agosto 28, 2025

HIRAM ABIFF E O CULTO SOLAR - João Anatalino Rodrigues

 


Os cultos solares

Como todos os maçons sabem, a sua Arte, embora encontre os seus fundamentos organizacionais entre os pedreiros medievais, mais propriamente na estrutura das corporações dos chamados pedreiros-livres (chamados masons pelos ingleses e maçons pelos franceses), têm, na sua filosofia e princípios fundamentais, um pé firmemente fincado na estrutura do antigo reino de Israel. Tanto isso é verdade que encontraremos no catecismo dos graus superiores da Maçonaria uma verdadeira profusão de temas e ensinamentos inspirados no Velho Testamento. 

Isto é interessante, porquanto, sendo a Maçonaria ocidental uma instituição tipicamente cristã, é bastante estranho que sejam, primordialmente, os temas da Bíblia hebraica a inspirar a liturgia desenvolvida nos graus superiores da Maçonaria e não a teologia dos Evangelhos cristãos. Esta é, sem dúvida, uma das razões que fazem católicos e evangélicos, especialmente aqueles menos informados, desconfiarem da Maçonaria e levantarem contra os maçons as mais estúpidas e ridículas acusações.

A verdade é a que a doutrina maçónica – se assim podemos chamar os preceitos cultuados pelos maçons estão muito mais fundamentados em fontes hebraicas do que cristãs. E no que toca à influência cristã que aparece em alguns dos graus (especialmente o 18- O Cavaleiro da Rosa-Cruz), ela tem um parentesco mais próximo com o gnosticismo do que com o cristianismo ortodoxo, propriamente dito.

Como sabemos, o cristianismo ortodoxo, seguido tanto pelos católicos quanto pelos evangélicos, é uma criação do apóstolo Paulo de Tarso. Não fosse ele a doutrina pregada por Jesus jamais teria saído dos estreitos limites do território de Israel e não se teria tornado uma crença mundial. E foi o apóstolo Paulo que transformou Jesus, o Messias cristão, (um herói tipicamente da cultura israelita) no Cristo grego, um arquétipo de carácter universal, cultuado por praticamente todos os povos antigos.

A tradição de um herói sacrificado, no entanto, que dá a sua vida pela salvação do povo, não é específica da cultura de Israel, mas sim um tema existente em praticamente todas as culturas antigas. É, na verdade, uma inspiração derivada das antigas religiões solares, na qual o sol, sendo aquele que permite a existência da vida, por efeito da energia que ele prodigaliza, é o “herói que morre todas as noites”, e ressuscita pela manhã, energizando a terra para que ela produza os seus frutos.

Daí os povos antigos desenvolverem o culto ao sol, fazendo desta crença uma verdadeira religião, criando ritos de fertilização como os praticados no Egipto, com os Mistérios de Ísis e os praticados pelos gregos, com os Mistérios de Elêusis, o persas com os Mistérios de Mitra, os hindus com os Mistérios de Indra, etc.

O mito do herói sacrificado

Todo Maçom que tenha sido elevado ao mestrado na Arte Real já fez a sua marcha ritual em volta do esquife do Mestre Hiram Abiff. A alegoria da morte de Hiram é uma clara alusão ao mito do sacrificado. Ele está conectado, de um lado ao simbolismo da ressurreição e de outro lado ao mito solar. Pois nas antigas religiões solares, como vimos, o sol, princípio da vida, morria todos os dias para ressuscitar no dia seguinte, após passar uma noite no meio das trevas.

Assim como toda a teatralização dos Antigos Mistérios, fosse na Grécia ou no Egipto, ou em qualquer outra civilização que praticasse esses festivais, mais do que uma simples homenagem aos protetores da natureza, esses rituais simbolizavam a jornada do espírito humano em busca da Luz que lhe daria a ressurreição. 

É neste sentido que a marcha dos Irmãos em volta do esquife de Hiram, sempre no sentido do Ocidente para o Oriente, nada mais é que uma imitação desse antigo ritual, que espelha a ansiedade do nosso inconsciente em encontrar o seu “herói” sacrificado (ou seja, o sol), para nele realizar a sua ressurreição. Pois o sol, em todas essas religiões, era o doador da vida. Ele fertilizava a terra e fazia renascer a semente morta. Destarte, toda a mística desses antigos rituais tinha essa finalidade: o encontro com a luz que lhe proporcionaria a capacidade de ressurreição.

Esta é a razão da estranha marcha praticada pelos maçons em volta do corpo assassinado do arquitecto Hiram Abiff, sempre no sentido do ocidente para o oriente, pois o que ali se simboliza é a marcha do espírito humano em busca da luz (a luz solar) que nasce no oriente e caminha para o ocidente. Desta forma, o espírito humano, fazendo o caminho inverso, há de encontrar o seu “herói sacrificado” e com ele realizar a união, obtendo a sua “iluminação.” Este é, pois, o sentido simbólico da cerimónia de elevação do Irmão ao grau de mestre.

