união dos Maçons.



ESPERANÇA e PROPRIEDADE - Adilson Zotovici

 

Assim caminha a humanidade

No incabível modernismo

O irredutível egocentrismo 

O niilismo em verdade 


É reinante o incivismo 

A vida é banalidade 

E fluída obscuridade

É flagrante o ostracismo 


Mas há esperança e propriedade

Na Arte Real sem sofismo

Basta olhar com acuidade 


Vê-se o pulcro racionalismo

Na Sublime fraternidade 

Qual o fulcro do Iluminismo !



MAÇONARIA RESPONDE ÀS CRÍTICAS




Desconsiderando as críticas absurdas, aquelas baseadas em crenças idiotas, frutos da ignorância e do fanatismo, ofensivas a qualquer indivíduo de inteligência mediana e um pouco de bom senso, dediquemos um pouco de nosso tempo a responder as demais críticas, relativas ao caráter político, econômico e social da Maçonaria:

1 – A Maçonaria é direitista

R – A Maçonaria, pelo seu caráter universalista, não assume posição política e proíbe discussões político-partidárias em suas reuniões, mas sempre incentivando seus membros a terem e defenderem suas convicções políticas, em defesa da democracia e da soberania da pátria, atributos ligados à Liberdade, a qual faz parte da tríplice divisa maçônica. Por esse motivo, encontra-se nas fileiras maçônicas filiados e líderes em vários níveis de todas as vertentes políticas.

A Maçonaria, refletindo a sociedade em que está inserida, pode possuir maioria dos membros socialista em Cuba e capitalista nos EUA. E nem por isso a Grande Loja de Cuba ou qualquer Grande Loja Estadual dos EUA tem oficialmente uma ou outra posição, pois abrigam também membros de diferentes convicções políticas, econômicas e sociais.

2 – A Maçonaria é conservadora, tendo resistência em acompanhar os avanços da sociedade

R – A Ordem Maçônica é instituição não dogmática, e seu funcionamento é em “regime aberto”. Isso significa que a Maçonaria não possui dogmas que restringem seus membros em quaisquer questões, podendo eles militarem contra ou a favor qualquer questão que não restrinja a liberdade de si mesmo e do próximo. Os maçons não são monges e não vivem trancafiados nas Lojas Maçônicas. Eles vivem na sociedade e apenas frequentam as reuniões maçônicas durante algumas horas por semana ou quinzenalmente. Como instituição filosófica, espiritualista e humanista, a Maçonaria defende a livre e irrestrita busca da verdade. Há maçons conservadores e liberais, e aqueles que se submetem a qualquer dogma o fazem por suas convicções pessoais, e não pela Maçonaria. Novamente, refletindo a sociedade, numa comunidade mais conservadora pode haver mais maçons conservadores, assim como o contrário.

3 – A Maçonaria é machista

R – Essa ideia de que a Maçonaria é machista é baseada no fato de que a Maçonaria Regular só aceita homens como membros. Para entender melhor essa questão, leia o artigo sobre as mulheres na Maçonaria.

4 – A Maçonaria é inimiga declarada da Igreja Católica

R – Apesar de uma Ordem presente no mundo inteiro, a Maçonaria não possui um poder central internacional, pois cada Grande Loja no mundo, seja composta de 03 ou de 3.000 Lojas, é independente e soberana. Não existe um “Grão-Mestre Internacional”, nem mesmo um Conselho que possa falar em nome de toda a instituição. Por esse motivo, afirmar que a Maçonaria é a favor ou contra qualquer instituição religiosa é, no mínimo, calúnia. Por outro lado, a Igreja Católica já emitiu algumas bulas papais contrárias à Maçonaria, ameaçando penalidades aos católicos que ingressassem na Ordem. O que também não impediu que vários padres buscassem a Maçonaria e se tornassem maçons ao longo da história. Algo que acontece até os dias de hoje.

5 – A Maçonaria é uma espécie de pirâmide, que favorece financeiramente seus membros

R – Então, por que diabos eu ainda sou pobre???

Ninguém ganha dinheiro com Maçonaria, mas posso garantir que se gasta muito com livros e taxas de manutenção de nossos templos, estruturas administrativas e projetos sociais.

