junho 18, 2025

GRANDE ORIENTE DO BRASIL



Embora tenha, a Maçonaria brasileira, se iniciado em 1797 com a Loja Cavaleiros da Luz, criada na povoação da Barra, em Salvador, Bahia, e ainda com a Loja União, em 1800, sucedida pela Loja Reunião em 1802, no Rio de Janeiro, só em 1822, quando a campanha pela independência do Brasil se tornava mais intensa, é que iria ser criada sua primeira Potência, com Jurisdição nacional, exatamente com a incumbência de levar a cabo o processo de emancipação política do país.

Criado a 17 de junho de 1822, por três Lojas do Rio de Janeiro - a Commercio e Artes na Idade do Ouro e mais a União e Tranqüilidade e a Esperança de Niterói, resultantes da divisão da primeira - O Grande Oriente Brasileiro teve, como seus primeiros mandatários José Bonifácio de Andrada e Silva, Ministro do Reino e de Estrangeiros e Joaquim Gonçalves Ledo, Primeiro Vigilante. A 4 de outubro do mesmo ano, já após a declaração da Independência de 7 de setembro, José Bonifácio foi substituído pelo então Príncipe Regente e, logo depois, Imperador D. Pedro I (Irmão Guatimozim). Este, diante da instabilidade dos primeiros dias da nação independente e considerando a rivalidade política entre os grupos de José Bonifácio e de Gonçalves Ledo - que se destacava, ao lado de José Clemente Pereira e o Cônego Januário da Cunha Barbosa, como o principal líder dos Maçons - mandou suspender os trabalhos do Grande Oriente, a 25 de outubro de 1822.

Somente em novembro de 1831, após a abdicação de D. Pedro I - ocorrida a 7 de abril daquele ano - é que os trabalhos Maçônicos retomaram com força e vigor, com a reinstalação da Potência, sob o título de Grande Oriente do Brasil, que nunca mais suspendeu as suas atividades.

Instalado no Palácio Maçônico do Lavradio, no Rio de Janeiro, a partir de 1842, e com Lojas em praticamente todas as províncias, o Grande Oriente do Brasil logo se tornou um participante ativo em todas as grandes conquistas sociais do povo brasileiro, fazendo com que sua História se confunda com a própria História do Brasil Independente.

Através de homens de alto espírito público, colocados em arcas importantes da atividade humana, principalmente em segmentos formadores de opinião, como as Classes Liberais, o Jornalismo e as Forças Armadas - o Exército, mais especificamente - O Grande Oriente do Brasil iria ter, a partir da metade do século XIX, atuação marcante em diversas campanhas sociais e cívicas da Nação.

Assim, distinguiu-se na campanha pela extinção da Escravatura negra no país, obtendo leis que foram abatendo o escravagismo, paulatinamente; entre elas, a "Lei Euzébio de Queiroz", que extinguia o tráfico de escravos, em 1850, e a "Lei Visconde do Rio Branco", de 1871, que declarava livre as crianças nascidas de escravas daí em diante. Euzébio de Queiroz foi Maçom graduado e Membro do Supremo Conselho da Grau 33; o Visconde do Rio Branco, como Chefe de Gabinete Ministerial, foi Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. O trabalho Maçônico só parou com a abolição da escravatura, a 13 de maio de 1888.

A Campanha republicana, que pretendia evitar um terceiro reinado no Brasil e colocar o país na mesma situação das demais nações centro e sul americanas, também contou com intenso trabalho Maçônico de divulgação dos ideais da República, nas Lojas e nos Clubes Republicanos, espalhados por todo o País. Na hora final da campanha, quando a República foi implantada, ali estava um Maçom a liderar as tropas do Exército com seu prestígio: Marechal Deodoro da Fonseca que viria a ser Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil.

Durante os primeiros quarenta anos da República - período denominado "República Velha" - foi notória a participação do Grande Oriente do Brasil na evolução política nacional, através de vários presidentes Maçons, além de Deodoro: Marechal Floriano Peixoto Moraes, Manoel Ferraz de Campos Salles, Marechal Hermes da Fonseca, Nilo Peçanha, Wenceslau Brás e Washington Luís Pereira de Souza.

Durante a 1ª Grande Guerra (1911 - 1918), o Grande Oriente do Brasil, a partir de 1916, através de seu Grão-Mestre, Almirante Veríssimo José da Costa, apoiava a entrada do Brasil no conflito, ao lado das nações amigas. E, mesmo antes dessa entrada, que se deu em 1917, o Grande Oriente já enviava contribuições financeiras à Maçonaria Francesa, destinadas ao socorro das vítimas da guerra, como indica a correspondência, que, da França, era enviada ao Grande Oriente do Brasil, na época.

Mesmo com uma cisão, que, surgida em 1927, originou as Grandes Lojas Estaduais brasileiras, enfraquecendo, momentaneamente, o Grande Oriente do Brasil, este continuou como ponta-de-lança da Maçonaria, em diversas questões nacionais, como: anistia para presos políticos, durante períodos de exceção, com estado de sítio, em alguns governos da República; a luta pela redemocratização do país, que fora submetido, desde 1937, a uma ditadura, que só terminaria em 1945; participação, através das Potencias Maçônicas européias, na divulgação da doutrina democrática dos países aliados, na 2ª Grande Guerra (1939 - 1945); participação no movimento que interrompeu a escalada da extrema-esquerda no país, em 1964; combate ao posterior desvirtuamento desse movimento, que gerou o regime autoritário longo demais; luta pela anistia geral dos atingidos por esse movimento; trabalho pela volta das eleições diretas, depois de um longo período de governantes impostos ao País.

Presente em Brasília - Capital do Brasil, desde 1960 - onde se instalou em 1978, o Grande Oriente do Brasil tem, hoje, um patrimônio considerável, e em diversos Estados, além do Rio de Janeiro, e na Capital Federal, onde sua sede ocupa um edifício com 7.800 metros quadrados de área construída.

(Desconheço o autor. Fonte: Estudos)

O QUE VALE SER LEMBRADO - Newton Agrella


Como é gratificante ser lembrado !

Notadamente quando isso ocorre pelo lado positivo da vida.

Ter a percepção de que você tem um significado especial na vida de outra pessoa, mesmo que você não a conheça pessoalmente, sugere esta nítida sensação.

Esse traço de identificação ganhou ainda mais consistência quando os canais virtuais de comunicação, tornaram-se uma realidade no dia a dia.

Particularmente no que diz respeito aos maçons, os contatos acabaram de algum modo, contribuindo para alastrar e até sedimentar o sentimento de fraternidade de forma mais expressiva,

sobretudo quando ocorrem sintonias naturais entre os mesmos, fruto da maneira de pensar, de se expressar, de expor idéias, de argumentar e contra-argumentar sobre infindáveis temas.

E mais que tudo isso, sobre respeitar com serenidade e bom senso as diferenças naturais que são ingredientes da nossa própria existência e tornam este nosso "exercício de passagem", um desafio cada vez maior para que possamos aprimorar nosso nível de consciência.

É por estas poucas e por tantas outras razões que ser lembrado é sempre uma espécie de recompensa e de reconhecimento do que cada um de nós representa para o outro.

Na carona do desejo de um trivial "bom dia" vai uma bagagem, muitas vezes despercebida, de valores da alma, que por vezes nem nos damos conta.

Coisas como uma tênue palavra de incentivo, uma  expressão de apoio, um gesto de carinho ou até mesmo uma menção de paz e tolerância que podem calar fundo as necessidades de cada um.

Ser lembrado é isto. 

É perceber que não estamos sozinhos e que não importa como nem onde, há sempre uma energia que nos vincula, nos traz abrigo e revela-nos que somos uma partícula de uma imensa engrenagem   que nos oferece a oportunidade de agirmos como verdadeiros construtores sociais.

Ser lembrado não é apenas a trancrição de uma crônica ou uma chamada telefônica. 

Trata-se de uma atitude espontânea, que flui lá de dentro de nós, um lugar relativamente recôndito e que muitas vezes deixamos de visitar.

Ao maçom é sempre interessante fazer um breve "tour" a um lugar só seu em que encontra a placa:

*V.'.I.'.T.'.R.'.I.' O.'.L:*

"Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem" 

(Visita o Centro da Terra, Retificando-te, que encontrarás a Pedra Oculta/ Filosofal). 