O sacrifício da completação

Conectado com este simbolismo, os antigos povos, nas suas tradições iniciáticas relacionadas com grandes obras arquitectónicas, desenvolveram o chamado “sacrifício da completação”. Este sacrifício consistia em oferecer ao deus a quem era dedicado o edifício um sacrifício de sangue, que podia ser o holocausto dos inimigos aprisionados em guerra ou pessoas escolhidas entre próprio povo. Muitas vezes essa escolha recaia sobre mulheres virgens (as vestais) ou jovens guerreiros, realizadores de grandes feitos na guerra. Acreditava-se que assim os deuses patronos dos poderes da terra se agradariam daquele povo, prodigalizando-lhes fartura de colheitas e protecção contra os inimigos. [1]


Este tema remonta a antigas lendas, cultivadas pelos povos do Levante, segundo o qual nenhuma grande empreitada poderia obter bom resultado se não fosse abençoada pelos deuses. E esta bênção era sempre obtida através de um sacrifício de sangue. Este costume era praticado inclusive pelos israelitas, como mostra o texto bíblico ao informar que Salomão, ao terminar a construção do Templo de Jerusalém “sacrificou rebanho e gado, que de tão numeroso, nem se podia contar nem numerar.” [2]


Desta forma, na Maçonaria, o Drama de Hiram tem uma dupla finalidade iniciática: de um lado presta a sua referência ao culto solar, sendo Hiram, nessa mística, o próprio sol que é homenageado; de outro lado, cultua o herói sacrificado, pois é nele que se consuma a obra maçónica. A Maçonaria, como se sabe, é uma sociedade de “pedreiros”, que visa construir uma sociedade justa e perfeita.


Nesta mística podemos incluir o simbolismo que está no centro do próprio mistério que informa a crença cristã. Pois Jesus Cristo, o sacrificado do credo cristão, também é imolado para que a obra de redenção da humanidade seja realizada. A Maçonaria, como vimos, trabalha especificamente com esse simbolismo no grau dezoito, o chamado Cavaleiro da Rosa-Cruz.


Concluindo, podemos dizer que a Maçonaria é uma sociedade teosófica e humanista que no seu propósito místico está centrada na estrutura do antigo reino de Israel. Como se sabe, a doutrina que fundamenta a formação e a existência do povo israelense, como se comprova na sua própria saga histórica, é a de que Israel, como povo e nação, é uma espécie de “maquete da humanidade autêntica”, ou seja, o povo modelo que Deus escolheu para que a humanidade nele se espelhasse. E na sua face mística, o povo de Israel seria a estratégia pela qual Deus reuniria “os cacos do vaso sagrado (o universo)” quebrado pela acção impensada de Adão e Eva. Ou seja, Israel seria o próprio “Messias” realizando a Tikun olam. [3]


É neste sentido que a Maçonaria, adoptando a estrutura e o simbolismo do Velho Testamento, na sua ritualística procura desenvolver o mesmo sentido que Israel dá à sua doutrina. Por isso podemos dizer que a Maçonaria é a Cabala do Ocidente.


Notas


[1] Veja-se o relato bíblico em Juízes: 11;30,31, na qual o juiz Jefté sacrifica a própria filha em razão de um voto feito a Jeová.


[2] Reis I- 8:5 – Na imagem, gravura mostrando os maçons em volta do esquife do Mestre Hiram. Fonte: “Morals and Dogma”, de Albert Pike – Kessinger Publishing Co. 1992.


[3] O termo Tikun olam (תיקון עולם) significa “reparar o mundo”. É um termo cabalístico que sustenta a crença de que Deus escolheu o povo de Israel para reparar o caos causado pelo pecado de Adão. Vide neste sentido a obra de Gershon Scholen – A Cabala e Seu Simbolismo, Ed. Perspectiva, São Paulo, 2015. É neste sentido, também, que a Maçonaria adoptou o lema “Ordo ab Chao”, que significa Ordem no Caos, pois sendo a Maçonaria uma espécie de sucedâneo do reino de Israel, essa seria a sua missão no mundo: realizar a ordem no caos, construindo uma sociedade justa e perfeita.

agosto 27, 2025

I CONGRESSO NACIONAL DAS ACADEMIAS MAÇÔNICAS DE LETRAS - CONAMA - Hélio P. Leite




A Academia Goiana Maçônica de Letras, sob a presidência do confrade José Mariano Fonseca, planejou, organizou e realizou entre os dias 22 e 24 deste mês, o I Congresso Nacional de Maçons Imortais - CONAMA, tem como sede a cidade turística de Caldas Novas, Goiás e como cenário as instalações de um dos 14 hotéis do Sistema DiRoma.

A abertura deste mega evento lítero cultural aconteceu na noite de sexta-feira, presentes todos os congressistas e seus familiares, convidados, autoridades maçônicas, autoridades de Caldas Novas, Secretária de Turismo, representando o Prefeito e o Deputado Federal, irmão Pedro, nascido em Caldas Novas. Foi sem dúvida um momento apoteótico, com apresentação músical da Banda de Caldas Novas e de dois grupos de jovens bailarinas que se apresentaram em grande estilo, e que emocionou a todos que ali assistiram suas performances em ballet Clássico.

Na ocasião, o Presidente da Academia Anfitriã, confrade José Mariano Fonseca, coadjuvado pelos confrades Michael Winetzki, Presidente da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras e o confrade Helio P. Leite, Presidente da Academia Internacional de Maçons Imortais, procedeu a Abertura Solene do Congresso. E em seguida o doutor Nilson Jaime, Presidente do Instituto Cultural Bernardo Élis para os Povos do Cerrado - ICEBE (GO), discorreu sobra Bernardo Élis, sua vida e sua obra. Após esta cerimônia foi servido um jantar nas dependências do Hotel.

No sábado, na abertura dos trabalhos, fez uso da palavra o confrade Helio Pereira Leite, discorrendo sobre a importância cultural do CONAMA para a literatura e a cultura da Maçonaria no Brasil, ressaltando a oportuna iniciativa da Academia Goiana Maçônica de Letras, que por certo muito enriquecerá o saber e conhecimento dos participantes. 