6 – O maçom é obrigado a favorecer o outro em nome da fraternidade

R – Sério? Então está na hora de eu cobrar alguns favores!!!

Sendo o maçom um homem que assumiu solenemente compromisso de busca e promoção da justiça em todos os momentos de sua vida, ele está moralmente impedido de favorecer quem quer que seja, independente se irmão maçom ou irmão de sangue. Se um maçom, num momento de fraqueza ou desencaminho, solicitar a outro algum tipo de favorecimento, este último tem a obrigação fraterna de recordar o primeiro dos preceitos maçônicos. O auxílio maçônico refere-se a situações de socorro em momentos de risco ou necessidade, e abrange não somente o maçom como sua família

7 – A Maçonaria faz pouco pela sociedade

R – Ao contrário do que alguém possa pensar, a Maçonaria não é uma ONG de ação social, um clube de serviço ou uma sociedade com fins filantrópicos. A Ordem Maçônica é uma espécie de escola, cujo objetivo é o desenvolvimento moral, intelectual e espiritual de seus membros. É através de seus membros vivendo e agindo segundo os princípios maçônicos e em defesa de seus ideais que a Maçonaria espera colaborar para uma humanidade mais feliz. Por esse motivo, a filantropia não é seu fim, mas apenas um de seus meios. Porém, o interessante a se observar é que, mesmo não sendo a sua natureza, a Maçonaria tem desenvolvido excelentes projetos sociais em todo o mundo. A diferença é que a Maçonaria costuma ser discreta, não fazendo publicidade de seus atos em prol do próximo.

8 – A Maçonaria faz parte da Nova Ordem Mundial, movimento que tem a intenção de governar o mundo, influenciando os governos a agir conforme seus interesses

R – Se a Maçonaria, como explicado anteriormente, não possui uma representatividade internacional, como poderia participar de um “complô mundial”? Além disso, as únicas menções sobre essa tal “Nova Ordem Mundial” só são encontradas em sites de fanatismo religioso e em teorias conspiratórias sem qualquer indício aceitável

Conclusão

Essas são apenas algumas das várias críticas sobre a sublime instituição, muitas delas heranças de campanhas difamatórias que a Ordem sofreu em outras épocas. A única culpa que a Maçonaria carrega é a de se basear no sigilo, enquanto é da natureza do ser humano recear o desconhecido, e divagar sobre ele.

Fonte: Projeto Mayhem.

maio 17, 2025

A PALAVRA SAGRADA DO APRENDIZ - SOLETRADA OU SILABADA - Pedro Juk



Um Respeitável Irmão pertencente ao GOB e de uma Loja praticante do REAA apresenta a seguinte questão:

Na passagem da Palavra Semestral na abertura ritualística da Sessão é informado que ela deve ser somente soletrada. Parece-me correto porque o Aprendiz só sabe soletrar. Entretanto na primeira instrução do Aprendiz, no mesmo ritual, é informado que ela deve ser passada soletrada e posteriormente (ao final) silabada. Acredito que o Aprendiz não deve silabar. Somente o Companheiro deve silabar (já aprendeu alguma coisa) e o Mestre fala a palavra completa (já está completo). Solicito verificar e orientar porque temos irmãos confusos.

CONSIDERAÇÕES:

Na realidade, durante a abertura ritualística o que existe no REAA é a liturgia da transmissão da Pal∴Sagr∴ e não a da Pal∴ Sem∴. Essa transmissão, da Pal∴ Sagr∴ que, diga-se de passagem, não é relacionada a nenhum telhamento, se apresenta apenas como uma reminiscência de práticas antigas hauridas ainda do período Operativo da Ordem e se dá entre as Luzes da Loja e os Diáconos. Embora não seja esse o mote desses apontamentos, é oportuno comentar que os trabalhos da Loja, para serem abertos e encerrados, dependem da sua correta transmissão (J∴ e P∴).

Assim, durante essa transmissão, quem dá a Pal∴ dá a mesma por inteiro e na forma de costume, isto é, sol∴ no caso do grau de Aprendiz. Nessa transmissão, por não se tratar de um telhamento, já que a mesma é recebida e transmitida entre Mestres Maçons, não existe no ato a troca alternada das letras entre os protagonistas, e muito menos a de ssíl∴ ao final.