Ou seja, ampliando o campo semântico traduz-se:

"Visita o Teu Interior. Purificando-te, que Encontrás o Teu Eu Oculto, ou, "a essência da Tua alma humana"."


junho 17, 2025

JOIAS FIXAS E MÓVEIS E A PRESENÇA DELAS EM LOJA - José Castellani


 

O Resp.’. Irm.’. Omar Furquim de Arruda, da Loja "Luz e Fraternidade Marapaniense", nº 2451, do Or.’. de Belém - PA, apresenta a seguinte questão:

        Segundo a apostila do Seminário de Mestres Maçons, do GOB, as Joias Maçônicas são em número de seis, sendo três fixas e três móveis; as fixas são: a Pedra Bruta, a Pedra Cúbica e a Prancha de Traçar, correspondentes, respectivamente, aos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. O Irm.·. Varoli explica que, sendo joias fixas, elas devem permanecer sempre no templo. Ocorre que no Ritual Escocês do Primeiro grau, a Prancha de Traçar não é relacionada; além disso, nas Lojas que visitei, no Pará, como em outros Estados, não vi presente a joia do Mestre Maçom. Pergunto: há obrigatoriedade de sua representação em Loja? Caso positivo, porque isso não consta dos rituais?”

RESPOSTA:

Em qualquer rito, é obrigatória a presença das três joias. Já no painel do Primeiro grau, no Rito Escocês, pode-se notar a presença, não só da Pedra Bruta, apanágio do grau, mas, também, da Pedra Cúbica, que é do segundo grau, e da Prancha de Traçar, com a cruz quádrupla e a cruz de Santo André, inerente ao grau de Mestre Maçom. Além disso, existem ritos, como o de Schröeder, onde há o Tapete, que é desenrolado no centro do Templo e onde estão presentes os Painéis dos três graus simbólicos: a Pedra Bruta, a Pedra Cúbica e a representação pictográfica da 47ª Proposição de Euclides (que viria, com sua demonstração, a ser o famoso Teorema de Pitágoras), correspondendo, respectivamente, aos graus de Aprendiz, de Companheiro e de Mestre.

Nota-se, assim, que já desde o Primeiro grau, o de Aprendiz, estão presentes símbolos inerentes aos demais graus simbólicos, porque em qualquer Loja simbólica os Aprendizes desbastam a Pedra Bruta, os Companheiros trabalham sobre a Pedra Cúbica, que se encaixa, perfeitamente, nas construções, e os Mestres orientam os trabalhos, traçando os seus planos sobre a Prancha de Traçar. Não há razão para a ausência dela, no recinto do Templo.

As Joias Móveis (Esquadro, Nível e Prumo, correspondendo ao Venerável, 1º e 2º Vigilante, respectivamente) só estão presentes no Templo durante as sessões da Loja, quando estão sendo usadas por essas Dignidades (e são móveis porque são passadas aos novos titulares, que vão se empossando); as Joias fixas, por outro lado, estarão sempre presentes, enquanto o Templo estiver em pé e enquanto a Loja estiver com suas Colunas erguidas.

É claro que o Irm.’. Teobaldo Varoli Filho tem razão, em sua afirmativa; ele é um dos maiores ritualistas brasileiros de todos os tempos!

Fonte: revista A Trolha, nr. 37, de setembro/outubro de 1988.

ADMISSÃO À MAÇONARIA - Valdemar Sansão




A Maçonaria submete o candidato a um longo e rigoroso processo seletivo de análise e avaliação dele próprio, de seus horizontes profissionais, sua identificação, seu comportamento, sua família, seu trabalho... A todos os homens livres, que fazem da defesa da liberdade de consciência e da liberdade de pensamento, a luta constante de suas vidas.

Maçonaria Moderna - O destino das grandes Instituições é de começar na humildade; o Cristianismo numa manjedoura, a Maçonaria numa taverna.

As quatro Lojas Maçônicas que em 1717 realizaram, ao que parece, uma reunião preparatória na Taverna da Macieira e resolveram criar a Grande Loja de Londres, que passou a denominar-se Grande Loja da Inglaterra, quando se expandiu além do perímetro londrino. A reunião de 24 de junho de 1717, da qual resultou a fundação da Grande Loja, teve lugar na Cervejaria do Ganso e da Grelha.

Os “Deveres de um Maçom”, constantes do Livro das Constituições de Anderson, substituída, nas Constituições adotadas em 1815 pela Grande Loja Unida da Inglaterra, e consubstanciada nesta frase: ”Um Maçom é obrigado pela sua dependência a obedecer à lei moral; e se bem entender a Arte, nunca será um estúpido ateu nem um irreligioso libertino. De todos os homens, deve ele compreender melhor que Deus vê de maneira diferente do homem; pois o homem vê a aparência exterior enquanto Deus vê o coração... Qualquer que seja a religião de um homem ou sua maneira de adorar, não será excluído da Ordem, contanto que creia no glorioso arquiteto do céu e da terra, e que pratique os deveres sagrados da moral...”

Credo do Maçom – Embora não sendo uma religião, a Maçonaria também presta um culto à Divindade, ao Ser Supremo admitido em todas as religiões. É a Existência Suprema, Superior, Criadora e Indefinível, cujo estudo constitui uma das bases da Maçonaria e ao qual os Maçons dão a denominação de Grande Arquiteto do Universo. Segundo vários autores, o credo de todo bom Maçom sereduz à seguinte profissão de fé: “Creio em um só Deus, Supremo Arquiteto do céu e da terra, dispensador de todo bem e juiz infalível de todo mal”. Sem dúvida, o estudo de Deus deve constituir um dos deveres do Maçom. Disse Farias Brito: “Deus é o que há de mais claro na Natureza. Deus é a Luz em todos os seus sentidos”. Com estas simples palavras é definido o Princípio Criador, segundo a concepção maçônica.

Cristo – Fundador da religião cristã e, por isso, personagem venerado nos símbolos da Maçonaria. Cristianismo, religião que constitui a base da maçonaria. A Maçonaria Operativa e Especulativa que lhe sucedeu, tendo surgido no Ocidente e, particularmente, na Inglaterra, seguiram, como é natural, as tradições religiosas ocidentais. Contudo, a Maçonaria aceita em seu seio homens de todas as religiões.

Ao admitir em seu seio homens de todas as religiões, de todas as nacionalidades, de todas as raças, de todos os partidos, a Maçonaria mostrou ao homem um caminho novo e um ideal que, posteriormente, cristalizou-se na trilogia: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Constituiu-se no cimento por meio do qual, e acima das religiões e dos partidos, os homens podem se unir e se chamar Irmãos.

Esclarecendo – Assim como a Maçonaria submete o candidato a um longo e rigoroso processo seletivo de análise e avaliação dele próprio, de seus horizontes profissionais, sua identificação, seu comportamento, sua família, seu trabalho, seus rendimentos, sua profissão, seu estado civil, datas, seus hábitos, suas reações, de suas atividades sociais e políticas, para que possa ser irmão dos Maçons de todo o mundo, é compreensível que o Candidato exerça o adequado direito de esclarecer suas dúvidas, respeitando a consciência individual, satisfazendo sua curiosidade (assim como a da esposa), o exame e discussão de diversas questões que podem esclarecer seu espírito e, sobretudo, conciliar seu coração com relação à Ordem, na medida do que for possível, isto é, tudo que não for secreto, para que não haja nenhum mal-entendido a respeito da proposta de trabalho da Maçonaria.

A Loja Maçônica é uma Escola que, por intermédio da observância e do estudo interpretativo dos Rituais (chama-se Ritual, em Maçonaria, o livro que contem a Ordem, as fórmulas e demais instruções necessárias para a prática uniforme e regular dos Trabalhos Maçônicos em geral), procura como finalidade primordial, preparar os Obreiros para a vida no lar e na sociedade, de modo a que, conhecendo a si mesmos e analisando o mundo, almejem a Paz e a Felicidade para a coletividade, tornando-se, assim, úteis e de grande aproveitamento para a comunidade em que vivem e, ao mesmo tempo, para a Humanidade em geral. Cada Loja tem o seu espírito especial; cada Maçom deve conservar e desenvolver as suas qualidades fundamentais.

A Loja é para o Maçom o local no qual pode se expressar livremente perante um auditório atento e benevolente. A confrontação das ideias faz-se sem choques e com cortesia.

A escolha do candidato – Para ingressar na Ordem maçônica existem certos requisitos indispensáveis e que consistem na idade, estado de liberdade , recursos para a subsistência, moralidade, etc.

O ato de "escolhermos" um candidato à Iniciação na Maçonaria requer séria reflexão. Lembremo-nos que estamos escolhendo um irmão para conosco conviver fraternalmente, que terá ingresso em nossa casa, compartilhando de nossas vidas, com nossas famílias.