Em seguida, foram proferidas várias Conferências todas em nível acadêmico, com destaque para os seguintes temas:
"As Vigas Mestras da Maçonaria", Conferencista - contrade Denizart Silveira de Oliveira Filho(RJ);

 

"Empatia e Liderança: combinação perfeita para um bom caminho de uma gestão maçônica exitosa", Conferencista - Mario Martins de Oliveira Neto, Sereníssimo Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás;

 

"Tradição, arte e cultura: maçonaria e a escola autêntica para a busca do conhecimento", Conferencista - confrade Eleutério Nicolau da Conceição (SC);

Em prosseguimento, apresentaram suas conferências, o Confrade Antonio Rosário Leite Filho (GO), sob o tema:

 

"Filosofismo: uma escola de formação de líderes";

 

Professor Lindonor Ribeiro, sob o tema: "Por que ser maçom ainda?

Na parte da tarde se apresentaram os seguintes conferencistas:

 

Desembargador Adegmar José Ferreira, sob o tema: "Qual o papel e como aproximar o mundo jurídico e os pólos da arte e da cultura em nossas práticas na Maçonaria?";

 

Professor Getúlio Targino Lima, sob o tema: "É possível encontrar espaços na Maçonaria para a boa prosa, poesia e demais gêneros literários entre os jovens frente às imposições do mundo digital? Como?";

 

Dr. Michael Winetzki, sob o tema: "Em tempos digitais, entre tantos desencontros e encontros: é possível ver e ter um caminho para a felicidade?".

 

Professor Anderson Lima Silveira, sob o tema: "Brindando a um até logo !!! - Degustando um papo reto".

Nas considerações finais sobre a realização do I CONOMA, vários participantes fizeram uso da palavra, bem como algumas cunhadas presentes. Solicitado por um dos participantes, o confrade Michael discorreu sobre os caminhos para a Felicidade, fechando, assim, com chave de ouro o ciclo de conferências apresentadas no decorrer do Congresso. E finalmente o Congresso foi encerrado de forma conjunta pelos confrades Helio Michael e José Mariano. Sendo que o domingo ficou reservado para os participantes e seus familiares desfrutarem da estrutura turística, das águas termais, oferecidas pela Cidade de Caldas Novas.

Na minha avaliação pessoal, o I CONAMA alcançou sucesso exponencial. Em organização, na escolha do local - a aprazível cidade de Caldas Novas, a capital do turismo no Estado de Goiás; na escolha dos conferencistas, todos eles possuidores de vasto conhecimento literário e cultural, maçônico e não maçônico, que nos brindaram com temáticas importantíssimas e em nível de excelência.

Outro detalhe importante, que muito me surpreendeu foi a presença de nossas cunhadas em todo o decorrer do Congresso, com destaque para a Irmã Maçona Célia Barbara Amorim, viúva, iniciada há 29 anos atrás na GLADA ( Grande Loja Mista), Mestra Instalada e Grau 33. Seu esposo foi iniciado na Loja Maçônica Cavaleiros dos Templo nº 85, da GLMEGO, transferindo-se para o GOB, filinando-se nas Lojas Guimarães Natal e Liberdade e União. Ou seja, pela primeira vez em meus 59 anos de maçonaria tive a oportunidade de privar da companhia de uma cunhada e confrade maçônica.

Enfim, para mim valeu a pena me deslocar de Brasília para a cidade de Caldas Novas, para participar do I CONAMA, representando os 193 membros da Academia Internacional de Maçons Imortais - AIMI, pois tive a oportunidade de ver e ouvir conferencistas de alto nível intelectual e ainda mais por ter conquistado para os quadros da AIMI dois membros correspondentes nacionais, um de Goiás e o confrade Presidente da Academia Maçônica de Letras da Paraíba José Lima e como membro honorário o Sereníssimo Irmão Mário Martins, Grão-Mestre da Grande Loja da Estado de Goiás.




O DECLÍNIO DAS AMIZADES - Lauro Barcellos


Recentemente, um artigo na Harvard Business Review analisa como a "recessão das amizades", ou a tendência de declínio de amizades significativas, está lentamente se enraizando em nossas vidas.

De acordo com a Pesquisa American Perspectives, o número de adultos americanos que afirmam não ter "nenhum amigo próximo" quadruplicou desde 1990, chegando a 12%. Enquanto isso, o número de pessoas com "dez ou mais amigos próximos" diminuiu em um terço. Uma tendência semelhante está surgindo em áreas urbanas da Índia: enquanto o número de conhecidos aumenta, as amizades profundas estão se tornando cada vez mais raras.

No passado, as pessoas conversavam facilmente com estranhos em cafés ou bares. Agora, as pessoas sentam-se sozinhas, desconectadas da multidão. Nos Estados Unidos, o número de pessoas comendo sozinhas aumentou 29% nos últimos dois anos. A Universidade Stanford até lançou um curso chamado "Design para Amizades Saudáveis", que destaca que formar e manter amizades agora exige aprendizado e esforço.

Este não é apenas um problema social, mas uma crise cultural. Reservar um tempo para a amizade não deve mais ser um luxo, mas sim uma prioridade. A solidão não é mais uma escolha; está se tornando um hábito. Se não priorizarmos conscientemente a amizade, não só será difícil fazer novos amigos, como também perderemos conexões antigas.

Reuniões religiosas, clubes, esportes e organizações voluntárias — todos os quais antes fomentavam a amizade — estão em declínio. Nos limitamos às mídias sociais, às responsabilidades familiares e até mesmo aos animais de estimação. Sim, alguns amigos não se veem mais porque não conseguem deixar seus animais em paz!

Hoje, a amizade não faz mais parte da vida cotidiana; ela só acontece quando outras responsabilidades são cumpridas. No entanto, pesquisas enfatizam a importância da amizade. No livro de Bonnie Ware, "Os Cinco Maiores Arrependimentos dos Moribundos", ela destaca um lamento pungente: "Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos..."