As letras que compõem a Pal∴ Sagr∴ só são dadas de modo alternado entre os interlocutores se mesma for a do grau de Aprendiz, enquanto que na do de Companheiro alternam-se as suas ssíl∴, porém isso só acontece quando esse procedimento se der por motivo de um de telhamento – o ato de examinar a qualidade maçônica de alguém pelo examinador. 

É bom que se diga que muitos procedimentos em Maçonaria podem ser iguais, entretanto, ao mesmo tempo eles podem ter objetivos diferentes. É o caso, por exemplo, da liturgia da transmissão da Pal∴Sagr∴ durante a abertura ou encerramento dos trabalhos e a da tomada da Pal∴ Sagr∴ por ocasião de um telhamento. Em ambos os procedimentos, a Pal∴Sagr∴ é transmitida, entretanto de modo e objetivo diferente.

No tocante ao seu comentário em relação à Pal∴ Sagr∴ no Primeiro Grau ser dada l∴ por l∴ e ao final silab∴, de fato o Irmão tem toda a razão no seu raciocínio, pois isso é inadmissível no grau de Aprendiz, já que iniciaticamente aprendemos que ele somente sabe soletrar e não silabar. Afinal, n∴ s∴ l∴ n∴ p∴, s∴ s∴; d∴ a p∴ l∴ e eu v∴ d∴ a s∴.

Assim esse anacronismo, que de há muito tem habitado erroneamente os nossos rituais, precisa ser realmente extirpado, pois além de ser anacrônico, em se tratando do REAA ele é altamente contraditório, sobretudo se observarmos máxima abreviada e mencionada no parágrafo imediatamente anterior. 

Seguindo a senda do aperfeiçoamento maçônico, o Aprendiz ainda em estágio bruto, somente sabe dizer letra por letra, enquanto que o Companheiro, mais instruído, capaz e prudente, já pode soletrar. 



A PEDRA CÚBICA - Fernando Britto Barboza




Pedra Cúbica ou Polida é a peça de pedra que está em condições de ser assentada na obra.

Havendo o Aprendiz trabalhado na Pedra Bruta com o Malho e o Cinzel, transformando-a num cubo imperfeito, cabe ao Companheiro, polir este cubo com o auxílio do esquadro, do Nível e do Prumo, a pedra antes bruta, terá que ser polida, a fim de refletir o que realmente representamos na sociedade.

Nossa vida profana, anterior ao ingresso na Maçonaria, é como uma pedra bruta, retirada da pedreira, não temos conhecimento, não temos discernimento, mas dentro de cada Pedra Bruta, existe uma Pedra Polida, e com o trabalho, através das luzes recebidas no Templo, vamos nos lapidando.

Através das tarefas a serem cumpridas em todos os dias, através do trabalho exaustivo, do eterno aprendizado, vamos moldando a mesma para que sirva para a construção, e deixe de ser um pedaço informe, mas algo com forma definida para poder fazer parte da construção de nosso Templo interior.

A Pedra Cúbica serve para o Companheiro afiar seus próprios utensílios, é o trabalho necessário para afinar a própria inteligência e afastar do próprio espírito os erros e os preconceitos mundanos.

Ao Companheiro cabe, então, elevar seu espírito a um nível de perfeição ideal. Trata-se de transformar seu ser, sua personalidade, num cubo perfeito, eliminando de si finalmente, os elementos mais grosseiros de sua natureza terrena. E é por isso que a Pedra Cúbica simboliza o homem perfeito, sem defeitos, um verdadeiro Mestre.

Os conhecimentos, por si só, não têm qualquer utilidade, se não forem postos em pratica, testados e, sobretudo, vivenciados.

Na tradição esotérica se diz que quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Quando a Pedra Cúbica esta acabada, polida, o companheiro está pronto. Então, o Mestre aparece.

CONCLUSÃO

Aprender, ler, decorar, ler os livros maçônicos disponíveis no mercado, pesquisar em sites, tudo isso está ao alcance de qualquer pessoa, maçom ou não.

