agosto 07, 2025

TEMPLOS DA VIRTUDE - autoria desconhecida


Os templos sempre foram construídos segundo uma estrutura determinada e com a propósito de serem consagrados e dedicados às forças superiores, consideradas criadoras do Universo. 

Em Roma, eram lugares descobertos e elevados consagrados pelos áugures (sacerdotes vaticinadores) às ações memoráveis e aos veneráveis princípios espirituais. Esta sempre foi a idéia de SAGRADO, um lugar solene e respeitável. 

Os templos são o reflexo da habitação divina sobre a terra, o local da Presença Inefável, resumo do macrocosmo e imagem espelhada do microcosmo. 

As concepções mais remotas de templo se encontram no Egito. Mesmo em ruínas, pode-se perceber o respeito que aquela adiantada civilização dedicava aos Mistérios Iniciáticos e religiões locais. Muitos deles, devido a vários fatores, foram desmontados pela moderna técnica de engenharia e reconstruídos noutros locais. 

É o caso do Templo de Philae dedicado a deusa Ísis. Ostenta dois pilonos no pórtico (análogos às duas colunas simbólicas) referindo-se às deidades do mito de Ísis e Osíris. 

Outro templo importante do Egito é o de Luxor, construído por Amenhotep III. Logo na entrada há uma enorme coluna e um obelisco.  No interior, pátios cercados por fileiras de colunas. Reparem na semelhança dessas construções com o moderno Templo Maçônico. 

O Templo de Karnak, cujo recinto sagrado ocupa trinta hectares, possui vários santuários com a Sala Hipostila, composta por 134 colunas gigantes. 

A tradição egípcia de considerarem os templos como A CASA DE DEUS, passou para os hebreus através dos ritos iniciáticos. 

Primeiro, houve o Tabernáculo construído por Moisés no deserto. Depois, o Templo de Jerusalém, onde se realizavam as oferendas e sacrifícios. Situava-se no Monte Moriah, ao Norte do Monte Sião. 

De acordo com a tradição, o Templo de Jerusalém começou a ser construído no terceiro ano do reinado de Salomão. Foi concluído sete anos depois. Em 587 A.C. foi destruído e incendiado por Nabucodonosor II; mas os judeus o reconstruíram, no mesmo local, durante a dominação persa. 

Todavia, foi Herodes, o Grande - que não era judeu e sim árabe - que terminou toda a obra cuja imponência é relatada nos Evangelhos Cristãos. 

Mas, no ano 70 de nossa era, aquele Templo suntuoso foi destruído pelas legiões do general romano Tito. A tradição diz que do Templo de Jerusalém restam, atualmente, apenas as ruínas que formam o grande paredão conhecido como Muro das Lamentações. 

Os antigos templos eram, além de locais iniciáticos, pontos de referência da unidade "nacional". Destruir o templo significava enfraquecer um povo. 

Os templos gregos tiveram origem no "mégaron", espaços dos palácios de Micenas, um dos maiores centros da civilização grega e potência militar. 

Eram compostos de um "pronaos" ou antecâmara que antecedia o "naos" (nave principal) e que mais tarde se transformou no "nártex". 

A naos propriamente dita - nave ou "cella" - era um quadrilongo com paredes sem janelas. Ali eram colocadas as estátuas das divindades organizadas em três alas divididas por colunas. 

Hoje, alguns templos maçônicos ostentam essas três divindades nas figuras de Hércules (força), Palas Atenas (sabedoria) e Vênus (beleza). 

Havia também o "aditon" ou "aditus" (entrada sagrada) só acessível aos grandes oficiais para a dedicação de oferendas e outros trabalhos reservados ao Círculo Interno. 

Por último, havia o "opistódomo", câmara mais interna onde se encontrava o Mais Alto Segredo. Os cristãos chamam este local de Sanctus Sanctorum, local da "Arca da Aliança". 

Os templos atuais são simbólicos. Não representam uma "verdade histórica", mas princípios velados por alegorias. Nossa Ordem não ensina a arte de trabalhar pedras no sentido literal, mas prepara líderes para comandarem a transformação social e moral da sociedade. 

Noutras palavras: o objeto primeiro é a construção do "corpo imortal", a partir de um "corpo em ruínas". É a lição que herdamos da mitologia egípcia pela morte e ressurreição de Osíris. 

O primeiro passo para a revitalização da Maçonaria consiste na recuperação do caráter SAGRADO de nossos Templos. Esses espaços e o trabalho que neles se desenvolvem são dedicados à honra e glória de Deus, o G.'.A.'.D.'.U.'.. 

PELA POSTURA, PENSAMENTOS, CONDUTA E PALAVREADO USADOS NO INTERIOR DE UM TEMPLO MAÇÔNICO, PODE-SE DEDUZIR O NÍVEL EVOLUTIVO DE SEUS OBREIROS E QUAL A FORÇA ESPIRITUAL DA OFICINA.  

O mundo profano é separado de nossos Templos pela Sala dos Passos Perdido, onde cada Maçom deve deixar suas ambições, disputas políticas e religiosas, sua vaidade e outros assuntos vulgares. 

A entrada, permanência e saída do Templo é obrigatoriamente solene, austera e sagrada. Toda palavra vã, pilhérias e gracejos proferidos em seu interior constituem um ultraje à dignidade da Ordem e ao sentimento dos verdadeiros Maçons. 

Estejamos atentos para a fascinação, o terror e o aniquilamento que podem causar as faltas e as blasfêmias cometidas diante da Face Invisível do Mestre da Evolução. 

Muitas vezes não conseguimos entender o porquê de certas coisas acontecerem a um Obreiro ou à Oficina como um todo... 

Reunimo-nos nesses recintos Sagrados "em Nome e à Glória do Grande Arquiteto do Universo"; os que não acreditam nessa transcendência prosseguem com seus pensamentos, palavras e gestos vulgares; mas, há uma Lei de Causa e Efeito; mais cedo ou mais tarde toda a Oficina terá de arcar com as consequências.

BELEZA - Antonio Rocha Fadista


Nada mais conhecido do que o sentimento do belo; nada mais difícil de definir do que a sua idéia. A Beleza produz dois efeitos nas pessoas: dá lhes prazer e provoca um juízo. O juízo estético é universal, isto é, quando afirmamos que certo objeto é absolutamente belo, todos devem estar de acordo. 

A emoção estética é um sentimento agradável, composto de simpatia, de prazer e de surpresa, que pode ser resumido em admiração. Segundo S. Tomás de Aquino, a beleza é a ordem, isto é, a unidade na variedade. Poder-se-ia objetar que há certa ordem, certa regularidade que nada tem a ver com a beleza. Por outro lado, dizia Boileau que “uma bela desordem é o efeito da arte”. 

Toda a beleza é essencialmente expressiva; um objeto é belo por causa das idéias e sentimentos que nos sugere. A beleza é expressiva porque exprime a vida e, em particular, a vida da alma. No dizer de Platão, “a graça das formas provém de elas exprimirem, na matéria, as qualidades da alma”. Segundo diz Aristóteles na Poética, “toda a beleza deve-se assemelhar à vida”. A beleza é a expressão da vida, mas não de uma vida qualquer; há certas formas de vida que são diminuídas, disformes ou abortivas da vida, que são objeto de compaixão, de desgosto, de aversão e até de horror. O que excita em nós a simpatia, a admiração, o entusiasmo, é a expressão de uma vida rica, livre e harmônica. Assim sendo, podemos definir a beleza como sendo: 

A expressão de uma vida particularmente rica, livre e harmoniosa, a qual sendo conhecida, estimula agradavelmente o uso de nossas faculdades representativas e emotivas: os sentidos, a imaginação, a razão e o sentimento.

Esta definição reúne e harmoniza todos os elementos essenciais contidos nas definições de Aristóteles, de S. Agostinho e de S. Tomás de Aquino. 

A BELEZA, A VERDADE E O BEM 

São íntimas as relações e as analogias entre estas três idéias, que muitas vezes se empregam para se definirem mutuamente. É conhecida a definição falsamente atribuída a Platão: “a beleza é o esplendor da verdade”. Outros definiram: a beleza é o esplendor do bem. O bem moral é frequentemente designado sob o nome de belo. De fato, o verdadeiro, o belo e o bem, em si mesmos, identificam-se no mesmo ser, do qual são três aspectos diferentes. 

Esta é a razão porque Deus, sendo Ser absoluto, é também a verdade perfeita, a beleza suprema, e o bem infinito; por isso mesmo todo o ser vivente que é, - e na medida em que é, - é verdadeiro, é belo e é bom. 

Mas, ainda que no ser absoluto estes três conceitos se identifiquem unidos, em relação ao homem eles são distintos; isto porque o homem os identifica por meio de faculdades diferentes, o que obriga a distingui-los de maneira específica, à semelhança do prisma que decompõe a luz nas cores elementares. 