Pesquisas mostram:

•⁠ ⁠O isolamento social aumenta o risco de doenças cardíacas, demência e mortalidade.

•⁠ ⁠É tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia.

•⁠ ⁠As amizades melhoram a saúde mental, física e emocional.

•⁠ ⁠O estudo de 80 anos de Harvard concluiu que a maior fonte de felicidade e saúde na vida não é riqueza ou carreira, mas relacionamentos próximos.

A verdadeira amizade é como um investimento: perdoe, ligue, crie memórias e passem tempo juntos.



HIRAM RESSUSCITA - Jules Boucher

 


Nos antigos rituais, nove Mestres, por grupos de três, partem à procura do cadáver de Hiram. No Rito Francês, o Experto faz três viagens, acompanhado cada vez por dois Mestres; portanto, só sete Mestres participam da procura.

Essa divergência provém do fato de os números sete e nove pertencerem ao grau de Mestre. Sete é a idade do Mestre e Nove o número da bateria. O Rito Francês observa, assim como o Rito Escocês, a bateria de nove golpes, mas adotou o número de sete \Mestres em lugar de nove, o que nos parece um erro.

Entre os nove Mestres, apenas três operam a ressurreição de Hiram. Como se convencionou que os três Companheiros “assassinos” representam a Ignorância, o Fanatismo, a Inveja, os três “ressuscitadores” não poderiam deixar de serem qualificados, por antinomia: Saber, Tolerância, Desprendimento. Isso constitui somente o exoterismo da lenda e , digamo-lo, um exoterismo bastante grosseiro de que o Mestre, recém-criado, dificilmente poderá se libertar se seu espírito não estiver aberto à transcendência do simbolismo.

Hiram ressuscitado é o Mestre “individualizado”, é o “homem verdadeiro”, como diz Guénon. Se, por outro lado, a Franco-Maçonaria é uma “comunhão” (de cum, com, união) que une os homens mediante uma mesma liturgia, isto é, mediante ritos comuns, por outro lado, ela tende a criar homens “indivíduos” (indivis,indivisível), tendo cada um consciência do próprio valor

Isso explica a hostilidade encontrada pela Maçonaria por parte da Igreja e dos governos ditatoriais. Eles não podem admitir que um indivíduo se distinga do resto do rebanho, do servum pecus. Ora, a liberdade de pensar é também a liberdade de passar, que às vezes é simbolizada por um ponto com a três letras L.'.D.'.P.'., letras que, numa intenção política, foi interpretada pela formula latina: Lilia Pedibus Destrue, “pisa aos pés os lírios”.Essas três letras são a iniciais das palavras Liberdade, Dever, Poder.

A liberdade do Maçom, submisso a seus deveres, dá-lhe o poder, isto é, a força, a capacidade de agir, a autoridade – tendo essa última palavra o sentido de criador...

...Enfim, o Mestre, na plenitude de seus direitos maçônicos e de seus deveres, verdadeiramente individualizados, será na Loja um elemento, uma Pedra perfeita, indispensável à existência dessa Loja.


Jules Boucher – A Simbólica Maçônica, Pág.293 – Ed. Pensamento – 1979. Original: Paris, 1948

agosto 26, 2025

ARLS THERMAS DE CALDAS 164 - Caldas Novas





A ARLS Thermas de Caldas 164 foi sagrada em 2013, com um dos mais espetaculares templos do país na icônica Estância Termal de Caldas Novas em Goiás. Eu era assessor do então Grão Mestre da Grande Loja do Estado de Goiás, irmão Rui Rocha de Macedo e com uma grande comitiva de irmãos de todo o Estado participei desta cerimônia. Fiz depois a primeira palestra nesta Loja.

Doze anos depois retorno para visitá-la e a Loja que já era muito grande, ostentando orgulhosamente suas colunas de quatro andares de altura, dobrou de tamanho com um espaçoso salão de festas e anexos.

O extremamente simpático Venerável Mestre Felix Emiliano da Rocha me recebeu com toda a cortesia e conduziu brilhantemente a sessão de elevação, ao fim da qual proferi umas palavras sobre o assunto. 

O Venerável Mestre da época da inauguração, irmão Mauro Henrique estava presente e trocamos algumas recordações sobre aquele dia. 

Apos a sessão encerrada foi servido um lauto churrasco.


MÚSICA NA CÂMARA DO MEIO - .Pedro Juk


Em 13/08/2018 o Respeitável Irmão Acácio Siqueira, Loja Iara do Rio Pardo, 242, REAA, Grande Oriente Paulista – COMAB, Oriente de Santa Rosa do Viterbo, Estado de São Paulo, pede esclarecimento para o seguinte:  

Espero poder contar com sua ajuda nesta questão que foi levantada em nossa Loja: existe alguma regra para a execução de músicas quando a Loja trabalha no Grau de Mestre? A pergunta se deve ao fato de que houve defesa da não execução de músicas, considerando que a Loja, no Grau de Mestre, trabalha em luto pela morte do mestre Hiram Abif.

CONSIDERAÇÕES:

Existem dois aspectos a serem considerados. O primeiro é o do que prevê o ritual do REAA∴ da sua Obediência nesse caso. Se porventura ele previr alguma harmonia musical nessa ocasião, então que se cumpra o que está escrito. Posso dizer que já vi rituais que mencionam “música apropriada” em Câmara do Meio, o que pode ser constatado, dentre alguns, nos famosos rituais de capa vermelha elaborados há muito tempo atrás pelo saudoso Irmão Theobaldo Varolli Filho no Estado de São Paulo. 

