maio 23, 2025

L U C I D E Z ORIENTE & OCIDENTE - Newton Agrella


Engraçada a natureza humana que praticamente desde que nascemos nos leva a olhar insistentemente pro nosso próprio umbigo.

Parece que olhar além, faz com que nos sintamos desconfortáveis, inseguros e ao mesmo tempo desconectados com a nossa essência.

Basta perceber a dificuldade que temos para entender, respeitar e acima de tudo aceitar as diferenças étnicas e culturais.

Há uma tendência da grande maioria das pessoas "acharem" que a vida só tem significado dentro de seu exclusivo universo. 

Algo como se tudo aquilo que fosse diferente de sua rotina não devesse ser levado em conta.

A bem da verdade o mundo é muito maior que a nossa vã percepção.

Aos que tiveram a oportunidade de terem sido Iniciados na Sublime Ordem, resta a esperança de se disporem a enxergar seu caminho sob uma perspectiva mais filosófica, mais dialética e mais interior com o propósito de praticar a virtude, trabalhar as disposições mais nobres da alma, compartilhar o bem estar e promover a felicidade para toda a humanidade.

Vale aprender que o Oriente e Ocidente de nossa mente dialogam entre si e buscam um contraponto para o aprimoramento de nossa Consciência. 

E isto é o que conta.

Não importam as Potências, Obediências, Ritos ou Lojas - o que faz sentido sim, é deixar de continuar olhando para próprio umbigo.

O ser humano é plural, é múltiplo em sua compleição física e mental. É capaz de enxergar muito além do que se lhe exige.

Tiremos a venda ou a máscara que nos oprimem e permitamo-nos ver a Luz, como a mais legítima interação entre a Razão e o Coração, pois é vida que segue...



maio 22, 2025

ARLS MARIO BEHRING n. 33 - São Paulo




Para maçons das Grandes Lojas, o
nome de seu fundador, irmão Mario Behring, é pronunciado com respeito, e as Lojas que trazem o seu nome são especiais, como está Augusta e Respeitável Grande Benfeitora e Grande Benemérita Loja Simbólica Mario Behring, n. 33, da Grande Loja do Estado de São Paulo.

Eu a visitei na noite desta quarta feira e assisti a uma sessão de companheiro, com excelente instrução e bons comentários. 

Agradeço ao Venerável Mestre João Carlos Alves da Rocha e aos demais irmãos do quadro pela gentil recepção.


ARLS ORIENTE ETERNO n. 194 - São Paulo


 Um dos irmãos mais inteligentes que conheço, que sabe compartilhar cultura com bom humor é Paulo André Oliveira Sena, intelectual, palestrante e humorista. Assisti encantado a uma de suas apresentações e me ofereci para visitar sua Loja. - Qual é?, perguntei? - Oriente Eterno! respondeu. Eu disse: Então vai demorar. Não demorou, fui ontem 

Mas as brincadeiras  prosseguem. Em 44 anos de maçonaria é a primeira vez que visito uma Loja que se reúne as duas horas da tarde. Por quê? Fundada em 1978 para atender irmãos idosos cujas esposas não os deixavam mais sair a noite. 

A Loja é surpreendentemente bem humorada, a começar do Venerável Mestre Antônio Aparecido Ferreira, alto astral. Mas é inteligentíssima. Irmãos experientes e cultos, trabalhos e comentários de elevada qualidade, inclusive o do dia da minha visita, de elevada erudição.

E o ágape vespertino é chopp, onde prosseguem a alegria, as conversas e a confraternização.



A SEMÂNTICA DA "FÉ" NA LÍNGUA PORTUGUESA - Newton Agrella


Observe como pulsa de maneira tão intensa a vida das palavras.

Senão vejamos, como exemplo legítimo disto a  palavra FÉ.

Antes de qualquer coisa, cabe registrar que este substantivo abstrato, não precisa estar necessariamente vinculado a uma religião.

O referido vocábulo tem sua raíz etimológica a partir de "FIDES" em Latim,  que quer dizer "confiança" (cum fides).

Em outros contextos FÉ possui os significado de crença, promessa, juramento, sempre de acordo com as circunstâncias temáticas.

É inegável que esta palavra tão curta na nossa língua portuguesa, composta de duas letras, dois fonemas e uma única sílaba detém um expressivo significado na vida de cada pessoa.

O vínculo divinal que ela produz é tão intenso que na sua essência anímica e espiritual ela é traduzida como uma "crença inabalável", que denota uma relação que não exige provas concretas, materiais ou documentais entre o Homem e Deus.

A FÉ estabelece um vínculo irrefutável, dogmático e incontestável.

Trata-se do conceito de "verdade absoluta", interpretada e obedecida sob ritos e formas que cada religião apregoa.

Contudo, se por um lado a FÉ se revela sob a luz de um Princípio Criador e Incriado do Universo, fazendo com que o Ser Humano a cultive e faça dela um porto seguro e um amortecedor para o alívio de todas as suas dores e sofrimentos, por outro lado, ela de algum modo, tem o poder de constranger a muitos, a liberdade de buscar no legítimo exercício do pensamento, da especulação e do raciocínio a busca do conhecimento sob a égide filosófica ontológica e antropocêntrica, como é o caso da Maçonaria.

Parece claro que os caminhos para a evolução humana permitem que sejam percorridos através de duas paralelas que congregam identidades distintas:

Pela FÉ, como instrumento religioso de caráter divinal.

e

Pela RAZÃO, como ferramenta para o aprimoramento da consciência.