O verdadeiro, percebido pela inteligência, é o objeto da ciência; o bem, realizado pela vontade, é o objeto da moral; e a beleza, conhecida pela imaginação e sensibilidade superior, é o objeto da estética. 

O SUBLIME, O BONITO E O FEIO 

O sublime não é somente o belo no seu grau mais elevado. O sublime distingue-se essencialmente do belo, de acordo com Kant, que diz: “O sublime é a expressão sensível do infinito”. O belo é a expressão harmoniosa da vida, em particular, da vida humana; o caráter do sublime é a intensidade, a ilimitação. O sublime pode encontrar-se no caos e até no horrível, onde a imaginação se confunde e a razão se espraia à vontade, estando ali como no seu elemento, pois nasceu para o infinito. 

O bonito, gracioso, lindo ou encantador, é forma inferior do belo. Entre o belo e o bonito não há diferença essencial. “ bonito – diz Ch. Lévèque – ainda é belo, mas belo sem a grandeza, sem a amplitude, sem o brilho da energia do belo em toda a sua intensidade”. Assim, um carvalho secular, um grande lago, podem ser belos; mas um riacho ou uma flor, são só lindos. O feio opõe-se ao belo; o que não significa que lhe faltem todos os elementos do belo, mas simplesmente que lhe falta algum destes elementos em grau elevado. 

A BELEZA E AS BELAS ARTES 

A beleza fala à alma; excita a admiração e a simpatia. No dizer de Plotino, admirar é imitar; simpatizar é vibrar em uníssono, e não se pode amar uma coisa sem procurar assemelhar-nos a ela: Amor pares invenit aut facit. 

O primeiro efeito da beleza é, assim, levar-nos instintivamente à imitação e a reproduzi-la em nós. A admiração, quando atinge determinado grau, estimula a atividade, provoca a exaltação e, sob certas circunstâncias, fecunda a inspiração. A partir deste momento já não é suficiente compreender a sublime linguagem da arte; passa-se a desejar falar essa linguagem, isto é, a exprimir o que se sente. Assim, a Arte se apresenta sob a forma reflexa. A criação reflexa da beleza pelo homem constitui a própria Arte. 

De acordo com a forma pela qual exprimem a beleza, as artes dividem-se em Artes Plásticas e Artes Fonéticas. As Artes Plásticas – arquitetura, escultura, pintura, desenho – empregam as formas e as cores. Projetam os objetos nos espaço, em três dimensões, como a escultura e a arquitetura, ou em somente duas, como a pintura e o desenho, suprindo a terceira dimensão através dos artifícios da perspectiva. 

As Artes Fonéticas – música, canto, oratória, poesia, teatro – exprimem a beleza por meio de sons musicais ou de sons articulados. Estas obras de arte se desenvolvem no tempo. Não estando localizadas no espaço, como as artes plásticas, as artes fonéticas são mais expressivas do que descritivas. Apesar disso, a poesia, devido às metáforas que emprega e devido à imaginação, que representa as coisas ao vivo, participa grandemente do privilégio das artes plásticas. 

Aos interessados em aprofundar o conhecimento sobre os conceitos de Beleza recomendamos fortemente a leitura da Estética – O Belo Artístico ou o Ideal de Hegel, filósofo nascido em Stutgart em 1770 e que grandemente influenciou o pensamento filosófico e político em todo mundo, a partir de sua morte em 1835. 

Para terminar, para descontrair, uma pequena história sobre a Beleza e o Belo, escrita pelo Irmão e filósofo irreverente, Voltaire:Perguntem a um sapo o que é a beleza, o belo admirável, e ele responderá que á a fêmea dele, com os seus dois grandes olhos redondos, salientes, espetados na pequenina cabeça, com um focinho largo e achatado, barriga amarela, dorso acastanhado. Perguntem ao diabo, e ele dirá que é um belo par de cornichos, quatro garras afiadas e um rabiosque enrolado. Consultem, por fim o filósofo, e este responderá com uma algaraviada desconexa, numa gíria arrevezada; é-lhes indispensável algo de conforme o arquétipo do belo. 

Um dia, assistia eu a uma tragédia na companhia de um filósofo. “ – Como isto é belo! – exclamava ele. Mas onde está a beleza disto? Perguntei-lhe. – Está em que o autor atingiu a finalidade que pretendia”. No dia seguinte, o tal filósofo tomou um purgante que lhe fez grande efeito. “Atingiu a finalidade”, comentei. “Ora, aí está um purgante belo!” Então percebeu que não se pode dizer que uma purga é bela e que para darmos a qualquer coisa o título de beleza será indispensável que vos cause admiração e prazer. Concordou comigo que a tal tragédia lhe proporcionara esses dois sentimentos, e que consistia nisso o belo. 

Em seguida, fizemos uma viagem pela Inglaterra: ali vimos representar a mesma peça teatral, traduzida na perfeição; mas aqui os espectadores bocejavam. “Oh! Oh!” exclamou o filósofo, “o belo não é o mesmo para franceses e ingleses”. Concluiu, depois de refletir, que o sentimento do belo é coisa muito relativa, do mesmo modo que aquilo que é decente no Japão é indecente em Roma, e o que está em moda em Paris é detestado em Pequim; e desistiu de elaborar um longo tratado sobre o belo e sobre a beleza.

PEDRA DO CRUZEIRO, QUIXADÁ, CE - Eduardo Romero



Na terra dos monólitos, conhecida por belas paisagens cenográficas, palco de tantos filmes brasileiros, numa quarta feira comum o relógio bate 17h e alguns minutos. O calor intenso, servido com pouco e raro vento, banhado pelo fim da tarde, convida a uma caminhada e como turista, a conhecer/contemplar o pôr do Sol na Pedra do Cruzeiro, fincada dentro da cidade e com vista panorâmica para toda a região.

Entre perguntas e orientações de como chegar ao cume, o caminho se revela; segue por avenida, e de uma forma qse imperceptível entre o cartório Eleitoral e uma casa abandona, uma ruela, que por ela segue um Beco, com mais umas duas/três casas de aparência preocupante, movimentações estranhas, e é o único acesso para a subida.

Ao subir, a cidade vai se apequenando e ao mesmo tempo se integrando ao conjunto de gdes pedra com Formatados diversos (a galinha choca a mais famosa), o alaranjado/amarelado do Sol se esvaindo vai dando cores e inspirações diversas, uma contemplação da natureza, da vida e dos momentos.

Estando sozinho não arrisco deixar escurecer por completo, prefiro descer em luso-fosco. Descendo, e não tendo visto mais que um casal no auto do morro (e que lá continuaram) vou apreciando os momentos e observando para evitar perder-me.  É preciso ficar atento para não seguir por rumos diferentes. 

Enfim, chego mais perto da ruela, ainda no morro, mas já sem riscos de não reconhecer o caminho. A paz, me guiando em plenitude, eis que na luz dessa boca da noite, escuto gritos, e disparo de tiros (demorei a processar), qdo percebo a real situação estou já deitado no chão e abrigado atrás de uma pedra. Coração vai à boca! 

Não há outro caminho, não há como retornar, não há o que fazer nesse momento em (consigo ver o que está acontecendo) que uma batida policial resultou em confronto real (aparentemente boca de fumo, drogas). 

Os pensamentos são os mais diversos: e agora? Se eu for confundido (por qqer um dos lados)? Devo sair? Devo ficar? Se escurecer mais não será mais perigoso? 

Respiro, retomo a consciência e entendo que é melhor aguardar atento. Fico uns 10 minutos que parecem dias, que me consomem. Percebo que aumenta o número de policiais, lanternas, e que a busca/confusão está concentra em duas casa e ao redor dessas. 

Acredito que seja o momento, um policial joga foco de luz morro acima, respiro e na fé de que tudo dará certo, me levanto, na mão uma garrafa d’água, levanto com os braços abertos, e busco contato visual. E logo grito Turista.

O policial me ouve, me vê. Ele só acena para eu descer. Ha um risco eu sei, mas agora não tenho outro jeito. Passo por ele, que nada diz e nada faz, continuo descendo e ele com mais outro sobem correndo, aparentemente viram algo. 

Chego no beco, há dois homens caídos no chão e  mais policiais em prontidão e alerta. Eles só acenam pra eu sair rapidamente. Chego a rua, a iluminação da cidade já acessa me reconforta. Há muitos curiosos por perto, mas o silêncio reina. Sigo quieto e retomando meus pensamentos.

Estive no alto, aos pés de uma cruz, creio que seja por ela que a pedra leve o nome de Cruzeiro, de lá avistei o cemitério da cidade (dentre tudo o que se revela do alto), de lá vi açudes, casas, pedras, e luz do Sol se pondo. Ao descer foi surpreendido com o ocorrido, por momentos cheguei a achar que seria mais um a necessitar das rezas no Cruzeiro! 



agosto 06, 2025

O APRENDIZADO QUE NOS UNE - Jorge Gonçalves


O dia de fazer uma palestra é sempre um pouco mais tenso. Existe a responsabilidade de transmitir conhecimento e o desejo de que nada ocorra de errado. Mentalmente, é preciso estar preparado.