O segundo aspecto é o que envolve o roteiro iniciático do Terceiro Grau, onde a Loja, pela perda do Mestre, é decorada como ambiente de luto e consternação. Toda essa alegoria iniciática se desenvolve como que em clima de pesar, portanto não é um ambiente apropriado para música, senão o de um silêncio respeitoso. Nunca é demais lembrar que já durante a Iniciação, por ocasião da terceira viagem (prova do fogo), onde se simula o final da jornada, há um ambiente de maturidade (fim da vida/meia-noite) quando o trajeto se desenvolve no mais absoluto silêncio – é o que preveem os rituais autênticos do REAA. Na verdade, essa terceira viagem é um pequeno trailer do que se dará futuramente na Exaltação.

Sob esse feitio, entendo que a Câmara do Meio não é ambiente apropriado para execução de música, embora alguns até defendam que nela possa se admitir canções próprias para exéquias, a exemplo da Marcha Fúnebre de Ludwig Van Beethoven.

agosto 25, 2025

UM TRIBUTO AO SOLDADO - Bruno Bezerra de Macedo


As forças armadas, no sentido de organizações militares estruturadas para defesa territorial e ataque a inimigos são atribuídos às cidades-estados da Suméria, na Mesopotâmia, por volta de 2500 a.C. Curiosamente, o Exército Romano, inicialmente um exército miliciano de cidadãos, passou por reformas que o tornaram uma organização profissional, utilizando também tropas auxiliares de outros povos.

Os primeiros exércitos nacionais, como são conhecidos hoje, surgiram com os processos de centralização política na Europa, especialmente após a Idade Média. Cumpre destacar a Honourable Artillery Company (HAC), fundada em 1537, como a mais antiga unidade militar em existência, segundo o Exército Britânico. E, neste influxo, por oportuno, enaltecer a infantaria, primaz força militar da História. 

Destaco a primaz Força Armada da América do Sul, nascida em 1822, a Marinha “invicta” de Tamandaré, assim chamada em perene evocação das qualidades do seu patrono o Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré ao passo que reconhece sua história de dedicação e feitos notáveis na formação do país, servindo como inspiração para os soldados da marinha e a toda a nação brasileira.

Cumpre ressaltar que a História do Glorioso Exército de Caxias, embora remonte à independência do Brasil em 1822, tem suas origens associadas a mobilizações de brasileiros contra invasores durante o período colonial, especialmente na Batalha dos Guararapes (1648), celebrada como seu marco inicial. O nome "Caxias" evoca os valores de seu patrono: disciplina, lealdade e autoridade. 

Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, principal ícone do militarismo brasileiro, subiu meritoriamente os degraus da carreira militar, sendo a figura central em diversos momentos históricos do Brasil, como a Balaiada e a Guerra do Paraguai. Mas, também, foi um importante político do período da monarquia. É conhecido como "O Pacificador" por seu papel na resolução de conflitos internos do Império. 

Filha de Titãs, emergiu em 1941 a Força Aérea de Gomes com a primazia de unificar as forças aéreas do Brasil, separadas entre o Exército e a Marinha, para uma atuação mais eficaz, que fora provada e aprovada durante a Segunda Guerra Mundial, participando da guerra antissubmarino no Atlântico Sul e combatendo na Itália. Seu protagonismo é tão incessante quanto o orgulho que imprime ao Brasil.

O Marechal do Ar Eduardo Gomes, reconhecido por sua dedicação, patriotismo e integridade, sendo uma referência que continua a inspirar as gerações de militares e civis na Força Aérea Brasileira. Destacou, também, como impulsionador do Correio Aéreo Nacional e o primeiro a comandar o seu desenvolvimento. Assim, além de ser o patrono da FAB, também, é o Patrono do Correio Aéreo Nacional.

Por justo mérito, evoco o Arguto General do Exército de Caxias Morivalde Calvet Fagundes, que valora a literatura como formadora de homens probos e dignos da sociedade que constroem, posto que, a literatura fomenta o desenvolvimento da imaginação, da criatividade, do senso crítico e da interpretação do mundo. E preceitua que leitura é uma atividade que transcende a simples aquisição de conhecimento. 

Neste toar, as instituições militares e/ou civis, os soldados e o povo brasileiro evocam os ideais e os exemplos de Tamandaré, de Caxias, de Gomes e de Calvet como contumaz referência para suas funções e identidade, pois, são eternos soldados a serviço dos valores que promanam, a fomentar a ordem e o progresso, a incitar o vanguardismo e, principalmente, a animar o protagonismo de um por vir glorioso. 




O AVENTAL DE COMPANHEIRO - Rui Bandeira



Ao contrário do que ocorre com o ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, o ritual de Companheiro não faz qualquer referência ao avental usado pelos obreiros da oficina do segundo grau.

Os Companheiros podem – como todos os maçons, quaisquer que sejam os seus graus ou qualidades – usar o avental todo branco de Aprendiz maçon. Simplesmente, enquanto os Aprendizes o usam com a aba levantada, os Companheiros usam-no com a aba deitada sobre o corpo retangular do artefato. 

A necessidade de proteção do Companheiro é menor, o seu progresso na Arte Real já lhe permite dispensar uma maior área de proteção. O seu trabalho na moldagem do seu caráter, no aperfeiçoamento de suas qualidades, na luta contra seus defeitos, já lhe permitiu determinar a forma como a sua pedra se integrará no grande templo projetado pelo Grande Arquiteto do Universo, laboriosa e demoradamente edificado pela Humanidade, desde o alvorecer da Criação. 

Agora o tempo é de limar as arestas que ainda subsistem, de polir a pedra, de a aparelhar para que cumpra a sua função, não apenas bem, mas de forma bela e agradável, contribuindo não só para a edificação, mas também para a decoração do Templo Coletivo Supremo.