Ser livre significa ter a primazia de poder acreditar no transcendental que a alma oferece, bem como na própria condição hominal que o cérebro nos faculta.



maio 21, 2025

ARLS LIBERTADORES DA AMÉRICA 347 - São Paulo


Tive a grata oportunidade na noite de ontem de assistir a uma belíssima palestra, em sessão branca, na ARLS Libertadores da América 347 no seu templo no Palácio Maçônico da GLESP.

O jovem Venerável Mestre Eduardo Pedroso Junior, que sucede ao seu pai Eduardo Pedroso, veterano irmão e Delegado do Grão Mestre,  que também estava presente, nas trilhas da Ordem, realizou uma série de palestras com mulheres em homenagem ao Dia das Mulheres. Pelos comentários que ouvi, todas foram muito boas, mas a que assisti ontem foi uma obra prima.

A psicóloga Dra. Rita de Cássia Macieira, esposa do irmão Benedito Macieira, membro da Loja, apresentou o tema "O significado interno das palavras de Jesus", que não foi uma pregação religiosa como o título faz supor, mas uma visão clínica apresentada com erudição e leveza, sobre ensinamentos ocultos que se encontram nas palavras do Mestre, e que são entendidos apenas, assim como acontece com os nossos ensinamentos maçônicos, quando quem os estuda se aprofunda na interpretação da mensagens. 

É de se lamentar que uma palestra desta qualidade tenha tido mais visitantes do que irmãos, mas espero que a Dra. Rita de Cássia possa levar seus ensinamentos para muitas outras Lojas e locais, tão necessários são nos dias de hoje. 

Fui recebido com extrema gentileza pelos irmãos da Loja e honrado com o convite para ocupar um cargo. Ao final as senhoras palestrantes forma homenageadas com mimos e todos os presentes foram brindados com chocolates. Uma noite absolutamente inesquecível. 









GUILDAS E CORPORAÇÕES DE OFÍCIO - Alferio Di Giaimo



A  Idade  Média,  que  vai  do  Século  V  ao  Século  XV,  da  nossa  era,  teve um período   conhecido  como  Era  do  Obscurantismo,  que  apesar  do  nome,  teve um  desenvolvimento  na  agricultura,  no  comércio  e  na  vida  urbana.

As  cidades se  desenvolveram,  principalmente  no  final  da  Idade  Média,  e  isso  fez  com  que um  grande  número  de  artífices  a  elas  se  dirigisse  e  se  associasse,  formando primeiramente  as  Guildas  e  depois as  Corporações  de  Oficio. 

Conforme  nos  esclarece  o  Ir.:  Joaquim  R.P.Cortez,  em  “Maçonaria, Origem,  Teoria  e  Prática”,  a  definição  de  Feudo  seria: 

_“Um  marco  tradicional  nesse    período,  é  a  concentração  de  algumas atividades  dentro  e  nas  proximidades  de  um  castelo.

Estes  são  geralmente  de pedras,  bastante  fortificados,  empoleirados  nos  altos  de  um  morro  para  permitir uma  visão  privilegiada  de  seus  arredores,  muitas  vezes  cercados  por  um  fosso e  pertencentes  a  um  senhor  local.

Neles  se  concentram  todos  os  materiais necessários  à  guerra  ou  à  sua  própria  defesa.  

Temos,  então,  perfeitamente delineado  o  feudo,  com  o  seu  senhor,  o  seu  castelo  e  sua  área  de  dominio.

À  volta  desses  lugares  fortificados,  e  que  se  tornaram  pontos  de referência,  passou  a  se  acumular  um  agrupamento  humano  que  prestava serviços  ao  castelo.

Esses  foram  os  primeiros  núcleos  de  formação  das cidades.

Com  a  derrocada  do  Feudalismo,  houve  um  constante  deslocamento das  populações,  que  se  viram  livres  dos  trabalhos  nos  campos,  para  as aglomerações  urbanas  que  passaram  a  experimentar  uma  época  de  grande crescimento.” 

A  pesquisadora  Anne  Fremantle  nos  esclarece  no  seu  livro  “A  Idade  da Fé”:  

_“Cresciam  as  cidades  e  cresciam  as  Guildas,  que  eram  associações formadas  pelos  comerciantes  e  artesãos.

O  diretório  das  Guildas,  escolhido  por eleição,  esforçava-se  para  manter  a  boa  qualidade  e  preços  dos  produtos locais.

Uma  prova  do  seu  crescente  poder  pode  ser  dada,  por  exemplo,  pelo monopólio  usufruído  pelos  tintureiros  de  Derby,  na  Inglaterra,  onde  ninguém podia  tingir  panos até  a  distância  de  dez  léguas de  Derby,  senão  em  Derby.” 

Durante  o  decorrer  da  Idade  Média,  as  Guildas  foram  evoluindo passando  para  Corporações  de  Mercadores,  posteriormente  para Corporações  de  Artífices  e,  nos  primórdios do  Renascimento,  transformou-se em Corporações  de  Oficio.

O  pesquisador  Edward  McNall  Burns em  “História da  Civilização  Oriental”,  nos  deixa  bem  claro  esses  eventos,  relatando  o segue  abaixo. 

“Tanto  as  Corporações  de  Ofício  como  as  de  Mercadores,  desempenhavam  outras  funções,  além  das  relacionadas  diretamente  com  a produção  ou  o  comércio.  

Desempenhavam  o  papel  de  associações  religiosas, sociedades  beneficentes  e  clubes  sociais.