O perfil ideal do candidato (entre outras exigências):

a) crer em um princípio criador (A Maçonaria não é uma teologia dogmática, nem é sectária; ao contrário, mostra em matéria de religião a mais ampla tolerância; porém exige de todos aqueles que admite em seus templos a crença em Deus e na existência da alma).

b) ter o assentimento da esposa (sentimentos da companheira com relação à Ordem).

c) ter vida familiar equilibrada (A divisa da Ordem Maçônica é o Amor Fraternal, na esperança de que o Amor a Deus, à Família, à Pátria e ao Próximo, o mundo alcance a Felicidade Geral e a Paz Universal).

d) ter princípios morais elevados (conduta ética, moral e social ilibada. Viver em harmonia dentro do organismo social; ser bom, a fim de contribuir para tornar a humanidade melhor).

e) possuir cultura que possibilite compreender o simbolismo e a filosofia maçônicos ( gosto pela leitura e pelo estudo, grau de instrução necessário para cultivar sua razão).

f) possuir educação compatível com o ambiente que impera na Maçonaria; (disciplina e respeito à hierarquia).

g) ter "espírito maçônico" (fraterno, solidário, filantropo, cordato, pesquisador. O sentimento de interesse a respeito de outro, para constituir uma verdadeira e fiel amizade. A Maçonaria, mais do que qualquer outra associação, proporciona o ambiente propício para o desabrochar de sinceras amizades).

h) comprovar (atestado médico) não ser portador de doença ou deficiência que impossibilite o bom desempenho da atividade e ritualística maçônica.

Condicionantes restritivas

Adulação - É a exploração sistemática e interesseira da vaidade alheia. Ao supervalorizar as qualidades e ações dos outros, o adulador, homem geralmente de espírito servil ou ambicioso, espera obter deles favores indevidos. O adulador é quase sempre mal visto em todos os grupos sociais, devendo sê-lo particularmente entre os Maçons, pois a lisonja e a adulação representam uma diminuição da dignidade tanto de quem as faz como de quem as recebe.

Avareza – É o apego demasiado e sórdido ao dinheiro ou aos bens econômicos, levando o homem a endurecer o coração em face dos sofrimentos de outros homens e das injustiças contra os mesmos cometidas. Pela avareza, os bens materiais transformam em um fim, de tal sorte que o avarento acaba por negar a si mesmo as condições normais para uma vida compatível com a própria dignidade humana. A Maçonaria, que tem a filantropia como uma das suas preferidas finalidades, e que estimula os seus adeptos na sua prática, não pode admitir em seu seio homens portadores desse vício tão contrário aos objetivos da Instituição.


junho 16, 2025

ORIGEM E PRIMÓRDIOS DO R∴E∴A∴A∴ – DO CAOS A ORDEM - Rui Bandeira


O Rito de Perfeição, com vinte e cinco graus, o mais alto dos quais o de Sublime Príncipe do Real Segredo, foi organizado a partir de 1758, por decisão de um conjunto de maçons em Paris, autodenominado de Conselho de Imperadores de Leste e Oeste. De entre a profusão de graus criada na sequência do Discurso de Ramsay, foi este Rito que permaneceu e se veio a desenvolver no Rito Escocês Antigo e Aceite. Em 1759, já existia um Conselho de Príncipes do Real Segredo em Bordéus. O Rito espalhou-se velozmente por França e pela Europa Continental. Em 1761, já existia um considerável número de Lojas, Capítulos, Conselhos e Consistórios.

Em agosto desse ano, o Grande Consistório dos Príncipes do Real Segredo emitiu uma carta patente, pela qual nomeava Stephen Morin Inspetor Geral do Rito para o Novo Mundo. Ainda nesse ano, Morin chegou a Santo Domingo (República Dominicana) e a partir daí começou a disseminação do Rito e designou diversos Inspetores para as Índias Ocidentais e para o Continente Americano. Um dos nomeados foi Moses Michael Hays, um abastado comerciante judeu, de origem holandesa, de Boston, grande defensor da liberdade religiosa e dos direitos civis, que veio a ser, em 1792, Grão-Mestre da Massachussets Lodge of Masons.

Hays introduziu o Rito na Costa Leste americana e nomeou vários Inspetores-Adjuntos para diversas zonas do que viriam a ser os Estados Unidos da América: Isaac da Costa e, depois da morte deste, Joseph Myers para a Carolina do Sul, Solomon Bush para a Pensilvânia, Barend M. Spitzer para a Geórgia.

Em 1767, é aberta uma Grande Loja de Perfeição em Albany, Estado de New York. Em 1783 cria-se uma Sublime Grande Loja de Perfeição em Charleston, Carolina do Sul. Nesta mesma cidade, cria-se, em 1788, um Grande Conselho dos Príncipes de Jerusalém. Em 1797, um Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz, Cavaleiros da Águia e do Pelicano estabelece-se na cidade de New York. E é neste mesmo ano que a Loja de Perfeição Rei Salomão, de Martha’s Vineyard, Massachusetts, abdica da sua jurisdição sobre os três primeiros graus a favor da Grande Loja de Massachusetts, estabelecendo o precedente para o que é atualmente regra em todo o Mundo: os três primeiros Graus (Aprendiz. Companheiro e Mestre) são da jurisdição exclusiva das Grandes Lojas / Grandes Orientes, ficando os organismos de Altos Graus apenas com jurisdição sobre estes.

Tudo isto se passa ainda no âmbito de um Rito de Perfeição com 25 graus. Entretanto, em 1786, foram aprovadas em Berlim, por Frederico da Prússia, as Constituições dos Supremos Conselhos dos Soberanos Inspetores Gerais do 33.º e Último Grau. É a primeira referência a um Rito com 33 graus. Não há notícia de anterior existência de qualquer Supremo Conselho antes desta data. O Rito (ainda de Perfeição) era dirigido por Inspetores Gerais, cada um com competência para determinada zona geográfica. Segundo as novas Constituições, o poder soberano do Rito alargado a 33 graus e rede nominado de Rito Escocês Antigo e Aceite passaria a ser detido, em cada nação, por um Conselho de 9 elementos. Única exceção: os Estados Unidos da América, que seriam dotados de dois Conselhos: o da Jurisdição Norte e o da Jurisdição Sul (sistema que ainda hoje vigora).

O primeiro Supremo Conselho estabelecido segundo as Constituições de 1786 ficou sediado em Charleston (Carolina do Sul), inicialmente com jurisdição em todo o território dos Estados Unidos e, após a constituição do Supremo Conselho da Jurisdição Norte, com a sua autoridade reduzida à Jurisdição Sul. Este primeiro Supremo Conselho em todo o mundo foi criado em 1801, por iniciativa dos Soberanos Inspetores Gerais John Mitchell e Frederick Dalcho.

A transformação do Rito de Perfeição de 25 graus no REAA de 33 graus consumou-se assim nos Estados Unidos no início do século XIX. A sua evolução futura vai depender seguidamente de acontecimentos no Velho Continente. Veremos isso no próximo texto.



A FORMAÇÃO MAÇÔNICA - Mário Vasconcelos


O presente artigo é um importante capítulo do livro Gestão Maçônica Inspiradora, de autoria do Irmão Mario Vasconcelos Trata-se de uma obra dedicada aos Irmãos que desejam evoluir pessoalmente e contribuir para uma Maçonaria mais vibrante, fraterna e atuante. Destina-se àqueles que estão comprometidos com a excelência no exercício de suas funções e que buscam progresso em sua jornada maçônica.

Eis um tema árido nesta caminhada pela Arte Real. Ao longo de nossa vida Maçônica e pelas vivências em mais de uma Oficina, em debates e edificantes diálogos com Irmãos e mesmo nas relações (por vezes nada fraternas) nas redes de relacionamento, temos traçado um esboço, uma imagem ainda que um pouco nebulosa da formação maçônica do chamado “maçom médio” que nos deixa, minimamente, preocupados com o futuro de nossa querida Maçonaria. Mas não somos os únicos. Há tempos que, ocasionalmente, o tema “Evasão Maçônica” vêm à tona e sempre, entre as razões desta evasão, surge a questão da má formação Maçônica.

Sim. A Maçonaria é responsável pela formação Maçônica dos Irmãos. E eu explico o grifo. Não raro vemos Aprendizes sendo iniciados com um grau de cultura geral superior a muitos Mestres da Oficina, no entanto, também não raro vermos Mestres confundindo muito os conceitos e misturando realidade e simbologia. A condição de Aprendiz, repito, é simbólica e deve ser considerada dentro da liturgia do Rito e da simbologia das circunstâncias Maçônicas. Ou seja, espera-se que o Mestre tenha um nível de cultura Maçônica muito superior ao Aprendiz por razões óbvias, mas é preciso que haja sempre respeito por estes novos Irmãos. É certo que a Ordem, em tese, nos nivela em Loja, mas o limite do respeito humano não pode ser ultrapassado. A inteligência destes neófitos não pode ser vilipendiada por pseudos mestres que, com o tempo, acabam por deixar cair a máscara da “sabedoria” e revelar que pouco ou quase nada sabem com profundidade Maçônica e, pior, ainda são Pedras muito lascadas no campo da Inteligência Emocional ou habilidades relacionais.