A palestra de ontem, dia 05 de agosto, foi na Loja Maçônica Piauhytinga nº 1521, quase centenária, em Estância, município localizado a aproximadamente 70 km. Minha primeira providência foi me programar para sair cedo, levando notebook e data show, garantindo que todos os recursos estivessem prontos.

Sempre depois de uma palestra, algum irmão comenta: “De tanto fazer essa palestra, você já decorou, não é?”. E eu sempre respondo que nunca é a mesma apresentação, nunca.

Já falei sobre o movimento aparente anual do Sol observado da Coluna do Norte, sobre Astronomia dissecada ou, por fim, sobre os filhos das estrelas. Mas, a bem da verdade, existem inúmeras possibilidades para explicar a relação entre a Astronomia, uma das Sete Artes Liberais, e a Maçonaria. *São possibilidades infinitas*.

Por isso, é preciso estudar sempre. Dedico pelo menos uma hora por dia para estudar a Maçonaria. Ao ver o conhecimento de irmãos como Pedro Juk, Eleutério Nicolau, Zardo, Michael Winetzki e tantos outros estudiosos, percebo como não sei quase nada. Talvez nunca alcance o nível de excelência deles, mas não é possível ficar paralisado. É preciso conhecer-se e aperfeiçoar-se. Então, o que posso fazer é continuar estudando e aprendendo. A cada palestra, quem mais aprende sou eu, quem mais se deslumbra com a beleza dos sinais e símbolos da Maçonaria sou eu.

A palestra de ontem teve um ingrediente adicional. Além de palestrante, estava como *Venerável Mestre da Loja Constâncio Vieira nº 3300*, representando minha Loja. Não no sentido de posse, mas no sentido de estar no coração, representando-a da melhor maneira possível. Apesar da distância e das dificuldades de deslocamento, meus irmãos de Loja estavam presentes, acompanhando e dando apoio. Lá estava o nosso irmão Lourival Mariano, ex Grão Mestre do GOB Sergipe, mas com a disposição e humildade de um Aprendiz, exemplo que orgulha todos nós. Também estavam presentes Clodoaldo, Marco Aurélio, Dudeck e Glauber. Além disso, contamos com a presença da comitiva do nosso Eminente Grão Mestre Wolney de Melo Dias.

Ao final, lembrei-me de um texto escrito por Eleutério Nicolau da Conceição, 

“A Desiderata: Reflexões sobre o poema”:

Conta-se que certo filósofo aproximou-se de um canteiro de obras onde operários, maçons operativos, atarefados preparavam as pedras para a edificação. 

Perguntou a um deles: O que você está fazendo? E ouviu a resposta em tom aborrecido: Estou talhando pedras, não está vendo? 

Foi-se o filósofo e encontrou outro operário, no mesmo ofício, e repetiu a pergunta. Desta vez, teve como resposta: Estou ganhando meu pão. 

Foi, ainda, a um terceiro e perguntou: O que você está fazendo? E ouviu, então, como resposta: Estou construindo uma catedral.

*Ontem, senti-me como o terceiro homem.* Integrado a um projeto maior, participante de algo que ultrapassa as necessidades pessoais e se projeta na construção de um ideal coletivo.



ARLS BARÃO DE MAUÁ 748 - São Paulo

 


Ontem a noite, conduzido pelo irmão Vitor Assunção, visitei a ARLS Barão de Mauá 748 da GLESP. Eu me senti transportado às antigas Academias da Grécia, onde caminhando entre os seus discípulos Platão ou Aristóteles faziam perguntas, lançavam idéias e comentavam as conclusões.

A Loja é pequena, mas estava lotada de visitantes. O irmão Léo Cinezi, que conheço de muitos anos como músico e executivo, apresentou uma nova faceta de influenciador de filosofia e brandindo um pequeno quadro branco, com a Loja em recreação e todos em pé, questionava, fazia perguntas, explicava, com grande energia e animação, transformando a sessão em um espetáculo - de cultura e de aprendizado .

O Venerável Mestre Alexandre Lopes, discretamente, comandava. A sessão terminou por volta das 23 horas e todos saíram encantados com as lições aprendidas. Uma sessão inesquecível.

D. PEDRO É CONDUZIDO AO CARGO DE GRÃO MESTRE - Almir Sant’Anna Cruz



Existe um lamentável vazio histórico da Maçonaria brasileira de 6 dias, correspondente ao período de 29 de setembro (data posterior à 16ª sessão da Grande Loja do Grande Oriente do Brasil, presidida pelo Grão Mestre José Bonifácio) a 3 de outubro (data anterior a desta 17ª sessão de Assembléia do Povo Maçônico em que D. Pedro assumiu o cargo de Grão Mestre).

Esse vácuo tem sido preenchido por diversas teorias de historiadores, Maçons ou não. Mas o fato é que não se pode afirmar com segurança o que aconteceu nesses 6 dias, até porque a presente Ata é extremamente sintética e, além de não informar como se deu a troca de José Bonifácio por D. Pedro, ainda causa dúvidas quando relata que Gonçalves Ledo, usando da palavra, afirma que o objeto da Assembléia era a prestação do Juramento de D. Pedro, eleito Grão Mestre por geral aclamação, em plena reunião do Povo Maçônico. 

De qual Assembléia o Grande Secretário estava se referindo, se todas as Atas eram numeradas e a anterior foi uma sessão de Grande Loja, ainda presidida por José Bonifácio? 

A única explicação possível é que ele estava se referindo àquela própria sessão.

Todavia a maior dúvida e que gerou inúmeras teorias, é de como se deu a substituição de José Bonifácio por D. Pedro.

Existem duas principais teorias. A de que José Bonifácio não teria sido comunicado dessa decisão e foi simplesmente defenestrado do cargo pela ala liberal da Maçonaria e a de que ele foi consultado e concordou com a substituição.

Ficamos com essa segunda hipótese, pois tudo foi uma estratégia política, traçada pelo Grande Arquiteto da Independência, Joaquim Gonçalves Ledo, a começar pelo convite e aclamação de José Bonifácio como Grão Mestre, forma de unir os conservadores aos liberais em prol do objetivo comum, que era a Independência do Brasil, através do mais poderoso e íntimo Ministro do Príncipe Regente. Em seguida, com o convite a D. Pedro para ingressar na Maçonaria e logo exaltado ao Grau de Mestre, convite este provavelmente feito por seu Ministro. E finalmente convidando o Imperador para substituir seu principal Ministro como Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil. Tudo executado conforme planejado desde o início. 

Diferentemente da 1ª Ata, em que constou o Juramento feito pelo Delegado do Grão Mestre, nesta Ata, menciona-se o Juramento, mas não se transcreveu o texto em que foi vazado. Admitimos que foi idêntico.

Por fim, não se menciona o discurso do Brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Secretário da Loja Commercio e Artes, exortando o Grão Mestre recém empossado a não dar créditos às intrigas e confiar nos Maçons presentes que lhes eram leais. Não funcionou, pois os intrigantes conseguiram a cizânia entre os dois grupos de Maçons, liderados por José Bonifácio e Gonçalves Ledo.


Eis a 17ª. ATA DE 04/10/1822, com sua ortografia convertida para a atual e as abreviaturas maçônicas decodificadas. Os parêntesis são nossos.

À GLÓRIA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO

17ª SESSÃO – ASSEMBLÉIA DO POVO MAÇÔNICO

Aos 14 dias do 7º mês do ano da Verdadeira Luz 5822 (sexta-feira, 04 de outubro de 1822), abertos os trabalhos da Grande Loja pelo Irmão 1º Grande Vigilante (Gonçalves Ledo), na ausência e impedimento do Grande Delegado (Marechal Luiz Pereira da Nobrega de Souza Coutinho), foram introduzidos no templo os Operários das Lojas metropolitanas, que estavam na sala dos passos perdidos, e logo expôs o 1º Grande Vigilante que o objeto da presente convocação, da Assembléia Maçônica, era a prestação do Juramento do nosso muito amável e muito amado Irmão Guatimozim (D. Pedro), eleito Grão Mestre da Maçonaria Brasileira, por geral Aclamação em plena reunião do Povo Maçônico, e sendo conduzido do Oriente, onde estava, ao sólio, por uma deputação de Irmãos Cavaleiros Rosa-Cruzes, prestou o Juramento da Ordem e imediatamente recebeu o Grande Malhete, subiu ao sólio e tomou a direção dos trabalhos.

Apresentou o Irmão 1º Grande Vigilante dois ofícios: um do Soberano Capítulo ao Oriente da Província de Pernambuco, no qual aquela Loja Capitular reconhecia e saudava o Grande Oriente do Brasil, pedindo contudo, a faculdade de fazer algumas reflexões sobre a cópia da 1ª Parte da Constituição, que lhe fora apresentada pelo Irmão Felippe Nery, Delegado  deste Oriente na dita Província.