Cada  corporação  tinha  seu  santo padroeiro  e  seus membros  comemoravam  juntos  os  principais  dias  santificados e  festas  da  igreja.

Com  a  secularização  gradual  do  teatro,  as  representações de  milagres  e  mistérios  foram  transferidas  para  a  feira  e  as  corporações assumiram  o  encargo  de  apresenta-Ias.  

Além  disso,  cada  organização  acudia as  necessidades  de  seus  membros  que  adoecessem  ou  se  encontrassem  em dificuldades  de  qualquer  espécie.  

Destinavam  fundos  a  socorrer  viúvas  e órfãos. 

Um  membro  que  já  não  fosse  capaz  de  trabalhar  ou  tivesse  sido  posto na  prisão  pelos  seus  inimigos,  poderia  contar  com  os  colegas  para  ajuda-lo.

Até  as  dívidas  de  um  confrade  sem  sorte  poderiam  ser  assumidas  pela corporação  se  fosse  sério  o  estado  de  suas  finanças.” 

E, resumindo  o  que  nos  diz o  Ir.  Joaquim  R.P.Cortez  sobre  a  origem  da Maçonaria  Operativa,  no  seu  livro  a  “Maçonaria  Escocesa”   pg 35-36  -  Editora Trolha,  do  qual esta  Pilula  foi  baseada: Nos  diz  que,  no  final  da  Idade  Média,  as  Corporações  de  Oficio  já estavam  bastante  evoluídas  e  cumpriam  todas  as  suas  finalidades e  haviam diversas  Corporações  de  Oficio.

A  associação  dessas  Corporações  poderia  ter gerado  a  Maçonaria  Operativa,  crescendo  e  se  aperfeiçoando  com  o  passar  do tempo. 

Qualquer  outro  ponto  de  origem  da  Maçonaria,  fora  das  Corporações de  Oficio,  ao  final  da  Idade  Média,  será,  sem  duvidas,  mera  suposição  ou puramente  lendário.




O QUADRADO MÁGICO - Jorge Antônio Vieira Gonçalves



No canto superior direito da enigmática gravura Melancolia I, de Albrecht Dürer, repousa um discreto, mas espetacular quadrado numérico. Observe com atenção os números dispostos em uma grade de quatro por quatro. Agora experimente somá-los em qualquer direção, seja em linhas horizontais, colunas verticais ou nas duas diagonais principais. O resultado será sempre 34.

Espere, tem mais: some os quatro quadrantes de canto, ou os quatro números centrais, ou ainda as duas casas centrais da parte superior com as duas da parte inferior, e o total continuará sendo o mesmo. Mais impressionante ainda, repare nas duas casas centrais da linha inferior, onde aparecem os números 15 e 14, que revelam o ano de criação da obra, 1514

Em uma época em que arte, ciência e misticismo se entrelaçavam em perfeita harmonia, o quadrado mágico simbolizava uma ordem oculta. A todos que me enviaram mensagens de carinho por meu aniversário, deixo aqui minha mais sincera gratidão.






maio 20, 2025

ARLS MOZART n. 92 - São Paulo

 


Cerca de 100 pessoas entre irmãos de diversos orientes e potências, De Molays, familiares e visitantes, lotaram as dependências da Augusta e Respeitável Grande Benfeitora e Grande Benemérita Loja Simbólica Mozart n. 92 no seu templo no Palácio Maçônico da GLESP em São Paulo.

A razão foi a palestra do irmão Marcelo Del Debbio, um dos expoentes da Escola Mística da Maçonaria, sobre "Cabalá e Árvore da Vida", que despertou grande interesse.

Eu havia visitado esta Loja em outubro passado, na comemoração dos seus 71 anos, quando assisti  a outra palestra, que também está registrada neste blog em 01/10/24. 

O jovem e ativo Venerável Mestre Eduardo Zani, atendendo a definição de "livres pensadores" atribuídos aos maçons, tem trazido temas interessantes para estudo em sessões compartilhadas com visitantes não maçons, o que lhes proporciona uma ampla compreensão dos objetivos culturais da Ordem.

COMPANHEIRO MAÇOM - Luciano Rodrigues

 


Ah, beleza do aprendizado do Companheiro Maçom! 

É uma jornada fascinante, não é mesmo?

Nesse grau, o maçom se aprofunda nos mistérios da arte e da ciência, expandindo o conhecimento adquirido no grau de Aprendiz. Ele começa a compreender a aplicação prática dos princípios maçônicos na vida diária e na sociedade.

É um período de grande desenvolvimento intelectual e espiritual, onde o Companheiro é convidado a:

 * Explorar as sete artes e ciências liberais: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Essa exploração não é meramente acadêmica, mas busca a compreensão de como esses campos do saber contribuem para a formação do indivíduo e para a construção de uma sociedade mais justa e esclarecida.

 * Avançar no simbolismo: Os símbolos se tornam mais complexos e revelam camadas mais profundas de significado, conectando o indivíduo a uma tradição milenar de sabedoria.

 * Desenvolver suas habilidades: O trabalho no grau de Companheiro incentiva o desenvolvimento de talentos e a aplicação prática do aprendizado, preparando o maçom para assumir responsabilidades maiores.

 * Fortalecer os laços fraternos: A interação com os outros membros da Loja se intensifica, promovendo um ambiente de apoio mútuo e aprendizado coletivo.