Uma pesquisa realizada pela GLESP, em 2018, com 15.229 Irmãos (65% do seu quadro de Obreiros) nos revelou um retrato interessante da população Maçônica desta Potência. Compartilho algumas dessas informações que nos ajudarão a refletir juntos sobre alguns pontos:

1) 81% dos Irmãos pesquisados eram Mestres (43,3% MM∴ IIr∴);

2) 83% dos Irmãos pesquisados tinham curso superior completo, mestrado ou doutorado;

3)  85% responderam que o que mais os atraía na Maçonaria era o Aprendizado;

4) Questionados sobre quais eram suas expectativas em relação à Ordem quando foram iniciados responderam: “que a Maçonaria proporcionaria uma evolução intelectual e espiritual, por meio de estudos diversos que viabilizassem estes objetivos”

5) A maioria dos AApr∴ e CComp∴ também salientaram a falta de iniciativas relacionadas à busca de conhecimento cultural e filosófico e (atenção para este item!) sentimento de desigualdade!

Já em outra pesquisa que serviu de base para o livro ELOS PARTIDOS - Diagnóstico e Prevenção da Evasão Maçônica, aproximadamente 31% dos Irmãos pesquisados apontaram como razões da Evasão, o “Descompromisso/Despreparo dos Mestres na Formação do Maçom” e a “Falta de leitura e estudo dos Mestres”.

Penso que estes dados já são suficientes para visualizarmos dois pontos importantes:

1.   A necessidade de uma maior atenção, zelo e respeito para com nossos AApr∴ e CComp∴, através de uma atitude mais horizontal (lado a lado) do que vertical (sensação de superioridade);

2.   Importância de olharmos com carinho e atitude, dentro de nossas Oficinas, para o planejamento, execução e monitoramento dos processos de formação Maçônica dos Irmãos.

Com relação ao item 2, felizmente, no que diz respeito à nossa Potência (GLESP), a atual gestão tomou a valorosa iniciativa de criação de uma Secretaria voltada especialmente para esta matéria: A Grande Secretaria de Educação, a qual teve como primeiro Grande Secretário o Irmão Alberto Feliciano, que capitaneou uma cruzada de divulgação dos processos de Mentoria Maçônica

Somou-se a isso a profícua fase de informatização por que passa a GLESP e as aulas com comentários acerca das Instruções foram disponibilizadas para todos os Irmãos da Potência, dentro de seus respectivos graus. Além disso, implementou-se um programa de formação de Mentores voltados para os Mestres Instalados interessados em colaborar nesta empreitada de fomento à Educação Maçônica. Com relação ao item 1, entendemos que o saneamento desta lacuna apontada pode estar a caminho por conta da própria formação e capacitação dos Mentores, em um círculo virtuoso onde estes irão orientar os Mestres que, por sua vez, poderão melhorar este relacionamento e esta postura em relação aos AApr∴ e CComp∴.

É claro que não desejamos generalizar! Há muitos e muitos Irmãos que já estão prontos para o Mestrado Maçônico e realizam com fraternal e edificante dedicação a tarefa de ensinar sem constranger ou humilhar.

E não há nenhum intuito em condenar quem assim não procede, mas estamos aqui para nos burilar. Somos imperfeitamente humanos! E estamos sujeitos a tropeçarmos na vaidade e realmente acreditarmos que a Exaltação tem a capacidade de fabricar, em minutos, um Mestre pronto.

Na verdade, chegamos rápido demais ao Mestrado Maçônico e a consciência de que não somos seres acabados, mas em construção, prossegue eternamente!!! Que não nos deixemos deslumbrar com o título de Mestre e tentemos ser, sim, gigantes na verdadeira humildade!

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junho 15, 2025

MAÇONARIA DE ISAAC NEWTON À INTERNET - Michael Winetzki

 

Palestra de Michael Winetzki na ARLSV Lux in Tenebris 47 em 21/11/2020.



MORAL MAÇÔNICA: TEORIA E PRÁTICA - Kennyo Ismail


Outro dia estava palestrando numa loja e, como de costume, o assunto “evasão maçónica” veio à tona. E, também como de costume, alguns irmãos demonstraram apego à cultura maçónica brasileira de que “a Maçonaria é perfeita” e “quem saiu nem deveria ter entrado”, o que costumo chamar de arrogância institucional:

enquanto uma potência não tiver a humildade de querer entender como ela pode melhorar para reduzir a insatisfação dos maçons, por maior que ela seja, ela não será “grande”, no melhor sentido da palavra.

Contudo, um dos irmãos presentes quis saber na prática, com exemplos, mesmo que fictícios, porque um irmão ficaria insatisfeito com a Maçonaria. Eis aqui um raciocínio hipotético, que não atinge apenas a satisfação de maçons, mas a Maçonaria perante a sociedade:

Se um líder da Maçonaria compra, com o dinheiro da potência, um carro importado de 250 mil reais para buscá-lo e levá-lo em casa, a uma distância que daria para ele ir a pé; e outro gasta 15 mil num único jantar de uma viagem; e, em ambos os casos, ninguém faz nada… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar da má aplicação do dinheiro público?

Se uma liderança maçónica não consegue ir num evento maçónico familiar sem ficar bêbado e inconveniente, e ninguém reclama… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar da postura de qualquer político, ou até mesmo dos seus próprios membros?

Se um dirigente na Maçonaria difama e boicota um palestrante junto às lojas da sua jurisdição, simplesmente porque não gosta do que ele fala… qual a moral que a Maçonaria tem para defender a liberdade de expressão e de imprensa?

Se um poderoso Maçom pede para outro ameaçar e silenciar um escritor maçónico que escreveu algo que ele não concorda… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar de abuso de poder por parte de qualquer autoridade do judiciário, do executivo ou do legislativo?

Se um grupo de situação consegue fazer um malabarismo técnico para impugnar uma candidatura de oposição, e ninguém toma qualquer providência… que moral qualquer irmão têm para, se de direita, reclamar que o Bolsonaro está inelegível ou, se de esquerda, reclamar que o Lula foi preso às vésperas de uma eleição?

A Maçonaria é um “sistema de moralidade”. Como todo sistema aberto e instalado num ambiente externo, o seu objetivo é que o “profano” entre no sistema, o qual, funcionando, o transforma num “Maçom”, ou seja, um ser moral, para que este transforme o ambiente externo, de modo a colaborar com o bem-estar e a felicidade da sociedade. Mas se esse sistema educacional de moralidade não estiver funcionando corretamente, a ignorância, a intolerância, o fanatismo, a tirania e os vícios, aprendidos anteriormente no ambiente externo, terão mais força dentro do sistema do que as suas próprias engrenagens.

Por sorte, estas são apenas hipóteses para fins de racionalidade, que não ocorrem nas instituições maçónicas brasileiras! Mas todas são possíveis, se não investirmos em educação maçónica, se não escolhermos os dirigentes corretos e, principalmente, se formos omissos aos seus erros. A relativização do errado num sistema de moralidade é apenas a consequência, tendo como causa o abandono das suas engrenagens educativas.

A relativização dos erros de lideranças e a normalização de abusos e absurdos pelo povo maçónico afetaria a sua moral para se manifestar no mundo “profano”. Seria, no mínimo, incoerência. Entretanto, talvez o maior impacto desse comportamento coletivo hipotético seria a saída de novos entrantes, que ainda não estariam anestesiados a tais erros e sairiam por concluírem que o que a Maçonaria ensina é distinto do que os maçons estão praticando.

AGORA VENERÁVEL ! - Adilson Zotovici


Segue irmão Venerável

Tua vida, tua missão

Nesta lida admirável

De livre pedreiro, artesão


Um conciliador afável

Que austeridade o bordão

Ponderar o imponderável

Com equidade e isenção


Sabedoria notável

Como o próprio Rei Salomão

Por união infindável


Se firme o malhete à mão

Recebes o inolvidável...

Que o poder da decisão !







junho 14, 2025

ARLS ALIANÇA FRATERNAL n. 596 - São Paulo


 

    Sexta-feira a noite com um frio polar, cerca de 11 graus em São Paulo, porem a palestra já estava agendada há tempo. Imaginei que não viria ninguém com este tempo inclemente, mas o prestígio do jovem Venerável Mestre Everton Bressan Alves Oliveira lotou o pequeno templo da ARLS Aliança Fraternal n.596, da GLESP.

    A palestra, em sessão pública, com a presença de famílias e convidados foi "O caminho da Felicidade" e como sempre acontece gerou bastante emoção. Ao final muitos dos convidados se disseram tocados pelos seus ensinamentos.

    Ainda houve a entrega de rosas as senhoras presentes e de um delicado mimo, uma linda ampulheta, para todos aqueles que estiveram na palestra. O evento finalizou com um magnífico jantar oferecido pela Loja no restaurante do Hotel Leques. 