No segundo ofício o Delegado Felippe Nery participava o resultado de sua comissão, acusando a remessa do primeiro ofício.

Resolveu a Assembléia que no dia 12 de outubro todos os Maçons se espalhassem pelos lugares de maior concurso, principalmente pelo Campo, onde procurassem conservar a tranquilidade necessária e o decoro conveniente ao respeitabilíssimo ato, que teria lugar no mesmo dia.

Por esta ocasião propôs o Irmão José Clemente Pereira os vivas, que, como Presidente da Câmara tencionava dar: à Religião, ao senhor D. Pedro 1º Imperador Constitucional do Brasil, à sua Augusta Esposa, à Independência do Brasil.

E logo o Sapientíssimo Grão Mestre lembrou mais um viva: à Assembléia Constituinte e Legislativa do Brasil.

E assim se acordou nos objetos que se deviam aplaudir no futuro dia da Aclamação Profana.

Continuou o Irmão José Clemente, participando as boas novas dos nossos emissários e o resultado satisfatório da correspondência com as Câmaras circunvizinhas.

O irmão 1º Grande Vigilante propôs à consideração da Assembléia as queixas que ouvira do Irmão Francisco Pedro Limpo, relativas à Portaria que regulava o modo de guarnecer a esquadra Brasileira, que se estava aparelhando.

Assim se terminaram os trabalhos e fechada a Loja na forma do costume, retiramo-nos em paz.


Excerto do livro "A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil" do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz

Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

agosto 05, 2025

ARLS OS PENSADORES n. 368 - São Paulo



     Estive na noite de ontem em visita a ARLS Os Pensadores n. 368 em São Paulo, da GLESP, na primeira sessão de sua nova gestão que será presidida pelo Venerável Mestre irmão Maurício Yamaguchi.

      Nas minhas visitas anteriores fiz palestras, e para meu orgulho irmãos ainda se lembravam de uma palestra que proferi em 1997.

      Reencontrei  irmãos e rotarianos como Paulo Pereira Ignácio e Ronald D'Elia, com os quais mantenho antigos e sólidos laços de amizade.

     A Loja tem há 25 anos uma confraria bem organizada,intitulada "Irmãos no Vinho" que realiza periodicamente viagens pelo mundo todo para provar os vinhos em seus locais de origem. A próxima viagem, na semana que vem, é para a África do Sul.

     Aproveitei a visita para divulgar e convidar os irmãos para o 1o Congresso Nacional das Academias Maçônicas nos próximos dias 22 e 23 de agosto em Caldas Novas, GO e para a XXX Jornada Maçônica do Brasil no dia 28 de setembro em Santos, falando sobre a importância destes eventos e também da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras, que tenho a honra de presidir.

     O ágape, que ocorreu no restaurante de um irmão do quadro chamado O Compadre, no Shopping Lar, foi simplesmente espetacular.




POR QUE MAÇONARIA E POLÍTICA? - Francisco Simas



Definição de Política – Aristóteles


O bem do indivíduo é da mesma natureza que o bem da cidade (polis), mas este é “mais belo e mais divino” por que se amplia da dimensão do privado para a dimensão do social, para a qual o homem grego era particularmente sensível, porquanto concebia o indivíduo em função da cidade e não a cidade em função do indivíduo.

Aristóteles dá a esse modo de pensar dos gregos uma expressão paradigmática, definindo o próprio homem como “animal político” (ou seja, não simplesmente como animal que vive em sociedade, mas como animal que vive em sociedade politicamente organizada).

Mas, nem todos aqueles que vivem na cidade são cidadãos. Para Aristóteles, ser cidadão é preciso participar da administração púbica, ou seja, fazer parte das assembleias que legislam, governam a cidade e administram a justiça.

O que é a Maçonaria ? É uma instituição que tem por finalidade estabelecer a justiça na humanidade e fazer imperar a fraternidade. Suas divisas são : Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Aí vamos deparar-nos com os vários conceitos de justiça: aquele emanado do direito, ou da filosofia, ou da economia, ou podemos sintetizá-los todos por um só conceito: O DE JUSTIÇA SOCIAL. É dever do maçom persegui-lo. E como persegui-lo senão pela política.

Parece-me que a grande dificuldade consiste em estabelecer a linha divisória que separa a política, entendida como a gestão da polis, objetivando fazer imperar a fraternidade, das inclinações, ou, pior ainda, das paixões partidárias. Tudo isso potencializado pelo fato de não existir interpretação inocente da história, como pretendia o positivismo.

A própria Maçonaria fez sua opção por um modelo de ordenamento social, que é aquele fundamentado nos princípios de suas divisas.

Como escola de aperfeiçoamento e alternativa de sociabilidade, qual o procedimento a adotar para otimizar seu objetivo ?

A meu ver, há dois procedimentos basilares que podem ser combinados: o primeiro seria reunir as cabeças privilegiadas que temos e, mediante a madura administração de nossas divergências, acharmos o leito que possibilite escoar todo o jorro de ideias, delas emanadas, á direita e á esquerda, com tal magnitude que possibilite preencher o vazio das idéias transformadoras que agem como profetas da nova era. A outra, é buscar nas nossas melhores tradições históricas portadoras de futuro a metodologia já utilizada por nossos irmãos e que provaram sua eficácia na práxis… Aí nosso Rito é imbatível.

Há duas ricas fontes para nos abeberarmos: uma é a Revolução Francesa; a outra, é a História do Brasil. Como o tempo é exíguo, procurá-la-ei somente na revolução Francesa.

Foi ela um momento de tamanho fulgor na história da humanidade que, até hoje, é possível vislumbrar o seu brilho! Ainda caminha altaneira em cima dos escombros da ordem velha que sepultou.

A referência à história pátria, por ser específica, fica para outra oportunidade. Queremos uma referência universal.

Mas, o que foi a Revolução Francesa e qual foi o papel desempenhado pela maçonaria ? Bem, a revolução foi o coroamento de uma lenta evolução econômica que instala no domínio do Estado a classe que estava madura para exercê-lo : a burguesia.

Foi o clímax provocado pela agudização das contradições existentes entre o caráter das forças produtivas e as relações sociais de produção.

Apesar de burguesa, com ela já nasciam as ideias de uma nova ordem social que lhe seria superior, posto que se pretendia menos excludente. Esta é a grande diferença para as revoluções que a precederam: a Inglesa e a Americana. Enquanto estas eram “estreitamente” burguesas e conservadoras , a francesa, pela sua “mélange” de classes, foi “largamente” burguesa e democrática. Ali começava a se forjar o emblema maçônico de construtores sociais. No passado, nós fizemos jus a ele; por isso, é ali que vou buscar a inspiração para falar sobre o tema.

A alternativa sobre “nossas cabeças privilegiadas” fica para o dia 02 de outubro.

Como se preparou o advento da Nova Ordem?

Vamos primeiro entender o que era a “velha ordem”, aproveitando a didática de Leo Huberman:

Quando vamos ao cinema assistir um filme sobre a Idade Média, observamos na tela os cavaleiros e damas engalanados em sua armadura brilhante e vestidos alegres, respectivamente, em torneios e jogos. Vivem em esplêndidos castelos, com fartura de comida e de bebida. Quase nem nos apercebemos que alguém deve produzir todas essas coisas. Também alguém tinha que fornecer alimentação e vestuário para os clérigos que pregavam, enquanto os cavaleiros lutavam. Assim, além de lutadores e padres, havia um outro grupo: o dos servos. A sociedade feudal consistia dessas três classes: sacerdotes, guerreiros e servos; sendo que o homem que trabalhava, o servo, produzia para as outras classes”.

A maioria das terras agrícolas estava dividida em áreas chamadas feudos. Um feudo consistia, apenas, de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam e, nas quais, o povo da aldeia trabalhava. Na orla da terra arável, havia uma extensão de prados, terrenos ermos, bosques e pastos.

Cada propriedade feudal tinha um senhor. Pastos, prados, bosques e ermos eram usados em comum, mas a terra arável se dividia em duas partes : uma, de modo geral a terça parte do todo, pertencia ao senhor e era chamada de “seus domínios”; a outra ficava em poder dos arrendatários que, então, trabalhavam a terra.

As terras não eram cultivadas em campos contínuos, tal como hoje, mas pelo sistema de faixas espalhadas.

Quais eram, então, as relações sociais de produção?