A beleza reside justamente nessa progressão constante, nessa busca incessante por conhecimento e aprimoramento. Cada novo entendimento, cada símbolo desvendado, contribui para a construção de um ser humano mais completo e consciente do seu papel no mundo.


maio 19, 2025

ANNUS MIRABILIS - Jorge Antônio Vieira Gonçalves


Em 1666, na Inglaterra, a peste bubônica se espalhava com fúria, causando terror e morte em grande escala. Em setembro, o Grande Incêndio reduziu Londres a cinzas. Nada havia a celebrar naquele ano, cenário sombrio e apocalíptico. O número 666 carregava superstições antigas, segundo o Livro do Apocalipse 13, versículo 18: “ _Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta, porque é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis._ ”


O poeta inglês John Dryden (1631–1700) utilizou em um dos seus poemas, curiosamente, a expressão latina annus mirabilis, que significa “ano miraculoso”. Parece totalmente contraditório, diante daquele ano que remetia à dor, destruição, desgraça e morte. No entanto, a palavra mirabilis deriva do verbo mirari, que significa “maravilhar-se”, “admirar”.


Em meio a tantas desgraças, lá em 1666, o milagre realmente estava por acontecer. Isolado na zona rural por conta da peste, um jovem recluso e de temperamento difícil, de apenas vinte e três anos, desvendou segredos ocultos que mudariam para sempre o entendimento humano da natureza. Isaac Newton (1643–1727), o maior gênio que já pisou sobre a Terra, na minha opinião, é claro, formulou as bases do cálculo, descobriu as leis do movimento, definiu a gravitação universal e analisou a natureza corpuscular da luz.


Dois séculos e meio depois, em 1905, outro titã da ciência desvelou à humanidade novos segredos, um novo annus mirabilis. Albert Einstein (1879–1955), então funcionário frustrado do Escritório de Patentes em Berna, na Suíça, publicou quatro artigos científicos que redefiniram os fundamentos da física: o comportamento da luz, o movimento das partículas, a estrutura da matéria, a natureza do tempo e do espaço, o efeito fotoelétrico, a teoria da relatividade restrita e a famosa equação que expressa a equivalência entre massa e energia.


Cem anos depois, em 2005, por ocasião desse “milagre”, o mundo celebrou o Ano Mundial da Física. No Brasil, instituiu-se o dia dezenove de maio (19/05) como o Dia do Físico, em homenagem ao centenário do annus mirabilis de Einstein. *Parabéns aos colegas e ao aniversariante do dia.* 


O annus mirabilis, por mais contraditório que pareça, surgiu em uma época em que a razão, mesmo cercada de sombras, consegue iluminar os escuros corredores da ignorância e do medo.

SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA - Pedro Juk



Embora o assunto já tenha sido exaustivamente debatido e esclarecido por autores autênticos da Maçonaria, ainda muitas dúvidas campeiam o solo maçônico no que diz respeito às figuras patronais de João, o Baptista e de João, o Evangelista.

Nesse sentido, tenho recebido muitos pedidos de esclarecimento sobre o assunto através do Consultório Maçônico José Castellani da revista A Trolha de Londrina, PR, assim como pelo diário eletrônico JB NEWS in Perguntas e Respostas – Florianópolis, S.C.

Dado ao exposto seguem as seguintes considerações sobre o tema:

Para o esclarecimento necessário dessa questão e para que não se caia no campo das suposições “inventando” padroeiros para a Maçonaria só porque esse ou aquele Rito pretende identificar um “santo” em particular, é antes imprescindível que o estudante conclua que a questão não é só a de identificar um padroeiro para um Rito específico, senão antes identifica-lo como um patrono de toda a Maçonaria, independente dos Ritos e Trabalhos nela praticados (as Lojas de São João).

Nesse pormenor seria lógico antes se compreender a razão dessa escolha ou costume como parte integrante da história da Sublime Instituição. É, portanto imperativo que antes se entenda o porquê dessa relação que envolve as datas comemorativas dos “santos padroeiros – Baptista e Evangelista” como uma espécie de patronos da Maçonaria.

Desde quando? Qual a razão de João, o Baptista e João, o Evangelista aparecerem nesse misto de respeito religioso e alegoria simbólica intrínseca à Maçonaria? Por que a Moderna Maçonaria ainda mantém essa tradição?

Sem ter a pretensão de aqui querer ensinar astronomia e geografia, o tema, entretanto merece ser identificado tanto pela feição científica, bem como pela cultural que envolve as crenças pertinentes aos cultos solares da antiguidade – base de grande parcela das religiões conhecidas.

Essa explicação, embora condensada, está no fato de que o planeta Terra além de girar em torno do seu próprio eixo em um ciclo diário e noturno totalizando vinte e quatro horas (rotação), também o Planeta se desloca no espaço em uma trajetória elíptica (elipse) ao redor do Sol (translação), cuja viagem completa resulta no período conhecido por “ano” (arredondados trezentos e sessenta e cinco dias).

Em seu deslocamento elíptico ao redor do Sol, a Terra estará no seu trajeto mais, ou menos afastado do Sol o que implica no Planeta estar em periélio - o ponto de órbita com menor afastamento distando 147 milhões de quilômetros e em afélio – ponto de órbita com maior afastamento com 152 milhões de quilômetros de distância. Assim o afélio se opõe ao periélio, e vice-versa.

Como a Terra no seu trajeto elíptico em torno do Sol mantém uma inclinação constante em relação ao seu plano de órbita (norte-sul) de 23 graus e 27 minutos, o movimento faz com que as duas regiões terrenas divididas pela linha imaginária do equador e conhecidas como hemisférios (meias-esferas), recebam a incidência de mais, ou menos raios solares, ou ainda estes por igual conforme a localização na sua trajetória ao redor do Sol.