O diferencial vai estar na essência maçônica, em trazer para nossa vida mundana todas as virtudes aprendidas para o nosso dia a dia, em busca do ser livre e de bons costumes, com liberdade, firmeza e dedicação.


maio 16, 2025

PALAVRA INEFÁVEL: O VERDADEIRO NOME DE DEUS - Guilherme Cândido CT


O primeiro “degrau” dos altos graus do Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) constitui um corpo chamado de Lojas de Perfeição que outorga aos seus praticantes um total de 11 graus, do 4° ao 14°, conhecidos como Graus Inefáveis.

Pois bem, mas o que é inefável? 

Inefável é algo que não se consegue exprimir ou explicar com palavras devido à sua complexidade natural ou beleza estonteante.

Logo, é justo que concordemos que os graus da Maçonaria, não só os de Perfeição, mas também os simbólicos, são inefáveis, haja vista que são de tamanha complexidade e beleza que não se consegue explanar o seu significado a alguém que não tenha passado pelos seus cerimoniais de iniciação. 

Até mesmo entre os que passaram é difícil haver concordância, pois são viagens simbólicas e reflexivas que fazemos sozinhos e que consequentemente implicam em significados diversos e muitíssimo particulares a cada forasteiro que por elas se aventuram.

Estando claro o conceito de inefabilidade, é questão fundamental no estudo maçónico, e até mesmo nos estudos bíblicos e históricos, a existência ainda de algo muito famoso conhecido como inefável. 

É uma palavra: o nome de Deus.

Os hebreus referiam-se a Deus por diversos substantivos e adjectivos como:

• Adonai: Senhor;

• Ehyeh-AsherEhyeh: Eu Sou o que Sou;

• El Shaddai: O Todo Poderoso;

• Elohim: A Autoridade;

• Elyon: Altíssimo;

• Eloah: O Proeminente;

• El Roi: O Deus que vê e

• El Olam: Deus eterno, entre outros.

No entanto, todos eles sabiam como escrever o verdadeiro nome do Grande Arquitecto do Universo. 

Tratava-se de um tetragrama, ou seja, uma expressão de quatro letras ou sinais gráficos destinada a representar uma palavra, acrónimo, abreviatura ou sigla. 

Este tetragrama era: יהוה, composto portanto pelas letras hebraicas He Vav He Yod. 

Porém, como em hebraico se lê da direita para esquerda, a ordem correcta das letras fica da seguinte forma: Yod He Vav He. 

Em português este tetragrama poderia ser traduzido como: YHWH.

O hebraico é uma língua onde só se grafa as consoantes, para fazer a leitura é necessário ter aprendido a pronúncia correcta daquela palavra, encaixando o som de vogais entre as consoantes. 

Com isto, todos os hebreus sabiam escrever YHWH, mas só os escolhidos sabiam pronunciar esta palavra, que por consequência, tornou-se inefável, pela sua complexidade, beleza e ocultamento.

Por matemática simples, percebemos que encaixando três consoantes dentro do tetragrama “Y_H_W_H”, haveria nada mais nada menos do que 125 combinações diferentes para a pronúncia desta palavra sagrada.

A pronúncia correcta só era revelada ao Sumo Sacerdote e, em cerimonial específico no Templo, ao Rei de Israel quando da sua unção. 

Sumo Sacerdote era o nome dado ao mais alto posto religioso do antigo povo de Israel e posteriormente a época do exílio babilónico era também a mais alta autoridade política do país, por estar em tal posição era também o detentor da pronúncia da palavra, e a passava ao novo Rei na sua unção. 

Contudo, o primeiro a receber a palavra inefável foi Moisés, que a recebeu do próprio Grande Arquitecto do Universo. 

Acompanhemos o livro de Êxodo, Cap. 3 – Vers. de 1 a 20:

1. Moisés pastoreava o rebanho do seu sogro Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus.

2. Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, não era consumida pelo fogo.

3. “Que impressionante!”, pensou. “Por que a sarça não se queima? Vou ver isso de perto.”

4. O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus o chamou: “Moisés, Moisés!” “Eis-me aqui”, respondeu ele.

5. Então disse Deus: “Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa”.

6. Disse ainda: “Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó”. Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus.