O camponês vivia numa choça miserável. Trabalhando arduamente em suas faixas de terras espalhadas, conseguia arrancar do solo apenas o suficiente para uma vida paupérrima;

Dois ou três dias por semana, tinha que arar a terra do senhor em pagamento;

Em época de colheita, tinha primeiro que segar o grão nas terras do senhor (eram os “dias de dádiva”);

A propriedade do senhor tinha que ser arada primeiro, semeada primeiro e ceifada primeiro;

Uma tempestade ameaçava fazer perder a colheita ? Então, a plantação do senhor era a primeira a ser salva;

O produto do senhor deveria ser vendido primeiro;

A estrada ou uma ponte necessitavam reparos ? Então,o camponês devia deixar o seu trabalho e atender à nova tarefa;

As prensas para moer o trigo ou a uva eram do senhor e exigia-se pagamento para sua utilização.

Por muito tempo, esta foi a relação social de produção. E por tanto tempo que a vida parecia ignorar a sua principal manifestação : o movimento.

O nascimento da burguesia

Mas, começa a entrar em cena um personagem.

No século XI, as fortunas tinham pouco valor por que eram capital estático. Não havia estímulos à produção de excedente, por que o feudo se bastava. Só se fabrica ou cultiva além da necessidade de consumo quando há uma procura firme.

Mas chegou o dia em que o comércio cresceu e cresceu tanto que afetou profundamente toda a vida da Idade Média.

Os navios singravam de um ponto a outro para apanhar peixe, madeira, peles, couros e peliças. Os mercadores que conduziam as mercadorias do norte encontravam-se com os que cruzavam os Alpes, vindos do sul, na planície de Champagne. Aí, numa série de cidades realizavam grandes feiras.

O senhor da cidade, o burgo-mestre, preocupava-se em preparativos especiais por que a feira proporcionava riqueza a seus domínios e a ele pessoalmente.

Os mercadores pagavam taxa de entrada/saída, de armazenamento, de vendas e de aramar a barraca da feira. Possuíam salvo conduto, etc… O comércio, que era um riacho irregular, foi transformando-se em corrente caudalosa. Um dos efeitos mais importantes foi o crescimento das cidades. Aonde houvesse local onde duas estradas se encontrassem, uma embocadura de um rio, ou, ainda, a terra apresentava um declive adequado, lá estavam os mercadores prontos para o exercício do comércio. E como um número cada vez maior de mercadores se reunisse nesses locais, criaram-se os “fauburgs”ou burgos extra-murais.

O aparecimento das contradições

Se recapitularmos as relações sociais de produção do tipo feudal, veremos que o crescimento das cidades, habitadas sobretudo por uma classe de mercadores que surgia, logicamente conduziria a um conflito. Toda atmosfera do feudalismo era de prisão, ao passo que, a da atividade comercial na cidade, era de liberdade.

As terras das cidades pertenciam aos senhores feudais que, a princípio, não viam diferença entre as terras da cidade e as outras que possuíam.

Esperavam arrecadar impostos, desfrutar os monopólios, criar taxas e serviços e dirigir os tribunais de justiça, tal como faziam em suas propriedades feudais. As leis e a justiça feudais se achavam fixadas pelo costume e eram difíceis de alterar. Mas, o comércio, por sua própria natureza, é dinâmico, mutável e resistente a barreiras. Não podia se ajustar à estrutura feudal. Novos padrões precisavam ser criados. E os audazes mercadores começaram a agir. Face a face com as restrições feudais que os asfixiavam, uniram-se em associações chamadas de “corporações” ou “ligas”ou “guildas”.

Quando conseguiam o que queriam, sem luta, contentavam-se; quando tinham que lutar para alcançar o que almejavam, lutavam. E qual era a exigência básica desses pioneiros?

LIBERDADE! Liberdade para ir e vir; liberdade para comerciar; liberdade para possuir suas próprias terras, diferentemente do hábito feudal de arrendar.

O mercador poderia precisar para hipotecá-la, diante de um financiamento que possibilitasse a expansão dos seus negócios, sem pedir permissão a uma série de proprietários.

As populações urbanas desejavam proceder a seus próprios julgamentos, em seus próprios tribunais. Eram contrários às cortes feudais vagarosas, que se destinavam a tratar dos casos de uma comunidade estática. Desejavam fixar os impostos a sua maneira. Na luta pela conquista da liberdade da cidade, os mercadores assumiram a liderança.

O Mercantilismo

A teoria econômica do mercantilismo fundamentava-se na convicção de que a riqueza de uma nação baseava-se na quantidade de ouro, prata e metais preciosos de que dispusesse. Era uma política puramente nacional. O espetáculo oferecido pela Espanha do séc XVI é sugestivo: a extraordinária prosperidade atingida por essa nação coincide com a circunstância de ser esse país o que maior quantidade de ouro e prata recebia de suas minas da América.

A teoria sofistica-se, posteriormente, com a introdução do conceito de Balanço de Pagamento superavitário. Assim, um país devia exportar, nem que tivesse que acabar com a indústria do outro para forçá-lo a importar e “planejar” sua economia para esse fim. Os mercantilistas acreditavam que, no comércio, o prejuízo de uma país era o lucro do outro, isto é, um país só podia aumentar seu comércio a expensas do outro. Não consideravam o comércio uma troca vantajosa, mas como uma quantidade fixa, da qual todos procuravam tirar a maior parte.

O fruto da política mercantilista era a guerra.

A Revolução Industrial

Adam Smith, membro da Loja Maçônica Capela de Santa Maria, Edimburgo, desmascara a teoria mercantilista. Ficou claro que a maioria dos mercantilistas tinha interesses a proteger e, como tal, interessava-se mais pelas sugestões práticas do que pela análise. Adam Smith procura abordar o assunto de forma científica.

Na Europa Ocidental, a indústria ia crescendo e dando novos contornos à civilização. A questão do comércio livre passa a ser defendida por todos, principalmente pelos fisiocratas franceses. “Laissez faire, laissez passer”, torna-se o lema deles. A humanidade tinha chegado ao limite da velha ordem. Raiava, no horizonte da história, a promessa de um novo ordenamento social que marcaria o alvorecer de uma nova era.

O progresso nunca foi uma realização linear, nem evoluía linearmente. Sempre representou uma ruptura com o passado. As novas forças acabavam por subjugar a tradição e emergiam prontas para iniciar um novo ciclo histórico, até que chegasse a hora de ser substituídas.Assim como o aparecimento do mercador promoveu o choque com o sistema feudal, o próprio desenvolvimento do capital mercantil, com o tempo, começou a organizar a produção numa base capitalista que necessitava libertar-se das restrições artesanais das guildas.

Mas, faltava o papel final dos malhetes e ele não tardou. Quando as contradições atingiram seu apogeu, no momento mesmo em que a história convocava todos os homens livres e de espírito temperado, para erigir os fundamentos da nova era, nossa instituição bradou: PRESENTE! Aquele brado selou para sempre o compromisso de o maçom ser o portador da revanche dos oprimidos pela ausência de Liberdade, dos excluídos pela negação da Igualdade e dos desesperados pela falta de Fraternidade. É a “vingança” final dos justos!

O lento desenvolvimento começa a proporcionar uma base material que possibilita o desenvolvimento da vida espiritual da sociedade. As novas idéias começam a influenciar a opinião culta européia. O Iluminismo (ou Ilustração ), admite-se, começa a nascer por volta de l640 e tem seu apogeu em 1789. Começa por combater uma ordem cósmica livre de qualquer poder divino, regida por leis imutáveis e uniformes.

As lojas maçônicas, mesmo antes do nascimento da Moderna Maçonaria, já exercitavam a rebeldia intelectual. Primeiro, rebelando-se contra os dogmas religiosos, opondo-se-lhes a razão; depois, como decorrência vieram as teorias evolucionistas, o desenvolvimento das ciências físicas, químicas , econômicas e, finalmente, o compromisso de construir um novo edifício social, livre das estacas do absolutismo.

Desenvolve-se a compreensão de que a razão era algo humano, uma faculdade que se desenvolvia através da experiência , junto com suas irmãs memória e imaginação. Era uma força para transformar o real e um caminho à disposição de todos os homens que buscassem a verdade.

A grande burguesia, aliada aos nobres liberais, aproveita a maçonaria para divulgar suas ideias. Para isso, conta com o concurso dos luminares.

A filosofia dos luminares, própria para a burguesia, possuía tal largueza de vistas e se assentava tão solidamente sobre a razão que, ao criticar depois contribuir para a queda do velho regime, dirigia-se a todos os franceses indistintamente.

Assim, entre os enciclopedistas, vamos encontrar:

Montesquieu – L`Esprit des Lois (1748);

Buffon – Histoire Nature ( 1749 – 1 vol);

Condillac – Traité des Sensations (1754);

Pe. Morelly – Code de La Nature (1755);

Voltaire – Essai sur les moeurs e l`esprit des nations (1756);

Rousseau-Discours sur l`origine et les fondements de l`inegalite parmi les hommes (1756);

Helvetius – De l`Esprit (1758);

Rousseau – L`Emile et Contract Social (1762).

O primeiro volume da enciclopédia aparece em 1751, sob o impulso de Diderot (Siecle de Luís XIV), de Voltaire e do “Journal Economique”,que se tornou o jornal dos fisiocratas.