Pela não coincidência do plano de órbita com o plano do equador, do ponto de vista daquele que estiver situado na Terra, esse movimento simula a ilusão de como fosse o Sol a se movimentar em torno da Terra. O trajeto dessa revolução imaginária é conhecido como eclíptica, ou a passagem do astro pelo círculo máximo da esfera celeste – é a interseção da esfera com o plano de órbita. Assim os limites, ou pontos máximos dessas inclinações nesse movimento aparente, tanto no Norte, como no Sul, quando o Sol atinge a sua maior distância angular do equador cessando o seu afastamento, ocorrem os dois solstícios (8) que marcam o início do verão e do inverno conforme o hemisfério terreno – inverno no Norte, verão no Sul, ou vice-versa.

Por ocasião do solstício no ciclo, ou estação do verão, devido a maior incidência de raios solares, prevalecem assim dias mais longos e noites curtas na sua duração. Já no ciclo do inverno, devido a menor incidência de raios solares, prevalecem as noites mais longas e dias curtos na sua duração. Os solstícios destacam-se no clima terrestre principalmente pela ocorrência do frio no inverno e do calor no verão.

Por outro lado, no que concerne a esse mesmo movimento aparente do Sol na sua eclíptica em direção ao solstício, quando passa de um para o outro hemisfério cruzando o Equador, marca a ocorrência do início da primavera e do outono conforme o sentido da marcha aparente. Do Sul para o Norte – primavera no hemisfério Norte e outono no Sul. Do Norte para o Sul – hemisfério Sul e outono no hemisfério Norte. O momento em ocorrem essas passagens ilusórias do Sol de um para o outro hemisfério sobre o Equador é que acontecem os equinócios (9).

Nessa situação de projeção zenital (equinócio - que dista igualmente), tanto no outono quanto no inverno, a incidência é igual de raios solares sobre a Terra. Esse atributo faz então com que os dias e noites sejam iguais na sua duração.

Devido à inclinação do planeta Terra no seu eixo Norte-Sul, bem como o seu movimento em torno do Sol (revolução anual e ilusória do Sol) é que ocorrem os ciclos naturais, conhecidos como as estações do ano - a primavera, o verão, o outono e o inverno - opostos conforme o hemisfério (verão – inverno, outono – primavera).

Não obstante essa relação astronômica, tal condição climática também faria com que as civilizações primitivas já distinguissem as épocas frias e quentes levando-os a organizar o seu modo de subsistência no trabalho agrícola.

Sob a óptica do Sol como fonte de luz e calor ele seria proclamado como divindade soberana e daria o suporte principal para os cultos solares da antiguidade. Com indelével influência sobre quase todas as religiões e crenças da humanidade, o homem imaginou os solstícios como portas por onde o Sol entrava e saia ao terminar o seu trajeto aparente (trópicos de Câncer e Capricórnio).

Sob o ponto de vista da Terra, as épocas solsticiais desde então seriam marcas astronômicas idealizadas pelos alinhamentos com as constelações de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul, o que sugeria, sob a ótica do misticismo, inclusive, uma relação com deuses pagãos que, mais tarde e sob a influência da Igreja, seriam elementos substituídos por santos do cristianismo. É o caso, por exemplo, do deus Janus (palavra latina que significa porta), agregado ao panteão romano, cuja representação era de uma divindade bicéfala, com duas faces simétricas olhando uma para o passado e a outra para o futuro. De acordo com a posição do Sol na eclíptica, a alegoria insinuava filosoficamente que o futuro seria construído sobre a luz do passado; sugeria também que o passado um dia fora presente e futuro, assim como o futuro seria também um dia, presente e passado.

Com o advento da adoção do cristianismo para o Império Romano, por obra do imperador Constantino, essa relação solsticial com a divindade bicéfala pagã seria alterada, quando então foi substituído o deus Janus pelos santos cristãos João, o Baptista e João, o Evangelista, o que inclusive adequaria e acomodaria essa relação religiosa para o cristianismo. Nesse pormenor a identidade do solstício em Câncer (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul) por influência de Igreja Católica, ficaria relativo a São João Baptista (Esperança – daquele que previu a Luz), enquanto que o solstício em Capricórnio (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul) seria alusivo a São João Evangelista (Reconhecimento – daquele que pregou a Luz).

Cabe aqui uma recomendação importante: Ao se tratar desse apólogo religioso inerente aos solstícios e os santos mencionados, o mesmo estará sempre relacionado ao hemisfério Norte, por extensão isso também ocorre com esse simbolismo no que concerne à Maçonaria. Como o caráter é simbólico todas as referências inerentes aos ciclos da primavera, do verão, do outono e do inverno sempre aludem ao Norte do planeta Terra.

Ainda no que concerne a relação entre o simbolismo solsticial, o cristão e a própria Maçonaria que também adota os mesmos padroeiros, muito embora a Maçonaria não seja uma religião, essa alegoria relativa aos dois solstícios, em última análise, salienta a evidente relação com o deus bicéfalo romano Janus (que tem duas cabeças) às duas transições solsticiais do verão e do inverno na banda setentrional da Terra.

O solstício de verão (junho) ficaria então relacionado a João, o Baptista como aquele que anunciou a vinda da Luz (Jesus, considerado como a Luz do Mundo), enquanto que o solstício de inverno (dezembro) concernente a João, o Evangelista, ficaria relacionado àquele que difundiu a palavra de Jesus (a Luz do Mundo).