7. Disse o Senhor: De facto tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egipto, tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo.

8. Por isso desci para livrá-los das mãos dos egíp­cios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde há leite e mel com fartura: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus.

9. Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios os oprimem.

10. Vá, pois, agora; eu o envio ao faraó para tirar do Egipto o meu povo, os israelitas.

11. Moisés, porém, respondeu a Deus: “Quem sou eu para apresentar-me ao faraó e tirar os israelitas do Egipto?”

12. Deus afirmou: “Eu estarei com você. Esta é a prova de que sou eu quem o envia: quan­do você tirar o povo do Egipto, vocês pres­tarão culto a Deus neste monte”.

13. Moisés perguntou: “Quando eu chegar diante dos israelitas e lhes disser: O Deus dos seus antepassados me enviou a vocês, e eles me perguntarem: “Qual é o nome dele?” Que lhes direi?”

14. Disse Deus a Moisés: “Eu Sou o que Sou (Ehyeh-AsherEhyeh). É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês”.

15. Disse também Deus a Moisés: Diga aos israelitas: O Senhor (Adonai), o Deus dos seus ante­passados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, enviou-me a vocês. Esse é o meu nome para sempre, nome pelo qual serei lembrado de geração em geração.

16. Vá, reúna as autoridades de Israel e diga-lhes: O Senhor, o Deus dos seus antepas­sados, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, apareceu a mim e disse: Eu virei em auxílio de vocês; pois vi o que lhes tem sido feito no Egipto.

17. Prometi tirá-los da opressão do Egipto para a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus, terra onde há leite e mel com fartura.

18. As autoridades de Israel o atenderão. Depois você irá com elas ao rei do Egipto e lhe dirá: O Senhor, o Deus dos hebreus, veio ao nosso encontro. Agora, deixe-nos fazer uma caminhada de três dias, adentrando o deserto, para oferecermos sacrifícios ao Senhor, o nosso Deus.

19. Eu sei que o rei do Egipto não os deixará sair, a não ser que uma poderosa mão o force.

20. Por isso estenderei a minha mão e ferirei os egípcios com todas as maravilhas que realizarei no meio deles. Depois disso ele os deixará sair.”

Aqui, o Grande Arquitecto do Universo diz a Moisés que, se o questionarem, diga que Ehyeh-AsherEhyeh, ou seja, EU SOU O QUE SOU, ou simplesmente diga que EU SOU o enviou para libertar os hebreus do cativeiro Egípcio. 

Em seguida pede para também ser referido como Adonai, em português SENHOR. 

Mas em momento algum diz para Moisés o seu verdadeiro nome para que ele não o revele ao povo de Israel, e isso é explicado mais a frente após Moisés ter ido ao Egipto, falado com o Faraó e os hebreus terem sido maltratados, ainda no Livro de Êxodo, Cap. 6 – Vers. 1 – 8, onde o nome é revelado:

1. Então o Senhor disse a Moisés: “Agora você verá o que farei ao faraó: Por minha mão poderosa, ele os deixará ir; por minha mão poderosa, ele os expulsará do seu país”.

2. Disse Deus ainda a Moisés: Eu sou o Senhor.

3. Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como o Deus todo-poderoso (El Shaddai), mas pelo meu nome, YIHOWAH (JEHOVÁ), não me revelei a eles.

4. Depois estabeleci com eles a minha aliança para dar-lhes a terra de Canaã, terra onde viveram como estrangeiros.

5. E agora ouvi o lamento dos israelitas, a quem os egípcios mantêm escravos, e lembrei-me da minha aliança.

6. Por isso, diga aos israelitas: Eu sou o Senhor. Eu os livrarei do trabalho imposto pelos egípcios. Eu os libertarei da escravidão e os resgatarei com braço forte e com poderosos actos de juízo.

7. Eu os farei meu povo e serei o Deus de vocês. Então vocês saberão que eu sou o Senhor, o seu Deus, que os livra do trabalho imposto pelos egípcios.