O Ir∴ Malesherbes, cooptado pela maçonaria, estava à frente da Biblioteca de Paris ( como tal, era o censor oficial) e não censurava as obras dos filósofos.Encorajado por essa neutralidade, o movimento filosófico se ampliou. Depois de 1770, a propaganda filosófica triunfou. A Enciclopédia foi concluída em 1772. Voltaire e Rousseau morrem em 1778.

Em 1778, Panckoucke, Suard, Mably, Reynal, Morelly, Condorcet, D`Alembert e vários outros filósofos de segunda geração, todos maçons, continuaram a obra dos chefes do movimento, com a publicação da suprema enciclopédia, a “Encyclopédie Méthodique”.

A propaganda oral, via lojas maçônicas, ampliou os limites da palavra impressa.

Com o aparecimento da nova indústria, há a necessidade de transformar o Estado, para estimular o desenvolvimento dos negócios. A vida espiritual da Nova Era prepara-se para sepultar à da Velha Ordem. Mais tarde, a “Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão” constituir-se-á no atestado de óbito do “ancien regime”.

Vida espiritual da sociedade

A nascente maçonaria francesa estudava a Enciclopédia. Passou a congregar todos os homens livres, inclusive os clérigos, contrários às amarras feudais e espirituais.

As grandes lideranças pertenciam à maçonaria: Sieyes, Condorcet, Petion, Gregoire, Mirabeau, Danton, Marat, Brissot, Camille Desmoulins, Laclos,etc… e souberam agir sincronizadamente para impor ao rei Luís XVI uma Assembléia Nacional. Em 27/06/1789, o rei sanciona o que tentara mas não pudera impedir. Ali nascia o emblema de construtores sociais, os Arquitetos do Progresso.

Novas ideias

Econômicas : Laissez faire, laissez passer;

Políticas: extinção das ordens privilegiadas – liberalismo político;

Sociais: busca da felicidade na própria terra dos homens;

Naturais : desenvolvimento da física, química, biologia, etc…

As ideias eram levadas, mediante correspondência dos deputados, para todos os rincões da França pela máquina jacobina. E o que era a máquina jacobina?

Vejamos a definição de François Furet:

A máquina jacobina, fundada e dirigida com o concurso dos maçons, era uma apertada rede de sociedades políticas, culturais, fraternais que se multiplicavam através da França de 1789 ao ano III. Entre clubes, lojas, círculos, etc… chegavam a 5500. Eram lugares privilegiados de aculturação política e constituíram muito cedo um vasto corolário em que se experimentavam a linguagem, as práticas e as representações da democracia direta.”

Após a revolução e, principalmente, quando houve o derrube da monarquia, já não havia mais o elemento comum que unia todos os maçons. As forças políticas diversas estavam livres para iniciar suas jornadas, agregando elementos e campos afins.

Ainda assim, os maçons mantiveram a liderança em suas respectivas jornadas ideológicas.

À esquerda, no Clube dos Cordeliers, havia a liderança de Danton e Marat. Danton iniciado, ainda como obscuro advogado, na loja das Nove Irmãs. Marat, iniciado em setembro de 1769 na Loja Maçônica de Amsterdam, segundo seu biógrafo Gerard Walter.

Na centro esquerda, na Confederação Geral dos Amigos da Verdade, destacavam-se os maçons Pe. Fauché e o republicano Nicollau de Boneville, redatores do jornal Bouche de Fer ( Boca de Ferro). O Círculo Social, como era conhecida a Confederação, foi essencialmente um laboratório de idéias sociais progressistas. Não dispunha da preferência das massas populares (estas preferiam o Clube dos Cordeliers), por tomarem posições bastante afastadas da extrema esquerda. Havia, principalmente no Pe. Fauchet, uma extraordinária noção de realidade e das possibilidades geradas. O próprio Marx , ao estudar a Revolução Francesa, reconhece que o Círculo Social foi uma das matrizes do Socialismo Científico, pela consistência das idéias divulgadas.

À direita, havia a Sociedade de 1790. Congregava a alta burguesia aliada aos nobres liberais; destacavam-se os maçons: Pe. Sieyes, Marquês de Mirabeau, Duque de Orlelans, Duque de Chartres, Duque d`Aguillon, Duque de Biron, Conde de Clermont Tonerre, Visconde de Noialles, Duque de Rochefoucauld, Marquês de La Fayette, Pe. Gregoire, Laclos, etc…

Que chama era aquela que atraía e iluminava todos os homens com potencial vocação para Homem-Humanidade, que intuitivamente compreenderam que não são os homens que fazem as revoluções, mas estas, nas suas necessidades inelutáveis, é que fazem os homens quando estes exprimem a rotação dos seus movimentos?

A Maçonaria e o momento atual

Vimos, anteriormente, que o desenvolvimento das forças produtivas condicionava as novas relações sociais de produção e que as velhas relações tinham que ser modificadas para estabelecer um novo equilíbrio dinâmico entre o caráter das forças produtivas e elas.

Onde estamos hoje? Quais são as atuais relações sociais?

Para o economista Jeremy Rifkin,

“a transição para uma sociedade sem trabalhadores, a sociedade da informação, é o terceiro e atual estágio de uma grande mudança nos paradigmas econômicos, marcado pela transição de recursos energéticos renováveis para os não renováveis e de fontes de energia biológicas para as mecânicas. Ao longo de extensos períodos de história, a sobrevivência humana esteve intimamente vinculada à fecundidade do solo e às mudanças de estações.O fluxo solar, o clima e a sucessão ecológica condicionaram cada economia na terra. O ritmo da atividade econômica foi estabelecido com o aproveitamento da força do vento, da água, do animal e da capacidade humana”.

É só lembrar que, com a Revolução Industrial, a escassez de energia, pelo corte predador das árvores que forneciam madeira para a construções naval e civil, para combustíveis, etc…, forçou a transição para uma fonte de energia disponível – o carvão. Nessa época, é patenteada uma bomba a vapor para bombear o excesso de água das minas.

A união do carvão e das máquinas para produzir vapor marcou o início da era econômica moderna e sinalizou a primeira etapa de uma longa jornada para substituir o trabalho humano pela força mecânica.

É consenso que tivemos três Revoluções Industriais. Na primeira Revolução Industrial, a energia movida a vapor foi usada para extração de minério, na indústria têxtil – força dinâmica daquela Revolução – e na fabricação de uma grande variedade de bens que antes eram feitos à mão. A escuna foi substituída pelo navio a vapor, a locomotiva a vapor puxava os vagões de carga, até então, puxados a cavalo. Já se iniciava uma significativa melhora no processo de transporte de matérias primas e produtos acabados. Escreve Rifkin: “a nova máquina a vapor era uma nova espécie de escravo, uma máquina cuja habilidade física excedia grandemente o poder, tanto dos animais quanto dos seres humanos”.

A segunda Revolução Industrial foi a competição, no campo energético, entre o petróleo e o carvão. A energia elétrica entra em cena, ampliando as alternativas para operar as fábricas, iluminar as cidades e proporcionar comunicação instantânea entre as pessoas. A transferência de carga da atividade econômica do homem para a máquina continuava. “Na mineração, na agricultura, no transporte e na industrialização, fontes inanimadas de energia eram combinadas a máquinas para acrescentar, ampliar e, eventualmente, substituir mais e mais tarefas humanas e animais no processo econômico”. (Idem)

A terceira Revolução Industrial emerge após a segunda guerra mundial e, somente agora, começamos a sentir o impacto no modo como a sociedade organiza a sua atividade econômica. Robôs com controle numérico, computadores e softwares avançados estão invadindo a última esfera humana – os domínios da mente. Adequadamente programadas, estas novas “máquinas inteligentes”são capazes de realizar funções conceituais, gerenciais e administrativas e de coordenar o fluxo de produção, desde a extração da matéria prima ao marketing e à distribuição do produto final e de serviços.

Após esse panorama comparativo, vamos à análise:

O homem sempre se organizou em função do trabalho. Do caçador/coletor paleolítico e fazendeiro neolítico ao artesão medieval e operário da linha de montagem atual, o trabalho tem sido parte integrante da existência diária. E isto é tão verdadeiro que criamos e desenvolvemos toda uma cultura centrada no trabalho. Condicionamo-nos até a estigmatizar os que não trabalham.

Mas, as sofisticadas tecnologias da informação e da comunicação já nos permitem antever a fábrica virtual. Por ironia, estamos mais próximos de Paul Lafargue do que do seu sogro, Karl Marx. Aí, já verificamos uma aguda contradição entre o caráter das forças produtivas ( fundamento tecnológico da produção) e as relações sociais de produção. Entretanto, não dá para afirmar que esta é a contradição primária).