Na concepção cristã João Baptista anunciou no verão a Esperança por intermédio da vinda de Jesus que nasceria em pleno inverno como que fazendo renascer, ou voltar novamente a Luz (Natalis Invicti Solis), enquanto que João, o Evangelista pelo Reconhecimento à Luz, passou a difundir a “boa nova” (evangelho – do grego euangélion, pelo latim evangeliu). Nota-se aqui mais uma vez a evidente relação com os cultos solares da antiguidade no hemisfério boreal.

Essa importante representação alegórica igualmente ganharia corpo pela própria semelhança entre os nomes do deus pagão Janus e Joannes (João). A palavra João, em hebraico Iheho-hannam, significa a “graça de Deus” e essa semelhança viria inclusive acomodar a situação pela exclusão e substituição do deus pagão que se chocava com as tradições do cristianismo. Desse modo João Batista e o Evangelista passariam a se associar com as datas solsticiais (junho e dezembro).

Não menos importante também é a relação simbólica configurada na constelação de Câncer lembrada pelo saudoso Irmão José Castellani in “Porque São João, Nosso Padroeiro”: “Suas duas estrelas principais (da constelação de Câncer) tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é “creche”, também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra, creche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente”.

Note-se então que a previsão alegórica do nascimento de Jesus em uma manjedoura e outras particularidades inerentes teve origem interpretativa nessa observação mística relativa à constelação de Câncer (junho, solstício de verão no hemisfério Norte) e consignada no outro alinhamento com a constelação de Capricórnio (dezembro, solstício de inverno no hemisfério Norte).

Não obstante ao sentido dessa exegese, vale também a pena mencionar a relação dela com os cultos solares da antiguidade que mais uma vez se evidenciaria e passaria, dentre outros, a influenciar na fixação pela Igreja da data do nascimento de Jesus para a noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa do ano no Norte, e que alude ao solstício relativo à volta do Sol no mitraísmo persa (INRI - Igne Natura Renovatur Integra – o Fogo Renova a Natureza Inteira) e propagada pelo mitraísmo romano na concepção do Nascimento do Sol Triunfante, ou Invicto (Natalis Invicti Solis). 

Por ocasião dessa longa e fria noite de inverno (no Norte) os homens acendiam fogueiras e faziam oferendas e preces evocando a volta da Luz. Assim o Cristianismo, valendo-se dessa alegoria solsticial fixaria o Natal (nascimento de Jesus) identificando à volta do Sol a partir de Capricórnio para o Norte como a Luz do Mundo, cujo nascimento fora previsto (anunciado em Câncer – verão). 

Essa associação daria então a João, o Baptista o rótulo daquele que anunciou a vinda da Luz, cuja data comemorativa se fixaria em 24 de junho, bem próxima do solstício de verão no hemisfério Norte que ocorre em 21 de junho - o Sol alinhado com Câncer. Assim também se daria cooptação com João, o Evangelista em 27 de dezembro, cuja data praticamente está conexa ao Natal e ao solstício de inverno no hemisfério Norte que se dá em 21 de dezembro – o Sol alinhado com Capricórnio. Ao Evangelista seria titulado o desígnio daquele que pregou a Luz (a doutrina de Cristo).

São João e a Maçonaria – Antes das considerações propriamente ditas, fica aqui o alerta sobre alguns pontos no tema que não podem ser confundidos:

a) Na matéria há que se vislumbrar que o patrono, ou patronos (São João) se referem à Maçonaria em geral, e não dela apenas a um rito ou costume em particular.

b) Como ritos maçônicos, alguns deles possuem o seu próprio patrono, todavia estes nunca se confundem com os padroeiros gerais da Maçonaria.

c) Ainda existem os protetores regionais da Maçonaria. É o caso, por exemplo, da inglesa e São Jorge (padroeiro da Inglaterra – 23 de abril). Entretanto este não pode ser confundido com as comemorações maçônicas solsticiais relativas a João, o Baptista e João Evangelista.

d) A Maçonaria é oriunda dos canteiros medievais e traz consigo uma forte influência da Igreja. Como atividade profissional à época ela comemora até os dias atuais, ainda que de modo especulativo, as festas solsticiais.

Primitivamente (com aproximadamente 800 anos de história) a Maçonaria era operativa (profissional) e não possuía ritos nem graus. Constituída de maçons livres (nas Lojas livres), muitos desses grupos profissionais, além dos santos relativos às datas solsticiais, também não raras vezes rendiam particularmente preito a outro santo protetor, inclusive a uma santa.

Conforme costume haurido dessas organizações profissionais do passado - Associações Monásticas, Confrarias Leigas e da antiga Francomaçonaria (base da Maçonaria) – e com inegável tempero da Igreja, a prática comemorativa solsticial alcançaria posteriormente a Maçonaria Especulativa e por extensão inclusive a Moderna Maçonaria (primeiro sistema obediencial fundado 1.717).

Isso se explica porque mesmo não sendo a Maçonaria considerada como uma religião, ela foi historicamente criada à sombra de Igreja Católica medieval e dela arregimentou assim uma forte influência que dava ao trabalho, bem como aos seus membros e respectiva profissão, um amoedo religioso.