MAÇONARIA, UMA ESCOLA DE VIDA! - Pedro Campos de Miranda



A Maçonaria é uma escola de vida que incentiva a pesquisa da verdade, o exercício do amor e da tolerância. Que recomenda o respeito às leis, aos costumes, às autoridades e, sobretudo, à opção religiosa de cada um. Que incentiva seus adeptos a serem docemente fieis ao que nos ensinou o Divino Mestre Jesus: “Perdoai vossos inimigos e bendizei aos que vos fazem mal.” Por isso mesmo, a Maçonaria não se preocupa em retribuir as ofensas injustas recebidas pelos que não a conhecem. Aliás, nossa Sublime Ordem é a única organização que transforma em irmãos pessoas de crenças religiosas diferentes, pois nela convivem harmoniosamente católicos, espíritas, protestantes, budistas, maometanos, judeus, etc.

Alguns apressados poderiam pensar que isso significa que os maçons sejam transformados em seres absolutamente passivos, sem o menor interesse pelo que se passa na sociedade, em nosso país e no mundo. Se os maçons têm como compromisso maior a busca incessante da verdade, é claro que precisam exercitar continuadamente o direito de pensar em soluções que possam eliminar o mal, sem destruir o homem. Ela tem seus métodos próprios de ação, conhecidos pelos verdadeiros maçons, os quais são agentes da paz e chamam os conflitos armados de a estupidez da guerra.

A Maçonaria sempre se colocou a favor da liberdade, contrária a qualquer tipo de opressão que sonegue ao ser humano o direito de pensar. Mas, como exige de seus adeptos uma vida íntegra, ela sabe que o melhor ensinamento que os maçons podem oferecer reside no exemplo oferecido por cada pedreiro livre. É aí que valorizamos o entendimento de Cícero: “Sou livre porque sou escravo da lei!”

O maçom sabe que uma vida digna equivale a um templo erguido à virtude e que somente terá vencido suas paixões quando houver aprendido a respeitar e a amar cada ser humano, mas nunca se acovardando quando tiver que exigir de qualquer um o cumprimento da lei. Principalmente diante da covardia de maiorias que procuram esmagar impiedosamente as minorias.

A Maçonaria combate a hipocrisia, o fanatismo, a intolerância. E combate esses males procurando conduzir os homens ao entendimento, única forma de se conseguir a paz permanente, pregando a misericórdia para com os vencidos. Para nossa Ordem, o vencedor deve ser sempre a humanidade. Portanto, todos os maçons são concitados a uma conduta de vida capaz de levar consolo a quem sofre; comida a quem tem fome; agasalho a quem tem frio; uma toalha macia para enxugar as lágrimas de nossos semelhantes; levar o conhecimento a quem deseja sair da escuridão. Sabe nossa instituição que quanto mais se propagar a luz, menor será o espaço ocupado pelas trevas. Com isso poderemos nos guiar mais seguramente na direção do Grande Arquiteto do Universo, luz irradiante que será o próprio caminho do amor, da fraternidade e da tolerância, per omnia secula seculorum!

Podemos concluir, sem medo de errar, que só a maldade e a desinformação são capazes de rotular a Maçonaria como contrária à fé religiosa. O comportamento digno que nossa Ordem impõe a seus membros honrará, certamente, a qualquer profissão de fé religiosa. Os rótulos nem sempre garantem o conteúdo. Por isso, nosso Templo Interior deve permanecer sempre limpo, livre da sujeira que as iniquidades provocam, iluminado pelo verdadeiro amor, sempre nos permitindo lembrar que o nosso conhecimento é apenas uma gota de um oceano de coisas que ignoramos.

Ensina-nos a Maçonaria que o Grande Arquiteto do Universo é uma fonte perene de amor, sempre pronto a permitir o soerguimento de qualquer um que queira se levantar. Como Ele saberá, a qualquer tempo, separar o joio do trigo, nós, os maçons, somos sempre recomendados a produzir mais trigo.

A NOÇÃO DE CRIAÇÃO DA MACONARIA


Mergulhei neste trabalho com grande entusiasmo, pois me parecia que a nossa pesquisa sobre este tema nos levava a fazer um esforço para compreender o verdadeiro significado da iniciação maçônica.

É mais um ensaio, um rascunho, do que uma obra concluída. Este é um novo projeto ao qual o pesquisador em mim terá que retornar para refinar seu trabalho.

Peço que me perdoem as inúmeras citações de fontes que são ao mesmo tempo referências, parâmetros (haveria muitos outros), e na medida em que se trata aqui de " entender " o que realmente buscamos, e num campo onde, obviamente, não há nada a inventar.

A noção de " criação " dentro da Maçonaria, aquela que praticamos, parece-me, numa primeira leitura, e com base nos nossos rituais, difícil de estabelecer.

É claro que o ritual REAA usa essa palavra implicitamente, no contexto da iniciação de um Profano:

“ Para a Glória do Grande Arquiteto do Universo… Eu o Crio, Constituo e Recebo como um Aprendiz Maçom… ” (1)

Ele também é o único a usar o verbo criar.

Em outros Ritos encontramos, por exemplo no RER, o termo: " Eu te recebo, aprendiz Maçom ", e isso porque a retificação faz da iniciação um princípio que abrange todo o curso do seu Regime. O Rito Francês “ constitui e recebe o Aprendiz Maçom ”.

Portanto, a simples consideração desta frase ritual, neste momento tão importante da cerimônia, não me parece suficiente para apreender o princípio fundador de uma etapa que seria a da Criação. Parece-me ser antes o fundamento da conexão com o grande corpo que forma a Maçonaria universal em geral, e com a Obediência dentro da qual estamos, em particular.

Não podemos pretender demonstrar que possa ser um ato de criação idêntico ao que consideramos da parte de Deus, Grande Arquiteto do Universo, em relação a toda a criação, e como nos é indicado nos textos do Gênesis.

Não podemos deixar de recordar as duas grandes concepções da criação que são " ex deo " para aquilo que procede de uma matéria preexistente e eterna e onde Deus, portanto, não é verdadeiramente o criador. O homem “ sai ” de Deus e, portanto, é “ ex deo ”. Essa visão pertence às religiões indo-europeias da Índia, Grécia, Roma antiga e dos celtas.

A outra concepção é " ex nihilo " ou Deus é totalmente criador. É uma concepção que surge do nada, preexistente a toda a criação, e da qual o homem é parte integrante. Essa concepção alimenta os grandes monoteísmos que são o mazdaísmo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Isso faz de Deus o Criador de todas as coisas. (2)

Para nós, o significado do ato criativo deve ser buscado mais especificamente na encruzilhada de duas noções que são ao mesmo tempo interseccionais e complementares:

Em primeiro lugar, o fato de um ato pertencente à Tradição Primordial no sentido etimológico do latim tradere que significa " aquilo que se transmite ", e por ela, delegado à humanidade em sua repetição no mundo sensível: " fareis isto em memória de mim ". Não esqueçamos que se trata de transmissão consciente de elementos invariáveis ​​e sagrados, princípio que nos remete ao que praticamos (cf. Jean Tourniac).

Depois, o princípio de que provém de uma fonte tradicional e autêntica, com a condição de que se verifique, por homogeneidade, com o esoterismo gnóstico das outras grandes Tradições.

Em outras palavras, o esoterismo de um centro secundário da Tradição Primordial deve estar em perfeito paralelo com os fundamentos esotéricos dos outros centros secundários da mesma Tradição Primordial. Sem esses pontos de equivalência, não é possível demonstrar a autenticidade eficiente e o poder psicopompo do que é gerado a partir deles.

René Guénon nos disse:

De fato, quando se trata da Unidade, toda a diversidade desaparece, e é somente quando se desce em direção à multiplicidade que as diferenças de forma aparecem, sendo os modos de expressão então múltiplos, como aquilo a que se referem, e capazes de variar indefinidamente para se adaptarem às circunstâncias de tempo e lugar. Mas a " doutrina da Unidade é única ", segundo a fórmula árabe: Et-Tawhîdu wâhidun, ou seja, é em toda parte e sempre a mesma, invariável como o Princípio, independente da multiplicidade e da mudança, que só podem afetar aplicações de ordem contingente (3).

Parece-me também necessário recordar que não estamos no processo iniciático operacional dos cortadores de pedras. Se o simbolismo da profissão é um arcabouço que preservamos, a iniciação não nos é conferida pela demonstração material do domínio do gesto, nem a de um processo de mudança do ser pelas etapas de realização de uma obra-prima na matéria, fruto de um percurso que passa de canteiro em canteiro, operando uma qualificação verdadeiramente operatória .

A iniciação “ especulativa ” não está, contudo, isenta de realidade ontológica. Ele é simplesmente localizado em outro plano e coloca o solicitante imediatamente em uma dimensão que só se tornou acessível em outro momento para um agente, ou seja, a dimensão puramente espiritual. Este é o verdadeiro significado etimológico da palavra espéculo , que implica a interpenetração de duas dimensões, e coloca o homem no centro destas, entre as duas .

A Maçonaria, da qual somos herdeiros, traduz esse dogma fazendo do Templo espiritual o centro de sua realização, e do Templo material a base da exegese de uma etapa ao mesmo tempo destruída, superada e complementar.