Juntando-se a estas, aparecem outras contradições, como :

a “racionalização” do sistema financeiro, fundamentada na tecnologia, proporcionou uma substancial redução nos custos de operação, oriunda da dispensa da mão de obra, da agilidade e confiança nas operações. Como contrapartida, o mesmo sistema gasta algumas vezes mais para garantir a segurança;

a tecnologia da informação proporcionou um aumento significativo dos lucros, na medida em que possibilitou processar e controlar operações que ,pelo seu volume, jamais poderiam ser feitas sem ela. Parte considerável desse lucro foi e continuará sendo “mordida” por eventos como o “bug”do milênio e as ações dos Hackers;

hoje, já ‘possível projetar a fábrica virtual, operada e controlada por robôs ou tecnologias da informação, cercada por milhões de agressivos esfomeados que perderam seus empregos para as “máquinas”.;

há uma fortuna potencial relativa ao lixo gerado pela moderna sociedade que poderia ser racionalmente administrado não só em benefício dos excluídos, como também, em benefício da qualidade do meio ambiente;

nunca a humanidade esteve tão próxima de promover a integral liberdade para os seres humanos, no mínimo, e, ainda assim, nunca houve uma época com tanta incerteza;

a tecnologia promove uma abundância perigosa, pois traz consigo o desemprego tecnológico e a demanda ineficaz do consumidor. Num mundo em que os avanços tecnológicos prometem aumentar dramaticamente a produtividade e a produção de bens, ao mesmo tempo em que marginalizará ou eliminará do processo econômico milhões de consumidores, a mágica da tecnologia parece ingênua, insensata até.

As evidências são preocupantes. Sabidamente planejamento e sistema capitalista não se combinam, o que acaba contribuindo para potencializar as preocupações.

Entretanto, a finalidade desta palestra não é propor soluções alternativas para o mundo. Faltam-me engenho e arte para tal. Mas sobram-me consciência e vontade para participar de uma busca compartilhada.

Então o que e como fazer?

Aqui há uma tentativa de proposta, que vai buscar na experiência histórica o norte da ação transformadora. Sem a história, é impossível entender o que se passa no mundo, pois ela possui uma estrutura e um padrão que nos permitem verificar de que modo os vários elementos reunidos no interior de uma sociedade contribuem para a deflagração de um dinamismo histórico ou, inversamente, não conseguem provocar tal dinamismo.

Sabemos que determinada etapa histórica não é permanente e a sociedade humana é uma estrutura bem sucedida porque é capaz de mudança; o presente, não é o seu fim.

O exemplo da burguesia revolucionária, que foi sábia o suficiente para reunir todos os ingredientes que possibilitaram o salto de qualidade, deve ser seguido, devidamente relativizado. Somos a única instituição no mundo capaz de se apresentar diante da história como agentes catalisadores da mudança, sem que confundamos nossas ações com as ações próprias de um partido político. Na minha avaliação a maçonaria está acima e além da luta de classes. Ela e só ela!

Por sermos universais, podemos promover vários ensaios, encontros, congressos, etc… com todas as grandes inteligências do mundo, presentes na instituição. Se não estiverem, nós as traremos. Aqui é o lugar delas.

Poderemos forjar novas lideranças mundiais a partir de nossas lojas universitárias. Deveremos ir aos parlamentos, forças armadas, Academia, etc… e buscar todos que se sentem compromissados perante o desafio de promover a necessária harmonia entre os elementos que formam a complexa tessitura de nossa marcha evolutiva. A exigência será a vocação para Homem-Humanidade. E, hoje, ser Homem-Humanidade é sonhar com um ordenamento social que desempenhe a função histórica de ultrapassar a emancipação provocada pela Revolução Francesa, superando os seus limites, isto é, criar uma emancipação universalmente humana e não apenas a de uma classe.

Um congresso do GOSP talvez ajudasse a criar os mecanismos necessários para iniciar nossa trajetória, ao contribuir para a formação de uma massa crítica, tão distante de nós. Mas já poderíamos inicia-la seguindo a orientação do Ir.: Onias de procurar inserirmo-nos e participarmos de Associações de Moradores, Sindicatos, Partidos Políticos, Conselhos Regionais, etc… Até porque a história nos ensina que as conquistas sociais se deram em função de uma estreita aliança com as massas populares.

Quanta experiência acumularíamos e que nos ajudaria a encontrar as variáveis que promovessem uma requalificação interna dos obreiros, definissem um perfil dos futuros candidatos e possibilitassem combinar internamente nossa disponibilidade de tempo, de tal ordem que as poucas horas disponíveis de um obreiro, multiplicadas pelo número de obreiros fossem suficientes para continuar a jornada racionalmente, isto é, sem os espontaneísmos. Poderíamos, aí, definir objetivos e as velocidades para alcançá-los.

Continuaremos fora da ribalta, fora do foco das atenções, onde se desenrolam os dramas da vida, até por que os bastidores são a especialidade da casa!

Mas, se em alguma Loja Maçônica do futuro, nossos irmãos fizerem referência às ações dos irmãos do passado, que não permitiram que se apagasse a chama do compromisso histórico de participar da criação de um ordenamento social fundado nos princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, com certeza eles estarão falando de nós.



Bibliografia

História da Riqueza do Homem – Leo Huberman – Ed Zahar;

A Evolução do Capitalismo – Maurice Dobb – Ed Zahar;

A Revolução francesa – Albert Soboul – Ed Zahar;

A Interpretação Social da Revolução Francesa – Alfred Cobban – Ed Gradiva;

1789, O Emblema da razão – Jean Starobinsky – Cia das Letras;

Os Best Sellers proibidos na França Pré Revolucionária – Robert Darton –Cia das Letras;

Princípios Fundamentais de Filosofia – Pulitzer – Ed hemus;

Evolução do Pensamento Econômico – Paul Hugon _EASA;

Pensar a Revolução Francesa – François Furet – Edições 70;

A Revolução Francesa – Manfred –Ed Arcádia;

História da Filosofia – G.Realis/D.Antiseri – Ed Paulus;

Discurso sobre A Origem e Fundamentos da Desigualdade entre os Homens – Jean Jacques Rousseau – lb 140;

A Revolução Francesa – Carlos Guilherme Motta;

A Era dos Extremos – Eric Hobsbawn – Cia das Letras;

Marat, O Amigo do Povo – Gerard Walter – Ed Vecchi Ltda;

O Novo Século – Eric Hobsbawn – Cia das Letras;

Dicionário Crítico da Revolução Francesa – F.Furet/M.Ozouf – Ed Melhoramentos;

O Fim dos Empregos – Jeremy Rifkin – Ed Makron;

O Futuro do Capitalismo – Lester Turow – Ed Rocco;

A Dialética do Concreto – Karel Kosek – Ed Paz e terra.

O Iluminismo como Negócio – Robert Darton – Cia das Letras

agosto 04, 2025

ASPECTOS PSICÓLOGOS E ALQUÍMICOS NA MAÇONARIA - Jussara e Roberto Zardo

Palestra interessantíssima que aborda aspectos importantes, porém muito pouco estudados,  da Ordem Maçônica 






 

A EXPRESSÃO DO RESPEITO - Newton Agrella


Sempre interessante lembrar que o Respeito se constitui num dos principais valores da civilização humana para que se viva uma relação de harmonia e equilíbrio numa sociedade. 

Sejam nas relações interpessoais, ou naquelas que implicam em regras, normas ou princípios éticos, morais ou filosóficos.

Relevante registrar a etimologia da palavra "respeito" em Português, cuja origem, advém do Latim "respectus".

Em Latim "respectus" é a flexão na forma do tempo particípio passado do verbo *"respicere"*.

Este verbo significa 

 "olhar para trás" ou "olhar de novo". 

O referido verbo compõe-se da partícula *"re"*(de novo) e de *"specere"* (olhar). 

O que vale dizer que a ideia original de "respeito" remete a um olhar mais atento, uma segunda análise, bem como uma consideração mais profunda sobre algo ou alguém.

Deste conceito preliminar de "olhar para trás ou considerar alguma coisa mais detidamente e com maior atenção", evoluiu-se  para o significado atual de "respeito"  que remete a admiração, consideração e deferência por algo ou alguém. 

Assim sendo, este imprescindível substantivo abstrato, dentre tantas outras coisas, encerra em sí a idéia de disciplina, obediência e até mesmo de comportamento diante dos mais variados ambientes e circunstâncias sócio-culturais.

Diga-se de passagem, que "Respeito" não se compra, não se vende e nem se negocia, sob condição alguma.

Neste breve exercício, cabe por fim destacar que o Respeito, sob um olhar dialético, consiste em reconhecer o objeto de discussão (seja um postulado, um princípio, uma regra ou um regulamento) não segundo as distorções da subjetividade, mas sim, no conteúdo e em sua própria essência e dignidade, valorizando sua natureza e suas legítimas particularidades. 