Em resumo e para aplicação de uma salutar geometria a Maçonaria precisa de uma vez por todas ser despida de ilações fantasistas e equivocada que ainda forçam subsistência como aquelas que a tratam como fosse ela uma Instituição milenar. Ora, essas concepções anacrônicas não cabem mais em pleno século XXI.

Autenticamente a Maçonaria veio a nascer à sombra da Igreja nos Canteiros (10) da Idade Média, portanto não seria novidade nenhuma que sob essa influência a Maçonaria, construtora de igrejas e catedrais, viesse também possuir um patrono religioso.

Assim, essas associações profissionais geralmente se agrupavam em reunião nos solstícios de verão e de inverno, cujas reuniões, além de comemorativas ao padroeiro solsticial, também alcançavam a finalidade de rever os planos das obras, discutir novos contratos, avaliar as atividades econômicas e profissionais e promover ingresso de novos artífices na “Arte de Construir” (iniciar).

Essa relação do Ofício com o verão e com o inverno implicava antes de tudo num aspecto prático e literal da construção, já que no rigor do inverno setentrional pouco se produzia na arte de cortar a pedra calcária, bem como a de com ela se edificar. Efetivamente os trabalhos praticamente permaneciam paralisados na estação hibernal.

Com o final do inverno e o início da primavera – o rigor do clima mais ameno - os trabalhos no canteiro (hoje as Lojas especulativas) retomavam as suas atividades com força e vigor. Assim os labores do ofício iriam atingir o seu auge no verão (dias longos e noites curtas), voltariam a declinar no outono e seriam novamente paralisados no inverno (dias curtos e noites longas).

Vale então a pena mais uma vez salientar que todas as referências feitas às estações do ano (ciclos naturais) nesse arrazoado, se relacionam indistintamente àquelas que ocorrem no hemisfério Norte do nosso Planeta (berço da Maçonaria).

Como as datas solsticiais sucedem nos dias 21 de junho e 21 de dezembro, isto é, muito próximas das datas religiosas comemorativas a João, o Baptista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro, as mesmas acabariam por se confundir. Isso pode ser perfeitamente observado tomando-se por base a fundação em 1.717 da Primeira Grande Loja em Londres em 24 de junho, dia de São João Baptista (princípio da Moderna Maçonaria (11) – primeiro sistema obediencial). Do mesmo modo também se pode observar nos dias atuais onde a maioria das Obediências tem ainda o costume de dar posse aos Grão-Mestres e Veneráveis das Lojas no dia comemorativo a São João no mês de junho.

Nesse sentido a Moderna Maçonaria como fiel guardiã da tradição usos e costumes da Ordem mantém a alegoria dos solstícios nos seus arcabouços doutrinários, costume esse adquirido desde os primeiros grupos profissionais, cujas representações simbólicas, independente dos contemporâneos Ritos e Trabalhos praticados, se apresentam nos Templos maçônicos.

É o caso do conjunto simbólico composto pelo o Círculo e as Paralelas Tangenciais Verticais, cuja alegoria sugere que o Sol (círculo) não transpõe os trópicos (Câncer e Capricórnio - as paralelas representam João Baptista e Evangelista). 

Ainda outros símbolos inerentes: o das Colunas Solsticiais B e J que simbolizam, por exemplo, no Rito Escocês, a passagem dos referidos Trópicos e entre as quais o Equador do Templo; também no Rito Escocês as constelações do Zodíaco que marcam simbolicamente a eclíptica do Sol e as estações do ano, por conseguinte os solstícios e os equinócios; ainda no arcabouço doutrinário maçônico de vertente francesa a Marcha do Mestre exprime a curso aparente do Sol de um para outro hemisfério, etc.

Vale a pena também mencionar que no puro e verdadeiro Rito Escocês o Grau de Aprendiz é aberto com a leitura do Livro da Lei em São João, cap. 1, vs. 1-5 – implica na prevalência da Luz sobre as trevas como mote doutrinário do Grau.

No tocante às tradições, usos e costumes da Maçonaria, as Iniciações operativas (embora muito diferente das que hoje conhecemos) ocorriam nas reuniões semestrais (solsticiais). Naquela oportunidade em muitas associações profissionais o “Aprendiz Admitido” pousava a mão direita sobre o Evangelho de São João para prestar a sua obrigação. Esse costume era assim praticado porque as datas iniciáticas coincidiam com aquelas relativas aos santos protetores – a Igreja ditava as regras.

Como à época não existia ainda a imprensa (12) e a Bíblia era propriedade apenas da Igreja, cujo texto era compilado à mão em papel grosseiro (de gramatura alta) e resultava em um volume da Bíblia imenso, pesado e incomodo para o transporte e manuseio. Devido a esse particular o Iniciando prestava simbolicamente a sua obrigação pousando a mão direita apenas sobre o Evangelho de São João, que era geralmente reduzido e adequado para a ocasião à sua primeira página.

Assim se explica o hábito, segundo a maioria dos Ritos, do notório uso do título distintivo - as Lojas de São João, cujos trabalhos são abertos “À Gloria do G∴A∴D∴U∴ e em Honra a São João nosso Padroeiro”, ou ainda: “Uma Loja de São João, Justa, Perfeita e Regular”.

Obviamente como a questão envolve os dois solstícios, englobam-se como patronos também os dois São João, o Batista e o Evangelista. Até porque como a Maçonaria é uma Obra de Luz, nada mais oportuno do que celebrá-la simbolicamente (sem conotação religiosa) através daquele que previu a Luz e também daquele que propagou a Luz.