Tenho para mim que, originariamente, a única distinção que, a nível do avental, existia entre Aprendizes e Companheiros era a forma como era posicionada a aba. O avental, em ambos os graus, era o mesmo.

Modernamente, o avental de Companheiro, continuando a ser confeccionado em pele ou tecido de cor branca, de forma retangular e cortado em ângulos retos nas quatro extremidades, apresenta um debruado estreito, na cor do rito, ao longo das suas extremidades (as quatro linhas delimitadoras da sua forma retangular, mais as duas linhas delimitadoras da aba), formando, em conjunto com a linha superior do avental, um triângulo.

A cor do rito é a vermelha, no Rito Escocês Antigo e Aceito e a azul clara, no rito de York e na sua variante (rito de Webb) em uso nos Estados Unidos. A Maçonaria irlandesa usa a cor verde.

A fina linha colorida delimitadora das extremidades do avental simboliza o estado dos trabalhos do maçom: a sua pedra já tem forma, já é cúbica, o seu trabalho agora é alisá-la, aperfeiçoá-la, desde logo limando as suas arestas.

Na Maçonaria Continental Europeia, o avental de Companheiro acaba por ser o menos usado, apenas durante o tempo em que o maçom permanece no segundo grau.

Um pequeno detalhe, mas, importante, para evitar a possibilidade de confusões. Os aventais comumente em uso nas lojas americanas pelos Mestres que não sejam Oficiais da Loja ou Grandes Oficiais é muito semelhante ao avental de Companheiro europeu. Assim, se porventura algum visitante americano comparecer numa loja europeia envergando um avental com linhas de cor estreitas, delimitando as suas extremidades, atenção que, em princípio, não é um Companheiro, é um Mestre Maçom, embora não seja Oficial de Loja ou Grande Oficial.

Para finalizar, e a título de mera curiosidade: o "M" do logótipo do Gmail não tem nada a ver com o avental de Companheiro Maçom. É apenas a dita letra desenhada a vermelho num sobrescrito. Não vale a pena imaginar teorias da conspiração…

PROGRAMAS SOCIAIS MAÇÔNICOS - Kennyo Ismail



A Caridade é tema recorrente na Maçonaria já no primeiro grau. Inclusive, no Ritual de Emulação e no Ritual de Behring do REAA, ela está ilustrada na Escada de Jacó, sendo a principal das virtudes teologais. Ela também está presente no moto maçônico original, mantido na maioria dos ritos anglo-saxônicos, por meio do termo "Amparo" ("Relief", em inglês).

Autores como Albert Pike e Thomas Smith Webb chamaram a atenção para o dever maçônico de auxílio aos necessitados, em suas obras. E aquela que é considerada como "a maior filantropia no mundo" é maçônica: os Shriners. Mas os programas sociais maçônicos não se resumem aos Shriners.

A Grande Loja Unida da Inglaterra, por exemplo, mantém a Fundação de Caridade Maçônica, que doa mais de cinco milhões de libras por ano a instituições de caridade que atuam principalmente nas áreas de saúde muito educação, além da concessão de bolsas de estudo e financiamento de pesquisas médicas.

Já nos EUA, são muitos os exemplos no mesmo sentido. Além das fundações maçônicas de nível estadual, que são incontáveis, há as nacionais.

Do Rito de York, o Real Arco mantém a Royal Arch Research Assistance, que financia pesquisas sobre o Distúrbio do Processamento Auditivo Central. Os Crípticos mantêm a Cryptic Masons Medical Research Foundation, que financia pesquisas sobre doenças vasculares. O Grande Acampamento mantém a Knights Templar Eye Foundation, que financia pesquisas sobre doenças da visão.

Do REAA, o Supremo Conselho da Jurisdição Sul (SI) mantém a Scottish Rite Foundation, que financia programas como: o RiteCare Scottish Rite Childhood Language Program, que ajuda crianças com transtornos de fala e linguagem; o programa nacional de bolsas de estudo, que distribui bolsas anuais para estudantes de diferentes áreas e universidades; além de um programa nacional de assistência em caso de desastres. Já o Supremo Conselho da Jurisdição Maçônica do Norte (NMJ) suporta programas como: Children's Dyslexia Centers, que possui 40 centros de tutoria para crianças disléxicas até os 12 anos, em 13 estados distintos; e o Leon M. Abbott Scholarship Fund, que distribui dezenas de bolsas universitárias por ano.

São exemplos para nós e nossas instituições fazermos mais e melhor.

Fonte: Breviário Maçônico do Século XX.

agosto 24, 2025

HOMENS ASSUSTADORES - Marcos Ismeiro



O garotinho veio até a nossa mesa de motociclistas de colete e bateu com força um papel que dizia: “FUNERAL DO PAPAI – PRECISO DE HOMENS ASSUSTADORES.”

Seus dedinhos ainda estavam manchados de tinta de canetinha, e a capa do Superman estava vestida ao contrário. A lanchonete ficou em silêncio mortal quando quinze membros dos Iron Wolves MC encararam aquele menino que não devia pesar nem vinte quilos, mesmo encharcado.

— “Minha mãe disse que eu não posso pedir para vocês” — ele anunciou, com o queixo erguido em desafio. — “Mas ela está chorando o tempo todo, e os meninos maldosos da escola disseram que o papai não vai para o céu sem homens assustadores para protegê-lo.”

Big Tom, que tinha feito duas missões no Afeganistão e tinha uma caveira tatuada no pescoço, pegou o papel com cuidado. Era um desenho infantil de bonecos de palito em motocicletas cercando um caixão, com a frase “POR FAVOR VENHAM” escrita com letras de trás para frente.