Além disso, a conexão da Maçonaria com São João estabelece sua ancoragem em uma corrente imemorial de conhecimento espiritual, arquetípico, gnóstico e apocalíptico.

Podemos então buscar as fontes da justificação de um ato “ criativo ” a partir destes dois fundamentos que são:

• a conexão com o Grande Arquiteto do Universo de quem provém a Luz que transmitimos;

• então, da analogia da nossa Tradição com outras Tradições autênticas com as quais temos em comum a conceituação da origem da criação, e a formalização de um “ novo templo ” como meta final para o homem iniciado e realizado.

Eu acrescentaria que também temos em comum com todas as Tradições Gnósticas o desejo de permitir que o homem se realize durante sua vida, durante sua encarnação, e graças à implementação de um método e de um ensinamento. A realização post-mortem é um ato que nos escapa e, em todo caso, que não envolve a revelação dos mistérios que são nossos.

" Em Nome do Grande Arquiteto do Universo "

O Maçom é feito, vinculado, ao Nome do Grande Arquiteto do Universo .

Este estado por si só justifica a noção de regularidade. É isso que determina se estamos ou não em um dos centros secundários da Tradição Primordial. Este ato fundador de um novo homem faz parte da tradição imemorial da ordem de Melki-Tsedeq e da qual a Maçonaria tira sua fonte de uma religião do Primeiro Homem (os Ritos REAA, RER, Emulação e Francês utilizam esta fonte antiga, cada um com sua propedêutica):

...vemos que a "ordem de Melkitsedeq " é fundamentalmente o sinal de um pacto entre o Princípio e aquilo que está conectado a ele no desenrolar do ciclo temporal próprio da individualidade humana. Pacto entre Deus e o homem através do sagrado, do " separado ", do " elevado ", portanto, do " Kadosh" , do " Sagrado " (4).

René Guénon, que fundou a equação Melki-Tsedeq = Tradição Primordial, escreveu:

" ... tal centro, constituído sob condições regularmente definidas, tinha que ser de fato o lugar da manifestação divina, sempre representada como " Luz " ; e é curioso notar que a expressão " lugar muito iluminado e muito regular " , que a Maçonaria preservou, parece ser uma lembrança da antiga ciência sacerdotal que presidia à construção de templos e que, além disso, não era particular aos judeus... " (5)

Todo o processo iniciático, em todos os Ritos, consiste na “ desvelação ” e na “ revelação ” da Lu

“ O ser contingente pode ser definido como aquilo que não tem em si sua razão suficiente; tal ser, portanto, não é nada em si mesmo, e nada do que ele é lhe pertence por direito próprio .” (6)

Esta revelação, portanto, só pode ser gerada por delegação transmitida e concedida, de cujo poder ela procede. Para nós, esse princípio generativo é conferido ao grupo que é, de geração em geração (verdadeiro sentido da cadeia de união), seu depositário. Além disso, opera sobre um ser único que, de fato, se encontrará “ separado ” do resto das pessoas comuns de sua espécie:

“ Ao mesmo tempo, para o ser que atingiu essa consciência, ela tem como consequência imediata o desprendimento de todas as coisas manifestadas… Por isso, o ser emerge, portanto, da multiplicidade; ele escapa, segundo as expressões usadas pela doutrina taoísta, às vicissitudes da “corrente de formas”, da alternância dos estados de “vida” e “morte”, de “condensação” e “ dissipação ” … ”(7)

Somente a transmissão da Luz estabelece o princípio de um ato criador , pois confere ao solicitante uma nova natureza, outra dimensão e a revelação de outro eu:

“ O outro homem que está em nós é o homem interior; a este, a Escritura chama de novo homem celestial, um jovem, um amigo, um homem nobre… ” (8)

Esta é uma criação que não é feita de matéria, mas uma criação que " revela " um ser enterrado, ignorado, incompreendido, que estava apenas esperando receber " um raio de luz " para ser arrancado da escuridão em que o estado de um velho homem o mergulhou. É uma forma de ressurreição na medida em que dá origem (maiêutica) a um novo ser, em evolução/transformação, e definitivamente transmutado.

Se quisermos manter este primeiro passo, devemos verificar se ele faz parte do grande corpus de Tradições autênticas e gnósticas, que têm todas um só objetivo: levar o homem encarnado a reintegrar o Templo de sua Glória original.

Na tradição cristã

“ E ele me mostrou a cidade santa, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus. Ela tinha a glória de Deus; o seu resplendor era como uma pedra preciosa, como pedra de jaspe, brilhante como cristal . (9)

A noção de um Templo espiritual anunciada por São João é o resultado final de um longo processo que levou a humanidade a emergir de sua simples expressão antropológica através da consciência de sua realidade tripartite (corpo-alma-espírito), bem como de sua relação única e privilegiada com seu Criador.

Foram necessários muitos templos materiais para chegar a esse ponto. Foi preciso viver o exílio e o êxodo, para tomar consciência de que existe outro plano em que os planos divinos são mais justos e mais sutis. O buscador que se submete a uma compreensão gnóstica das Escrituras entende e interpreta que elas dizem respeito a ele. Ao longo de todas as suas peregrinações, o povo escolhido não escreve nada além da própria história de cada ser humano. Do Gênesis ao Apocalipse, o espelho ( speculum ) que nos é oferecido reflete apenas o que somos, no estado de nossas próprias vidas e de nossos destinos:

“ Tudo o que está escrito”, dizem e repetem nossos autores seguindo os Padres, “nos diz expressamente respeito à atualidade do nosso presente. A Escritura é o nosso espelho. É também essa ‘ força que nos plasma à semelhança divina ’ e que se resume nesta perfeição da Lei que é a caridade… ” (10)

Os textos bíblicos referem-se e são constantemente habitados pela noção do Templo e pela sua perspectiva:

“ Por onde quer que andei com todo o Israel, porventura falei alguma palavra a algum dos juízes de Israel, a quem ordenei que pastoreassem o meu povo, dizendo: Por que não me edificais uma casa de cedro? Agora, assim falarás ao meu servo Davi ” (11).

Com EZEQUIEL, na " Visão do Templo e do País Restaurado " (12), encontramos uma descrição completa dos pórticos, pátio, santuário, anexos e altar. São Paulo fará a sua própria descrição na sua Epístola aos Hebreus (13).

O Templo é o próprio local da celebração da Presença divina porque sua função é abrigar a Arca da Aliança, a Shekhinah. Porém, chegará o momento em que ele deverá se revelar em outro lugar, de outra forma:

“ Quando alguns diziam que o templo estava adornado com belas pedras e ofertas, Jesus disse: ‘Dias virão em que, como vocês veem, não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada .’” (14)

São Paulo completará dizendo:

“ Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós e provém de Deus? De modo que já não sois de vós mesmos? Fostes comprados por alto preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo ” (15)

A Luz que caracteriza o próprio princípio da criação não tem mais lugar para residir dentro da construção de sacrifícios que se tornaram inúteis, mas deve reintegrar-se ao coração do único Templo que convém à sua natureza: o Homem.

O arquétipo do Templo é transcendido e retorna ao seu ponto de origem. A partir de agora, não haverá necessidade de procurá-la em nenhum outro lugar que não seja nosso próprio santuário interior e iniciar uma reversão de todo o nosso ser para permitir que a Luz suba à superfície, que estava coberta pelas águas lamacentas do fim do ciclo: " busque e você encontrará, peça e lhe será dado ", dizem nossos rituais.

A Maçonaria tradicional possui esse conhecimento apocalíptico e, nisso, está em conformidade com o esoterismo de João. Ela também é fiel à religião primitiva que liga Adão a Cristo, e por meio de todos os Profetas.

Esta Maçonaria é justa e perfeita porque em seu dogma do Templo feito Homem está também em homologia com o simbolismo do Templo e da Luz nas outras grandes Tradições esotéricas e gnósticas.

“ Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existia. E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus . (16)

Referências e semelhanças em outros Centros Secundários da Tradição

Jean Tourniac, que, referindo-se às suas trocas com René Guénon, não deixou de salientar que a autenticidade tradicional é verificada pelo fato de que as tradições que merecem a qualificação de " transmitidas " ou " conectadas " devem historicamente descender de uma origem comum, constituída na forma de um " ovo " arquetípico .

Tentaremos estabelecer relações comuns tomando dois exemplos das duas grandes correntes gnósticas do judaísmo e do islamismo, a saber, a Cabala e o Sufismo.

Esoterismo do Judaísmo: Cabala e Cabala de Luria (17).