8. E os farei entrar na terra que, com mão levantada, jurei que daria a Abraão, a Isaque e a Jacó. Eu a darei a vocês como propriedade. Eu sou o Senhor.”

Eis aqui a palavra inefável, o verdadeiro nome de Deus revelado a Moisés, mas com uma suposta pronúncia, pois ninguém pode afirmar se era esta de facto, excepto os escolhidos para recebê-la que também não a revelaram, e com isto esta pronúncia acabou sendo a adoptada: JEHOVÁ (YIHOWAH), um nome tão cheio de complexidade e que denota as sabedoria e beleza supremas, que não pode ser pronunciado.





THE DOORS - Jorge Antônio Gonçalves


O personagem agachado, acima, é inspirado em Urizen, figura mitológica criada por William Blake. Trata-se de um velho de longas barbas brancas que aparece na obra O Ancião dos Dias, publicada em 1794.

A banda norte-americana The Doors foi formada em 1965, em Los Angeles, Califórnia, composta por Jim Morrison (vocal), Ray Manzarek (teclado), Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria).

O nome "The Doors" (As Portas) foi inspirado no livro The Doors of Perception, de Aldous Huxley, que por sua vez se baseia em uma frase de William Blake.

Jim Morrison, vocalista e letrista da banda, morto aos 27 anos, era admirador declarado da obra de Blake.


 *Repassando, para reflexão histórica*


*O Papa recém-eleito, que escolheu se auto-determinar Leão XIV, faz com que Maçons se recordem de Leão XIII, um dos Papas que mais dissabores à Franco-Maçonaria causou durante o seu Papado. Espero que o nome não seja uma homenagem.*


A escolha do nome de um Papa nunca é um ato trivial. Trata-se de um gesto carregado de simbolismo, de sinalizações internas e externas, de afirmação doutrinária e, muitas vezes, de antecipação dos rumos que se pretende imprimir ao próprio pontificado. Quando o recém-eleito chefe da Igreja Católica decidiu adotar o nome de Leão XIV, os ecos da história ressoaram intensamente — sobretudo entre os membros da Franco-Maçonaria, que imediatamente foram remetidos ao conturbado e doloroso período de Leão XIII, o pontífice que, entre 1878 e 1903, firmou uma das mais hostis campanhas contra a Maçonaria já registradas.


Leão XIII não foi um opositor qualquer. Ele foi, talvez, o mais articulado e sistemático antagonista da Ordem Maçônica em toda a história moderna do Vaticano. Por isso, a escolha do nome “Leão” não passa despercebida: em Roma, nada é por acaso — e na história dos símbolos, menos ainda.


*I. A herança de Leão XIII: guerra ao pensamento livre*


Leão XIII governou a Igreja em um momento crítico da história europeia: as monarquias davam lugar às repúblicas, o racionalismo substituía o fideísmo, e a Maçonaria — em especial nos países latinos — era uma força viva nas reformas educacionais, jurídicas e políticas que buscavam afastar o clericalismo do poder civil. A Igreja Católica, sentindo-se ameaçada, viu na Maçonaria não apenas uma concorrente espiritual, mas uma verdadeira adversária política.


Foi nesse clima que Leão XIII publicou, em 1884, a célebre (ou infame) encíclica Humanum Genus, na qual definiu a Maçonaria como “um inimigo declarado” da Igreja e da civilização cristã. Com palavras cortantes, denunciou os ideais maçônicos de liberdade de consciência, laicidade do Estado e progresso racional como ataques frontais ao “reino de Cristo”. A Maçonaria, dizia ele, era a raiz de todos os males modernos.


A partir dessa encíclica, todo católico que aderisse à Maçonaria estava automaticamente excomungado. Na prática, Leão XIII interditou o diálogo, demonizou os maçons e incentivou governos aliados a reprimi-los legal e moralmente.


*II. A Maçonaria sob cerco: resiliência e silêncio*


A resposta maçônica não veio em forma de panfleto, mas de resistência discreta, como é da tradição da Ordem. Ao invés de reagir com violência ou confrontação aberta, os maçons se recolheram às suas Lojas e continuaram a trabalhar pelas liberdades civis, pela educação universal, pela tolerância religiosa e pela dignidade da pessoa humana — valores que, apesar de difamados pelo Vaticano, se mostraram ao longo do tempo essenciais para a modernidade.