— “Onde está sua mãe, homenzinho?” — Tom perguntou, a voz num tom grave que normalmente precedia uma briga, mas agora estava incrivelmente suave.

O menino apontou pela janela para um Toyota caindo aos pedaços, onde uma jovem mulher estava sentada com a cabeça entre as mãos. — “Ela tem medo de vocês. Todo mundo tem medo de vocês. É por isso que eu preciso de vocês.”

Eu já tinha visto Tom quebrar o maxilar de um homem por desrespeitar sua moto. Mas suas mãos tremiam enquanto lia o que mais estava naquele papel — uma data, o dia seguinte, e um endereço para o Cemitério Riverside.

— “Qual era o nome do seu papai?” — alguém perguntou lá de trás.

— “Oficial Marcus Rivera” — disse o menino com orgulho. — “Ele era polícia. Um homem mau atirou nele.”

O silêncio na lanchonete ficou ainda mais pesado, espesso o suficiente para sufocar. Policiais e motociclistas não eram exatamente aliados naturais. A maioria de nós já tinha sido incomodado, multado, alguns até espancados pela polícia. E agora o filho de um policial estava pedindo para honrarmos seu pai morto.

Tom se levantou devagar, sua figura imensa projetando sombra sobre a mesa pequena.

— “Qual é o seu nome, superman?”

— “Miguel. Miguel Rivera.”

— “Bem, Miguel Rivera” — disse Tom, ajoelhando-se até ficar olho no olho com o garoto, um gigante diante de um passarinho. — “Diga para a sua mãe que o seu papai vai ter a maior, mais barulhenta e mais assustadora escolta para o céu que qualquer policial já teve.”

Os olhos do menino se arregalaram. — “De verdade? Vocês vão?”

— “Irmão” — Snake falou lá do canto, e eu podia ouvir o conflito em sua voz. — “Ele era polícia.”

— “Ele era pai” — Tom respondeu firme, sem desviar o olhar de Miguel. — “E esse pequeno guerreiro acabou de fazer a coisa mais corajosa que vi o ano inteiro. Nós vamos.”

Na manhã seguinte, cheguei ao cemitério duas horas mais cedo. Achei que seria o único, uma chance de colocar a cabeça no lugar antes do constrangimento e dos olhares. Mas minha mandíbula caiu.

A estradinha que levava à entrada do cemitério já estava tomada por motos. Não apenas os quinze de nós que estavam na lanchonete, mas toda a nossa filial. Quarenta homens, parados em silêncio ao lado de suas Harley reluzentes, o sol da manhã refletindo no cromo. Mas não foi isso que fez meu coração parar. Mais adiante, outro grupo estava chegando. Os Vipers. Nossos rivais amargos. E atrás deles, os Sons of Odin. A notícia havia se espalhado. O chamado tinha sido feito por homens assustadores, e todo o maldito submundo assustador havia atendido.

Quando o cortejo fúnebre finalmente chegou, o carro funerário reduziu a marcha até parar. Vi Miguel no carro logo atrás, seu rostinho colado no vidro. Sua mãe ergueu a cabeça, e sua mão voou à boca, a expressão de medo se desfazendo em incredulidade atônita.

Éramos mais de cem. Um exército silencioso de couro e aço.

A um sinal invisível de Tom, cem motores rugiram ao mesmo tempo. O som era bíblico. Não era de raiva ou agressividade; era uma proclamação profunda e trovejante. Nós estamos aqui. Formamos duas fileiras, uma guarda de honra para o carro funerário e a família, e os escoltamos pelos portões.

À beira da sepultura, um pequeno grupo de policiais fardados estava ereto, sua guarda de honra tensa enquanto desmontávamos. Eles nos observavam, nós os observávamos. Mas não houve problemas. Formamos um círculo largo e silencioso ao redor da cerimônia, de costas para a família, encarando para fora. Éramos uma muralha, protegendo o luto deles do mundo.

Depois da cerimônia, quando os últimos enlutados estavam indo embora, o chefe de polícia caminhou até Big Tom. Era um homem de aparência dura, que eu já tinha visto no noticiário várias vezes. Ele parou, olhou para Tom, depois para o mar de motociclistas em respeitoso silêncio.

— “Eu... eu não tenho palavras” — disse o chefe, a voz rouca. — “O oficial Rivera era um bom homem.”

Tom apenas assentiu, curto e firme. — “Ele tinha um bom filho.”

Foi então que vi Miguel, de mãos dadas com a mãe, caminhando decidido até nós. Parou diante de Tom, que imediatamente se ajoelhou de novo. Miguel não usava mais a capa. Estava segurando a bandeira americana dobrada do caixão do pai.

Ele a estendeu. — “Isso é para você” — disse, a voz clara e firme.

Tom empurrou de volta, gentil. — “Não, homenzinho. Isso é seu. É do seu papai.”

— “Meu papai era um herói” — disse Miguel, empurrando a bandeira com firmeza nas mãos enormes e tatuadas de Tom. — “Ele protegia as pessoas. E hoje, vocês protegeram ele.”

Tom olhou para a bandeira em suas mãos, a mandíbula travada, o corpo inteiro tremendo. O homem que eu já tinha visto atravessar uma briga de bar sem piscar estava completamente desmontado diante de um super-herói de vinte quilos. Ele não conseguiu falar. Apenas assentiu, com os olhos marejados de lágrimas que se recusava a deixar cair.

Não fomos embora com um rugido. Partimos um a um, um ronco baixo que falava de um respeito mais profundo que clubes, cores ou distintivos em um uniforme. Tínhamos vindo porque um garotinho pediu por homens assustadores. Mas fomos embora sabendo que tínhamos acabado de conhecer o mais corajoso de todos.