O Lourianismo é interessante porque, ao mesmo tempo em que mantém uma âncora na doutrina estabelecida pelos grandes Mestres fundadores da Cabala, desenvolve uma teoria com um simbolismo extremamente poderoso para um pesquisador maçônico: o ato fundador da criação por Deus reside, antes de tudo, em um afastamento de sua parte ( Tsimtsoum ) para deixar um espaço vazio no mundo. É uma concentração , e esse movimento também será desenvolvido no Sufismo, que reconhece os estados de concentração e expansão , experimentados pela criação divina. É esse movimento que levará ao ditado que diz: " Deus criou o homem como o mar criou os continentes, retirando-se ".

Ao fazer isso, Deus se retira para o Infinito ( o En Sof ) e, em um segundo momento, o espaço assim liberado se torna o Adam Kadmon, que notaremos não estar ligado apenas ao estado do homem, mas à criação completa e inteira. O Criador confia as luzes das sephirot aos vasos ( Kélim ), e se os vasos das três luzes superiores conseguem contê-las, os outros vasos que recebem as luzes inferiores se quebram. A luz se espalha em todas as direções dentro do Adam Kadmon, e então ocorre o terceiro estágio. Por meio dessa distribuição de Luz, o En Sof é criado como o Deus manifestado da religião.

Entramos então no ciclo que conhecemos.

O Lurianismo, de acordo com o pensamento de todos os Mestres Cabalistas, faz do homem o único ser capaz de conduzir sua evolução rumo à Redenção. Retorno à origem que ele realizará restabelecendo o Adam Kadmon, isto é, reintegrando toda a criação no Pomar celeste.

Teologia que encontraremos plenamente desenvolvida em São Paulo.

Assim, o homem deve deixar de ser uma Sheschina no exílio , ele deve se tornar novamente o Templo da Criação do Primeiro Dia, reunir a Luz que havia se dispersado, reunificar o Nome de Deus e reunir-se ao seu Mestre no seio do Infinito.

Isaac Louria construiu uma doutrina dentro da qual o mistério maçônico também encontra sua coerência e evolui como se fosse um território de conhecimento. Aqui encontramos a própria essência da abordagem de cada buscador da espiritualidade, e todo o trabalho da Cabala pode ser resumido em poucas palavras: a experiência pessoal de " Conhecer a Deus ". (18)

Infelizmente, desta visão extraordinária só se perpetuará " um exagero de ascetismo e técnicas de oração ". (19)

A unidade e a harmonia primordiais foram destruídas. O destino do homem será doravante o que os místicos judeus chamam de TIKKUN = Reparação, o esforço para reunir na intensidade do amor as partículas de luz difundidas no universo desarticulado. Em seu exílio, Adão terá que, de certa forma — e esta é a imagem específica sugerida pelo misticismo judaico — " recolher os pedaços quebrados ", colá-los novamente, reunir os pedaços divididos de nós mesmos e uni-los. Quando o mal introduzido e acrescentado ao mundo pelo homem tiver sido redimido, apagado, expiado, então o homem poderá novamente reivindicar a passagem pelos portões do palácio real, que por enquanto são guardados por dois querubins (Gn 3/24). Com a partida do Paraíso começa nossa longa jornada de amor, que só será satisfeita ao nos encontrarmos face a face com o Amado . (20)

2) Esoterismo do Islã: Sufismo e Sufismo Ismaelita (21)

Tanto nas descrições sabeias quanto nas ismaelitas, as noções de Templo são onipresentes. Este está situado nos limites do nosso mundo, e interessar-se por ele é comprometer-se a penetrar na visão do Templo celestial e espiritual. É a própria definição de um arquétipo que destaca o trabalho de edificação pessoal de cada ser em busca da reunificação com o divino.

Este Templo é um limiar que conduz a alma a encontrar o caminho para sua origem:

" Porque conduz à origem, é por excelência a figura e o suporte desta operação mental designada em árabe pelo termo técnico te'wil, isto é, uma exegese que constitui também um êxodo, uma saída da alma em direção à Alma. Ta'wîl, uma renovação exegética da origem, satisfaz no Islã esta lei da interiorização, esta realização experimental de correspondências simbólicas, que conduz também ao mesmo fim os Espirituais de todas as comunidades, porque é um esforço fundamental e fundamental da Psique religiosa . (22)

Este mesmo ta'wîl ordena uma sucessão de ressurreições das quais o templo esotérico celebra a cerimônia de uma atualização permanente.

Os rituais sabeus se relacionam com a história dos Honafâ , que eram os representantes da religião pura que era a de Abraão e que foi criada desde o início do mundo, antes do Período de Adão (23).

Para eles, a perfeição é alcançada na vestimenta da forma humana, que é considerada um templo que contém seres divinos. Essa transposição permite uma ligação direta com a angelologia, que é um princípio fundamental da doutrina ismaelita, como em todas as correntes do sufismo em geral.

“ A condição humana (marbûbîya) é uma jóia cuja profundidade oculta é a condição divina senhorial (robûbîya) .” (24)

Aqui, novamente, trata-se de o homem abrir-se para outra dimensão que transcende e leva à percepção das " Figuras de Luz ", direcionando os ritmos do tempo e as atitudes dentro da cosmogonia. Esta doutrina visa fazer com que o homem interior dê testemunho da coerência de todo o conjunto das hierarquias terrestres e celestes.

Encontramos aí um caminho que faz do corpo o lugar e o meio de manifestação do espírito (25). Propõe-se que o corpo que seria privado do espírito é apenas um corpo privado de luz, e que essa luz que está destinada a ocorrer ali é uma luz em " fusão ", e em oposição à única luz do corpo físico que permanece " solidificada ".

Este caminho gnóstico do islamismo mantém a visão permanente da Imago Templi (a Imagem do Templo) da qual o tempo material de destruição é uma passagem obrigatória, depois superada. Este estado é necessário para que se possa estabelecer o tempo do Templo Celestial, aquele que Sohravardî designa como " o país do espírito ". (26

Henry Corbin, para resumir, coloca o Imago Templi na “ confluência dos dois mares ” (27). Devemos entender que ele está situado entre dois estados que limitam o estado do templo da matéria e o do Templo habitado pela Luz do Santo, Bendito Seja. Há um equilíbrio entre a destruição necessária do Templo em nosso mundo para que o Templo espiritual e celestial possa ser realizado.

Essa realização se baseia no livre arbítrio para realizar-se no Caminho da Grande Obra e o homem permanece senhor de seu destino ontológico durante sua jornada no mundo da encarnação. Isto só pode ser alcançado por meio da intermediação espiritualmente operante da organização que carrega o ensinamento do mistério a ela confiado em confiança.

Encontramos assim outra coerência do nosso próprio caminho, aquela que vai da pedra bruta sobre a qual tudo resta fazer para torná-la áspera, passando pelo estado avançado do Templo em cujo centro restabelecemos a Luz do Espírito, e terminando na transfiguração do Templo que lhe confere a sua qualidade de " Templo Celeste ", síntese e globalização dos dois estados anteriores.

“ Eu disse à minha alma: Alif. Ela respondeu: “Não diga mais nada .” (28)

Se eu quisesse mencionar esses pontos de paralelismo, seria mais uma vez para mostrar como a legitimidade de um dos centros secundários da Tradição Primordial só pode ser verificada por esse padrão.

A criação que buscamos, dentro da Maçonaria Tradicional, é aquela que de fato reside no mais profundo da iniciação, da qual não é inútil recordar que um dos significados mais precisos reside na palavra: princípio .

Para nos aproximar de Santo Tomás, que propôs que a criação não poderia ser uma " mudança ", pois esse movimento supõe que algo que muda deve estar presente tanto em seu ponto de partida quanto em seu ponto de chegada (o que é contrário à noção de "ex nihilo "), ele conclui que a criação está na criatura, e que nisso ela " é " uma criatura. Portanto, e correndo o risco de me repetir, não pode haver intrinsecamente uma “ criação ” de um novo ser. Em vez disso, há uma " revelação ", uma consciência do ser interior que coexiste desde nossas origens, e uma entrada na posse desse estado que só pode pertencer a alguém que recebeu a ação operativa dos mistérios.

Nosso esoterismo realiza sua obra de criação pondo em ação o processo de retorno à nossa origem celeste, passando pela interiorização do Templo e pela incorporação de sua Luz.

A passagem, pelos três degraus acima, da Mesa/Tapete da Loja simboliza essa realização ao passar de Malkut a Kether , indo do mundo sensível ao mundo suprassensível da tríade superior, reintegrando a grande face na pequena face, para finalmente passar para uma última etapa do retorno ao seio do Infinito.

Encontramos o mesmo ensinamento de símbolos mencionados nos parágrafos acima, e para um propósito comum que constitui o ápice do ciclo: fazer do homem encarnado o templo de seu Criador para restabelecer o equilíbrio original.

Gostaria de concluir dizendo que acredito que o único ato verdadeiro de criação na Ordem Maçônica está localizado no centro do mistério da iniciação, através da implementação da transformação do ser humano em Templo (recipiente) de sua espiritualidade, e através do simbolismo da transmissão da Luz.