Os maiores nomes da filosofia, da política e da ciência dos séculos XIX e XX tiveram raízes maçônicas ou beberam da mesma fonte de humanismo laico que a Maçonaria preservava. Enquanto Leão XIII se ancorava na teologia escolástica, os maçons caminhavam com Kant, Rousseau, Jefferson, Comte, Spencer e tantos outros que moldaram a cultura política e intelectual do mundo contemporâneo.


*III. Leão XIV: nome de ruptura ou de retorno?*


Diante disso, a escolha do nome Leão XIV não pode ser recebida sem reservas. Trata-se de um gesto ousado, talvez audacioso. Mas resta a dúvida: o novo pontífice está se inspirando na coragem intelectual de seu antecessor — que, mesmo reacionário, foi um dos Papas mais eruditos de seu tempo — ou está a repetir a inflexibilidade dogmática que o tornou símbolo de intolerância para com as correntes libertárias?


Será Leão XIV um Papa disposto a reabrir os arquivos da condenação, a reforçar os decretos excomungatórios e a manter a incomunicabilidade entre Roma e a Maçonaria? Ou será ele um homem do século XXI, capaz de superar as sombras do século XIX?


O tempo responderá. Mas a apreensão é legítima. Para muitos maçons, a evocação de Leão XIII ainda desperta memórias amargas: tempos de perseguições políticas, de difamação pública, de ataques à honra de homens íntegros apenas por professarem ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.


*IV. O desafio da reconciliação*


É importante recordar que o Concílio Vaticano II, apesar de não revogar formalmente os decretos antimacônicos, promoveu uma abertura significativa ao mundo moderno. Desde então, setores progressistas da Igreja passaram a ver na Maçonaria não uma seita demoníaca, mas uma forma distinta — e legítima — de busca espiritual e ética.


Infelizmente, essa visão não se tornou dominante. E muitos Papas pós-Vaticano II mantiveram uma postura ambígua ou hostil em relação à Ordem. Se Leão XIV decidir trilhar o caminho do endurecimento, perderá uma oportunidade histórica de restabelecer o diálogo com uma das mais antigas e discretas escolas de sabedoria do Ocidente.


*V.  A Maçonaria e a profanação contemporânea: entre resistência e fraqueza*


Seja qual for a atitude do novo pontífice, a Maçonaria tem hoje um desafio ainda maior: a profanação interior, muito mais corrosiva do que os ataques externos. O inimigo de outrora usava tiaras e encíclicas; o de hoje veste-se com o terno da indiferença, com o discurso do politicamente correto e com a capa da irrelevância cultural.


Muitas Lojas, outrora guardiãs da Tradição, tornaram-se clubes de conveniência ou redutos de vaidades. O simbolismo foi trocado por protocolos burocráticos; a Iniciação, por mera formalidade social. Em um tempo de superficialidades e imediatismos, o silêncio ritual tornou-se incômodo e a contemplação filosófica, antiquada.


É nesse cenário que a Maçonaria precisa encontrar seu verdadeiro “Leão”: não o Papa redivivo, mas a coragem interior de romper com o adormecimento profano e retomar sua missão de forjar consciências livres e críticas.


 *O que deve ser feito?*


Caso Leão XIV decida reviver os ataques de Leão XIII, a Maçonaria não poderá apenas lamentar ou se vitimizar. Terá de responder com grandeza e clareza, reafirmando seus valores universais, promovendo com vigor a instrução de seus membros, reabrindo o diálogo com a sociedade civil e resgatando seu papel transformador. E, acima de tudo, deverá limpar suas colunas da poeira do comodismo, para que o Templo simbólico volte a iluminar os caminhos da humanidade.


A Maçonaria vencerá, não por meio de confrontos, mas pela superioridade do pensamento, pela serenidade dos gestos, pela fidelidade à sua essência iniciática. E se Leão XIV quiser ouvir — e for sábio o bastante para escutar — encontrará nos maçons não adversários ocultos, mas irmãos que estendem a mão na Luz.


Autor: Nilo Sergio Campos