Nesse sentido, em se tratando dos padroeiros maçônicos cujo nome é João, muitos equivocadamente ainda teimam em propagar o nome de outros S. João, a exemplo do Esmoler (também conhecido como Hospitalário ou de Jerusalém) que não tem qualquer relação com a Maçonaria Operativa. Pior ainda foi a invenção do tal “da S. João da Escócia” que nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.

Alguns equivocadamente ainda associam um santo padroeiro inerente a um Rito em particular e querem generalizá-lo como patrono de toda a Maçonaria. Daí a razão dessa propagação desmedida que tem causado muitas dúvidas para o entendimento de muitos outros.

Aliás, é oportuno salientar que a tal “generalização” tem sido uma verdadeira erva daninha na prática e interpretação maçônica, geralmente adubada pelos incautos que ao se referirem a um Rito específico o imaginam como se fosse ele o único representante de toda a Maçonaria. 

Inquestionavelmente esse despautério não condiz com a Verdade, já que os Ritos e os Trabalhos do Craft são partes integrantes da Maçonaria. Embora a sua espinha dorsal seja única, cada Rito ou Trabalho (costume) possui a sua particularidade geralmente oriunda da sua doutrina, da sua cultura e da sua vertente maçônica (inglesa ou francesa). A Maçonaria Simbólica Universal é única, porém composta por vários Ritos e Trabalhos do Craft.

A chave da compreensão está no conhecimento e pratica da história autêntica da Sublime Instituição - acadêmica por excelência. Antes de se mencionar opiniões de achistas e crédulos em escritos comprometidos (água contaminada), quando não repletos de opiniões ocultistas hauridas de crenças pessoais, melhor seria primeiro atender a virtude da prudência na observação dos fatos.

Retomando o assunto inerente ao mote desse arrazoado e por tudo o que até aqui fora sobre ele foi mencionado é que a Maçonaria desde o seu período operativo vem se servindo da relação Homem-Natureza, cujo palco alegórico de outrora era o canteiro da obra. Atualmente essa analogia está na topografia e na decoração dos templos maçônicos, bem como nas doutrinas específicas dos Ritos e Trabalhos da Moderna Maçonaria Simbólica, sejam eles de conceito deísta ou teísta.

Concluindo: por razões óbvias, despido de qualquer relação com uma religião ou dogma específico, o padroado da Maçonaria Universal (não de um rito específico), considerada a característica especulativa da Instituição como “Obra de Luz” sugerem como patronos os dois personagens ligados simbolicamente à Luz - João, o Baptista e João, o Evangelista.


maio 18, 2025

CORPORAÇÕES DE OFICIO - Michael Winetzki


 

CONCISA INTERPRETAÇÃO DO SALMO 133 (NA SIMBOLOGIA MAÇÔNICA) R.'.E.'.A.'.A.'. - Newton Agrella


No Brasil as Lojas Maçônicas Simbólicas seguem a orientação da Grande Loja da Inglaterra e costumam fazer a leitura do Salmo 133 versículos 1, 2 e 3 do Livro da Lei.

*"...OH ! QUÃO BOM E SUAVE É QUE OS IRMÃOS VIVAM EM UNIÃO...”*

É o canto de David pela confraternização dos que passam o dia reunidos junto à esplanada do Templo em Israel, que mal se conhecem, vindos de todas as regiões, ali se congregam como irmãos e irmãs, com o intuito de adorarem um só Deus.

*"...É COMO O ÓLEO PRECIOSO SOBRE A CABEÇA E QUE DESCE À ORLA DE SUAS VESTES..."*

O *óleo* era um perfume à base de mirra e oliva usado para ungir os reis e sacerdotes, 

Na tradução da Bíblia Vulgata, entenda-se por "cabeça" , o ouvido, a visão, o paladar, o olfato, as mãos e o tato.

Já a fronte, a cabeça, simbolizam os cinco sentidos.  

E o óleo derramado, a purificação dos mesmos. 

A *cabeça* denota o núcleo da existência e do pensamento.

A *barba* é o distintivo da honra e da probidade como reza a tradição pelo respeito e veneração aos Anciãos sobretudo no Oriente.

As *vestes* são o emblema da honestidade e pudor e de especial significado litúrgico e ritualístico.”

*"...É COMO O ORVALHO DE HERMON QUE DESCE SOBRE SIÃO PORQUE ALI O SENHOR ORDENA A BENÇÃO E A VIDA PARA SEMPRE..."*

A reunião dos romeiros fazia com que a *benção* descesse para todos. 

Isto para David manifesta-se na natureza, no óleo, no orvalho, nas chuvas, nas águas do rio Jordão que irriga a terra e a torna fértil tornando possível a posse da Terra Prometida.

O propósito dessa breve interpretação tem por objetivo analisar, dentro de um contexto histórico-social, as figuras de David e de Aarão e a importância dos mesmos, dentro da formação religiosa do povo hebreu, a partir do Salmo 133. 

Cabe também registrar que essa interpretação e o Salmo 133 em si - para efeito Maçônico - não tem conteúdo divinal ou religioso proselitista.

A finalidade de sua evocação é simbólica e se vale de uma metáfora denotando que a Maçonaria traz dentre seus postulados basilares o entendimento de que a FRATERNIDADE e a UNIÃO são uma referência de virtude na relação entre a Existência Humana e o Princípio Criador e Incriado do Universo.

A moral SIMBÓLICA do Salmo 133 reside na sua excelência à exaltação do Amor Fraternal e portanto o motivo de ter sido eleito para traduzir a firme e solene união dos Maçons.