DIA DO LIVRE PEDREIRO* Adilson Zotovici


Decerto grande honraria

Seres um iniciado

À eterna travessia

Pelo Eterno arquitetado


Professo tua  alegria

Humilde e afortunado

Com acesso à  sabedoria

D’algum arcano sagrado


A pedra de cantaria

Tens com afinco talhado

Com denodo, à porfia !


Aceita pois, cortesia !

Parabéns, hoje lembrado,

Livre pedreiro...é teu dia !





PRIMEIRO VIGILANTE - Sérgio Quirino



Qual deve ser a principal característica do Primeiro Vigilante?

A resposta baseia-se naquilo que ele não pode ser: abatido, ameno, covarde, débil, fraco, frágil, medroso e, até mesmo, não pode ser suave.

Ele deve ser o antônimo desses adjetivos: deve, então, ser FORTE. E não é por estar na Coluna da Força, pois nem sempre força é fortaleza. Força indevida é ruína.

Estamos falando daquele cuja missão principal é substituir o Venerável Mestre. Qualquer outra atividade que ele possa desempenhar faz parte de sua preparação. Cabem-lhe a ROBUSTEZ moral, a CORPULÊNCIA ética, a SOLIDEZ da virtude, a CORAGEM no combate aos vícios, a INFLUÊNCIA dos bons exemplos e, principalmente, a INTENSIDADE em todas as atividades que envolvam a Loja.

Ao escolhermos um Irmão para o cargo de Primeiro Vigilante, sinalizamos quem será o nosso próximo líder, e ele pode fazer toda a diferença no futuro. Isso porque, SE FOR FRACO e a Loja estiver em ascendência, a Loja tende a entrar em estagnação. Caso a Loja esteja em decadência, estará fadada a abater as colunas.

Por outro lado, SE FOR FORTE e a Loja estiver em ascendência, a Loja tende a crescer mais ainda. Já se a Loja estiver em decadência, ele conseguirá impedir o abater das colunas.

É essencial, portanto, compreendermos que todos os cargos são preparatórios para o veneralato, e o último passo é a primeira vigilância. Se dessa forma trabalharmos, estaremos extinguindo a pior praga da Maçonaria: a disputa de poder.

O PRIMEIRO VIGILANTE DEVE SUCEDER O VENERÁVEL MESTRE. 

ELE NÃO CHEGOU À CONDIÇÃO DE 1º V PARA DISPUTAR UM CARGO.

Acerca da expressão “O todo é muito mais que o somatório das partes”, devemos entender, em âmbito maçônico, que a Loja extrapola o somatório dos cargos. Logo, a ascensão a estes deve ser tão natural e lógica como ocorre nos graus.

Não há como “iluminar” sem antes ter aprendido os valores da dignidade e ter servido oficialmente aos Mestres, Companheiros e Aprendizes.

Mas pode haver desvios? Sim! Porém, com certeza, haverá sinais de soberba, vaidade, arrogância, apatia e despreparo que o Irmão demonstrava quando desempenhava outros cargos. Assim, não existindo correção ou reposicionamento na escalada dos cargos, o futuro da Loja estará comprometido.

MUITOS DIZEM QUE ESTÃO PREPARADOS PARA A LOJA. 

A QUESTÃO É SABER SE A LOJA ESTÁ PREPARADA PARA ELES.

A joia do Primeiro Vigilante é um NÍVEL, e para que ele é usado?

É utilizado para traçar linhas paralelas. Contudo, a fim de que ocorra o paralelismo, precisamos de um referencial (propósito inicial) e um horizonte (propósito final). A beleza da alegoria maçônica está na compreensão de que todos nós devemos estar horizontalmente no mesmo nível e que o portador da joia não será quem verificará as medidas – ele será o referencial.

Ele será a linha, a pauta, o proceder a ser observado e servirá de base para que possamos traçar o nosso comportamento. Sua força de ânimo será o torque a provocar o alinhamento da teoria (instruções) com a prática (conduta).

Neste 19º ano de compartilhamento dos artigos dominicais, reafirmo o desejo de independente de graus, cargos ou títulos, continuar servindo os Irmãos com propostas para o Quarto-de-Hora-de-Estudo. Uma lauda para leitura em 5 minutos e 10 minutos para as devidas complementações e salutares questionamentos.

O exíguo tempo é um exercício de objetividade e pragmatismo que visa otimizar os trabalhos e cumprir integralmente o ritual.

Convosco na Fé - Robur et Furor

agosto 23, 2025

CONAMA - CONGRESSO NACIONAL DE ACADEMIAS MAÇÔNICAS - Caldas Novas








Terminou na tarde deste sábado o primeiro Congresso Nacional de Academias Maçônicas de Letras realizado no Resort DiRoma em Caldas Novas, GO.

O evento foi organizado pelaAcademia Goiana Maçônica de Letras, através de seu presidente irmão José Mariano, com o suporte da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras e da Academia Internacional de Maçons Imortais. Estiveram presentes intelectuais e acadêmicos de Goiás,  Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, S. Catarina e Paraíba. As apresentações foram de altíssimo nível e ao final os comentários dos presentes destacaram a qualidade e oportunidade das palestras. A palestra que fechou o congresso foi do confrade Michael Winetzki e emocionou a todos.

Nossa Academia foi representada pelo Presidente, pelo tesoureiro Oduwaldo Álvaro e pelos palestrantes Eleutério Nicolau da Conceição e Denizart Silveira de Oliveira Filho.

O presidente da AIMI, confrade Hélio Leite abriu com uma bela palestra e também encerrou o evento, tendo participado de todas as sessões.