Podemos, portanto, afirmar que estamos situados na primordialidade da tradição da qual viemos, em conexão com as outras grandes correntes autênticas do centro principal da Tradição única:

"Elas se encontrarão, portanto, ' banalizadas ', nenhuma delas podendo excluir as outras, assim como as filhas de uma mãe solteira ou os descendentes dessas filhas não poderão contestar a herança biológica de cada uma delas." (29)

Terminei, Venerável Mestre, meus Caríssimos Irmãos.

Bibliografia:

(1) Ritual de Iniciação ao primeiro grau do Antigo Rito Escocês Aceito (fonte: Grande Loja Nacional Francesa).

(2) Corpo, Alma, Espírito, páginas 102/103 - Michel Fromaget – Pergunta de Albin Michel.

(3) Insights sobre o Esoterismo Islâmico e o Taoísmo, páginas 37/38 – René Guénon – Gallimard, coleção Les Essais CLXXXII.

(4) Melkitsedeq ou a Tradição Primordial, página 284 - Jean Tourniac - Albin Michel, Biblioteca do Hermetismo.

(5) O Rei do Mundo, página 23 - René Guénon - Gallimard, coleção Tradições.

(6) Insights sobre o esoterismo islâmico e o taoísmo, páginas 44/45 – René Guénon.

(7) Ibid ., o autor acrescenta: “ Aristóteles, num sentido semelhante , diz “ geração ” e “ corrupção ”.

(8) Tratado sobre o Homem Nobre de Meister Eckhart.

(9) Apocalipse de João XXI - 10,11.

(10) Os quatro sentidos da Sagrada Escritura de Jean Boulier Fraissinet - Renaissance Traditionnelle – n° 60 – outubro de 1984, página 257.

(11) Crônicas XVII – 6,7.

(12) Ezequiel XXXX a XXXXIII.

(13) Epístola de Paulo aos Hebreus, IX – 1,10.

(14) Evangelho de Lucas, XXI – 5.6.

(15) Epístola de Paulo aos Coríntios 6 - 19,20.

(16) São João, Apocalipse 21 – 1,2.

(17) Isaac Louria nasceu em Jerusalém em 1534, numa família Ashkenaz de origem renana. Ele desenvolveu sua visão da Cabala em Safed em 1568 e morreu em 1572 ou 1574, de acordo com as fontes. O lurianismo é frequentemente considerado o último épico da tradição cabalística, nascido com o rabino Simeão, filho de Yochai, e antes do declínio da Cabala, que daria lugar a uma nova corrente: o hassidismo. Isso não terá mais nenhuma ligação com o ensinamento rabínico e constituirá um verdadeiro movimento social, um pietismo popular, desprovido de qualquer pesquisa esotérica e muito distante do que era originalmente uma tradição oral (recebida por Moisés ao mesmo tempo que as Tábuas da Lei) reservada a uma elite. A complexidade da realidade das coisas faz com que, no entanto, a Cabala e o Hassidismo sejam duas fontes que nutrirão o misticismo judaico.

(18) Rabino Simeon bar Yochaï e a Cabala, página 8 – Guy Casaril - Editions du Seuil, coleção Sagesses.

(19) Ibid , páginas 138 a 140.

(20) O Exílio de Adão, de J. Goldstain - Renascimento Tradicional - n° 53 - Janeiro de 1983, página 3.

(21) O sufismo, caminho esotérico do islamismo, apresenta-se sobretudo como uma experiência espiritual interior e vivida. A origem do ismaelismo, corrente minoritária do islamismo xiita, é fixada em 765, com a morte do sexto imã xiita Ja'far as-Sadiq, e a cisão que esse desaparecimento causou com os xiitas duodecimanos.

Na abordagem que nos interessa, e dentro da profissão de uma gnose abstrusa influenciada pelo neoplatonismo, a doutrina ensinada pelos Irmãos da Pureza (início do século X) desenvolve amplamente o simbolismo do Templo e lança uma luz que não pode deixar de nos desafiar sobre o processo iniciático maçônico.

(22) Templo e contemplação, página 174 - Henry Corbin - Editions Entre Lacs.

(23) Ibid , página 183 - Enciclopédia do Islã - Pedersen, páginas 390/391.

(24) Ja'far al-Sâdiq – Quinto Imame.

(25) São Bernardo, no século XII, não dirá outra coisa: " Seguindo seu exemplo, dirigindo-nos ao nosso corpo, teremos o direito de dizer-lhe: Agora, não é mais porque você precisa dele que amamos a Deus, é porque nós mesmos conhecemos a doçura de Nosso Senhor. A necessidade, de fato, é como uma linguagem na carne que proclama por seu comportamento os benefícios que experimentou . Tratado sobre o Amor de Deus, o Segundo e Terceiro Graus do Amor. Obras Místicas de São Bernardo, Capítulo IX, página 63 - Editions du Seuil.

(26) Sohravardî, O Vade-mécum dos Fiéis do Amor - Capítulo V - citado por Henry Corbin, ibid , página 329.

(27) Ibid, página 321.

(28) Umar Khayyam.

(29) Melkitsedeq ou a Tradição Primordial, página 30 - Jean Tourniac - Albin Michel, Biblioteca do Hermetismo.


Fonte: Grande Loja Nacional da França 

junho 13, 2025

SEXTA FEIRA 13 - (LENDAS E CRENDICES) - Newton Agrella


Algumas datas ou épocas do ano trazem consigo algum tipo de infortúnio, má sorte ou mau presságio.

Especialmente nas culturas ocidentais e sobretudo aquelas que herdaram consideráveis influências do Cristianismo encontram-se muitos exemplos disso.

O próprio cinema norte-americano incumbiu-se de imortalizar essa data ( Sexta Feira 13) com a produção de vários filmes de terror em que diversos acontecimentos macabros transcorrem na referida data.

Hipóteses aventadas para a ORIGEM da *Sexta-feira 13”*

difundidas em diferentes culturas espalhadas ao redor do mundo:

*01.)* Uma das mais conhecidas justificativas dessa maldição conta que Jesus Cristo foi perseguido por esta data. Antes de ser crucificado em uma sexta-feira, o salvador das religiões cristãs celebrou uma ceia na Quinta Feira - que, ao todo, contava com treze (13) participantes. Entre eles estava Judas, o Traidor.

E Jesus morreu no dia seguinte, uma Sexta Feira.

*02.)* A tradição cristã relaciona o fato de seu líder ter morrido em uma sexta-feira ao fato de o livro do Apocalipse apontar o número 13 como a marca da besta, do anticristo.

*03.)* Analogia numerológica dá conta que a Imperfeição do número 13 também está ligada às várias referências ao número 12 na Bíblia (12 tribos de Israel e 12 discípulos), sendo assim, o número 13 destoaria do projeto de Deus.

*04.)* Outra explicação sobre essa data remonta à consolidação do poder monárquico na França, especificamente quando o *Rei Felipe IV*  sentia-se ameaçado pelo poder e influência exercidos pela Igreja dentro de seu país. Para contornar a situação, ele tentou se filiar à prestigiada ordem religiosa dos Cavaleiros Templários, que, por sua vez, recusou a entrada do monarca na corporação. Enfurecido, segundo relatos, teria ordenado a perseguição e morte aos templários na sexta-feira, 13 de outubro de 1307.  

*05.)* Na Mitologia Escandinava a maldição da *Sexta-Feira 13* tem a ver com o processo de cristianização dos povos bárbaros que invadiram a Europa no início do período medieval. Reza a lenda que antes de se converterem ao Cristianismo, os escandinavos eram politeístas e tinham grande estima por Friga, deusa do amor e da beleza.  Com o processo de conversão ao Cristianismo, passaram a amaldiçoá-la como uma bruxa que toda Sexta Feira, se reunia com onze feiticeiras e o demônio para rogar pragas contra a humanidade.

*06.)*  Nos Estados Unidos, a *Sexta-Feira 13* é um dia de tradição e mitos sobre casas assombradas por fantasmas e todo tipo de imaginação.

Doze séculos depois dos Maus Agouros pela morte de Carlos Magno, os norte-americanos ainda continuam chamando o andar que vem depois do 12° de 14°. Menos de 10 por cento dos condomínios de Manhattan com 13 andares ou mais têm um andar com o número 13.

Um porta-voz da Otis Int'l, a fabricante de elevadores, estimou uma vez que 85 por cento dos prédios dos EUA com mais de 13 andares evitaram o número azarado. 

Diante dessas lendas e teorias, quando ocorre uma *Sexta-Feira 13* supersticiosos evitam cruzar com gato preto, passar debaixo de escadas, quebrar espelhos e outras crendices que podem trazer mau agouro.

Como se percebe a Superstição independentemente do nível sócio-econômico e intelectual dos povos é um dispositivo da alma humana arraigada à crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, e a depositar confiança em coisas aparentemente absurdas.