Respeito não é mais, nem menos, é simplesmente a proporção acurada de uma realidade.



agosto 03, 2025

UM ALERTA PARA A MACONARIA



O texto abaixo refere-se ao Rotary Club, do qual fui associado por 40 anos, fundador e presidente de Clubes. Mas o alerta vale para qualquer entidade de voluntariado, e sem dúvida para a maçonaria. 

Michael Winetzki 


QUANDO A ENTRADA JÁ NÃO COMPENSA A SAÍDA: O ALERTA SILENCIOSO QUE MUITAS ORGANIZAÇÕES IGNORAM 

Ao observarmos os dados frios de uma organização global de prestação de serviços, pode parecer que o número de associados simplesmente caiu cerca de 80 mil pessoas nos últimos 10 anos. Mas isso seria subestimar — e muito — a gravidade do problema.

Essa perda líquida oculta um fenômeno muito mais sério: a alta rotatividade que esconde uma crise de retenção profunda.

O que antes era mascarado por um volume alto de admissões anuais — sustentando os números totais perto de 1,2 milhão — hoje já não consegue mais compensar as saídas. A chamada “síndrome da porta giratória” se agravou: entram novos associados, mas saem ainda mais. A base está em erosão. E isso tem nome: colapso silencioso.

📉 O que dizem os dados globais?

Pesquisas recentes sobre o setor mostram que organizações sem fins lucrativos têm taxas médias de rotatividade entre 20% e 40% ao ano, dependendo da maturidade do modelo de engajamento. Segundo o relatório da plataforma Dataro (2024), reter é até sete vezes mais econômico do que recrutar novos membros.

No entanto, muitas entidades continuam apostando na entrada, ignorando que a retenção é o verdadeiro sinal de vitalidade institucional. Não é o número de pessoas que você atrai — é o número de pessoas que escolhem ficar.

🧱 O que leva tantos a irem embora?

A resposta raramente está em fatores externos. O que leva à evasão constante costuma estar dentro da própria estrutura:

▪︎ Ausência de escuta e participação real.

▪︎ Decisões centralizadas e pouco transparentes.

▪︎ Cultura interna que sufoca críticas e inovações.

▪︎ Comunicação institucional distante da realidade local.

▪︎ Custos administrativos em alta, sem contrapartida perceptível.

Enquanto isso, quem levanta alertas é frequentemente desacreditado. Questionar tornou-se motivo de afastamento. Críticas construtivas passaram a ser vistas como ameaça, não como oportunidade.

🚨 Quando a estabilidade engana

Organizações que mantêm o mesmo CEO por anos, mesmo diante de sinais evidentes de declínio, estão presas à lógica da autopreservação — não da missão.

Quando os indicadores vão mal, os custos sobem, a confiança cai e a liderança continua intacta, algo está profundamente desconectado. Se fosse uma empresa privada, mudanças já teriam sido feitas há muito tempo.

Mas em muitas ONGs, a cultura institucional prefere o conforto da estagnação à ousadia da renovação.

🔍 Uma pergunta que incomoda — e precisa ser feita:

Por que tantos entram... e poucos ficam?

Essa pergunta, se feita com seriedade, pode abrir caminhos para uma verdadeira transformação. Mas exige coragem para rever estruturas, dar voz à base e reconhecer erros. Exige colocar a missão acima das vaidades, os princípios acima dos cargos, e o impacto real acima das aparências.

✨ Ainda há tempo

O futuro das organizações de impacto não será determinado pelo tamanho de seus quadros, mas pela profundidade de seus vínculos.

Não é a quantidade de nomes em um banco de dados que transforma o mundo — é a qualidade dos relacionamentos, a força da confiança, e a verdade que se pratica internamente.

Antes que a porta giratória leve embora não só associados, mas a própria relevância institucional, é preciso ouvir.

É preciso mudar.

É preciso recomeçar — de dentro para fora.

fonte: Pessoas em ação # LigadosNasPessoasEmAção

VISÃO VENERÁVEL - Adilson Zotovici


Livre pedreiro em idílio

Pensativo, mui distante,

No canteiro, o domicílio,

É motivo preocupante !


Corre o mestre em seu auxílio

Tendo visto em seu semblante

Que sua mente no exílio

Displicente em senda errante


Determinado e pujante

Forte voz como utensílio

Dá um brado instigante;


Solta-te irmão um instante !

Neste fraterno concílio...

A nós...és tão importante  !



A PALAVRA SEMESTRAL NA ORDEM DO DIA - Márcio dos Santos Gomes


A Palavra Semestral da tradição maçônica é sempre renovada na passagem dos solstícios e destina-se a comprovar a regularidade do maçom em visita a outras Lojas e serve para reforçar a segurança da cobertura. O Maçom que desconhece a palavra do semestre em curso e nem a do anterior não frequenta Loja há pelo menos seis meses, podendo ser considerado irregular.

As Grandes Lojas, por intermédio da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB), definem e encaminham de forma criptografada aos Veneráveis Mestres, que devem decifrá-las e repassá-las, em Cadeia de União, exclusivamente aos obreiros de suas respectivas Lojas.

O costume remonta à instalação de Felipe de Orleans, duque de Chartres, como Grão-Mestre do Grande Oriente da França, em 28 de outubro de 1773. O motivo da criação da Palavra Semestral se deveu à necessidade de impedir a presença de maçons não filiados às reuniões do GOF, então criado como dissidência da Grande Loja da França, limitando o livre direito de visitação até então vigente. Posteriormente foi adotada por outras Potências. O Grande Oriente do Brasil adotou a Palavra Semestral na sua reinstalação em 1831.

Segundo Boucher (1979), originalmente eram duas palavras e ambas começavam pela mesma letra, sendo pronunciadas, a primeira da esquerda para a direita e a outra da direita para a esquerda do ouvido, durante a Cadeia de União, e deveriam voltar ao Venerável que as comunicou, “justas e perfeitas”. Constatado algum erro na volta, o procedimento se repetia.

A eficácia das Palavras era aferida na visitação, no sistema de senha e contrassenha, quando o irmão daria uma palavra ao Cobridor e receberia a outra palavra, ficando dessa forma estabelecida a regularidade de ambos, tanto a do visitante quanto a da Loja.

Entre os maçons operativos, a “Palavra Secreta” (daí a curiosidade e o desejo de descobri-la) era o meio de reconhecimento e de comunicação que somente era ensinada e usada pelos Companheiros, Membros da Fraternidade (Carvalho, 1990). A posse da Palavra do Maçom indicava a qualificação para trabalhar junto a outros maçons.

“Foi por ouvir falar dela que os forasteiros descobriram pela primeira vez que os maçons tinham segredos.” (Stevenson, 2009).

Por sua vez, o cowan, termo originário da Escócia, designava o operativo admitido para executar serviço temporário a respeito do qual não era exigida habilidade equivalente a um Maçom regular e que poderia ser dispensado logo após o término do trabalho. Considerado “Maçom sem a Palavra de Trabalho”, o equivalente à Palavra Semestral da atualidade, a referência já constava dos Estatutos de Shaw, em 1598, com a proibição aos Mestres de contratá-lo, a não ser para suprir a falta de um Maçom capacitado. O cowan, mais tarde associado à figura de um bisbilhoteiro, intruso ou espião, interessado em obter a “Palavra do Maçom”, criou a necessidade do Cobridor Externo (Tyler) e deu origem ao termo “Goteira”.

Dessa forma, considerando-se hoje a existência de uma só Palavra Semestral, e dada a profusão de Potências irregulares e Lojas espúrias, vislumbra-se a premente necessidade de revisão do critério de sua elaboração por parte de nossas autoridades litúrgicas, de forma a restabelecer o formato original de duas palavras, mantendo a tradição e visando ao fortalecimento dos mecanismos de segurança, inclusive envolvendo GOB e COMAB. Seria possível tal consenso? Uma “Palavra de Convivência” que chegou a prosperar em Minas Gerais, fruto da Carta de Uberlândia de junho de 1998 (Guimarães, 2014), não é atualizada desde 2012. O tema precisa retornar à Ordem do Dia para, pelo menos, ser reavaliado.

Nota

– Em seu livro Grande Loja Maçônica de Minas Gerais – História, Fundamentos e Formação, o irmão José Maurício Guimarães transcreve os desdobramentos da Carta de Uberlândia, de junho de 1998 (pg. 427 e seguintes), bem como o Tratado de Mútuo Socorro, Fraternal Convivência, Recíproca Amizade e Estreita Colaboração, entre as Potências de Minas Gerais, que contem, dentre outros avanços, a adoção de uma Palavra Semestral de Convivência.


Referências bibliográficas

BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. São Paulo: Pensamento, 2015;

CARVALHO, Assis. Símbolos Maçônicos e Suas Origens. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 1990;

GUIMARÃES, José Maurício. Grande Loja Maçônica de Minas Gerais – História, Fundamentos e Formação. Belo Horizonte: GLMMG, 2014;


STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria: o século da Escócia. São Paulo: Madras, 2009.